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ALVARES-H -O-Rio-de-Janeiro-do-início-do-Século-XX

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Helena Spinelli Álvares 
helena@trentoengenharia.com.br 
2002 
 
O Rio de Janeiro do início do Século XX: a reforma Pereira Passos 
 
Resumo 
A pesquisa tem como foco a interpretação das transformações urbanas no Rio de Janeiro em princípios 
do Século XX, aprofundando-se no que diz respeito à inserção deste momento no contexto econômico, 
social e político da época (República Velha). Tais transformações – como a ampliação da infraestrutura, 
abertura de novas vias de comunicação e o desenvolvimento de novos padrões habitacionais – seguem, 
em determinados pontos, o modelo haussmanniano adotado em Paris em meados do Século XIX. Sendo 
assim, a pesquisa também aborda a influência deste plano na série de intervenções que aconteceram no 
Rio de Janeiro. 
O objetivo deste trabalho é fazer uma análise entre a capital nacional anterior à reforma e a posterior, 
planejada para dar uma nova feição a um país que começava a projetar-se internacionalmente. Essa 
mudança na conformação do Rio de Janeiro vai prepará-la, de certa forma, para ser palco, duas décadas 
depois, da chamada Arquitetura Moderna Brasileira. 
Introdução 
O presente documento está subdividido em três etapas fundamentais, que traçam uma relação entre o 
Rio de Janeiro desde sua fundação ao final do Século XIX, o período da Reforma Passos e os 
desdobramentos da mesma. 
No primeiro capítulo estão apresentados dados que indicam a evolução urbana da capital do chamado 
“Brasil Colônia”, como a população estimada ao longo dos primeiros séculos da cidade e o 
desenvolvimento espacial do território. Destaca-se a urbe no Século XIX, principalmente a partir da 
segunda metade, quando da aceleração do crescimento populacional e urbano em virtude do 
desenvolvimento econômico e da chegada dos transportes de larga distância. 
Num segundo momento são ressaltados os primeiros anos do Século XX, entre 1903 e 1907. São 
apresentadas algumas das transformações pelas quais passou a cidade, num período em que se 
pretendia inserir o Brasil no panorama capitalista internacional. Nesse mesmo capítulo é definido um 
paralelo entre a Reforma Passos e o plano de Haussmann em Paris, bem como demonstra-se a 
influência da iniciativa privada na definição de um novo Rio de Janeiro. 
Helena Spinelli Álvares 
helena@trentoengenharia.com.br 
2002 
 
Por fim, as consequências da reforma urbana são apresentadas, abordando principalmente os aspectos 
que dizem respeito ao surgimento de um novo modelo habitacional (as favelas), além da preparação de 
uma cidade capitalista e moderna. 
O Rio de Janeiro anterior à reforma 
Da fundação ao final do século XVIII 
Em janeiro de 1502, chegou à Baía de Guanabara uma expedição portuguesa que tinha como objetivo 
explorar a costa brasileira e denominar seus acidentes geográficos. Acreditou-se entrar na foz de um 
grande rio e, desde então, as terras à margem da baía receberam o nome de Rio de Janeiro. 
Tais terras pertenceriam a uma capitania doada a Martim Afonso de Souza que, colonizador também da 
capitania de São Vicente (então mais próspera), não priorizou seu desenvolvimento. O interesse em 
ocupar a região só se deu quando da invasão francesa ao litoral brasileiro e a fundação da França 
Antártica, em aliança com os índios tamoios, nativos da região. Somente dez anos depois, em 1565, a 
Coroa Portuguesa planejou a fundação de uma vila no local, de modo a garantir a defesa do território. A 
expulsão dos mesmos demorou dois anos e, próximo ao antigo assentamento, foi implantada a vila de 
São Sebastião do Rio de Janeiro, pelo governador-geral Mem de Sá. 
A vila, inicialmente com duzentos habitantes, desenvolveu-se sobre o Morro do Castelo e contava com 
edificações como fortes, cais, igrejas (dentre as quais a matriz de São Sebastião), Colégio dos Jesuítas, 
armazéns e residências. Até o final do século, surgiram os primeiros engenhos e lavouras no chamado 
“sertão carioca”. 
A cidade só começou a se expandir além do Morro do Castelo após a instalação de três ordens religiosas 
em locais mais afastados – os beneditinos, franciscanos e carmelitas. O governo incentivou também a 
ocupação da várzea, ainda que não houvesse, em paralelo, um plano urbanístico para a cidade. Abriram-
se ruas na baixada central e, lentamente, as primeiras edificações foram substituídas por sobrados 
coloniais. 
A definição do espaço urbano carioca dentro do quadrilátero delimitado pelos morros do Castelo, São 
Bento, Conceição e Santo Antônio marcou todo o Século XVII, que terminou com uma população 
estimada em doze mil habitantes. Além disso, a zona rural cresceu em direção aos bairros do Catete, 
Flamengo, Botafogo, Humaitá, Rodrigo de Freitas e Copacabana. O Rio de Janeiro não poderia crescer 
muito, pois os serviços de transporte de passageiros e mercadorias eram de curta distância. 
Helena Spinelli Álvares 
helena@trentoengenharia.com.br 
2002 
 
Já no Século XVIII, a evolução urbana que se verificou na cidade começou com o loteamento de algumas 
freguesias rurais mais próximas, que deram origem aos bairros do Botafogo (ocupado por casas de 
veraneio da elite) e São Cristóvão. Ao mesmo tempo, ampliaram-se os limites da cidade ultrapassando a 
Rua da Vala (futuramente, Rua Uruguaiana, ilustrada na Figura 1 exposta a seguir), com a canalização do 
mangue e aterro da várzea. 
Figura 1. Rua Uruguaiana, no início do século XX 
 
Créditos: Augusto Malta. 
De acordo com PEREIRA (1989), “no século XVIII, o Rio transformou-se no grande ponto de confluência 
de produtos importados e exportados da região mineira, fazendo-se necessário abrir vias que 
conduzissem mercadorias para a região. Foi nessa mesma época que o Rio torna-se capital da Colônia, 
com a centralização do transporte marítimo de ouro para Portugal em seus portos, a decadência da 
cana de açúcar no Nordeste após a invasão holandesa e o controle das capitanias do sul por parte do 
governador do Rio”. De fato, nos anos setecentos a economia convergiu praticamente para o Sudeste, 
dando subsídios para o desenvolvimento da produção cafeeira no final do século pelo Vale do Paraíba. 
Atraídos pela nova economia e por seus possíveis desdobramentos, partiram em direção à capital os 
primeiros imigrantes. A cidade cresceu e, no final do Século XVIII, já ultrapassava cinquenta mil 
habitantes. 
Helena Spinelli Álvares 
helena@trentoengenharia.com.br 
2002 
 
O Rio de Janeiro do século XIX 
Logo em 1808, com a chegada da família real portuguesa ao Brasil e o alojamento extemporâneo de 
milhares de pessoas da Corte no Rio de Janeiro, observam-se as primeiras transformações pelas quais 
passaria a cidade, com o surgimento de novas classes sociais e atividades econômicas e políticas. Na 
condição de nova sede do Governo Português, foram executadas obras como o calçamento de algumas 
vias, ampliação do sistema de drenagem e abastecimento de água, além de medidas adotadas com o 
objetivo de incentivar o comércio no país, como a criação do Banco do Brasil. 
A permanência da Corte foi curta. Perdurou até o ano 1822, quando o Brasil deixou de ser colônia 
portuguesa e transformou-se numa monarquia. Neste novo contexto político, houve um grande esforço 
por modernizar o país, principalmente a porção Sudeste do território e a capital, o Rio de Janeiro. As 
ações de urbanização iniciadas pelo governo português foram bastante intensificadas nas décadas 
seguintes, assim como o processo de segregação sócio-espacial urbana, que foi acelerado ao longo do 
século XIX (consolidando um movimento populacional que começou lentamente já no período anterior), 
em especial após a chegada dos transportes públicos na segunda metade do século. 
Nessa época, foram abertas duas frentes de expansão urbana. O subúrbio carioca, destinado à 
população de baixa renda, consolidou-se após a implantação das linhas férreas e tornou-se uma relativa 
solução para o problema habitacional. Ali, o governo incentivou a produção imobiliáriapelo setor 
privado para fins de locação, com o propósito de propiciar novos padrões residenciais unifamiliares, 
objetivando, com isso, sanar a questão da higiene e epidemias que atingiam grandes cidades na época. 
Por volta de 1880, diversas vilas operárias surgiram no Rio de Janeiro (como a Vila Ruy Barbosa e a Vila 
Sampaio, por exemplo), em bairros como São Cristóvão, que passou a concentrar algumas fábricas. No 
entanto, os resultados desta proposta não foram completamente satisfatórios, uma vez que uma 
parcela significativa da população carente preferia residir em áreas próximas ao centro, ainda que em 
cortiços insalubres. 
Em oposição, no vetor de expansão para a zona sul observou-se a ocorrência de ações de planejamento 
urbano conduzidas principalmente por parte do capital privado. Era comum, na época, uma empresa 
pedir a concessão para prestar determinados serviços (bondes, eletricidade, abastecimento de água) em 
bairros desocupados (Copacabana e Leblon, dentre outros), com a intenção de propiciar infraestrutura 
e, com isso, lotear os terrenos para uma camada da sociedade interessada em afastar-se do antigo 
núcleo. Vale destacar a presença dos bondes elétricos enquanto elementos fundamentais para o 
desenvolvimento desta área da cidade. 
Helena Spinelli Álvares 
helena@trentoengenharia.com.br 
2002 
 
A Reforma Passos 
O projeto 
No final do Século XIX o Brasil converteu-se num país republicano, o que promoveu uma série de 
transformações sociais, políticas e econômicas. A integração da economia brasileira ao capitalismo 
internacional decorreu do estímulo às exportações (principalmente no setor agrário, como o café) e do 
desenvolvimento das indústrias nacionais, iniciado a partir de 1850. 
No entanto, a capital de um Brasil que se abria para o mundo ainda tinha feições coloniais, caracterizado 
por um núcleo denso e problemático e dois vetores de expansão – o subúrbio, para as classes menos 
favorecidas, e a zona sul, para a crescente burguesia carioca. É no contexto da contradição entre espaço 
e economia que se insere a Reforma Passos, primeira reforma urbana e provavelmente a maior já feita 
no Rio de Janeiro. 
Em 1902, o engenheiro Francisco Pereira Passos foi convidado pelo então presidente da República 
Rodrigues Alves para o cargo de prefeito do Distrito Federal, tomando posse um ano depois. Seu 
primeiro passo foi pedir carta franca para dirigir a cidade, por meio de um documento sob o título de 
“Embelezamento e saneamento da cidade”, fato que muitos criticaram por acreditarem que tais 
transformações no espaço urbano carioca abalariam as finanças do país. 
Os bairros que sofreram as mais profundas transformações seriam justamente aqueles pertencentes ao 
antigo centro colonial (Candelária, Sacramento e Santa Rita). Ao longo do seu mandato, Pereira Passos 
promoveu o alargamento de ruas (tais como a Rua da Assembleia, Rua Carioca, Rua Marechal Floriano e 
Rua Treze de Maio) e executou o calçamento de algumas vias e diversas obras de embelezamento e 
paisagismo, como na Praça XV, Largo da Glória e Passeio Público. Ademais, construiu equipamentos 
urbanos como pavilhões, palácios e teatros. 
Foram abertas três grandes avenidas, denominadas Estácio de Sá, Mem de Sá e a Beira-Mar, esta última 
tida como seu feito mais extraordinário. Consiste numa via de mais de cinco quilômetros de extensão e 
39 metros de largura, partindo do núcleo antigo (desde a Avenida Central, atual Rio Branco) até o bairro 
de Botafogo, na Zona Sul, viabilizando com isso a plena ocupação desta área da cidade. 
Em relação ao seu projeto de saneamento, Passos mandou canalizar os rios Carioca, Berquó, Banana 
Podre, Joana, Maracanã, Trapicheiros e Comprido. Nesse mesmo contexto de promoção do saneamento 
e aproveitando-se do pretexto da abertura e alargamento de vias no centro, foram demolidos diversos 
casarões e cortiços, muitas vezes em maior número do que o efetivamente necessários para a execução 
das obras, em nome da estética. 
Helena Spinelli Álvares 
helena@trentoengenharia.com.br 
2002 
 
Nos terrenos resultantes das desapropriações e demolições, ergueram-se grandes edifícios comerciais e 
públicos. A valorização dos lotes resultaria, portanto, não somente numa nova aparência urbana que o 
Rio de Janeiro adotaria (fundamentada, principalmente, numa arquitetura eclética) como também na 
renovação do capital para a continuidade da reforma. 
Vale ressaltar que, em paralelo ao programa da Reforma Passos, o Governo Federal também participou 
desse período de reestruturação espacial do Rio de Janeiro. Em 1905 foi inaugurada a Avenida Central 
(representada na Figura 2 exposta a seguir), considerada um marco no processo de modernização do 
país – seria a “formosa avenida que foi (...) a concretização mais evidente e irrecusável das promessas 
de melhores dias” (O Paiz, dezesseis de novembro de 1905). 
Figura 2. Avenida Central, em 1905 
 
Créditos: autor desconhecido. 
Esta via estava integrada à Beira-Mar e, em sua outra extremidade, ao novo porto do Rio de Janeiro 
(com suas duas avenidas de acesso), obra também promovida pelo Governo Federal com o objetivo de 
melhorar a circulação de mercadorias e, com isso, aumentar a importância do Brasil na economia 
mundial. 
Ao final de apenas quatro anos, a cidade do Rio de Janeiro havia se tornado bem mais condizente com a 
condição de progresso que se esperava para o país. Pereira Passos encerrou seu ciclo aplaudido pela 
sociedade brasileira, como mostra o trecho de uma reportagem escrita poucos anos depois, transcrito a 
seguir: 
Helena Spinelli Álvares 
helena@trentoengenharia.com.br 
2002 
 
“O velho doutor Pereira Passos (...) era um tipo único de nosso meio pela 
energia superior da vontade e pela visão segura e certa das coisas. 
Quando lhe coube assumir o governo da cidade, ninguém acreditou 
realizável a obra que sem dificuldade se realizou. (...) Em quatro anos 
estava feita uma reforma sem igual, transformada completamente a 
cidade. Deixando a administração da cidade, as pedras que se atiravam 
sobre o demolidor implacável se transformaram em flores ao 
incomparável remodelador. A cidade estava uma joia”. (A Tribuna, três 
de março de 1913) 
Paris – Rio de Janeiro 
A proposta de Pereira Passos para o Rio de Janeiro se assemelha, em determinados pontos, ao que 
aconteceu em Paris em meados do século XIX, no governo de Haussmann. Este plano foi o precursor de 
uma série de reformas urbanas que ocorreram desde então, como em Barcelona, Viena, Bruxelas e nas 
grandes capitais da América. 
“Nasce assim o que poderíamos chamar de urbanística 
neoconservadora, à qual se deve a reorganização das cidades europeias 
(e das coloniais dependentes das potências europeias) na segunda 
metade do século XIX e nas primeiras décadas do século XX” (BENEVOLO) 
O objetivo de proporcionar uma melhor qualidade da vida urbana à população era comum aos dois 
planos. Os procedimentos adotados foram semelhantes, com destaque para as obras viárias (largas 
avenidas arborizadas, reconfigurando o traçado original), a canalização de córregos e a definição de um 
modelo de edificações típico, com determinado número de pavimentos. Ambos também tinham a 
proposta da higienização da cidade, destruindo conjuntos populares nos velhos centros considerados 
focos de epidemias. Outro aspecto comum, dentre diversos, diz respeito à renovação do capital utilizado 
para a execução do plano, a partir da especulação imobiliária sobre os novos empreendimentos. 
No entanto, os dois planos de reforma diferiam quanto a propósitos menos evidentes: no caso da 
França, havia nas reformas uma necessidade implícita de cativar a população e conter novas revoltas, 
considerando-se o contexto da época – as revoluções liberais de 1830 e 1848. No Brasil, essencialmente, 
havia o desejo de dar uma aparência moderna à capital de um país que precisava se posicionar no 
cenário mundial. 
Aduração das intervenções também foi diferente. Como resultado, afinal, Paris teve grande parte do 
seu tecido urbano remodelado em pouco menos de duas décadas, sobrepondo ao antigo uma 
Helena Spinelli Álvares 
helena@trentoengenharia.com.br 
2002 
 
conformação urbana em forma de quadrícula. No Rio, as novas vias seguem a topografia irregular e a 
ação do Poder Público não se estendeu tão amplamente em termos espaciais, senão que se concentrou 
principalmente no núcleo original e efetuou algumas obras nos dois vetores de expansão mais 
importantes. 
O plano de Passos sugere, portanto, uma releitura do plano de Haussmann em Paris – considerando-se a 
influência que a França exercia culturalmente no mundo ocidental -, porém adaptada às necessidades e 
possibilidades brasileiras. Aqui, houve uma modernização, ainda que sem a existência da modernidade. 
O Rio de Janeiro depois de 1907 
Até 1930, observa-se que o governo da cidade do Rio de Janeiro empenhou-se em dar prosseguimento 
ao que fez Pereira Passos, com a continuidade da remodelação do antigo centro e a atenção ao 
desenvolvimento do vetor sul. No entanto, após a Reforma Passos não se fez um projeto para a 
estruturação do subúrbio e das áreas mais carentes, senão uma urbanística de resultados, configurada 
por projetos pontuais – tal como a demolição do Morro do Castelo na administração Carlos Sampaio, 
sob o pretexto de higienizar a cidade (o ponto de início da cidade havia se transformado em bairro 
proletário), porém com o objetivo final de recompor as finanças a partir da venda de lotes valorizados, 
uma vez que o morro estava situado próximo à Avenida Central. 
Nessa época, houve grande evolução dos centros fabris, localizados principalmente no subúrbio. 
Atraíram mão-de-obra de todo o Brasil e de outros países, (mal) alojada nas favelas que seriam, mais 
tarde, a mais conhecida e complexa característica urbana do Rio de Janeiro. Um dado a ser 
acrescentado é que, no período da administração de Pereira Passos, foram construídas 120 casas 
populares (VIAL, 2001) – enquanto apenas quando da intervenção na Avenida Central foram demolidas 
mais de duas mil casas. Toda essa população e também os imigrantes foram deslocados para cima dos 
morros, fato que teve como uma primeira manifestação a Revolta da Vacina, ainda em 1904. 
No final da década de 1920, foi elaborado um plano urbanístico para a cidade – denominado Plano 
Agache -, nunca executado devido à Revolução de 1930, responsável pelo seu arquivamento. Este plano, 
baseado na cidade entregue por Passos em 1906, representaria a consagração plena dos interesses da 
burguesia administrados pelo Estado, segundo uma lógica racional que terminaria por segregar 
completamente os espaços urbanos do Rio de Janeiro. 
Helena Spinelli Álvares 
helena@trentoengenharia.com.br 
2002 
 
Conclusões 
A análise do contexto econômico e social no qual se inseriu a Reforma Passos permite interpretar quão 
relevante foi este projeto na modernização do país, que recém havia passado à condição de república. 
Era imprescindível atribuir uma nova aparência ao Rio de Janeiro, sendo a cidade a capital e, com isso, o 
lugar que mais o representava internacionalmente. Ainda que não tenha atingido toda a cidade do Rio 
de Janeiro, as obras que foram executadas tornaram a urbe mais condizente com o momento pelo qual 
passava o Brasil. 
Passos fora criticado de início e aclamado quatro anos depois, após a construção de grandes vias, 
saneamento de parte da cidade e o embelezamento da mesma, conferindo-lhe feições europeias. Vale 
ressaltar que o êxito do projeto não se deveu somente à atuação isolada da administração municipal, 
senão a um conjunto de ações tomadas tanto por esta como pelo Governo Federal e, principalmente, 
pelo capital privado. 
Nesse curto período, houve uma profunda transformação no espaço urbano carioca, fazendo deste 
novo Rio de Janeiro uma cidade bem diferente à original. Se havia um pretexto inicial de solucionar as 
contradições no espaço urbano, certamente a reforma executada por Pereira Passos não chegou a 
cumpri-lo totalmente e, também, agravou a situação. A nova capital era de fato diferente à anterior e 
agora com ares modernos, porém era também segregada – ainda que favela e bairros nobres 
pertençam, desde então, a uma mesma paisagem. 
Referências bibliográficas 
ABREU, Maurício de Almeida. Evolução urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IPLANRIO/ZAHAR, 
1988. 
BENEVOLO, Leonardo. História da Arquitetura Moderna. São Paulo: Perpectiva, 1976. 
PEREIRA, Renata de Faria. A transformação da paisagem na Rua do Ouvidor: 1874 – 1988. Salvador: 
PPGAU/FAUFBA, 1989. 
VIAL, Adriana Mendes de Pinho. Evolução da ocupação das favelas na cidade do Rio de Janeiro. Rio de 
Janeiro: Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos, 2001. 
WEGUELLIN, João Marcos. O Rio de Janeiro através dos jornais – 1888/1969. In: 
www.uol.com.br/rionosjornais

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