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Desastre de Chernobyl 1

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2
Desastre de Chernobyl e a responsabilidade civil ambiental do Estado
Amanda do Carmo Silva Lima¹
Naila Fortes Silva²
RESUMO
O Desastre Chernobyl, ocorridonos dias 25 e 26 de abril de 1986, próximo à cidade de Chernobyl, foi considerado um marco tanto na Guerra Fria quanto na história da energia nuclear. A tragédia ambiental foi motivada pela explosão de reator que incendiou toda a região norte, atualmente, norte da Ucrânia. Cientistas e estudiosos do caso apontam a permanência dos efeitos da explosão por até 20 mil anos. Dito isto, o artigo analisa a responsabilização civil e ambiental em atividades nucleares. Perspectiva-se, aqui, verificar as particularidades doutrinárias a respeito da temática supramencionada. Fato é que os regimes especiais de responsabilização estão diretamente ligados às ações praticadas contra o meio ambiente. Discutem-se as possibilidades de delimitação da atuação civil do particular em contrato firmado com empresa estatal responsável pelo manuseio de atividades nucleares, de modo a assegurar a legitimidade respaldando-se nos princípios da eficiência e da economicidade, além de garantir a manutenção da prática na esfera mundial. 
Palavras-Chave: Desastre Chernobyl. Atividades nucleares. Meio Ambiente. Atuação civil. 
ABSTRACT
The Chernobyl Disaster, which occurred on April 25 and 26, 1986, near Chernobyl, was considered a landmark in both the Cold War and the history of nuclear power. The environmental tragedy was motivated by the blast of reactor that burned down the entire northern region, now northern Ukraine. Scientists and scholars of the case point out the permanence of the effects of the explosion for up to 20 thousand years. That said, the article analyzes civil and environmental accountability in nuclear activities. It is intended here to verify the doctrinal peculiarities regarding the aforementioned thematic. It is a fact that special liability regimes are directly linked to the actions taken against the environment. It discusses the possibilities of delimiting the civil action of the individual in a contract signed with a state company responsible for the handling of nuclear activities, in order to ensure legitimacy based on the principles of efficiency and economy, and ensure the maintenance of the practice in the world sphere.
Keywords: Chernobyl disaster. Nuclear activities. Environment. Civil action.
1 INTRODUÇÃO
	A tragédia ocorrida numa usina nuclear da antiga União Soviética impactou o mundo, tornando-se, posteriormente, algo terrível para a consciência social. Ademais, tornou o território da explosão permanentemente marcado pelos efeitos da radioatividade.
	De acordo com o site NationalGeographic, em uma notícia publicizada no dia 06 de junho do ano corrente, constatou-se que o tempo de persistência da contaminação da área atingida pela explosão é indeterminado. Desde 1986, o território permanece insalubre e, por isso mesmo, inabitado e inabitável. Caracterizado como misterioso, o evento ainda inquieta muitas autoridades, estas que segue investigando a natureza dos fatos. 
	O evento ocorreu durante a manhã do dia 25 de abril, quando estava prevista uma manutenção de rotina no quarto reator da Central Nuclear de V.I. Lenin. Todavia, durante os testes, ainda segundo o portal, afirma-se que houve um equívoco por parte dos operadores envolvidos, o que ocasionou uma sobrecarga no reator. Após uma sequência de explosões, o núcleo do reator, exposto, lançou radioatividade para a atmosfera.
	Nesse sentido, propõe-se analisar a responsabilização civil e ambiental em atividades nucleares. Omissões fomentadas pela extinta União Soviética geram polêmicas até os dias atuais, o que faz com que sejam (re)pensadas também as políticas nacionais, no que diz respeito às atividades nucleares desenvolvidas nos países. 
	Assim, esta pesquisa bibliográfica de natureza descritiva e qualitativa, além de apresentar o que foi e representou/representa o evento em Chernobyl, arguirá o sistema utilizado pelo Brasil para lidar com a energia nuclear, ou seja, o Programa Nuclear Brasileiro. 
O intuito, pois, é apresentar, em se tratando do território nacional, os bônus e ônus que a produção nuclear representa para a sociedade; tudo isso com base no texto constitucional, este que ampara a atividade, quando e se realizada dentro do previsto, de modo a ponderar e prevenir ao máximo os riscos. Ademais, a lei também prevê punições aos órgãos infratores. 
2 O DESASTRE DE CHERNOBYL E SEU IMPACTO MUNDIAL
	Considerado o maior e mais impactante acidente nuclear da história, o ocorrido em Chernobyl é sempre rememorado no dia 26 de abril de 1986. A tragédia ocorrida no território da extinta União Soviética, atualmente inutiliza e marca uma grande área da Ucrânia. 
	Em razão de falha humana, de acordo com o site Brasil Escola, o acidente foi motivado pelo malsucedido processo de construção das hastes de um reator; acrescido a isso, têm-se a falha humana no manuseio da máquina. Dentre tantos efeitos danosos provocados pelo acidente, destaca-se a poeira radioativa e seu grande alcance, que contaminou não apenas o território, mas também e principalmente os humanos habitantes da região afetada. 
	Conforme A Folha, documentos sigilosos encontrados posteriormente em mãos de uma representante do Soviete Supremo, o parlamento soviético, mais de 10.000 pessoas já estavam hospitalizadas, isso sem contar a grande quantidade de lesões provocadas pela irradiação. Diante deste cenário, o governo atuava fortemente, segundo a matéria, manipulando os números de modo a minimizar, ao menos publicamente, os efeitos da catástrofe.
	Há sinais de que o governo agiu de modo criminoso ao despachar diversos pacientes afetados, estes que eram tidos por laudos médicos como completamente curados. Cientistas calcularam ainda o número de mortos a partir da catástrofe ambiental e apontaram que uma multiplicação por 10 aproximaria, mas ainda não seria capaz de definir a quantidade de humanos que ainda padecerão os efeitos do acidente ocorrido em 1986.
	Nos dias atuais, a região prossegue insalubre, contudo, cerca de 8 milhões de pessoas ainda arriscam-se vivendo, irregularmente, em áreas doravante contaminadas pelos elementos liberados no acidente radioativo. Embora cientes desde o ano da catástrofe, o governo ainda não tomou providências eficientes para a desocupação do território e, consequentemente, minimização dos vitimados por conta do ocorrido. 
Diante disso, não se sabe por mais quantos anos Chernobyl, por meio da negligência estatal, continuará fazendo vítimas. Hoje, seria necessária a construção de um sarcófago, com o intuito de impedir a proliferação da radiação, mas a Ucrânia afirma não ter condições de arcar com os reparos aos danos causados por sua negligência e, em um ciclo vicioso, Chernobyl continua, apesar dos anos, fazendo vítimas.
3 SOBRE O SISTEMA GERAL DE RESPONSABILIDADE CIVIL NO BRASIL
	A responsabilidade por danos nucleares está prevista, especialmente, no art. 21, XXIII, ‘d’, da Constituição Federal de 1988. O texto esclarece: a culpabilidade civil por prejuízos nucleares não depende da existência de culpa. Tal formulação distancia o regime geral culposo, ao assimilar hipóteses em que não ocorrerem quaisquer violações ao dever de cuidado, prudência ou perícia.
	No Brasil, a questão já estava em pauta desde 1977, apresentada pela lei nº 6.453/1977. O texto referido discorria acerca da responsabilidade civil por prejuízos nucleares e a responsabilidade criminal por atitudes diretamente vinculadas às ações desenvolvidas na produção da energia nuclear. 
	A lei supramencionada passou por um processo de revisão atualmente, produto das celebrações dos tratados internacionais que discutiram a temática, a saber, a Convenção de Paris, realizada em 1960, e a Convenção de Viena, que ocorreu três anos após a anterior.Desta forma, foram aceitos no território nacional os fundamentos, doravante confirmados, para a regulamentação do sistema de culpabilização por prejuízos que tem sua gênese em eventos nucleares.Assim, fica determinada a resposta única e expressa do operador da máquina nuclear, além da delimitação do valor da indenização pelas lesões originadas por acidentes nucleares. 
	Tais diálogos, conforme mencionado acima, objetiva pura e simplesmente o desenvolvimento de um regime de resposta capaz de resguardar os direitos individuais ao tempo em que fomenta um quadro propício aos investimentos e homologações contratuais dos seguros necessários.
	Tais proposições são ratificadas pelo artigo 4º da Lei Federal nº 6.453/1977 ao afirmar que “será exclusiva do operador da instalação nuclear, nos termos desta Lei, a responsabilidade civil pela reparação de dano nuclear causado por acidente nuclear.” Tem-se, ainda, o seguinte:
(i) [...] quando ocorrer instalação nuclear (art. 4º,I);
(ii) [...] for provocado por material nuclear procedente de instalação nuclear, quando o acidente ocorrer: “a) antes que o operador da instalação nuclear a que se destina tenha assumido, por contrato escrito, a responsabilidade por acidentes nucleares causados pelo material; b) na falta de contrato, antes que o operador da outra instalação nuclear haja assumido efetivamente o encargo do material”;
(iii) [...] for provocado por material nuclear enviado à instalação nuclear, quando o acidente ocorrer: “a) depois que a responsabilidade por acidente provocado pelo material houver sido transferida, por contrato escrito, depois que o operador da instalação nuclear; b) na falta de contrato, depois que o operador da instalação nuclear houver assumido efetivamente o encargo do material a ele enviado”. 
	
Deste modo, o próprio desenvolvimento da atividade é suficiente para que, em havendo acidente, se considere culpado o operador/explorador. Fica, portanto, esclarecido que a culpabilidade do operador se dará, por exemplo, pelo acionamento e desempenho das atividades propostas no âmbito da produção nuclear, rompendo-se, assim, com quaisquer aspectos de subjetividade. 
Indubitavelmente, são inúmeros os fatores causadores de acidentes como o de Chernobyl, contudo, a Lei desconsidera ligaduras entre explorador e maquinário, explorador e acidente, de modo que em caso de acidente nuclear o explorador será sempre alvo de culpa, mesmo quando suas ações tenham sido desenvolvidas em observância do que está previsto legalmente: respeito às técnicas e regulamentos existentes. Consequentemente, não assusta o fato de serem mínimas as hipóteses e que se poderá livrar operador do ônus da fatalidade.
	O arranjo, contudo, prevê algumas possibilidades: em seu art. 5º, a Lei da responsabilidade de dano por acidente nuclear prevê resposta solidária, quando a responsabilidade do acidente recair sobre dois ou mais operadores. Nestes casos, deve-se considerar o disposto nos artigos 9º a 13. 
	Têm-se ainda poucas hipóteses que eximem da indenização, com é o caso da vitimização do próprio operador. Nesse contexto, o mesmo é exonerado da culpa, mas não dos danos causados pelo acidente. Há ainda o caso da existência de conflitos armados e outros fatores, previstos no art. 8º, estes que, por sua vez, liberam da culpa o operador. 
	 Acerca do Novo Código Civil, vale destacar o disposto art. 927, que admite excludentes. O documento apresenta as noções de risco integral, mantendo o que preceitua o texto constitucional, mas ampliando-o no que diz respeito à causalidade. Verifica-se, pois, que o regime de responsabilidade previsto no texto constitucional possui aplicação limitada aos casos expressos. Em face disto, noutros casos, aplicar-se-á o regime comum de responsabilidade civil estabelecido pelo Código Civil de 2002.
4 SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR DANOS NUCLEARES
As concepções acerca da responsabilidade civil recaem ativamente naquele que é tido como propiciador do dano causado, de forma direta ou indireta. Nessa linha, os procedimentos nucleares se enquadram nas atividades que oferecem alta periculosidade às pessoas e ao meio ambiente. Por essa razão, as realizações de âmbito nuclear, no que tange a responsabilidade civil, são analisadas segundo o regime jurídico especial por meio da teoria do risco integral. À custa do alto nível de periculosidade presente nas atividades nucleares, há um grande desassossego no que tange os danos ambientais nucleares.
No entanto, o que de fato provoca a responsabilidade civil é apenas o acontecimento do desastre nuclear. Nisso, tal responsabilidade é inerente do agente responsável pela instalação nuclear, conforme esclarece o artigo 4º da Lei 6.453/1977.
Por agente responsável entende-se aquele que é autorizado juridicamente para operar a instalação nuclear. Sendo livre de culpabilidade ou não, a responsabilidade recai sobre o agente responsável pela ação, que, em casos de acidentes nucleares, é a União. Diante disso, a legislação brasileira antevê na Constituição Federal de 1988, no artigo 21, inciso XXIII: 
“Artigo 21 - Compete à União:
XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional;
b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006)
c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização e utilização de radioisótopos de meia-vida igual ou inferior a duas horas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006)
d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006)”
Frente ao risco proposto pelos danos nucleares, a responsabilidade civil passa a ser denominada agravada. Acentua-se que qualquer que seja o dano proveniente de acidentes nucleares é inclinado a ter reparação, com exceção das instalações e dos bens envolvidos ao dano nuclear.
Os danos ocasionados por questões nucleares são de natureza patrimonial e moral, visto que as pessoas, o meio ambiente – ou “coisas” – foram assujeitadas às radiações provenientes dessa catástrofe nuclear. Dito isso, havendo provas que liguem os prejuízos aos agentes, os episódios que dizem respeito a uma Força Maior, não isentam de responsabilidade o agente causador da ação ou da omissão.
5 A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO NA TRAGÉDIA DE CHERNOBYL
O efeito da exposição à radiação perpassa através do tempo, devastando, assim, por anos, muitos lugares e gerações. Por essa razão, é imprescindível planejar um sistema capaz de prevenir acidentes dessa magnitude. Quanto a isso, é possível facilmente notar quão fragilizado era o sistema de prevenção do Estado da União Soviética, tanto antes quanto depois do acidente de Chernobyl, no que diz respeito ao modo de proceder após tal tragédia.
Recapitulando o que foi exposto na introdução, após um procedimento realizado no reator 4 da Usina de Chernobyl, houve grande explosão, ocasionando até hoje tragédia irreparáveis. Posto isso, em casos como esse, é aplicado a teoria de risco integral, em que o Estado é responsabilizado inteiramente e unicamente pelos danos resultantes. Ao Estado é dada a obrigação de reparar integralmente os danos causados, independente da atuação dolosa ou culposa do mesmo. 
Posto isso, a responsividade do Estado no caso Chernobyl é categorizada como omissiva, haja vista que o Estado falhou ao fiscalizar as atividades de uma Usina que possuía em si grande capacidade para destruir tudo que havia na região. 
Além disso, após o ocorrido, o Estado falha novamente ao não agir devidamente diante de situação tão catastrófica, pois, mesmo diante de informações que poderiam ter ajudado na evacuação do local, o ministro da época – Mikhail Gorbachev –optou por omitir a confirmação do “acidente”,enquanto a população que estava sob seus cuidados sofria a contaminação por meio da radiação.
Nesse viés, a omissão do Estado, bem como a ausência de um plano de ação, aumentou inestimavelmente as chances da população de ser exposta à radiação, ocasionando danos irreparáveis à Vida. Ao invés de omissão, a sociedade carecia de tratamentos imediatos, podendo ser por meio de pílulas de iodo, com o objetivo de combater o nível de radiação na corrente sanguínea. Mas, infelizmente, a postura estatal não foi essa.
Mesmo aumentando o número de mortos e hospitalizados, o Estado continuou omitindo informações acerca da catástrofe que assolou a população. Para corroborar isso, as autoridades manipularam em cinco vezes mais o valor aceitável de exposição à radiação e removeram da cidade de Pripyat as pessoas que haviam sido expostas no primeiro dia. No entanto, a radiação continuou se espalhando, dessa vez por meio de nuvens tóxicas, que, em poucos dias, assolou boa parte das cidades européias.
Nessa situação, diante do terrível fato de o Estado não ter exposto à população o verdadeiro cenário e ter se utilizado conscientemente de informações manipuladas para transmitir falsa estabilidade, o Estado passou de omissivo para comissivo.
Desse modo, não havia como mensurar quão afetada havia sido aquela população, pois, após a explosão, tudo foi afetado. Do meio ambiente à saúde dos habitantes, perpassando, inclusive, pela economia, houve danos incalculáveis. Tendo em vista os fatos supracitados, a responsabilidade civil do Estado em face aos danos causados às vítimas, às famílias, aos sobreviventes e às cidades está em reparar o que lhes foi causado.
Com o intuito de reparar os danos causados à sociedade soviética, o Estado criou uma pensão para aqueles que foram, direta ou indiretamente, atingidos pela explosão. Mas, infelizmente, essa pensão criada pelo governo mal cobre as despesas com medicamentos e, para piorar, o valor da pensão tem diminuído progressivamente.
 Com isso, o Estado comprova mais uma vez o descaso para com a sociedade vítima de um ato, que, no inicio não passava de omissão, mas que, no desenrolar do tempo, passou a ser comissão, mesmo havendo no Estado a responsabilidade civil pelo ocorrido.
6 SOBRE A RESPONSABILIDADE EM CASOS NUCLEARES TRANSFRONTEIRIÇOS
A catástrofe de Chernobyl alcançou âmbito internacional e visibilidade mundial, vez que não atingiu apenas a Ucrânia. Ao invés disso, a catástrofe ultrapassou limites territoriais e alcançou vários países da Europa Ocidental, levando para esses países os mesmos níveis de destruição ocorrida na cidade de origem.
Infelizmente, a legislação sobre a responsabilidade civil do Estado, assim como a responsabilidade fronteiriça, bem como o conhecimento acerca de tais conteúdos, era muito superficial na época, fazendo com que não houvesse uma ação efetiva quanto a isso. Por essa razão tanto a Agência Internacional de Energia Atômica – AIEA, quanto as convenções internacionais se dedicavam mais à proteção dos aparatos radioativos do que com a prevenção de prováveis falhas de natureza humana ou com acontecimentos naturais, como eventos sísmicos.
No entanto, visando possíveis acidentes nucleares, no dia 21 de Maio de 1963 foi admitida a Convenção de Viena sobre Responsabilidade Civil para dano Nuclear, fazendo parte dessa convenção a America Central e América do Sul, África, Ásia Pacífica e Europa Oriental. Quando aconteceu o acidente de Chernobyl a Convenção de Viena já estava em vigor, mas infelizmente a União Soviética não fazia parte dela, o que impossibilitou que outros países, mesmo aqueles que também foram alcançados pela radiação, a acionasse internacionalmente. Por essa razão, o reparo à sociedade aconteceu pela própria União Soviética, cabendo a ela decidir se iria reparar os danos sofridos ou não. 
De acordo coma Convenção de Viena, a qual cabe a jurisdição acerca de desastres nucleares, determina em seu artigo 1º o agente – “operador” – deve sim ser responsabilizado por qualquer dano de natureza nuclear, desde que haja os seguintes pontos:
“i) a perda de vidas humanas, as lesões corporais e os danos e prejuízos materiais produzidos como resultado direto ou indireto das propriedade radioativas ou de sua combinação com as propriedades tóxicas, explosivas ou outras propriedades perigosas dos combustíveis nucleares procedentes ou originários dela ou a ela enviados;
ii) os demais danos ou prejuízos causados ou produzidos desta maneira, se assim o dispuser a legislação do tribunal competente;
iii) se assim o dispuser a legislação do Estado da Instalação, a perda de vidas humanas, as lesões corporais e os danos e prejuízos materiais que se produzem como resultado direto ou indireto de outras radiações ionizantes, que emanem de qualquer outra fonte de radiações situada numa instalação nuclear.”
Qualquer agência pública ou privada, desde que tenha personalidade jurídica ao abrigo da Lei do Estado, pode ser tida como responsável absolutamente pelos danos nucleares sofridos. Além disso, constata-se que quando o dano acontece para além do Estado em questão ou em terras desconhecidas, os Tribunais do Estado responsáveis pela instalação ou proprietário do objeto que ocasionou o dano nuclear passa a ser o responsável pelos danos e por sua total reparação.
Diante desse fato, é possível concluir que cada Estado possui autonomia legislativa para decidir como proceder diante de qualquer imprevisto, o que garante a independência dos outros Estados. Com o intuito de criar ordem, os Estados são submetidos a um Direito Internacional, que rege os princípios de cada Estado.
No caso de o dano ir para além das fronteiras do Estado de origem, o Estado causador do dano tem a obrigação de reparar todos os danos causados aos demais Estados. A responsabilidade civil que alcança esses Estados é totalmente objetiva, anulando qualquer traço de subjetividade. Vez que, se o Estado decide instalar determinada Empresa ou Instituição Nuclear, o mesmo também decide assumir os riscos de, possivelmente, acontecer alguma catástrofe ambiental nuclear.
Com isso, as atividades nucleares realizadas pelos Estados são lícitas. No entanto, o Estado é responsabilizado por qualquer possível danificação. Por essa razão existe a teoria do risco, que não passa da responsividade do Estado em relação ao risco de desastres naturais e nucleares. Mesmo havendo o dever transfronteiriço pertinente ao Estado, é impossível o Estado em questão ressarcir integralmente e de forma satisfatória o Estado lesado.
De acordo com Fiorillo na obra Curso de direito ambiental brasileiro:
“Em relação à responsabilidade civil pelos danos causados por atividades nucleares,será aferida pelo sistema da responsabilidade objetiva, conforme preceitua o artigo 21, XXlll, c, da Constituição Federal. Com isso, consagraram-se a inexistência dequalquer tipo de exclusão da responsabilidade (incluindo caso fortuito ou forçamaior), a ausência de limitação no tocante ao valor da indenização e a solidariedade da responsabilidade. (2006. p. 204)”
Posto isso, constata-se que o Estado é totalmente e inquestionavelmente responsável por danos em outros Estados. E que este deve ressarcir o Estado lesado, mesmo que esses danos sejam frutos de Instituições privadas. Mas, ao passo em que isso é constatado, também é possível notar a falha na Lei Internacional no que diz respeito à reparação de estragos causados por problemas nucleares.
7 CONCLUSÃO
Infere-se, portanto, que no caso do Desastre de Chernobyl, em consequência às constantes omissões do Estado da então União Soviética, especialmente por não fiscalizar as operações realizadas na Usina Nuclear, assim como por também omitir as informações pertinentes ao acidente que assolou a população, sujeitando-a a ampla exposição à contaminação radioativa, o Estado se tornouincontestavelmentecomissivo.
O Estado, conforme supracitado, é a entidadedetentorada melhor, bem como mais eficiente condição para impedir o dano causado por acidentes nucleares ou influenciar para que ele não aconteça, com isso,configurado está o nexo de causalidade, vedada qualquer excludente que se pretenda.
Por essa razão, utiliza-se as concepções que giram em torno do risco integral para categorizar a responsabilidade civil do Estado nos casos de danos nucleares, em que, por conta do risco inerente do material nuclear, a responsabilidade é objetiva.Portanto o Estado possui a obrigatoriedade de reparar os danos nucleares causados, tanto por ente público como por ente particular, independendo da existência de dolo ou culpa.
Outrossim, a prevenção de acidentes e reparação de danos nucleares foram objeto de regulamentações legislativas específicas e complexas tanto em questões internos dos países como no âmbito internacional, especialmente após o ocorrido em Pripyat com a Usina Nuclear de Chernobyl.
Hoje, 33 anos após a catástrofe de Chernobyl, como prova da incapacidade estatal de reparar os danos nucleares, Pripyat virou uma cidade fantasma. O Estado, após tanto descaso, omissão e posicionamento comissivo, nada pode fazer que de fato restaurasse aquele antigo lugar. De modo que até os dias atuais algumas famílias ainda residem lá e ainda sofrem as consequências da radiação. 
Infelizmente, o máximo que o Estado fez foi, após muitos anos, construir um sarcófago que pudesse impedir a radiação de se espalhar, sendo que esse sarcófago só foi construído após a radiação se espalhar pela Suécia, Escandinávia, Países Baixos, Bélgica, Reino Unido, Eslováquia, Romênia, Bulgária, Grécia, Turquia etc.
REFERÊNCIAS
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BANDEIRA DE MELLO, C. A. Elementos de direito administrativo. 2. Ed. São Paulo: RT, 1992.
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_________. Decreto nº 911, de 03 de setembro de 1993. Promulga A Convenção de Viena Sobre Responsabilidade Civil Por Danos Nucleares, de 21/05/1963. Brasília.
_________. Lei nº 6.453, de 17 de outubro de 1977. Dispõe Sobre A Responsabilidade Civil Por Danos Nucleares e A Responsabilidade Criminal Por Atos Relacionados Com Atividades Nucleares e Dá Outras Providências. Brasília.
FIORILLO, C. A. P. Curso de direito ambiental brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2000.
FRANÇA, L. Z., “A responsabilidade internacional do estado pela violação da obrigação de prevenção de danos transfronteiriços”, 2014.
JUNIOR, N.N.; NERY, R. M. de A. Responsabilidade Civil, v.7 – São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.
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UEDA, A. S. R. Responsabilidade Civil nas Atividades de Risco:Um Panorama Atual a partir do Código Civil de 2002. Tese, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. Disponível em:.<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2131/tde-02092009-085647/fr.php> Acesso em: 06/06/2019.
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<https://brasilescola.uol.com.br/historia/chernobyl-acidente-nuclear.htm>Acesso em 06/06/2019.
<https://vestibular.uol.com.br/resumo-das-disciplinas/atualidades/ucrania-tragedia-na-usina-nuclear-de-chernobyl-completa-30-anos.htm> Acesso em: 06/06/2019
<http://library.com.br/livros/vivemos-os-ultimos-anos-do-juizo-final/cap4-4-8-2.htm>Acesso em: 06/06/2019
¹ Graduanda de bacharelado em Direito; Faculdade Integral Diferencial – Wyden; e-mail: amandacsl16@outlook.com ;
² Mestre em Direito Internacional Econômico e Tributário Contemporâneo; Faculdade Integral Diferencial – Wyden; e-mail:

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