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92 Unidade II Unidade II 5 A 4ª REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E OS DESAFIOS DA GESTÃO 5.1 A aceleração das mudanças e a necessidade de transformação Existe um conceito da física chamado ponto de bifurcação, que representa uma mudança drástica na trajetória de um sistema que estava em equilíbrio, e, nesse ponto, o sistema pode decompor ou imergir em novos estados. A partir desse conceito, vamos entender o ponto de bifurcação da 4º Revolução Industrial e nos preparar para um novo olhar na gestão empresarial, na estratégia organizacional, nos métodos corporativos e na forma de trabalho. Podemos tomar como exercício de futurologia o desenho animado Os Jetsons, produzido pelo estúdio Hanna-Barbera, de uma família típica norte-americana em Orbit City, liderada por George Jetson, com sua esposa Jane, seus dois filhos Elroy e Judy, o cão Astro e Rosie, sua empregada doméstica robô. Desde a década de 1960, esse desenho apresentava as mudanças tecnológicas e um novo estilo de vida com a TV de led, a videoaula com ensino a distância, as teleconferências, a automatização e a robotização no ambiente cotidiano, em uma verdadeira ruptura de hábitos, conceitos e uso da tecnologia. Figura 42 Lembrete As transformações pelas quais passa a sociedade são tão velozes que os indivíduos não conseguem perceber racionalmente o processo de mudança. 93 ADMINISTRAÇÃO INTEGRADA Neste século, estamos vivenciando uma aceleração exponencial de mudanças, não mais experimentadas a cada década, ano, mês ou dia, mas em segundos. Resumidamente, as mudanças não são mais como eram, e a provocação que fazemos é: você está preparado para as mudanças no mundo VUCA? O termo VUCA é uma sigla para descrever um ambiente, uma situação ou condições de volatilidade (volatility), incerteza (uncertainty), complexidade (complexity) e ambiguidade (ambiguity). Esse termo foi adotado pelo mundo corporativo e compartilhado com a chegada da Revolução Industrial 4.0. Ser capaz de se adaptar a esse ambiente e estar preparado para as mudanças que ele exigirá são características determinantes para manter um nível de competitividade e até de sobrevivência das organizações. Na prática, VUCA significa: • V – volatility (volatilidade): o momento presente é muito dinâmico, volúvel, veloz e efêmero, não segue padrões previsíveis; logo, não podemos buscar no passado as soluções para o futuro. Tudo isso demanda adaptações rápidas e precisas para manter planos que façam sentido, mesmo com as mudanças de cenário. • U – uncertainty (incerteza): o ambiente instável muda nossos planos em diversos níveis e momentos. A alta conectividade entre pessoas, processos e plataformas gera uma relação de dependência que afeta os planos de curto, médio e longo prazos. Nesse cenário, ter pessoas com opiniões diversas faz a diferença. Outras vivências e expertises podem trazer novas formas de lidar com determinados problemas. • C – complexity (complexidade): este termo remete às inúmeras variáveis que afetam nosso dia a dia. No entanto, um mundo mais complexo requer soluções mais simples. Precisamos aprender a lidar com a não linearidade das situações. Se tentamos lidar com todas as variáveis de maneira complexa, corremos o risco de perder o timing (tempo) para solucionar tais problemas. • A – ambiguity (ambiguidade): este termo significa a falta de clareza sobre o significado, a causa e as circunstâncias de um acontecimento. Por esse motivo, muitas vezes, não há uma resposta certa para nossas questões, pois tudo é ambíguo. O que realmente importa é que a decisão tomada faça sentido para a situação e traga eficiência. Não podemos sustentar uma visão maniqueísta na vida real. O mundo corporativo continua sendo administrado por cartilhas ultrapassadas e apegado a métodos, conceitos e práticas que não atendem mais à velocidade das transformações. As organizações que não buscarem novas referências e adaptações para lidar com a jornada desse novo mundo disruptivo correrão o risco de serem subjugadas à segunda divisão no ambiente empresarial, tornando seu negócio obsoleto. Precisamos refletir profundamente sobre isso e desenvolver um novo plano de ação para nossa carreira e/ou empresa. 94 Unidade II 5.1.1 Da máquina a vapor à 4ª Revolução Industrial e a evolução do mundo da gestão Temos uma história marcada por acertos e erros, fracassos e sucessos, com estudiosos e protagonistas renomados, como Frederick Taylor, Henry Ford, Henri Fayol, Tom Peters, C. K. Prahalad, Robert Waterman, Michel Hammer, Jim Collins, Clayton Christesen, Steve Jobs, Bill Gates e Peter Drucker. Conhecido como o guru dos gurus, Peter Drucker (2011) apud Magaldi e Salibi Neto (2018, p. 23) sentenciou o conceito de que “em uma organização, está intrínseca uma entidade social, com reflexos de suas ações e seus valores à sociedade, a qual pode criar benefícios ou prejuízos”. A dinâmica desse conceito está nos movimentos que a evolução empresarial cria nas deslocações do macrocontexto social. No decorrer da leitura deste livro-texto, vamos entender como a Revolução Industrial também revolucionou a sociedade na história do management contada a seguir. Observação Tal qual o período de consolidação da 1ª e da 2ª Revolução Industrial, quando floresceram inovações que transformaram a sociedade, vivemos em uma era de intensas mutações (MAGALDI; SALIBI NETO, 2018). 5.1.2 História do management Um dos eventos mais significativos da história da humanidade, ocorrido do século XVIII ao século XIX, foi a 1ª Revolução Industrial, que, consequentemente, impulsionou um novo momento no contexto social com a invenção do motor a vapor. Figura 43 95 ADMINISTRAÇÃO INTEGRADA Com nossos conhecimentos básicos de história, sabemos que, antes do surgimento da tecnologia a vapor, os animais e os escravos eram a força motriz das construções faraônicas. Na virada do século XVIII, teve início a revolução. Com apenas uma máquina a vapor, era possível realizar o trabalho de centenas de cavalos e escravos, algo extremamente inovador para a época. Com esse avanço, surgiram as fábricas, as locomotivas e as ferrovias, transformando completamente o sistema logístico, transportando grandes cargas em um único dia e estendendo a comercialização da produção excedente a mercados inexplorados sedentos por agilidade e facilidade. Esse movimento gerou riqueza e crescimento econômico em todos os locais nos quais a ferrovia chegava, e as fábricas se tornaram indústrias, com maior produção de escala, gerando a necessidade de mão de obra especializada. Nesse contexto, surgiu a figura do trabalhador, que passou a ocupar a posição central na sociedade. O escravo, que trocava seu esforço por comida e água, passou a ser remunerado por seu trabalho operacional, e, com o aumento da demanda por rapidez na entrega, as indústrias começaram a criar métodos e novos modelos de gestão com foco no aumento da produtividade. Frederick Taylor, que tinha sido admitido com louvor para estudar em Harvard, nos Estados Unidos (EUA), em 1874, desistiu da universidade para trabalhar como aprendiz em uma siderúrgica de um amigo de seu pai, chamada Midvale Steel Works. Lá, começou a se interessar pelas dificuldades e pelos problemas dessa organização industrial. O jovem mergulhou nas possibilidades de racionalização do trabalho do operário, o que resultou no livro Princípios da administração científica, publicado em 1994. A conclusão do seu estudo foi que o trabalhador não tinha condições de analisar racionalmente sua tarefa, tampouco de determinar qual o processo mais eficiente. Entendia que seria necessário criar uma nova função na organização do trabalho que realizasse esse papel. Nasceu, assim, a figura do gerente; com ele, o embrião da produção em massa, popularizada por Henry Ford, em 1925, com seu conceito de linha de montagem e significativos ganhos de produtividade. Tal forma de produção teve como suporte a invenção da eletricidade, tornando possível a criação e a implementação de novasmáquinas, sistemas e processos. Nos EUA, o crescimento das industrial promoveu uma renovação. O país deixou de ser um produtor rural para se transformar em um país de indústrias como John D. Rockefeller, Andrew Carnegie, J. P. Morgan, entre outras de petróleo, aço e finanças. A Europa continental acompanhou a Revolução Industrial e a nova administração científica por Henri Fayol (1949), que mapeou as cinco funções do gerente, conhecidas até os dias atuais: planejar, organizar, dirigir, coordenar e controlar. Todos nós possivelmente já utilizamos essas cinco funções no trabalho ou até mesmo em projetos que coordenamos e/ou dos quais participamos. Fayol continuou contribuindo com o avanço dos princípios científicos, agregando a autoridade funcional e pessoal; a unidade de comando e a hierarquia estrita; a prioridade da organização em relação aos indivíduos; a unidade de direção ou de objetivos corporativos; a centralização e o espírito de equipe. Com a introdução desses conceitos nas indústrias, nasceu aquilo que ficou conhecido como o método de gestão científica. Vários desses conceitos continuam em pleno vigor, podendo ser escutados nas conversas com os colegas de trabalho e nas reuniões de trabalho, como espírito de equipe, prioridade, hierarquia, 96 Unidade II centralização etc., o que demonstra sua contemporaneidade. Com esses conceitos e métodos, a história do management começa a dar origem à 2ª Revolução Industrial, tendo como protagonista um pensador austríaco que, por meio de seus estudos e suas diversas provocações, revolucionou o pensamento sobre gestão em todo o mundo. Formado em direito, mas apaixonado por comércio exterior e temas do mundo corporativo, Peter Drucker lançou o livro The future of industrial man (1943) e recebeu um convite para estudar por dois anos na maior empresa do mundo na época, a General Motors. Após inúmeros estudos sobre o processo de tomada de decisão e distribuição do poder em 1950, lançou outro livro, que seria a nova ruptura na gestão de empresas, Prática de administração de empresas (1981), e integrava o planejamento estratégico ao marketing e às finanças das organizações. Esse modelo foi essencial para uma nova forma de entender e atuar na gestão das empresas, unindo todos os assuntos corporativos em um pensamento único. Com a expressão “trabalhador do conhecimento”, Peter Drucker deu início à valorização e a uma nova dimensão da função do trabalhador, reconhecendo a importância de seu conhecimento, suas habilidades e seu potencial de realização individual. Transformou, assim, a forma como as lideranças passaram a encarar seus recursos humanos. Essa visão foi a base da revolução do Japão do pós-guerra, em pleno processo de recuperação de um país devastado, dando origem à gestão da qualidade total (TQM) e juntando-se a outros estudiosos, como Edward Deming e Joseph Juran. Lembrete Deming e Juran são considerados os pais da qualidade no mundo dos negócios. Os precursores da qualidade total desenvolveram a sistematização do trabalho, a estatística como ferramenta e a gestão por projetos, obtendo resultados consideráveis e tendo como alicerce a cultura oriental de disciplina e organização, inserindo as empresas e os produtos japoneses no mercado competitivo norte-americano. Esta é considerada a maior contribuição de Peter Drucker no desenvolvimento da gestão empresarial a premissa de que “o trabalhador deve ser considerado pelas organizações seu principal ativo estratégico, e não apenas recurso e/ou custo” (MAGALDI; SALIBI NETO, 2018, p. 26), como concebiam os norte-americanos naquela época. Décadas mais tarde, as principais organizações do mundo aderiram aos benefícios desse novo modelo de gestão, adotando as práticas e ferramentas ancoradas na visão da qualidade total e no conceito do trabalhador do conhecimento. O estudo e a prática dos conceitos de Peter Drucker transformaram a administração de empresas em disciplina acadêmica, incentivando milhares de jovens a se debruçarem sobre os estudos e as pesquisas desse tema, o que resultou, nos anos de 1950, em uma explosão dos cursos de Master of Business Administration (MBA) pelo mundo. 97 ADMINISTRAÇÃO INTEGRADA Nesse cenário, surgiram pensadores que decodificaram e ampliaram a visão de marketing lançada por Drucker, ascendendo ao movimento do mercado de consumo, que teve início nos EUA e, depois, espalhou-se pelo globo de forma meteórica. O primeiro foi Theodore Levitt. Em seu artigo Marketing myopia, publicado pela Harvard Business Review em 1960, o pensador recomendou que as empresas aglutinassem esforços nas demandas dos seus clientes, em detrimento exclusivamente do seu próprio negócio com ganhos de produção e minimização de custos e tempos. O declínio da gigante e soberana indústria de ferrovia nos EUA serviu para exemplificar sua visão sobre a importância das organizações e para seus dirigentes entenderem em que negócio de fato estão inseridos, a fim de focar corretamente o mercado e o cliente. Saiba mais Para aprofundar seu conhecimento sobre a natureza das organizações e suas práticas, sugerimos a leitura do livro a seguir: DRUCKER, P. Prática de administração de empresas. Rio de Janeiro: Livraria Pioneira, 1981. Essas empresas demoraram a entender que não estavam no mercado de trens, mas sim no mercado de transportes, negligenciando a emergente indústria automobilística, que já apresentava uma visão diferenciada de transporte, juntamente com a nova mentalidade da sociedade de valorização do indivíduo, oferecendo um novo conceito ao mercado de transporte e atendendo ao desejo do consumidor de se locomover de forma única e pessoal. A seguir, vamos conhecer alguns exemplos brasileiros de visão míope e visão estratégica de negócio, complementando a visão de Philip Kotler, que, em 1969, mudou a lógica e a prioridade da disciplina de marketing na gestão das empresas, o que lhe concedeu o título de pai do marketing. Quadro 7 Empresa Visão míope Visão estratégica Avon Cosméticos Beleza Xerox Copiadoras Automação de escritório Mercedes Benz Veículos Solução de transporte Estrela Brinquedos Alegria Freios Varga Freios Desaceleração de veículos automotivos Empresa de Consultoria Consultoria Soluções de problemas, lucratividade e produtividade Comércio de Calçados Calçados Conforto, status e elegância A evolução do marketing no mundo corporativo teve reflexos em toda a sociedade. Além de ganhar relevância e ficar cada vez mais exigente e poderoso, o consumidor contribuiu para o acirramento do mercado em praticamente todos os setores da economia, dando espaço para a chegada do pensamento 98 Unidade II estratégico nas organizações. Em 1969, Igor Ansoff, com sua experiência na companhia aeroespacial norte-americana Lockheed Aircraft, desenvolveu mais fortemente a ideia de estratégia, aplicando conceitos revolucionários para uma nova época de crescimento no volume de consumo, surgimento de novas empresas e, consequentemente, aumento da concorrência, em velocidade jamais vista na história dos negócios. Nesse estágio das organizações, fez-se necessário criar mecanismos de diferenciação para obter vantagem competitiva diante dos concorrentes, seguir prosperando e/ou se manter no mercado. Para dar base a essa necessidade, surgiu a teoria da estratégia competitiva, de um até então desconhecido professor da Harvard Business School, hoje conhecido em todos os cartões corporativos, Michael Porter. A teoria de Michael Porter (2005) de gerenciar as forças competitivas que influenciam o negócio na obtenção de resultados superiores, a diversificação e o compartilhamento das competências e dos recursos afunilou-se no conceito de clusters, fortalecendo a estruturação dos conglomerados, operando em diversos setores e acessando recursos mais favoráveis em sua cadeia de valor. Empresas como a GE e a japonesa Sony embarcaram nesse novo conceito e construíram enormes impérios, empregos e expressiva lucratividade. SegundoMagaldi e Salibi Neto (2018, p. 32), C. K. Prahalad adicionou à visão de Porter o conceito de competências essenciais, propagando que “uma organização é a soma das competências essenciais de cada um de seus funcionários”, e, se a empresa possuir competências únicas e complicadas de serem copiadas, vai gerar vantagem competitiva significativa no mercado. Com a ebulição de todos os conceitos dos protagonistas citados, popularizou-se a cultura do management, tendo como ícone transformador e decodificador do conhecimento sobre gestão o livro lançado em 1982 por Tom Peters e Robert Waterman: Em busca da excelência. Esse livro tornou-se o primeiro best-seller com a inédita cifra de mais de seis milhões de exemplares vendidos, em um período no qual os mais vendidos não ultrapassavam a marca dos 100 mil exemplares. Percebemos, até aqui, que os conceitos e os métodos organizacionais criados e desenvolvidos por diversos estudiosos foram fundamentais para a passagem positiva da 2ª Revolução Industrial. Nesse momento, houve a descoberta do mundo das possibilidades e da riqueza da aplicação da gestão para a sustentabilidade do negócio. Com a chegada da 3ª Revolução Industrial, já na década de 1960, iniciou-se o ciclo virtuoso da tecnologia, fixando a base para as novas e relevantes rupturas da modernidade, como a invenção dos computadores mainframes, do microprocessador e da internet. Conhecidos como os pais da internet, Vinton G. Cerf e Robert Kahn, engenheiros de computação, foram os criadores da arquitetura da internet e seu famoso protocolo TCP/IP. Atualmente, Cerf é vice-presidente e chefe de evangelização da internet no Google, sendo sua principal função a de identificar novas tecnologias, além de fazer parte do Projeto de Internet Interplanetária. Uma história curiosa que influenciou a criação do protocolo está na coincidência de deficiência auditiva de sua esposa Sigrid e, em menor proporção, do próprio Vinton. O projeto de desenvolvimento dessa nova tecnologia exigiu o afastamento do convívio do casal, e a saudade foi um motor propulsor, em uma solução criativa, para que eles se comunicassem durante esse período. https://es.icannwiki.org/TCP/IP https://es.icannwiki.org/index.php?title=Google&action=edit&redlink=1 99 ADMINISTRAÇÃO INTEGRADA Com o protocolo criado, foi possível a comunicação escrita entre dois computadores e Sigrid e Vinton, nascendo, assim, a primeira forma de troca de mensagens, conhecida hoje como e-mail. Esse é mais um exemplo de criação diante de uma necessidade, tornando-se a mais significativa ruptura da história da tecnologia moderna. Cerf iniciou sua carreira no curso de bacharelado de Matemática pela Universidade de Stanford, em 1965. Logo após a sua formatura, ingressou na IBM como engenheiro de sistemas no Quiktran Timeshare System Project, passando por consultorias e pela docência e assumindo, posteriormente, a vice-presidência de Serviços de Informações Digitais na MCI. Durante seu tempo de trabalho nessa empresa, ele liderou um grupo de engenheiros responsáveis pelo desenvolvimento e pela implementação do correio da MCI, que se tornou o primeiro serviço de e-mail para fins comerciais a ser conectado à internet. Ainda na MCI, Cerf liderou uma equipe de arquitetos e engenheiros para projetar conexões avançadas, sistemas de internet e aplicativos de segurança, combinando voz, dados e internet. Em 2004, Kahn e Cerf receberam o Prêmio Alan M. Turing por seu trabalho em protocolos de internet. O prêmio Turing também pode ser chamado de Prêmio Nobel de Ciência da Computação. Na década de 1980, os recursos tecnológicos invadiram por completo a vida das empresas e das pessoas, proporcionando uma aceleração em níveis inéditos e impactando os mais diversos atores da sociedade e segmentos empresariais. Esses recursos foram o prenúncio da tese que ficou conhecida como Lei de Moore, criada pelo inventor do microchip, que anunciava a possibilidade de, em 18 meses, a velocidade e o poder de processamento de dados dobrarem, oferendo espaço para novos entrantes no mundo das empresas tecnológicas, como a Microsoft, a Oracle, a SAP, entre outras. Essas empresas mudaram o nível de acesso de toda sociedade à tecnologia e, consequentemente, levaram o consumidor a um novo estágio de empoderamento. A gestão passou a encarar um cliente com maior conhecimento, que indicava sua necessidade de ser atendido de forma individualizada, e não mais no formato e tratamento em massa. As estratégias tomaram novos rumos, e o consumidor passou a ser considerado um indivíduo único pelas companhias, as quais começaram a oferecer tratamento personalizado. Francisco Madia (apud MAGALDI; SALIBI NETO, 2018, p. 35), professor e um dos precursores dos estudos de marketing no Brasil, expõe esse novo modelo com uma analogia interessante: Se pudéssemos comparar a nova posição do cliente no mercado com o teatro, seria uma inversão de trezentos e sessenta graus, na qual o cliente que ocupava a posição de plateia alçaria sua posição ao palco no mundo dos negócios. Com o desenvolvimento do conceito de tratamento individualizado, traduzido em um método aplicável nessa nova forma de relacionamento com o cliente, entraram em cena os autores Peppers e Rogers com o livro Marketing um a um (1994). Na compreensão do processo cíclico, antes da produção e da mídia em massa, os comerciantes e os artesãos faziam seus negócios de forma individualizada, administrando seu comércio com a visão de https://es.icannwiki.org/index.php?title=IBM&action=edit&redlink=1 100 Unidade II satisfazer as necessidades de um cliente de cada vez. Não havia, nessa época, a preocupação estratégica de ampliar o negócio pela conquista de uma maior fatia de mercado. O comércio era baseado no relacionamento com os clientes; o proprietário de um armarinho, de um banco, de uma barbearia ou de uma cocheira pública conhecia pessoalmente todos os seus clientes, um a um. Um exemplo dessa época é o comércio de verduras. O verdureiro sabia o tipo de produto que a Sra. Maria queria todas as semanas; normalmente, diferente de sua vizinha, a qual tinha outros costumes alimentares. Se a Sra. Maria deixasse de pedir o produto que costumeiramente comprava, o verdureiro notaria e teria condições de averiguar o motivo: teria o médico de sua freguesa lhe receitado uma nova dieta? Será que a Sra. Maria estaria comprando em outro lugar? Por haver um estilo de relacionamento recíproco, o verdureiro conhecia e se lembrava de cada um de seus clientes, o que lhe permitia resolver os problemas de forma individualizada e vender mais produtos a cada um deles, assim como modificar o seu próprio serviço ou sua oferta de produto para atender às necessidades e mudanças dos clientes. Embora os termos ainda não tivessem sido inventados, o verdureiro que antecedeu o século XX era um homem de marketing de relacionamento, que se preocupava e zelava por seus clientes individualmente. Ele mantinha em atividade um programa de satisfação de cliente e um compromisso com o seu próprio sistema de retenção de clientes. Contava com uma espécie de marketing com banco de dados, tratando cada cliente de forma diferente, confiando no que sabia a respeito de cada um deles. Mantinha o seu banco de dados na memória e, com esse estilo de trabalho, o verdureiro utilizava simplesmente a estratégia de fatia de clientes. O relacionamento individualizado consiste em gerar um elo com o consumidor por meio da interação com a empresa, receber especificações de necessidades e oferecer exatamente o que cada cliente deseja. Após certo período de tempo, a oferta da empresa passa a estar tão adaptada às necessidades desse cliente que dificilmente ele busca outro fornecedor. Isso porque o relacionamento individualizado torna mais conveniente a esse cliente manter-se fiel do que procurar a concorrência. Com o desenrolar da 1ª e 2ª Revoluções Industriais, os fabricantes iniciaram estudos para produzir grandes quantidades de produtos coma estratégia de alcançar uma maior produtividade. O desenvolvimento desses produtos ocorria em formatos padronizados, com o apoio da mídia de massa como instrumento para fazer com que os consumidores entrassem na loja local e solicitassem seus produtos específicos. Nesse momento, surgiu a necessidade de se criarem as marcas e a propaganda, largamente utilizadas nos dias atuais, com alta tecnologia e criatividade. Durante o século XX, por meio da extraordinária eficiência da comunicação mídia de massa de uma marca, a concentração da demanda do consumidor em produto produzido em massa resultou em significativas margens de rentabilidade para as indústrias, tendo como consequência a redução de vendas do pequeno proprietário. Os lojistas passaram a ser um pouco mais do que simples recebedores de pedidos, estocando em suas prateleiras os artigos que os consumidores veriam anunciados primeiramente nas revistas, depois, no rádio e, finalmente, na televisão. A proposta simplista do marketing um a um está no desejo de retornarmos às origens na forma e no tratamento individualizado, dedicados pelos pequenos proprietários às necessidades dos seus clientes. Para o seu sucesso, é essencial o uso dos recursos tecnológicos, principalmente no campo da 101 ADMINISTRAÇÃO INTEGRADA informática, para transformar a memória infalível do antigo miniempresário do século passado em um banco de dados informatizado que atenda aos desejos individualizados e diferenciados de todos os clientes, mesmo que haja milhões deles. Por meio do uso de sistemas de melhoria contínua, as organizações aperfeiçoaram a flexibilização de produção e, por consequência, a sua adequação ao mercado cada vez mais exigente. Porém, não se concentraram na satisfação das necessidades individuais de cada cliente, como o artesão fazia antigamente, consultando constantemente seu cliente para entendê-lo e atendê-lo bem e sintetizando as informações para fazer ajustes em seu pequeno negócio. O artesão focava na satisfação daquele cliente individual; quando finalmente estava com o trabalho concluído, ele entregava o bem e, então, perguntava se o produto havia atendido ao esperado de uma forma completa. Caso tudo estivesse correto, ele usava sua memória para registrar o gosto desse cliente específico. Caso contrário, seguia pedindo informações sobre o que havia saído errado. Peppers e Rogers (1997) relataram uma experiência, relacionada com uma floricultura, que nos servirá de exemplo para um melhor entendimento da aplicação do marketing um a um. Um amigo ligou para uma floricultura local, de uma pequena cidade, para pedir que entregasse umas flores à sua mãe, que morava lá, no dia de seu aniversário. Três semanas antes do aniversário dela, no ano seguinte, ele recebeu um contato da mesma floricultura, lembrando-lhe que o aniversário de sua mãe estava se aproximando, que ele havia mandado tais flores no ano anterior por um determinado preço e que um telefonema para o número especificado colocaria outro belo buquê na porta de sua mãe no seu aniversário. Observe, neste exemplo, que essa floricultura independente está trabalhando com muito afinco para atender individualmente seus clientes e, com isso, melhorar sua fatia de clientes. Sua estratégia de investimento em propaganda não está voltada apenas para divulgar o seu produto em todo o mercado com mídia de massa não abordável (impossibilidade de abordar e receber retorno no processo de comunicação de forma individualizada), fazendo a mesma oferta a todos, como se ninguém jamais houvesse comprado suas flores; ela está fazendo sua abordagem de fatia de clientes, preferindo investir seus recursos na comunicação individualizada, com a finalidade de conseguir que aquele cliente lhe renda mais. A floricultura, com essa estratégia, está prestando um serviço, lembrando ao seu cliente que o aniversário de sua mãe está se aproximando, tornando a sua loja quase indispensável e fácil em seu trabalho. Percebendo que lhe sai muito mais barato direcionar sua comunicação para o cliente certo, a floricultura resolve um problema para ele com base no que sabe a seu respeito. Isso não significa que a floricultura não esteja trabalhando para encontrar novos clientes; ela está apenas garantindo o máximo de preferência possível da parte daqueles que já possui, utilizando-se de nada mais do que um computador e muito bom senso. Fonte: Peppers; Rogers (1997). 102 Unidade II De acordo com a metodologia do marketing um a um, se ninguém na área de marketing consegue identificar os seus consumidores mais importantes, é porque a sua organização não incumbe ninguém de fazê-lo. Não existe nenhuma barreira tecnológica que a impeça de conhecer, em detalhes, a história de cada um dos seus clientes individuais. É provável que existam algumas barreiras organizacionais muito significativas, mas, se a empresa quiser abordar o seu negócio sob uma perspectiva individualizada, provavelmente precisará promover uma ruptura organizacional. O relacionamento individual de longo prazo entre cliente e empresa forjou o termo “clientelização”. A melhor forma de explicar o que realmente é a clientelização é observar a situação prática descrita no seguinte caso: no Japão, a National Bicycle Industrial Company produz bicicletas clientelizadas em uma linha de montagem computadorizada. O cliente pode definir os parâmetros de sua própria bicicleta, sua altura, seu peso, seu estilo de utilização, seu nível de experiência, o tipo de terreno predominante e assim por diante. As respostas a essas perguntas são passadas em um computador, e uma bicicleta é projetada na hora. Quando o cliente está satisfeito com o projeto, as especificações são enviadas por modem para a fábrica, e a bicicleta pode, então, ser entregue ao cliente no prazo de duas semanas. A empresa oferece mais dez milhões de variações de bicicletas e as vende por um preço apenas 10% acima de outras bicicletas comuns. Esse exemplo demonstra, na prática, o tratamento diferenciado a um cliente, com o desenvolvimento de um produto sob medida em parceria com o fabricante. Independentemente de seu ramo de atividade, a oferta de produtos clientelizados é, sem dúvida, uma das formas mais eficazes de aumentar a fatia de clientes. Clientelizar um produto é, portanto, uma forma de informatizá-lo, exigindo tecnologia de ponta e bom nível de colaboração de ambas as partes. A lógica do processo de clientelização de produtos é tão inevitável e irresistível quanto a lógica da linha de montagem do passado. Para o pleno sucesso da clientelização, as empresas precisam se estruturar em termos de fatia de clientes, e não mais fatia de mercado, praticando de forma eficaz o marketing individualizado. O tentáculo da revolução tecnológica, além do marketing, surfou nas demais áreas e dimensões da organização, incluindo novas ferramentas e instrumentos eficientes, como a gestão operacional, com resultados relevantes na otimização de processos, e a corrente da busca por “fazer mais com menos”. Os conceitos de redução dos níveis hierárquicos e as melhorias no fluxo dos processos agilizaram a comunicação, minimizaram retrabalhos, reduziram custos e, consequentemente, ampliaram os resultados do negócio. Esse movimento ficou conhecido como reengenharia. Possivelmente, temos algum amigo ou parente que sofreu as consequências da errônea interpretação do movimento da reengenharia. Uma epidemia de demissões nos anos de 1990 foi justificada por esse programa de gestão focado apenas na redução de custos a qualquer preço, com um exagero na dimensão financeira em detrimento das outras dimensões do negócio, dilapidando os resultados de longo prazo e ameaçando a visão de sustentabilidade e perenidade das empresas em nome do imediatismo da reengenharia. Esse acontecimento acabou mudando a dinâmica das relações sociais, gerando desconforto e desconfiança generalizada e abrindo espaço para uma nova modelagem de gestão com contornos inéditos. 103 ADMINISTRAÇÃOINTEGRADA 6 NOVAS VISÕES E O COMEÇO DA DISRUPÇÃO Em seus estudos na busca do conhecimento e das fórmulas dos principais vetores e fundamentos da gestão, Jim Collins, professor da Universidade de Stanford, apresentou resultados de uma extensa pesquisa com as empresas líderes dos principais setores da economia. Em 1994, Collins lançou o best-seller Feitas para durar. Em sua abordagem, ele aponta o que dá certo e o que dá errado no mundo dos negócios, com linguagem simples, menos acadêmica, ligada a uma sociedade que valoriza conteúdos acessíveis, com menos teoria e mais prática para uso no dia a dia. Collins foi rapidamente considerado um dos principais pensadores do management mundial, influenciando milhares de empresas com seus conselhos de busca por um posicionamento favorável em um cenário de mudanças. A palavra de ordem era a inovação, permeada pela segunda onda tecnológica, tendo como protagonista a internet. Várias empresas entenderam que a internet seria apenas um fenômeno da comunicação, não percebendo o potencial de transformação no comportamento do consumidor. Essa dormência na interpretação correta da inovação levou diversas empresas a sucumbirem. A disrupção estava na passagem da era analógica para a era digital. Nesta, a forma de fazer negócios foi reinventada, e houve uma grande explosão de novos setores e empresas. O processo de consolidação desse movimento aconteceu de forma progressiva, entre 1995 e 2000, com a popularização da web e o surgimento das startups, consideradas empresas inovadoras com alto potencial de escalabilidade e crescimento. A concentração das startups deu-se na região da Califórnia, conhecida como Vale do Silício. Hoje, são chamadas de empresas ponto com. O planeta ficou positivamente contaminado pela bolha do empreendedorismo, tendo como exemplo, entre outras startups, o exponencial crescimento da Apple, que nasceu em uma garagem com Steve Jobs e Steve Wozniak. O fenômeno da internet amadureceu e facilitou o acesso à tecnologia e à informação com custos acessíveis e agilidade. A computação nas nuvens ou cloud computing permitiu o armazenamento virtual em milhares de servidores espalhados pelo mundo, oferecendo redução de custos com hardwares e infraestrutura, impulsionando o surgimento de inúmeros empreendimentos com modelos inéditos, desconstruindo setores inteiros, como os de mídia, turismo, transporte e comércio, e consolidando, por fim, a era digital. Nesse período, a história se repetiu, como foi o caso das empresas ferroviárias, que, por não enxergarem em qual mercado estavam, sucumbiram. Portanto, as empresas que não entenderem a nova dinâmica dos negócios na era digital serão devastadas do mercado. Retomamos, assim, o exemplo da Apple, mas com um revés de recuperação após um período de dificuldade pela leitura incorreta do contexto. O fundador Steve Jobs retornou à gestão da sua empresa em grande estilo no lendário evento do lançamento do iPod, com um conceito maior do que simplesmente um aparelho portátil para tocar músicas. Ele lançou, também, um novo paradigma de plataforma, integrando produto, lojas físicas e ambiente digital, posicionando a Apple como a empresa mais valiosa do mundo. 104 Unidade II O Google, o Facebook e a Amazon são referências de empresas da era digital. São organizações que dinamizam os anseios dos consumidores, criam plataformas de negócio e atuam fortemente na economia do compartilhamento. Juntamente com a Uber e a Airbnb, são empresas que colocam em xeque o pensamento e as receitas tradicionais sobre gestão, mostrando ao mundo as possibilidades de rupturas e a tangibilidade do novo contexto da 4ª Revolução Industrial, apresentada pelo fundador e chairman do World Economic Forum, Klaus Schwab, com o lançamento do livro A 4ª Revolução Industrial (2016), no qual afirma que estamos vivendo a mais impactante das revoluções de todos os tempos. Com a expansão da era digital, com a internet das coisas e os sensores cada vez menores, mais poderosos e mais acessíveis, somados à inteligência artificial e robótica, aos veículos autodirigidos, à impressão 3D, à nanotecnologia, à biotecnologia, ao computador quântico e às máquinas que aprendem (machine learning), as organizações serão obrigadas a adotar, mais uma vez, uma nova mentalidade de gestão, descontruindo os clássicos modelos de sistema de produção, consumo, logística e distribuição, e seus líderes terão que descobrir formas diferenciadas de gerenciar seus talentos. Klaus Schwab descreve com maestria três elementos que tornaram o movimento da 4ª Revolução Industrial incomparável: • Velocidade: a 4ª Revolução Industrial evoluiu em uma velocidade exponencial em detrimento da linear, que caracteriza as anteriores. Resulta de um mundo multifacetado, profundo e interconectado e da presença de tecnologias mais inovadoras e potentes em um ciclo virtuoso. • Amplitude e profundidade: fruto da revolução digital, as inovações com múltiplas tecnologias estão provocando uma mudança sem precedentes de paradigmas na economia, nos negócios, na sociedade e nos indivíduos. Não é apenas a mudança do que e de como as coisas são feitas, mas também de quem faz e quem somos. • Impacto sistêmico: a atual revolução envolve a transformação de sistemas inteiros entre (e dentro de) países, organizações, indústrias e sociedades como um todo. Sua abrangência não mais se limita a determinado espectro de mercado; é global e ilimitada. O mundo está entrando em uma verdadeira irrupção. As empresas e as pessoas estão aprendendo a reaprender perante uma realidade em mutação, que provoca desconfortos e perguntas: qual é o conhecimento necessário para lidar com esse novo contexto? O ensinamento acadêmico está preparado para formar alunos para esse novo mundo? Qual é o melhor modelo de gestão? Quais são o estilo e o perfil de liderança mais adequados? O futuro da gestão está deixando os líderes, empresários e gestores acordados durante a noite. O momento exige o desenvolvimento de novos sistemas e pensamentos para lidar com a complexidade e a mudança do mindset. O livro Gestão do amanhã (MAGALDI; SALIBI NETO, 2018, p. 46) encerra sua primeira parte com uma afirmação que merece nossa reflexão e ação: “Replicar os modelos já existentes é sentença de morte certa”. 105 ADMINISTRAÇÃO INTEGRADA 6.1 A história do management Para facilitar a compreensão da sequência da história do management, da máquina a vapor à 4ª Revolução Industrial, construímos o quadro a seguir: Quadro 8 Período Movimento Reflexo na gestão Reflexo na sociedade Protagonistas 1ª Revolução Industrial Início do século XVIII Dependência da força humana e animal. Surgimento do trabalho escravo. Nova forma de sobrevivência (água e comida). - Reis; - Arquitetos; - Construtores. Século XVIII Surgimento de: - Máquina a vapor. - Ferrovias. - Fábricas. Surgimento de: - Trabalhador. - Transporte ágil. - Métodos de gestão. - Transformação de fábricas em indústrias. - Novos empreendimentos. Administração científica. - Frederick Taylor. 2ª Revolução Industrial Início do século XIX Invenção da eletricidade. - Novos conhecimentos. - Surgimento do gerente. - Ênfase no planejar, organizar, coordenar e controlar. - Mais trabalhadores e novas funções. - Nova classe social. - Estados Unidos deixa de ser rural e passa a ser industrial. Administração científica. - Frederick Taylor. Década de 1940 - Novos métodos de produção. - Integração do planejamento estratégico, do marketing e das finanças na gestão. Início da valorização do trabalhador, seu conhecimento e sua realização. Novo status do trabalhador. Administração científica. - Henry Ford; - Henri Fayol; - Peter Drucker. Década de 1950 - Recuperação do Japão (2ª Guerra Mundial). - Gestão da Qualidade Total (TQM). - TQM adotada mundialmente. - Necessidade de gestão de pessoas. - Surgimento do Master of Business Administration (MBA). - Exigência de novosconhecimentos, com novos cursos e especializações. - Introdução de novas funções e cargos. - Peter Drucker; - Edward Deming; - Joseph Juran. Década de 1960 - Ascensão do consumo. - Crescimento da indústria automobilística. - Introdução de novas técnicas de marketing. - Maior conhecimento da sociedade, dos costumes, das demandas e do relacionamento com o cliente. - Novo conceito de transporte individual e único. - Indivíduo valorizado como consumidor. - Novos hábitos de consumo. - Novo benefício de locomoção. - Nova postura da sociedade. - Theodore Levitt; - Phillip Kloter. 106 Unidade II Período Movimento Reflexo na gestão Reflexo na sociedade Protagonistas 3º Revolução Industrial Década de 1960 e 1970 - Invenção do computador. - Desenvolvimento do microprocessador. - Velocidade no processamento das informações. - Nova estratégia de tratamento individualizado do consumidor. Surgimento da Microsoft, do Oracle e do SAP. - Passagem da era dos inventores individuais para o coletivo. Década de 1980 e 1990 - Explosão dos conceitos de gestão (excelência e competências essenciais). - Novo conceito de diversificação dos negócios (GM e Sony) e mercado de nicho. - Introdução da reengenharia (distorcida e imediatista). - Descoberta da importância da gestão. - Necessidade de diferenciação. - Criação de vantagens competitivas e cadeia de valor. - Compartilhamento de recurso (holding). - Aumento da concorrência e da competitividade. - Aprimoramento das competências. - Maior poder de escolha do cliente. - Cliente mais exigente. - Inauguração de negócios mais imaginados (empresas ponto com/startups). - Tom Peters; - C. K. Prahalad; - Robert Waterman; - Michel Hammer; - Jim Collins. Década de 1990 e 2000 - Ascensão das mudanças e inovações. - Expansão da internet. - Era digital (Apple). - Novo uso de plataformas nos negócios. - Reinvenção do foco. - Estilo Google, Facebook e Amazon. - Novo perfil profissional. - Fechamento de empresas por não acompanhar as mudanças. - Benefícios do compartilhamento (Uber, Airbnb etc.). - Clayton Christesen; - Steve Jobs; - Bill Gates. 4ª Revolução Industrial Ano 2016 - Ruptura total, com novo mindset. - Adoção de conceitos nos negócios, como inteligência artificial, internet das coisas, big data, entre outros. - Ebulição dos conceitos de gestão. - Exigência de desaprender e aprender. - Velocidade exponencial. - Gestão de novas e velhas gerações. - Ruptura de conceitos, valores de trabalho e qualidade de vida pelas novas gerações. - Klaus Schwab; - Peter Diamandis; - Salim Ismail; - Joi Lto. Fonte: Magaldi; Salibi Neto (2018, p. 48). Observação A economia de escala, que só era possível graças ao ciclo “mais vendas, menores custos”, conquista uma nova perspectiva. Não é mais necessário ter o controle total da cadeia de valor (MAGALDI; SALIBI NETO, 2018). 107 ADMINISTRAÇÃO INTEGRADA 6.2 Futuro versus passado A história, ao longo do tempo, apresenta rupturas que merecem ser contadas e analisadas. Vamos começar este tópico descrevendo os acontecimentos do cinema. Durante séculos, somente os olhos humanos conseguiam assistir e testemunhar coisas e pessoas em movimento; nada havia sido inventado para a reprodução da realidade em ação. Após a invenção da fotografia, os irmãos Lumière conseguiram a proeza de reproduzir, quadro a quadro, o movimento das coisas e das pessoas, sendo reconhecidos como os precursores do cinema. Louis e Auguste eram filhos e funcionários do industrial Antoine Lumière, fotógrafo e fabricante de películas fotográficas, proprietário da Fábrica Lumière (Usine Lumière), instalada na cidade francesa de Lyon. Antoine aposentou-se em 1892, deixando a fábrica entregue aos filhos, que estudaram e se graduaram em engenharia. Na época, os irmãos produziam pequenos documentários e acreditavam que esse invento seria apenas um instrumento científico sem futuro comercial. Mesmo com essa ideia, resolveram fazer uma apresentação ao grande público para mostrar sua invenção, promovendo uma seção no dia 28 de dezembro de 1895, na primeira sala de cinema do mundo, o Eden, que ainda existe e está situada em La Ciotat, no sudeste da França. Lá, estavam os convidados formadores de opinião, os influenciadores e a comunidade em geral. A história conta que a curiosidade das pessoas para ver o invento criou um frenesi para testemunhar o acontecimento. A concorrência para conseguir um lugar no auditório foi enorme, pois assistir ao primeiro filme da história da humanidade seria um feito incrível. É importante observar que não se tratava de um filme tal como hoje conhecemos, mas de uma pequena cena de sessenta segundos retratando um momento do cotidiano das pessoas e o meio de transporte daquela época, com o título de Arrivée dún train em gare à La Ciotat (“Chegada de um trem à estação da Ciotat”). Podemos imaginar aquele salão lotado de pessoas no horário agendado da apresentação, com todas as autoridades locais, como políticos, intelectuais e inventores, e a população da comunidade reunida e ansiosa para conhecer a novidade dos inventores franceses. Muitos dos presentes não puderam testemunhar o grande feito que se tornaria a representação da sétima arte. Impactados pela imagem do trem em movimento, fugiram para o fundo da sala. Alguns correram para o lado de fora do salão, temendo ser atropelados pelo trem, e outros, apreciadores, simplesmente acenaram para a tela como se estivessem interagindo em tempo real com as pessoas da cena. Pode parecer algo engraçado, mas, naquela época, a reação foi perfeitamente compreensível. Afinal, nenhum ser humano havia vivenciado a reprodução artificial de algo em movimento. Os irmãos Lumière jamais imaginariam que seu invento, considerado apenas um instrumento científico sem futuro comercial, fosse se popularizar a ponto de estar em todas as casas do planeta nos dias atuais. Esse acontecimento histórico e hilário de mais de cem anos apresenta-se, hoje, com um poderoso ensinamento e é mais atual do que nunca: “o ser humano é incapaz de perceber as grandes transformações tecnológicas a olho nu” (MAGALDI; SALIBI NETO, 2018, p. 53). https://pt.wikipedia.org/wiki/Antoine_Lumi%C3%A8re https://pt.wikipedia.org/wiki/Lyon https://pt.wikipedia.org/wiki/1892 https://pt.wikipedia.org/wiki/Document%C3%A1rio https://pt.wikipedia.org/wiki/La_Ciotat 108 Unidade II É da natureza humana e está em nosso DNA há milênios: o cérebro humano é um devastador de energia. Por essa razão, o ser humano preocupa-se em poupar esforço cognitivo, tendo como dinâmica padrão poupar esforço para conservar a potência. Para reconhecer as mudanças, é necessário um sobre-esforço da pessoa para sair da realidade já existente e conhecida e migrar para a desconhecida. O que aconteceu na primeira apresentação dos irmãos Lumière foi um movimento de ruptura, e, como hábito, o cérebro humano processou e confundiu a realidade ignorada de uma nova tecnologia. Por isso, por segurança, muitos correram da sala. Estamos vivendo em uma era de intensas mutações, com velocidade exponencial de mudanças e várias pessoas com dificuldades de acompanhar e interagir com as novas tecnologias. Há poucos anos, não se imaginava a possibilidade de um indivíduo ter acesso, a qualquer momento e local, à apreciação de um conteúdo de conhecimento e/ou de entretenimento, como o Google e a Netflix, assim como à facilidade de solicitar um transporte com motorista pelo celular ou até mesmo comprar um produto na própria residência. Estamos falando sobre um momento de oportunidades e de evolução que está transformando o mundo e a forma como vivemos. Trinta anos foram necessários para Charles Darwin terminar seus estudos e publicar suas experiências no livro A origem das espécies, em 1859, deflagrando uma nova teoria da evolução das espécies e gerando um enorme impacto no campo da medicina, das ciênciase em outras esferas. As descobertas atuais são bem diferentes daquelas dos tempos das missões às Américas, quando a velocidade era equivalente ao deslocamento de um navio, e que eram realizadas quase sempre por um protagonista. Como exemplo, podemos citar o Projeto Genoma Humano, que contou com mais de 5 mil cientistas de 250 laboratórios espalhados por todo o planeta, com o objetivo de decodificar o DNA humano. Em 2003, foram mapeados mais de 1,8 mil genes de doenças, contribuindo para novas formulações de medicamentos e tratamentos. Esse resultado foi fruto de uma nova forma de compartilhar conhecimento, além de uma avançada e inovadora forma de trabalhar em equipe. Durante centenas de anos, o tráfego das informações não ultrapassava a rapidez de um cavalo; hoje, trafega-se em velocidade cósmica. Você consegue imaginar quanto tempo levaria para chegar ao resultado do DNA sem os atuais recursos tecnológicos? É importante reconhecer que, daqui para a frente, teremos uma nova perspectiva de mundo, e o que estamos vivenciando não é uma mera evolução incremental das transformações anteriores; é um momento distinto de todos os demais, com uma lógica diferenciada, um novo modo de operar, criar e atuar em todas as esferas conhecidas, sem manual de instrução, sem mentores e/ou especialistas. Trata-se de um futuro revolucionário em mutação, construído no compasso dos acontecimentos, do meio e das necessidades da sociedade. A empresa em que trabalhamos e o governo que elegemos, por exemplo, se continuarem operando com os métodos e conceitos anteriores, terão um resultado que é certo: sofrerão um tsunami, e a devastação será inevitável. Podemos encarar a evolução como um problema, com incertezas e enormes mudanças no caminho, mas podemos também enxergá-la como uma oportunidade de surfar nessa nova onda e conquistar ganhos jamais imaginados. O processo de construção do aprendizado sempre foi uma linear ascendente e progressiva. As escolas desenvolvem métodos de ensino por acumulação de conteúdo em formato modular, 109 ADMINISTRAÇÃO INTEGRADA conduzindo o aluno a aprender um pouco mais a cada dia e aumentando o grau de dificuldade a cada nova matéria apresentada. Não é muito diferente nas empresas, nas quais se busca o aprendizado contínuo e gradativo. A 4ª Revolução Industrial nos impõe uma inversão desse método. Chegou o momento de aprender a desaprender. A expressão “sair da área de conforto” é o ponto sensível na relação ensino-aprendizagem. A maior dificuldade não é aprender coisas novas; é desaprender as coisas velhas e pôr em prática conceitos, hábitos, crenças, atitudes e comportamentos virgens no dia a dia. É importante entender que, de certa forma, tudo o que aprendemos, seja um conhecimento, seja um conceito, seja uma nova competência ou mesmo um procedimento simples, depende da nossa coletânea de informações e aprendizados anteriores. Podemos até pensar que só aprendemos mesmo aquilo que já sabemos, sendo necessário um esforço um pouco maior para adquirir uma nova organização mental. É natural do ser humano, ao receber um novo conhecimento, criar resistência, pois, de alguma forma, contraria o que já era consagrado em sua mente como certo e adequado. As competências de aprender a desaprender e a resiliência chegaram para ficar e já fazem parte do perfil desejado pelas organizações no processo de recrutamento e seleção e capacitação das suas equipes. Ultimamente, muitas pessoas têm exagerado o tom ao afirmar que devemos esquecer tudo o que aprendemos no passado. Desaprender, no entanto, não significa esquecer nem ignorar o conhecimento anterior; a soma dos conhecimentos anteriores contribui fortemente para a assimilação e a prática da nova aprendizagem. Não é necessário resetar nosso cérebro e começar do zero. O que realmente precisamos relembrar é uma das qualidades que tínhamos quando criança: a curiosidade. E precisamos nos livrar de outra que as crianças não têm: o preconceito. Se conseguirmos nos comportar como crianças e ser novamente curiosos intelectuais, estaremos à frente de muitos profissionais. Ser curioso, nesse sentido, significa manter-se aberto ao canal da aprendizagem, às inovações e às novas práticas de um mundo superconectado e hiperinformado. Não existe receita pronta, mas a experiência quase sempre aponta que o aprendizado também acontece quando são feitas perguntas. Por essa razão, a nossa recomendação é: quando não souber algo, pergunte! Infelizmente, a quantidade mínima de conhecimento aceitável aumenta constantemente, e o conhecimento em si muda com a regularidade de uma queda d’água. Isso significa que aquilo que anteriormente estava no topo hoje não está mais. Para aprender de verdade, não basta apenas fazer perguntas; precisamos fazer as perguntas certas, buscar respostas incompletas, rever sínteses consolidadas, aprender, portanto, a desaprender. Aqueles que aprendem ativamente a partir de seus interesses, suas curiosidades e suas expectativas têm mais chances de questionar, rever crenças e problematizar progressivamente questões fundamentais, como quem somos, de onde viemos e para onde caminhamos; e, no campo da governança empresarial, o que será das empresas, quais princípios adotaremos e qual será a próxima ruptura. É importante lembrar que, quando crianças, aprendemos a olhar o mundo através dos olhos dos adultos e, em geral, incorporamos modelos prontos, simplistas, os quais aceitamos pela relação de confiança e dependência. Conforme crescemos, construímos sínteses mais abrangentes, que se 110 Unidade II modificam de acordo com as nossas experiências, percepções, interações, nossos questionamentos e nosso grau de autonomia. Se vivemos em um ambiente mais fechado, com visões de mundo monolíticas e crenças limitadoras, precisamos realizar um esforço muito maior para reavaliar, desaprender, aceitar novas visões, questionar certezas e realizar novas escolhas. A 4ª Revolução Industrial confronta as certezas contemporâneas, cria impasses e decisões difíceis, que levantam novas perguntas. As respostas nos ajudarão a transitar em um mundo cada vez mais incerto, com verdades provisórias. A atual situação exigirá, portanto, um contexto diferente na educação e nos educadores, com adaptações para as próximas gerações, assim como no mundo corporativo e nas lideranças, que deverão buscar respostas, operações e modelos de gestão inéditos para reconstruir o negócio e conquistar resultados sustentáveis. Saiba mais O perfil do líder da 4ª Revolução Industrial é resumido em um infográfico na página 242 do livro a seguir: MAGALDI, S.; SALIBI NETO, J. Gestão do amanhã: tudo o que você precisa saber sobre gestão, inovação e liderança para vencer na 4ª Revolução Industrial. São Paulo: Gente, 2018. Um dos desafios das organizações, que sentem os impactos da 4ª Revolução Industrial, está na habilidade de desligar o chamado piloto automático. De acordo com Magaldi e Salibi Neto (2018, p. 58), “o cérebro humano está habituado a processar um mundo mais simples e linear. Quando acontecem movimentos de ruptura, muitos vão reagir da forma que já conhecem e estão acostumados”. A palavra “piloto” está intimamente ligada à ação de direcionar algo por um caminho nos mais diversos meios de locomoção. Neste livro-texto, trataremo-la apenas como um guia mental do profissional, em reduzida dimensão. A automaticidade diz respeito aos movimentos que funcionam por si e que acontecem sem a nossa vontade; são as ações inconscientes de cada um. Vamos entender, portanto, como o piloto automático funciona nos atos inconscientes, guiados pela mente, independentemente da nossa vontade. No dia a dia, realizamos muitas tarefas sem tomar consciência daquilo que realmente estamos fazendo. Para exemplificar, você será submetido, a partir deste momento, a uma bateria de testes, os quais chamaremos de pegadinhas. Aproveite a oportunidade para ser espontâneo. Não tenha medo de errar! Responda rapidamente e em voz altaàs seguintes perguntas: • Quantos dedos eu tenho em uma mão? http://images.google.com/imgres?imgurl=www.virtual.epm.br/uati/corpo/images/beleza_maos3.jpg&imgrefurl=http://www.virtual.epm.br/uati/corpo/beleza6_maos.htm&h=315&w=292&prev=/images?q=m%C3%A3os&start=200&svnum=10&hl=pt&lr=&ie=UTF-8&sa=N 111 ADMINISTRAÇÃO INTEGRADA Figura 44 • Quantos dedos eu tenho em duas mãos? Figura 45 • Quantos dedos eu tenho em 10 mãos? • Quantos dedos eu tenho em 20 mãos? 30 mãos? E, por último, em 40 mãos? A sua resposta foi 5, 10, 100, 200, 300 e 400 mãos? Se foi, você ligou o seu piloto automático. Não levou mais do que alguns segundos para confundir a sua mente. Será que você está levando a sua vida, a sua carreira e o seu dia a dia desse jeito? Agora, vamos desligar o piloto automático e fazer as contas pensando logicamente e conscientemente. • Quantos dedos eu tenho em uma mão? Resposta: 5 dedos. • Quantos dedos eu tenho em duas mãos? Resposta: 10 dedos. • Quantos dedos eu tenho em dez mãos? Resposta: 50 dedos. (Cálculo da resposta: 10 mãos x 5 dedos = 50 dedos) • Quantos dedos eu tenho em 20 mãos? 30 mãos? E, por último, em 40 mãos? Resposta: 100 dedos, 150 dedos e 200 dedos. http://images.google.com/imgres?imgurl=www.virtual.epm.br/uati/corpo/images/beleza_maos3.jpg&imgrefurl=http://www.virtual.epm.br/uati/corpo/beleza6_maos.htm&h=315&w=292&prev=/images?q=m%C3%A3os&start=200&svnum=10&hl=pt&lr=&ie=UTF-8&sa=N 112 Unidade II Como é possível errar uma continha pequena como essa? Porque a nossa mente está cheia de hábitos inconscientes. Fazemos a conta de 10 mãos x 10 dedos de forma automática, e quase sempre o resultado é de 100, 200, 300 e 400 dedos. Tal automaticidade que carregamos no inconsciente acaba nos prejudicando e nos levando ao erro. A vida é um hábito: respirar é um hábito, dormir é um hábito, comer é um hábito. Somos e vivemos em uma sucessão de hábitos. O pensamento do ser humano é concordante com suas inclinações, seus discursos e suas opiniões, mas nossas ações são resultado de tudo aquilo a que estamos acostumados. Corriqueiramente, vemos o costume se sobrepor aos discursos, às declarações e às promessas das pessoas. Muitos prometem mudar e fazer algo diferente, mas facilmente e muitas vezes sem perceber, começam a se comportar exatamente como faziam antes, movidos pela roda do costume. Narrando dessa forma, os costumes e os hábitos podem parecer ruins, mas não são. Precisamos lembrar que as pessoas bem-sucedidas e vitoriosas obtêm e mantêm bons costumes. O hábito desses bons costumes se adquire na juventude, e é chamado de educação ou, simploriamente, de costume precoce. Observamos que quanto mais tempo de vida tem a pessoa, maior a dificuldade de adquirir novos costumes. 6.3 A chegada do século XXI Para Magaldi e Salibi Neto (2018, p. 61), “qualquer companhia desenhada para ter sucesso no século XX está destinada a fracassar no século XXI”. Essa frase pode causar desconforto em muitos empresários e gestores, mas representa a realidade corporativa atual. A ausência de percepção do impacto e do alcance das transmutações está retratada no alto índice de fechamento de empresas nos últimos anos. Estatisticamente, a expectativa de vida de uma empresa nos anos de 1930 era de 75 anos. Hoje, não passa de 15 anos. Saiba mais Para entender melhor o assunto tratado neste tópico, sugerimos a consulta do infográfico na página 84 do livro a seguir: MAGALDI, S.; SALIBI NETO, J. Gestão do amanhã: tudo o que você precisa saber sobre gestão, inovação e liderança para vencer na 4ª Revolução Industrial. São Paulo: Gente, 2018. Alguns analistas afirmam que, em 2020, mais de três quartos da Standard & Poor’s, tradicional publicação das quinhentas maiores empresas listadas na bolsa de valores de Nova York, em valor de ações, serão empresas que ainda não foram criadas e outras que ainda estão em projeto; empresas que, hoje, são conhecidas mundialmente, como a Uber, a Airbnb e o Snapchat, e que juntas estão estimadas em mais de 100 bilhões de dólares (base 2017). Há 5 anos, eram conhecidas apenas por um tímido grupo no segmento tecnológico. Em menos de 20 anos, o Google e o Facebook ocuparam uma posição entre as cinco empresas mais valiosas do planeta. 113 ADMINISTRAÇÃO INTEGRADA Algumas histórias de empresas que insistiram em se manter no status quo, desprezando as transformações e a velocidade dos acontecimentos, são dignas de serem mencionadas neste livro. Um CEO de uma organização líder mundial e reconhecido pelo mercado em 2007 declarou ao periódico norte-americano USA Today que não existiam chances de o iPhone ter participação de mercado significativa. Nesse mercado e nesse período, a Nokia, a Samsung, a Motorola, a Sony e a LG eram as detentoras do segmento e, juntas, dominavam mais de 90% dos lucros do setor em todo o mundo. O CEO com expressão mundial errou. Em 2015, somente o iPhone representava 92% dos lucros globais desse setor. E apenas uma das empresas do grupo citado obteve lucro; as demais tiveram prejuízos. Você pode estar imaginando que o autor dessa fala era alguém da concorrência ou, possivelmente, um executivo que atuava em algum setor afastado da tecnologia. Porém, o dono da afirmação foi Steve Ballmer, simplesmente o presidente da maior empresa global da época, a Microsoft, e executivo responsável pela rápida e exponencial ascensão dessa organização. Paradoxalmente, a Apple é hoje a empresa de maior valor de mercado em todo o planeta. Mesmo para um profissional atualizado e que atue no segmento tecnológico, é complexo perceber o ritmo das mudanças e das possibilidades. Outras histórias são contadas no meio corporativo para evidenciar a prática de organizações conservadoras, como é o caso da Kodak, que desenvolveu o primeiro projeto de câmera digital, em 1975, mas não acreditou na sua própria inovação; ou da Sony, com seu Walkman, que não acreditou no potencial da música digital e foi engolida pelo iPod. David Cook reinventou o mercado de filmes VHS com a Blockbuster para as pessoas que desejavam assistir aos filmes apresentados nos cinemas em seus lares, criando megalojas com o conceito de big stores e diversos espaços de experimentação. A Blockbuster acabou sendo vendida em menos de 10 anos por 8,4 bilhões de dólares, com uma rede de mais de 4.500 lojas espalhadas pelo mundo. Um novo negócio de sucesso especializado em vender vídeos via postal, em 2000, foi oferecer à Blockbuster a venda da empresa por 50 milhões de dólares. O CEO da Blockbuster analisou a proposta e concluiu que se tratava de um negócio de nicho; por isso, não se interessou. E foi assim que a Blockbuster deixou de adquirir a Netflix. Em 2010, a Blockbuster pediu concordata e, três anos depois, fechou suas portas. A Netflix está estimada, com base em avaliação de 2017, em mais de 60 bilhões de dólares. A proposta inovadora na Netflix não foi percebida pela Blockbuster, que não enxergou que o negócio postal seria a ruptura da distribuição e, em seguida, a comercialização de conteúdos via streaming que se utilizaram da evolução da tecnologia e da banda de internet. São histórias instigantes de processos de disrupção que nos oferecem boas lições e reflexões. É importante entender que, se a transformação não é percebida em seu início, quando estiver disseminada, já será tarde demais. O imediatismo das organizações na geração de resultados de curto prazo é uma das causas da miopia empresarial, e esse movimento está se acentuando nos últimos tempos. Uma das startups mais admiradas pelo mercado, conduzida pelo empreendedor Elton Musk, considerado emblemático, que atua no transporte espacial, a SpaceX, mostra que é possível fazer a transição do tradicional para o inovador. De forma ousada, ele mesclou sua equipe de especialistas e 114 Unidade II profissionais técnicos com pessoas que não tinham absolutamente nenhuma experiência e/ou expertise no setor aeroespacial, acreditando que a ignorância no assunto dessas pessoas pudessegerar bons resultados. Ele conseguiu, assim, diminuir o ciclo de produção e os custos de lançamento de um satélite ao espaço. Segundo Magaldi e Salibi Neto (2018, p. 71), o empreendedor da SpaceX Elon Musk acredita na presença do darwinismo no campo empresarial: “não é o maior, o mais tradicional que prospera, e sim aquele que se adapta melhor ao ambiente”. O protagonismo da Uber é citado nos cinco continentes, empresa que transformou definitivamente o mercado de transporte de pessoas a partir de 2009. O valor estimado em 2017 dessa empresa é de mais de 68 bilhões de dólares. Em termos de velocidade de crescimento, a Uber bateu todos os recordes, ultrapassando o Google e o Facebook. Sua operação atinge mais de 450 cidades de 73 países e transporta mais de 40 milhões de pessoas por mês. Uma informação comparativa é extremamente interessante: os motoristas que trabalham com a Uber já percorreram mais de 12 milhões de milhas, perfazendo, aproximadamente, 35 vezes a distância entre a Terra e Marte. Em menos de 10 anos, pela facilidade e pelos custos reduzidos dos serviços da Uber, o desejo de consumo de um automóvel entre os jovens da nova geração tornou-se menos relevante, pois acabam preferindo se locomover com um motorista, abrindo mão da aquisição de um carro. Essa mudança de conceito e esse novo comportamento provocam um impacto na cadeia do segmento automobilístico, consolidada há décadas. Podemos citar mais um case. Trata-se da Amazon e das escolhas de Jeff Bezos referentes ao direcionamento estratégico e ao investimento no futuro. Jeff foi consideravelmente criticado nos anos de 1990 pelos analistas econômicos por tomar a decisão de investir integralmente seu lucro na Amazon. Apesar das críticas dos analistas, e também dos acionistas, a Amazon transformou-se em um dos maiores ícones corporativos da história recente, com domínio mundial do varejo on-line, sendo avaliada, com base em 2017, em mais de 500 bilhões de dólares: maior que a soma das dez maiores empresas do varejo norte-americano. Vemos empresas preocupadas em remunerar seus acionistas no curto prazo, deixando de projetar e investir na longevidade do negócio e em pesquisas e tecnologias. O estudo da Agenda 2018, desenvolvido pela consultoria Deloitte, constatou em entrevistas com executivos de mais de 750 empresas nacionais que o investimento médio em tecnologia dessas empresas não ultrapassa 3% do faturamento anual. Esse comportamento de mirar no curto prazo e não investir em inovação contribuirá com os riscos de perenidade das organizações tradicionais. As empresas do século XXI deverão ser mais ágeis e flexíveis, utilizando-se da tecnologia da informação como plataforma de gestão, além dos novos padrões de conhecimento e da quebra de paradigmas de mercado. Muitos continuam céticos quanto ao processo de ruptura que estamos vivenciando, com a falácia do modismo e a preconização de que tudo isso não passa de uma forma de vender mais livros e palestras. Acreditam que esse movimento é efêmero e que não terá sustentabilidade. Porém, vamos relembrar a história do management sobre a importância que teve Gordon Moore, fundador da Intel, com a invenção do microprocessador na década de 1970. Houve uma ruptura que gerou diversas consequências no mundo tecnológico, aumentando vertiginosamente o processamento de dados e, em seguida, dobrando exponencialmente sua capacidade a cada 18 meses, em conjunto com a diminuição de custos. Como é possível dizer que isso foi uma falácia ou um modismo? 115 ADMINISTRAÇÃO INTEGRADA Com o crescente resultado de maior performance e menor preço, nasce a Lei de Moore. O efeito Moore é comprovado pelos equipamentos do nosso cotidiano, como o telefone celular ou, de forma mais específica, os smartphones, os tablets e os computadores. Hoje, esses produtos são democratizados em nossa sociedade devido ao acesso pela diminuição do preço dos equipamentos, o que impulsiona o surgimento de milhares de startups que desenvolvem soluções, utilizando-se desses dispositivos e facilitando a vida dos consumidores com alternativas de aquisição de conteúdo, guia turístico, pedidos de fast-food, movimentação bancária, fotografia entre milhares de aplicativos etc. Todo desenvolvimento digital avança de forma exponencial e mais barata que os negócios tradicionais. O advento da web transfigura a comunicação em geral e abala o segmento da mídia e imprensa tradicionais pelas limitações de amplitude, velocidade e custo. Testemunhamos, por exemplo, a notícia tradicional de um determinado acontecimento em outro país. Antes, eram necessários recursos complexos, profissionais no local e uma sucursal como veículo de comunicação para que a notícia chegasse a nós o mais breve possível. Não era muito diferente em relação à amplitude, à velocidade e aos custos das empresas nas transações e no contato com seus clientes e com todas as partes interessadas. A internet transformou de maneira definitiva e disruptiva a dinâmica dos relacionamentos comerciais e pessoais, com baixíssimos custos e alta acessibilidade. Esse acontecimento teve impacto significativo no processo de globalização, aproximando os mercados, as corporações e também os concorrentes. As empresas demoraram a entender que os seus concorrentes não eram mais o negócio da esquina do seu estabelecimento, mas da esquina de qualquer lugar do mundo. A simbiose da Lei de Moore continua potencializando o avanço das possibilidades, sendo uma delas a computação em nuvem, ofertando às organizações a diminuição dos investimentos em estrutura tecnológica, principalmente às companhias com menor condições de capital, e contribuindo com o crescimento dos milhões de novos empreendedores em todo o planeta. Alguns segmentos são mais conservadores em relação às mudanças e à utilização dos recursos tecnológicos, como o segmento financeiro: as chamadas fintechs (startups de tecnologia financeira), que estão tirando o sono dos pesos-pesados desse setor. Uma startup brasileira, a Nubank, oferece cartão de crédito sem anuidade, taxas ou qualquer outro custo adicional. Não tem sede física, e seu contato com os clientes é realizado unicamente por aplicativo de smartphone. Os noticiários informaram que, em dois anos, a Nubank recebeu mais de cinco milhões de pedidos de cartão de crédito, operando mais de um milhão de clientes, o que gerou uma fila de espera de mais de 500 mil interessados aguardando sua aprovação para utilizar o cartão. O fundador David Vélez comenta em suas entrevistas e palestras que a emissão dos cartões de crédito é só a ponta do iceberg do que está por vir. Ele não revela qual o valor de mercado da sua empresa, mas os especialistas a estimam em mais de um bilhão de reais. Isso é impressionante e é brasileiro! Finalmente, o mercado financeiro acordou e está tentando correr atrás do prejuízo de seu conservadorismo e sua tentativa de manutenção do status quo. O maior banco privado brasileiro, o Itaú, comprou 49,9% da corretora independente XP por seis bilhões de reais. A XP revolucionou o relacionamento com o cliente, desburocratizando os principais processos nesse relacionamento, utilizando-se da informática para eliminar a troca infinita de documentos físicos e a necessidade da presença física nas agências bancárias. O Bradesco, segundo maior banco do país, anunciou recentemente a criação da Next, seu banco 100% digital. Ambos os bancos entenderam que o modus operandi 116 Unidade II tradicional de suas ofertas e operações poderia comprometer o crescimento do seu negócio e enxergaram, também, a economia de custos na redução das milhares de agências espalhadas por todo o país. Vivemos em uma nova realidade de crescimento, inovação e rupturas exponenciais, com impactos determinantes nas organizações e nos seus líderes, exigindo um novo modelo mental de gestão dos negócios. As companhias que não acompanharem o novo mindset terão duas opções para o futuro: a autodestruição ou a destruição pela concorrente.7 A GESTÃO NA 4ª REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Quando se fala ou pensa sobre gestão, é imperativo citar um dos mais brilhantes pensadores de management do mundo, Peter Drucker. Para refletir, vamos começar com uma de suas centenas de frases citadas em trabalhos educacionais, treinamentos, palestras e no cotidiano das corporações: “A cultura devora a estratégia todos os dias no café da manhã das organizações”. Podemos trocar a palavra “cultura” por “rotina”. A rotina diária e a mesmice da organização acabam rifando o pensamento estratégico de longo prazo, em detrimento do imediatismo e da busca do resultado de curto prazo, como já comentamos. Está cada vez mais complexo para as empresas catalisarem as transformações, seus efeitos e as consequências no negócio no médio e longo prazos. Um dos naufrágios mais conhecidos da história da humanidade, retratado em um dos filmes mais celebrados e premiados do cinema, estrelado por Leonardo DiCaprio, o Titanic, misturando ficção e realidade sobre a colisão do navio com um iceberg, apresenta o auge do momento de uma glamorosa festa na embarcação, com muita comida, bebida e música e, ao mesmo tempo, uma cena emblemática, em que os passageiros tomam conhecimento da tragédia, buscando desesperadamente a melhor alternativa de salvamento. No entanto, os músicos da orquestra continuam calmamente acompanhando a partitura, sem desafinar, dando continuidade à melodia enquanto a água inunda o convés. Figurativamente, se trocarmos os músicos pelos executivos e o naufrágio pela 4º Revolução Industrial, essa interessante metáfora traduz os desafios que o mundo corporativo tem a partir de agora e a importância de os executivos não continuarem tocando a música, como se nada estivesse acontecendo, pois o naufrágio da organização é líquido e certo. 7.1 Os modelos de gestão da 4ª Revolução Industrial Os modelos de negócios tradicionais evoluíram com base no controle de custos e na estratégia de ganhos de escala. O sistema capitalista e a competitividade fazem parte das estratégias de gestão, e essa dinâmica de custos menores associada ao volume de vendas, oferecendo preços menores em comparação com a concorrência, gera um ciclo virtuoso e impulsionador ao crescimento do negócio. Foi com esse conceito que surgiram os grandes conglomerados, justificando a manutenção das estratégias tradicionais para manter a liderança de mercado e a gestão no sentido vertical. Um dos exemplos da integração vertical é a Ford Motors, que era proprietária de uma fazenda com criação de ovelhas para produzir a lã utilizada nos estofados dos seus automóveis, bem como sua mineradora de ferro para manufaturar a matéria-prima do seu produto final. 117 ADMINISTRAÇÃO INTEGRADA Nesse modelo, o quadro de estabilidade e previsibilidade é dominado pela organização. O conhecimento de seu mercado, cliente, fornecedor, parceiro e todas as partes interessadas é profundo, mas ainda é um modelo que sofreu poucas alterações desde a 1ª Revolução Industrial. À medida que mais mercados se tornam acessíveis, maior é a velocidade das conexões de negócios e a facilidade da portabilidade das informações disponíveis. Esses são fatores que corroboram com o chamado efeito rede, reforçando o ciclo virtuoso do crescimento de entrantes em rede, em ritmo exponencial de oportunidades. A perspectiva da economia de escala, conquistada graças ao modelo de gestão de mais vendas com menores custos, ganha nova dimensão no modelo de gestão em rede. Não é mais necessário deter o total controle da cadeia de valor; basta conseguir atrair mais pessoas para sua rede para alavancar vantagem competitiva em relação à concorrência e ao mercado em que atua. Os ativos físicos se tornaram irrelevantes diante da influência de uma rede qualificada de clientes, parceiros, fornecedores, investidores etc. Como exemplo de movimentação dessa nova dimensão, citamos a BMW, que reconheceu a tempo sua limitação diante da 4ª Revolução Industrial e se uniu à Intel para desenvolver automóveis autônomos, explorando todos os recursos e as expertises tecnológicas dessa parceria. A Ford também está pegando carona nessa estrada com o projeto denominado Ford Smart Mobility, utilizando-se de alta tecnologia e conectividade na busca de soluções de mobilidade. Lei de Moore pura! No segmento de mobilidade, em 2016, foi lançado um projeto piloto de compartilhamento de carros, chamado GoDrive. Sua proposta é simples e rentável: oferecer aos usuários a utilização da frota dos participantes em viagens só de ida com estacionamento garantido em todas as cidades. O automóvel fica disponível na garagem predefinida para o próximo cliente; o aplicativo desenvolvido para esse serviço executa todas as operações necessárias de reservas e pagamentos e o cálculo da transação é feito por minuto de utilização do automóvel. A revolução em andamento está questionando a tradicional forma de analisar a concorrência. Você conseguiria imaginar que um dia as fabricantes de automóveis competiriam com a Uber? A nova geração está trocando a aquisição do automóvel pelo simples acesso a este, com muito mais praticidade e economia. E ainda encontramos pessoas e gestores com o discurso de que tudo isso não passa de um modismo. As transformações atuais são de cunho estrutural e estão se consolidando em um novo modelo de gestão. Os tradicionalistas corporativos, as clássicas ferramentas de governança e alguns gurus renomados no passado então em xeque. Você, como profissional, líder e/ou empresário, está atuando na era analógica ou está caminhando para a era digital e se preparando para um modelo de gestão em experimentação? Sua resposta determinará o futuro da sua carreira e/ou do seu negócio. Pense nisso! 7.2 O efeito rede e o modelo das cinco forças competitivas de Michael Porter As organizações, há décadas, constroem estratégias com foco em melhores resultados e, se possível, lineares ao longo dos anos, tendo como entrave a amplitude sucessiva da concorrência e da competitividade. Pensando em uma solução, Michael Porter foi o que melhor soube catalisar e deduzir os impactos do modelo tradicional de gestão em termos estratégicos. 118 Unidade II Considerado um dos mais significativos pensadores da economia contemporânea, Porter criou, como professor da Harvard Business School, o modelo das cinco forças, que tem como premissa e fundamento o melhor posicionamento da organização diante dos concorrentes em sua cadeia de valor. Sua visão está embasada na plataforma da força da competitividade, com fatores claros de avaliação e mensuração. As cinco forças competitivas são: • Rivalidade entre concorrentes. • Ameaças de novos entrantes. • Poder de barganha dos clientes. • Poder de barganha dos fornecedores. • Ameaças de produtos substitutos. Podemos nos perguntar por que este livro está retroagindo a um modelo anterior à 4º Revolução Industrial, uma vez que, como vimos, se as organizações continuarem a utilizar os modelos tradicionais, irão sucumbir. A resposta está em um artigo publicado na Harvard Business Review Brasil, com o título Pipelines, plataformas e novas regras de estratégia, pelos professores Marshall, Parker e Choudary (2016), que afirmam a importância de revisitar a tradicional visão de Michael Porter com um novo olhar para as transmutações atuais e futuras. O artigo deixa claro que há limitações no modelo de Porter, necessitando de um alinhamento em relação ao efeito rede e ao valor agregado das interações dos agentes envolvidos nos processos. Entretanto, a análise das forças competitivas ainda se aplica na nova economia, com algumas introduções de elementos, gerando um comportamento distinto do modelo tradicional. O modelo tradicional das forças busca o completo afastamento da concorrência, posicionando a organização em um estágio diferenciado para o mercado e resultando em uma maior rentabilidade ao negócio. Na economia em rede, o afastamento da concorrência dá lugar à atração e à interação dos agentes participantes
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