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Inserir Título Aqui Inserir Título Aqui Legislação e Normas Técnicas Legislação sobre EST e SST Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Dr.ª Sandra Regina Cavalcante Revisão Textual: Prof.ª Me. Sandra Regina Fonseca Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos: • Atribuições e Especificidades Legais do Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho; • Normas Aplicáveis à Saúde e Segurança do Trabalho (SST). Fonte: iStock/Getty Im ages Objetivos • Apresentar a regulamentação existente sobre a profissão, bem como as atribuições e responsabilidades envolvidas no exercício da Engenharia de Segurança do Trabalho; • Expor as principais leis aplicáveis à SST no país, agrupadas por dispositivos com finalida- de preventiva e aqueles de dimensão reparatória. Caro Aluno(a)! Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl- timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas. Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns dias e determinar como o seu “momento do estudo”. No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Bons Estudos! Legislação sobre EST e SST UNIDADE Legislação sobre EST e SST Contextualização Há registros de que o primeiro caso brasileiro de condenação penal na área de acidente de trabalho teria ocorrido em 1987, na cidade de Restinga Seca, localizada a 250 quilô- metros de Porto Alegre. A morte de um operário por descarga elétrica levou o tribunal de justiça a condenar todos os responsáveis pela segurança da vítima. Foram condenados o presidente da usina hidroelétrica, o gerente, o engenheiro elétrico responsável e o eletro- técnico da empresa de energia elétrica local. Todos foram enquadrados nas sanções do artigo 121 (matar alguém), combinado com o artigo 29 (concurso de pessoas – penas gra- duadas conforme a culpabilidade) do Código Penal. Como os réus condenados eram todos primários, a pena privativa de liberdade foi substituída pela pena restritiva de direitos, que se deu através da prestação de serviços à comunidade. A critério do juiz de Execuções Penais, os condenados tiveram de ministrar aulas a professores e alunos sobre como lidar com energia elétrica com absoluta segurança.1 No relato acima, nada se afirmou sobre a condenação de integrantes do SESMT ou CIPA, incluindo o engenheiro de segurança da empresa. Isso pode ter ocorrido por uma lacuna na descrição, inexistência desses profissionais naquela empresa, ou porque aque- les conseguiram provar que eram inocentes. Você acha que seria possível um engenhei- ro de segurança tomar medidas para ficar isento de eventual responsabilização penal ou mesmo civil no caso de acidente de trabalho? Se sim, quais seriam? A lei impõe uma série de atribuições ao profissional da área, assim como traz limita- ções a quem pode atuar como especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho. Estas e outras especificidades sobre a legislação envolvendo a carreira profissional, você terá nesta unidade. Espero que ao final deste estudo fique claro para você que as exigên- cias legais significam um patamar mínimo de atuação, mas nem sempre são suficientes para evitar acidentes e doenças no ambiente de trabalho, pois a legislação não consegue prever tudo o que acontece no mundo laboral. 1 Exemplo retirado de aula sobre o tema no link a seguir: <https://goo.gl/ax5M8Q>. 6 7 Atribuições e Especificidades Legais do Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho O exercício da especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho é permiti- do, exclusivamente, ao engenheiro (incluindo os agrônomos) ou arquiteto que cursou a especialização (lato sensu) em Engenharia de Segurança do Trabalho (Lei 7.410/85). O Engenheiro de Segurança do Trabalho (EST) tem a responsabilidade de zelar pela saúde e integridade física do trabalhador, reduzindo ou eliminando o risco de acidentes no ambiente de trabalho. Ele tem como atribuições elaborar, administrar e fiscalizar pla- nos de prevenção de acidentes ambientais, bem como assessorar empresas em assuntos relativos à segurança e higiene do trabalho, examinando instalações, materiais e proces- sos de fabricação. Ao EST também cabe orientar a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) da(s) empresa(s), instruir funcionários sobre o uso de equipamentos de proteção individual e ministrar palestras e treinamentos, seguindo as normas governa- mentais e da(s) companhia(s). Segundo o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), as atividades deste profissional são as seguintes (art. 4º da Resolução 359/1991): 1 - Supervisionar, coordenar e orientar tecnicamente os serviços de Engenharia de Segurança do Trabalho; 2 - Estudar as condições de segurança dos locais de trabalho e das instalações e equipamentos, com vistas especialmente aos problemas de controle de risco, controle de poluição, higiene do trabalho, ergo- nomia, proteção contra incêndio e saneamento; 3 - Planejar e desenvolver a implantação de técnicas relativas a geren- ciamento e controle de riscos; 4 - Vistoriar, avaliar, realizar perícias, arbitrar, emitir parecer, laudos técnicos e indicar medidas de controle sobre grau de exposição a agentes agressivos de riscos físicos, químicos e biológicos, tais como poluentes atmosféricos, ruídos, calor, radiação em geral e pressões anormais, caracterizando as atividades, operações e locais insalubres e perigosos; 5 - Analisar riscos, acidentes e falhas, investigando causas, propondo medidas preventivas e corretivas e orientando trabalhos estatísticos, inclusive com respeito a custo; 6 - Propor políticas, programas, normas e regulamentos de Segurança do Trabalho, zelando pela sua observância; 7 - Elaborar projetos de sistemas de segurança e assessorar a elabo- ração de projetos de obras, instalação e equipamentos, opinando do ponto de vista da Engenharia de Segurança; 8 - Estudar instalações, máquinas e equipamentos, identificando seus pontos de risco e projetando dispositivos de segurança; 7 UNIDADE Legislação sobre EST e SST 9 - Projetar sistemas de proteção contra incêndios, coordenar ativi- dades de combate a incêndio e de salvamento e elaborar planos para emergência e catástrofes; 10 - Inspecionar locais de trabalho no que se relaciona com a segurança do Trabalho, delimitando áreas de periculosidade; 11 - Especificar, controlar e fiscalizar sistemas de proteção coletiva e equipamentos de segurança, inclusive os de proteção individual e os de proteção contra incêndio, assegurando-se de sua qualidade e eficiência; 12 - Opinar e participar da especificação para aquisição de substân- cias e equipamentos cuja manipulação, armazenamento, transporte ou funcionamento possam apresentar riscos, acompanhando o con- trole do recebimento e da expedição; 13 - Elaborar planos destinados a criar e desenvolver a prevenção de acidentes, promovendo a instalação de comissões e assessorando-lhes o funcionamento; 14 - Orientar o treinamento específico de Segurança do Trabalho e assessorar a elaboração de programas de treinamento geral, no que diz respeito à Segurança do Trabalho; 15 - Acompanhar a execuçãode obras e serviços decorrentes da ado- ção de medidas de segurança, quando a complexidade dos trabalhos a executar assim o exigir; 16 - Colaborar na fixação de requisitos de aptidão para o exercício de funções, apontando os riscos decorrentes desses exercícios; 17 - Propor medidas preventivas no campo da Segurança do Traba- lho, em face do conhecimento da natureza e gravidade das lesões pro- venientes do acidente de trabalho, incluídas as doenças do trabalho; 18 - Informar aos trabalhadores e à comunidade, diretamente ou por meio de seus representantes, as condições que possam trazer danos a sua integridade e as medidas que eliminam ou atenuam estes riscos e que deverão ser tomadas. O campo de atuação da engenharia de segurança é muito vasto, podendo o profissio- nal ser perito, consultor, professor ou integrante do Serviço Especializado em Engenha- ria de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT) de empresas. O SESMT consiste num grupo interdisciplinar de profissionais que atua nas questões de Saúde e Segurança do Trabalho (SST) dentro do ambiente corporativo, cuja composição obrigatória depen- de do grau de risco da atividade e do número de funcionários da empresa (definido no anexo II da Norma Regulamentadora 04 – NR4 – do Ministério do Trabalho). Segundo esta norma, o SESMT será composto pelos seguintes profissionais: Médico do Trabalho, Engenheiro de Segurança do Trabalho, Técnico de Segurança do Trabalho, Enfermeiro do Trabalho e Auxiliar em Enfermagem do Trabalho. No caso do Engenhei- ro de Segurança do Trabalho, ele será obrigatório, por exemplo, no SESMT de empresa de grau de risco 4 que possua a partir de 101 funcionários; empresa de risco 3 que possua a partir de 501 empregados; empresa de grau de risco 2 com 1001 funcionários ou mais; e em empresas de risco 1 a partir de 2001 empregados. 8 9 Aqui você pode aprender, em 5 passos, a fazer o dimensionamento do SESMT de uma empresa: https://goo.gl/7TKSpG As responsabilidades do Engenheiro de Segurança do Trabalho, enquanto integrante do SESMT, também estão estabelecidas na NR4, dentre as quais destacam-se: aplicar os conhecimentos de engenharia de segurança do trabalho ao ambiente de trabalho e a todos os seus componentes, inclusive máquinas e equipamentos, de modo a reduzir até eliminar os riscos ali existentes à saúde do trabalhador; colaborar, quando solicitado, nos projetos e na implantação de novas instalações físicas e tecnológicas da empresa; responsabilizar-se tecnicamente pela orientação quanto ao cumprimento do disposto nas NRs aplicáveis às atividades executadas pela empresa e/ou seus estabelecimentos; promover a realização de atividades de conscientização, educação e orientação dos tra- balhadores; esclarecer e conscientizar os empregadores sobre acidentes do trabalho e doenças ocupacionais, estimulando-os em favor da prevenção; analisar e registrar em documento(s) específico(s) todos os acidentes e doenças ocupacionais ocorridos na em- presa ou estabelecimento. Portanto, como regra geral, o engenheiro de segurança atuará como o profissional responsável pelo SESMT das empresas, cuidando da identificação, realização de estudos e análises para propor medidas de neutralização ou mitigação dos riscos encontrados no ambiente de trabalho. Entre as principais atribuições do EST estão a elaboração ou cola- boração com os programas de segurança do trabalho, como o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA – NR9); o Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção Civil (PCMAT – NR18) e o Programa de Gerencia- mento de Riscos (PGR – NR22). Atente que apenas a elaboração do PCMAT deve ser exclusivamente atribuída ao Engenheiro de Segurança do Trabalho; a implantação do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) pode ser outorgada a profissionais escolhidos a critério do empregador ou ao SESMT, conforme item 9.3.1.1 da Norma Regulamentadora 9. O Ministério do Trabalho emitiu a Nota Técnica nº 96/2009 DSST/SIT, sobre a obriga- toriedade do Engenheiro de Segurança do Trabalho elaborar o PCMAT, e concluiu nos seguintes termos: Analisando as atribuições dos Técnicos de Segurança do Trabalho verificamos que os mesmos não possuem atribuição de projetar, di- mensionar e especificar materiais das proteções coletivas, que são de competência exclusiva definidas para determinadas categorias profis- sionais registradas no sistema CONFEA/CREA e, considerando que o projeto, dimensionamento e especificação de proteções coletivas são partes integrantes do programa, concluímos que tão somente os Enge- nheiros de Segurança do Trabalho devidamente registrados no sistema CONFEA/CREA, possuem a atribuição para elaboração e execução do Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção – PCMAT. 9 UNIDADE Legislação sobre EST e SST Ainda quanto à legislação trabalhista, o engenheiro de segurança do trabalho é o profissional legalmente habilitado, juntamente com o médico do trabalho, para reali- zar laudos de insalubridade, periculosidade, acidente do trabalho e Laudo Técnico das Condições Ambientais do Trabalho (LTCAT). Ou seja, esses documentos somente têm validade se realizados por um EST ou médico do trabalho. Na legislação previdenciária, os levantamentos ambientais servem para a manuten- ção do perfil profissiográfico previdenciário (PPP). O representante legal ou o preposto da empresa deverá assinar o PPP; entretanto, é preciso a indicação do Médico Coorde- nador do PCMSO e do Engenheiro de Segurança do Trabalho ou Médico do Trabalho responsável pelo LTCAT, sem a necessidade da assinatura dos mesmos. 1. O Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), por meio da Resolução 1107, de 28/11/2018, inseriu o “Engenheiro de Saúde e Segurança” na Tabela de Títulos Pro- fissionais do Sistema CONFEA/CREA, para efeito de fiscalização do exercício profissional. Trata-se de um curso de graduação de engenharia, porém com competências em segu- rança do trabalho e saúde do trabalhador. Enquanto não houver modificação da NR4, para ser responsável pelo SESMT, o graduado em Engenharia de Saúde e Segurança deverá cursar uma especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho. A tendên- cia, no entanto, é que essas leis sejam futuramente modificadas e melhor adaptadas à realidade, segundo nota técnica da UNIFEI. https://goo.gl/LqjMxr 2. Arquitetos com especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho também po- dem atuar na área e estão habilitados a emitir documento de responsabilidade técni- ca desta atividade; neste caso, os arquitetos estão desobrigados do registro no CREA e precisam apenas do registro no Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU). As ativi- dades relativas à Engenharia de Segurança do Trabalho ficam sujeitas à Anotação de Responsabilidade Técnica – ART, definida pela Lei nº 6.496, de 1977 (Resolução Confea 437/1999), que é um documento no qual o engenheiro registra seus serviços junto ao CREA. Já o Registro de Responsabilidade Técnica (RRT) é o documento no qual os arqui- tetos registram seus serviços junto a CAU (Resolução CAU/BR nº 21/2012). Mais informações: https://goo.gl/qBpHbt https://goo.gl/yjLMKA https://goo.gl/4NYmDS Embora as atribuições e o espaço de trabalho estejam definidos na legislação brasi- leira, publicações indicam que a engenharia de segurança não estaria alcançando seu objetivo no país. A prescrição de comportamentos ditos “seguros”, que bastariam para atender à legislação, mas que se revelam insuficientes para evitar acidentes de trabalho, é uma das principais falhas nas atividades dos ESTs avaliadas em algumas publicações científicas (INOUE e VILELA, 2014; JACKSON FILHO et al., 2013; COSTA et al., 2013; SILVA, 2015; MOREIRA, 2003). Jackson e Amorim (2001) alertam para as características prescritivas e normativas da Engenhariade Segurança do Trabalho, nas quais os profissionais focam suas ações nos projetos de sistemas de proteção, treinamentos de trabalhadores e criação/aplicação de 10 11 normas de conduta. Na chamada “visão legalista” da SST, haveria uma idolatria legal em função da cultura empresarial dominante de se limitar ao atendimento do que as normas técnicas dispõem sobre a matéria, de tal forma que as exigências legais se tornariam me- ros rituais e o cumprimento do estabelecido na legislação seria colocado num patamar mais importante que a própria prática prevencionista (MOREIRA, 2003). Treinar trabalhadores a cumprir normas – em ambientes agressivos desfavoráveis à vida, [...] sem dar a eles as condições necessárias e po- der para intervirem nas condições de trabalho – é criar uma condição a mais de sofrimento. (OLIVEIRA apud MOREIRA, 2003, p. 57) Assunção e Lima (2003) apontam quatro desafios à prática da segurança do traba- lho: 1) Supremacia da produção e do lucro em curto prazo em relação à segurança; 2) Limitações da legislação e da normatização para garantir uma melhoria contínua da segurança dos sistemas produtivos; 3) Ineficácia das prescrições de comportamentos e de procedimentos seguros, como tentativa de evitar os ditos “erros humanos”; 4) Ação meramente corretiva quando se trata de “acidentes normais” e de riscos latentes ineren- tes aos sistemas complexos. Cabe destacar, portanto, a necessidade do EST entender a importância do seu papel e o compromisso assumido ao desenvolver suas atividades. Por um lado, a empresa es- pera da área orientação sobre SST que eleve seu patamar competitivo, para ficar quites com obrigações legais, mas também quer se firmar/manter no mercado com imagem de comprometimento ético e responsabilidade social (departamentos de compliance estão em alta para cuidar de tal objetivo). Ao mesmo tempo, o EST precisa galgar espaço (e os gestores precisam abrir tal caminho) dentro do ambiente corporativo para ir além do papel de cumprir normas, articulando-se para implementar outras ações preventivas de maior eficácia, como par- ticipar da escolha de novos equipamentos e em projetos de novas instalações, quando poderia usar seus conhecimentos técnicos. Esta problemática tem relação com o fato de grande parcela dos EST ficar subordinada hierarquicamente ao setor de Recursos Hu- manos, determinando um distanciamento grande em relação a áreas das empresas onde há maior risco de acidentes, como o departamento de Produção (MOREIRA, 2003). Você precisa ter em mente que as exigências legais significam um patamar mínimo de atuação, mas nem sempre a legislação é suficiente para evitar acidentes e doenças no am- biente de trabalho. Afinal, a norma não consegue prever toda a variabilidade que ocorre no mundo real. Além disso, muitas vezes, as causas imediatas dos acidentes que geram tantos prejuízos a empresas e trabalhadores, vistos como atos inseguros praticados pelos próprios acidentados, têm causas remotas na própria organização do trabalho: pressão por metas, conflitos internos, falhas no treinamento e outros (LLORY e MONTMAYEUL, 2014). Os estudos citados indicam que uma boa estratégia para a atuação dos EST e de toda a equipe dos SESMTs seja ouvir os trabalhadores, que na verdade são os especialistas nos riscos e fragilidades que possam haver em seu ambiente de trabalho. A utilização desta experiência e conhecimento empírico vai enriquecer os programas de segurança, 11 UNIDADE Legislação sobre EST e SST e a efetiva oitiva dos trabalhadores com criação de mecanismos internos de participação gera engajamento e mudança de comportamento com vistas à prevenção de acidentes. No item a seguir você verá que a legislação brasileira determina que todas as medidas ne- cessárias para promover um ambiente de trabalho seguro sejam tomadas pela empresa, sob orientação do EST. Por isso, a atuação deste profissional deve ir além do cumprimento de normas técnicas. Embora possam ser apresentados como indicativo de boas práticas em eventual defesa judicial de empresa ou de profissional, o mero fato de ter realizado os pro- gramas de segurança do trabalho não isenta a responsabilidade do EST em caso de traba- lhador que adoece ou morre no trabalho. Você sabe dizer quais são as consequências legais para empresa e EST que coordena o SESMT quando um trabalhador se acidenta no trabalho? Normas Aplicáveis à Saúde e Segurança do Trabalho (SST) A empresa é responsável pela adoção e uso de medidas coletivas e individuais de se- gurança da saúde dos trabalhadores, e será punida caso não cumpra as normas existen- tes. Há juristas que sustentam, ainda, que o fato de o acidente ou doença ocorrer naque- le ambiente de trabalho já basta para evidenciar que o empregador falhou no seu dever de prevenção e que, assim, fica obrigado a indenizar quem foi lesionado, nos moldes do que ocorre nas relações de consumo ou na área ambiental. O não cumprimento das normas protetivas da SST causam consequências trabalhistas, previdenciárias, adminis- trativas e penais, que podem inclusive atingir o Engenheiro de Segurança do Trabalho. A fundamentação jurídica destas afirmações é o que você verá nos próximos tópicos. Dimensão Preventiva O conjunto de normas que impõem medidas preventivas de acidentes e doenças no meio ambiente de trabalho está distribuída em diversos diplomas legais, a começar pela Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB), e também em leis infraconstitu- cionais que devem ser interpretadas a partir da constituição. A CRFB inclui entre os direitos dos trabalhadores urbanos e rurais a “redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança” (CRFB, Art. 7º, XXII ), determinando, ainda, que o direito à saúde deve ser garantido median- te políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos (CRFB, Art. 196). Observa-se, ainda, que os direitos e garantias expressos na Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adota- dos (CRFB, Art. 5º, § 1º). Além de reconhecer a proteção ao meio ambiente do trabalho como parte do meio ambiente, a nossa constituição também obriga poder público e sociedade a preservar e proteger o meio ambiente, inclusive o laboral, pois é direito das presentes e futuras gerações (CRFB, art. 200, VIII e art. 225). 12 13 Em matéria de normas internacionais sobre meio ambiente de trabalho, o Brasil ratificou as Convenções da OIT (Organização Internacional do Trabalho) nº 148 (trata da Contaminação do Ar, Ruído e Vibrações), nº 152 (sobre a Segurança e Higiene dos Trabalhos Portuários), nº 155 (que trata da Segurança e Saúde dos Trabalhadores) e a Convenção nº 161 (sobre os Serviços de Saúde do Trabalho). Cada convenção inter- nacional, uma vez ratificada, insere-se no ordenamento jurídico pátrio com força infra- constitucional, porém, supralegal. Isso significa que ela complementa, altera ou revoga o direito interno, conforme o caso, se sobrepondo às regras contidas nas leis, exceto nos tópicos que eventualmente contrariem os preceitos constitucionais. Como exemplo de regra de norma internacional que se sobrepõe a dispositivos le- gais existentes no país, temos o “direito de recusa”, previsto na Convenção 155 da OIT (Parte IV, f), que determina: f) o trabalhador informará imediatamente o seu superior hierárquico direto sobre qualquer situação de trabalho que, a seu ver e por motivos razoáveis, envolva um perigo iminente e grave para sua vida ou sua saúde; enquanto o empregador não tiver tomado medidas corretivas, se forem necessárias, não poderá exigir dos trabalhadores a sua volta a uma situação de trabalho onde exista, em caráter contínuo, um perigo grave ou iminente para sua vida ou sua saúde. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), por sua vez, em seu capítuloreferente à segurança e medicina do trabalho, determina a obrigação das empresas cumprirem as normas de segurança e medicina do trabalho, bem como de instruir os empregados quanto às precauções a tomar para evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacio- nais (art. 157). Também estabelece a obrigatoriedade do fornecimento de equipamentos de proteção individual (EPIs) quando não houver outra medida para proteger a saúde dos empregados (art. 166); a CLT ainda dispõe sobre o pagamento de adicionais refe- rentes às atividades insalubres (art. 192) e perigosas (art. 193), direito também previsto na CRFB (art. 7º, XXIII). Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: [...] XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei. O legislador encarregou ao Ministério do Trabalho a expedição de disposições com- plementares às normas de medicina e segurança do trabalho, tendo em vista as pecu- liaridades de cada atividade ou setor de trabalho (CLT, Art. 200). Foram estabelecidas, então, um conjunto de normas técnicas complementares, denominadas Normas Regula- mentadoras (NRs), relativas à segurança e saúde do trabalho, de observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e pelos órgãos públicos da administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). 13 UNIDADE Legislação sobre EST e SST A Portaria 3214/78 estabeleceu 28 NRs, e neste início de 2019, são 36 Normas Regulamen- tadoras vigentes, todas disponíveis em: https://goo.gl/swvZDJ. A NR 37 sobre segurança e saúde em plataformas de petróleo está aprovada e entrará em vigor em dezembro de 2019. Disponível em: https://goo.gl/pRUQhF. O não cumprimento das disposições legais e regulamentares sobre segurança e saúde no trabalho poderá acarretar ao empregador a aplicação de uma série de penalidades: multas administrativas, aumento de carga tributária, paralização de atividades, indeni- zações impostas em condenações judiciais, entre outras. O empregado também tem a obrigação de observar as regras de SST e utilizar os equipamentos de proteção individual fornecidos pela empresa, sendo punido como ato faltoso a recusa injustificada do seu uso (art. 158 CLT e item 1.8.1 da NR1). Entre as principais normas regulamentadoras, merecem destaque a NR-6, que se refere ao fornecimento de EPIs, NR-7 sobre o programa PCMSO, NR–9, que dispõe sobre riscos ambientais e a PPRA, e a NR-15, que trata das atividades e operações insalubres. A proibição de início de atividade sem prévia inspeção e aprovação das auto- ridades, bem como a interdição e embargo em decorrência de risco para o trabalhador, são previstas na CLT (Arts. 160 e 161) e tratadas na NR-2 (inspeção prévia) e NR3 (interdição e embargo). Contudo, a falta de estrutura para tais inspeções as transformou em autodeclarações, que são fiscalizadas mediante denúncias ou em caso de acidentes. A menção às NRs no tópico referente à legislação preventiva da SST pode causar estranhamento, já que inclui os criticados limites de tolerância e adicionais acusados de provocar a monetização da saúde. Contudo, é preciso ponderar que a intenção desse tipo de norma é estimular o empresário a implementar mudanças em prol da prevenção de acidentes, assim como garantir condições saudáveis em seu meio ambiente de trabalho. A eficácia das NRs é questionável porque, ao mesmo tempo em que definem ativi- dades de risco e estabelecem critérios de prevenção (limites de tolerância), deixam de prever outras situações tão arriscadas quanto aquelas nelas contidas. Além disso, estabe- lecem padrões de tolerância que, por vezes, adotam critérios inadequados para atender às necessidades de cada um dos indivíduos, ou mesmo não refletem a realidade de cada região, uma vez que são usados parâmetros internacionais cuja aplicabilidade é duvidosa a partir da composição étnica, cultural e até climática de cada povo/região. Mori e Fava (2015) advertem que a eliminação dos riscos no ambiente de trabalho tem perdido lugar para a monetização da saúde do trabalhador, elevando erroneamente a demanda pelo pagamento desses valores a uma posição central no cenário normativo de proteção. É uma grave distorção porque essas leis são insuficientes para tutelar a vida e saúde dos trabalhadores já que, além de não priorizarem a adoção de medidas pre- caucionistas pelos empregadores, desestimulam a adequação do ambiente do trabalho, pois pagar adicionais de insalubridade e periculosidade é, na maior parte das vezes, mais barato do que implementar mudanças que visem à prevenção de doenças e acidentes (SADY, 2000; MELO, 2006; SCHINESTSCK, 2011). 14 15 Para se garantir o meio ambiente saudável e equilibrado no local de trabalho não basta efetuar pagamentos por danos já ocorridos, cujos efeitos, via de regra, são irrever- síveis e a restituição integral impossível. É preciso agir antes. O antigo critério de limitar a atuação da norma à exigibilidade do pagamento de um adicional pela precarização das condições de saúde e segurança, provocada pela prestação laboral em condições adver- sas de insalubridade e periculosidade (conhecida como monetização do risco) não pode mais subsistir (GEMIGNANI e GEMIGNANI, 2012). No mesmo sentido, juristas como Leite (2015) e Brandão (2010) destacam que esta concepção clássica, calcada apenas em NRs e normas técnicas da CLT, estaria supe- rada, pois o paradigma da melhoria da condição social do trabalhador (CRFB, art. 7º, caput) e da ação preventiva no sentido de reduzir os riscos inerentes ao trabalho (art. 7º, XXII) é a diretriz que deve orientar ações e a aplicação da lei, seja por empresários, fis- cais, engenheiros, juízes, promotores, legisladores ou governo executivo. E este direito à proteção não alcança apenas a redução dos riscos: impõe a sua total eliminação, me- diante a remoção ou a neutralização das causas (SÜSSEKIND apud BRANDÃO, 2010). Nesta linha de entendimento a pergunta a ser feita não deve ser “qual o limite aceitável”, mas sim “é possível eliminar o risco?”, já que a melhor prevenção sempre será a eliminação do risco. Dimensão Reparatória O instituto jurídico da responsabilidade decorre da evolução da sociedade humana ao lidar com os conflitos; afinal, foi a resposta construída que partiu da vingança privada presente na lei de talião (olho por olho, dente por dente) para estruturar o revide ao dano a partir de uma medida repressiva que será fixada e aplicada pelo Estado. A consequência lógico-normativa de qualquer ato ilícito é uma sanção. A responsabilidade civil repercute no âmbito privado, sendo o agente compelido a reparar o dano causado, buscando res- taurar o status quo ante, ou seja, voltar ao estado em que se encontrava antes do ilícito; não sendo isso possível, pleiteará pela reparação do prejuízo através de indenização. Já a responsabilidade penal é imputada a alguém cuja conduta lesiona os interesses da coletividade, o que desestabiliza a ordem social. Com o objetivo de manter a paz social, se impõe uma sanção punitiva. Na área penal as penas são privativas de liberdade, restritivas de direito e/ou pecuniárias (multas). Uma mesma ação ou omissão pode ser considerada ilícita em ambas as esferas de direito, civil e penal, se ocorrer de amoldar-se às hipóteses de incidência estipuladas como dever de conduta em ambos os ramos, o que caracterizará dupla ilicitude e sujeitará o infrator a sanções diferenciadas em decorrência do mesmo ato (SILVA, 2007). É o caso dos Acidentes de Trabalho e doenças ocupacionais. O pagamento do seguro obrigatório, no Brasil chamado de Seguro de Acidente de Trabalho (SAT), não suprime a responsabilidade do empregador. Caso contrário, pode-ria se transformar em incentivo ao aumento do risco específico do trabalho, provocado 15 UNIDADE Legislação sobre EST e SST pelo desleixo do patrão com as medidas de segurança indispensáveis (THEODORO JÚNIOR, apud SILVA, 2014, p. 272). Em outras palavras, essas “indenizações/com- pensações são independentes dos benefícios previdenciários” (MELO, 2012, p. 34), pois enquanto os valores pagos pela Previdência Social têm natureza salarial, portanto alimentícia e compensatória (porque compensa o salário que deixou de receber), pela responsabilidade civil, o autor da ação cobra parcelas de natureza indenizatória (para reparar o dano causado, restaurando-se o estado anterior se possível). Assim, há previsão na lei para o recebimento de duas indenizações, a devida pelo Instituto de Previdência ao beneficiário segurado e aquela que pode ser imposta ao em- pregador, sob determinadas circunstâncias. De acordo com a lei brasileira em vigor, o trabalhador ou seus herdeiros e dependentes podem pleitear, em razão de acidente de trabalho ou doença ocupacional, benefícios pre- videnciários custeados pelo SAT e também indenizações com base na Constituição Federal2 a lei civil.3 A limitação à responsabilidade do empregador pelo dano à saúde do empregado foi sendo reduzida, e hoje há situações nas quais, como ocorre com a indenização previ- denciária, basta que se verifique o dano e o nexo com o trabalho para que nasça o dever de o empregador indenizar. São os casos de responsabilidade objetiva, nos quais não é preciso comprovar a culpa da empresa ou de outro funcionário pelo ocorrido. 2 CRFB, Art. 7º: São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obri- gado, quando incorrer em dolo ou culpa; 3 CC, Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. CC, Art. 189: Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206. CC, Art. 927: Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes com- petir, ou em razão dele; Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, res- ponderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos. CC, Art. 948: No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações: I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família; II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima. CC, Art. 949: No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido. CC, Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu. Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada e paga de uma só vez. 16 17 O empregador que não observa as regras mínimas de segurança e medicina do tra- balho, deixando de promover medidas que resguardem a integridade física e saúde do empregado, responde pelo prejuízo causado4. O STF já decidiu que o empregador deve assegurar que, ao final do contrato de trabalho, o empregado se encontre nas mesmas condições de saúde que desfrutava quando fora admitido, o que inclui sua integridade física e psíquica (BRANDÃO, 2006, p. 296). A lei ambiental também pode ser aplicada à proteção do meio ambiente do trabalho, e o poluidor deve indenizar independente de culpa, ou seja, é objetiva a responsabilidade por dano ao meio ambiente5. Este é um princípio do direito ambiental conhecido como o princípio do poluidor-pagador. Também são aplicados na área da SST os princípios ambientais da prevenção e da precaução. O princípio da prevenção impõe a eliminação dos riscos cientificamente já compro- vados; por sua vez, o princípio da precaução determina a adoção de medidas necessárias e suficientes para a eliminação de ameaça em situações nas quais ainda não haja certeza jurídica, ou seja, adota-se um comportamento preventivo diante de possíveis ameaças, ainda não cientificamente confirmadas (PESSOA e SOUZA, 2017). Tomando tais traços distintivos, pode-se concluir que o controle dos riscos ambientais pela inspeção do trabalho atende mais ao princípio da prevenção, pois, de um modo geral, exige o cumprimento das Normas Regulamentadoras (NRs), que guarnecem o ambiente laboral de riscos já conhecidos e cientificamente confirmados. Contudo, Pessoa e Souza (2017) alertam que é comum na doutrina e, sobretudo, na jurisprudência, a men- ção imprecisa do princípio da precaução como sinônimo da prevenção. Mas os efeitos jurídicos do acidente de trabalho e doenças ocupacionais vão muito além da responsabilização civil e direito ao benefício previdenciário. Há consequências trabalhistas, previdenciárias, administrativas e penais. Além da estabilidade de um ano a partir do retorno e a necessidade da empresa recolher o FGTS durante o afastamento, o acidente do trabalho tem como consequências possíveis para o empresário: aumento do valor de contribuição da empresa para custeio da aposentadoria especial (Fator Aciden- tário de Prevenção - FAP), ação regressiva do INSS contra a empresa, ação trabalhista Indenizatória movida pelo trabalhador, perda da certificação OHSAS-18001 sobre sistema de gestão da saúde e segurança ocupacional, multas aplicadas pela inspeção do trabalho e implicações criminais, que podem atingir o Engenheiro de Segurança do Trabalho responsável. 4 CLT, Art. 157 - Cabe às empresas: I - cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho; II - instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais; [...] Lei 8213/91, Art. 19, § 1º- A empresa é responsável pela adoção e uso das medidas coletivas e individuais de prote- ção e segurança da saúde do trabalhador; § 2º Constitui contravenção penal, punível com multa, deixar a empresa de cumprir as normas de segurança e higiene do trabalho; § 3º É dever da empresa prestar informações pormenorizadas sobre os riscos da operação a executar e do produto a manipular. 5 Lei 6938/81, art. 14, § 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a tercei- ros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente. 17 UNIDADE Legislação sobre EST e SST A AGU (Advocacia Geral da União) pode ajuizar ações regressivas para cobrar, em nome do INSS, os gastossofridos pelo erário público com pagamento de benefícios acidentários quan- do reconhecida a responsabilidade da empresa pela ocorrência do acidente ou doença laboral. O FAP é um multiplicador variável que poderá causar a redução em até 50% ou o aumento em até 100% da alíquota do Grau de Incidência de Incapacidade Laborativa Decorrente dos Riscos do Ambiente de Trabalho (GIIL-RAT), equivalente ao Seguro de Acidente de Tra- balho (SAT), uma das Contribuições Sociais que incidem sobre a folha de pagamento das empresas para financiamento da Seguridade Social no Brasil. Como as alíquotas de risco do GIIL-RAT/SAT variam entre 1% (grau de risco leve), 2% (grau de risco médio) e 3% (grau de risco grave), com a inclusão do FAP (criado pela lei 10666/2003 e regulamentado no Decreto 6042/2007) a empresa deve recolher SAT x FAP (percentual final variará de 0,5% a 6%) sobre todas as remunerações pagas. Esse novo sistema de contribuição patronal ao SAT cria mecanismo de incentivo a investi- mento em prevenção e cumprimento da legislação infortunística de proteção à saúde do trabalhador, pois quem efetivamente investir em prevenção se beneficia da redução do seguro de acidente de trabalho, já que o FAP leva em consideração o número de acidentes ocorridos na empresa. Por outro lado, o empregador que apresentar maior número de aci- dentes será penalizado, podendo dobrar a alíquota imposta ao seu segmento econômico (BOUCINHAS FILHO, 2012; SALVADOR e PAULO FILHO, 2011). Há, ainda, efeitos específicos para o trabalhador acidentado, como a contagem do pe- ríodo de afastamento por auxílio-doença acidentário para tempo de aposentadoria; a não existência de qualquer carência para usufruir do benefício acidentário (que é de 12 meses no auxílio-doença não acidentário); bem como a possibilidade de receber auxílio-acidente. Auxílio-acidente é uma espécie de auxílio indenizatório ao qual o trabalhador tem direito quando o acidente de trabalho ou doença ocupacional resultar em sequela que implique em redução de capacidade para o trabalho que ele habitualmente exercia. A inobservância das normas de segurança, higiene e medicina do trabalho, além de se constituir em contravenção penal, nos termos do §2° do art. 19 da Lei 8.213/91, pode configurar crime de perigo para a vida ou saúde de outrem, previsto no art. 132 do Código Penal. Art. 132: Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente. Pena – detenção de 3 meses a 1 ano, se o fato não constitui crime mais grave. Os acidentes de trabalho podem, ainda, gerar repercussões penais mediante a ti- pificação como crimes de homicídio, lesão corporal ou os crimes de perigo comum, previstos nos arts. 121, 129 e 250-259 do Código Penal, por conduta dolosa (com intenção) ou culposa (sem intenção) do empregador ou de outros responsáveis. Cabe ao delegado de polícia, tomando conhecimento da ocorrência de um acidente de trabalho 18 19 ou do perigo a que os trabalhadores foram expostos, instaurar um inquérito, apurar as responsabilidades e oferecer denúncia ao Ministério Público. Enquanto na esfera civil admite-se a responsabilidade por ato de outrem (o empre- gador mesmo sem culpa é responsável pelos atos de seus prepostos e funcionários cometidos no trabalho – art. 932 do Código Civil), na seara penal, a responsabilidade é única e exclusiva de quem deu causa ao crime. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. Sendo a empresa uma pessoa por ficção le- gal, pois não tem vontade e ação próprias, não será sujeito ativo de crime, respondendo pessoalmente por suas condutas todos os que participem da gestão da empresa: sócios gerentes, diretores, administradores ou gerentes. Assim, a responsabilidade penal é pessoal (do empregador, do tomador de serviços, do preposto, do membro da CIPA, do engenheiro de segurança etc.), e será caracteri- zada não só pelo acidente do trabalho, quando a ação ou omissão decorrer de dolo ou culpa, mas também pelo descumprimento das normas de segurança, higiene e medicina do trabalho, expondo-se a risco e perigo a vida dos trabalhadores, como preceitua o Código Penal (MELO, 2016). Há outros dispositivos legais que podem ser aplicados na esfera trabalhista, como o artigo 15 da Lei 6.938/1981 (Lei de Política Nacional do Meio Ambiente): “O poluidor que expuser a perigo a incolumidade humana, animal ou vegetal, ou estiver tornando mais grave situação de perigo existente, fica sujeito à pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos e multa de 100 (cem) a 1.000 (mil) MVR”. O meio ambiente do trabalho também se sujeita à lei 9605/98 que estabelece sanções penais e administrativas pelos crimes causados ao meio ambiente, inovando ao incriminar pessoas também jurídicas, nos seguintes termos: Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato. Assim, qualquer pessoa poderá ser responsabilizada por um acidente de trabalho ou pela omissão ou ação que coloque em risco a saúde e vida dos trabalhadores. Pode ser o dono da empresa, o gerente, o supervisor ou qualquer pessoa que teria a obrigação de adotar medidas para prevenir a ocorrência de acidentes. Também podem ser respon- sabilizadas outras pessoas, como engenheiros e técnicos de segurança e os membros CIPA, inclusive os representantes dos trabalhadores (MELO, 2016). Responsabilização dos Integrantes do SESMT e CIPA No exercício de suas atividades, que tem por finalidade promover a saúde e proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho, os integrantes dos Serviços Especia- lizados em Engenharia de Segurança e em Medicina no Trabalho possuem a obrigação 19 UNIDADE Legislação sobre EST e SST legal, cada um dentro de sua especialidade, de “aplicar os conhecimentos de engenharia de segurança e de medicina do trabalho ao ambiente de trabalho e a todos os seus com- ponentes, inclusive máquinas e equipamentos, de modo a reduzir até eliminar os riscos ali existentes à saúde do trabalhador” (NR4, item 4.12.a). Quando esgotados todos os meios conhecidos para a eliminação do risco e este per- sistir, mesmo reduzido, os integrantes do SESMT deverão determinar a utilização, pelo trabalhador, de equipamentos de proteção individual, de acordo com o que determina a NR 6, desde que a concentração, a intensidade ou característica do agente assim o exija. Se o SESMT estabelece e avalia os procedimentos adotados pela empresa no campo de segurança e medicina no trabalho, é natural que seus integrantes, cada um no limite de sua participação, respondam quando, por culpa ou dolo, dão causa ao acidente do trabalho (SILVA, 1999). Os integrantes do SESMT e CIPA podem dar causa ao acidente do trabalho por ação ou omissão (quando devia e podia agir para evitar o resultado). Eles poderão ser respon- sabilizados criminalmente se existir nexo causal entre a conduta deles (ação ou omissão) e o acidente do trabalho. Tendo a obrigação legal de agir para promover a saúde e proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho, os integrantes do SESMT somente se eximirão de responsabilidade provando que não puderam agir para prevenir ou evitar o acidente, ou que, apesar de cumprirem com todas as suas obrigações legais, ainda assim ocorreu o acidente. Atente que o empregado somente se eximirá de responsabilidade se tiver agido em estrita obediência à ordem não manifestamente ilegal de superior hierárquico. Portanto, se o seu superior hierárquico determinar o descumprimento de normas de segurança e medicinado trabalho, comece a procurar nova recolocação profissional, se não houver outra saída. De qualquer modo, você não deve obedecê-lo, pois corre o risco de responder civil e criminalmente, principalmente se desta ação ou omissão desencade- ar um acidente de trabalho. Como no caso do SESMT, os integrantes da CIPA ficarão isentos de responsabilida- de somente se provarem que não puderam agir para prevenir ou evitar o acidente, ou que, apesar de cumprirem com todas as suas obrigações legais, ainda assim ele ocorreu. Essas obrigações consistem em observar e relatar condições de risco nos ambientes de trabalho, bem como solicitar medidas para reduzir até eliminar os riscos existentes e/ ou neutralizar os mesmos, discutir os acidentes ocorridos, encaminhando aos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho e ao emprega- dor o resultado da discussão, solicitando medidas que previnam acidentes semelhantes e, ainda, orientar os demais trabalhadores quanto à prevenção de acidentes. Quando constatar risco ou ocorrer acidente do trabalho, com ou sem vítima, o res- ponsável pelo setor deverá comunicar o fato, de imediato, ao presidente da CIPA, o qual, em função da gravidade, convocará reunião extraordinária ou incluirá na pauta ordinária. A CIPA deverá discutir o acidente e encaminhar aos SESMT e ao empregador o resultado e as solicitações de providências. O empregador, ouvido os SESMT, terá oito dias para responder à CIPA, indicando as providências adotadas ou a sua discordância 20 21 devidamente justificada. Quando o empregador discordar das solicitações da CIPA e esta não aceitar a justificativa, o empregador deverá solicitar a presença do Ministério do Trabalho e Emprego, no prazo de oito dias a partir da data da comunicação da recusa da justificativa pela CIPA (SILVA, 1999). 21 UNIDADE Legislação sobre EST e SST Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites TRT2 - São Paulo Você pode aprender muito sobre a interpretação e aplicação prática da lei lendo as decisões publicadas nos sites dos tribunais, em espaços chamados de banco de jurispru- dência. No caso de São Paulo, por exemplo, você pode acessar o link abaixo e digitar, no primeiro campo, ao lado do botão pesquisar: responsabilidade acidente de trabalho engenheiro de segurança. Sugiro selecionar alguns acórdãos da lista que vai retornar e analisar os casos. https://goo.gl/jfRsB3 Vídeos Dublê de Eletricista O vídeo “Dublê de eletricista” aborda um grave acidente provocado, entre outros ele- mentos apresentados no documentário, por falta de treinamento, quadro de terceirizados menor do que o contratado, falha de comunicação e treinamento que é mais pressão do que ensino. Culmina na gestão responsabilizando o trabalhador pelo acidente. Que tal verificar quais as normas infringidas e se há outras causas para o AT apresentado? https://youtu.be/PuCoggk8_l8 Leitura Ciência & Saúde Coletiva O estudo abaixo exemplifica a ideia, abordada nesta unidade, de que nem sempre o cum- primento da norma é suficiente para evitar acidentes de trabalho. Este artigo apresenta duas intervenções realizadas em um frigorífico. Observe que a primeira não deu resulta- dos, embora tenham sido elaborados PCMSO e PPRA e seguido as NRs do setor. Já na segunda intervenção priorizou-se observar o trabalho humano real, diferenciando-se o trabalho prescrito daquele que é feito pelo operador para dar conta do que lhe é pedido. https://goo.gl/euq7mx O que fazer para evitar que o ambiente de trabalho literalmente nos mate Em artigo intitulado “O que fazer para evitar que o ambiente de trabalho literalmente nos mate”, o jornalista Jeff Pfeffer da BBC mostra que o problema envolvendo a SST é atual e atinge todo o mundo; sugere que as pessoas escolham seu empregador não apenas pelo salário e oportunidade de crescimento profissional, mas também com base no impacto que o trabalho terá em sua saúde física e psicológica, bem como que “os em- pregadores não devem focar apenas no lucro, mas também na saúde dos funcionários”. https://goo.gl/yGWhGC 22 23 Referências ASSUNÇÃO, Ada Ávila; LIMA, Francisco de Paula Antunes. A contribuição da ergonomia para a identificação, redução e eliminação da nocividade do trabalho. In: MENDES, Renê (org.) 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