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Montes Claros/MG - 2014
Alysson Luiz Freitas de Jesus
História do Brasil 
Colônia ii
1ª EDIÇÃO ATUALIZADA
2014
Proibida a reprodução total ou parcial.
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Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes
Betânia Maria Araújo Passos
Autor
Alysson Luiz Freitas de Jesus
Doutor em História Social – USP. 
Mestre em História Social e Cultural – UFMG. 
Departamento de História – Unimontes. 
E-mail: alflu- iz@yahoo.com.br
Sumário
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
A sociedade colonial: trabalho, cultura e economia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.2 A estrutura da sociedade: um panorama geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.3 A colônia no mundo rural e no mundo urbano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15
1.4 As dinâmicas, o “antigo regime nos trópicos” e as diferenças regionais . . . . . . . . . . . .21
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .26
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
A mineração e o sistema colonial no século XVIII. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
2.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
2.2 A economia mineratória, as relações sociais e o papel de Minas Gerais . . . . . . . . . . . .27
2.3 O ouro e a sociedade escravista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .32
2.4 O ouro, a administração colonial portuguesa e o início das contradições do sistema 
colonial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
A crise do antigo sistema colonial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
3.2 Liberdade, liberdade, liberdade... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
3.3 As revoltas nativistas e o sistema colonial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.4 As conjurações, a crise do sistema colonial e os exemplos da Inconfidência Mineira e 
da conjuração baiana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3.5 Tiradentes: uma liberdade, ainda que tardia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .49
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51
Unidade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53
A crise do estado português e a falência dosistema colonial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53
4.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53
4.2 Portugal, Inglaterra, Brasil, Napoleão... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53
4.3 A famíliareal no Brasil: burocracia, poder, história e ficção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55
4.4 O significado da independência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .62
Resumo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .63
Referências básicas, complementares e suplementares . . . . .65
Atividades de Aprendizagem- AA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .67
9
História - História do Brasil Colônia II
Apresentação
Prezado(a) Acadêmico(a):
A disciplina História do Brasil Colônia II é um dos principais temas para a formação do pes-
quisador e professor de História. A disciplina História tem as suas particularidades e suas sub-
divisões. É a partir destas que você poderá compreender a disciplina em sua totalidade, pois a 
separação em diversas etapas da história permite compreender os processos sociais, políticos, 
econômicos e culturais que caracterizam a História em seus diversos tempos.
Você, enquanto historiador e professor, perceberá que a disciplina História do Brasil Colônia 
II será de suma importância para a compreensão não apenas da História do Brasil, como também 
da formação de toda a era moderna.
Além disso, o estudo do período colonial brasileiro é uma oportunidade temática de repen-
sar valores, culturas e práticas políticas dos homens do passado, neste caso, do passado colonial. 
Essa é, indiscutivelmente, uma das grandes questões que você deve ter em mente enquanto his-
toriador e professor de História, já que ela norteia a teoria e a prática da sua formação acadêmica, 
conforme você observou desde o início do seu curso.
Os objetivos desta disciplina são muito claros, e podem ser pensados a partir dos seguintes 
aspectos:
•	 Analisar as relações sociais que se deram na colônia, bem como a estruturação da sociedade 
nos trópicos;
•	 Repensar a dinâmica na economia mineratória e o papel de Minas Gerais no sistema colo-
nial;
•	 Compreender a crise do antigo regime e as contradições vivenciadas na colônia;
•	 Avaliar as revoltas sociais e políticas que se deram na América Portuguesa, culminando na 
efetivação da crise do sistema colonial;
•	 Analisar a chegada da família real no Brasil como elemento de desgaste final das relações 
Brasil-Portugal.
Tendo isso em mente, este material foi produzido e Dividido em quatro grandes unidades.
Na primeira unidade, intitulada “A sociedade colonial: trabalho, cultura e economia”, procu-
ra-se fazer o panorama geral das relações sociais e culturais que se passaram na colônia, ao longo 
dos três séculos.
A unidade 2 analisa as relações sociais, políticas e econômicas da região das Minas, procu-
rando compreender como a região foi, ao mesmo tempo, um dos momentos de fortalecimento 
da administração portuguesa e, por conseguinte, espaço propício para os desgastes e contradi-
ções do sistema colonial.
A terceira unidade, “A crise do antigo sistema Colonial”, objetiva analisar como o final do sé-
culo XVIII foi responsável por revelar as maiores contradições externas e internas do regime colo-
nial, culminado em eventos como a Inconfidência Mineira.
Por fim, a última unidade procura relacionar a vinda da família real para o Brasil com o efeti-
vo desgaste do poder de Portugal sobre a colônia, buscando compreender como se deu o nosso 
processo de independência.
Você perceberá, portanto, que esta disciplina será fundamental para todo o seu curso. Nas 
demais disciplinas de História do Brasil, é imprescindível que você identifique criteriosamente 
como se deu o nosso passado colonial, bem como as metodologias para o ensino de História do 
Brasil Colônia II.
O texto está estruturado a partir do desenvolvimento das unidades e subunidades. Você de-
verá perceber que as questões para discussão e reflexão são muito importantes e acompanham 
o texto, bem como as sugestões para transitar do ambiente de aprendizagem aos sites, para 
acessar bibliotecas virtuais na web, etc.
As sugestões e dicas estão localizadas junto ao texto, aparecendo com os respectivos íco-
nes. A leitura dos textos complementares indicados, também, é importante, pois eles indicam os 
possíveis desenvolvimentos e ampliações para o estudo e a discussão.
São recursos que você pode explorar de maneira eficaz, pois buscam promover atividades 
de observação e de investigação que permitem desenvolver habilidades próprias da análise so-
ciológica e exercitar a leitura e a interpretação de fenômenos sociais e culturais.
10
UAB/Unimontes - 3º Período
Ao planejar esta disciplina, consideramos que essas questões e sugestões seriam fundamen-
tais, de forma a familiarizar o acadêmico, gradativamente, com a visão e procedimentos próprios 
da disciplina.
Agora é com você. Explore tudo, abra espaços para a interação com os colegas, para o 
questionamento, para a leitura crítica do texto, bem como para as atividades e leituras comple-
mentares.
Bom estudo! 
Alysson Luiz Freitas de Jesus
11
História - História do Brasil Colônia II
UnidAde 1
A sociedade colonial: trabalho, 
cultura e economia
1.1 Introdução
O estudo das relações sociais na América Portuguesa permite compreender parte da nossa 
formação colonial. O Brasil foi, sem sombra de dúvida, uma das maiores empreitadas coloniais da 
história, constituindo-se na principal colônia portuguesa até o final do século XVII.
As relações de trabalho, as manifestações culturais e as formas político-econômicas que se 
deram na sociedade colonial são os principais objetivos desta unidade inicial.
A colônia se estruturou a partir de várias dinâmicas, entre as quais o universo rural e o uni-
verso urbano, bem como as inúmeras diferenças regionais que se deram em todo o território co-
lonial. Analisar essas dinâmicas e estruturas sociais é o nosso objetivo central neste momento.
Nesse sentido, esta unidade está dividida nos seguintes tópicos:
•	 A estrutura da sociedade: um panorama geral;
•	 A colônia no mundo rural e no mundo urbano;
•	 As dinâmicas, o “antigo regime nos trópicos” e as diferenças regionais.
1.2 A estrutura da sociedade: um 
panorama geral
Os objetivos da colonização, que privilegiavam a grande propriedade, implicaram, também, 
na outorga de autoridade delegada para comandar os moradores, ficando a seu cargo a ocupa-
ção e a defesa da terra.
O povoamento frágil não criou condições para a ação comunitária de famílias ou grupos em 
projetos comuns. Os grandes proprietá-
rios, com os parentes indígenas de suas 
concubinas, seus bastardos e alguns 
aventureiros europeus foram, então, os 
responsáveis pela expansão do povoa-
mento.
A posterior formação de família 
legal pelo proprietário não resultou no 
desaparecimento ou exclusão daquela 
família parentela, constituída pelas con-
cubinas indígenas, seus bastardos e pa-
rentes que constituíram o clã rural, ao 
qual se devem acrescentar os escravos 
negros.
A endogamia, quase uma neces-
sidade na fase inicial, tornou-se um 
costume consagrado, fosse por razões 
econômicas, como o desejo de não di-
vidir a propriedade, fosse por precon-
GLOSSÁRiO
endogamia: casamen-
to entre indivíduos do 
mesmo grupo,seja este 
definido com base em 
parentesco, residência, 
território, classe, casta, 
etnia, língua, seja por 
qualquer outro critério.
Família patriarcal: 
relativo à concentração 
de poder e de prestígio 
na figura do patriarca.
◄ Figura 1: Senhor de 
engenho e família 
Fonte: Disponível em 
http://www.azza.blo-
gspot.com. Acesso em: 
01/07/2009
12
UAB/Unimontes - 3º Período
ceito racial. Ela é o elemento fundamental para 
a consolidação dos chamados “clãs parentais”,em que grandes famílias dominavam uma de-
terminada região, sob a chefia inconteste do 
patriarca (VIANA, 1974, p. 207).
O fato de que, no âmbito geral da socieda-
de, principalmente nas camadas inferiores de 
agregados, moradores, jornaleiros, pequenos 
lavradores, vaqueiros, o casamento foi uma ra-
ridade, predominando as uniões transitórias 
ou mesmo permanentes, mas não legitimadas, 
representava mais um elemento de superiori-
dade social do grande proprietário. Ainda que 
este fosse o cúmplice e agente da desagrega-
ção familiar de seus escravos e dependentes, 
pela exploração sexual que fazia na pessoa de 
suas filhas e companheiras, a estabilidade do-
méstica que ostentava lhe dava, ainda, aquela 
superioridade moral advinda do cumprimento 
das exigências do cristianismo.
Se, por um lado, os bastardos eram margi-
nalizados e discriminados; por outro, a tradição 
ibérica, acentuada pelas contingências locais, tendia à aceitação bastante comum daqueles bas-
tardos que, reconhecidos ou não, recebessem a proteção de seus pais ou parentes. A falta de pre-
conceitos para com a bastardia, em si, fica evidenciada no caso dos filhos de padres que foram 
uma ocorrência comum na sociedade brasileira. Enquanto uns disfarçavam seus rebentos sob o 
título de “afilhados”, outros os criavam às claras, em sua companhia, recebendo muitas vezes cui-
dadosa educação e bens herdados, que lhes permitiam integração total na boa sociedade local 
(FREYRE, 1977, p. 446-7).
Autores como Gilberto Freyre e Antonio Candido ressaltaram a importância da família como 
“organização fundamental do período colonial, produção, administração, defesa e status social 
do indivíduo sendo dependente disto” (FREYRE, 1977 p.181).
A sociedade colonial deve ser, pois, analisada à luz dessa organização baseada na grande 
propriedade particular, no trabalho escravo de indígenas e africanos e na miscigenação inevitá-
vel pela falta inicial de mulheres brancas e pelas tentações do poder absoluto do senhor sobre 
servas submissas.
ATiVidAde
Faça uma pesquisa na 
Internet sobre o pro-
cesso de miscigenação 
entre índios, negros e 
portugueses no Brasil, 
durante o período 
colonial, procurando 
pesquisar de onde 
vieram os africanos 
que chegaram ao Brasil 
e as principais tribos 
indígenas que aqui 
habitavam.
Figura 2: Jesuítas e 
padres na colônia 
Fonte: Disponível em 
maniadehistoria.word-
press.com. Acesso em: 
01/07/2009
►
GLOSSÁRiO
estamento (ou esta-
mental): Estado em 
que pode cada um sub-
sistir ou permanecer. 
Assembleia, congresso, 
parlamento.
Figura 3: Jesuítas e 
padres na colônia
Fonte: Disponível em 
http://www.mundo-
educacao.com.br/.../
jesuitas.htm. Acesso em: 
01/07/2009
►
13
História - História do Brasil Colônia II
Por força das necessidades da colonização, o gran-
de proprietário teve sua autoridade natural sobre de-
pendentes e vizinhos reforçada pela legislação que lhe 
concedia o monopólio dos cargos municipais, as pa-
tentes militares com poderes de recrutamento e polícia 
sobre a população local, além de cargos burocráticos 
de caráter lucrativo ou honorífico.
A aparente simplicidade desse modelo não esgo-
ta, entretanto, a complexidade e a sutileza que resul-
tavam da formação de uma sociedade escravocrata, 
superposta sobre a ibérica de tipo estamental - que já 
se modificava sob o impacto das transformações da Era 
Moderna.
Ainda é preciso não esquecer que a sociedade 
ibérica, apesar de suas analogias com o resto da Euro-
pa, apresentava peculiaridades oriundas do processo 
histórico da Reconquista, da presença da escravidão 
africana, da miscigenação racial e da existência de dis-
criminações legais contra considerável parte da popu-
lação, a saber, os “cristãos novos” (judeus convertidos), 
negros e mulatos.
Um outro grupo social de enorme importância na 
formação e funcionamento do sistema colonial era a 
nobreza.
Comprovada a condição de nobreza, o indivíduo passava a gozar de seus privilégios, dos 
quais lembramos como principais os que os isentavam de certos tributos, da obrigação de apre-
sentar soldados, de penas infamantes quando condenados, além de lhe darem melhores condi-
ções de prisão, processo e julgamento.
Mas qual seria a condição básica para que um colono, português ou brasileiro, pudesse as-
pirar à condição de “nobre”? O autor Luis da Silva P. Oliveira inicia suas considerações a respeito 
com sutil ironia, o que não diminui a veracidade das suas informações quando afirma:
Como os ricos ordinariamente se fazem às Dignidades da Igreja, aos Postos de 
Milícia, aos Empregos da República, aos casamentos nobres, e tudo o que há 
de mais honroso na sociedade, com razão se costuma dizer, que a riqueza pro-
duz o brilhantismo da Nobreza (OLIVEIRA, 1808, p. 120).
Eis aí um resumo correto dos caminhos de ascensão social na colônia. A documentação 
municipal e a das confrarias e irmandades está repleta de referências a indivíduos “nobres”, que 
“vivem nobremente” ou “vivem à lei da nobreza”. Existe uma constante preocupação com o re-
conhecimento desta qualidade que, como já vimos, abria as portas para o gozo do mais elevado 
diCA
É importante lem-
brar que os próprios 
europeus que aqui se 
instalaram eram, já na 
Europa, um povo mis-
cigenado, o que torna 
mais complexa a nossa 
miscigenação.
◄ Figura 4: Nobre
Fonte: Disponível em 
histoblogsu.blogspot.com. 
Acesso em: 01/07/2009
◄ Figura 5: Nobreza
Fonte: Disponível em 
bloggdehistoria.blo-
gspot.com. Acesso em: 
24/11/2010
14
UAB/Unimontes - 3º Período
status social, além de garantir as posições de 
mando e de influência.
Mas, em primeiro lugar, era preciso enri-
quecer, e de forma menos degradante possível 
e, por isso, era importante abandonar, quanto 
antes, nos primeiros estágios do processo de 
ascensão social, qualquer atividade que lhe 
trouxesse a mancha do trabalho manual ou do 
comércio em retalho ou, como se dizia, “em loja 
aberta”.
As condições sociais da colônia também 
reservavam discriminações das mais variadas, 
em especial no que se refere à situação de gru-
pos considerados inferiores.
A discriminação racial de que eram vítimas 
negros, mulatos e “cristãos-novos” afastava-os 
das posições que eram a marca da ascensão 
social. Mas, por outro lado, esta existia para alguns indivíduos que, com a posse de bens consi-
deráveis, a aquisição de educação universitária, a obtenção de patente militar ou com a entrada 
para o estado eclesiástico rompiam as barreiras e, para escândalo de muitos, ocupavam aquelas 
posições que, como já vimos, implicavam nobilitação (KOSTER, 1941, p. 480).
Para o negro e para o mulato, assim como para o branco pobre, além do trabalho manual 
em ofícios mecânicos ou do pequeno comércio, atividades que, como já vimos, eram degradan-
tes, só restava a vida militar onde, engajados espontaneamente à força, adquiriam pelo menos 
posição social reconhecida.
A massa de escravos e marginalizados, formada por negros, mulatos e mamelucos ou ca-
boclos formava mais de dois terços da população, e a minoria branca tinha perfeita consciência 
de que o seu domínio só era mantido por um delicado compromisso entre a repressão pronta e 
violenta e as concessões paternalistas, que tanto impressionavam os observadores da sociedade 
brasileira. Mesmo com todas as distinções sociais que se davam na América Portuguesa, um ele-
mento se faz importante: a questão da ascensão social.
O processo de ascensão social, coroado com a obtenção de ordens honoríficas ou patentes 
militares, poucas vezes era completado em uma vida, pois, geralmente, apenas os filhos ou ne-
tos gozavam o sucesso cujas bases haviam sido lançadas pelos pais ou avós. Poderia ter come-
çado pela mancebia de uma escrava negra ou mulata com um branco que a alforriasse, ou com 
um escravo que comprassea liberdade, ou com um artífice enriquecido, mas o mais provável é 
que começasse com um comerciante português que, à custa das mais implacáveis economias, 
conseguira um cabedal considerável. Mas todos, para serem finalmente aceitos como membros 
do grupo dominante, deviam adquirir terras e escravos, para se tornarem senhores de engenho, 
criadores de gado ou fazendeiros de café ou, pelo menos, casar-se em família de proprietários de 
terras.
diCA
Você sabia que, mesmo 
com todas as relações 
de preconceito com 
o negro, ainda assim 
era possível a escravos 
buscarem uma melhor 
colocação na socieda-
de?
Figura 6: Elite colonial – 
senhor de engenho 
Fonte: Disponível em 
http://www.portalsao-
francisco.com.br. Acesso 
em: 01/07/2009
►
Figura 7: Negros 
trabalhando na colônia 
Fonte: Disponível em 
novahistorianet.blogs-
pot.com. Acesso em: 
01/07/2009
►
15
História - História do Brasil Colônia II
Para os letrados, formados em leis por Coimbra, em Portugal, ou para funcionários mais gra-
duados que vinham de Portugal para “fazer a América”, existia o caminho bem mais fácil, o do 
casamento com filhas de ricos proprietários, que muitas vezes procuravam “branquear a raça”, 
mesmo pela união com um imigrante pobre.
Para todos aqueles que, pelas regras, valores e preconceitos predominantes seriam excluí-
dos, como era o caso dos cristãos-novos, negros, mestiços, oficiais mecânicos, mercadores de loja 
aberta eram necessárias a cumplicidade, a tolerância ou a proteção da sociedade para que pu-
dessem infiltrar-se nos círculos proibidos.
É interessante lembrar, por fim, o importante papel do Estado como poder que sancionava 
ou rompia as regras do processo da mobilidade e que, em larga medida, dirigia a evolução da 
sociedade colonial, segundo seus objetivos de máximo aproveitamento dos recursos locais e ma-
nutenção da ordem.
1.3 A colônia no mundo rural e no 
mundo urbano
A dinâmica do funcionamento colonial revela aspectos bem interessantes. É importante no-
tarmos que, mesmo com todas as questões levantadas acima, torna-se fundamental entender 
que diferentes universos sociais, políticos e geográficos implicam diversas formas de relações, 
como foi o caso do sistema colonial brasileiro.
ATiVidAde
Pesquise sobre o 
Estado Português entre 
os séculos XIV e XVII, 
procurando compreen-
der como Portugal era 
uma força política na 
época.
GLOSSÁRiO
Cristãos-novos: Cris-
tão-novo ou converso 
era a designação dada 
em Portugal, Espanha 
e Brasil aos judeus e 
muçulmanos conver-
tidos ao cristianismo, 
em contraposição aos 
cristãos-velhos.
◄ Figura 8: Letrados ou 
intelectuais da época
Fonte: Disponível em 
caferepublica.blog.com. 
Acesso em 01/07/2009
16
UAB/Unimontes - 3º Período
O Brasil é conhecido pela sua enorme condição territorial, o que nos mostra uma variedade 
de formações sociais, a depender das regiões que se deram. Compreendê-las é fundamental para 
um melhor entendimento do funcionamento da América Portuguesa, ao longo dos três séculos 
de colonização.
No que se refere ao mundo rural, as vilas tornaram-se meros apêndices desertos e tristonhos 
da grande propriedade e, se não desapareceram de todo, foi apenas porque a prudente políti-
ca metropolitana exerceu grande pressão no sentido de reunir os povoadores dispersos. Perce-
bendo as forças que atuavam na sociedade colonial, procurou conquistar pela persuasão os que 
queriam viver entre os indígenas e punir com advertências ou multas os “homens-bons” que se 
recusavam a participar das sessões das Câmaras e das procissões régias.
A largueza da hospitalidade rural, indispensável pela falta de instalações adequadas para os 
viajantes, era um elemento a mais para o prestígio e força do proprietário. Era outra forma de 
ostentar uma das qualidades estimadas pelo sentido aristocrático da vida - a capacidade de dar e 
até de desperdiçar.
O triunfo da grande propriedade como unidade produtora e social não resultou, entretan-
to, na criação de uma classe genuinamente camponesa e, com certeza, foi responsável pelo seu 
atrofiamento.
GLOSSÁRiO
Agregado: Criado, ser-
viçal. Aquele que vive 
em fazenda ou enge-
nho alheio, cultivando 
certa porção de terra 
e prestando serviço ao 
proprietário alguns dias 
por semana, mediante 
remuneração; morador.
ATiVidAde
Faça uma pesquisa 
sobre o jesuíta Antonil 
(André João Andreo-
ni) e as obras que ele 
publicou, retratando 
o funcionamento do 
sistema colonial.
Figura 9: Mapa do 
Brasil no século XVI
Fonte: Disponível em his-
torianet.com.br. Acesso 
em 01/07/2009
►
Figura 10: Latifúndios 
no período colonial
Fonte: Disponível em 
arteyartistas.word-
press.com. Acesso em 
01/07/2009
►
17
História - História do Brasil Colônia II
A impossibilidade de obter terras ou de conformar-se com o trabalho assalariado levava os 
menos favorecidos a aceitarem a condição de agregados, categoria constantemente criticada pe-
los contemporâneos como preguiçosa, errante, suscetível e violenta, mas cujo desamparo e inse-
gurança foram identificados por Saint-Hilaire:
O único recurso que ao pobre cabe é pedir, ao que possui léguas de terra, a 
permissão de arrotear um pedaço de chão. Raramente lhe é recusada tal licen-
ça, mas, como pode ser cassada de um momento para o outro por capricho ou 
interesse, os que cultivam terreno alheio e chamam-se agregados só plantam 
grãos, cuja colheita pode ser feita em poucos meses, tais como o milho e o fei-
jão, não fazem plantações que só dêem ao cabo de longo tempo, como o café 
(SAINT-HILAIRE, 1938, p. 39-40).
Agregados ou moradores, além de suprirem a propriedade com algum excedente de 
produtos de subsistência, prestavam serviços como garantir a posse pela sua mera pre-
sença, levar recados e, sobretudo, servir como homens de armas para a defesa ou vingan-
ça do senhor rural.
O isolamento do agregado, sem família para apoiá-lo, a inexistência de laços comu-
nitários com seus iguais, a ação do paternalismo do senhor rural estorvava a formação da 
noção do interesse coletivo que levasse a uma atuação reivindicatória consciente.
Segundo Tollenare (1957), os moradores eram em geral mestiços de mulatos, negros 
livres e índios que trabalhavam pouco e cujas mulheres eram vítimas da exploração se-
xual dos senhores de engenho, o que, por vezes, levava às vinganças sangrentas. Certo 
senhor de engenho não se afastava mais de ¼ de légua de sua casa por temor aos “mora-
dores” que prejudicara (TOLLENARE, 1957, p. 95-96).
Enquanto os agregados ou moradores representam uma categoria social constante 
em toda a colônia, tanto no campo como na cidade, as áreas açucareiras apresentavam 
uma estratificação social mais complexa, com a presença de lavradores com diversos 
graus de dependência do senhor de engenho e de artífices assalariados, além da massa 
escrava.
A mais complexa descrição da economia e sociedade açucareiras do Nordeste pode ser en-
contrada na obra de Antonil, escrita na primeira década do século XVIII, mas cujas informações 
são confirmadas por inúmeros cronistas e viajantes que o precederam e sucederam até a primei-
ra metade do XIX.
Ao definir a posição do empresário rural, proprietário da unidade produtora de açúcar - o 
engenho - com suas terras, escravos e instalações fabris, Antonil traça uma analogia com a no-
breza metropolitana, o que, como já vimos, não é descabido, dados os princípios estamentais de 
que gozava. Assim dizia Andreoni:
O senhor de engenho é título a que muitos aspiram, porque traz consigo o ser 
servido, obedecido e respeitado de muitos. E se fôr, qual deve ser, homem de 
cabedal e govêrno, bem se pode estimar no Brasil o ser senhor de engenho, 
quanto proporcionalmente se estimam os títulos entre os fidalgos do Reino 
(ANDREONI, 1967, p. 139).
ATiVidAde
Faça uma pesquisaso-
bre as principais formas 
de castigo e violência 
sofridas por escravos 
negros no Brasil.
Figura 12: Senhor de 
engenho
Fonte: Disponível em enci-
clopedianordeste.com.br/
no va405.php. Acesso em: 
01/07/2009
▼
◄ Figura 11: Grandes 
fazendas no período 
colonial 
Fonte: Disponível empal-
ma1.no.sapo.pt .Acesso 
em 01/07/2009
18
UAB/Unimontes - 3º Período
As vantagens econômicas e sociais e o poder garantidos pela condição de senhor de enge-
nho explica porque tantos insistiam em erguer seus engenhos, mesmo quando não possuíam 
cabedais e capacidade para mantê-los. Lavradores e comerciantes enriquecidos obtinham cré-
dito junto aos fornecedores de escravos e materiais para a construção do engenho, enquanto os 
artífices se dispunham a erguê-lo, mediante pagamento posterior, assumindo uma dívida imensa 
que as primeiras safras não conse-
guiam pagar.
Cronistas e memorialistas são 
unânimes em destacar a importân-
cia da capacidade administrativa 
do senhor de engenho, que deve-
ria patentear-se numa cuidadosa 
economia e na habilidade diplomá-
tica no trato com fornecedores de 
cana, vizinhos e dependentes.
Elemento onipresente na so-
ciedade colonial, o escravo africa-
no teve sua importância ressaltada 
na clássica definição: Os escravos 
são as mãos e os pés do senhor de 
engenho, porque sem eles no Bra-
sil não é possível fazer conservar e 
aumentar a fazenda, nem ter enge-
nho corrente (ANDREONI, 1967, p. 
159).
Desempenhando as mais di-
versas funções, desde as mais sim-
ples da lavoura, passando pelos 
trabalhos domésticos e ofícios me-
cânicos até os de maior responsa-
bilidade, como purgador, mestre 
de açúcar ou feitor, o escravo era 
peça fundamental na economia do 
engenho.
Figura 14: Escravo 
negro 
Fonte: Disponível em 
antigasternuras.blogs-
pot.com. Acesso em: 
01/07/2009
►
Figura 13: Vendas no 
período colonial
Fonte: Disponível em 
http://oglobo.globo.com. 
Acesso em: 01/07/2009
►
19
História - História do Brasil Colônia II
No entanto, os testemunhos contemporâneos são unânimes em lembrar a crueldade com 
que eram tratados por seus senhores, que lhes negavam até alimento e vestuário, além de lhes 
infligir maus tratos e castigos constantes. Mesmo o costume de permitir o plantio de roças para si 
mesmos nos domingos e feriados, tão exaltados por alguns viajantes e historiadores, nada mais 
era do que uma forma de poupar despesas com alimentos.
O excesso de castigos levava à fuga, ao suicídio ou ao assassinato do senhor. Outra preocu-
pação aconselhada era a de não afastar o escravo do ofício em que estivesse treinado; do contrá-
rio, poderiam morrer de melancolia (ANDREONI, 1967, p. 160-2).
Os mulatos eram considerados os escravos mais inteligentes e ativos, embora orgulhosos e 
violentos. O maior perigo era a sua capacidade de insinuar-se até dominar seus senhores, o que 
Antonil atribuía à parcela de sangue branco que possuíam, acrescentando: “O Brasil é o inferno 
dos negros, purgatório dos brancos e paraíso dos mulatos e mulatas (ANDREONI, 1967, p. 160).
ATiVidAde
Faça uma pesqui-
sa sobre o viajante 
Saint-Hilaire e sobre 
outros viajantes que 
vieram para o Brasil e 
retrataram o cotidiano 
colonial.
◄ Figura 15: Escrava negra
Fonte: Disponível em 
blogtribuna.com.br. Aces-
so em: 01/07/2009
◄ Figura 16: A violência 
na escravidão
Fonte: Disponível em 
http://www.vetoradm.
com.br. Acesso em: 
01/07/2009
20
UAB/Unimontes - 3º Período
A tática de encorajar com certa consideração e, possivelmente, com algum trabalho mais es-
pecializado, os escravos que aprendessem o português e cumprissem algumas práticas católicas, 
resultou na fervorosa adesão dos mesmos a muitas confrarias religiosas de negros e mulatos.
A região açucareira, que pouco mudou até os fins do século XIX, conheceu o modelo mais 
estruturado de sociedade colonial e as variações regionais, ditadas por diferentes atividades pro-
dutivas, tenderam sempre à sua reprodução, desde que as condições permitissem.
A sociedade dos engenhos, que representa o tipo clássico mais hierarquizado e duradou-
ro de nossa história, foi característica das regiões açucareiras da Bahia, Pernambuco e capitanias 
vizinhas. O desenvolvimento tardio da produção açucareira no Rio de Janeiro e em São Paulo, 
onde só se intensificou no século XVIII, resultou em formas mais flexíveis e menos hierarquizadas.
Entretanto, não apenas no mundo rural se deram as relações sociais na colônia. Outro im-
portante universo social e político foi fundamental para a organização da América Portuguesa: o 
mundo urbano.
Entre os grupos sociais que compunham o espaço urbano, podemos enfatizar alguns. Os co-
merciantes são um exemplo importante.
Acima dos artífices, achavam-se os comerciantes, cuja importância variava de acordo com o 
caráter e extensão das trocas que realizavam. Excluindo os escravos de ambos os sexos, que co-
merciavam por conta de seus amos desde produtos agrícolas, animais, doces, salgados, refrescos, 
carnes, até artigos manufaturados como tecidos e bordados, temos em lugar os pequenos mer-
cadores das vendas. Estas, que podiam estar instaladas também à beira das estradas, realizavam 
um pobre comércio de produtos alimentícios, velas, fumo, cordas e aguardente de cana, todos 
de origem local.
ATiVidAde
Faça uma pesquisa 
sobre a formação da 
pecuária na região sul 
do Brasil e no norte de 
Minas, e procure avaliar 
as principais diferenças 
dessa atividade econô-
mica nas duas regiões.
GLOSSÁRiO
Sertão: Zona pouco 
povoada do interior do 
Brasil, em especial do 
interior semi-árido da 
parte norte-ocidental, 
mais seca do que a caa-
tinga, onde a criação de 
gado prevalece sobre 
a agricultura, e onde 
perduram tradições e 
costumes antigos.
Sertanejo: Do sertão. 
Que habita o sertão. 
Rústico, agreste, rude.
Forros: Ex-escravos; 
aqueles escravos que 
conseguiam a liberda-
de, deixando a antiga 
condição de cativo.
Figura 18: As cidades 
na colônia
Fonte: Disponível em 
professorataniavieira.
blogspot.com. Acesso em 
01/07/2009
►
Figura 17: O trabalho na 
economia açucareira
Fonte: Disponível em 
http://www.mundoedu-
cacao.com.br. Acesso em: 
01/07/2009
►
21
História - História do Brasil Colônia II
Os comerciantes eram, geralmente, de origem portuguesa come-
çando sua carreira como caixeiros de parentes ou contemporâneos que, 
dificilmente, aceitavam brasileiros para essas funções.
Os Comerciantes começavam como humildes donos de vendas ou 
mascates, economizando sem tréguas, ampliavam seus negócios, em-
prestavam a juro até enriquecer. Saint-Hilaire descrevia o processo:
Enquanto os brasileiros dissipam negligentemente 
tudo quanto possuem, os europeus economizam 
soldo a soldo, passando por todas as privações a 
fim de conseguir fortuna. A primeira coisa que ar-
ranjam é uma negra, que sirva ao mesmo tempo 
de cozinheira, amasia, lavadeira, arrumadeira e até 
para carregar água e lenha, trabalho que os ameri-
canos só entregam a escravos homens (SAINT-HI-
LAIRE, 1938, p. 113).
Em meados do século XVIII, além de possuir lojas, os comerciantes 
faziam transações em comissão com o Reino, a África, Minas Gerais e Ín-
dia, emprestavam dinheiro a juro e administravam contratos de rendas 
reais. José Antônio Caldas classificava os comerciantes em cinco catego-
rias de acordo com suas posses, capacidade mercantil, matrícula como 
negociante, natureza dos negócios, origem e destino das mercadorias 
que enviavam (CALDAS, 1951, p. 525-533).
No processo de ascensão social, passo importante para os comer-
ciantes era tornar-se homem de negócio ou negociante de grosso trato, 
deixando de servir aos fregueses no balcão, para fazer transações por 
atacado e financiar atividades agrícolas ou comerciais.
O grande surto comercialque acompanhava a descoberta e explo-
ração do ouro reforçou, ainda mais, a posição dos negociantes em todas 
as partes da colônia.
Ainda que os grupos urbanos continuassem em situação de inferio-
ridade frente aos rurais, ao findar o período colonial, um número consi-
derável de comerciantes portugueses partilhava das posições de mando 
e se integrava na sociedade local.
1.4 As dinâmicas, o “antigo regime 
nos trópicos” e as diferenças 
regionais
O funcionamento do sistema colonial deu-se por meio de variadas dinâmicas, tendo em vis-
ta que Portugal procurou estabelecer uma forte estrutura de poder sobre a colônia. Esta, por sua 
vez, imprimiu um ritmo próprio de funcionamento, já que algumas características colocaram a 
colônia em choque com a metrópole.
Um dos elementos que tornava ainda mais dinâmica a relação entre Brasil e Portugal eram 
as diferenças regionais. A partir delas, é possível compreender como, aos poucos, o sistema colo-
nial foi se tornando inviável, mesmo que ainda não fosse possível romper os laços que uniam as 
duas nações.
Essas diferenças regionais nos permitem entender o quanto o Brasil se construiu por meio 
de um universo plural e dinâmico, o qual chamamos de “Brasil Colônia”.
diCA
É importante lembrar 
que as regiões do 
sertão no Brasil foram 
realmente muito utili-
zadas para a pecuária, 
além do fato de que se 
tornaram espaço para 
variadas relações de 
violência.
▲
Figura 19: Comércio na 
colônia 
Fonte: Disponível em 
http://www.eja.org .br. 
Acesso em: 01/07/2009
22
UAB/Unimontes - 3º Período
Além da separação entre universo rural e urbano, percebemos outras relações sociais, eco-
nômicas e políticas, como foi o caso da pecuária e das relações sociais que se deram nos sertões 
do Brasil.
Ainda que a sociedade colonial de quase todo o Brasil fosse baseada na grande propriedade 
e no binômio senhor-escravo, a variação das atividades econômicas e das condições locais criou, 
por vezes, condições para que surgissem relações de produção e estruturas sociais diferentes das 
já descritas.
A formação social mais frequente e dispersa por todo o país, de norte a sul e pelo centro
-oeste, foi a que se ligava às atividades pastoris.
ATiVidAde
Pesquise sobre o Qui-
lombo dos Palmares e o 
papel de Domingos Jor-
ge Velho na destruição 
do mesmo.
Figura 20: Minas 
gerais na colônia – 
diamantina (beco do 
Mota) 
Fonte: Disponível em 
http://www.cmpp.com.br. 
Acesso em: 02/07/2009
►
Figura 21: Capitania de 
Pernambuco
Fonte: Disponível em 
http://pernambuco-
beat.com. Acesso em: 
02/07/2009
►
Figura 22: A pecuária 
na colônia
Fonte: Disponível em 
http://www.brasiles-
cola.com. Acesso em: 
02/07/2009
►
23
História - História do Brasil Colônia II
Desde a instalação dos primeiros núcleos coloniais, ao lado da agricultura, surgiu a criação 
de gado, que, encontrando condições ideais de expansão, viria a ser o suporte básico e motor do 
povoamento do país.
Introduzido pelos donatários e governadores, o gado expandiu-se, de forma espontânea 
ou organizada, a partir de três núcleos principais: São Vicente, Bahia e Pernambuco. Do planalto 
paulista atingiu os Campos de Curitiba e os pampas do Rio Grande do Sul, onde, depois de pro-
pagarem-se como gado selvagem, caçado aos milhares por índios e brancos, apenas para apro-
veitamento do couro, tornou-se importante produto de subsistência no período da mineração. 
Mais tarde, o gado sulino chegaria, também, ao Mato Grosso, onde a atividade pastoril viria a 
subsistir, no fim do século colonial, à mineração decadente.
A pecuária foi grande recurso dos que, não possuindo cabedal para adquirir escravos, nem 
influência para obter sesmarias, encontraram uma atividade que lhes permitia, em alguns anos, 
obter alguma estabilidade econômica ou, até mesmo, ascensão social. Ali, predominou o traba-
lho livre de elementos mais ou menos marginalizados pela economia escravista que, como assa-
lariados ou associados dos fazendeiros, conseguiram, por sua vez, ter sua própria fazenda, sem 
necessidade de capital inicial.
Na fase inicial da implantação, dificilmente o fazendeiro possuía capitais para a aquisição de 
escravos, além do fato de que as condições de vida e trabalho no sertão, com perigo de animais 
ferozes, ataques indígenas, assaltos de criminosos fugidos, exigia uma participação mais interes-
sada dos trabalhadores. O vaqueiro foi o tipo social básico do sertão.
Os sertanejos eram, geralmente, mulatos, mamelucos, pretos forros e índios mansos, que 
encontravam nesta atividade um modo de vida áspero, mas livre de controles e castigos, além 
da esperança da ascensão social. Por isso, atraiu os marginalizados do litoral, que para lá fugiam, 
por razões econômicas ou para escapar à justiça por crimes cometidos. Essa circunstância, aliada 
às necessidades de lutas contra os índios e ao abandono a que foi relegada a região pelas autori-
dades metropolitanas, por largo tempo, deu origem à violência costumeira do sistema de justiça 
privada.
O homem do sertão aprendia a defender-se de todos os perigos e a fazer frente à justiça 
com as próprias mãos, criando um código de honra próprio, em que os agravos e disputas eram 
resolvidos no âmbito particular, com auxílio de familiares e dependentes.
Na região de São Paulo e suas vilas, percebemos um grupo social de enorme importância na 
estrutura da vida colonial: os bandeirantes.
Na capitania de São Vicente, na vila de São Paulo e adjacências, surgiu, desde o início do 
povoamento, uma sociedade baseada no apresamento de índios e pesquisa de metais preciosos. 
Premidos pela pobreza da região, onde a distância dos centros mais desenvolvidos e as dificulda-
des de comunicação com o litoral impedira a agricultura comercial, seus habitantes voltaram-se 
para a captura de escravos indígenas. Estes foram utilizados como mão de obra na lavoura de 
subsistência, nas atividades artesanais, no transporte de cargas e revendidos no Rio de Janeiro e 
na Bahia.
◄ Figura 23: Criação de 
gado no sul do Brasil
Fonte: Disponível em 
http://www.joelfmachado.
blogspot.com. Acesso em: 
02/07/2009
24
UAB/Unimontes - 3º Período
Intensamente mesclados com a população indígena, os bandeirantes absorveram gostos e 
hábitos da raça materna, tornando-se os maiores exploradores do sertão. Em 1690, um informan-
te anônimo, ao aconselhar o recurso aos paulistas para combater indígenas dos sertões nordesti-
nos, dizia:
Sua Magestade podia se valer dos homens de São Paulo, fazendo-lhes honras 
e mercês, que as honras e interesses facilitam os homens a todo perigo, porque 
são homens capazes para penetrar todos os sertões por onde andam continua-
mente sem mais sustento que caças do mato, bichos, cobras, lagartos, frutas 
bravas e raízes de vários paus, e não lhes é molesto andarem pelos sertões 
anos e anos, pelo hábito que têm feito aquela vida (ABREU, 1954, p. 191).
A própria economia de subsistência e a pequena propriedade libertaram o bandeirante dos 
cuidados e exigências da lavoura açucareira. O objetivo econômico é constantemente lembrado 
na documentação, nos eufemismos obrigatórios, dada à proibição régia do cativeiro indígena, 
usados para designar suas atividades como: “Buscar o remédio para a sua pobreza”, “buscar o seu 
remédio”, “buscar a sua vida” ou o “seu modo de lucrar” (ELLIS, in HOLANDA, 1963, p. 281).
Domingos Jorge Velho, famoso bandeirante conquistador dos sertões do Piauí, contratado 
para combater indígenas no nordeste e os negros do quilombo dos Palmares, assim descrevia e 
justificava, em 1694, suas atividades, alegando que as tropas não recebiam soldo régio e
São umas agregaçoens, que fazemos alguns de nos entrando cada hã com os 
servos de armas que tem e juntos imos ao sertão deste continente não para ca-
tivar {...} senão adquirir o Tapuia gentio brabo ecomedor de carne humana p.a 
o reduzir ao conhecimento da urbana, e humana sociedade.
{...} e desses assyadqueridos, e reduzidos, engrossamos nossas tropas, e com el-
les guerreamos a obstinados e renitentes a se reduzirem: e se ao despoiz nos 
servimos dellesp.a as nossas lavouras; nenhuma injustiça lhes fazemos; pois 
tanto he para os sustentarmos a elles e a seyus filhos como a nós e aos nossos; 
e terminava, alegando que se lhes ensina plantar o que não sabiam fazer por si 
(ENNES, 1938, p. 205).
À época de Domingos Jorge Velho, o bandeirismo de apresamento (as bandeiras que busca-
vam capturar índios) já estava em plena extinção, predominando a forma de contrato, na qual os 
paulistas eram contratados pelas autoridades coloniais para realizar tarefas específicas, como a 
pacificação dos índios. Realizadas as tarefas, muitos bandeirantes se estabeleceram como criado-
res de gado nos sertões baianos, alagoanos e piauienses.
Até meados do século XVIII, terminadas as descobertas do ciclo minerador, os bandeirantes 
haviam cumprido sua missão histórica de exploradores do “hinterland” brasileiro, em que desco-
briram riquezas, abriram caminhos, garantiram a posse de territórios, mas, também, despovoa-
ram pelo massacre e captura dos índios as regiões anexadas.
Figura 24: Capitania de 
São Vicente
Fonte: Disponível em 
novomilenio.inf.br/santos/
mapa17a.htm. Acesso em: 
02/07/2009
►
25
História - História do Brasil Colônia II
A reconstituição da sociedade bandeiran-
te revela sua pobreza e simplicidade, onde a 
pequena e média propriedade não proporcio-
naram condições para o surgimento de gran-
des diferenças de fortuna. Ao lado da agricul-
tura, o paulista exercia atividades artesanais e 
comerciais, às quais renunciava simbolicamen-
te quando assumia os cargos na Câmara.
Mesmo as mulheres se adaptavam à rusticidade de costumes, não vivendo na indolência 
que caracterizava as senhoras de engenho, pois, enquanto os maridos percorriam o sertão, por 
anos seguidos, elas administravam suas propriedades.
O poder dos bandeirantes era medido pelo número de índios que os seguiam, sendo conhe-
cidos como “homens de muitos arcos”, o que lhes dava certo caráter guerreiro. Utilizados na cap-
tura de outros indígenas, combateram também piratas, invasores franceses e holandeses, negros 
aquilombados e inimigos pessoais. Caso semelhante às lutas de família do nordeste foi a guerra 
entre os Pires e os Camargos, que perturbou a vida paulista nas décadas de 1640 e 1650, e só 
terminou com provisão régia que dividiu o governo da vila entre as duas facções (TAUNAY, 1927).
A descoberta do ouro dispersou os bandeirantes pelos arraiais de Minas Gerais, Mato Grosso 
e Goiás, nas áreas pastoris da Bahia, do Paraná e do Rio Grande do Sul, onde se tornaram minera-
dores, comerciantes, agricultores ou criadores de gado.
Os remanescentes voltaram-se para a agricultura de subsistência e para o comércio de gado 
bovino e muar que traziam do sul para Minas Gerais. Com essas atividades, acumularam o pe-
queno capital com que se lançaram, a partir das últimas décadas do século XVIII, à implantação 
da agricultura de exportação de açúcar, mais tarde substituída pelo café.
Aos velhos paulistas, juntaram-se comerciantes, militares e advogados portugueses, for-
mando uma “elite” dinâmica e aberta, menos presa aos velhos preconceitos e rotinas e à qual ca-
beria iniciar os primeiros passos da arrancada econômica do século XIX (HOLANDA, 1963, p. 456).
▲
Figura 26: Os 
bandeirantes na colônia
Fonte: Disponível em 
http://www.portalsaofran-
cisco.com.br. Acesso em: 
04/07/2009
◄ Figura 25: Os 
bandeirantes na colônia 
Fonte: Disponível em 
http://www.achetudoe-
regiao.com.br/atr/Bandei-
rantes.htm. Acesso em: 
04/07/2009
26
UAB/Unimontes - 3º Período
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TOLLENARE, L. F. notas dominicais. Salvador: Livraria Progresso Editora, 1957.
VIANA, Oliveira. instituições políticas brasileiras. 3.ed. v. 1. Rio de Janeiro; São Paulo: Distribui-
dora Record, 1974.
27
História - História do Brasil Colônia II
UnidAde 2
A mineração e o sistema colonial 
no século XVIII
2.1 Introdução
A descoberta do ouro na região centro-sul da colônia provocou importantes transformações 
nas relações sociais e políticas que se davam entre Brasil e Portugal.
A economia mineratória aumentou o fluxo das riquezas que circulavam na região, levando 
Portugal a aumentar o seu interesse pela exploração e administração das Minas. Nesse sentido, a 
colônia viu aumentar a sua capacidade produtiva, bem como se percebeu uma maior integração 
entre as várias regiões da colônia, especialmente em função do abastecimento das Minas.
Contudo, a região das Minas e outras regiões do Brasil, também, presenciaram um novo mo-
mento histórico, que consistia no início do desgaste das relações entre a colônia e a metrópole. 
Aos poucos, o século XVIII foi presenciando a crise do sistema colonial, que acompanhava a crise 
do antigo regime europeu.
Esta segunda unidade pretende compreender o papel de Minas Gerais nesses dois aspectos: 
no momento do auge do ouro, compreendendo, assim, o funcionamento da exploração do ouro, 
bem como o momento onde tais relações começam a entrar em crise, em especial pelo fato de 
Portugal criar um sistema administrativo específico para as Minas. Tal administração levou a re-
voltas, acentuando a crise das relações coloniais.
Para tal intento, esta unidade está dividida nos seguintes tópicos:
•	 A economia mineratória e o papel de Minas Gerais;
•	 O ouro e as relações escravistas;
•	 O ouro e a administração colonial portuguesa;
•	 Minas Gerais e as contradições do sistema colonial.
2.2 A economia mineratória, as 
relações sociais e o papel de Minas 
Gerais
“A exploração de metais preciosos teve importantes efeitos na metrópole e na 
colônia. Na metrópole, a corrida do ouro provocou a primeira grande corren-
te imigratória para o Brasil. Durante os primeiros sessenta anos do século XVIII, 
chegaram de Portugal e das ilhas do Atlântico cerca de 600 mil pessoas, em 
média anual de 8 a 10 mil, gente da mais variada condição, desde pequenos 
proprietários, padres, comerciantes, até prostitutas e aventureiros (FAUSTO, 
2002, p. 98).
Apesar das grandes distâncias a serem vencidas e dos obstáculos oferecidos pelo relevo, a 
notícia da descoberta de ouro espalhou-se rapidamente, atraindo milhares de colonos e de rei-
nóis para a região.
Em Portugal, a ‘febre do ouro’ atingiu tal proporção que obrigoua Coroa a limitar a emigra-
ção de seus súditos, a partir de 1720. Logo surgiram povoados, roças, igrejas. A região do ouro 
teve um rápido crescimento, criando um polo econômico novo e dinâmico no interior da colônia.
28
UAB/Unimontes - 3º Período
Deslocando o eixo econômico brasileiro do nordeste para o centro-sul, a economia minera-
tória traz novas perspectivas para a metrópole portuguesa. Com a mineração, inicia-se uma ex-
ploração intensa do território brasileiro, onde Portugal se dedica a extrair da colônia o máximo 
de lucros com metais preciosos.
O estado de Minas Gerais apresenta grande destaque nessa economia; afinal, o auge da 
mineração na colônia se dá nessa região, revolucionando o estado, tanto no campo econômico 
quanto no político e cultural. A atividade primordial passa a ser, então, a extração de riquezas 
preciosas, relegando as outras atividades coloniais a segundo plano.
Figura 27: Homens 
trabalhando na 
exploração do ouro 
Fonte: Disponível em 
http://www.cprm.gov.br. 
Acesso em: 04/07/2009
►
Figura 28: Mapa 
de Minas Gerais na 
Colônia
Fonte: Disponível em 
http://www.scielo.br/
img/revistas/rbh/v27n53/
a06map1.jpg. Acesso em: 
04/07/2009
►
29
História - História do Brasil Colônia II
Não foi apenas no campo econômico que se fizeram sentir as grandes mudanças na colônia 
com a atividade mineratória. Politicamente, percebemos algumas alterações, como a mudança 
da capital do país, que é transferida de Salvador para o Rio de Janeiro, um centro mais próximo 
da área mineratória.
Ao contrário da atividade açucareira, que tinha um caráter estritamente rural, no caso des-
sa nova economia, percebemos que seu caráter é mais urbano, auxiliando inclusive na intensi-
ficação do comércio. A sociedade também apresenta alguns 
caracteres distintos da economia anterior: aqui se percebe uma 
maior diversidade social.
No ano de 1702, é criada a Intendência das Minas, com o 
objetivo de controlar a produção do ouro e cobrar tributos, bus-
cando um controle cada vez maior para evitar o contrabando. 
Quando se encontrava um novo depósito de ouro, o fato deveria 
ser comunicado à Intendência, que mandava funcionários ao lo-
cal para fazer a demarcação de terras. A forma como se procedia 
à cessão dos direitos de exploração do ouro revela que as autori-
dades procuravam estimular a descoberta de novas jazidas.
Podemos perceber, também, que a Coroa tratava de forma 
diferenciada os grandes mineradores, proprietários de muitos 
escravos, preparados para extrair da terra grandes quantidades 
de minério. Parte desse ouro revertia a Portugal, na forma de 
imposto.
Já no ano de 1720, são criadas as Casas de Fundição, onde 
o ouro seria transferido para barras. Todo esse aparato era cria-
do buscando-se acabar ou pelo menos solucionar em parte o 
alto índice de contrabando do ouro na colônia.O contrabando 
do ouro envolvia toda a sociedade: clérigos, autoridades, mine-
radores e escravos. São famosas as histórias dos ‘santos de pau 
oco’, imagens de madeira, ocas por dentro, feitas especialmente 
para ocultar o metal precioso.
Figura 30: Carlos Julião
Fonte: Disponível em 
http://www.multirio.
rj.gov.br Acesso em: 
04/07/2009
▼
◄ Figura 29: Mapa da 
articulação econômica 
da Colônia em torno da 
mineração
Fonte: Disponível em 
http://www.scielo.br e 
http://www.klepsidra.net/
klepsidra4/tropeiros.html 
Acesso em: 04/07/2009
30
UAB/Unimontes - 3º Período
Os impostos criados por Portugal para extrair e lucrar ao máximo na atividade mineradora 
são diversos. O quinto é um deles, onde seria tributado um percentual de 20% sobre o ouro que 
passava pelas Casas de Fundição. Outros exemplos de impostos nesse setor é o finto, que esta-
belecia uma quantia anual de 30 arrobas, e a capitação, que determinava um valor devido por 
número de escravos utilizados por determinado proprietário na região que este se propunha à 
extração.
No ano de 1734, Portugal estabelece uma quantia anual de 100 arrobas que deveria ser co-
brada à colônia; caso este piso não fosse atingido, deveria ser aplicada a derrama, onde se busca-
va – inclusive através da violência – o pagamento da “dívida” dos colonos para com a metrópole.
A extração de ouro e diamantes deu origem à intervenção regulamentadora 
mais ampla que a Coroa realizou no Brasil. O governo português fez um grande 
esforço para arrecadar os tributos. Tomou também várias medidas para orga-
nizar a vida social nas minas e em outras partes da colônia, seja em proveito 
próprio , seja no sentido de evitar que a corrida do ouro resultasse em caos 
(FAUSTO, 2002, p. 99).
A sociedade que se implantou nos núcleos auríferos de Minas Gerais, ainda que subordina-
da ao modelo já existente na colônia, desenvolveu algumas características peculiares.
A primeira corrida de ouro da História (Boxer, 1963, p. 58), magistralmente descrita por An-
tonil, com todos os lances trágicos que resultaram da súbita chegada de milhares de aventurei-
ros de todas as partes, criou de início uma sociedade anárquica, violenta e desregrada.
Cada ano, vêm nas frotas quantidade de portugueses e estrangeiros, para pas-
sarem às minas. Das cidades, vilas, recôncavos e sertões do Brasil, vão brancos, 
pardos e pretos, e muitos índios, de que os paulistas se servem. A mistura é de 
toda condição de pessoas: homens e mulheres, moços e velhos, pobres e ricos, 
nobres e plebeus, seculares e clérigos, e religiosos de diversos institutos muitos 
dos quais não tem no Brasil convento nem casa (ANDREONI, 1967, p. 264).
As peculiaridades da extração do ouro, a despeito das vantagens óbvias que beneficiavam 
os ricos possuidores de escravos que assim obtinham as datas auríferas, deixavam certa margem 
à sorte, o que abriu caminho para muitos desfavorecidos.
A necessidade de abastecimento deu importância primordial às atividades comerciais, que 
se encarregavam de trazer gado, ali-
mentos, roupas, ferramentas, e arti-
gos exportados de regiões próximas 
e longínquas para revendê-los aos 
moradores.
Também a agricultura de subsis-
tência e, mais tarde, a do algodão e 
da cana para a fabricação de tecidos 
grosseiros e aguardente, aliada à cria-
ção de porcos e aves, proporcionou 
grandes lucros aos que forneciam es-
ses artigos indispensáveis.
Na mineração, os escravos con-
seguiram acumular o suficiente para 
a compra da liberdade, com ouro 
desviado ou pela concessão feita pe-
los senhores do excedente das quo-
tas diárias. Para as mulheres, existia 
ainda o caminho da prostituição 
forçada ou imposta pelos senhores, 
o que lhes permitia algumas sobras 
para a alforria.
“O governador Manoel da Fon-
seca Azevedo denunciava, em 1732, 
os vendeiros que, nas suas tabernas, 
mantinham verdadeiros bordéis dis-
farçados, enquanto outros enviaram 
ATiVidAde
Pesquise sobre as 
principais formas de 
contrabando do ouro 
na região das Minas.
Pesquise sobre o 
funcionamento das 
Casas de Fundição e as 
consequências que as 
mesmas geraram nas 
Minas.
diCA
Você sabia que o abas-
tecimento das Minas 
se tornou fundamental 
depois da descoberta 
do ouro? Tal questão 
permitiu uma maior 
integração da colônia 
depois da economia 
mineratória.
Figura 31: Escravos 
trabalhando nas minas 
Fonte: Disponível em 
http://www.eb23- diogo-
-cao.rcts.pt/ Trabalhos/
bra500/ouro.htm Acesso 
em: 04/07/2009
►
31
História - História do Brasil Colônia II
escravas às lavras com pretexto de 
vendas de suas quitandas” (TORRES, 
1965, p. 90).
A falta de mulheres brancas 
ocasionou intensa miscigenação e 
consequente surgimento de mula-
tos, geralmente libertos que, graças 
ao exercício dos ofícios artesanais 
muito desenvolvidos em Minas Ge-
rais, chegaram a formar uma espécie 
de classe média.
Ainda que a tendência fosse 
pela sua exclusão das posiçõesnobi-
litantes, no que se refere às ativida-
des artesanais, tornaram-se o grupo 
mais expressivo.
O caráter mais urbanizado, o 
gosto pelo luxo dos mineradores fe-
lizes, a competição das irmandades 
religiosas organizadas segundo as 
barreiras de cor e classe, o orgulho 
das Câmaras proporcionaram excelente mercado para móveis, roupas, boas casas, igrejas belíssi-
mas e música para entretenimento.
A sociedade mineradora criou condições para o florescimento da criação artística no campo 
da arquitetura, escultura, pintura, música e literatura onde, com exceção da última, privilégio dos 
letrados, destacaram-se negros e mulatos.
As câmaras organizavam, periodicamente, leilões públicos para o serviço de música da cida-
de, que eram arrematados pelo candidato que melhor coro e orquestra apresentassem.
Todas as festividades cívicas eram abrilhantadas por concertos de música de câmara ou re-
ligiosa. Nesse campo, as irmandades costumavam encomendar peças novas para ocasiões sole-
nes, o que estimulou a criatividade de inúmeros compositores como José Joaquim Américo Lobo 
de Mesquita, Francisco Gomes da Rocha, Inácio Parreiras Neves, Marcos Coelho Neto, e muitos 
outros que ficaram anônimos. O excesso de músicos mulatos que irritava o Desembargador José 
João Teixeira Coelho, em 1780, foi responsável por uma tradição musical em Minas Gerais, que se 
prolongou muito depois da decadência das atividades mineradoras (COELHO, 1888, p. 458).
A já mencionada rivalidade das irmandades, responsáveis pela construção de templos, pe-
los sepultamentos e pela assistência social, dada à proibição da instalação de ordens religiosas, 
deu grande impulso à arquitetura e escultura, onde se destacou a obra genial do mulato Anto-
nio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Em sua longa vida, desenhou igrejas e esculpiu estátuas e 
ornamentos para os templos, sempre utilizando a plasticidade da “pedra-sabão”, deixando para 
os pósteros um dos mais belos exemplos da arte barroca na América.
Ao findar o período colonial, se, à primeira vista, a sociedade brasileira dividia-se entre se-
nhores e escravos, examinada mais de perto, revelava certa mobilidade possibilitada pelo enri-
quecimento. Embora determinações legais sancionassem preconceitos sociais e estamentais, as 
necessidades da colonização abriram caminhos para a ascensão social dos mais empreendedo-
res ou protegidos.
◄ Figura 33: O espaço 
urbano das minas
Fonte: Disponível em 
http://cidademuseu.
blogspot.com. Acesso em: 
04/07/2009
◄ Figura 32: Escravos nas 
minas 
Fonte: Disponível em 
http://www.multirio.rj.gov.
br Acesso: 04/07/2009
32
UAB/Unimontes - 3º Período
2.3 O ouro e a sociedade 
escravista
É importante acentuarmos que a presença do trabalho escravo nas minas não excluía a for-
ça dos trabalhadores livres nesse campo, afinal a presença desse grupo foi sempre muito impor-
tante para a exploração do ouro nessas regiões.
Como aconteceu na região da lavoura de cana-de-açúcar, aqui, na mineração, percebemos a 
formação de uma sociedade com características próprias. Percebemos uma sociedade um pouco 
mais ampla e diversificada que a sociedade do açúcar, afinal aqui não existiam apenas as figuras 
do senhor e do escravo, apresentando também uma numerosa classe média, o que nos faz notar 
que a sociedade era mais móvel nesse campo econômico, com a presença de atividades como os 
artesãos, médicos, contadores e prostitutas.
Ao contrário da sociedade do nordeste açucareiro, essencialmente rural, a sociedade da 
região das minas era predominantemente urbana. Nas vilas, desenvolviam-se atividades tipica-
mente urbanas, como o comércio e o artesanato. As ruas estreitas e sinuosas dos núcleos esta-
belecidos em regiões serranas abrigavam oficinas de alfaiates, sapateiros, carpinteiros, tanoeiros, 
ferreiros e outros.
Figura 35: Escravos 
trabalhando na 
economia mineratória
Fonte: Disponível em 
http://www.eb23-diogo-
-cao.rcts.pt.Acesso em: 
04/07/2009
►
Figura 34: Escravos 
trabalhando na 
economia açucareira
Fonte: Disponível em 
http://www.premium.
klickeducacao.com.br 
Acesso em: 04/07/2009
►
33
História - História do Brasil Colônia II
Na base da sociedade estavam os escravos. O trabalho mais duro era o da mi-
neração, especialmente quando o ouro do leito dos rios escasseou e teve de 
ser buscado nas galerias subterrâneas. Doenças como a disenteria, a malária, as 
infecções pulmonares e as mortes por acidente foram comuns. Há estimativas 
de que a vida útil de um escravo minerador não passava de sete a doze anos 
(FAUSTO, 2002, p. 102).
Em relação à sociedade que se originou em torno da mineração, pode-se dizer, comparando 
com a sociedade açucareira, que ela foi mais liberal e permitia certa mobilidade social, já que 
uma pessoa com poucos recursos e um pouco de sorte podia enriquecer achando ouro. Este fa-
tor, aliás, contribuiu para ampliar a população colonial, já que mais pessoas vinham para o Brasil 
tentar a sorte (inclusive mulheres), fato que gerou problemas demográficos em Portugal, que se 
viu obrigado a criar leis para limitar a emigração.
Este aumento populacional terminou por resultar numa sociedade urbana que se viu de-
pendente de outros segmentos produtivos e de prestação de serviços, fato que beneficiou ou-
tras regiões como o Rio Grande do Sul e o norte de Minas, bem como possibilitou o surgimento 
de uma classe média colonial.
Nesta sociedade, até mesmo os escravos tinham tratamento distinto dos que trabalhavam 
na indústria açucareira. Nesse sentido, se é verdade que a mineração matava mais que os enge-
nhos, nas minas um escravo com sorte podia obter sua alforria contentando seu dono com a des-
coberta de um bom filão de ouro. Além disso, em meio a uma sociedade urbana, poderiam ser 
utilizados em outras funções que não fosse só na mineração e até serem treinados para a prática 
do contrabando.
No caso das negras, entre outras funções, era comum utilizá-las como escravas de ganho 
(praticavam pequeno comércio para seus senhores), além de serem empregadas no contraban-
do de ouro e diamantes.
◄ Figura 37: A mulher 
na região das minas.
Trabalho feminino na 
Mina de Morro Velho. 
Reprodução fotográfica 
Fonte: Disponível em 
http://www.portalsaofran-
cisco.com.br. Acesso em: 
05/07/2009
◄ Figura 36: A grande 
circulação de pessoas 
na região das minas. 
Tropeiros da época da 
mineração retratados 
por Rugendas. As 
tropas de burros 
foram um recurso vital 
para a ocupação do 
interior iniciada pelos 
bandeirantes
Fonte: Disponível em 
http://www.constelar.com.
br/revista/edicao68/ban-
deirantes1.htm Acesso em: 
05/07/2009
34
UAB/Unimontes - 3º Período
Quanto ao aspecto familiar, enquanto no 
nordeste observava-se o patriarcalismo, na re-
gião central, embora ele também fosse predo-
minante, não era raro o matriarcalismo, ou seja, 
mulheres à frente do controle familiar.
Apesar da riqueza extraída, salienta-se 
que a maioria da população na região minera-
dora vivia na miséria, já que os lucros obtidos 
com a exploração do ouro e dos diamantes 
acabavam se destinando a poucas pessoas na 
colônia, contrabandistas, a fazenda real por-
tuguesa e, sobretudo, aos cofres ingleses. No 
mais, em uma sociedade que não primava pela 
produção agrícola, os problemas com a alimen-
tação tornavam ainda mais precárias as condi-
ções de vida da maioria das pessoas.
A historiadora Laura de Mello e Souza sa-
lientou a questão do enorme número de “des-
classificados” que a região das Minas produziu. 
A riqueza, que parecia a regra, não o era na verdade. Vários grupos sociais, para a autora, eram os 
protagonistas da miséria que se via na região, tais como: padres infratores, prostitutas, feiticeiras 
e bandidos (SOUZA, 2005).
Em artigo recente, destaca Laura de Mello e Souza:
Nos primeiros tempos, faltaram gêneros paraalimentar a gente que despen-
cava sobre as lavras. Mesmo que logo se organizassem roças, se tangessem 
boiadas e se erguessem moendas e monjolos, não chegava para tantos. Com a 
escassez veio a inflação, e uma testemunha contemporânea não deve ter exa-
gerado muito quando disse que vários morreram com um punhado de ouro na 
mão sem ter espiga de milho para matar a fome. Fortunas se fizeram no con-
trole do abastecimento alimentício, e o açambarcamento de carne esteve na 
origem de um dos primeiros conflitos, e dos mais graves, que marcaram o nas-
cimento nas Minas: a guerra dos emboabas (1707-1709). (SOUZA, 2005, p. 38).
Quem não tinha dinheiro, nascimento, tradição, fortuna, ou quem, no polo oposto, não con-
tasse entre os que eram escravos e carregavam a produção nas costas, sofria na carne, mais do 
que ninguém, as contradições de uma sociedade esquartejada entre princípios ordenadores dis-
tintos entre si e, não raro, contraditórios. Eram os que tinham posição definida na estrutura so-
cial, não podiam ser identificados pela cor da pele ou pela ocupação, vivendo a cavaleiro de dois 
mundos, descartáveis a qualquer volta do caminho. Entre eles estavam os forros: negros como os 
escravos, mas livres como os brancos ou como os ricos, e difíceis de classificar, sobretudo do pon-
to de vista dos europeus, que não conseguiam entender a sua ambiguidade.
ATiVidAde
Pesquise sobre o papel 
da mulher no processo 
de exploração do ouro 
e na região das Minas. 
Uma boa dica é pesqui-
sar um pouco sobre a 
trajetória de Chica da 
Silva.
▲
Figura 38: A pobreza na 
região das minas 
Fonte: Disponível em 
http://www.leiturasdahis-
toria.uol.com.br Acesso 
em: 05/07/2009
Figura 39: A pobreza na 
região das minas 
Fonte: Disponível em 
http://leiturasdahistoria.
uol.com.br Acesso em: 
05/07/2009
►
35
História - História do Brasil Colônia II
Desclassificados sociais foram, portanto, parte constitutiva da sociedade das 
Minas do século XVIII, pondo a nu a sua natureza iníqua. O ouro que dali se ex-
traiu em grandes quantidades gerou mais riqueza na Europa do que em Por-
tugal, e mais em Portugal do que nas Minas, onde o que ficou concentrou-se, 
seguindo a fórmula ainda hoje cara às nossas elites. Como disse um autor, “em 
meio a tanta riqueza, começamos a ser pobres” (SOUZA, 2005, p. 41).
2.4 O ouro, a administração 
colonial portuguesa e o início das 
contradições do sistema colonial
O período de exploração do ouro na colônia foi responsável por dar um novo contorno às 
relações entre Brasil e Portugal. Nesse processo, a colônia, ao mesmo tempo em que se tornou 
mais interessante para a metrópole, por outro lado, também acabou por revelar algumas das 
contradições do próprio sistema de exploração portuguesa.
A descoberta do ouro se apresentou como uma solução imediata para a crise econômica de 
Portugal diante das suas colônias. Nesse sentido, o sistema administrativo desenvolvido na co-
lônia brasileira, durante o período aurífero, tinha por finalidade atender aos interesses da Coroa 
Portuguesa, desejosa de lucros e de ver aumentado o seu poder sobre o Brasil.
O período da mineração, com as grandes descobertas das jazidas auríferas, foi marcado pelo 
aumento da exploração colonial e pelo claro aumento do controle político e administrativo por-
tuguês na região das Minas.
◄ Figura 40: Os 
desclassificados 
(mendigos)
Fonte: Disponível em 
http://www.baudeatmos-
feras.blogspot.com Acesso 
em: 05/07/2009
◄ Figura 41: Mapa do 
Brasil Colônia (Minas 
Gerais) 
Fonte: Disponível em 
http://www.historianet.
com.br. Acesso em: 
05/07/2009
36
UAB/Unimontes - 3º Período
Segundo Caio Prado Jr., em seu livro História econômica do Brasil:
O que estes aspiravam para sua colônia americana é que fosse uma simples 
produtora e fornecedora de gêneros úteis ao comércio metropolitano e que 
se pudessem vender com grandes lucros nos mercados europeus. Este será o 
objetivo da política portuguesa até o fim da era colonial. E tal objetivo ela o 
alcançaria plenamente, embora mantivesse o Brasil, para isto, sob um rigoroso 
regime de restrições econômicas e opressão administrativa; e abafasse a maior 
parte das possibilidades do país (PRADO Jr., 1979, p. 55).
Raymundo Faoro, em seu livro Os donos do poder, publicado em 1958, aponta que o movi-
mento expansionista pelo interior do Brasil teve como um importante centro irradiador a Capi-
tania de São Vicente, onde a plantação da cana-de-açúcar, produto agrícola importante para o 
comércio português, não se desenvolveu, tendo os paulistas tomado outro rumo que lhes asse-
gurasse vantagens econômicas e remediasse a pobreza da agricultura policultora e de subsistên-
cia do planalto paulista.
Desta forma, para Raymundo Faoro, formava-se uma poderosa camada de potentados, cujo 
poder vinha da força militar. Os funcionários metropolitanos tinham dificuldades em controlar 
a rebeldia das camadas dominantes na colônia. A Coroa portuguesa, que muitas vezes fechou 
os olhos à rebeldia nos sertões, passou, então, a não tolerar a indisciplina e a atuar no fortale-
cimento gradual do poder real, principalmente depois das descobertas auríferas. Sendo assim, 
Raymundo Faoro defende a ideia de um sucesso na imposição da ordem pública e de uma eficá-
cia do aparelho burocrático repressivo e fiscalizador na região das minas (FAORO, 1987).
A política seria, daqui por diante, outra: o governo metropolitano calaria a insubmissão – o 
rei tomaria conta, diretamente, do seu negócio, negócio seu e não dos paulistas. O ciclo do ouro, 
no fim do século XVII, se conjuga com as medidas centralizadoras e absolutistas do Portugal res-
taurado. Os paulistas ocupam os postos civis e militares, mas sob a direta vigilância do rei, dobra-
dos ao organismo hierárquico, vertical, sob o domínio direto da Coroa. Acabam as transações, a 
tolerância e o pedido de favores em troca de honrarias. [...] O contexto é um só, ao norte e ao sul. 
O agente régio, reinol de nascimento, substitui o turbulento conquistador, caudilho e potentado. 
Primeiro, ele o assiste, ajudado como os seus meios. Depois, o controla, para, finalmente, dominá
-lo e, se necessário, garroteá-lo (FAORO, 1987, p. 162-3).
Ao analisar a administração portuguesa no Brasil, este autor afirma que, no início do século 
XVIII, a Coroa portuguesa introduziu uma série de medidas administrativas, com vistas a deter a 
anarquia e instaurar uma certa estabilidade nas zonas de mineração. Eram três os principais pro-
pósitos dessas medidas: promover um governo eficiente no âmbito local e regional, administrar 
Figura 42: Mapa das 
regiões com maior 
exploração de ouro em 
Minas Gerais
Fonte: Disponível em 
http://www.historianet.
com.br. Acesso em: 
05/07/2009
►
37
História - História do Brasil Colônia II
a justiça e aplicar a lei e, por último, cumprir as obrigações reais de defensor da fé. O instrumento 
fundamental dessa política era a elevação de vários povoados à categoria de “vilas”, que repre-
sentavam a estabilidade, a manutenção da justiça e a presença da Coroa.
Para o autor, o padrão característico de povoamento nas minas era de núcleos isolados a 
considerável distância um do outro, mas, com a criação das vilas, em Minas Gerais, a presença de 
esferas concêntricas de influência administrativa ajudou a diminuir esse isolamento e a aumen-
tar a eficiência do controle administrativo efetivo. A fundação de vilas no interior do Brasil tinha 
como função ajudar na aplicação da lei e na instauração da ordem.
Talvez o exemplo mais espetacular do bom êxito dessa política tenha vindo da Bahia. Entre 
1710 e 1721, ocorreram em Jacobina 532 mortes por arma de fogo; nos quatros anos que se se-
guiram à sua elevação à categoria de vila, em 1721, houve apenas duas mortes violentas, uma 
por faca e outra por espada.
Por esses inúmeros aspectos, o governo

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