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MÓDULO 1: PRINCÍPIOS DAS CIÊNCIAS CRIMINAIS TEMA 3 – PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS EXPLÍCITOS III RESUMO PREVISÃO CONSTITUCIONAL CF, art. 5º, inciso LVII – “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. PREVISÃO EM TRATADOS E DOCUMENTOS INTERNACIONAIS - Declaração dos Direitos do Homem (1789), art. 9.º “Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado”. - Declaração Universal de Direitos Humanos (ONU, 1948), art. 11.1 “Todo o homem acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias a sua defesa”. - Convenção Americana de Direitos Humanos (Dec. 678/92), art. 8º, 2º ”Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa”. ÔNUS DA PROVA Incumbe à acusação o ônus de demonstrar a culpabilidade do acusado e não ao acusado provar que é inocente. Doutrina tradicional: Incumbe à acusação provar os fatos constitutivos do seu direito – existência do fato típico, autoria ou participação, nexo de causalidade, elemento subjetivo do crime Incumbe à defesa provar fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor - excludente de ilicitude ou culpabilidade, causa de extinção da punibilidade Doutrina atual: O ônus da prova é da acusação – existência do fato típico, autoria ou participação, nexo de causalidade, elemento subjetivo do crime, ilicitude, culpabilidade. Aula II – Presunção de Inocência Daí decorrem importantes consequências, como o direito ao silêncio e a impossibilidade de considerar o silêncio em desfavor do réu. Outra consequência: se produzir prova para condenação cabe à acusação, não cabe ao réu. Logo, ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo (nemo tenetur se detegere). E se a acusação não provar? Restando dúvida, o réu deve ser absolvido (in dubio pro reo). Garantismo penal preferível a absolvição de um culpado do que a condenação de um inocente. In dubio pro reo incide até o trânsito em julgado da sentença condenatória. Depois disso (em revisão criminal, por exemplo), fala-se em in dubio contra reum. O ônus da prova na revisão criminal recai sobre o condenado. Cuidado! No processo civil o ônus da prova é totalmente diferente. Art. 344, CPC. Se o réu não contestar a ação, reputar-se-ão verdadeiros os fatos afirmados pelo autor. Ônus da impugnação específica Art. 341, CPC. Cabe ao réu manifestar-se precisamente sobre os fatos narrados na petição inicial. Presumem-se verdadeiros os fatos não impugnados. Regras do ônus da prova Ainda que haja sentença/acórdão condenatório, a regra é a liberdade até o trânsito em julgado. Prisão cautelar é excepcional. CPP, art. 282, § 6o – “A prisão preventiva será determinada quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar (art. 319)”. CPP, art. 283 – “Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva”. EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE Em 2016 havia a possibilidade de execução da pena antes do trânsito em julgado da sentença condenatória. Era pacífica a admissibilidade (súmulas 716 e 717 do STF / Resolução 113 do CNJ, de 20 de abril de 2010). Exemplo: sujeito permanece preso cautelarmente há 3 anos. É então condenado a 5 anos e recorre. Na pendência desse recurso, a condenação não é definitiva. Não seria razoável aguardar o julgamento de todos os recursos para se conceder os benefícios ao acusado, como progressão de regime. EXECUÇÃO PROVISÓRIA E CONDENAÇÃO EM 2ª INSTÂNCIA O Plenário do STF, no Habeas Corpus 126292, na sessão de 17/02/2016, por maioria de votos, entendeu que, com a condenação em 2ª instância, inicia-se o execução provisória. A execução provisória de acórdão penal condenatório proferido em grau de apelação, ainda que sujeito a recurso especial ou extraordinário, não viola o princípio constitucional da presunção de inocência. Essa decisão foi posteriormente confirmada nas Ações Declaratórias de Constitucionalidade (ADCs) 43 e 44. Ocorre que, no mês de novembro de 2019, o plenário do STF julgou as ADCs 43, 44 e 54 e, por maioria de votos, julgou procedente a ação para assentar o artigo 283 do Código de Processo Penal como constitucional: Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva. Tivemos 3 momentos: 1 - Até 2009, o STF entendia que a presunção da inocência não impedia a execução de pena confirmada em segunda instância. 2- Em 2009, no HC 84078, houve uma mudança de posição, passando o STF a condicionar a execução da pena ao trânsito em julgado da condenação, mas ressalvando a possibilidade de prisão preventiva. Fundamento – presunção de inocência (HC 84078/MG. Rel. Min. Eros Grau. j. 05/02/2009). 3 – Volta à posição anterior, entendendo que a presunção da inocência não impedia a execução de pena confirmada em segunda instância. (Habeas Corpus (HC) 126292, na sessão de 17/02/2016). Argumentos adotados pelos Ministros: - A partir do esgotamento da matéria fática, que se dá com o julgamento em 2º grau, é possível a execução da pena. Não é necessário aguardar o julgamento dos recursos constitucionais. - Impedir a execução provisória privilegia a seletividade do sistema penal, pois apenas os ricos recorrem. Pessoas que não têm condições de levar os processos aos tribunais superiores ficam em liberdade. Aquelas que não têm essa condição não podem. - Aguardar o trânsito em julgado da sentença condenatória fomentava a indevida e sucessiva interposição de recursos com propósitos protelatórios, visando, muitas vezes, à configuração da prescrição. - O princípio da presunção de inocência tem sentido dinâmico, o seu valor varia com o transcurso do feito. No inquérito, é quase absoluto. Depois do julgamento, com a confirmação da condenação, esse principio merece ser flexibilizado, possibilitando a execução provisória. - Em nenhum país do mundo, depois de respeitado o duplo grau de jurisdição, a execução de uma condenação fica suspensa, aguardando referendo da Corte Suprema. - Estatísticas de 2009 a 2016 – dos Recursos Extraordinários e Recursos Especiais ingressados nas cortes superiores, somente 1,7% teve sucesso; ainda assim, a maioria a favor da acusação. Apenas 0,48% a favor da defesa, muitas suscitando teses poderiam ser deduzidas em habeas corpus. A posição vencida se firmava no princípio constitucional da presunção de inocência, segundo o qual ninguém pode ser considerado culpado até o transito em julgado da sentença condenatória (art. 5º, 57). E se o Juiz absolve e o Tribunal reforma a sentença, condenando o agente? Embora não tenha tratado especificamente desse ponto, a decisão do STF sinaliza a desnecessidade de que as duas decisões sejam condenatórias. Se o juiz de primeira instância absolve e o tribunal condena, é possível a execução provisória. E se forem apresentados embargos infringentes? Somente haverá execução provisória após o julgamento dos embargos infringentes. 4) Em 2019, o STF considerou que a execução provisória da pena fica condicionada ao trânsito em julgado da condenação, ressalvada a possibilidadede prisão preventiva quando presentes os requisitos legais. Com isso, houve o reestabelecimento da garantia constitucional de todo cidadão ser considerado inocente até que sejam esgotadas todas as instâncias e não ser possível reverter a condenação. (O STF e a prisão em segunda instância) https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI314831,51045-O+STF+e+a+prisao+em+segunda+instancia Reflexos penais: Não configuram maus antecedentes/reincidência: Inquérito policial arquivado Inquérito policial em andamento Ação penal com absolvição Ação penal em curso Cuidado! Somente condenações com trânsito em julgado! Súmula 444 do STJ - “é vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base”. Contudo, recentemente o STJ decidiu que é possível a utilização de inquéritos policiais e/ou ações penais em curso para formação da convicção de que o réu se dedica a atividades criminosas, de modo a afastar o benefício legal previsto no art. 33, § 4º, da Lei n.º 11.343/2006. STJ. 3ª Seção. EREsp 1.431.091-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 14/12/2016 (Info 596). JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA a) STJ: “A jurisprudência desta Corte entende que inquéritos policiais e ações penais em andamento não constituem maus antecedentes, má conduta social e nem personalidade desajustada, em obediência ao princípio da presunção de inocência. Incidência da Súmula 444/STJ” (HC 216517, 5.ª T., rel. Gilson Dipp, 22.11.2011, v.u.). b) STJ: “Esta Corte Superior tem entendido que, em respeito ao princípio da presunção de inocência, não podem ser considerados, para caracterização de maus antecedentes, má conduta social ou de personalidade negativa, inquéritos ainda não encerrados, ações penais que foram arquivadas ou trancadas, em que o acusado foi absolvido ou que ainda estejam em andamento” (HC 150598 – DF, 5.ª T., rel. Jorge Mussi, 23.03.2010, v.u.). c) STJ: “Fixar a pena-base acima do mínimo legal ante a existência de inquéritos e ações penais em curso contra a paciente constitui fundamentação inadequada, eis que viola a garantia da presunção de inocência. In casu, conforme depreende-se da folha de antecedentes, os fatos citados nos demais feitos foram anteriores ao ocorrido neste processo. Precedentes” (HC 114839 – MS, 6.ª T., rel. Maria Thereza de Assis Moura, 16.03.2010, v.u.). d) STJ: “Por força do princípio constitucional da presunção de inocência, as prisões de natureza cautelar – assim entendidas as que antecedem o trânsito em julgado da decisão condenatória –, são medidas de índole excepcional, que somente podem ser decretadas (ou mantidas) caso venham acompanhadas de efetiva fundamentação. 4. Na hipótese, vê-se que a segregação está amparada na gravidade e hediondez do delito, elementos que, por si só, não são considerados idôneos, na linha da jurisprudência desta Casa” (HC 44.307-SP, 6.ª T., rel. Og Fernandes, 24.08.2009, v.u.). e) STJ: “Para o recebimento de queixa-crime é necessário que as alegações estejam minimamente embasadas em provas ou, ao menos, em indícios de efetiva ocorrência dos fatos. […] Não basta que a queixa-crime se limite a narrar fatos e circunstâncias criminosas que são atribuídas pela querelante ao querelado, sob o risco de se admitir a instauração de ação penal temerária, em desrespeito às regras do indiciamento e ao princípio da presunção de inocência (Inq. n. 2.033, Ministro Nelson Jobim, DJ17.12.2004)” (HC 211857 – BA, 6.ª T., rel. Sebastião Reis Júnior, 27.11.2012, v.u.). f) TJMG: EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - EXPEDIÇÃO DE MANDADO DE PRISÃO E GUIA DE EXECUÇÃO PROVISÓRIA - NECESSIDADE DE EXAURIMENTO DE EVENTUAIS RECURSOS NESTA INSTÂNCIA. - A expedição de mandado de prisão e guia de execução provisória para inicial cumprimento da pena, atendendo a nova orientação jurisprudencial do STF consolidada no julgamento do Habeas Corpus de nº 126.292/SP, somente deve ocorrer após o exaurimento dos recursos cabíveis na segunda instância. v.v. APELAÇÃO CRIMINAL - TRÁFICO DE DROGAS - DESCLASSIFICAÇÃO PARA POSSE DE DROGAS PARA CONSUMO PESSOAL - IMPOSSIBILIDADE - MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS - DESTINAÇÃO MERCANTIL DA DROGA EVIDENCIADA - CONDENAÇÃO MANTIDA - RECONHECIMENTO DA CAUSA ESPECIAL DE REDUÇÃO DE PENA DO ART. 33, § 4º, DA LEI 11.343/06 - IMPOSSIBILIDADE - NÃO PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS - DEDICAÇÃO ÀS ATIVIDADES CRIMINOSAS. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. Se o conjunto probatório dos autos se mostra irrefutável quanto à prática do delito de tráfico de drogas pelo acusado, impossível acolher o pleito desclassificatório. 2. Não há falar-se em aplicação da causa especial de redução de pena prevista no § 4º do art. 33 da Lei 11.343/06, se resta comprovado nos autos à dedicação do réu às atividades criminosas. (TJ-MG - APR: 10024140717927001 MG, Relator: Rubens Gabriel Soares, Data de Julgamento: 24/11/0019, Data de Publicação: 04/12/2019). FONTE BIBLIOGRÁFICA NUCCI, Guilherme de Souza. Princípios Constitucionais Penais e Processuais Penais. 4 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.
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