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TRE-PE_RCED_6522_1fabf (1)

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43-0
Poder Judiciário
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE PERNAMBUCO
ACÓRDÃO
RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA n° 65-22.2017.6.17.0000 -Classe 29a
Recorrente(s)s: ARMANDO ALMEIDA SOUTO
Advogados: RIVADAVIA BRAYNER CASTRO RANGEL, MARIA STEPHANY DOS SANTOS,
DELMIRO DANTAS CAMPOS NETO E ANDRÉ LUIZ LINS DE CARVALHO
Recorrente(s)s: PARTIDO HUMANISTA DA SOLIDARIEDADE (PHS) - MUNICIPAL
Advogados: RIVADAVIA BRAYNER CASTRO RANGEL, MARIA STEPHANY DOS SANTOS,
DELMIRO DANTAS CAMPOS NETO E ANDRÉ LUIZ LINS DE CARVALHO
Recorrido(s)s: EDUARDO PASSOS COUTINHO CORRÊA DE OLIVEIRA
Advogado: PAULO ROBERTO FERNANDES PINTO JÚNIOR
Recorrido(s)s: ANTÔNIO MARCOS DE MELO FRAGOSO LIMA
Advogados: PAULO ROBERTO FERNANDES PINTO JÚNIOR EMICAELA DE MELO FERREIRA
ELEIÇÕES
TERCEIRO
RECURSO.
1. A presente hipótese propôs que seja declarada causa de impedimento
funcional, de natureza constitucional, decorrente do reconhecimento do
exercício de suposto terceiro mandato consecutivo, na Chefia do Executivo
Municipal, pelo candidato eleito, ora recorrido.
2. O recorrido atuou como mero gestor temporário, instrumental, substituindo
o candidato eleito, enquanto o Tribunal Superior não solucionava a questão
da validade do registro de candidatura deste último e, por conseguinte, a
aplicação do art. 224 do CE (anulação das eleições).
3. As peculiaridades do caso (assunção precária no primeiro ano do
quadriênio, havendo posterior alternância fática de poder) não autorizam a
aplicação das severas conseqüências de uma interpretação excessivamente
formal, literal e apriorística da norma constitucional e dos fins republicanos
que se pretendem preservar.
4. Não provimento do recurso.
2016. RECURSO
MANDATO. NÃO
CONTRA EXPEDIÇÃO DO DIPLOMA.
OCORRÊNCIA. DESPROVIMENTO DO
Sob a presidência do Excelentíssimo Desembargador LUIZ CARLOS DE BARROS
FIGUEIREDO, ACORDAM os membros do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco, por maioria, em
NEGAR PROVIMENTO ao recurso, nos termos do votodo Relator.
?Gife^PE, 21 de agosto de 2017.
DESEMBARGADOR ELEITORAL JÚLIO ALCINO DE OLIVEIRA NETO - RELATOR
JUSTIÇA FEDERAL
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE PERNAMBUCO
434
RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA N.° 65-22.2017.6.17.0000
RECORRENTE(S): ARMANDO ALMEIDA SOUTO, candidato ao cargo de Prefeito
ADVOGADO: Delmiro Dantas Campos Neto e outros
RECORRENTE(S): PARTIDO HUMANISTA DA SOLIDARIEDADE (PHS) -
MUNICIPAL
ADVOGADO: Delmiro Dantas Campos Neto e outros
RECORRIDO(S): EDUARDO PASSOS COUTINHO CORRÊA DE OLIVEIRA,
Prefeito eleito
ADVOGADO: Paulo Roberto Fernandes Pinto Júnior
RECORRIDO(S): ANTÔNIO MARCOS DE MELO FRAGOSO LIMA, Vice-Prefeito
eleito
ADVOGADO: Paulo Roberto Fernandes Pinto Júnior e outro
RELATOR: DESEMBARGADOR ELEITORAL JÚLIO ALCINO DE OLIVEIRA NETO
RELATÓRIO
Trata-se de RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DE *ò4.
DIPLOMA manejado por ARMANDO ALMEIDA SOUTO, candidato não ^^
eleito à Prefeitura de Água Preta e pelo PARTIDO HUMANISTA DA
SOLIDARIEDADE (PHS) - MUNICIPAL, em desfavor de EDUARDO
PASSOS COUTINHO CORRÊA DE OLIVEIRA e ANTÔNIO MARCOS DE
MELO FRAGOSO LIMA, respectivamente, prefeito e vice-prefeito
eleitos, pelas razões de fato e de direito que adiante se seguem.
Afirmam os autores que o diploma outorgado ao
primeiro recorrido, EDUARDO PASSOS COUTINHO CORRÊA DE
OLIVEIRA, deve ser cassado, em razão da existência de suposta
inelegibilidade que pesa sobre o candidato eleito, prevista no art. 14, §
501, da Constituição Federal.
Narra a inicial que EDUARDO PASSOS COUTINHO
CORRÊA DE OLIVEIRA exerceu a chefia do Poder Executivo de Água
Preta no período de 2009 a 2012 (1o mandato).
Em 07/10/2012, o recorrido disputou a reeleição,
tendo ficado em segundo lugar.
Ocorre que o primeiro lugar nas eleições de 2012,
Armando Almeida Souto, teve seu registro de candidatura indeferido,
com trânsito em julgado perante o TSE, razão pela qual, tendo obtido a
maioria dos votos válidos, o Juiz Eleitoral de Água Preta declarou as
'Art. 14. [...]
§ 5o O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e
quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único
período subseqüente. (Redação dada pela Emenda Constitucional n° 16, de 1997)
2
eleições nulas e determinou a realização de eleições suplementares/^
com fulcro no art. 224 do Código Eleitoral.
Ato contínuo, EDUARDO PASSOS COUTINHO
CORRÊA DE OLIVEIRA, ora recorrido, ingressou com medida cautelar
pleiteando sua diplomação e posse, sob o argumento de que as
eleições não teriam sido nulas.
O pedido foi atendido, à época, por esta Corte, que
primeiramente deferiu a liminar requerida, determinando a diplomação e
posse do ora recorrido. Posteriormente, no mérito, este Tribunal deu
provimento ao recurso, considerando o argumento de que a eleição não
teria sido nula.
Em cumprimento à cautelar deferida pelo TRE/PE, o
ora recorrido, EDUARDO PASSOS COUTINHO CORRÊA DE OLIVEIRA,
assumiu o exercício do cargo de Prefeito do Município de Água Preta
de 01/01/2013 a 31/08/2013 (primeiro ano do mandato 2013/2016).
No entanto, o TSE deu provimento ao recurso
especial interposto pelo então candidato adversário, Armando Almeida
Souto, para fins de reconhecer a nulidade da eleição, determinando a
realização de eleições suplementares.
Realizada a eleição suplementar, na qual concorreram
os mesmos candidatos, restou vencedor o adversário do ora recorrido,
Armando Almeida Souto, que assumiu o mandato até o final de 2016.
Nas eleições de 2016, EDUARDO PASSOS^
COUTINHO CORRÊA DE OLIVEIRA sagrou-se vencedor em eleição J^
novamente disputada contra o candidato Armando Almeida Souto.
Em face dos períodos em que o recorrido assumiu a
Chefia do Executivo Municipal de Água Preta, entendem os autores da
presente ação que o candidato eleito, EDUARDO PASSOS COUTINHO
CORRÊA DE OLIVEIRA, está exercendo um terceiro mandato
consecutivo, em afronta direta ao mencionado art. 14, § 5o, da
Constituição Federal.
Com base nesses argumentos, requerem os autores
que seja conhecido e provido o presente Recurso contra a Expedição
de Diploma, nos termos do art. 262 do Código Eleitoral, para o fim de
cassar o diploma outorgado aos recorridos EDUARDO PASSOS
COUTINHO CORRÊA DE OLIVEIRA e ANTÔNIO MARCOS DE MELO
FRAGOSO LIMA e, por conseqüência, os correspondentes mandatos de
prefeito e vice-prefeito, respectivamente.
Em suas defesas, EDUARDO PASSOS COUTINHO
CORRÊA DE OLIVEIRA e ANTÔNIO MARCOS DE MELO FRAGOSO
LIMA sustentam a improcedência da demanda, em razão da não
configuração do terceiro mandato sucessivo, não havendo violação ao
art. 14, § 5o, da Constituição Federal.
Aduzem os recorridos que a assunção ao cargo do 1o
recorrido se deu sem caráter de definitividade (sucessão), possuindo,
na verdade, forma provisória e precária, em razão de decisão judicial
sujeita à reforma (segundo lugar nas eleições).
.
Outrossim, defendem que a assunção à chefia do435
Poder Executivo por força de uma decisão cautelar (cujo caráter é J®~
provisório e precário) equipara-se à hipótese constitucional de
substituição, conforme tem reiteradamente reconhecido o TSE.
Instada a se manifestar, a Procuradoria Regional
Eleitoral opinou pelo provimento do recurso, em razão da configuração
do terceiro mandato, consoante preconizam as Consultas n.° 28.210 e
117-26 do TSE.
É o relatório.
À revisão.
Recife,.05 de julho de 2017.
Júlio Alcino de Oliveira Neto
Desembargador Eleitoral
AÒG
JUSTIÇA FEDERAL
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE PERNAMBUCO
RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA N.° 65-22.2017.6.17.0000
RECORRENTE(S): ARMANDO ALMEIDA SOUTO, candidato ao cargo de Prefeito
ADVOGADO: Delmiro Dantas Campos Neto e outros
RECORRENTE(S): PARTIDO HUMANISTA DA SOLIDARIEDADE (PHS) - MUNICIPAL
ADVOGADO: Delmiro Dantas Campos Neto e outros
RECORRIDO(S): EDUARDO PASSOS COUTINHO CORRÊA DE OLIVEIRA, Prefeito
eleito
ADVOGADO: Paulo Roberto Fernandes Pinto Júnior
RECORRIDO(S): ANTÔNIO MARCOS DE MELO FRAGOSO LIMA, Vice-Prefeito eleitoADVOGADO: Paulo Roberto Fernandes Pinto Júnior e outro
RELATOR: DESEMBARGADOR ELEITORAL JÚLIO ALCINO DE OLIVEIRA NETO
VOTO
A presente demanda propõe que seja declarada causa de
impedimento funcional, de natureza constitucional, decorrente do
reconhecimento do exercício de suposto terceiro mandato consecutivo, na
Chefia do Executivo Municipal de Água Preta, pelo candidato eleito,
EDUARDO PASSOS COUTINHO CORRÊA DE OLIVEIRA, ora recorrido.
Em breve síntese fática, foi visto que o recorrido assumiuio
a Prefeitura de Água Preta nos seguintes períodos:
- 1o período: quadriênio de 2009 a 2012, na condição de
prefeito eleito;
- 2o período: de 01/01/2013 a 31/08/2013 (primeiro ano do
mandato 2013/2016), sob liminar, posteriormente cassada
pelo TSE;
- 3o período: mandato atual (2017 a 2020), na condição de
candidato eleito.
Nesse diapasão, constata-se que o mandato que englobou
o quadriênio de 2013 a 2016 foi fragmentado em 2 partes: a exercida pelo
recorrido, EDUARDO PASSOS COUTINHO CORRÊA DE OLIVEIRA,
mediante deferimento de liminar expedida por este sodalício e a segunda
parte, composta pelo mandato-tampão, exercido pelo candidato eleito em
pleito suplementar, Armando Almeida Souto, após anulação das Eleições de
2012 pelo TSE.
Por considerarem o período de 01/01/2013 a 31/08/2013
como tempo de efetivo exercício de mandato, entendem os recorrentes que
o recorrido, EDUARDO PASSOS COUTINHO CORRÊA DE OLIVEIRA, não
poderia exercer o último mandato para o qual foi eleito, iniciado em
1°/01/2017. Pedem, portanto, que seja reconhecida a inelegibilidade
constitucional proposta e cassado o respectivo diploma expedido.
Como de praxe, para facilitar o entendimento da matéria e
o seu julgamento, será realizada a análise dos aspectos relevantes desta
demanda em capítulos próprios apartados.
439
1. DA ADMISSIBILIDADE DA DEMANDA
O presente recurso {rectius: ação) é regulado pelo art.
262 (com redação dada pelo art. 1o da Lei n° 12.891/2013) - com nossos
destaques:
Art. 262. O recurso contra expedição de diploma caberá
somente nos casos de inelegibilidade superveniente ou
de natureza constitucional e de falta de condição de
elegibilidade.
Por sua vez, a Carta Magna traz hipótese de impedimento
funcional para assunção de um terceiro mandato consecutivo. É o que se
pode extrair, a contrario sensu, do seu art. 14, § 5o - também com nossos
destaques:
Art. 14. § 5o O Presidente da República, os Governadores
de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os
houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos
poderão ser reeleitos para um único período
subseqüente.
Dessa forma, cotejando-se os dispositivos acima
transcritos, verifica-se que - em tese - há "cabimento" do presente Recurso
contra Expedição de Diploma, aferindo-se a causa in status assertionis.
De outro modo, também não se verifica qualquer
obstáculo formal à instauração do processo e ao prosseguimento da ação: o
\JfC
juízo é competente, há legitimidade de ambas as partes (inclusive com
formação de litisconsórcio passivo necessário entre prefeito e vice), bem
como obediência ao prazo decadencial de 3 (três) dias (contados da sessão
de diplomação).
Verificados os aspectos meramente formais, as demais
condições da ação e os pressupostos processuais de existência e validade
(objetivos e subjetivos), não enxergo óbice à análise meritória do RCED sub
examine. É o que passo a fazer.
2. DO MÉRITO
2.1. AUSÊNCIA DE TERCEIRO MANDATO: PRECARIEDADE DA
ASSUNÇÃO DO CARGO NO QUADRIÊNIO DE 2013/2016 - EXERCÍCIO
MEDIANTE LIMINAR NO PRIMEIRO ANO DO MANDATO
Antes de ingressar no tema, é importante lembrar que as
normas que regulamentam o sistema das inelegibilidades, por carregarem
verdadeiros impedimentos ao exercício da capacidade eleitoral passiva do
cidadão, devem ser interpretadas de forma estrita e em harmonia com
os demais princípios constitucionais, como a soberania do voto,
proporcionalidade e razoabilidade e segurança jurídica.
Outrossim, diga-se, também, que o que se pretende
tutelar e garantir, com a proibição do exercício de um terceiro mandato
sucessivo, é a alternância do poder, inerente ao Princípio Republicano (já
afetado pelo instituto da reeleição), protegendo-se ainda o eleitorado de
eventual abuso de poder político, por meio do uso da máquina pública.
Fixadas essas premissas, passo a analisar a ocorrênciavT^L
de um suposto terceiro mandato, considerando as peculiaridades ocorridas
no quadriênio de 2013/2016.
Pois bem. Além de outros argumentos, os demandantes
trouxeram à lume algumas respostas a Consultas dirigidas ao TSE1, no
sentido de que "a assunção da chefia do Poder Executivo, por qualquer
fração de tempo ou circunstância, configura exercício de mandato eletivo e
o titular só poderá se reeleger por um único período subsequente".
Ocorre que referidas respostas às consultas, além de
demasiadamente genéricas e não vinculantes, não esclareceram a situação
daqueles que assumiram o Executivo antes dos seis meses anteriores ao
pleito subsequente (vedação à CONTINUIDADE DE PERÍODOS - art. 14, §
5o, da CF), hipótese tratada de forma absolutamente diversa por remansosa
jurisprudência do TSE.
Dessa forma, deve-se atentar que o STF e o próprio
TSE vem adequando o entendimento conforme a situação fática
concreta, levando em consideração as características da assunção ao
cargo, como a precariedade do exercício e o período de assunção
(antes ou durante os seis meses finais do quadriênio).
Portanto, não há aplicação simplória e apriorística da
exegese extraída das respostas às consultas acima, como quer fazer
crer o recorrente.
Visto isso, temos que o art. 14, § 5o, da CF, regulamenta
duas hipóteses distintas de reeleição para um único período subsequente: a
primeira, relativa ao agente titular do mandato; a segunda, atinente ao
sucessor ou ao substituto.
1 Consulta n.° 1538/DF de 05/05/2009 e Consulta n.° 17/11/2015.
Sobre a assunção ao poder de titulares eleitos^e
respectivos sucessores, não há muito o que se discutir. Dado o caráter de
permanência e definitividade (relativas ao período) do exercício do poder
eleito, a preocupação do constituinte derivado reformador foi a de tolerar
continuidade de gestão por apenas mais um mandato. A flexibilização do
subprincípio da alternância do poder limitou-se a apenas mais um período
consecutivo.
Caso o Chefe do Executivo queira disputar novas
eleições, deve aguardar a passagem de um mandato (solução de
continuidade do poder) para, após, pleitear nova recondução ao cargo.
Houve, com isso, respeito à alternância de poder, tendo em vista a
interrupção do seu exercício pelo agente.
Já em relação aos substitutos, a interpretação é
diversa. Tanto o STF, quanto o TSE, vem considerando a natureza precária
da assunção da Chefia do Executivo, bem como o período de exercício
(anterior aos últimos seis meses de mandato).
A preocupação, como já dito, reside no perigo do
exercício contínuo e permanente do poder, inexistente na assunção
precária, bem como no risco de manipulação da máquina pública em
proveito próprio, fragilizado quando há cessação do exercício antes dos 6
meses do fim do quadriênio (ou seja, sem que haja períodos contínuos).
Cito os seguintes precedentes (com nossos destaques):
AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO ELEITORAL. 1.
SUBSTITUIÇÃO DE PREFEITO CASSADO POR
DETERMINAÇÃO JUDICIAL. CARÁTER TRANSITÓRIO.
NÃO INCIDÊNCIA DO IMPEDIMENTO DO ART. 14, § 5o,
DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. PRECEDENTES. 2.
REPERCUSSÃO GERAL DA QUESTÃO
CONSTITUCIONAL. DESNECESSIDADE DE EXAME. ART.
323, PRIMEIRA PARTE, DO REGIMENTO INTERNO DO '̂''
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO AO QUAL SE
NEGASEGUIMENTO.
(STF - Processo Al 782434 MA - Julgamento em 8 de
Fevereiro de 2010 - Relatora Min. CÁRMEN LÚCIA)
"[...]. Eleições 2012. Prefeito Registro de candidatura.
Inelegibilidade. Art. 14, § 5o, da Constituição Federal.
Terceiro mandato consecutivo. Não configuração. [...].
1. Consoante o disposto no art.14, § 5o, da CF/88 e o
entendimento do TSE e do STF acerca da matéria,
eventual substituição do chefe do Poder Executivo pelo
respectivo vice ocorrida no curso do mandato e fora do
período de seis meses anteriores ao pleito não configura
o desempenho de mandato autônomo do cargo de
prefeito. 2. Na espécie, o agravado exerceu o cargo de
vice-prefeito do Município de Guanambi/BA no interstício
2004-2008 - tendo substituído o então chefe do Poder
Executivo em diversas oportunidades, porém fora do
período de seis meses anteriores ao pleito - e foi reeleito
nas Eleições 2008, vindo a suceder o prefeito em
1o.4.2012. Assim, não há óbice à sua candidatura ao
cargo de prefeito nas Eleições 2012. [...]' NE: Trecho do
voto da relatora: 'ADEMAIS, NO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO 366.488-3, O STF REALIZOU A
DISTINÇÃO ENTRE SUBSTITUIÇÃO E SUCESSÃO,
TERMOS PREVISTOS NO ART. 14, § 5 1 , DA CF/88 E
DEFINIU QUE SÓ SE CONSTITUI MANDATO AUTÔNOMO
POR MEIO DE ELEIÇÃO OU SUCESSÃO. A
SUBSTITUIÇÃO NÃO TEM ESSE CONDÃO.'"
(Ac. de 11.12.2012 no AgR-REspe n° 7055, rei. Min.
Nancy Andrighi.)
"ELEIÇÕES 2008. Agravo regimental no recurso especial.^
Registro de candidatura ao cargo de prefeito.
Inelegibilidade. Art. 14, § 5o, da Constituição Federal.
Terceiro mandato. Não-configuração. Ascensão ao
cargo por força de decisão judicial, revogada três dias
depois. Caráter temporário. Precedentes. Agravos
regimentais desprovidos, mantendo-se o deferimento do
registro." (TSE, REspe n° 34560/MA, rei. Min. Joaquim
Benedito Barbosa Gomes, pub. no DJe de 18/02/2009)
ELEIÇÕES 2016. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO
ESPECIAL. DEFERIMENTO DE REGISTRO DE
CANDIDATURA PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS.
PREFEITO ELEITO. INELEGIBILIDADE DO § 5o DO ART.
14 DA CF. TERCEIRO MANDATO. NÃO CONFIGURA
EXERCÍCIO EFETIVO DE MANDATO PARA EFEITO DE
REELEIÇÃO A EVENTUAL SUBSTITUIÇÃO DO CHEFE DO
PODER EXECUTIVO MUNICIPAL PELO PRESIDENTE DA
CÂMARA DE VEREADORES, EM CASO DE DUPLA
VACÂNCIA, FORA DO PERÍODO VEDADO DE 6 MESES
ANTERIORES À ELEIÇÃO. DECISÃO REGIONAL EM
CONSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA
CORTE. AUSÊNCIA DE ARGUMENTOS HÁBEIS PARA
MODIFICAR A DECISÃO AGRAVADA. AGRAVOS
REGIMENTAIS DESPROVIDOS.
1. O ex-Presidente da Câmara de Vereadores que
assumiu interinamente a chefia do Poder Executivo no
período de 10.8.2011 a 29.3.2012, em decorrência da
cassação da chapa eleita. Após, na legislatura 2013-2016,
elegeu-se Vice-Prefeito, vindo a tomar posse definitiva
como Prefeito em 1o.4.2013, após a renúncia da Prefeita
eleita. Hipótese que não se ajusta ao exercício
4M4
consecutivo de dois mandatos. Possibilidade de concorrer
à reeleição em 2016 para a legislatura 2017-2020.
2. O acórdão recorrido está em consonância com o
entendimento do TSE quanto a não estar configurado
efetivo exercício do mandato, para fins de aplicação
do § 5o do art. 14 da CF, a assunção do cargo de
Prefeito, interinamente, pelo Presidente da Câmara de
Vereadores, em hipótese de dupla vacância, FORA DO
PERÍODO VEDADO DE ATÉ 6 MESES ANTES DO NOVO
PLEITO (REspe 109-75/MG, Redator para o acórdão
Min. GILMAR MENDES, publicado na sessão de
14.12.2016).
3. Agravos Regimentais aos quais se nega provimento."
(TSE, REspe n° 25721/BA, rei. Min. Napoleão Nunes Maia
Filho, pub. no DJe de 16/05/2017, p. 96).
ELEIÇÕES 2012. REGISTRO. PREFEITO.
INELEGIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL. REELEIÇÃO
O pai do candidato não foi eleito em 2004. Em razão de
decisões judiciais, assumiu a Prefeitura, por poucos dias
e de forma precária no início de 2008. O filho foi eleito em
2008 e requereu o registro de candidatura para disputar a
reeleição em 2012.
Os fatos definidos no acórdão regional não permitem
concluir pela efetividade e definitividade no exercício do
cargo de Prefeito pelo pai do candidato.
Agravo regimental provido, para restabelecer o registro de
candidatura." (TSE, AgR-REspe n° 8350/PB, rei. Min.
HENRIQUE NEVES DA SILVA, pub. no DJe de 25/04/2013)
Neste eg. Sodalício temos precedente interessante, que
se aproxima do caso dos autos (não havendo aplicação das interpretações
propostas na presente demanda):
4U5
ELEIÇÕES 2012. PREFEITO. TERCEIRO MANDATO.
NÃO-CONFIGURAÇÃO. REGISTRO DE CANDIDATURA.
DEFERIMENTO.
1. Recurso interposto contra sentença que indeferiu o
pedido de candidatura ao cargo de Prefeito, em face do
disposto no art. 14, § 5o, da CF.
2. Com relação às eleições de 2008, tendo em conta que
o registro do candidato sequer foi deferido e considerando
o fato de que ele exerceu o cargo de Prefeito
temporariamente (por apenas 08 dias), em face de
decisão que foi revogada pelo Tribunal Superior
Eleitoral, o pedido de registro aqui formulado há de ser
deferido (Mutatis mutandis, são os seguintes precedentes
do TSE: AgR-Respe 34560/MA e Respe 31043/MG).
3. Recurso provido.
(TRE/PE, RE n° 10223, rei. Des. LUIZ ALBERTO GURGEL
DE FARIA, PSESS - Publicado em Sessão, Data
23/8/2012)
A hipótese dos autos guarda similitude com os
precedentes acima citados. Vejamos:
1) Houve, em 2013, ASSUNÇÃO PRECÁRIA à Chefia do
Executivo Municipal por parte do recorrido, CANDIDATO
NÃO ELEITO, ALÇADO À PREFEITURA POR
DETERMINAÇÃO JUDICIAL CAUTELAR, enquanto se
aguardava a decisão do TSE sobre a anulação das
Eleições de 2012;
10
2) O exercício (temporário) do cargo se deu no primeiro fe
ano do referido quadriênio (em 2013), quando cassada a
liminar que o mantinha precariamente no cargo, ou seja,
ANTES DO PERÍODO CRÍTICO (6 MESES ANTES DO
PLEITO DE 2016). Em outras palavras, houve efetiva
interrupção do exercício do mandato (como mero
substituto), não havendo continuidade em "períodos
subsequentes", como expressa o enunciado normativo
constitucional.
Ora, a assunção ao cargo pelo recorrido jamais teve o
condão de ser permanente. Havia notória precariedade do exercício, até se
decidir sobre a renovação daquelas eleições de 2012.
Em outras palavras, de fato, o recorrido atuou como mero
gestor temporário, instrumental, substituindo o candidato eleito, enquanto o
Tribunal Superior não solucionava a questão da validade do registro de
candidatura deste último e, por conseguinte, a aplicação do art. 224 do CE
(anulação das eleições).
Além disso, o recorrido somente assumiu a Chefia do
Executivo Municipal no primeiro ano do quadriênio, sendo sucedido, de fato
e de direito, pelo vencedor das Eleições Suplementares, Armando Almeida
Souto.
Entendo, portanto, que as peculiaridades do caso
(assunção precária no primeiro ano do quadriênio, havendo posterior
alternância fática de poder) não autorizam a aplicação das severas
conseqüências de uma interpretação excessivamente formal, literal e
apriorística da norma constitucional e dos fins republicanos que se
pretendem preservar.
11
4W
2.2. QUEBRA DE CONTINUIDADE DO EXERCÍCIO DO MANDATO: J^
INEXISTÊNCIA DE RISCO AO PRINCÍPIO REPUBLICANO (ALTERNÂNCIA
DO PODER)
Apenas para ilustrar o raciocínio que será trilhado neste
capítulo do voto, peço vênia para novamente transcrever a hipótese de
inelegibilidade constitucional posta à baila nestes autos:
Art. 14. § 5o O Presidente da República, os Governadores
de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os
houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos
poderão ser reeleitos para um único período
subseqüente.
Como já dito, a interpretação das normas relativas às
inelegibilidades, enquanto limitadoras de direito, deve ser estrita, ou seja,
não devem resultar em comandos normativos que desbordem ou extravasem
do significado extraído do conteúdo semântico posto nos respectivos
enunciados, a ponto de abranger situações não previstas ou não desejadas
pelo legislador constituinte.
Nesse diapasão, temos que o mandato político pode ser
consubstanciado no poder de representação para o exercício de atividades
governamentais e legislativas, por tempo determinado, que os agentes
políticos recebem por meio de eleições populares. O mandato político,
portanto, não pode ser limitadamente conceituado apenassob o aspecto da
periodicidade.
Por outro lado, a norma também trata de "período
subsequente", ou seja, preocupa-se com a continuidade ou permanência do
poder, mesmo que seja esse advindo da mencionada escolha feita pelo
povo.
12
4W
Visto isso, levando em conta a realidade dos fatos, a
finalidade da norma e abstraindo-se qualquer interpretação acadêmica
proveniente de ficção jurídica, na hipótese dos autos, durante o quadriênio
de 2013/2016, o Município de Água Preta contou com DOIS MANDATÁRIOS,
havendo solução efetiva da continuidade da primeira gestão (não houve
períodos subsequentes de poder), sucedida pelo candidato eleito em
pleito suplementar.
Ora, eventual ficção jurídica proveniente de interpretação
extensiva e gravosa da norma constitucional, além de não ser útil à
finalidade protetiva do dispositivo, não é apta a superar a realidade das
mudanças ocorridas na concreta alternância de poder (havendo efetiva
quebra na continuidade do exercício do primeiro mandatário, ora recorrido).
As circunstâncias fáticas devem ser levadas em
consideração, sob pena de se extirpar, de forma precipitada, o mandato de
um agente democraticamente eleito pelo povo do Município de Água Preta.
Sob outro viés, também relativo ao objeto da norma
constitucional, cito abaixo ementa de importante julgado, que pontua
necessárias distinções sobre mandato válido, condição de eleito, perda,
cassação e ato de renúncia, relevantes para a correta subsunção da norma
do art. 14, § 5o da CF:
CONSTITUCIONAL. ELEITORAL. IMPUGNAÇÃO A
REGISTRO DE CANDIDATO. REELEIÇÃO A TERCEIRO
MANDATO. RECONTAGEM DE VOTOS. CANDIDATO NÃO
ELEITO.
I - Não conflita com a norma constitucional inserta no art.
14, § 5o o acatamento de registro de candidato que, em
decorrência de recontagem de votos posterior ao primeiro
resultado do pleito eleitoral, foi considerado não eleito
para o cargo de Prefeito Municipal.
13
W
JLII- A perda superveniente do mandato decorrente da
recontagem de votos, que retira do candidato a
condição de eleito, não se confunde com a perda ou
cassação, nem com ato de renúncia, que pressupõe a
existência de mandato válido.
III- Recurso conhecido e provido. (TRE/MA, RE n° 3190/M,
Acórdão n° 5859 de 02/09/2004, rei. Juiz JORGE RACHID
MALUF)
Transcrevo os seguintes trechos do voto condutor do
referido acórdão, que bem esclarecem os argumentos aqui postos:
"Como visto do relatório, o cerne da questão está em
se avaliar se o período compreendido entre os anos de
1997 e 1999, quando o impugnado esteve à frente do
Executivo Municipal, pode ser computado como um
mandato, para fins aplicação da regra constante do
art. 14, §5° da CF.
De início, cabe, então, esclarecer qual o significado da
expressão 'mandato' e, ainda, fazer uma distinção
teórica entre renúncia, perda ou cassação do mandato
e a situação ocorrida com o recorrente, isto porque
tais situações têm fundamentos e conseqüências
diversas.
Pois bem, a expressão 'mandato' é utilizada para
expressar o período de tempo para o qual o candidato foi
eleito. Segundo o Dicionário Aurélio, mandato é o 'poder
político outorgado pelo povo a um cidadão, por meio de
voto, para que governe a nação, estado ou município, ou
o represente nas respectivas assembléias legislativas'.
Para o direito eleitoral, especialmente, as expressões
14
4SO
'período de mandato' e 'mandato' referem-se ao lapso de
tempo para o qual o cidadão foi eleito para governar ou
exercer funções legislativas. Portanto, em nosso Estado
Democrático de Direito para que haja mandato, há que
haver sempre outorga do povo, ou seja, eleição.
A esse respeito, e interpretando a norma do art. 14, § 5o,
colhe-se da própria sentença do juiz eleitoral que 'o
dispositivo supra fala em reeleição e para um único
período subsequente. Por sua vez, a expressão período,
como indicador de fração temporal, em sede de direito
eleitoral, há de ser entendido como o intervalo de tempo
pelo qual o representante popular encontra-se legitimado
(pela respectiva diplomação) a agir, dentro das
atribuições a ele conferidas por normas constitucionais e
infraconstitucionais, como a longa manus da comunidade.
Em síntese, o termo período há de ser tomada nesta
seara como sinônimo de mandato eletivo' (fls. 108).
Infere-se, desse modo, que quando há 'renúncia' o
cidadão foi eleito, porém, por ato unilateral de vontade,
desejou não mais exercer o mandato. De outro lado, a
cassação/perda do diploma decorre de uma sanção
aplicada ao cidadão, que, frise-se, foi validamente eleito
para o cargo. Quando há cassação ou perda do diploma
existe um mandato, inicialmente válido e outorgado pela
vontade popular.
EFETIVAMENTE. ASSISTE INTEIRA RAZÃO AO
RECORRENTE QUANDO AFIRMA QUE EXERCEU
'PRECARIAMENTE' O EXECUTIVO MUNICIPAL NO
PERÍODO COMPREENDIDO ENTRE OS ANOS DE 1997 E
1999. NÃO PODENDO ESTE LAPSO TEMPORAL SER
COMPUTADO COMO UM MANDATO. EIS QUE.
15
í/ft
CONSOANTE A RECONTAGEM DE VOTOS REALIZADA/
ELE NÃO FOI CONSIDERADO ELEITO PARA O
REFERIDO MANDATO. ORA. O PEDIDO DE
RECONTAGEM TORNOU SEM EFEITO A APURAÇÃO
ORIGINAL. FULMINANDO O DIPLOMA.
Veja-se que a sentença de primeiro grau corretamente
assentou que 'no caso em comento o impugnado foi
diplomado em janeiro de 1997 (...) prefeito do município
de Cândido Mendes; posteriormente, após procedimento
de recontagem, especificamente em setembro de 1999
(...), teve invalidado o seu diploma anteriormente
outorgado, quando então foi diplomado outro candidato
(...) o qual encerrou aquele mandato'. E mais, "em janeiro
de 1997 o impugnado foi diplomado prefeito de Cândido
Mendes, diploma este que foi desconstituído por decisão
judicial (recontagem) em setembro de 1999, quando
então, o impugnado afastou-se da prefeitura'.
Contudo, o magistrado equivocou-se ao dizer que 'a
desconstituição do diploma do impugnado, em setembro
de 1999, apenas tirou dele a habilitação para continuar
exercendo o mandato até seu final, não importando isto
em extirpar do 'mundo real' o tempo de exercício do
mandato, anterior a tal decisão, onde o impugnado esteve
na plenitude dos poderes próprios dos cargos'.
Na realidade, a recontagem dos votos teve como
conseqüência o reconhecimento e a declaração de que
o ora recorrente não foi eleito e, portanto, não detinha
mandato.
Laborou também em engano o juiz eleitoral quando
estabelece parâmetro entre o presente caso e a
16
'inelegibilidade do candidato que, eleito vice-prefeito em
1996, sucedeu o chefe do executivo em algum período
desse mandato (96/2000), elegendo-se prefeito no
subsequente (2000) e que está a tentar novamente a
eleição para prefeito' - sem grifos no original.
Há que se repetir, à exaustão, que é diferente o presente
caso porque o ora recorrente não foi eleito para o período
de 1997/2000, conforme recontagem de votos realizada,
inexistindo 'mandato outorgado pela vontade popular', não
se podendo afirmar que, em 2000, concorreu à reeleição e
que agora pretende exercer um terceiro mandato.
Desse modo e por todo o exposto, dou provimento ao
recurso para DEFERIR o pedido de registro da
candidatura de JOSÉ HAROLDO FONSECA CARVALHAL
ao cargo de Prefeito do Município de Cândido Mendes,
sob o número 25."
Em suma: como no caso acima, o recorrido não foi eleito
(era apenas um mero substituto eventual, derrotado nas urnas, à mercê do
resultado do processo referente ao registro de candidatura do vencedor nas
urnas).
Além disso, no presente caso, o recorrido sequer exerceu
poder por período sucessivo (encerrou o exercício por determinação do
TSE, após a perda de eficácia da cautelar que o mantinha no cargo).
Isto posto, pergunta-se: houve prejuízo à alternância
de poder inerente ao Princípio Republicano? Houve risco de uso da
máquina pública a favor do recorrido? Absolutamente não, à vista da
eleição de adversário político do recorrido, após 8 meses de exercício
precário no primeiro ano do quadriênio.
17
AO.
2.3. AUSÊNCIA RELEVÂNCIA SOCIAL E JURÍDICO-ELEITORALPARA A
DESCONSTITUIÇAO DO MANDATO: APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA
PROPORCIONALIDADE, RAZOABILIDADE, SEGURANÇA JURÍDICA E
SOBERANIA DO VOTO
Apenas ad argumentandum tantum, proponho à Corte uma
rápida reflexão.
É cediço que os operadores do Direito têm como objeto
de estudo os princípios e as regras jurídicas. A par disso, costumam valer-
se de uma lógica abstrata, após debates teóricos, para extração de uma
racionalidade do sistema jurídico.
Nesse trabalho, não há, contudo, um questionamento
sobre a racionalidade política ou econômica ou mesmo social da
referida análise, na medida que é considerada metajurídica (na tradição
kelseniana).
Sequer há estudos empíricos a fim de constatar o impacto
real das proposições teóricas extraídas do referido raciocínio jurídico,
rotineiramente divorciado da "realidade extrajurídica", muitas vezes em
decorrência do apego a questões meramente acadêmicas e excessivamente
formais.
Em suma, não é incomum a ausência de preocupação com
o sacrifício gerado após a resolução das questões judiciais, com eventual
"efeito rebote". Pelo contrário: o resultado é extremanente deficitário ou até
absolutamente inverso. Há enorme esforço e desgaste material (inclusive
financeiro), com parcos resultados sociais, de baixa ou nenhuma vantagem
para os destinatários da pretensa resolução pretoriana.
18
Diante disso, à vista dos princípios enumerados no título
deste capítulo, considerando o caráter de substituição precária da assunção
do cargo em 2013, ocorrida no primeiro ano do mandato e com efetiva
interrupção do exercício após assunção do adversário eleito (em eleição
suplementar), ante a anulação do pleito de 2012, pergunta-se: a
circunstância retratada nestes autos acarreta lesividade suficiente à ordem
jurídico-eleitoral a ponto de justificar a cassação do ora recorrido, prefeito
eleito democraticamente?
Entendo que os custos gerados com eventual eleição
suplementar para tentar remediar algo que não representou efetivo prejuízo
ao Princípio da Alternância do Poder (porquanto houve, de fato, alternância,
após assunção - repita-se - precária), ofende não só a proporcionalidade e
a razoabilidade (aplicada in concreto), mas também a segurança jurídica e a
soberania do voto popular, na medida que se anula escolha popular hígida,
ou seja, que não fora contaminada com eventual captação de sufrágio ou
abuso de poder político ou econômico.
3. PRECEDENTES REGIONAIS:
Apenas para ilustrar e reforçar o aqui exposto, cito
relevantes precedentes dos mais variados Tribunais Regionais Eleitorais
(com nossos destaques):
RECURSO ELEITORAL. REGISTRO DE CANDIDATURA.
ELEIÇÕES 2016. INELEGIBILIDADE. REELEIÇÃO.
TERCEIRO MANDATO. NÃO CONFIGURAÇÃO.
ASCENSÃO AO CARGO POR FORÇA DE DECISÃO
JUDICIAL PROVISÓRIA E PRECARIAMENTE PELO
PERÍODO DE QUARENTA E SETE DIAS. RECURSO
DESPROVIDO. REGISTRO DE CANDIDATURA
DEFERIDO.
1. O fato de ter assumido, temporariamente, o cargo de
prefeito por apenas 47 (quarenta e sete) dias, no primeiro
19
4*4
ano do quadriênio 2009/2012, por determinação judicial,
e, posteriormente, ter sido eleito em 2012 para o mesmo
cargo não impede o atual postulante de disputar a eleição
majoritária municipal de 2016, tentando a sua reeleição,
sem que isso caracterize como terceiro mandato, eis que
não há ofensa ao § 5o, do art. 14 da Constituição da
República.
2. Recurso desprovido.
(Processo RE 6062 SÃO DOMINGOS DO CAPIM - PA
Partes RECORRENTE MINISTÉRIO PÚBLICO
ELEITORAL, RECORRENTE : COLIGAÇÃO UNIDOS POR
UM SÃO DOMINGOS MELHOR, RECORRIDO : ALBERTO
YOITI NAKATA Publicação PSESS - Publicado em Sessão,
Data 20/09/2016 Julgamento 20 de Setembro de 2016
Relator LUCYANASAID DAIBES PEREIRA)
Recurso contra expedição de diploma. Arguição de
inelegibilidade. Artigo 262, I do Código Eleitoral. Prefeito
reeleito e enquanto vice-prefeito substituiu o chefe do
executivo, durante 400 dias, fora do período de seis
meses anteriores ao pleito. Alegação de exercício de
terceiro mandato. Não configuração. Provimento negado.
Preliminar de preclusão da matéria. Por estar intimamente
relacionada com o mérito, junto com este será examinada.
Mérito. Restando demonstrado nos autos que a
substituição do recorrido na chefia do executivo
municipal, enquanto vice-prefeito, embora duradoura,
foi transitória, visto que o gestor substituído
reassumiu o cargo no último ano do seu mandato,
inviável o enquadramento da hipótese na previsão do
artigo 14, § 5o da Constituição Federal. (Processo RD
646 BA Publicação DPJ-BA - Diário do Poder Judiciário,
Data 15/6/2009, Página 96 Julgamento 2 de Junho de
2009 Relator ESERVAL ROCHA)
20
A5&
Recurso. Registro de candidatura. Prefeito. Candidato à
reeleição. Impugnação. Improcedência. Anterior exercício
do cargo de vice-prefeito. Assunção temporária da chefia
do executivo municipal. Arguição de inelegibilidade.
Terceiro Mandato. Não configuração. Ausência de violação
ao art. 14, § 5o da CF/88. 1. Consoante, definido pelo
TSE, eventual substituição do chefe do Poder
Executivo pelo respectivo vice ocorrida no curso do
mandato e fora do período de seis meses anteriores ao
pleito não configura o desempenho de mandato
autônomo do cargo de prefeito; 2. É possível, assim,
por não violar a norma do art. 14, § 5o da CF/88, a
pretensão de reeleição ao cargo de Chefe do Executivo
Municipal de candidato que, em legislatura anterior,
substituiu temporariamente e fora do período vedado o
então alcaide; 3. Recurso a que se nega provimento.
(Processo RE 13840 LAPÃO - BA Partes
RECORRENTE(S) : COLIGAÇÃO A FORÇA DA UNIÃO,
RECORRIDO(S) JOSÉ RICARDO RODRIGUES
BARBOSA Publicação PSESS - Publicado em Sessão,
Volume 17:13, Data 10/10/2016
Julgamento 10 de Outubro de 2016 Relator PAULO
ROBERTO LYRIO PIMENTA
"ELEIÇÕES 2016 - RECURSO ELEITORAL - REGISTRO
DE CANDIDATURA - RRC - CANDIDATO - CARGO -
PREFEITO - IMPUGNAÇÃO - INELEGIBILIDADE DO ART.
1o, INCISO II, ALÍNEA "I" C/C ART. 1o, INC. IV, ALÍNEA
"A", DA LC 64/90 - DESINCOMPATIBILIZAÇÃO -
DEMONSTRAÇÃO DE VÍNCULO CONTRATUAL COM
PODER PÚBLICO QUE NÃO OBEDEÇA A CLÁUSULAS
UNIFORMES - INEXISTÊNCIA - INELEGIBILIDADE DO
ART. 1o, INCISO I, ALlNEA "D" DA LC 64/90 -
21
1C4
IRRETROATIVIDADE DA LEI DA FICHA LIMPA -JLy
ELEGIBILIDADE SUPERVENIENTE À DATA DA ELEIÇÃO -
INELEGIBILIDADE DO ART. 14, §5° DA CF - TERCEIRO
MANDATO - NÃO CARACTERIZAÇÃO - INVESTIDURA
POR FORÇA DE DECISÃO LIMINAR - PRECARIEDADE -
RECURSO QUE SE CONHECE E NEGA PROVIMENTO."
(TRE/SC, RE n° 14410, rei. Juiz Rodrigo Brandeburgo
Curi, PSESS 28.09.2016)
"CONSTITUCIONAL. ELEITORAL. IMPUGNAÇÃO A
REGISTRO DE CANDIDATO. REELEIÇÃO A TERCEIRO
MANDATO. RECONTAGEM DE VOTOS. CANDIDATO NÃO
ELEITO.
I - Não conflita com a norma constitucional inserta no art.
14, § 5o o acatamento de registro de candidato que, em
decorrência de recontagem de votos posterior ao primeiro
resultado do pleito eleitoral, foi considerado não eleito
para o cargo de Prefeito Municipal.
II- A perda superveniente do mandato decorrente da
recontagem de votos, que retira do candidato a
condição de eleito, não se confunde com a perda ou
cassação, nem com ato de renúncia, que pressupõe a
existência de mandato válido.
III- Recurso conhecido e provido." (TRE/MA, RE n°
3190/M, Acórdão n° 5859 de 02/09/2004, rei. Juiz JORGE
RACHID MALUF)
"EMENTA: RECURSOS ELEITORAIS. ELEIÇÕES 2008.
REGISTRO DE CANDIDATURA. PREFEITO MUNICIPAL.
IMPUGNAÇÕES. CANDIDATO ELEITO NOS PLEITOS DE
2000 E 2004. CASSAÇÃO DO REGISTRO, NAS
ELEIÇÕES DE 2004, ANTES DA DIPLOMAÇÃO E POSSE,
QUE OCORRERAM POR FORÇA DA ATRIBUIÇÃO DE
EFEITO SUSPENSIVO AO RECURSO, QUE ACABOU
22
SENDO DESPROVIDO. ALEGAÇÃO DE
CARACTERIZAÇÃO DE TERCEIRO MANDATO (PLEITO
DE 2008) E OFENSA AO DISPOSTO NO ART. 14, § 5o DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INOCORRÊNCIA. RECURSO
DO MINISTÉRIO PÚBLICO DESPROVIDO, POR
UNANIMIDADE DE VOTOS. RECURSO DO CANDIDATO
PROVIDO, POR MAIORIA DE VOTOS, PARA DEFERIR O
SEU REGISTRO DE CANDIDATURA AO CARGO DE
PREFEITO MUNICIPAL NAS ELEIÇÕES2008.
- O candidato recorrente foi eleito para o cargo de
Prefeito Municipal de Mandaguari nos pleitos realizados
nos anos de 2000 e 2004, sendo que o exercício da
função de Prefeito decorrente das eleições de 2004 deu-
se com amparo em decisão provisória do Tribunal
Regional Eleitoral, que atribuiu efeito suspensivo ao
recurso em sede de Agravo de Instrumento, tendo
permanecido por menos de três meses no cargo até o
julgamento do recurso em seu desfavor.
- Nessa hipótese, não há como se admitir que houve o
exercício pleno do segundo mandato, nem mesmo
continuidade deste segundo mandato, pois a cassação
do registro do candidato efetivada antes mesmo da
diplomação e posse, com a declaração da nulidade dos
votos percebidos, elimina a própria candidatura e a
decisão provisória proferida no Agravo de Instrumento
não serve para outorgar mandato ao candidato.
- Como não houve o exercício de mandato político pelo
candidato recorrente no ano de 2005, afasta-se a
aplicação da regra do art. 14, § 5o da Constituição
Federal que proíbe a reeleição para terceiro mandato
consecutivo." (TRE/PR, RE n° 5521, rei. Des. JESUS
SARRÃO, PSESS - Publicado em Sessão, Data
16/09/2008)
23
"RECURSO ELEITORAL. REGISTRO DE CANDIDATURA.
ELEIÇÕES 2012. CARGO DE PREFEITO.
INELEGIBILIDADE. ART. 14, § 5°, DA CRFB. TERCEIRO
MANDATO. NÃO-CONFIGURAÇÃO. ASCENSÃO AO
CARGO POR FORÇA DE DECISÃO JUDICIAL,
REVOGADA QUATRO DIAS DEPOIS. CARÁTER
PRECÁRIO. PRECEDENTES STF E TSE.
CONHECIMENTO. DESPROVIMENTO." (TRE/MA, RECAN
n° 5373, rei. Des. SÉRGIO MUNIZ, PSESS - Publicado em
Sessão, Data 03/09/2012).
Diante do exposto, forte nos argumentos acima
expendidos, divergindo do parecer da Procuradoria Regional Eleitoral,
VOTO pelo NÃO PROVIMENTO do presente Recurso contra a Expedição do
Diploma.
É como voto, Senhor Presidente.
Recife, 21 de agostq^de 2017^
Júlio Alcino de Oliveira Neto
Desembargador Eleitoral
24
V
PODER JUDICIÁRIO FEDERAL
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE PERNAMBUCO
RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA N2 65-22.2017.6.17.0000
ORIGEM: ÁGUA PRETA/PE
RECORRENTE: ARMANDO ALMEIDA SOUTO
RECORRENTE: PARTIDO HUMANISTA DA SOLIDARIEDADE (PHS)
ADVOGADO: Delmiro Dantas Campos Neto e outro
RECORRIDOS: EDUARDO PASSOS COUTINHO CORRÊA DE OLIVEIRA
RECORRIDOS: ANTÔNIO MARCOS DE MELO FRAGOSO LIMA
ADVOGADO: Paulo Roberto Fernandes Pinto Júnior e outro
RELATOR: Des. Júlio Alcino de Oliveira Neto
REVISOR: José Henrique Coelho Dias da Silva
VOTO
Conforme relatado pelo Eminente Desembargador Júlio Alcino de Oliveira Neto, trata-se de
Recurso contra a Expedição do Diploma do candidato eleito para o cargo de Prefeito, Eduardo Passos Coutinho
Corrêa de Oliveira, e do Vice-prefeito, Antônio Marcos de Melo Fragoso Lima, no qual o recorrente ressalta,
como óbices à expedição dos diplomas da Chapa, a incidência da inelegibilidade prevista no art. 14, § 5^, da
Constituição Federal.
Cabível o Recurso contra Expedição do diploma para análise da questão posta pelo recorrente e
presentesas demaiscondições da ação e pressupostos processuais de existência e validade, passo à apreciação
do mérito deste instrumento.
Alegam os recorrentes que o Prefeito eleito já exerceu a chefia do executivo do Município de Água
Preta nos períodos de 01.01.2009 a 31.12.2012 e 01.01.2013 a 31.08.2013, o que acarretaria sua
inelegibilidade para um terceiro mandato. Esclareceram que, quanto ao segundo período, não obstante tenha
o recorrido logrado o segundo lugar nas eleições, exerceu o mandato em razão do indeferimento do registro de
candidatura do vencedor e posterior decisão liminar proferida no bojo da Ação Cautelar de n^ 71108, vigente
até a data de 31.08.2013, quando o TSE reconheceu a nulidade da eleição, determinando a realização de
eleições suplementares.
Os recorridos defendem a não configuração de terceiro mandato, argumentando ser inadmissível
impora restrição à capacidade eleitoral passiva em face do mero exercício das funções do cargo público eletivo
em caráter precário e temporário.
Percebo que a lide tem como cerne a verificação da natureza sob a qual o recorrido ocupou o
cargo de Prefeito do Município de Água Preta no período entre 01.01.2013 a 31.08.2013, pois a partir daí será
possível a fixação das conseqüências do fato na sua elegibilidade. Para tanto, transcrevo a norma constitucional
de regência:
Art. 14. [...]
§ 5^ OPresidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e
quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um
único período subsequente. (Redação dada pela Emenda Constitucional n? 16, de1997)
Àprimeira leitura, o dispositivo parece ser bastante objetivo: na esfera municipal, aqueles que
tenham substituído ou sucedido o Prefeito durante o mandato só podem ser reeleitos para um único período
subsequente. Ocorre que tal interpretação literal deixa margem a discrepâncias no mundo dos fatos, como o
caso de um vice-prefeito que exerceu a titularidade por poucos dias durante todo o curso do mandato ter sua
capacidade eleitoral passiva restringida. É uma máxima da hermenêutica jurídica que normas restritivas de
-30
A6A
direitos não devem ser interpretadas de forma extensiva, esob esta premissa deve ser interpretado oart. 14/^-'
§5S da Constituição Federal.
A norma constitucional trata das situações de substituição e sucessão do titular do executivo. Tais
institutos se diferenciam justamente pela natureza da assunção da titularidade. A substituição se dá de forma
transitória, temporária, e a sucessão tem caráter definitivo.
Como já dito, no caso sob luzes, o recorrido exerceu o cargo de Prefeito no período entre
01.01.2013 a 31.08.2013, por força de decisão judicial liminar em sede de Ação Cautelar, ainda que não tenha
obtido avitória das urnas. Foi diplomado por força de tal decisão judicial e ocupou o cargo até o momento em
que adecisão perdeu sua executoriedade por tersido reformada pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Clara está a natureza precária e transitória sob a qual exerceu o mandato neste período de oito
meses. Não tão clara, no entanto, está a sua adequação às classes previstas no texto normativo. O candidato
vencedor em momento algum assumiu o cargo para ser posteriormente substituído (temporariamente) ou
sucedido (em caráter definitivo) pelo ora recorrido. Não se trata, tampouco, do que a doutrina denomina
"mandato tampão'', que ocorre quando há necessidade de complementação do período do mandato por outro
legitimado. Na verdade, o caso dos autos não seadéqua completamente às citadas situações, pois se trata de
assunção do cargo, desde o início do mandato, de forma provisória e precária.
Ademais, analisando a situação sob ângulo diverso, tenho que se faz necessário perquirir a mens
legis da citada norma. Ébem verdade que o constituinte derivado, ao editar a EC n9 16/97, quebrou uma
tradição perpetuada nas Constituições Brasileiras desde a primeira Constituição Republicana, de 1891: a
impossibilidade de o ocupante de mandato eletivo concorrer à reeleição. No entanto, mesmo prevendo tal
possibilidade, restringiu seus efeitos a um único período subsequente, ainda inspirado na idéia de rotatividade
no poder e impossibilidade de perpetuação no comando do executivo, corolários do próprio Princípio
Republicano.
Voltando-me ao casoconcreto, é de se reconhecer que o fato de ter o recorrido ocupado a chefia
do executivo municipal pelo período de oito meses do primeiro ano do quadriênio (2013/2016) deve ser
ponderado. Primeiramente tenho que a ocupação temporária não se deu por período relevante, com potencial
para influenciar no pleito.
A falta de efetividade e definitividade no exercício do cargo lhe extrai a capacidade de utilização
da máquina pública com vistas a induzir o eleitorado. Ademais, o recorrido deixou a prefeitura em 31.08.2013,
aproximadamente três anos antes das eleições municipais de 2016, nas quais se sagrou vencedor. Com isso,
não houve a possibilidade de utilização da máquina pública e se configurou aefetiva alternância no poder,
especialmente tendo em consideração que o Prefeito eleito nas eleições suplementares foi justamente o seu
adversário, que havia tido o registro indeferido.
Éassente na jurisprudência a utilização do referencial dos últimos 06 meses de mandato, ao
analisar aelegibilidade de vice-prefeito que substituiu o titular. Assim, o vice-prefeito que compõe chapa duas
vezes vitoriosa poderá candidatar-se ao cargo de prefeito nas eleições seguintes, desde que não tenha
substituído o titular nos seis meses anteriores à eleição. Perfeitamente aplicável ao presente caso tal linha de
raciocínio, uma vez que com isso é possível garantir a alternância do poder e que o pretenso candidato não
utilizará da máquina pública para influenciar o pleito.
Dito isso, da inteligência do art. 14, §52 da CF e considerando o caso concreto, concluo que a
situação sobre a qual se debruça o judiciário não se encaixa plenamente nas hipóteses do texto da norma,
tendo natureza temporária e precária. Concluo ainda que, em face do curto período em que ocupou o cargo,
no primeiro ano do mandato, foi respeitada a mens legis constitucional, configurando-se a alternância do
podere, com isso, respeitado o Princípio Republicano.
Tal conclusão, no entanto, pode ser vista como contrária às respostas dadas pelo Tribunal Superior
Eleitoral às Consultas ns 1583, ns 11726, 23854 e 28210. Nelas, oTSE concluiu, em síntese, que aassunção da
chefia do Poder Executivo, por qualquer fração de tempo ou circunstância, configura exercício de mandato.^
eletivo eotitular só poderá se reeleger por um único período subsequente. /l(^-
Ocorre que as consultas analisam situações em tese, são genéricas e traçam apenas uma
orientação acerca do entendimento da corte superior eleitoral. São desprovidas de caráter vinculativo e, mais
importante, não consideram as características do caso concreto.
Além disso, as consultas acima referidas trataram, na verdade, de situações nas quais o candidato
havia ocupado o cargo eletivo com caráter de definitividade, diferentemente do caso em tela. Com relação à
Consulta n^ 1583, ressalto, o entendimento restou demasiado genérico, com as expressões "seja qual for a
circunstância" e "por qualquer lapso temporal que ocorra". Tal interpretação está na contramão da regra de
hermenêutica segundo a qual as causas de inelegibilidade são de legalidade estrita, ou seja, devem ser
interpretadas restritivamente.
Não obstante o entendimento esposado nas consultas acima referenciadas, o STF e o TSE têm
ponderado e rejeitado interpretação rígida da norma, quando apreciando caso concreto que não se encaixe
perfeitamente no tipo previsto. Assim, tem-se delineado jurisprudência diferenciada para aqueles que foram
precária e temporariamente investidos no cargo de Prefeito, por força de decisão judicial posteriormente
revogada.
Tal entendimento alinha-se como que foi até agora argumentado. Ilustro:
RECURSO ELEITORAL REGISTRO DE CANDIDATURA. ELEIÇÕES 2016. INELEGIBILIDADE. REELEIÇÃO.
TERCEIRO MANDATO. NÃO CONFIGURAÇÃO. ASCENSÃO AO CARGO POR FORÇA DE DECISÃO
JUDICIAL PROVISÓRIA E PRECARIAMENTE PELO PERÍODO DE QUARENTA ESETE DIAS. RECURSO
DESPROVIDO. REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIDO. 1. O fato de ter assumido,
temporariamente, o cargo de prefeito por apenas47 (quarenta e sete) dias, no primeiro ano do
quadriênio 2009/2012, por determinação judicial, e, posteriormente, ter sido eleito em 2012
para o mesmo cargo não impede o atual postulante de disputar a eleição majoritária municipal
de 2016, tentando a sua reeleição, sem que isso caracterize como terceiro mandato, eis que não
há ofensa ao § 5^,do art. 14 da Constituição da República. 2. Recurso desprovido.
(TRE-PA - RE: 6062SÃO DOMINGOS DO CAPIM - PA, Relator: LUCYANA SAID DAIBES PEREIRA, Data
deJulgamento: 20/09/2016, Datade Publicação: PSESS - Publicado em Sessão, Data20/09/2016)
ELEIÇÕES 2016. RECURSO ELEITORAL. REGISTRO DE CANDIDATURA. PREFEITO. INELEGIBILIDADE.
TERCEIRO MANDATO. NÃO-CONFIGURAÇÃO. CARÁTER TEMPORÁRIO. DEFERIMENTO DO REGISTRO
DE CANDIDATURA. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. DESPROVIMENTO DO RECURSO. 01. A ascensão
ao cargo de Prefeito Municipal por força de decisão judicial, reformada 04 dias depois, não
caracteriza exercício de mandato eletivo apta a atrair a inelegibilidade prevista na CF, art. 14, p.
5S notadamente quando o exercício ocorre antes dos 6 meses que antecedem a eleição. 02.
Deferimento do registro de candidatura. Manutenção da sentença. 03. Conhecimento e
desprovimento do recurso.
(TRE-MA - RE: 14887JOÃO LISBOA - MA, Relator: RICARDO FELIPE RODRIGUES MACIEIRA, Data de
Julgamento: 30/09/2016, Data de Publicação: PSESS - Publicado emSessão, Data 30/09/2016)
ELEIÇÕES 2012. PREFEITO. TERCEIRO MANDATO. NÃO-CONFIGURAÇÃO. REGISTRO DE
CANDIDATURA. DEFERIMENTO. 1. Recurso interposto contra sentença que indeferiu o pedido de
candidatura ao cargo de Prefeito, emface do disposto no art. 14, § 5^, da CF. 2. Com relação às
eleições de 2008, tendoem contaque o registro do candidato sequerfoi deferido e considerando o
fato de queele exerceu o cargo de Prefeito temporariamente (por apenas 08 dias), em face de
decisão que foi revogadapelo Tribunal Superior Eleitoral, o pedido de registro aquiformulado
há de ser deferido (Mutatis mutandis, são os seguintes precedentes do TSE: AgR-Respe 34560/MA
e Respe 31043/MG) 3. Recurso provido.
(TRE-PE - RE: 10223 PE, Relator: LUIZ ALBERTO GURGEL DE FARIA, Data de Julgamento:
23/08/2012)
Desta feita, entendo não ser legítima a restrição à capacidade eleitoral passiva do recorrido, sob
•*q
pena de se estar a interpretar extensivamente norma restritiva de direitos, alinhando-me à jurisprudência^
casuística aqui transcrita, e não ao direcionamento genérico expresso nas respostas às consultas. J^
Ante o exposto, voto no sentido de NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DO
DIPLOMA da chapa majoritária ora recorrida.
Recife, 21 de agosto de 2017.

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