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instalar-se um ciclo vicioso. Muitas mães se queixam de que seus bebês “trocam o dia pela noite”. As crianças, quan- do nascem, costumam manter nos primeiros dias o ritmo ao qual estavam acostumadas dentro do útero. Assim, as crianças que no útero costumavam ser mais ativas à noite vão necessitar de alguns dias para se adaptarem ao ciclo dia/noite fora do útero. Portanto, as mães devem ser tranquilizadas quanto a este eventual comportamento do bebê. 4.3.3.5 Interação com o bebê A interação entre a mãe e seu bebê nos primeiros dias é muito importante para uma futura relação sadia. A mãe e os futuros cuidadores da criança devem ser orientados a responder prontamente às neces sidades do bebê, não temendo que isso vá deixá-lo “manhoso” ou Atenção à Saúde do Recém-Nascido Guia para os Profissionais de Saúde 91 Cuidados no Alojamento Conjunto 4 Capítulo excessivamente dependente mais tarde. Carinho, proteção e pronto atendimento das ne- cessidades do bebê só tendem a aumentar sua confiança, favorecendo sua independência em tempo apropriado. O melhor momento para interagir com o bebê é quando ele se encontra no estado quieto-alerta.14 Nesse estado, o bebê encontra-se quieto, com os olhos bem abertos, atento. Ao longo do dia e da noite a criança apresenta-se nessa situação várias vezes, por períodos curtos. Durante e após intensa interação, os bebês necessitam de períodos de repouso. Para uma melhor e mais gratificante interação entre os bebês e suas mães, pais e cuidado- res, é importante que eles tenham conhecimento das competências dos bebês, que até pouco tempo eram ignoradas. Alguns RNs a termo, em situações especiais (principalmente no estado quieto-alerta), são capazes de:14 • Ir ao encontro da mama da mãe logo após o nascimento, se colocados no seu tórax. Des- sa maneira eles decidem por si o momento da primeira mamada, que ocorre em média aos 40 minutos de vida. • Reconhecer a face da mãe após quatro horas de vida. O bebê enxerga melhor a uma dis- tância de 20 a 25cm, que corresponde a distância que separa os olhos do bebê e o rosto da mãe durante as mamadas. • Fazer contato visual. • Reconhecer e mostrar interesse por cores primárias: vermelho, azul e amarelo. • Seguir um objeto com os olhos e, às vezes, virar a cabeça em sua direção. • Distinguir tipos de sons, com preferência pela voz humana, em especial a da mãe, e pelos sons agudos. • Determinar a direção do som. • Reconhecer sabores, com preferência por doces. • Reconhecer e distinguir diferentes cheiros. Com um ou dois dias de vida reconhecem o cheiro da mãe. • Imitar expressões faciais logo após o nascimento. • Alcançar objetos. Atenção à Saúde do Recém-Nascido Guia para os Profissionais de Saúde 92 Ministério da saúde Já no alojamento conjunto, os profissionais devem estimular o pai da criança, quando pre- sente, a participar ativamente dos cuidados com o bebê. A importância do vínculo pai-be- bê nos primeiros meses de vida é cada vez mais valorizada na sociedade atual. A exemplo do vínculo mãe-bebê, os primeiros meses de convivência são cruciais no estabelecimento da função paterna. 4.3.3.6 Posição da criança para dormir A prática de colocar as crianças para dormir em decúbito dorsal no alojamento conjunto e o fornecimento de informações simples e claras quanto ao posicionamento recomendado do bebê para dormir devem fazer parte da rotina dos profissionais de saúde que atuam em alojamento conjunto. Está bem documentada a associação entre síndrome da morte súbita do lactente e posição prona. Em diversos países observou-se queda significativa da mortalidade por essa condição após campanhas recomendando a posição supina para dormir, que é a única recomendada pelo Ministério da Saúde do Brasil.15 Apesar dessa recomendação, mesmo em hospitais-escola com programas de residência médica em Pediatria, a posição para dormir mais utilizada no alojamento conjunto de ma- ternidades brasileiras é a de decúbito lateral, assim como também a mais recomendada, erroneamente, em orientação verbal, na alta hospitalar.16 Existe temor entre pais e profissionais de saúde quanto à possibilidade de aspiração dos bebês quando colocados em decúbito dorsal. No entanto, estudos mostram que não houve aumento da frequência de aspiração após a recomendação de colocar as crianças para dormir nessa posição.17,18 4.3.3.7 Acompanhamento da criança Toda criança deveria sair da maternidade com a primeira consulta agendada em um serviço de saúde ou consultório, de preferência na primeira semana de vida, segundo recomenda- ção do Ministério da Saúde. Os responsáveis pela criança devem ser orientados quanto à importância do teste do pezi- nho, que idealmente deve ser realizado entre o terceiro e o quinto dia de vida. Se a criança estiver internada com mais de 48 horas de vida, o teste do pezinho deve ser colhido na maternidade. No caso da criança prematura, a coleta deve ser realizada entre o quinto e o décimo dia de vida. Vide Quadro 9 capítulo 40 do volume 4 . A Caderneta da Criança, do Ministério da Saúde,19 é uma importante ferramenta para o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da criança e o cumprimento do calendário vacinal nas datas recomendadas. Atenção à Saúde do Recém-Nascido Guia para os Profissionais de Saúde 93 Cuidados no Alojamento Conjunto 4 Capítulo A Caderneta da Criança é distribuída gratuitamente a todas as crianças nascidas no ter- ritório nacional, nas maternidades públicas ou privadas. Antes da alta hospitalar, a cader- neta deve ser preenchida com as condições de parto e nascimento pelo profissional que atendeu o RN e explicado o conteúdo aos pais. No alojamento conjunto, os pais devem ser estimulados a lerem as informações contidas na primeira parte da caderneta (seção destinada aos cuidadores) e a solicitarem aos profissionais que farão o atendimento de puericultura, que registrem as informações ao longo do acompanhamento da criança. 4.4 Identificação da criança de risco ao nascer Algumas crianças apresentam, já ao nascer, algumas características associadas a um maior risco de adoecer e morrer. Cabe aos profissionais de saúde identificar essas crianças já na maternidade e recomendar a priorização do seu acompanhamento na atenção básica, in- clusive com busca ativa. São considerados fatores de risco ao nascer:20 • Residência em área de risco. • Baixo peso ao nascer (<2.500g). • Prematuridade (<37 semanas de idade gestacional). • Asfixia grave (Apgar <5 no quinto minuto). • Necessidade de internação ou intercorrências na maternidade ou em unidade de assistência ao RN. • Necessidade de orientações especiais no momento da alta da maternidade / unidade de cuidados do RN. • Mãe adolescente. • Mãe com baixa instrução (<8 anos de estudo). • História de morte de crianças com menos de 5 anos na família. 4.5 Considerações finais Sempre que possível, a mãe e seu bebê devem permanecer juntos após o parto em sistema de alojamento conjunto. Esse sistema possibilita interação contínua entre mãe e bebê, o que favorece o aleitamento materno e oferece a oportunidade de aprendizagem quanto à amamentação e aos cuidados com o recém-nascido. Aos profissionais de saúde compete acolher e prestar assistência às mães e aos bebês, praticando o aconselhamento em vários aspectos, monitorizando possíveis intercorrências e intervindo sempre que necessário. Atenção à Saúde do Recém-Nascido Guia para os Profissionais de Saúde 94 Ministério da saúde Referências 1. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria MG/GM n° 1.016, de 26 de agosto de 1993. Aprova as normas básicas para implantação do sistema “alojamento conjunto” para mãe e bebê. Diário Oficial da União, Brasília, DF, n. 167, 1 de set. 1993, seção I, p. 13066. 2. KEEFE, M. R. The impact of infant rooming-in on maternal