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43-0 Poder Judiciário TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE PERNAMBUCO ACÓRDÃO RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA n° 65-22.2017.6.17.0000 -Classe 29a Recorrente(s)s: ARMANDO ALMEIDA SOUTO Advogados: RIVADAVIA BRAYNER CASTRO RANGEL, MARIA STEPHANY DOS SANTOS, DELMIRO DANTAS CAMPOS NETO E ANDRÉ LUIZ LINS DE CARVALHO Recorrente(s)s: PARTIDO HUMANISTA DA SOLIDARIEDADE (PHS) - MUNICIPAL Advogados: RIVADAVIA BRAYNER CASTRO RANGEL, MARIA STEPHANY DOS SANTOS, DELMIRO DANTAS CAMPOS NETO E ANDRÉ LUIZ LINS DE CARVALHO Recorrido(s)s: EDUARDO PASSOS COUTINHO CORRÊA DE OLIVEIRA Advogado: PAULO ROBERTO FERNANDES PINTO JÚNIOR Recorrido(s)s: ANTÔNIO MARCOS DE MELO FRAGOSO LIMA Advogados: PAULO ROBERTO FERNANDES PINTO JÚNIOR EMICAELA DE MELO FERREIRA ELEIÇÕES TERCEIRO RECURSO. 1. A presente hipótese propôs que seja declarada causa de impedimento funcional, de natureza constitucional, decorrente do reconhecimento do exercício de suposto terceiro mandato consecutivo, na Chefia do Executivo Municipal, pelo candidato eleito, ora recorrido. 2. O recorrido atuou como mero gestor temporário, instrumental, substituindo o candidato eleito, enquanto o Tribunal Superior não solucionava a questão da validade do registro de candidatura deste último e, por conseguinte, a aplicação do art. 224 do CE (anulação das eleições). 3. As peculiaridades do caso (assunção precária no primeiro ano do quadriênio, havendo posterior alternância fática de poder) não autorizam a aplicação das severas conseqüências de uma interpretação excessivamente formal, literal e apriorística da norma constitucional e dos fins republicanos que se pretendem preservar. 4. Não provimento do recurso. 2016. RECURSO MANDATO. NÃO CONTRA EXPEDIÇÃO DO DIPLOMA. OCORRÊNCIA. DESPROVIMENTO DO Sob a presidência do Excelentíssimo Desembargador LUIZ CARLOS DE BARROS FIGUEIREDO, ACORDAM os membros do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco, por maioria, em NEGAR PROVIMENTO ao recurso, nos termos do votodo Relator. ?Gife^PE, 21 de agosto de 2017. DESEMBARGADOR ELEITORAL JÚLIO ALCINO DE OLIVEIRA NETO - RELATOR JUSTIÇA FEDERAL TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE PERNAMBUCO 434 RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA N.° 65-22.2017.6.17.0000 RECORRENTE(S): ARMANDO ALMEIDA SOUTO, candidato ao cargo de Prefeito ADVOGADO: Delmiro Dantas Campos Neto e outros RECORRENTE(S): PARTIDO HUMANISTA DA SOLIDARIEDADE (PHS) - MUNICIPAL ADVOGADO: Delmiro Dantas Campos Neto e outros RECORRIDO(S): EDUARDO PASSOS COUTINHO CORRÊA DE OLIVEIRA, Prefeito eleito ADVOGADO: Paulo Roberto Fernandes Pinto Júnior RECORRIDO(S): ANTÔNIO MARCOS DE MELO FRAGOSO LIMA, Vice-Prefeito eleito ADVOGADO: Paulo Roberto Fernandes Pinto Júnior e outro RELATOR: DESEMBARGADOR ELEITORAL JÚLIO ALCINO DE OLIVEIRA NETO RELATÓRIO Trata-se de RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DE *ò4. DIPLOMA manejado por ARMANDO ALMEIDA SOUTO, candidato não ^^ eleito à Prefeitura de Água Preta e pelo PARTIDO HUMANISTA DA SOLIDARIEDADE (PHS) - MUNICIPAL, em desfavor de EDUARDO PASSOS COUTINHO CORRÊA DE OLIVEIRA e ANTÔNIO MARCOS DE MELO FRAGOSO LIMA, respectivamente, prefeito e vice-prefeito eleitos, pelas razões de fato e de direito que adiante se seguem. Afirmam os autores que o diploma outorgado ao primeiro recorrido, EDUARDO PASSOS COUTINHO CORRÊA DE OLIVEIRA, deve ser cassado, em razão da existência de suposta inelegibilidade que pesa sobre o candidato eleito, prevista no art. 14, § 501, da Constituição Federal. Narra a inicial que EDUARDO PASSOS COUTINHO CORRÊA DE OLIVEIRA exerceu a chefia do Poder Executivo de Água Preta no período de 2009 a 2012 (1o mandato). Em 07/10/2012, o recorrido disputou a reeleição, tendo ficado em segundo lugar. Ocorre que o primeiro lugar nas eleições de 2012, Armando Almeida Souto, teve seu registro de candidatura indeferido, com trânsito em julgado perante o TSE, razão pela qual, tendo obtido a maioria dos votos válidos, o Juiz Eleitoral de Água Preta declarou as 'Art. 14. [...] § 5o O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subseqüente. (Redação dada pela Emenda Constitucional n° 16, de 1997) 2 eleições nulas e determinou a realização de eleições suplementares/^ com fulcro no art. 224 do Código Eleitoral. Ato contínuo, EDUARDO PASSOS COUTINHO CORRÊA DE OLIVEIRA, ora recorrido, ingressou com medida cautelar pleiteando sua diplomação e posse, sob o argumento de que as eleições não teriam sido nulas. O pedido foi atendido, à época, por esta Corte, que primeiramente deferiu a liminar requerida, determinando a diplomação e posse do ora recorrido. Posteriormente, no mérito, este Tribunal deu provimento ao recurso, considerando o argumento de que a eleição não teria sido nula. Em cumprimento à cautelar deferida pelo TRE/PE, o ora recorrido, EDUARDO PASSOS COUTINHO CORRÊA DE OLIVEIRA, assumiu o exercício do cargo de Prefeito do Município de Água Preta de 01/01/2013 a 31/08/2013 (primeiro ano do mandato 2013/2016). No entanto, o TSE deu provimento ao recurso especial interposto pelo então candidato adversário, Armando Almeida Souto, para fins de reconhecer a nulidade da eleição, determinando a realização de eleições suplementares. Realizada a eleição suplementar, na qual concorreram os mesmos candidatos, restou vencedor o adversário do ora recorrido, Armando Almeida Souto, que assumiu o mandato até o final de 2016. Nas eleições de 2016, EDUARDO PASSOS^ COUTINHO CORRÊA DE OLIVEIRA sagrou-se vencedor em eleição J^ novamente disputada contra o candidato Armando Almeida Souto. Em face dos períodos em que o recorrido assumiu a Chefia do Executivo Municipal de Água Preta, entendem os autores da presente ação que o candidato eleito, EDUARDO PASSOS COUTINHO CORRÊA DE OLIVEIRA, está exercendo um terceiro mandato consecutivo, em afronta direta ao mencionado art. 14, § 5o, da Constituição Federal. Com base nesses argumentos, requerem os autores que seja conhecido e provido o presente Recurso contra a Expedição de Diploma, nos termos do art. 262 do Código Eleitoral, para o fim de cassar o diploma outorgado aos recorridos EDUARDO PASSOS COUTINHO CORRÊA DE OLIVEIRA e ANTÔNIO MARCOS DE MELO FRAGOSO LIMA e, por conseqüência, os correspondentes mandatos de prefeito e vice-prefeito, respectivamente. Em suas defesas, EDUARDO PASSOS COUTINHO CORRÊA DE OLIVEIRA e ANTÔNIO MARCOS DE MELO FRAGOSO LIMA sustentam a improcedência da demanda, em razão da não configuração do terceiro mandato sucessivo, não havendo violação ao art. 14, § 5o, da Constituição Federal. Aduzem os recorridos que a assunção ao cargo do 1o recorrido se deu sem caráter de definitividade (sucessão), possuindo, na verdade, forma provisória e precária, em razão de decisão judicial sujeita à reforma (segundo lugar nas eleições). . Outrossim, defendem que a assunção à chefia do435 Poder Executivo por força de uma decisão cautelar (cujo caráter é J®~ provisório e precário) equipara-se à hipótese constitucional de substituição, conforme tem reiteradamente reconhecido o TSE. Instada a se manifestar, a Procuradoria Regional Eleitoral opinou pelo provimento do recurso, em razão da configuração do terceiro mandato, consoante preconizam as Consultas n.° 28.210 e 117-26 do TSE. É o relatório. À revisão. Recife,.05 de julho de 2017. Júlio Alcino de Oliveira Neto Desembargador Eleitoral AÒG JUSTIÇA FEDERAL TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE PERNAMBUCO RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA N.° 65-22.2017.6.17.0000 RECORRENTE(S): ARMANDO ALMEIDA SOUTO, candidato ao cargo de Prefeito ADVOGADO: Delmiro Dantas Campos Neto e outros RECORRENTE(S): PARTIDO HUMANISTA DA SOLIDARIEDADE (PHS) - MUNICIPAL ADVOGADO: Delmiro Dantas Campos Neto e outros RECORRIDO(S): EDUARDO PASSOS COUTINHO CORRÊA DE OLIVEIRA, Prefeito eleito ADVOGADO: Paulo Roberto Fernandes Pinto Júnior RECORRIDO(S): ANTÔNIO MARCOS DE MELO FRAGOSO LIMA, Vice-Prefeito eleitoADVOGADO: Paulo Roberto Fernandes Pinto Júnior e outro RELATOR: DESEMBARGADOR ELEITORAL JÚLIO ALCINO DE OLIVEIRA NETO VOTO A presente demanda propõe que seja declarada causa de impedimento funcional, de natureza constitucional, decorrente do reconhecimento do exercício de suposto terceiro mandato consecutivo, na Chefia do Executivo Municipal de Água Preta, pelo candidato eleito, EDUARDO PASSOS COUTINHO CORRÊA DE OLIVEIRA, ora recorrido. Em breve síntese fática, foi visto que o recorrido assumiuio a Prefeitura de Água Preta nos seguintes períodos: - 1o período: quadriênio de 2009 a 2012, na condição de prefeito eleito; - 2o período: de 01/01/2013 a 31/08/2013 (primeiro ano do mandato 2013/2016), sob liminar, posteriormente cassada pelo TSE; - 3o período: mandato atual (2017 a 2020), na condição de candidato eleito. Nesse diapasão, constata-se que o mandato que englobou o quadriênio de 2013 a 2016 foi fragmentado em 2 partes: a exercida pelo recorrido, EDUARDO PASSOS COUTINHO CORRÊA DE OLIVEIRA, mediante deferimento de liminar expedida por este sodalício e a segunda parte, composta pelo mandato-tampão, exercido pelo candidato eleito em pleito suplementar, Armando Almeida Souto, após anulação das Eleições de 2012 pelo TSE. Por considerarem o período de 01/01/2013 a 31/08/2013 como tempo de efetivo exercício de mandato, entendem os recorrentes que o recorrido, EDUARDO PASSOS COUTINHO CORRÊA DE OLIVEIRA, não poderia exercer o último mandato para o qual foi eleito, iniciado em 1°/01/2017. Pedem, portanto, que seja reconhecida a inelegibilidade constitucional proposta e cassado o respectivo diploma expedido. Como de praxe, para facilitar o entendimento da matéria e o seu julgamento, será realizada a análise dos aspectos relevantes desta demanda em capítulos próprios apartados. 439 1. DA ADMISSIBILIDADE DA DEMANDA O presente recurso {rectius: ação) é regulado pelo art. 262 (com redação dada pelo art. 1o da Lei n° 12.891/2013) - com nossos destaques: Art. 262. O recurso contra expedição de diploma caberá somente nos casos de inelegibilidade superveniente ou de natureza constitucional e de falta de condição de elegibilidade. Por sua vez, a Carta Magna traz hipótese de impedimento funcional para assunção de um terceiro mandato consecutivo. É o que se pode extrair, a contrario sensu, do seu art. 14, § 5o - também com nossos destaques: Art. 14. § 5o O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subseqüente. Dessa forma, cotejando-se os dispositivos acima transcritos, verifica-se que - em tese - há "cabimento" do presente Recurso contra Expedição de Diploma, aferindo-se a causa in status assertionis. De outro modo, também não se verifica qualquer obstáculo formal à instauração do processo e ao prosseguimento da ação: o \JfC juízo é competente, há legitimidade de ambas as partes (inclusive com formação de litisconsórcio passivo necessário entre prefeito e vice), bem como obediência ao prazo decadencial de 3 (três) dias (contados da sessão de diplomação). Verificados os aspectos meramente formais, as demais condições da ação e os pressupostos processuais de existência e validade (objetivos e subjetivos), não enxergo óbice à análise meritória do RCED sub examine. É o que passo a fazer. 2. DO MÉRITO 2.1. AUSÊNCIA DE TERCEIRO MANDATO: PRECARIEDADE DA ASSUNÇÃO DO CARGO NO QUADRIÊNIO DE 2013/2016 - EXERCÍCIO MEDIANTE LIMINAR NO PRIMEIRO ANO DO MANDATO Antes de ingressar no tema, é importante lembrar que as normas que regulamentam o sistema das inelegibilidades, por carregarem verdadeiros impedimentos ao exercício da capacidade eleitoral passiva do cidadão, devem ser interpretadas de forma estrita e em harmonia com os demais princípios constitucionais, como a soberania do voto, proporcionalidade e razoabilidade e segurança jurídica. Outrossim, diga-se, também, que o que se pretende tutelar e garantir, com a proibição do exercício de um terceiro mandato sucessivo, é a alternância do poder, inerente ao Princípio Republicano (já afetado pelo instituto da reeleição), protegendo-se ainda o eleitorado de eventual abuso de poder político, por meio do uso da máquina pública. Fixadas essas premissas, passo a analisar a ocorrênciavT^L de um suposto terceiro mandato, considerando as peculiaridades ocorridas no quadriênio de 2013/2016. Pois bem. Além de outros argumentos, os demandantes trouxeram à lume algumas respostas a Consultas dirigidas ao TSE1, no sentido de que "a assunção da chefia do Poder Executivo, por qualquer fração de tempo ou circunstância, configura exercício de mandato eletivo e o titular só poderá se reeleger por um único período subsequente". Ocorre que referidas respostas às consultas, além de demasiadamente genéricas e não vinculantes, não esclareceram a situação daqueles que assumiram o Executivo antes dos seis meses anteriores ao pleito subsequente (vedação à CONTINUIDADE DE PERÍODOS - art. 14, § 5o, da CF), hipótese tratada de forma absolutamente diversa por remansosa jurisprudência do TSE. Dessa forma, deve-se atentar que o STF e o próprio TSE vem adequando o entendimento conforme a situação fática concreta, levando em consideração as características da assunção ao cargo, como a precariedade do exercício e o período de assunção (antes ou durante os seis meses finais do quadriênio). Portanto, não há aplicação simplória e apriorística da exegese extraída das respostas às consultas acima, como quer fazer crer o recorrente. Visto isso, temos que o art. 14, § 5o, da CF, regulamenta duas hipóteses distintas de reeleição para um único período subsequente: a primeira, relativa ao agente titular do mandato; a segunda, atinente ao sucessor ou ao substituto. 1 Consulta n.° 1538/DF de 05/05/2009 e Consulta n.° 17/11/2015. Sobre a assunção ao poder de titulares eleitos^e respectivos sucessores, não há muito o que se discutir. Dado o caráter de permanência e definitividade (relativas ao período) do exercício do poder eleito, a preocupação do constituinte derivado reformador foi a de tolerar continuidade de gestão por apenas mais um mandato. A flexibilização do subprincípio da alternância do poder limitou-se a apenas mais um período consecutivo. Caso o Chefe do Executivo queira disputar novas eleições, deve aguardar a passagem de um mandato (solução de continuidade do poder) para, após, pleitear nova recondução ao cargo. Houve, com isso, respeito à alternância de poder, tendo em vista a interrupção do seu exercício pelo agente. Já em relação aos substitutos, a interpretação é diversa. Tanto o STF, quanto o TSE, vem considerando a natureza precária da assunção da Chefia do Executivo, bem como o período de exercício (anterior aos últimos seis meses de mandato). A preocupação, como já dito, reside no perigo do exercício contínuo e permanente do poder, inexistente na assunção precária, bem como no risco de manipulação da máquina pública em proveito próprio, fragilizado quando há cessação do exercício antes dos 6 meses do fim do quadriênio (ou seja, sem que haja períodos contínuos). Cito os seguintes precedentes (com nossos destaques): AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO ELEITORAL. 1. SUBSTITUIÇÃO DE PREFEITO CASSADO POR DETERMINAÇÃO JUDICIAL. CARÁTER TRANSITÓRIO. NÃO INCIDÊNCIA DO IMPEDIMENTO DO ART. 14, § 5o, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. PRECEDENTES. 2. REPERCUSSÃO GERAL DA QUESTÃO CONSTITUCIONAL. DESNECESSIDADE DE EXAME. ART. 323, PRIMEIRA PARTE, DO REGIMENTO INTERNO DO '̂'' SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO AO QUAL SE NEGASEGUIMENTO. (STF - Processo Al 782434 MA - Julgamento em 8 de Fevereiro de 2010 - Relatora Min. CÁRMEN LÚCIA) "[...]. Eleições 2012. Prefeito Registro de candidatura. Inelegibilidade. Art. 14, § 5o, da Constituição Federal. Terceiro mandato consecutivo. Não configuração. [...]. 1. Consoante o disposto no art.14, § 5o, da CF/88 e o entendimento do TSE e do STF acerca da matéria, eventual substituição do chefe do Poder Executivo pelo respectivo vice ocorrida no curso do mandato e fora do período de seis meses anteriores ao pleito não configura o desempenho de mandato autônomo do cargo de prefeito. 2. Na espécie, o agravado exerceu o cargo de vice-prefeito do Município de Guanambi/BA no interstício 2004-2008 - tendo substituído o então chefe do Poder Executivo em diversas oportunidades, porém fora do período de seis meses anteriores ao pleito - e foi reeleito nas Eleições 2008, vindo a suceder o prefeito em 1o.4.2012. Assim, não há óbice à sua candidatura ao cargo de prefeito nas Eleições 2012. [...]' NE: Trecho do voto da relatora: 'ADEMAIS, NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 366.488-3, O STF REALIZOU A DISTINÇÃO ENTRE SUBSTITUIÇÃO E SUCESSÃO, TERMOS PREVISTOS NO ART. 14, § 5 1 , DA CF/88 E DEFINIU QUE SÓ SE CONSTITUI MANDATO AUTÔNOMO POR MEIO DE ELEIÇÃO OU SUCESSÃO. A SUBSTITUIÇÃO NÃO TEM ESSE CONDÃO.'" (Ac. de 11.12.2012 no AgR-REspe n° 7055, rei. Min. Nancy Andrighi.) "ELEIÇÕES 2008. Agravo regimental no recurso especial.^ Registro de candidatura ao cargo de prefeito. Inelegibilidade. Art. 14, § 5o, da Constituição Federal. Terceiro mandato. Não-configuração. Ascensão ao cargo por força de decisão judicial, revogada três dias depois. Caráter temporário. Precedentes. Agravos regimentais desprovidos, mantendo-se o deferimento do registro." (TSE, REspe n° 34560/MA, rei. Min. Joaquim Benedito Barbosa Gomes, pub. no DJe de 18/02/2009) ELEIÇÕES 2016. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. DEFERIMENTO DE REGISTRO DE CANDIDATURA PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. PREFEITO ELEITO. INELEGIBILIDADE DO § 5o DO ART. 14 DA CF. TERCEIRO MANDATO. NÃO CONFIGURA EXERCÍCIO EFETIVO DE MANDATO PARA EFEITO DE REELEIÇÃO A EVENTUAL SUBSTITUIÇÃO DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO MUNICIPAL PELO PRESIDENTE DA CÂMARA DE VEREADORES, EM CASO DE DUPLA VACÂNCIA, FORA DO PERÍODO VEDADO DE 6 MESES ANTERIORES À ELEIÇÃO. DECISÃO REGIONAL EM CONSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. AUSÊNCIA DE ARGUMENTOS HÁBEIS PARA MODIFICAR A DECISÃO AGRAVADA. AGRAVOS REGIMENTAIS DESPROVIDOS. 1. O ex-Presidente da Câmara de Vereadores que assumiu interinamente a chefia do Poder Executivo no período de 10.8.2011 a 29.3.2012, em decorrência da cassação da chapa eleita. Após, na legislatura 2013-2016, elegeu-se Vice-Prefeito, vindo a tomar posse definitiva como Prefeito em 1o.4.2013, após a renúncia da Prefeita eleita. Hipótese que não se ajusta ao exercício 4M4 consecutivo de dois mandatos. Possibilidade de concorrer à reeleição em 2016 para a legislatura 2017-2020. 2. O acórdão recorrido está em consonância com o entendimento do TSE quanto a não estar configurado efetivo exercício do mandato, para fins de aplicação do § 5o do art. 14 da CF, a assunção do cargo de Prefeito, interinamente, pelo Presidente da Câmara de Vereadores, em hipótese de dupla vacância, FORA DO PERÍODO VEDADO DE ATÉ 6 MESES ANTES DO NOVO PLEITO (REspe 109-75/MG, Redator para o acórdão Min. GILMAR MENDES, publicado na sessão de 14.12.2016). 3. Agravos Regimentais aos quais se nega provimento." (TSE, REspe n° 25721/BA, rei. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, pub. no DJe de 16/05/2017, p. 96). ELEIÇÕES 2012. REGISTRO. PREFEITO. INELEGIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL. REELEIÇÃO O pai do candidato não foi eleito em 2004. Em razão de decisões judiciais, assumiu a Prefeitura, por poucos dias e de forma precária no início de 2008. O filho foi eleito em 2008 e requereu o registro de candidatura para disputar a reeleição em 2012. Os fatos definidos no acórdão regional não permitem concluir pela efetividade e definitividade no exercício do cargo de Prefeito pelo pai do candidato. Agravo regimental provido, para restabelecer o registro de candidatura." (TSE, AgR-REspe n° 8350/PB, rei. Min. HENRIQUE NEVES DA SILVA, pub. no DJe de 25/04/2013) Neste eg. Sodalício temos precedente interessante, que se aproxima do caso dos autos (não havendo aplicação das interpretações propostas na presente demanda): 4U5 ELEIÇÕES 2012. PREFEITO. TERCEIRO MANDATO. NÃO-CONFIGURAÇÃO. REGISTRO DE CANDIDATURA. DEFERIMENTO. 1. Recurso interposto contra sentença que indeferiu o pedido de candidatura ao cargo de Prefeito, em face do disposto no art. 14, § 5o, da CF. 2. Com relação às eleições de 2008, tendo em conta que o registro do candidato sequer foi deferido e considerando o fato de que ele exerceu o cargo de Prefeito temporariamente (por apenas 08 dias), em face de decisão que foi revogada pelo Tribunal Superior Eleitoral, o pedido de registro aqui formulado há de ser deferido (Mutatis mutandis, são os seguintes precedentes do TSE: AgR-Respe 34560/MA e Respe 31043/MG). 3. Recurso provido. (TRE/PE, RE n° 10223, rei. Des. LUIZ ALBERTO GURGEL DE FARIA, PSESS - Publicado em Sessão, Data 23/8/2012) A hipótese dos autos guarda similitude com os precedentes acima citados. Vejamos: 1) Houve, em 2013, ASSUNÇÃO PRECÁRIA à Chefia do Executivo Municipal por parte do recorrido, CANDIDATO NÃO ELEITO, ALÇADO À PREFEITURA POR DETERMINAÇÃO JUDICIAL CAUTELAR, enquanto se aguardava a decisão do TSE sobre a anulação das Eleições de 2012; 10 2) O exercício (temporário) do cargo se deu no primeiro fe ano do referido quadriênio (em 2013), quando cassada a liminar que o mantinha precariamente no cargo, ou seja, ANTES DO PERÍODO CRÍTICO (6 MESES ANTES DO PLEITO DE 2016). Em outras palavras, houve efetiva interrupção do exercício do mandato (como mero substituto), não havendo continuidade em "períodos subsequentes", como expressa o enunciado normativo constitucional. Ora, a assunção ao cargo pelo recorrido jamais teve o condão de ser permanente. Havia notória precariedade do exercício, até se decidir sobre a renovação daquelas eleições de 2012. Em outras palavras, de fato, o recorrido atuou como mero gestor temporário, instrumental, substituindo o candidato eleito, enquanto o Tribunal Superior não solucionava a questão da validade do registro de candidatura deste último e, por conseguinte, a aplicação do art. 224 do CE (anulação das eleições). Além disso, o recorrido somente assumiu a Chefia do Executivo Municipal no primeiro ano do quadriênio, sendo sucedido, de fato e de direito, pelo vencedor das Eleições Suplementares, Armando Almeida Souto. Entendo, portanto, que as peculiaridades do caso (assunção precária no primeiro ano do quadriênio, havendo posterior alternância fática de poder) não autorizam a aplicação das severas conseqüências de uma interpretação excessivamente formal, literal e apriorística da norma constitucional e dos fins republicanos que se pretendem preservar. 11 4W 2.2. QUEBRA DE CONTINUIDADE DO EXERCÍCIO DO MANDATO: J^ INEXISTÊNCIA DE RISCO AO PRINCÍPIO REPUBLICANO (ALTERNÂNCIA DO PODER) Apenas para ilustrar o raciocínio que será trilhado neste capítulo do voto, peço vênia para novamente transcrever a hipótese de inelegibilidade constitucional posta à baila nestes autos: Art. 14. § 5o O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subseqüente. Como já dito, a interpretação das normas relativas às inelegibilidades, enquanto limitadoras de direito, deve ser estrita, ou seja, não devem resultar em comandos normativos que desbordem ou extravasem do significado extraído do conteúdo semântico posto nos respectivos enunciados, a ponto de abranger situações não previstas ou não desejadas pelo legislador constituinte. Nesse diapasão, temos que o mandato político pode ser consubstanciado no poder de representação para o exercício de atividades governamentais e legislativas, por tempo determinado, que os agentes políticos recebem por meio de eleições populares. O mandato político, portanto, não pode ser limitadamente conceituado apenassob o aspecto da periodicidade. Por outro lado, a norma também trata de "período subsequente", ou seja, preocupa-se com a continuidade ou permanência do poder, mesmo que seja esse advindo da mencionada escolha feita pelo povo. 12 4W Visto isso, levando em conta a realidade dos fatos, a finalidade da norma e abstraindo-se qualquer interpretação acadêmica proveniente de ficção jurídica, na hipótese dos autos, durante o quadriênio de 2013/2016, o Município de Água Preta contou com DOIS MANDATÁRIOS, havendo solução efetiva da continuidade da primeira gestão (não houve períodos subsequentes de poder), sucedida pelo candidato eleito em pleito suplementar. Ora, eventual ficção jurídica proveniente de interpretação extensiva e gravosa da norma constitucional, além de não ser útil à finalidade protetiva do dispositivo, não é apta a superar a realidade das mudanças ocorridas na concreta alternância de poder (havendo efetiva quebra na continuidade do exercício do primeiro mandatário, ora recorrido). As circunstâncias fáticas devem ser levadas em consideração, sob pena de se extirpar, de forma precipitada, o mandato de um agente democraticamente eleito pelo povo do Município de Água Preta. Sob outro viés, também relativo ao objeto da norma constitucional, cito abaixo ementa de importante julgado, que pontua necessárias distinções sobre mandato válido, condição de eleito, perda, cassação e ato de renúncia, relevantes para a correta subsunção da norma do art. 14, § 5o da CF: CONSTITUCIONAL. ELEITORAL. IMPUGNAÇÃO A REGISTRO DE CANDIDATO. REELEIÇÃO A TERCEIRO MANDATO. RECONTAGEM DE VOTOS. CANDIDATO NÃO ELEITO. I - Não conflita com a norma constitucional inserta no art. 14, § 5o o acatamento de registro de candidato que, em decorrência de recontagem de votos posterior ao primeiro resultado do pleito eleitoral, foi considerado não eleito para o cargo de Prefeito Municipal. 13 W JLII- A perda superveniente do mandato decorrente da recontagem de votos, que retira do candidato a condição de eleito, não se confunde com a perda ou cassação, nem com ato de renúncia, que pressupõe a existência de mandato válido. III- Recurso conhecido e provido. (TRE/MA, RE n° 3190/M, Acórdão n° 5859 de 02/09/2004, rei. Juiz JORGE RACHID MALUF) Transcrevo os seguintes trechos do voto condutor do referido acórdão, que bem esclarecem os argumentos aqui postos: "Como visto do relatório, o cerne da questão está em se avaliar se o período compreendido entre os anos de 1997 e 1999, quando o impugnado esteve à frente do Executivo Municipal, pode ser computado como um mandato, para fins aplicação da regra constante do art. 14, §5° da CF. De início, cabe, então, esclarecer qual o significado da expressão 'mandato' e, ainda, fazer uma distinção teórica entre renúncia, perda ou cassação do mandato e a situação ocorrida com o recorrente, isto porque tais situações têm fundamentos e conseqüências diversas. Pois bem, a expressão 'mandato' é utilizada para expressar o período de tempo para o qual o candidato foi eleito. Segundo o Dicionário Aurélio, mandato é o 'poder político outorgado pelo povo a um cidadão, por meio de voto, para que governe a nação, estado ou município, ou o represente nas respectivas assembléias legislativas'. Para o direito eleitoral, especialmente, as expressões 14 4SO 'período de mandato' e 'mandato' referem-se ao lapso de tempo para o qual o cidadão foi eleito para governar ou exercer funções legislativas. Portanto, em nosso Estado Democrático de Direito para que haja mandato, há que haver sempre outorga do povo, ou seja, eleição. A esse respeito, e interpretando a norma do art. 14, § 5o, colhe-se da própria sentença do juiz eleitoral que 'o dispositivo supra fala em reeleição e para um único período subsequente. Por sua vez, a expressão período, como indicador de fração temporal, em sede de direito eleitoral, há de ser entendido como o intervalo de tempo pelo qual o representante popular encontra-se legitimado (pela respectiva diplomação) a agir, dentro das atribuições a ele conferidas por normas constitucionais e infraconstitucionais, como a longa manus da comunidade. Em síntese, o termo período há de ser tomada nesta seara como sinônimo de mandato eletivo' (fls. 108). Infere-se, desse modo, que quando há 'renúncia' o cidadão foi eleito, porém, por ato unilateral de vontade, desejou não mais exercer o mandato. De outro lado, a cassação/perda do diploma decorre de uma sanção aplicada ao cidadão, que, frise-se, foi validamente eleito para o cargo. Quando há cassação ou perda do diploma existe um mandato, inicialmente válido e outorgado pela vontade popular. EFETIVAMENTE. ASSISTE INTEIRA RAZÃO AO RECORRENTE QUANDO AFIRMA QUE EXERCEU 'PRECARIAMENTE' O EXECUTIVO MUNICIPAL NO PERÍODO COMPREENDIDO ENTRE OS ANOS DE 1997 E 1999. NÃO PODENDO ESTE LAPSO TEMPORAL SER COMPUTADO COMO UM MANDATO. EIS QUE. 15 í/ft CONSOANTE A RECONTAGEM DE VOTOS REALIZADA/ ELE NÃO FOI CONSIDERADO ELEITO PARA O REFERIDO MANDATO. ORA. O PEDIDO DE RECONTAGEM TORNOU SEM EFEITO A APURAÇÃO ORIGINAL. FULMINANDO O DIPLOMA. Veja-se que a sentença de primeiro grau corretamente assentou que 'no caso em comento o impugnado foi diplomado em janeiro de 1997 (...) prefeito do município de Cândido Mendes; posteriormente, após procedimento de recontagem, especificamente em setembro de 1999 (...), teve invalidado o seu diploma anteriormente outorgado, quando então foi diplomado outro candidato (...) o qual encerrou aquele mandato'. E mais, "em janeiro de 1997 o impugnado foi diplomado prefeito de Cândido Mendes, diploma este que foi desconstituído por decisão judicial (recontagem) em setembro de 1999, quando então, o impugnado afastou-se da prefeitura'. Contudo, o magistrado equivocou-se ao dizer que 'a desconstituição do diploma do impugnado, em setembro de 1999, apenas tirou dele a habilitação para continuar exercendo o mandato até seu final, não importando isto em extirpar do 'mundo real' o tempo de exercício do mandato, anterior a tal decisão, onde o impugnado esteve na plenitude dos poderes próprios dos cargos'. Na realidade, a recontagem dos votos teve como conseqüência o reconhecimento e a declaração de que o ora recorrente não foi eleito e, portanto, não detinha mandato. Laborou também em engano o juiz eleitoral quando estabelece parâmetro entre o presente caso e a 16 'inelegibilidade do candidato que, eleito vice-prefeito em 1996, sucedeu o chefe do executivo em algum período desse mandato (96/2000), elegendo-se prefeito no subsequente (2000) e que está a tentar novamente a eleição para prefeito' - sem grifos no original. Há que se repetir, à exaustão, que é diferente o presente caso porque o ora recorrente não foi eleito para o período de 1997/2000, conforme recontagem de votos realizada, inexistindo 'mandato outorgado pela vontade popular', não se podendo afirmar que, em 2000, concorreu à reeleição e que agora pretende exercer um terceiro mandato. Desse modo e por todo o exposto, dou provimento ao recurso para DEFERIR o pedido de registro da candidatura de JOSÉ HAROLDO FONSECA CARVALHAL ao cargo de Prefeito do Município de Cândido Mendes, sob o número 25." Em suma: como no caso acima, o recorrido não foi eleito (era apenas um mero substituto eventual, derrotado nas urnas, à mercê do resultado do processo referente ao registro de candidatura do vencedor nas urnas). Além disso, no presente caso, o recorrido sequer exerceu poder por período sucessivo (encerrou o exercício por determinação do TSE, após a perda de eficácia da cautelar que o mantinha no cargo). Isto posto, pergunta-se: houve prejuízo à alternância de poder inerente ao Princípio Republicano? Houve risco de uso da máquina pública a favor do recorrido? Absolutamente não, à vista da eleição de adversário político do recorrido, após 8 meses de exercício precário no primeiro ano do quadriênio. 17 AO. 2.3. AUSÊNCIA RELEVÂNCIA SOCIAL E JURÍDICO-ELEITORALPARA A DESCONSTITUIÇAO DO MANDATO: APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE, RAZOABILIDADE, SEGURANÇA JURÍDICA E SOBERANIA DO VOTO Apenas ad argumentandum tantum, proponho à Corte uma rápida reflexão. É cediço que os operadores do Direito têm como objeto de estudo os princípios e as regras jurídicas. A par disso, costumam valer- se de uma lógica abstrata, após debates teóricos, para extração de uma racionalidade do sistema jurídico. Nesse trabalho, não há, contudo, um questionamento sobre a racionalidade política ou econômica ou mesmo social da referida análise, na medida que é considerada metajurídica (na tradição kelseniana). Sequer há estudos empíricos a fim de constatar o impacto real das proposições teóricas extraídas do referido raciocínio jurídico, rotineiramente divorciado da "realidade extrajurídica", muitas vezes em decorrência do apego a questões meramente acadêmicas e excessivamente formais. Em suma, não é incomum a ausência de preocupação com o sacrifício gerado após a resolução das questões judiciais, com eventual "efeito rebote". Pelo contrário: o resultado é extremanente deficitário ou até absolutamente inverso. Há enorme esforço e desgaste material (inclusive financeiro), com parcos resultados sociais, de baixa ou nenhuma vantagem para os destinatários da pretensa resolução pretoriana. 18 Diante disso, à vista dos princípios enumerados no título deste capítulo, considerando o caráter de substituição precária da assunção do cargo em 2013, ocorrida no primeiro ano do mandato e com efetiva interrupção do exercício após assunção do adversário eleito (em eleição suplementar), ante a anulação do pleito de 2012, pergunta-se: a circunstância retratada nestes autos acarreta lesividade suficiente à ordem jurídico-eleitoral a ponto de justificar a cassação do ora recorrido, prefeito eleito democraticamente? Entendo que os custos gerados com eventual eleição suplementar para tentar remediar algo que não representou efetivo prejuízo ao Princípio da Alternância do Poder (porquanto houve, de fato, alternância, após assunção - repita-se - precária), ofende não só a proporcionalidade e a razoabilidade (aplicada in concreto), mas também a segurança jurídica e a soberania do voto popular, na medida que se anula escolha popular hígida, ou seja, que não fora contaminada com eventual captação de sufrágio ou abuso de poder político ou econômico. 3. PRECEDENTES REGIONAIS: Apenas para ilustrar e reforçar o aqui exposto, cito relevantes precedentes dos mais variados Tribunais Regionais Eleitorais (com nossos destaques): RECURSO ELEITORAL. REGISTRO DE CANDIDATURA. ELEIÇÕES 2016. INELEGIBILIDADE. REELEIÇÃO. TERCEIRO MANDATO. NÃO CONFIGURAÇÃO. ASCENSÃO AO CARGO POR FORÇA DE DECISÃO JUDICIAL PROVISÓRIA E PRECARIAMENTE PELO PERÍODO DE QUARENTA E SETE DIAS. RECURSO DESPROVIDO. REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIDO. 1. O fato de ter assumido, temporariamente, o cargo de prefeito por apenas 47 (quarenta e sete) dias, no primeiro 19 4*4 ano do quadriênio 2009/2012, por determinação judicial, e, posteriormente, ter sido eleito em 2012 para o mesmo cargo não impede o atual postulante de disputar a eleição majoritária municipal de 2016, tentando a sua reeleição, sem que isso caracterize como terceiro mandato, eis que não há ofensa ao § 5o, do art. 14 da Constituição da República. 2. Recurso desprovido. (Processo RE 6062 SÃO DOMINGOS DO CAPIM - PA Partes RECORRENTE MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL, RECORRENTE : COLIGAÇÃO UNIDOS POR UM SÃO DOMINGOS MELHOR, RECORRIDO : ALBERTO YOITI NAKATA Publicação PSESS - Publicado em Sessão, Data 20/09/2016 Julgamento 20 de Setembro de 2016 Relator LUCYANASAID DAIBES PEREIRA) Recurso contra expedição de diploma. Arguição de inelegibilidade. Artigo 262, I do Código Eleitoral. Prefeito reeleito e enquanto vice-prefeito substituiu o chefe do executivo, durante 400 dias, fora do período de seis meses anteriores ao pleito. Alegação de exercício de terceiro mandato. Não configuração. Provimento negado. Preliminar de preclusão da matéria. Por estar intimamente relacionada com o mérito, junto com este será examinada. Mérito. Restando demonstrado nos autos que a substituição do recorrido na chefia do executivo municipal, enquanto vice-prefeito, embora duradoura, foi transitória, visto que o gestor substituído reassumiu o cargo no último ano do seu mandato, inviável o enquadramento da hipótese na previsão do artigo 14, § 5o da Constituição Federal. (Processo RD 646 BA Publicação DPJ-BA - Diário do Poder Judiciário, Data 15/6/2009, Página 96 Julgamento 2 de Junho de 2009 Relator ESERVAL ROCHA) 20 A5& Recurso. Registro de candidatura. Prefeito. Candidato à reeleição. Impugnação. Improcedência. Anterior exercício do cargo de vice-prefeito. Assunção temporária da chefia do executivo municipal. Arguição de inelegibilidade. Terceiro Mandato. Não configuração. Ausência de violação ao art. 14, § 5o da CF/88. 1. Consoante, definido pelo TSE, eventual substituição do chefe do Poder Executivo pelo respectivo vice ocorrida no curso do mandato e fora do período de seis meses anteriores ao pleito não configura o desempenho de mandato autônomo do cargo de prefeito; 2. É possível, assim, por não violar a norma do art. 14, § 5o da CF/88, a pretensão de reeleição ao cargo de Chefe do Executivo Municipal de candidato que, em legislatura anterior, substituiu temporariamente e fora do período vedado o então alcaide; 3. Recurso a que se nega provimento. (Processo RE 13840 LAPÃO - BA Partes RECORRENTE(S) : COLIGAÇÃO A FORÇA DA UNIÃO, RECORRIDO(S) JOSÉ RICARDO RODRIGUES BARBOSA Publicação PSESS - Publicado em Sessão, Volume 17:13, Data 10/10/2016 Julgamento 10 de Outubro de 2016 Relator PAULO ROBERTO LYRIO PIMENTA "ELEIÇÕES 2016 - RECURSO ELEITORAL - REGISTRO DE CANDIDATURA - RRC - CANDIDATO - CARGO - PREFEITO - IMPUGNAÇÃO - INELEGIBILIDADE DO ART. 1o, INCISO II, ALÍNEA "I" C/C ART. 1o, INC. IV, ALÍNEA "A", DA LC 64/90 - DESINCOMPATIBILIZAÇÃO - DEMONSTRAÇÃO DE VÍNCULO CONTRATUAL COM PODER PÚBLICO QUE NÃO OBEDEÇA A CLÁUSULAS UNIFORMES - INEXISTÊNCIA - INELEGIBILIDADE DO ART. 1o, INCISO I, ALlNEA "D" DA LC 64/90 - 21 1C4 IRRETROATIVIDADE DA LEI DA FICHA LIMPA -JLy ELEGIBILIDADE SUPERVENIENTE À DATA DA ELEIÇÃO - INELEGIBILIDADE DO ART. 14, §5° DA CF - TERCEIRO MANDATO - NÃO CARACTERIZAÇÃO - INVESTIDURA POR FORÇA DE DECISÃO LIMINAR - PRECARIEDADE - RECURSO QUE SE CONHECE E NEGA PROVIMENTO." (TRE/SC, RE n° 14410, rei. Juiz Rodrigo Brandeburgo Curi, PSESS 28.09.2016) "CONSTITUCIONAL. ELEITORAL. IMPUGNAÇÃO A REGISTRO DE CANDIDATO. REELEIÇÃO A TERCEIRO MANDATO. RECONTAGEM DE VOTOS. CANDIDATO NÃO ELEITO. I - Não conflita com a norma constitucional inserta no art. 14, § 5o o acatamento de registro de candidato que, em decorrência de recontagem de votos posterior ao primeiro resultado do pleito eleitoral, foi considerado não eleito para o cargo de Prefeito Municipal. II- A perda superveniente do mandato decorrente da recontagem de votos, que retira do candidato a condição de eleito, não se confunde com a perda ou cassação, nem com ato de renúncia, que pressupõe a existência de mandato válido. III- Recurso conhecido e provido." (TRE/MA, RE n° 3190/M, Acórdão n° 5859 de 02/09/2004, rei. Juiz JORGE RACHID MALUF) "EMENTA: RECURSOS ELEITORAIS. ELEIÇÕES 2008. REGISTRO DE CANDIDATURA. PREFEITO MUNICIPAL. IMPUGNAÇÕES. CANDIDATO ELEITO NOS PLEITOS DE 2000 E 2004. CASSAÇÃO DO REGISTRO, NAS ELEIÇÕES DE 2004, ANTES DA DIPLOMAÇÃO E POSSE, QUE OCORRERAM POR FORÇA DA ATRIBUIÇÃO DE EFEITO SUSPENSIVO AO RECURSO, QUE ACABOU 22 SENDO DESPROVIDO. ALEGAÇÃO DE CARACTERIZAÇÃO DE TERCEIRO MANDATO (PLEITO DE 2008) E OFENSA AO DISPOSTO NO ART. 14, § 5o DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INOCORRÊNCIA. RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DESPROVIDO, POR UNANIMIDADE DE VOTOS. RECURSO DO CANDIDATO PROVIDO, POR MAIORIA DE VOTOS, PARA DEFERIR O SEU REGISTRO DE CANDIDATURA AO CARGO DE PREFEITO MUNICIPAL NAS ELEIÇÕES2008. - O candidato recorrente foi eleito para o cargo de Prefeito Municipal de Mandaguari nos pleitos realizados nos anos de 2000 e 2004, sendo que o exercício da função de Prefeito decorrente das eleições de 2004 deu- se com amparo em decisão provisória do Tribunal Regional Eleitoral, que atribuiu efeito suspensivo ao recurso em sede de Agravo de Instrumento, tendo permanecido por menos de três meses no cargo até o julgamento do recurso em seu desfavor. - Nessa hipótese, não há como se admitir que houve o exercício pleno do segundo mandato, nem mesmo continuidade deste segundo mandato, pois a cassação do registro do candidato efetivada antes mesmo da diplomação e posse, com a declaração da nulidade dos votos percebidos, elimina a própria candidatura e a decisão provisória proferida no Agravo de Instrumento não serve para outorgar mandato ao candidato. - Como não houve o exercício de mandato político pelo candidato recorrente no ano de 2005, afasta-se a aplicação da regra do art. 14, § 5o da Constituição Federal que proíbe a reeleição para terceiro mandato consecutivo." (TRE/PR, RE n° 5521, rei. Des. JESUS SARRÃO, PSESS - Publicado em Sessão, Data 16/09/2008) 23 "RECURSO ELEITORAL. REGISTRO DE CANDIDATURA. ELEIÇÕES 2012. CARGO DE PREFEITO. INELEGIBILIDADE. ART. 14, § 5°, DA CRFB. TERCEIRO MANDATO. NÃO-CONFIGURAÇÃO. ASCENSÃO AO CARGO POR FORÇA DE DECISÃO JUDICIAL, REVOGADA QUATRO DIAS DEPOIS. CARÁTER PRECÁRIO. PRECEDENTES STF E TSE. CONHECIMENTO. DESPROVIMENTO." (TRE/MA, RECAN n° 5373, rei. Des. SÉRGIO MUNIZ, PSESS - Publicado em Sessão, Data 03/09/2012). Diante do exposto, forte nos argumentos acima expendidos, divergindo do parecer da Procuradoria Regional Eleitoral, VOTO pelo NÃO PROVIMENTO do presente Recurso contra a Expedição do Diploma. É como voto, Senhor Presidente. Recife, 21 de agostq^de 2017^ Júlio Alcino de Oliveira Neto Desembargador Eleitoral 24 V PODER JUDICIÁRIO FEDERAL TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE PERNAMBUCO RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA N2 65-22.2017.6.17.0000 ORIGEM: ÁGUA PRETA/PE RECORRENTE: ARMANDO ALMEIDA SOUTO RECORRENTE: PARTIDO HUMANISTA DA SOLIDARIEDADE (PHS) ADVOGADO: Delmiro Dantas Campos Neto e outro RECORRIDOS: EDUARDO PASSOS COUTINHO CORRÊA DE OLIVEIRA RECORRIDOS: ANTÔNIO MARCOS DE MELO FRAGOSO LIMA ADVOGADO: Paulo Roberto Fernandes Pinto Júnior e outro RELATOR: Des. Júlio Alcino de Oliveira Neto REVISOR: José Henrique Coelho Dias da Silva VOTO Conforme relatado pelo Eminente Desembargador Júlio Alcino de Oliveira Neto, trata-se de Recurso contra a Expedição do Diploma do candidato eleito para o cargo de Prefeito, Eduardo Passos Coutinho Corrêa de Oliveira, e do Vice-prefeito, Antônio Marcos de Melo Fragoso Lima, no qual o recorrente ressalta, como óbices à expedição dos diplomas da Chapa, a incidência da inelegibilidade prevista no art. 14, § 5^, da Constituição Federal. Cabível o Recurso contra Expedição do diploma para análise da questão posta pelo recorrente e presentesas demaiscondições da ação e pressupostos processuais de existência e validade, passo à apreciação do mérito deste instrumento. Alegam os recorrentes que o Prefeito eleito já exerceu a chefia do executivo do Município de Água Preta nos períodos de 01.01.2009 a 31.12.2012 e 01.01.2013 a 31.08.2013, o que acarretaria sua inelegibilidade para um terceiro mandato. Esclareceram que, quanto ao segundo período, não obstante tenha o recorrido logrado o segundo lugar nas eleições, exerceu o mandato em razão do indeferimento do registro de candidatura do vencedor e posterior decisão liminar proferida no bojo da Ação Cautelar de n^ 71108, vigente até a data de 31.08.2013, quando o TSE reconheceu a nulidade da eleição, determinando a realização de eleições suplementares. Os recorridos defendem a não configuração de terceiro mandato, argumentando ser inadmissível impora restrição à capacidade eleitoral passiva em face do mero exercício das funções do cargo público eletivo em caráter precário e temporário. Percebo que a lide tem como cerne a verificação da natureza sob a qual o recorrido ocupou o cargo de Prefeito do Município de Água Preta no período entre 01.01.2013 a 31.08.2013, pois a partir daí será possível a fixação das conseqüências do fato na sua elegibilidade. Para tanto, transcrevo a norma constitucional de regência: Art. 14. [...] § 5^ OPresidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subsequente. (Redação dada pela Emenda Constitucional n? 16, de1997) Àprimeira leitura, o dispositivo parece ser bastante objetivo: na esfera municipal, aqueles que tenham substituído ou sucedido o Prefeito durante o mandato só podem ser reeleitos para um único período subsequente. Ocorre que tal interpretação literal deixa margem a discrepâncias no mundo dos fatos, como o caso de um vice-prefeito que exerceu a titularidade por poucos dias durante todo o curso do mandato ter sua capacidade eleitoral passiva restringida. É uma máxima da hermenêutica jurídica que normas restritivas de -30 A6A direitos não devem ser interpretadas de forma extensiva, esob esta premissa deve ser interpretado oart. 14/^-' §5S da Constituição Federal. A norma constitucional trata das situações de substituição e sucessão do titular do executivo. Tais institutos se diferenciam justamente pela natureza da assunção da titularidade. A substituição se dá de forma transitória, temporária, e a sucessão tem caráter definitivo. Como já dito, no caso sob luzes, o recorrido exerceu o cargo de Prefeito no período entre 01.01.2013 a 31.08.2013, por força de decisão judicial liminar em sede de Ação Cautelar, ainda que não tenha obtido avitória das urnas. Foi diplomado por força de tal decisão judicial e ocupou o cargo até o momento em que adecisão perdeu sua executoriedade por tersido reformada pelo Tribunal Superior Eleitoral. Clara está a natureza precária e transitória sob a qual exerceu o mandato neste período de oito meses. Não tão clara, no entanto, está a sua adequação às classes previstas no texto normativo. O candidato vencedor em momento algum assumiu o cargo para ser posteriormente substituído (temporariamente) ou sucedido (em caráter definitivo) pelo ora recorrido. Não se trata, tampouco, do que a doutrina denomina "mandato tampão'', que ocorre quando há necessidade de complementação do período do mandato por outro legitimado. Na verdade, o caso dos autos não seadéqua completamente às citadas situações, pois se trata de assunção do cargo, desde o início do mandato, de forma provisória e precária. Ademais, analisando a situação sob ângulo diverso, tenho que se faz necessário perquirir a mens legis da citada norma. Ébem verdade que o constituinte derivado, ao editar a EC n9 16/97, quebrou uma tradição perpetuada nas Constituições Brasileiras desde a primeira Constituição Republicana, de 1891: a impossibilidade de o ocupante de mandato eletivo concorrer à reeleição. No entanto, mesmo prevendo tal possibilidade, restringiu seus efeitos a um único período subsequente, ainda inspirado na idéia de rotatividade no poder e impossibilidade de perpetuação no comando do executivo, corolários do próprio Princípio Republicano. Voltando-me ao casoconcreto, é de se reconhecer que o fato de ter o recorrido ocupado a chefia do executivo municipal pelo período de oito meses do primeiro ano do quadriênio (2013/2016) deve ser ponderado. Primeiramente tenho que a ocupação temporária não se deu por período relevante, com potencial para influenciar no pleito. A falta de efetividade e definitividade no exercício do cargo lhe extrai a capacidade de utilização da máquina pública com vistas a induzir o eleitorado. Ademais, o recorrido deixou a prefeitura em 31.08.2013, aproximadamente três anos antes das eleições municipais de 2016, nas quais se sagrou vencedor. Com isso, não houve a possibilidade de utilização da máquina pública e se configurou aefetiva alternância no poder, especialmente tendo em consideração que o Prefeito eleito nas eleições suplementares foi justamente o seu adversário, que havia tido o registro indeferido. Éassente na jurisprudência a utilização do referencial dos últimos 06 meses de mandato, ao analisar aelegibilidade de vice-prefeito que substituiu o titular. Assim, o vice-prefeito que compõe chapa duas vezes vitoriosa poderá candidatar-se ao cargo de prefeito nas eleições seguintes, desde que não tenha substituído o titular nos seis meses anteriores à eleição. Perfeitamente aplicável ao presente caso tal linha de raciocínio, uma vez que com isso é possível garantir a alternância do poder e que o pretenso candidato não utilizará da máquina pública para influenciar o pleito. Dito isso, da inteligência do art. 14, §52 da CF e considerando o caso concreto, concluo que a situação sobre a qual se debruça o judiciário não se encaixa plenamente nas hipóteses do texto da norma, tendo natureza temporária e precária. Concluo ainda que, em face do curto período em que ocupou o cargo, no primeiro ano do mandato, foi respeitada a mens legis constitucional, configurando-se a alternância do podere, com isso, respeitado o Princípio Republicano. Tal conclusão, no entanto, pode ser vista como contrária às respostas dadas pelo Tribunal Superior Eleitoral às Consultas ns 1583, ns 11726, 23854 e 28210. Nelas, oTSE concluiu, em síntese, que aassunção da chefia do Poder Executivo, por qualquer fração de tempo ou circunstância, configura exercício de mandato.^ eletivo eotitular só poderá se reeleger por um único período subsequente. /l(^- Ocorre que as consultas analisam situações em tese, são genéricas e traçam apenas uma orientação acerca do entendimento da corte superior eleitoral. São desprovidas de caráter vinculativo e, mais importante, não consideram as características do caso concreto. Além disso, as consultas acima referidas trataram, na verdade, de situações nas quais o candidato havia ocupado o cargo eletivo com caráter de definitividade, diferentemente do caso em tela. Com relação à Consulta n^ 1583, ressalto, o entendimento restou demasiado genérico, com as expressões "seja qual for a circunstância" e "por qualquer lapso temporal que ocorra". Tal interpretação está na contramão da regra de hermenêutica segundo a qual as causas de inelegibilidade são de legalidade estrita, ou seja, devem ser interpretadas restritivamente. Não obstante o entendimento esposado nas consultas acima referenciadas, o STF e o TSE têm ponderado e rejeitado interpretação rígida da norma, quando apreciando caso concreto que não se encaixe perfeitamente no tipo previsto. Assim, tem-se delineado jurisprudência diferenciada para aqueles que foram precária e temporariamente investidos no cargo de Prefeito, por força de decisão judicial posteriormente revogada. Tal entendimento alinha-se como que foi até agora argumentado. Ilustro: RECURSO ELEITORAL REGISTRO DE CANDIDATURA. ELEIÇÕES 2016. INELEGIBILIDADE. REELEIÇÃO. TERCEIRO MANDATO. NÃO CONFIGURAÇÃO. ASCENSÃO AO CARGO POR FORÇA DE DECISÃO JUDICIAL PROVISÓRIA E PRECARIAMENTE PELO PERÍODO DE QUARENTA ESETE DIAS. RECURSO DESPROVIDO. REGISTRO DE CANDIDATURA DEFERIDO. 1. O fato de ter assumido, temporariamente, o cargo de prefeito por apenas47 (quarenta e sete) dias, no primeiro ano do quadriênio 2009/2012, por determinação judicial, e, posteriormente, ter sido eleito em 2012 para o mesmo cargo não impede o atual postulante de disputar a eleição majoritária municipal de 2016, tentando a sua reeleição, sem que isso caracterize como terceiro mandato, eis que não há ofensa ao § 5^,do art. 14 da Constituição da República. 2. Recurso desprovido. (TRE-PA - RE: 6062SÃO DOMINGOS DO CAPIM - PA, Relator: LUCYANA SAID DAIBES PEREIRA, Data deJulgamento: 20/09/2016, Datade Publicação: PSESS - Publicado em Sessão, Data20/09/2016) ELEIÇÕES 2016. RECURSO ELEITORAL. REGISTRO DE CANDIDATURA. PREFEITO. INELEGIBILIDADE. TERCEIRO MANDATO. NÃO-CONFIGURAÇÃO. CARÁTER TEMPORÁRIO. DEFERIMENTO DO REGISTRO DE CANDIDATURA. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. DESPROVIMENTO DO RECURSO. 01. A ascensão ao cargo de Prefeito Municipal por força de decisão judicial, reformada 04 dias depois, não caracteriza exercício de mandato eletivo apta a atrair a inelegibilidade prevista na CF, art. 14, p. 5S notadamente quando o exercício ocorre antes dos 6 meses que antecedem a eleição. 02. Deferimento do registro de candidatura. Manutenção da sentença. 03. Conhecimento e desprovimento do recurso. (TRE-MA - RE: 14887JOÃO LISBOA - MA, Relator: RICARDO FELIPE RODRIGUES MACIEIRA, Data de Julgamento: 30/09/2016, Data de Publicação: PSESS - Publicado emSessão, Data 30/09/2016) ELEIÇÕES 2012. PREFEITO. TERCEIRO MANDATO. NÃO-CONFIGURAÇÃO. REGISTRO DE CANDIDATURA. DEFERIMENTO. 1. Recurso interposto contra sentença que indeferiu o pedido de candidatura ao cargo de Prefeito, emface do disposto no art. 14, § 5^, da CF. 2. Com relação às eleições de 2008, tendoem contaque o registro do candidato sequerfoi deferido e considerando o fato de queele exerceu o cargo de Prefeito temporariamente (por apenas 08 dias), em face de decisão que foi revogadapelo Tribunal Superior Eleitoral, o pedido de registro aquiformulado há de ser deferido (Mutatis mutandis, são os seguintes precedentes do TSE: AgR-Respe 34560/MA e Respe 31043/MG) 3. Recurso provido. (TRE-PE - RE: 10223 PE, Relator: LUIZ ALBERTO GURGEL DE FARIA, Data de Julgamento: 23/08/2012) Desta feita, entendo não ser legítima a restrição à capacidade eleitoral passiva do recorrido, sob •*q pena de se estar a interpretar extensivamente norma restritiva de direitos, alinhando-me à jurisprudência^ casuística aqui transcrita, e não ao direcionamento genérico expresso nas respostas às consultas. J^ Ante o exposto, voto no sentido de NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DO DIPLOMA da chapa majoritária ora recorrida. Recife, 21 de agosto de 2017.
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