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PEDAGOGIA FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 1 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Processo Histórico, Caracterização e Princípios. Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 1 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivo: Conhecer o processo histórico do Ensino Fundamental no Brasil. ESTUDANDO E REFLETINDO Breve histórico Para falar da necessidade de escolarização básica da população, precisamos retomar os tempos da reforma protestante. Martinho Lutero, em 1520, já defendia a alfabetização das massas populares. Prova disso foi uma carta escrita por ele nesse período – a Carta aos príncipes cristãos – na qual solicitava que os fiéis tivessem acesso direto às santas escrituras. Afirmava, ainda, que a oferta da escolarização para as massas populares deveria ser de responsabilidade dos príncipes cristãos. Em 1647, na colônia de Massachusetts (Estados Unidos), foi sancionada a primeira lei garantindo Educação elementar a todos. Essa lei era conhecida como a “Lei do velho enganador, Satanás”. Para entender melhor essa lei e seu conteúdo relacionado às preocupações protestantes com a alfabetização da população, Anísio Teixeira esclarece que: Sendo o projeto maior do velho enganador, Satã, o de manter os homens afastados do conhecimento das escrituras, conservando-as como nos tempos antigos, em língua desconhecida, ou, nos últimos tempos, persuadindo-os a não aprenderem a língua, de modo que, pelo menos, o verdadeiro sentido e significado original (das ditas escrituras) possam ser turbados por falsas glosas de enganadores de santa aparência e para que o saber não fique enterrado no túmulo de nossos pais na igreja e na comunidade. Essa lei prescrevia que: 1 – Que toda cidade tendo 50 residências deveria nomear um professor de leitura e escrita, e prover seus salários na forma como o Conselho da cidade venha a determinar; FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 1 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Processo Histórico, Caracterização e Princípios. Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 2 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 2 – Que toda cidade que tenha 100 residências deveria prover uma escola de gramática (latina) para preparar seus jovens para a universidade sob pena de 5 libras se falhar nesse intento. Essa preocupação com a alfabetização da população, presente na lógica protestante, não acontecia no catolicismo, onde o padre “traduzia” o texto escrito, pois era o intermediário entre os católicos e Deus. Esse fato fez com que a garantia da escolarização para a maioria da população católica fosse mais lenta quando comparada aos países protestantes. No Brasil, a escolarização da população ocorreu a partir da década de 1930. Para nossa civilização ocidental, a extensão da escolaridade esteve associada à ideia emancipadora de que a escola seria um instrumento de redução das desigualdades sociais. A extensão da escolaridade esteve associada, ainda, à ideia disciplinadora de moldagem da identidade nacional quanto à necessidade de influir nas novas gerações comportamentos exigidos para o desempenho das funções e ocupações que surgiam com o processo de industrialização e urbanização. É com esse caráter emancipador e, ao mesmo tempo disciplinador, que o direito e o dever a um determinado nível de escolarização básica se tornou consenso no ocidente. Como exemplos disso temos: a Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, a Declaração Universal da Educação de Todos de 1990 e a Declaração dos Direitos da Criança de 1998. BUSCANDO CONHECIMENTO VOLTANDO NO TEMPO: No Brasil, ao falarmos da Educação da população, não podemos deixar de comentar a respeito da forma como os jesuítas impuseram o seu modo de vida, a sua cultura de forma geral, aos índios que aqui estavam. Em pleno século XVIII, mais de duzentos anos após a descoberta do Brasil, havendo falta de mão de obra, os índios eram caçados e forçados a servir como escravos nas plantações dos colonos europeus. A Companhia de Jesus, ordem religiosa FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 1 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Processo Histórico, Caracterização e Princípios. Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 3 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” jesuíta, teria então por missão evangelizar os índios, e, uma vez convertidos à Fé Cristã, os índios estariam a salvo da escravidão. Já no século XVIII, em São Paulo e Minas Gerais, sendo a mão-de-obra escrava ainda muito procurada, e porque muitos índios locais já haviam migrado mais para o Sul, iniciou-se o processo de uso das entradas e bandeiras, incursões na mata de grupos de caçadores de novos escravos, na região das Missões jesuíticas. Aí se deu um confronto histórico, em que as Missões, com centenas de índios catequizados, que já conheciam a música clássica, a escrita, e a Bíblia, viriam a ser capturados eventualmente, em confrontos com os Bandeirantes. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Miss%C3%A3o Evangelização dos índios: "Imposição de uma cultura sobre outra" FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 2 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Processo Histórico, Caracterização e Princípios. Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 4 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivo: Entender como se deu o acesso à Educação Fundamental nas Constituições Brasileiras. ESTUDANDO E REFLETINDO No Brasil, a Educação obrigatória e gratuita a que todos devem ter acesso foi introduzida na legislação federal com a constituição de 1934. Inicialmente, consistia no ensino primário de cinco anos, posteriormente de quatro. Com a Lei n. 5692/71, passou a abranger as oito primeiras séries, sob a denominação de ensino de primeiro grau, resultante da fusão do ensino primário com o ginasial. Com a Constituição de 1988, tem sua denominação alterada para Ensino Fundamental. Posteriormente a duração obrigatória do Ensino Fundamental foi ampliada de oito para nove anos pelo Projeto de Lei nº 3.675/04, passando a abranger a Classe de Alfabetização (fase anterior à 1ª série, com matrícula obrigatória aos seis anos) que, até então, não fazia parte do ciclo obrigatório (a alfabetização na rede pública e em parte da rede particular era realizada normalmente na 1ª série). O direito à Educação nas constituições brasileiras Constituição Imperial de 1824 - Tinha poucas indicações sobre Educação. A mais importante estava na Declaração dos Direitos do Cidadão, a qual trazia no artigo 32: “A instrução primária é gratuita a todos os cidadãos”. Acontece que no Brasil a maioria da população era constituída por escravos, de forma que a abrangência do direito à Educação tornava-se restrita. FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 2 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Processo Histórico, Caracterização e Princípios. Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 5 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” Constituição Republicana de 1891- Apesar da Republica ter sido proclamada, a supremacia de uma visão individualista do liberalismo determinou a derrota das poucas emendas que propuseram o ensino obrigatórionessa constituição. Alguns autores afirmam que a questão da obrigatoriedade foi suprimida devido à preocupação de se preservar a autonomia dos Estados federados. Constituição de 1934- A Revolução de 1930 trouxe consigo a promessa de modernização do país, abrindo um papel central à Educação na construção da nacionalidade. Criou-se o Ministério da Educação e Saúde atrelado a um Sistema Nacional de Ensino, porém, ligado aos interesses políticos do governo. Nesse contexto, a Constituinte de 1934 definiu os marcos legais dessa institucionalização e incorporou os direitos sociais aos direitos do cidadão. Essa Constituinte foi influenciada pelo ideário liberal da Escola Nova, difundido no país a partir de meados dos anos 1920. Pela primeira vez, um texto constitucional brasileiro dedica um capítulo à Educação, o Art. 149, o qual estabelece que: A Educação é direito de todos e deve ser ministrada pela família e pelos Poderes Públicos, cumprindo a estes proporcioná-la a brasileiros e a estrangeiros domiciliados no País, de modo que possibilite eficientes fatores da vida moral e econômica da Nação, e desenvolva num espírito brasileiro a consciência da solidariedade humana. Constituição de 1937- Esta Constituição foi decorrente do golpe de 10 de novembro de 1937, foi decretada por Getúlio Vargas e redigida por Francisco Campos, primeiro ministro da Educação após 1930. Ficou conhecia como “Polaca”, pois foi inspirada num texto polonês. Especificamente sobre o ensino primário, lê-se: FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 2 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Processo Histórico, Caracterização e Princípios. Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 6 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” O ensino primário é obrigatório e gratuito. A gratuidade, porém, não exclui o dever de solidariedade dos menos para com os mais necessitados; assim, por ocasião da matrícula, será exigida aos que não alegarem, ou notoriamente não puderem alegar escassez de recursos, uma contribuição módica e mensal para a caixa escolar. . Constituição de 1946- Nesta Constituição, alguns artigos chamam a atenção: -o artigo 166 retomava a questão do direito à Educação: “A Educação é direito de todos e será dada no lar e na escola. Deve inspirar-se nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana”. Neste artigo, a redação “será dada no lar e na escola” substituída à redação da Constituição de 1934 “ministrada pela família e pelos Poderes Públicos”. As duas Constituições evidenciam a influência das concepções católicas. - o artigo 168 retomava a questão da obrigatoriedade: “A legislação do ensino adotará os seguintes princípios: I – o ensino primário é obrigatório e só será dado na língua nacional; II- o ensino primário oficial é gratuito para todos...” - o artigo 172 garantia os serviços auxiliares ou de assistência ao estudante: “Cada sistema de ensino terá obrigatoriamente serviços de assistência educacional que assegurem aos alunos necessitados condições de eficiência escolar”. Constituição de 1947- A Constituição Paulista de 9/7/1947, no Art. 118, afirmava que “O ensino oficial será gratuito em todos os graus”. Constituição de 1967- A ditadura decorrente do Golpe Militar de 1964, ao recorrer crescentemente a medidas de exceção, acabou necessitando de outro ordenamento jurídico, o qual veio por meio da Constituição de 1967. Constituição de 1969- ou Emenda Constitucional de 1969, tratava da Educação no Art. 176 da seguinte forma: FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 2 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Processo Histórico, Caracterização e Princípios. Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 7 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” A Educação, inspirada no princípio da unidade nacional e nos ideais de liberdade e solidariedade humana, é direito de todos e dever do Estado, e será dada no lar e na escola. [...] II – O ensino primário é obrigatório para todos, dos sete aos catorze anos e gratuito nos estabelecimentos oficiais; A emenda de 1969, em seu Art. 176 reconhecia, pela primeira vez, em nível constitucional, Educação como “direito de todos e dever do Estado”. BUSCANDO CONHECIMENTO Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) - Vale dizer que, em termos de legislação não constitucional, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a Lei n. 4024/61, que em seu Art. 3º estabelecia: O direito à Educação é assegurado: I- Pela obrigação do poder público e pela liberdade de iniciativa particular de ministrarem o ensino em todos os graus, na forma da lei em vigor; II- Pela obrigação do Estado de fornecer recursos indispensáveis para que a família e, na falta desta, os demais membros da sociedade se desobriguem dos encargos da Educação, quando provada à insuficiência de meios, de modo que sejam asseguradas iguais oportunidades a todos. Do exposto acima, podemos concluir que: - a obrigatoriedade escolar para o ensino primário é introduzida, em nível constitucional, a partir de 1934, com cinco anos de duração. Em seguida, amplia-se o seu período de duração para oito anos no texto de 1967, e depois com a Lei 5. 692 de 1971; Neste período, altera-se a nomenclatura para ensino de primeiro grau, fundindo- se o antigo ensino primário e ginasial. Dessa forma, o ensino obrigatório passa a abarcar esse novo nível, mantendo-se tal direito restrito à faixa etária dos 7 aos 14 anos de idade; FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 2 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Processo Histórico, Caracterização e Princípios. Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 8 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” - revela-se a influência das concepções católicas a respeito da definição das instituições responsáveis pela Educação, com primazia da família em detrimento do Estado, explicitada na precedência da “família” sobre os “Poderes Públicos” (1934) ou no “ensino ministrado no lar e na escola” (1946 e 1967); - não são previstos mecanismos jurídicos para a garantia de tal direito, apesar de haver a possibilidade do recurso ao mandado se segurança; - apenas no texto de 1969 fica claro o dever do Estado para garantir a Educação compulsória a todos. FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 3 - “A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Processo Histórico, Caracterização e Princípios” Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 9 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivo: Entender como se deu o acesso à Educação nas Constituições Brasileiras, conhecendo alguns instrumentos viabilizadores do direito a educação, ECA Estatuto da Criança e do Adolescente e LDB Lei de Diretrizes e Base da Educação. ESTUDANDO E REFLETINDO O direito à Educação na Constituição de 1988 e o artigo 208 Pela primeira vez, em nossa história constitucional, explicita-se a declaração dos direitos sociais, destacando-se a Educação. No artigo 6º da Constituição de 1988 lê-se: são direitos sociais a Educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. No artigo 205 da Constituição de 1988, se reafirma a preferência do Estado no dever de educar, como em 1969. A Educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada coma colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Com relação ao Art. 206 da Constituição de 1988, têm-se: “O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I – igualdade de condições para acesso e permanência na escola”. Pode-se dizer que este artigo avança em termos da efetivação da igualdade de todos perante a lei, pois um dos motivos de exclusão do ensino está relacionado ao abandono precoce da escola. No inciso IV deste mesmo artigo (206), afirma-se a “gratuidade do ensino público nos estabelecimentos oficiais”. Este artigo inova a questão da gratuidade, pois FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 3 - “A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Processo Histórico, Caracterização e Princípios” Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 10 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” assegura a mesma para todos os níveis de ensino. Além disso, amplia a gratuidade para o ensino médio e declara a gratuidade para o ensino superior e infantil. O ARTIGO 208 Uma atenção especial deve ser dada ao artigo 208 no texto da Constituição de 1988. Neste artigo, o direito à Educação aparece nos seguintes termos: O dever do Estado para com a Educação será efetivado mediante a garantia de: “I – Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria” [...]. Vejamos agora os três principais parágrafos do artigo 208 que reforçam a importância da declaração do direito à Educação na Constituição de 1988: No parágrafo primeiro, afirma-se que “o acesso ao Ensino Fundamental é direito público subjetivo”. [...] todo cidadão brasileiro tem o subjetivo público de exigir do Estado o cumprimento da prestação educacional, independentemente de vaga, sem seleção, porque a regra jurídica constitucional o investiu nesse status, colocando o Estado, ao lado da família, no poder-dever de abrir a todos as portas das escolas públicas e, se não houver vagas nestas, das escolas privadas, pagando as bolsas aos estudantes. O parágrafo segundo do Art. 208 afirma que “[...] o não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade de autoridade competente”. O parágrafo terceiro prescreve que “compete ao Poder Público recensear os educando no Ensino Fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola”. O artigo 227 e o Estatuto da Criança e do Adolescente FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 3 - “A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Processo Histórico, Caracterização e Princípios” Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 11 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” O artigo 227 é outro artigo da Constituição Federal que declara o direito à Educação e propicia mecanismos para sua efetivação. No Título VIII – Da Ordem Social, capítulo VII – Da Família, da Criança, do Adolescente e do Idoso, lê-se: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à Educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Este artigo, ao ser regulamentado, gera o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei n. 8.069/90, que tem servido de fundamento legal para boa parte das ações judiciais que visam garantir o direito à Educação. O ECA é um estatuto que tem a preocupação de “incluir”. O artigo 53, capítulo VI –Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer, é dedicado à Educação: Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à Educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - direito de ser respeitado por seus educadores; III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores; IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência. Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais. O artigo 56 prevê que: Os dirigentes de estabelecimento de Ensino Fundamental comunicarão ao Conselho tutelar o caso de: [...] II – reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares; III – elevados níveis de repetência. FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 3 - “A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Processo Histórico, Caracterização e Princípios” Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 12 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” O ECA regulamenta de maneira bastante detalhada o direito à Educação presente no texto constitucional, representando uma significativa contribuição ao esforço pela ampliação e efetivação desse direito em nossa sociedade. O direito à Educação na LDB A LDB toma como referência o texto da CF 88 e do ECA para explicitar a Declaração do direito à Educação, não apresentando em relação a esses documentos alterações significativas. Em seu Título IIl, a LDB detalha o direito à Educação e o dever de educar. Primeiramente, o Art. 4° da LDB, detalha e amplia, os termos dos incisos do Art. 208 da CF: o dever do Estado com a Educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: I - Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; Os incisos I e II repetem a redação original da CF 88, sem levar em conta as modificações introduzidas pela EC 14. Dessa forma, não têm valor legal, uma vez que a hierarquia das leis determina que, havendo contradição entre uma lei complementar e a Constituição, prevalece esta última. Os Arts. 5º e 6º da LDB detalham aspectos do caput do Art. 208 da CF nos seguintes termos: Artigo 5º - O acesso ao Ensino Fundamental é direito público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra legalmente constituída, e, ainda, o Ministério Público, acionar o Poder Público para exigi-Io. §2º - Em todas as esferas administrativas, o Poder Público assegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino obrigatório, nos termos deste artigo, contemplando em seguida os demais níveis e modalidades de ensino, conforme as prioridades constitucionais e legais. §3º - Qualquer das partes mencionadas no caput deste artigo tem legitimidade para peticionar no Poder Judiciário, na hipótese do §2° do FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 3 - “A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Processo Histórico, Caracterização e Princípios” Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 13 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” Art. 208 da Constituição Federal, sendo gratuita e de rito sumário a ação judicial correspondente. Artigo 6º - É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula das crianças na educação básica a partir dos 4 (quatro) anos de idade. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013). BUSCANDO CONHECIMENTOMuitos assuntos importantes foram abordados até agora e muitos outros entrarão em discussão nas unidades seguintes. Dentre eles comentaremos a respeito da estrutura física da escola, número de alunos na sala de aula e numero ideal de estabelecimentos de ensino. Assim sendo, a proposta que se segue está relacionada à apreciação e reflexão do filme “O Jarro” do diretor Ebrahim Forouzesh, 1994. FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 4 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Organização, Funcionamento e Políticas Educacionais Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 14 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivo: Compreender pontos importantes a respeito da organização curricular do Ensino Fundamental na Lei de Diretrizes e Base da Educação. ESTUDANDO E REFLETINDO Oferta e financiamento do Ensino Fundamental O Ensino Fundamental é responsabilidade concorrente do Estado e do município, nos termos do Artigo 211 da CF, alterado pela EC 14/96: A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino. [...] §2° - Os Municípios atuarão prioritariamente no Ensino Fundamental e na Educação infantil. §3° - Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e médio. §4° - Na organização de seus sistemas de ensino, os Estados e os Municípios definirão formas de colaboração de modo a assegurar a universalização do ensino obrigatório. Evidencia-se a ideia do atendimento concomitante do Ensino Fundamental por parte de Estados e municípios, desde que equacionada a concepção de regime de colaboração. A LDB delineia esse regime de colaboração ao estabelecer o que cabe a essas duas esferas governamentais. Aos Estados (Art. 10, VI) atribui à tarefa de "assegurar o Ensino Fundamental e oferecer, com prioridade, o ensino médio". Aos municípios (Art. 11, V), que estes incumbir-se-ão de: FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 4 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Organização, Funcionamento e Políticas Educacionais Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 15 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” Oferecer a Educação infantil em creches e pré-escolas, e, com prioridade, o Ensino Fundamental, permitida a atuação em outros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área de competência e com recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento do ensino. A prioridade no atendimento ao Ensino Fundamental é claramente expressa, tanto no §3° do Artigo 212 da Constituição, pelo qual "a distribuição dos recursos públicos assegurará prioridade ao atendimento das necessidades do ensino obrigatório, nos termos do plano nacional de Educação" quanto no Artigo 5º, §2° da LDB: "Em todas as esferas administrativas, o Poder Público assegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino obrigatório [...]”. Em vista disso, o Ensino Fundamental deve receber atendimento privilegiado por todas as esferas governamentais, inclusive a União, uma vez que é ele o único nível obrigatório. No que diz respeito ao financiamento da Educação, a concepção crescente na LDB, em seu Art. 10, inciso 11, estabelece que os Estados incumbir- se-ão de: 11 - definir, com os Municípios, formas de colaboração na oferta do Ensino Fundamental, as quais devem assegurar a distribuição proporcional das responsabilidades, de acordo com a população a ser atendida e os recursos financeiros disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder Público. Vale dizer que o FUNDEF destina recursos proporcionalmente ao número de alunos atendidos em cada esfera da administração e que o município que estiver investindo no ensino médio e/ou superior não poderá continuar a fazê-lo com os recursos destinados à manutenção e desenvolvimento do ensino. FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 4 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Organização, Funcionamento e Políticas Educacionais Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 16 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” A organização curricular do Ensino Fundamental: a LDB De acordo com a LDB, o Ensino Fundamental terá 200 dias de efetivo trabalho escolar, entendidos como aqueles dias nos quais se desenvolvam atividades orientadas com alunos e excluídos os períodos destinados aos exames finais, quando existirem (Art. 24). A jornada de trabalho diária deverá ter no mínimo quatro horas de "trabalho efetivo em sala de aula, sendo progressivamente ampliado o período de permanência na escola”, ampliação delegada a cada sistema de ensino (Art.34, § 22). Deve-se atentar para o fato de que um entendimento restrito deste parágrafo pode representar limites às atividades chamadas "extraclasse" - excursões, estudos de meio etc. tão necessárias à formação básica do cidadão quanto o acesso ao conhecimento "escolarizado" trabalhado nas salas de aula. Interessa dizer que durante o processo de escolarização no Ensino Fundamental, as escolas poderão classificar os alunos por promoção, caso dos que cursaram "[...] com aproveitamento a série ou fase anterior, na própria escola"; por transferência, para os alunos que vierem de outras instituições ou independentemente do grau de escolarização anterior. Neste caso, a classificação dar-se-á a partir de uma avaliação efetuada pela escola e de acordo com as normas fixadas pelo respectivo sistema educacional (Art. 24,11). No que diz respeito à avaliação, observa-se no Art. 9° da LDB, a alteração do papel da União, de corresponsável na tarefa de garantir o Ensino Fundamental, para o de avaliador do ensino mantido por Estados e municípios: A União incumbir-se-á de: VI - assegurar processo nacional de avaliação do rendimento escolar no Ensino Fundamental, médio e superior, em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino. FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 4 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Organização, Funcionamento e Políticas Educacionais Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 17 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” Além disso, é importante mencionar a exigência da frequência dos alunos, em, no mínimo, 75% do total de horas letivas, para aprovação (Art. 24, VI). Isso significa que as unidades escolares, seguindo orientações expressas em seu Regimento e levando em conta as normas fixadas pelo sistema de ensino e as orientações presentes no “Estatuto da Criança e do Adolescente" (ECA), deverão computar, para efeito de reprovação, a ausência do aluno, não mais em cada uma das disciplinas oferecidas pela escola, mas no total das atividades letivas desenvolvidas. BUSCANDO CONHECIMENTO Para ampliar seus conhecimentos sobre a oferta e financiamento do Ensino Fundamental acesse: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm http://portal.mec.gov.br/ FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 5 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Organização, Funcionamento e Políticas Educacionais Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 18 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivo: Conhecer as inovações pedagógicas e as de caráter estrutural nos sistemas estatais de Educação.ESTUDANDO E REFLETINDO A Educação e as inovações pedagógicas nos sistemas estatais As inovações pedagógicas dizem respeito ao interior da instituição escolar e abrangem questões relacionadas ao professor, ao ambiente escolar, o aluno, aos pais, ao programa de ensino etc. Elas estão direcionadas para a melhoria da "qualidade" do ensino ministrado, e as questões de eficiência, padrões de desempenho, introdução de novos conteúdos, ou novos equipamentos, estão sempre presentes quando o foco da preocupação são os atores envolvidos no cotidiano da instituição educativa. Vale dizer que, pelo ponto de vista pedagógico, têm ocorrido modificações extraordinárias no interior da instituição educativa; basta relembrarmos a maneira como eram tratados os alunos pelos professores há 50 anos. No entanto, as inovações de caráter pedagógico dificilmente poderão superar os limites que pressupõem a relação professor/aluno, mediados por um conteúdo que dá sentido e direciona a ligação estabelecida, sobretudo nos primeiros anos da escola básica. As inovações de caráter estrutural nos sistemas estatais de Educação Essas inovações referem-se às alterações de sentido da ação político-educativa que provocam modificações do sistema como um todo. Assim, elas mobilizam componentes políticos e, por extensão, as relações de poder e outros atores sociais que podem ter ou não interesse direto com a Educação. Têm, ainda, um aspecto FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 5 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Organização, Funcionamento e Políticas Educacionais Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 19 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” abrangente e afetam o setor educacional como efeito de outras modificações que ocorrem na sociedade global e que alteram o setor educativo quer este deseje ou não as inovações. Essas inovações de caráter estrutural podem estar relacionadas ao aprimoramento do sistema educativo, visando consolidar um novo quadro que implantou com a mudança política ou garantir um novo estado de coisas a partir de discussão ocorrida no interior da sociedade, quando se percebe a inadequação do existente e se busca uma nova ordem educativa. Todos os educadores deveriam adotar atitude crítica diante da inovação, sobretudo porque em muitos lugares, como no Brasil, insinuam-se proposições que, a pretexto de operarem mudanças efetivas, apenas dissimulam a realidade existente, não alterando coisa alguma. Ou seja, inovação é trocada por simulacros que, esquecendo o fundamental, se preocupam com o acessório, o irrelevante, com isso dando a impressão de que algo está se fazendo, ou se modificando. A expansão dos sistemas estatais de Educação Quando falamos das inovações no âmbito educacional, não podemos deixar de falar da expansão dos sistemas estatais de Educação. Parece consenso que as mudanças nos sistemas educativos se dão muito mais por ação externa do por influência direta do interior das instituições educativas. De fato, a revolução francesa e a norte-americana influenciaram muitos países na difusão de ideias de extensão da escolaridade obrigatória, talvez até maior do que a ação efetiva dos educadores. Da mesma forma, certos movimentos políticos nacionais na América trouxeram propostas que fizeram da Educação um fator fundamental de construção da nova cidadania. Numa região como a América Latina, que ainda hoje mantém contingentes imensos de analfabetos, é natural que as propostas inovadoras tenham surgido dos FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 5 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Organização, Funcionamento e Políticas Educacionais Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 20 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” políticos e de todos aqueles preocupados em fazer da Educação um instrumento de equalização de oportunidades sociais, embora essas propostas ainda estejam bem distantes de atender adequadamente uma política de vagas para todos. Apesar de tudo, as inovações vinculadas à extensão da cobertura educacional representam uma constante nas lutas pela melhoria da Educação em nosso continente; [...] a taxa bruta de escolarização aumentou de 11 para 56%. Essa extraordinária expansão quantitativa traz problemas ao funcionamento do sistema tradicional de Educação o qual está estruturado para atender poucos e dentro de uma visão social estratificada. [...] A expansão quantitativa, em si uma inovação fundamental, enfrenta muitas resistências para se impor com um novo padrão de ensino nos sistemas educativos da região, já que a seletividade escolar continua operando através de inúmeros mecanismos da exclusão. Isso demonstra que, em muitos países, as elites que efetivamente comandam o sistema educacional ainda não aceitam plenamente que se deva ter uma Educação que ofereça ensino de igual qualidade para todos. A situação de crise na qual vivem muitos países coloca hoje em dúvida as possibilidades de inovação através do prosseguimento da expansão quantitativa dos sistemas educativos. Não há recursos financeiros para melhorar as instalações, pagar melhor os professores e construir mais escolas, de tal sorte que em muitos países, como o Brasil, os índices de crescimento da expansão encontram barreiras, com as agravantes de deterioração de todo aparato em funcionamento. É necessário refletir muito sobre essa situação, mesmo porque a crise gera soluções que podem significar atraso e novas formas de segmentação social. FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 5 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Organização, Funcionamento e Políticas Educacionais Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 21 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” BUSCANDO CONHECIMENTO Todos prezam por uma boa Educação e isso parece ser de comum acordo. A importância da escrita é muito bem abordada no filme “Narradores de Javé”; filme brasileiro de 2003, do gênero drama, dirigido por Eliane Caffé, mostra a pequena cidade de Javé a qual será submersa pelas águas de uma represa. Seus moradores não serão indenizados e não serão sequer notificados porque não possuem registros nem documentos das terras. Inconformados, eles descobrem que o local só poderia ser preservado se tivesse um patrimônio histórico de valor comprovado em "documento científico". Decidem então escrever a história da cidade e constatam que poucos sabem ler e escrever, com exceção do carteiro da cidade. Depois disso, o que se vê é uma tremenda confusão, pois todos procuram Antônio Biá, o carteiro, para fazer o registro da história da cidade de Javé. O filme é irremediavelmente marcado pelas memórias dos moradores da cidade, já que os registros produzidos por esses moradores do vilarejo são compostos das suas narrativas. FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 6 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Organização, Funcionamento e Políticas Educacionais Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 21 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivo: Conhecer as novidades relacionadas à legislação educacional brasileira. ESTUDANDO E REFLETINDO As novidades relacionadas à legislação educacional A legislação educacional, que abrange desde a Constituição ou a Lei Nacional de Educação, até instrumentos mais restritos como decretos, portarias, resoluções etc. é o veículo mais habitual para implantaçãodas inovações no sistema educativo. [...] No Brasil, acontece que a legislação educacional atende múltiplas funções, que devem ser muito bem explicadas para que se possa ter uma ideia de sua dimensão. [...] Nesta direção, segundo alguns estudiosos (Cunha, 1981), no Brasil a legislação seria uma antecipação da inovação, ao abrigar certas ideias-forças que direcionariam as lutas e as reivindicações educacionais. A legislação como fonte de inovação é importante, por permitir exame detalhado das vinculações mais marcantes entre a Educação e a política. No Brasil, sob o regime militar, a legislação foi extremamente eficiente (Garcia, 1983) no sentido de abrigar certas reivindicações de expressivos setores da sociedade, sem que necessariamente tenham ocorrido as inovações na prática educacional. Mesmo com o amparo na legislação, vale dizer que a escola de 9 anos, para todos, ainda permanece muito mais como aspiração do que como conquista efetiva. Por isso, não se deve perder de vista que a legislação está fortemente atrelada ao poder político mais amplo, assumindo, muitas vezes, uma função controladora das ações, direcionando esforços e estabelecendo os limites nos quais se espera que o sistema educativo atue sem causar maiores transtornos aos grupos dominantes. FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 6 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Organização, Funcionamento e Políticas Educacionais Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 22 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” Estudos mostram que a legislação foi o mecanismo acionado para permitir o surgimento de instituições mais flexíveis, com currículos que poderiam incorporar a participação mais efetiva de pais e professores e onde o aluno era considerado como o centro do processo de aprendizagem. No entanto, a legislação passa a ser um elo muito fraco no apoio às inovações, justamente nos momentos de crise. Como a inovação surge na legislação quase sempre os seus mecanismos de sustentação são bastante frágeis. No caso do Brasil, as escolas e experiências inovadoras no ensino de 10 e 20 graus não sobreviveram à crise política do final dos anos 60, sendo que a maioria delas foi transformada em escolas comuns, perdendo-se assim todo um acervo de informações e de propostas que hoje sem dúvida fazem falta à consolidação de uma política educacional mais forte. BUSCANDO CONHECIMENTO Saiba mais sobre as inovações no âmbito educacional: um alerta! As questões de inovações educacionais merecem cuidados, pois no nível de generalidade com que são tratadas, alertam para a necessidade dos educadores olharem com atenção a fim de que as tentativas de mudança possam ter êxito. A crise financeira, a estrutura burocrática e a concepção de planejamento educativo existentes em muitos países, representam problemas sérios que devem ser devidamente analisados. A expansão quantitativa não foi ainda capaz de provocar modificações expressivas nos critérios tradicionais de avaliação e promoção dos alunos da escola básica, embora algumas iniciativas já admitam que se devam adotar modelos mais compreensivos para saber se um aluno deve ser promovido ou não nas séries iniciais FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 6 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Organização, Funcionamento e Políticas Educacionais Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 23 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” da escola. Não existe regra que garanta o sucesso de uma inovação educativa, da mesma forma que não se dispõe de um único critério para avaliar o que é um bom professor ou o que é uma boa escola. Tudo parece sugerir que temos de recorrer a grandes indicadores, que embora também possam ser imprecisos, dada justamente a sua enorme abrangência, pelo menos são reveladores de que a instituição educativa está cumprindo seus objetivos básicos de construção da cidadania. Assim, é fato inegável que um bom sistema de ensino é aquele que responde bem aos objetivos que justificam a sua criação e existência. No Estado moderno o sistema educativo está associado à construção da cidadania, de equalização de oportunidades e de aberturas de possibilidades para o crescimento, tanto individual quanto dos grupos socialmente organizados. Diante disso, a evasão e a repetência são injustas, na exata medida em que subtraem oportunidades de crescimento individual e social punindo, quase sempre por razões de natureza socioeconômica, aqueles setores que não encontram as mesmas oportunidades para permanecer e ascender na escada educacional. Para se implantar um sistema de ensino que seja melhor, precisa-se da criação de condições que alterem as relações hoje existentes, que tornam o setor educativo extremamente frágil diante das demais políticas. Estas medidas não significam, necessariamente, a posse de maiores recursos financeiros ou a tão reclamada descentralização das decisões. [...] A ideia central é que a inovação floresce onde se criam condições para tanto, deixando-se de lado a ideia messiânica de que a inovação poderia ser programada e imposta por alguns poucos, que pensariam por todos os que deveriam executar tarefas. FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 7 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Organização, Funcionamento e Políticas Educacionais Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 24 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivo: Perceber a importância de uma participação social mais ativa no âmbito escolar. ESTUDANDO E REFLETINDO As novidades relacionadas ao sistema de ensino: uma participação social mais ativa Em alguns países, a questão da Educação deixou de ser um assunto técnico para se transformar num assunto político por excelência. Portanto, ela não mais diz respeito somente a professores e alunos, mas também a políticos, líderes comunitários, igrejas, associações de moradores, etc. A existência de inúmeras organizações voltadas para a prestação de serviços educativos fora dos sistemas estatais mostra a valorização que estes grupos dão à Educação. Revelam, ainda, a lentidão e incapacidade, do sistema convencional em abrigar o atendimento da população com diferentes tipos de problemas. O surgimento da "Educação popular" revela as condições de crise que se abate sobre os sistemas educativos e demonstram que existem variadas formas de incorporação da cidadania, ou da subcidadania, que passam ao largo do sistema convencional. Apesar dessa crise do modelo de desenvolvimento vivido por muitos países nota-se que existe um consenso de que os sistemas estatais gastam pouco e que devem investir mais no setor educativo. A pressão por mais verbas para a Educação é saudável, pois produz inovações no sistema educativo. Outra consequência do universo educativo abranger outros segmentos sociais é que os educadores e especialistas devem buscar outras formas de comunicação e de entendimento das questões sociais. Hoje não basta ser um especialista; é preciso ampliar o universo de compreensão dos problemas, caso os educadores e professores não queiram perder a oportunidade de continuar influindo de maneira eficaz. FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 7 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Organização, Funcionamento e Políticas Educacionais Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 25 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” Os agentes educativos precisam compreendercom clareza o que ocorre no amplo espectro de sociedades desiguais, marcadas por problemas socioeconômicos angustiantes, onde as rupturas culturais são massacrantes e certamente afetam as possibilidades do sistema educativo como um todo. Um passo concreto só será dado se o sistema for capaz de colaborar de maneira eficaz para que a participação social mais ativa seja incorporada à Educação regular. Isso será altamente estimulante para que a inovação surja como um marco qualitativo relevante em muitos de nossos países. As novidades relacionadas ao sistema de ensino: maior abertura para o desenvolvimento do trabalho nas escolas Atenção especial deve ser dada ao fato de que os sistemas públicos de Educação poderiam adotar procedimentos que facilitassem a revisão das estruturas organizadas nas escolas para transmitir Educação. No Brasil, procura-se depositar no professor toda a responsabilidade pela melhoria do ensino. Isto se evidencia, sobretudo, nos anos iniciais, e mais ainda nas escolas rurais, onde o professor executa outros papéis como o de líder comunitário, o de responsável pelos contatos com os pais, o de encarregado de distribuição da merenda e do material didático etc. com pouca disponibilidade para as questões pedagógicas propriamente ditas. De forma que não sobra tempo para outras funções, como, por exemplo, reformar metodologias de ensino, critérios de avaliação, de promoção, entre outros. Diante disso, seria recomendável que algumas medidas pudessem acontecer, como por exemplo: dotar as escolas de melhor infraestrutura física, com boa manutenção dos prédios e equipamentos; distribuir a carga técnico-administrativa do professor com outros servidores, tais como especialistas de orientação, supervisão e pessoal de apoio, liberando-o para dedicação exclusiva ao seu trabalho docente; estimular experiências e iniciativas que permitam avaliações mais globalizantes do FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 7 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Organização, Funcionamento e Políticas Educacionais Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 26 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” desempenho escolar do aluno, tornando assim mais flexíveis os critérios de promoção. Algumas experiências em curso no Brasil, como a do ciclo básico de alfabetização, se bem aplicadas, podem ser a esperança de que se possa efetivamente reduzir a deserção escolar e a repetência; prever mecanismos capazes de garantir a maior presença do professor junto ao aluno, sobretudo nas séries iniciais da escola primária, com o objetivo de facilitar os processos de aprendizagem da leitura e da escrita; estimular o desenvolvimento de projetos e iniciativas que assegurem a possibilidade de tensão do período de permanência do aluno na escola. Estas medidas, ao lado de muitas outras que poderiam ser arroladas, teriam o mérito de estabelecer novas bases para o trabalho pedagógico das escolas, estimulando a criatividade de cada agente envolvido e permitindo a desejada flexibilidade para atendimento das múltiplas características que deve cumprir o fazer educativo. O professor redescobriria o seu trabalho e poderia desempenhar-se de modo muito mais eficaz. Estas duas ordens de recomendações não vão solucionar todos os problemas dos sistemas estatais de Educação, mesmo porque estes se situam no universo das decisões políticas maiores, mas vão permitiriam seguir por caminhos mais seguros do que aqueles que temos trilhado em muitos países. BUSCANDO CONHECIMENTO O parágrafo acima “No Brasil, procura-se depositar no professor toda a responsabilidade pela melhoria do ensino [...]”, serve de alerta para que fiquemos atentos à especificidade do nosso papel como educadores; isso nos remete, impreterivelmente, ao cenário político, no qual importantes decisões são tomadas e, na maioria das vezes, afetam nossa vida pessoal e profissional. FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 8 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Organização, Funcionamento e Políticas Educacionais Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 27 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivo: Conhecer um breve histórico a respeito dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental, compreendendo como se deu o seu processo de elaboração. ESTUDANDO E REFLETINDO Breve histórico Até dezembro de 1996, o Ensino Fundamental esteve estruturado nos termos previstos pela Lei Federal n. 5.692, de 11de agosto de 1971. Essa lei, ao definir as diretrizes e bases da Educação nacional, estabeleceu como objetivo geral para o Ensino Fundamental (primeiro grau, com oito anos de escolaridade obrigatória) proporcionar ao aluno a formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades, como elemento de auto-realização, preparação para o trabalho e para o exercício consciente da cidadania. Essa lei também generalizou as disposições básicas sobre o currículo, estabelecendo o núcleo comum obrigatório em âmbito nacional para o Ensino Fundamental e médio. Contudo, manteve uma parte diversificada a fim de contemplar as peculiaridades locais, a especificidade dos planos dos estabelecimentos de ensino e as diferenças individuais dos alunos. Assim, coube aos Estados à formulação de propostas curriculares que serviriam de base às escolas estaduais, municipais e particulares situadas em seu território, compondo, assim, seus respectivos sistemas de ensino. Essas propostas foram, na sua maioria, reformuladas durante os anos 80, segundo as tendências educacionais que se generalizaram nesse período. FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 8 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Organização, Funcionamento e Políticas Educacionais Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 28 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” Em 1990 o Brasil participou a Conferência Mundial de Educação para Todos, em Jomtien, na Tailândia, convocada pela UNESCO, UNICEF, PNUD e Banco Mundial. Dessa conferência, assim como da Declaração de Nova Delhi - assinada pelos nove países em desenvolvimento de maior contingente populacional do mundo -, resultaram posições consensuais na luta pela satisfação das necessidades básicas de aprendizagem para todos, capazes de tornar universal a Educação fundamental e de ampliar as oportunidades de aprendizagem para crianças, jovens e adultos. Diante do quadro atual da Educação no Brasil e dos compromissos assumidos internacionalmente, o Ministério da Educação coordenou a elaboração do Plano Decenal de Educação para Todos (1993-2003), entendido como um conjunto de diretrizes políticas em contínuo processo de negociação, voltado para a recuperação da escola fundamental, a partir do compromisso com a equidade e com o incremento da qualidade, como também com a constante avaliação dos sistemas escolares, visando ao seu contínuo aprimoramento. O Plano Decenal de Educação, em consonância com o que estabelece a Constituição de 1988, afirma a necessidade e a obrigação de o Estado elaborar parâmetros claros no campo curricular capazes de orientar as ações educativas do ensino obrigatório, de forma a adequá-lo aos ideais democráticos e à busca da melhoria da qualidade do ensino nas escolas brasileiras. A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Federal n. 9.394), aprovada em 20 de dezembro de 1996, consolida e amplia o dever do poder público para com a Educação em geral e em particularpara com o Ensino Fundamental. Assim, vê-se no art. 22 dessa lei que a Educação básica, da qual o Ensino Fundamental é parte integrante, deve assegurar a todos "a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhes meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores", fato que confere ao Ensino Fundamental, ao mesmo tempo, um caráter de terminalidade e de continuidade. FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 8 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Organização, Funcionamento e Políticas Educacionais Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 29 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” Essa LDB reforça a necessidade de se propiciar a todos a formação básica comum, o que pressupõe a formulação de um conjunto de diretrizes capaz de nortear os currículos e seus conteúdos mínimos, incumbência que, nos termos do art. 9°, inciso IV, é remetida para a União. Para dar conta desse amplo objetivo, a LDB consolida a organização curricular de modo a conferir uma maior flexibilidade no trato dos componentes curriculares, reafirmando desse modo o princípio da base nacional comum (Parâmetros Curriculares Nacionais), a ser complementada por uma parte diversificada em cada sistema de ensino e escola na prática, repetindo o art. 210 da Constituição Federal. O ensino proposto pela LDB está em função do objetivo maior do Ensino Fundamental, que é o de propiciar a todos formação básica para a cidadania, a partir da criação na escola de condições de aprendizagem para: I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; II - a com preensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; III- o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social (art. 32). Verifica-se, pois, como os atuais dispositivos relativos à organização curricular da Educação escolar caminham no sentido de conferir ao aluno, dentro da estrutura federativa, efetivação dos objetivos da Educação democrática. O processo de elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais O processo de elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais teve início a partir do estudo de propostas curriculares de Estados e Municípios brasileiros, da análise realizada pela Fundação Carlos Chagas sobre os currículos oficiais e do contato FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 8 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Organização, Funcionamento e Políticas Educacionais Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 30 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” com informações relativas a experiências de outros países. Foram analisados subsídios oriundos do Plano Decenal de Educação, de pesquisas nacionais e internacionais, dados estatísticos sobre desempenho de alunos do Ensino Fundamental, bem como experiências de sala de aula difundidas em encontros, seminários e publicações. Formulou-se, então, uma proposta inicial que, apresentada em versão preliminar, passou por um processo de discussão em âmbito nacional, em 1995 e 1996, do qual participaram docentes de universidades públicas e particulares, técnicos de secretarias estaduais e municipais de Educação, de instituições representativas de diferentes áreas de conhecimento, especialistas e educadores. Desses interlocutores foram recebidos aproximadamente setecentos pareceres sobre a proposta inicial, que serviram de referência para a sua reelaboração. A discussão da proposta foi estendida em inúmeros encontros regionais, organizados pelas delegacias do MEC nos Estados da federação, que contaram com a participação de professores do Ensino Fundamental, técnicos de secretarias municipais e estaduais de Educação, membros de conselhos estaduais de Educação, representantes de sindicatos e entidades ligadas ao magistério. Os resultados apurados nesses encontros também contribuíram para a reelaboração do documento. Os pareceres recebidos, além das análises críticas e sugestões em relação ao conteúdo dos documentos, em sua quase totalidade, apontaram a necessidade de uma política de implementação da proposta educacional inicialmente explicitada. Além disso, sugeriram diversas possibilidades de atuação das universidades e das faculdades de Educação para a melhoria do ensino nas séries iniciais, as quais estão sendo incorporadas na elaboração de novos programas de formação de professores, vinculados à implementação dos Parâmetros Curriculares Nacionais. FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 8 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Organização, Funcionamento e Políticas Educacionais Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 31 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” BUSCANDO CONHECIMENTO Saiba mais sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais: Os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem um referencial de qualidade para a Educação no Ensino Fundamental em todo o País e tem como função orientar e garantir a coerência dos investimentos no sistema educacional, socializando discussões, pesquisas e recomendações, subsidiando a participação de técnicos e professores brasileiros, principalmente daqueles que se encontram mais isolados, com menor contato com a produção pedagógica atual. Veja alguns pontos principais a respeito dos Parâmetros Curriculares: Constitui uma proposta flexível, a ser concretizada nas decisões regionais e locais sobre currículos e sobre programas de transformação da realidade educacional empreendidos pelas autoridades governamentais, pelas escolas e pelos professores. Não representa um modelo curricular homogêneo e impositivo com a intenção de se sobrepor à competência político-executiva dos Estados e Municípios, à diversidade sociocultural das diferentes regiões do País ou à autonomia de professores e equipes pedagógicas. Busca prioritariamente responder à necessidade de referenciais a partir dos quais o sistema educacional do País se organize, a fim de garantir que, respeitadas as diversidades culturais, regionais, étnicas, religiosas e políticas que atravessam uma sociedade múltipla, estratificada e complexa, a Educação possa atuar, decisivamente, no processo de construção da cidadania, tendo como meta o ideal de uma crescente igualdade de direitos entre os cidadãos, baseado nos princípios democráticos. Essa igualdade implica necessariamente o acesso à totalidade dos bens públicos, entre os quais o conjunto dos conhecimentos socialmente relevantes. Podem funcionar como elemento catalisador de ações na busca de uma FUNDAMENTOS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL UNIDADE 8 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Organização, Funcionamento e Políticas Educacionais Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 32 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” melhoria da qualidade da Educação brasileira. De modo algum pretendem resolver todos os problemas que afetam a qualidade do ensino e da aprendizagem no país, pois a busca da qualidade impõe a necessidade de investimentos em diferentes frentes, como a formação inicial e continuada de professores, uma política de salários dignos, um plano de carreira, a qualidade do livro didático, de recursos televisivose de multimídia, a disponibilidade de materiais didáticos. Mas esta qualificação almejada implica colocar também, no centro do debate, as atividades escolares de ensino e aprendizagem e a questão curricular como de inegável importância para a política educacional da nação brasileira. Fundamentos dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental UNIDADE 9 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Os Parâmetros Curriculares do Ensino Fundamental Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 33 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivo: Conhecer o que Parâmetros Curriculares Nacionais propõem a respeito da estruturação do Ensino Fundamental por ciclos. ESTUDANDO E REFLETINDO Organização dos Parâmetros Curriculares Nacionais: organizando a escolaridade em ciclos Vários Estados e Municípios,na década de 80, reestruturaram o Ensino Fundamental a partir das séries iniciais. Essa reorganização tinha como objetivo político minimizar o problema da repetência e da evasão escolar e adotou como princípio norteador a flexibilização da seriação. Isso abriria a possibilidade de o currículo ser trabalhado ao longo de um período de tempo maior e permitiria respeitar os diferentes ritmos de aprendizagem que os alunos apresentam. Desse modo, a seriação inicial deu lugar ao ciclo básico com a duração de dois anos, tendo como objetivo propiciar maiores oportunidades de escolarização voltada para a alfabetização efetiva das crianças. As experiências, mesmo com problemas estruturais e necessidades de ajustes da prática, acabaram mostrando que a organização por ciclos contribui para a superação dos problemas do desenvolvimento escolar. A estruturação por ciclos permite compensar a pressão do tempo que é inerente à instituição escolar, tornando possível distribuir os conteúdos de forma mais adequada à natureza do processo de aprendizagem. Favorece, ainda, uma apresentação menos parcelada do conhecimento e possibilita as aproximações sucessivas necessárias para que os alunos se apropriem dos complexos saberes que se intenciona transmitir. A adoção de ciclos possibilita trabalhar melhor com as diferenças e está plenamente coerente com os fundamentos psicopedagógicos, com a concepção de Fundamentos dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental UNIDADE 9 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Os Parâmetros Curriculares do Ensino Fundamental Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 34 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” conhecimento e da função da escola que estão explicitados no item Fundamentos dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Os conhecimentos adquiridos na escola passam por um processo de construção e reconstrução contínua e não por etapas fixadas e definidas no tempo. As aprendizagens não se processam como a subida de degraus regulares, mas como avanços de diferentes magnitudes. Embora a organização da escola seja estruturada em anos letivos, é importante uma perspectiva pedagógica em que a vida escolar e o currículo possam ser assumidos e trabalhados em dimensões de tempo mais flexíveis. Vale ressaltar que para o processo de ensino e aprendizagem se desenvolver com sucesso não basta flexibilizar o tempo: dispor de mais tempo sem uma intervenção efetiva para garantir melhores condições de aprendizagem pode apenas adiar o problema e perpetuar o sentimento negativo de autoestima do aluno, consagrando, da mesma forma, o fracasso da escola. Organização dos Parâmetros Curriculares Nacionais: áreas e temas transversais As diferentes áreas, os conteúdos selecionados em cada uma delas e o tratamento transversal de questões sociais constituem uma representação ampla e plural dos campos de conhecimento e de cultura de nosso tempo, cuja aquisição contribui para o desenvolvimento das capacidades expressas nos objetivos gerais. O tratamento da área e de seus conteúdos integra uma série de conhecimentos de diferentes disciplinas, que contribuem para a construção de instrumentos de compreensão e intervenção na realidade em que vivem os alunos. A concepção da área evidencia a natureza dos conteúdos tratados, definindo claramente o corpo de conhecimentos e o objeto de aprendizagem, favorecendo aos alunos a construção de representações sobre o que estudam. Essa caracterização da área é importante para que os professores possam se situar dentro de um conjunto definido e conceitualizado de conhecimentos que pretendam que seus alunos aprendam, condição necessária para proceder a Fundamentos dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental UNIDADE 9 - A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: Os Parâmetros Curriculares do Ensino Fundamental Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 35 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” encaminhamentos que auxiliem as aprendizagens com sucesso. Se for importante definir os contornos das áreas, é também essencial que estes se fundamentem em uma concepção que os integre conceitualmente, e essa integração seja efetivada na prática didática. Por exemplo, ao trabalhar conteúdos de Ciências Naturais, os alunos buscam informações em suas pesquisas, registram observações, anotam e quantificam dados. Portanto, utiliza-se de conhecimentos relacionados à área de Língua Portuguesa, à de Matemática, além de outras, dependendo do estudo em questão. O professor, considerando a multiplicidade de conhecimentos em jogo nas diferentes situações, pode tomar decisões a respeito de suas intervenções e da maneira como tratará os temas, de forma a propiciar aos alunos uma abordagem mais significativa e contextualizada. Para que estes parâmetros não se limitassem a uma orientação técnica da prática pedagógica, foi considerada a fundamentação das opções teóricas e metodológicas da área para que, a partir destas, seja possível instaurar reflexões sobre a proposta educacional indicada. BUSCANDO CONHECIMENTO Como vimos neste capítulo, o ambiente escolar é sempre permeado por mudanças e novidades que visam melhorar o espaço escolar como um todo. Assim, ideias como “flexibilização de seriação”, “transversalidade” e “ciclos” surgem ao longo dos anos a fim de complementar e aproximar a realidade escolar da realidade de cada contexto social, político, econômico e cultural. No entanto, conforme já afirmamos anteriormente, em alguns casos o uso de nenhum artifício basta para lidar com a complexidade do universo escolar e medidas drásticas tem que ser adotadas. O que fazer, então? O filme “Meu Mestre, Minha Vida” possibilita essa discussão, pois retrata a história, baseada em fatos reais, de Joe “Crazy” Clark (Morgan Freeman), professor chamado às pressas para comandar uma das escolas mais violentas do Estado de Nova Jersey. Fundamentos dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental UNIDADE 10 - “A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: processo histórico, caracterização e princípios” Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 36 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivo: Entendendo o tratamento dado aos temas, transversais, áreas e seus conteúdos. ESTUDANDO E REFLETINDO Temas Transversais Se a escola pretende estar em consonância com as demandas atuais da sociedade, é necessário que trate de questões que interferem na vida dos alunos e com as quais se veem confrontados no seu dia a dia. As temáticas sociais, já há muito têm sido discutidas e frequentemente incorporadas aos currículos das áreas ligadas às Ciências Naturais e Sociais, chegandoaté mesmo, em algumas propostas, a constituir novas áreas. Mais recentemente, algumas propostas indicaram a necessidade do tratamento transversal de temáticas sociais na escola, como forma de contemplá-las na sua complexidade, sem restringi-las à abordagem de uma única área. Adotando essa perspectiva, as problemáticas sociais são integradas na proposta educacional dos Parâmetros Curriculares Nacionais como Temas Transversais. Não constituem novas áreas, mas antes um conjunto de temas que aparecem transversalizados nas áreas definidas, isto é, permeando a concepção , os objetivos, os conteúdos e as orientações didáticas de cada área, no decorrer de toda a escolaridade obrigatória. A transversalidade pressupõe um tratamento integrado das áreas e um compromisso das relações interpessoais e sociais escolares com as questões que estão envolvidas nos temas, a fim de que haja uma coerência entre os valores experimentados na vivência que a escola propicia aos alunos e o contato intelectual com tais valores. As aprendizagens relativas a esses temas se explicitam na organização dos conteúdos das áreas, mas a discussão da conceitualização e da forma de tratamento Fundamentos dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental UNIDADE 10 - “A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: processo histórico, caracterização e princípios” Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 37 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” que devem receber no todo da ação educativa escolar está especificada em textos de fundamentação por tema. O conjunto de documentos dos Temas Transversais comporta uma primeira parte em que se discute a sua necessidade para que a escola possa cumprir sua função social, os valores mais gerais e unificadores que definem todo o posicionamento relativo às questões que são tratadas nos temas, a justificativa e a conceitualização do tratamento transversal para os temas sociais e um documento específico para cada tema: Ética, Saúde, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural e Orientação Sexual, eleitos por envolverem problemáticas sociais atuais e urgentes, consideradas de abrangência nacional e até mesmo de caráter universal. A grande abrangência dos temas não significa que devam ser tratados igualmente; ao contrário, exigem adaptações para que possam corresponder às reais necessidades de cada região ou mesmo de cada escola. Além das adaptações dos temas apresentados, são importante que sejam eleitos temas locais para integrar o componente Temas Transversais; por exemplo, muitas cidades têm elevadíssimos índices de acidentes com vítimas no trânsito, o que faz com que suas escolas necessitem incorporar a Educação para o trânsito em seu currículo. Além deste, outros temas relativos, por exemplo, à paz ou ao uso de drogas podem constituir subtemas dos temas gerais; outras vezes, no entanto, podem exigir um tratamento específico e intenso, dependendo da realidade de cada contexto social, político, econômico e cultural. Nesse caso, devem ser incluídos como temas básicos. BUSCANDO CONHECIMENTO Diante de tudo o que vimos até agora, faz-se necessário abordar um tema que há muito tempo tem se tornado debate em palestras, congressos, encontros educacionais e tem sido muito discutido no universo escolar: é a questão da qualidade da Educação. Com tantas mudanças que vêm ocorrendo nos últimos tempos no espaço escolar, não poderíamos deixar de perguntar: e a qualidade da Educação no nosso País, como Fundamentos dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental UNIDADE 10 - “A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: processo histórico, caracterização e princípios” Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 38 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” anda? Todas essas mudanças que tem acontecido estão contribuindo para uma melhora efetiva na Educação no Ensino Fundamental? O debate qualidade/quantidade na Educação brasileira O debate qualidade/quantidade na Educação brasileira começou muito cedo. Ainda no século XIX, na transição do Império para a República, o movimento do entusiasmo pela Educação revelava preocupação de caráter quantitativo, ao propor a expansão da rede escolar e a alfabetização da população que vivia um processo de urbanização pela expansão econômica. A adoção do trabalho assalariado, aliada a outras questões de modernização do País, fez com que a escolarização aparecesse como fator promotor da ascensão social. Mas não só o caráter quantitativo estava em jogo. O Otimismo pedagógico caracterizou-se pela ênfase nos aspectos qualitativos da Educação nacional, pregando a melhoria das condições didáticas e pedagógicas das escolas. Este surgiu nos anos 20 e alcançou o apogeu nos anos 30 do século XX. Entre 1930 e 1937, o debate político incorporava diferentes projetos educacionais. Os liberais, que preconizavam o desenvolvimento urbano-industrial em bases democráticas, desejavam mudanças qualitativas e quantitativas na rede de ensino público, ao proporem a escola única fundamentada nos princípios de laicidade, gratuidade e obrigatoriedade. Durante o Estado Novo, regime ditatorial de Vargas que durou de 1937 a 1945, oficializou-se o dualismo educacional: ensino secundário para as elites e ensino profissionalizante para as classes populares. As leis orgânicas ditadas nesse período, por meio de exames rígidos e seletivos, tornavam o ensino antidemocrático, ao dificultarem ou impedirem o acesso das classes populares não só ao ensino propedêutico, de nível médio, como também ao ensino superior. O processo de democratização do País foi retomado com a deposição de Vargas em 1945. A industrialização crescente, especialmente nos anos 50 e 60, levou à adoção da política de Educação para o desenvolvimento, com claro incentivo ao ensino técnico-profissional. O golpe de 1964 atrelou a Educação ao mercado de trabalho, incentivando a profissionalização na escola média, a fim de conter as aspirações ao ensino superior. A Lei 5.692, de 11de agosto de 1971, ampliou a escolaridade mínima para oito anos e tornou profissionalizante, obrigatoriamente, o ensino de segundo grau. A evolução quantitativa do primeiro grau - 100% na primeira fase do primeiro grau e 700% nas suas últimas séries em apenas dez anos - não foi acompanhada de melhora qualitativa. Ao contrário, a expansão da oferta de vagas, nos diversos níveis de ensino, teve como consequência o comprometimento da qualidade dos serviços prestados, em razão da crescente degradação das condições de exercício do magistério e da desvalorização do professor. "A expansão das oportunidades, nos vinte anos de Fundamentos dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental UNIDADE 10 - “A Estrutura do Ensino Fundamental no Brasil: processo histórico, caracterização e princípios” Marilu Mercadante Magali Aparecida Galdino Ré 39 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” ditadura militar, foi feita através de um padrão perverso", sublinha Azevedo (1994, p. 461). A ampliação das vagas deu-se pela redução da jornada escolar, pelo aumento do número de turnos, pela multiplicação de classes multisseriadas e unidocentes, pelo achatamento dos salários dos professores e pela absorção de professores leigos. O trabalho precoce e o empobrecimento da população, aliados às condições precárias de oferecimento do ensino, levaram à baixa qualidade do processo, com altos índices de reprovação. Atualmente, o País está sendo vítima dessa política. O atraso técnico-científico e cultural brasileiro impede sua inserção no novo reordenamento mundial. A escolaridade básica e a qualidade do ensino são necessidades da produção flexível, e a Educação básica falha ao constitui fator
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