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LAVRA A CÉU ABERTO – PROF.GERSON FERREIRA DA SILVA 03 de Fevereiro de 2020 INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLÓGIA DA PARAÍBA CAMPUS DE CAMPINA GRANDE CURSO: TÉCNICO EM MINERAÇÃO DISCIPLINA: PERFURAÇÃO E DESMONTE DE ROCHAS PROFESSOR: GERSON FERREIRA DA SILVA APOSTILA I BIMESTRE: PERFURAÇÃO DE ROCHA 1.O OBJETIVO A perfuração das rochas dentro do campo dos desmontes é a primeira operação que se realiza e tem como finalidade abrir uns furos, com a distribuição e geometria adequada dentro dos maciços para alojar as cargas de explosivos e acessórios iniciadores. A figura 1 mostra a evolução dos sistemas de perfuração com o decorrer do tempo. 2.0 APLICAÇÕES DA PERFURAÇÃO Os tipos de trabalho, tanto em obras de superfície como subterrâneas, podem classificar-se nos seguintes: perfuração de banco, perfuração de produção, perfuração de chaminés (raises), perfuração de poços (shafts), perfuração de rochas com capeamento e reforço das rochas. 3.0 MÉTODOS DE PERFURAÇÃO 3.1 Perfuração por percussão: Também conhecido por perfuração por martelo (fig. 1), é o método mais comum de perfuração para a maioria das rochas, os martelos podem ser acionados a ar comprimido ou hidráulico. Tanto o martelo de superfície como o de fundo (DTH - Down-The-Hole) é utilizado. Na trituração por impacto a rocha é partida em fragmentos, por meio de uma grande força que é aplicada sobre um botão ou pastilha de material duro. Na perfuração percussiva o pistão transmite energia sobre a rocha através da barra de percussão, das uniões, da haste de perfuração e da broca. O motor de rotação ao encontrar rocha nova, rompe os cortes em pedaços ainda menores. O ar comprimido efetua a limpeza dos furos e a refrigeração das brocas. Figura 1: Perfuração por percussão. 3.2 Rotação/Trituração Foi inicialmente usada na perfuração de petróleo, porém, atualmente, é também usada em furos para detonação, perfuração de chaminés verticais de ventilação e abertura de túneis. Esse método é recomendado em rochas com resistência à compressão de até 5000 bar. Quando perfuramos por este método, usando brocas tricônicas, a energia é transmitida para a broca por um tubo, que gira e pressiona o bit contra a rocha. Os botões de metal duro são pressionados na rocha, causando o fraturamento desta, de acordo basicamente com o mesmo princípio da perfuração por percussão. A velocidade normal de rotação é de 50 a 90 rev/min. 3.3 Rotação/Corte Este método é usado principalmente em rochas brandas com resistência à compressão de até 1500 bar (fig. 2). A perfuração por rotação necessita de uma forte capacidade de empuxo na broca e um mecanismo superior de rotação. A pressão aplicada e o torque rompem e moem a rocha. Neste método a energia é LAVRA A CÉU ABERTO – PROF.GERSON FERREIRA DA SILVA 03 de Fevereiro de 2020 transmitida ao cortador pelo tubo de perfuração, que gira e pressiona o mesmo sobre a rocha. A área de corte da ferramenta exerce pressão sobre a rocha e as lascas são arrancadas. A relação entre a pressão necessária e a faixa de rotação, determinam a velocidade e a eficiência da perfuração: a) a rocha branda requer menor pressão e rotação mais rápida; b) a rocha dura necessita de alta pressão e rotação mais lenta. A velocidade de rotação é de 120 rev/min para um furo de 110 mm e 300 rev/min para furos de 60 mm de diâmetro. Figura 2 – Sistema de rotação/corte. 4.0 CARACTERÍSTICAS DOS FUROS Os furos são geralmente caracterizados por quatro parâmetros: diâmetro, profundidade, retilinidade e estabilidade. 4.1 Diâmetro dos furos O diâmetro do furo depende da finalidade do mesmo. Em furos para detonações, há vários fatores que influem na escolha do diâmetro, por exemplo, o tamanho desejado dos fragmentos, após a detonação; tipo de explosivo a ser utilizado, vibração admissível do terreno durante a detonação etc. Em grandes pedreiras e outras minerações a céu aberto, furos de grande diâmetro apresentam menores custos de perfuração e detonação por m3 ou tonelada de rocha escavada. Nas minas subterrâneas, as dimensões dos equipamentos de perfuração são determinados pelo método de lavra adotado. Em trabalhos menores, o diâmetro do furo pode também ser determinado pelo tamanho do equipamento disponível para perfuração, carregamento e transporte. A eleição do diâmetro dos furos depende, também, da produção horária, do ritmo da escavação e da resistência da rocha. A figura 2 mostra a relação entre os diâmetros e o número de furos, porte dos equipamentos de escavação, altura da pilha e granulometria dos fragmentos rochosos após a detonação. Figura 2: Influência do diâmetro no n.º de furos, na fragmentação da rocha, na altura da pilha e no porte do equipamento de carregamento. A figura 3 mostra a relação entre o diâmetro de perfuração e a seção do túnel ou galeria e o tipo de equipamento de perfuração. LAVRA A CÉU ABERTO – PROF.GERSON FERREIRA DA SILVA 03 de Fevereiro de 2020 4.2 Profundidade dos furos A profundidade do furo determina a escolha do equipamento de perfuração. Em espaços confinados somente ferramentas de perfuração curtas poderão ser usadas. Figura 3: Influência do diâmetro da perfuração na seção da galeria No caso de maiores profundidades (50 a 70 m ou mais) usam-se perfuração de fundo de furo, ao invés de martelo de superfície, já que o método de fundo de furo proporciona mais eficiência de transmissão energética e remoção dos cavacos de rocha a essa profundidade. Quando utilizamos martelos DTH a energia é em princípio transmitida da mesma forma com a vantagem de que o pistão da perfuratriz trabalha diretamente sobre a broca. 4.3 Retilinidade do furo A retilinidade de uma perfuração varia, dependendo do tipo e natureza da rocha, do diâmetro e da profundidade do furo, do método e das condições do equipamento utilizado, da experiência do operador (Figura 4 e 5). Na perfuração horizontal ou inclinada, o peso da coluna de perfuração pode concorrer para o desvio do furo. Ao perfurar furos profundos para detonação, o furo deve ser tão reto quanto possível para que os explosivos sejam distribuídos corretamente, para se obter o resultado desejado. Para compensar o desvio dos furos às vezes é necessário furar com menor espaçamento o que resulta em maior custo. Um problema particular causado por um furo com desvio é a possibilidade de encontrar-se com um outro já perfurado, causando a detonação de cargas por “simpatia”. A probabilidade do equipamento se prender é grande e a detonação não pode ser executada adequadamente. Além do desvio do furo propriamente dito, o alinhamento pode ser afetado pelo desalinhamento da lança e pelo cuidado durante o emboque do furo. Figura 4: Influência do operador Figura 5: influência da profundidade 4.4 Estabilidade do furo Outra necessidade em perfuração é que o furo permaneça “aberto” (Figura 6) enquanto estiver sendo utilizado para carregamento de explosivos. Em certas condições, por exemplo, quando a perfuração é em material “solto” ou rocha (que tendem a desmoronar e tapar o furo), torna-se essencial estabilizar-se o furo com tubos ou mangueiras de revestimentos. LAVRA A CÉU ABERTO – PROF.GERSON FERREIRA DA SILVA 03 de Fevereiro de 2020 Figura 6: Furo aberto e estabilizado 5.0 PERFURAÇÃO VERTICAL x INCLINADA Principais vantagens da perfuração inclinada - melhor fragmentação; - diminuição dos problemas de repé devido ao melhor aproveitamento das ondas de choque na parte crítica do furo (linha de greide, pé da bancada); - maior lançamento; - permite maior malha; - permite redução da Razão de Carregamento que pode ser obtida pelo uso de explosivos de menor densidade; - maior estabilidade da face da bancada; - menor ultra arranque. Principaisdesvantagens da perfuração inclinada - menor produtividade da perfuratriz; - maior desgaste de brocas, hastes e estabilizadores; - maior custo de perfuração; - maior comprimento de furo para uma determinada altura da bancada; - maior risco de ulta-lançamentos dos fragmentos rochosos. 5.1 MALHAS DE PERFURAÇÃO A geometria das malhas de perfuração pode ser quadrada, retangular, estagiada, triângulo equilátero ou malha alongada: Malhas quadradas ou retangulares: devido a sua geometria é de fácil perfuração, e menor tempo de locomoção de furo a furo (figura a e b). Malhas estagiadas: devido a geometria de furos alternados dificulta a perfuração, apresentando maior tempo de locomoção furo a furo, porém, possui melhor distribuição do explosivo no maciço rochoso (figura c). Malha Triângulo Equilátero: são malhas estagiadas com a relação E/A: 1,15. São indicadas para rochas compactas e duras. Possuem ótima distribuição da energia do explosivo na área de influência do furo, maximizando a fragmentação. O centro do triângulo equilátero, o ponto mais crítico para fragmentação, recebe igual influência dos três furos circundantes (figura d). Malhas alongadas: Conforme a relação E/A as malhas podem assumir várias configurações. As malhas alongadas possuem elevada relação E/A, geralmente acima de 1,75. São indicadas para rochas friáveis/macias aumentando o lançamento por possuir um menor afastamento(figura e). A E E A A LAVRA A CÉU ABERTO – PROF.GERSON FERREIRA DA SILVA 03 de Fevereiro de 2020 a) Malha quadrada b) malha retangular c) malha estagiada (pé de galinha) b) malha triangular Onde: A = afastamento B = Espaçamento c) malha alongada 6.0 CÁLCULO DOS COMPONENTES DA PERFURATRIZ a) Número de furos por dia (Nf) N VA A x E x H xF f = 365 sendo: VA = volume anual (m3); A = afastamento (m); E = espaçamento (m); Hf = comprimento do furo (m). b) Profundidade Total perfurado por ano (PT) PT = Nf x Hf x Nd (m) sendo: Nf = número de furos por dia; Hf = comprimento do furo (m); Nd = número de dias trabalhados durante o ano. c) Metros diários perfurados por uma perfuratriz (MP) MP = NH x TP x DM x RMO x U sendo: NH = número de horas/dia trabalhado por uma perfuratriz; TP = taxa de penetração (m/h); DM = disponibilidade mecânica da perfuratriz (%); RMO = rendimento da mão-de-obra (%); U = utilização do equipamento (%). d) Número de perfuratrizes necessárias (NP) MPx P NP T 365 = e) Relação entre metros de haste e metro de furo (K) A vida de uma haste de extensão é geralmente dada em metro/haste, que difere de metros perfurados, quando mais de uma haste é utilizada figura 4. A relação entre metro/haste e metro perfurado poderá ser calculada pela seguinte fórmula: A E E A E A LAVRA A CÉU ABERTO – PROF.GERSON FERREIRA DA SILVA 03 de Fevereiro de 2020 K H C C f = + 2 sendo: C = comprimento da haste; K = coeficiente através do qual o número de metros perfurados precisa serem multiplicado para obter o número de metros/haste. A figura 4 mostra a relação entre metro/haste e metro perfurado, nesse caso terá: K = (Hf + C) / 2C = (9 + 3) / 2 x 3 = 2 significando que o número de haste/metro é 2 vezes maior que o de metros perfurado. Isto pode ser verificado facilmente: - a primeira haste perfura 9 m - a segunda haste 6 m - a terceira haste 3 m - Total 18 m A relação entre metro/haste e metros perfurados = 18/9 = 2 Figura 4: Relação entre metro/haste e metros perfurados. f) Número de hastes (NH) e luvas (NL) N e N P x K vida utilH L T= g) Número de punhos (NP) N P vida utilP T= h) Número de coroas (Nc) utilvida P N TC = 7.0 CÁLCULO DOS COMPONENTES DA PERFURATRIZ Exemplo Uma mineração pretende produzir anualmente 1.000.000 m3 de hematita. Seu desmonte de rocha apresenta a as seguintes características: - Afastamento (A) = 2,5 m; - Espaçamento = 5,0 m - Altura do furo = 10 m; - Inclinação dos furos = 0 - Diâmetro da perfuração = 4” (102 mm) - Taxa de penetração: 40 m/h - Disponibilidade mecânica do equipamento: 85% - Rendimento da mão de obra: 80% - Utilização do equipamento: 80% LAVRA A CÉU ABERTO – PROF.GERSON FERREIRA DA SILVA 03 de Fevereiro de 2020 - Dias de trabalho no ano: 365 - Horas trabalhadas por dia: 8 h - Comprimento das hastes: 3 m. A vida útil média dos componentes é a seguinte: - coroa: 500 m - punho:2.500 m - haste e luvas:1.500 m Calcular o número de perfuratrizes necessárias para executar a perfuração, e os componentes gastos anualmente (hastes, luvas, punhos e coroas). Solução: a) Número de furos por dia (Nf ) N VA A x E x H x x x xF f = = = 365 1000 000 2 5 5 10 365 22 . . , b) Profundidade Total perfurado por ano (PT) PT = Nf x Hf x Nd = 22 x 10 x 365 = 80.300 m c) Metros diários perfurados por uma perfuratriz (MP) MP = NH x TP x DM x RMO x U = 8 x 40 x 0,85 x 0,8 x 0,8 = 174,08 m i) Número de perfuratrizes necessárias (NP) NP P x MP x T= = = 365 80 300 365 174 08 1 26 . , , Obs.: Matematicamente o cálculo aponta, aproximadamente, para a necessidade de duas perfuratrizes. Entretanto, a escolha correta será de uma só perfuratriz, pois basta aumentarmos o número de horas trabalhadas por dia para obtermos a produção diária desejada. Outra possibilidade seria a de perfurar com uma maior taxa de penetração. j) Relação entre metros de haste e metro de furo (K) K H C C x f = + = + = 2 10 3 2 3 217, f) Número de hastes (NH) e luvas (NL) N e N P x K vida util x H L T= = = 80 300 217 1500 116 . , g) Número de punhos (NP) N P vida utilP T= = = 80300 2 500 32 . . h) Número de coroas (NB) 161 500 300.80 === utilvida P N TC 7.0 CÁLCULO DO CUSTO TOTAL DA PERFURAÇÃO 7.1 Custo Total da Perfuração/m (CTP) Uma relativamente simples, mas bastante interessante análise, foi recentemente apresentada por Robert W. Thimas, da Baker Hughes Mining Tools Inc., que pode ser assim enunciada: LAVRA A CÉU ABERTO – PROF.GERSON FERREIRA DA SILVA 03 de Fevereiro de 2020 CTP A M D VP = + sendo: A = custo da ferramenta de perfuração (brocas e cortadores); M = vida útil da ferramenta em metros; D = custo horário da perfuratriz (custo de propriedade e custo operativo); VP = velocidade de penetração (m/h). O exemplo a seguir evidencia que a soma expedida na aquisição de uma broca com uma maior velocidade de penetração, aumenta os dividendos, pois o custo total de perfuração será reduzido e a produção aumentará. Exemplo do CTP Uma perfuratriz trabalha em uma mina de cobre a céu aberto, com uma broca de diâmetro de 12¼“. Considerando os seguintes dados: - Velocidade de penetração da broca normal: 25,0 m/h - Custo da broca normal: US$ 5.356 - Velocidade de penetração da broca especial XP: 27,5 m/h - Custo da broca especial XP: US$ 6.169 - Vida útil da broca: 3.000 m Broca normal: CTP US m US h mh US m= + = $ . . $ / / $ , / 5356 3000 450 25 19 785 Broca especial XP: CTP US m US h m h US m= + = $ . . $ / , / $ , / 6169 3000 450 27 5 18 420 Diferença de custo: US$ 1,365/m (6,9%) Velocidade de penetração da BROCA NORMAL = 25,0 m/h Velocidade de penetração da BROCA ESPECIAL XP = 27,5 m/h INCREMENTO DE PRODUTIVIDADE = 2,5 m/h (10%) Um acréscimo de apenas 10% na velocidade de perfuração representa uma economia de US$ 409.500,00 por ano, em um programa de perfuração de 300.000 m, isto é: (US$ 1,365/m x 300.000 m = US$ 409.500,00).
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