Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FACULDADE INTERNACIONAL SIGNORELLI - FISIG Curso de Pós-graduação em Psicomotricidade Aplicada a Educação TERESA CRISTINA BRANDÃO O despertar da psicomotricidade na educação infantil com os alunos do curso normal no controle da agressividade Nova Iguaçu 2019 2 FACULDADE INTERNACIONAL SIGNORELLI - FISIG O DESPERTAR DA PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL COM OS ALUNOS DO CURSO NORMAL NO CONTROLE DA AGRESSIVIDADE Monografia apresentada à Faculdade Internacional Signorelli como requisito parcial para a conclusão do curso de pós-graduação Lato sensu em Psicomotricidade Aplicada a Educação. Por Teresa Cristina Brandão Orientadora Acadêmica Aline Peixoto Saraiva. 3 Nova Iguaçu 2019 FACULDADE INTERNACIONAL SIGNORELLI - FISIG Teresa Cristina Brandão O DESPERTAR DA PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL COM OS ALUNOS DO CURSO NORMAL NO CONTROLE DA AGRESSIVIDADE Monografia apresentada à Faculdade Internacional Signorelli, como requisito do Curso de Pós-Graduação em Psicomotricidade Aplicada a Educação. APROVADA em _______ de __________________ de __________. Prof._____________________________ Prof._____________________________ ___________________________________________________ Orientadora NOVA IGUAÇU 2019 4 RESUMO Esta monografia visa observar comportamentos de raiva, agressividade e algumas violência que se manifestam nas brincadeiras das crianças, e como os futuros professores da educação infantil, se comportam em sua prática, para lidar com essas situações. Após levantamento bibliográfico, realizou-se uma pesquisa de campo, que possibilitou avaliar com base em análise dos dados coletados, através de observações diretas das aulas de estágio, dos professorandos do 3º ano do Curso Normal, do Colégio Estadual José Veríssimo, com as crianças da educação infantil e ensino fundamental da rede municipal de Magé. Verificou-se que a Psicomotricidade tem sido estudada e discutida por vários autores, levando-se em consideração as fases de desenvolvimento da criança e sua colaboração para o desenvolvimento intelectual das mesmas. Este estudo demonstra a importância do movimento para o desenvolvimento do avanço na escola, tanto para a criança com dificuldades de aprendizagem quanto para melhorar no processo de alfabetização de crianças com problemas de comportamento e socialização que frequentam a escola infantil. Este trabalho teve como objetivos demonstrar como o processo de alfabetização e a psicomotricidade são dependentes um do outro e como eles se complementam, e também apresentar como proposta a importância da atuação em psicomotricidade para a formação do professor que deverá , lançar mão de brinquedos, jogos e brincadeiras psicomotoras desde a Educação Infantil, para aquisição de habilidades motoras, necessárias para um bom desempenho de aprendizagem. Os resultados da investigação de campo demonstram que a violência está presente nas brincadeiras e no comportamento infantil. Constatamos, inicialmente, que há uma carência de reflexão e discussão sobre o tema na escola, e que a princípio os estagiários se mostraram perdidos, frente a algumas situações de conflitos e agressividades entre as crianças, exigindo a interferência do professor orientador. PALAVRAS-CHAVE: Psicomotricidade, Educação Infantil, agressividade, alfabetização. 5 ABSTRACT This monograph aims to observe behaviors of anger, aggression and some violence that manifest themselves in children's play, and how future teachers of early childhood education, behave in their practice, to deal with these situations. After a bibliographic survey, a field research was carried out, which made it possible to evaluate, based on analysis of the data collected, through direct observations of the internship classes, teachers of the 3rd year of the Normal Course, of the José Veríssimo State College, with the children. of kindergarten and elementary school of Magé municipal network. It was found that Psychomotricity has been studied and discussed by several authors, taking into account the developmental stages of the child and their collaboration for their intellectual development. This study demonstrates the importance of movement for the development of advancement in school, both for children with learning disabilities and for improving the literacy process of children with behavioral and socialization problems who attend kindergarten. This paper aims to demonstrate how the literacy process and psychomotor are dependent on each other and how they complement each other, and also present as a proposal the importance of acting in psychomotricity for teacher education that should use toys, games and psychomotor games since early childhood education, to acquire motor skills, necessary for a good learning performance. The results of the field investigation demonstrate that violence is present in play and child behavior. Initially, we found that there is a lack of reflection and discussion on the subject at school, and that at first the trainees were lost, facing some situations of conflicts and aggressiveness among the children, demanding the interference of the mentor teacher. KEYWORDS: Psychomotricity, Early Childhood Education, Aggression, Literacy. 6 SUMÁRIO Página Introdução ................................................................................................................. 00 Justificativa................................................................................................................ 00 Objetivos.................................................................................................................... 00 Objetivo Geral................................................................................................. 00 Objetivos Específicos...................................................................................... 00 Metodologia de pesquisa........................................................................................... 00 Capítulo 1 .................................................................................................................................. 00 Capítulo 2 ....................................................................................................................................00 Considerações finais................................................................................................. 00 Referências Bibliográficas ........................................................................................ 00 Anexos ...................................................................................................................... 00 7 1. INTRODUÇÃO A violência na escola e entre os alunos não será analisada como um fenômeno isolado ela é um processo mais amplo, que vai além da escola, pois implica uma série de fatores que dizem respeito ao contexto social como um todo. As causas da violência na escola, assim como na sociedade em geral são múltiplas e complexas, mas a origem de todas elas está situada nas intoleráveis condições econômicas e sociais criadas pelo tipo de modelo de desenvolvimento que foi implementado, ao longo dos anos, no Brasil (PINO, 1995, p. 14 Apud CANDAU, LUCINDA e NASCIMENTO 2001). As relações da sociedade passam por mudanças, em função de acontecimentos simultâneos de integração comunitária e de fragmentação social, de massificação e de individualização, de seleção e de exclusão social. Por isso novos problemas vão surgindotrazendo também novas questões sociais globais como as manifestações da violência contra pessoas e entre elas. Com a consciência de que a escola é hoje o principal mecanismo para a construção de uma sociedade democrática e que deve produzir condições para que o aluno participe e possa superar conflitos, comportamentos antissociais devem ser investigados para que se encontrem alternativas para a diminuição da violência. O professor deve desenvolver situações que envolvam os alunos na discussão da temática da violência, uma vez que as implicações sociológicas e pedagógicas desse quadro, em especial nas aulas práticas, de jogos e brincadeiras, implicarão nas relações aluno-aluno e aluno-professor. Sob esse prisma o professor na condição de mediador, deverá buscar alternativas que possibilitem a identificação da gênese do problema, a fim de contribuir para uma nova e mais harmônica ordem social. A agressividade é um comportamento normal que se manifesta nos primeiros anos de vida da criança. Muitas vezes os comportamentos agressivos encontrados nas crianças são para demonstrar algum acontecimento que faz com que se sintam frágeis e inseguras, como também para chamar a atenção para si. Crianças pequenas, desprovidas de fala apresentam formas agressivas para mostrar seu descontentamento com situações de frustrações em que não obtém aquilo que esperavam, por exemplo, reações coléricas de sapatear, gritar, se jogar no 8 chão, espernear, ficar parada sem querer andar, negar-se a obedecer etc. É relativamente comum este tipo de comportamento opositor, que ocorre por volta de 2, 3 anos. Em geral, com a aquisição da linguagem, a criança passa a mediar seus desejos por meio do diálogo. A agressividade é um comportamento emocional que faz parte da afetividade de todas as pessoas, algo normal, natural de ser humano. A investigação visa descobrir a maneira que a psicomotricidade pode contribuir para diminuir a violência entre crianças da educação infantil e ensino fundamental. “A psicomotricidade se ocupa de um sujeito que fala através de seu corpo, suas posturas, seus movimentos, seus gestos, seus tônus muscular, seu eixo corporal.”...”não é um sujeito que sofre ou que fala, mas sim um sujeito que fala através de seu corpo, de seus movimentos, de suas relações tônicas, de seus gestos.” (A especificidade da prática Psicomotora – Anais VI Congresso Brasileiro de Piscomotricidade, 1995). Pelos próprios conceitos de psicomotricidade podemos observar que se o professor souber observar bem seus alunos poderá ver em cada indivíduo um sujeito que se comporta no mundo e se expressa através da sua linguagem corporal. A linguagem corporal corresponde a todos os movimentos gestuais e de posturas que fazem com que a comunicação seja mais efetiva. A expressão corporal é fortemente ligada ao psicológico, traços comportamentais são secundários e auxiliares. Muitas vezes a boca diz uma coisa, mas o corpo diz outra completamente diferente. Dominar fatores culturais, sociais, comportamentais e psicológicos criam uma sólida base para a leitura corporal. A educação psicomotora concerne uma formação de base indispensável a toda criança que seja normal ou com problemas. Responde a uma dupla finalidade: assegurar o desenvolvimento funcional tendo em conta as possibilidades da criança e ajudar sua afetividade a expandir-se e a equilibrar-se através do intercâmbio com o ambiente humano. A terapia psicomotora refere-se particularmente a todos os casos-problemas nos quais a dimensão afetiva ou relacional parece dominante na instalação inicial do transtorno. Pode estar associada à educação psicomotora ou se continuar sem ela... Ao contrário, a reeducação psicomotora impõe-se nos casos onde o déficit instrumental predomina, ou corre o risco de acarretar secundariamente problemas de relacionamento. (LE BOULCH, 1981) 9 A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação de base na Educação infantil. Ela condiciona o processo de alfabetização; leva a criança a tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, a situar-se no espaço, a dominar seu tempo, a adquirir habitualmente a coordenação de seus gestos e movimentos. Não se pretende aqui considerar que esse trabalho realizado em parceria com os alunos do curso normal vá resolver todos os problemas encontrados em sala de aula. Ele é apenas um meio de auxiliar a crianças a superar suas dificuldades de aprendizagem e conflitos nas relações com o outro, de resolver e prevenir possíveis inadaptações, auxiliando na alfabetização. Dentro de tal contexto pretende-se com esse estudo desenvolvendo uma série de dispositivos psicomotores através de aulas práticas com brinquedos de sucatas, jogos, brincadeiras imaginadas, criadas, recriadas, adaptadas com a finalidade de desenvolver gestuais, movimentos rítmicos, movimentos coordenados, orientação espacial, orientação temporal, praxias finas, praxias amplas, lateralidades, tônus muscular, equilíbrio, cinestesia com a exploração de músicas, teatro, desenho, brinquedos simbólicos, som de todas as maneiras, estimulando a reflexão e a criação durante o processo de aprendizagem. Um dos objetivos desse estudo apoiado nas teorias de Wallon, de que os futuros professores, vejam a criança de uma maneira integrada, e que observem fatos que surgem hoje em dia, com a complexidade dos processos educativos e mesmos os vários estudos sobre a criança, muitos apontam pra necessidade de não dissociar campos, que são indissociáveis, como por exemplo afetividade e inteligência. Levantar reflexões e questionamentos que possam contribuir para respostas sobre o fenômeno da violência e os fatores que interferem na aprendizagem escolar e suas implicações na prática pedagógica dos professores da educação básica, tal proposta se realizará mediante pesquisa bibliográfica e de campo envolvendo os alunos do Curso Normal e alunos da pré-escola ao 5º ano do ensino fundamental, de três escolas: uma estadual, situada em Raiz da Serra, e duas municipais, localizadas no bairro de Piabetá, todas do município de Magé, Rio de Janeiro. 1.2 JUSTIFICATIVA A vontade de objetivar esses estudos surgiu da necessidade de entender o 10 comportamento agressivo observado nos alunos na hora do recreio, e dentro das salas, e das queixas de professoras sobre o comportamento violento e indisciplinado de seus discente, e ainda de tentar responder a perguntas e dúvidas a estagiários do curso normal de que poderão promover a aprendizagens, a auto-identificação, a autonomia criativa, a imaginação, a autonomia crítica, a independência das crianças, e de intervir de maneira conciliatória e apaziguadora nas situações de conflitos e agressividades entre os seus futuros alunos. Essa pesquisa se apoiou originalmente nos estudos de Wallon, que na sua tentativa de olhar a criança de um modo integrado, vai delinear quatro campo funcionais, sobre os quais a teoria vai fornecer mais elementos, que são o movimento, as emoções, a inteligência e a pessoa. Não se pretende aqui considerar que esse trabalho vá resolver todos os problemas encontrados na escola. Mas sob a perspectiva de conceber a educação psicomotora como metodologia de ensino, apresentar indicações de como a psicomotricidade poderá colaborar para a redução do comportamento agressivo entre os estudantes do ensino básico, este estudo servirá de suporte para professores e outros profissionais, pois através de diversas investigações foi possível coletar informações que nos esclarecem e nos ajudam a compreender a problemática da violência e da agressividade existente nas pessoas, e de como, proporcionar aos professores ampliar seus conhecimentos, trazendo mais uma opção para que tenham a possibilidade de trabalhar em sala e fora dela, e assim conhecer e valorizar a psicomotricidade como conteúdo importanteno processo de desenvolvimento afetivo, cognitivo, intelectual e motor dos educandos, através de práticas com jogos e brincadeiras em que foi possível observar que os alunos mostraram-se menos agressivos, demonstrando ações mais equilibrada frente às diversas situações de afeto entre elas mesmas. As medidas de conscientização mostraram caminhos efetivos para lidar com os problemas. Por meio da afetividade somada ao empenho de conscientizar os alunos dos desdobramentos que comportamentos agressivos podem acarretar a vida de todos, o professor amplia o sentimento de harmonia e segurança com atividades que estimulem o senso de cooperação e igualdade, é possível dissolver conflitos, e fortalecer a relação de amizade e respeito em sala de aula. 1.3 OBJETIVOS GERAL 11 Investigar como os alunos do Curso Normal utilizam e aplicam os jogos e brincadeiras psicomotoras com as crianças nos anos iniciais, verificar se pensam que a psicomotricidade podem auxiliar na diminuição e controle dos problemas da violência e agressividade dessas crianças. Compreender a importância da motricidade para o desenvolvimento da inteligência. 1.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS - Relacionar o referencial teórico, os quais irão fornecer mais elementos para o entendimento da agressividade suas vertentes e inferência na educação. - Compreender os sentidos construídos pelas crianças nas brincadeiras lúdico- agressivas vivenciadas na Educação Infantil. - Refletir sobre a relação entre os quatro campos funcionais da teoria de Wallon: Movimento, Inteligência, Emoção, Pessoa e concluindo que nem sempre são de harmonia. - Observar se as ações desenvolvidas pelo(a) estagiário(a) nas aulas de práticas psicomotoras estão respeitando a maturação biológica da criança e contribuindo para um desenvolvimento integral do educando. - Identificar se através das ações desenvolvidas nas aulas de psicomotricidade há controle da agressividade. 1.5 METODOLOGIAS DE PESQUISA A metodologia da pesquisa de campo foi elaborada para observar o comportamento de estagiários e alunos, a fim de, levantar dados, que possibilitassem conhecer, comparar a violência, e agressividade no contexto escolar e que outros fatores são observados nas aulas, nas brincadeiras, e nas relações sociais, e verificar se havia alguma preocupação ou ação com o intuito de diminuir as dificuldades de aprendizagens apresentadas pelos alunos durante o processo de alfabetização, que em muitos casos, estão interligados com a psicomotricidade, que não foi devidamente trabalhada e, devido a isso, causa prejuízo à aquisição da leitura e da escrita. No desenvolvimento do estudo utilizou-se o método de observação que é utilização dos sentidos na obtenção de dados em determinados aspectos da realidade. O método 12 de observação pode ser realizado de diversas formas, para a presente pesquisa foi utilizado o método de observação não-participante onde o pesquisador presencia o fato, mas não participa/interfere. Foram utilizados pesquisas bibliográficas, artigos científicos, fotos das aulas, para fundamentação teórica e descrição das brincadeiras e jogos, relatórios das aulas, realizados pelos alunos do Curso Normal do Colégio José Veríssimo, situado em Raiz da Serra, RJ. Esse tipo de pesquisa caracteriza-se pela presença intensiva do pesquisador. Outros instrumentos de coleta de dados foram utilizados, além do sentido da observação, entrevistas com perguntas diretas e instrumento projetados pelo próprio pesquisador. A escolha partiu da complexidade deste processo requerer um tratamento metodológico, que permita entender a estreita relação da psicomotricidade com o processo de alfabetização. E para isso, foram analisadas obras de diferentes autores que embasam os temas ligados ao assunto em questão. A observação direta da investigação feita com alunos e estagiários do curso de formação de professores permitiu avaliar a variação nos comportamentos de maneira a concluir de forma parcial os resultados obtidos. A pesquisa foi efetuada nas escolas para todas as turmas no horário da tarde, porém em dias diferentes para cada instituição. O principal critério para a seleção das escolas participantes foi a manifestação espontânea de interesse das respectivas direções, que demonstraram afinidade com o tema e afirmaram seu interesse na pesquisa. CAPÍTULO I 13 1. AGRESSIVIDADE, EDUCAÇÃO E O VALOR DAS BRINCADEIRAS PSICOMOTORAS 1.1 AGRESSIVIDADE Para uma maior compreensão do assunto é necessário que neste primeiro momento se explique o que é agressividade. Para isto é preciso conhecer numa abordagem psicológica, que na opinião de vários autores recebe fortes contribuições de muitas áreas do saber. Ao longo da história, a agressividade tem- se manifestado sob variadas formas no comportamento humano, entre elas estão a exploração coletiva de violência, estereótipos raciais e motivos econômicos; o homem por ambicionar sempre mais aumenta sua agressividade e intolerância. Frequentemente se faz comparação do comportamento do homem com o animal, entretanto somente o homem recorre a violências como a manipulação e o assassinato exterminando membros de sua própria espécie. Apenas o homem desenvolve estranhas formas de crueldade e torturas, assim como controles igualmente sutis, através de métodos sociais capazes de provocar estados afetivos de culpa, vergonha e ameaças. Durante o decorrer da história da humanidade, podemos observar que o homem se diferenciou dos demais seres pelo seu raciocínio e sua capacidade de interpretar seus sentimentos no anseio de satisfazer suas necessidades. A esta interação de sentimentos com a razão resulta no desencadeamento de várias ações que são dirigidas ao meio ambiente e ou aos seres que o cercam. A agressividade surge como um dos vários componentes do comportamento humano. É através da agressão que o homem defende seu território, luta por comida e procura sua sobrevivência. “A agressividade cumpre uma função de adaptação na luta pela vida”, (GROSSI BORDIN, 1992, p. 46). Freud (1948), explica a agressividade como processo de defesa do indivíduo. Na teoria psicanalítica acredita-se que o homem possui um instinto de vida e um de morte. Assim essas duas classes de instintos estão misturadas, mas podem diferenciar-se em decorrência de um conflito, onde vida ou morte podem vencer. Para os autores Bock, Furtado e Teixeira (1997), que afirmam que “o ser humano é agressivo”. Existem pessoas que são capazes de cometer qualquer ato 14 de maldade com qualquer ser vivo, e existem outras “incapazes de fazer mal a uma mosca”, estas são consideradas como não-agressivas, como se não tivesse nenhuma hostilidade para com o mundo, nenhum impulso destrutivo na sua relação com as coisas e com os outros. Nestes casos a avaliação da agressividade está ocorrendo exclusivamente em função de suas manifestações: o comportamento. Para compreender melhor a afirmação dos autores (Bock, Furtado e Teixeira, 1997), “de que o homem é um ser agressivo”, é necessário entender que a agressividade é um impulso destrutivo que pode voltar-se para fora (heteroagressão), ou para dentro do próprio indivíduo (autoagressão). Mas ela sempre constitui a vida psíquica do indivíduo, enquanto fazendo parte de um binômio amor/ódio, pulsão de vida/pulsão de morte. A agressividade está relacionada com as atividades do pensamento, imaginação ou de ação verbal e não verbal. Portanto alguém muito “bonzinho” pode ter fantasias altamente destrutiva. Agressividade pode manifestar-se pela ironia, pela omissão de ajuda, não se caracterizando exclusivamente pela humilhação, constrangimento ou destruição do outro, isto é, pela ação sobre o mundo externo. A agressividade nasce com a criança e esta pode exteriorizá-la ou não. Pois existemmecanismos de controle social que impedem que algumas pessoas demonstrem de forma clara a agressividade guardada dentro de si. Tais mecanismos parecem não funcionar quando as pessoas exteriorizam a agressividade que se manifesta através da violência na forma de atos de destruição reais ou imaginários. Outra vertente de explicação da agressividade está na vida social. Segundo Rosseau, “Não há nada particularmente agressivo na espécie humana, em seu estado natural” (apud GROSSI, BORDIN, 1992, p.46). Surge uma concepção mais sociológica da agressividade, que indica a sociedade como causadora dela. Em uma sociedade marginalizada, pobre e injustiçada só pode haver manifestações agressivas. A agressividade está presente na constituição da violência, mas não é o único fator que a explica. É necessário compreender como a organização social estimula, legitima e mantém diferentes modalidades de violência. 15 O estímulo à violência pode ocorrer tanto no incentivo à competição escolar, e no mercado de trabalho, como incentivo a que cada um dos cidadãos dê conta de sua própria segurança pessoal (BOCK, FURTADO e TEIXEIRA, 1997). A violência nada mais é do que um ato desejado de agressividade com fins destrutivos, Bock, Furtado e Teixeira, (1997), dizem que esse desejo pode ser: - Voluntário (intencional), racional (premeditado e com objeto “adequado” da agressividade) e consciente; - Involuntário, irracional (a violência destina-se a um objeto substituto por exemplo, por ódio ao professor o aluno bate em outro aluno) é inconsciente. As crises de violência podem expressar uma profunda frustração, a criança pode ser atrevida e descarregar seus anseios com manifestações ostensivas de hostilidade e agressão, derivada de inúmeras causas que pode ser provenientes do próprio ambiente em que a criança e o adolescente vivem. Nas aulas psicomotoras a agressividade da brincadeira e do jogo, formas aceitas muitas das vezes por eles, permitem a descarga, pela via motora, do impulso agressivo, o que às vezes se degenera em agressões destrutivas de fato, devendo ser contida sob pena de se intensificarem. 1.2 AGRESSIVIDADE E EDUCAÇÃO O educador precisa compreender a dimensão e complexidade, de certos aspectos da agressividade que surge nas crianças e adolescentes, e que sob certos aspectos, está além de sua pessoa. Educar sabendo lidar com a agressividade, sob um aspecto criador, transformador e democraticamente mais justo deveria sem um desafio social mais amplo. No entanto, recai basicamente sobre aqueles que cuidam diretamente – sob as mais diversas formas – da saúde, da educação e da garantia de direitos e deveres das crianças e adolescentes Sobre a relação entre agressividade e educação, observa-se na prática, ser da função do educador construir ideais humanistas de igualdade e cooperação, mesmo que a realidade cotidiana não se espelhe nesses ideais. Muito comum é a percepção corrente, no seio das relações humanas, de que os agressivos são sempre os outros. Quer seja numa abriga entre os alunos na sala de aula, ou nas expressões agressivas do professor, em tumultos de torcidas nos jogos, numa briga de casais ou numa guerra entre países. Por esse motivo, 16 os sujeitos envolvidos dificilmente percebem sua implicação na atitude agressiva para com o outro. E, muitas vezes, esses conflitos estão ligados a questões de identidade e subjetividade consciente e inconsciente. Freud (1930) explica, em relação à civilização, os comportamentos agressivos são observados em todos os segmentos da educação, independendo da classe social, econômica e cultural. Detectar a agressividade vivida passivamente é mais difícil, como por exemplo, na criança inibida, tímida, auto excludente. De forma inversa, essas são geralmente consideradas quietas, obedientes, comportadas e disciplinadas. Pouco se enxerga sobre a direção tomada pelo impulso agressivo nesses meninos e meninas. Mal se pode ver que agressão voltou-se para si mesmo, impedindo a expressão dos seus afetos. Agressividade não é sinônimo de violência, porém, pode gerar violência. Algumas crianças demonstram agressividade desde a iniciação escolar, e isto se dá principalmente pela falta de imposição de limites que deve ser feita pelos pais e dar continuidade na escola. As crianças começam a demonstrar sua agressividade desde muito pequenas através de mordidas, arranhões, tapas, chutes, até mesmos gritos. É a partir desse momento em que os limites devem ser impostos para que a criança comece a ter consciência a respeito das regras de convivência. Atitudes agressivas, uso de poder, intimidação de colegas e enfrentamento de professores e funcionários parecem não ter limites. Tudo isto contradiz os propósitos essenciais da escola de educar e socializar, trazendo prejuízos individuais e coletivos, além de instalar um clima de terror e distância entre aqueles que deveriam ser parceiros no processo educativo: o professor e o aluno, pais, enfim, a comunidade escolar. (FERNANDES e SOUZA, 2008, p.1). No entanto a agressividade torna-se preocupante ao ganhar força dentro das escolas, na medida que passa a interferir nas relações entre professores, alunos e toda comunidade escolar, pois se a instituição escolar é considerada em espaço onde ocorre a continuidade do processo de socialização iniciado pelas famílias, com isso as práticas escolares devem proporcionar uma educação de qualidade, adotando práticas educativas que promovam um bom relacionamento reduzindo a agressividade, dentro do ambiente escolar. 17 Quando a agressividade se torna descontrolada gerando violência dentro e fora das escolas, muitas vezes é um reflexo do que essas crianças vivem no dia a dia na rua ou até mesmo dentro de casa. As consequências de comportamentos agressivos podem ser graves, por isso é muito importante compreender a complexidade e o contexto que gira em torno desses comportamentos agressivos, isso é um sinalizador que a criança pode estar sofrendo maus tratos, físico ou emocional. Tal problemática tem muitas implicações do ponto de vista da prática educativa, e suas diferentes manifestações nas aulas psicomotoras. A violência tem aumentado a cada ano como resultante da convergência de múltiplos fatores. Assim, um aluno que não tem uma família estruturada, que vive num ambiente violento, que não é acompanhado pela família, por quem são transmitidos valores, que desconhece as regras básicas de convivência social, que não tem limites, nem conhecimentos básicos, não consegue ter sucesso, e isto pode levar a manifestação de comportamento agressivo. Os pais estão cada vez mais ausentes na educação dos filhos, delegando para a escola a educação de seus próprios filhos. A escola frente a essa problemática tenta chamar a atenção dos pais para suas responsabilidades com a educação dessas crianças, demonstrando também o quanto é importante o trabalho do professor, mas que juntos essa educação teria mais sentido, para esses alunos. As crianças fazem parte do contexto escolar cada vez mais cedo, permanecendo na escola em tempo integral, aumentando anda mais o contato com educadores. Dentro deste cenário o docente tem que conhecer mais as pessoas e saber lidar com suas carências afetivas. Transmitir conhecimento é importante, mas lidar nas mais diversas situações que a profissão oferece é imprescindível. Sendo assim é preciso que o professor seja reflexivo, busque criar novos meios de conhecer e de relacionar com os aprendizes, para que as relações afetivas se concretizem de modo natural, deixando os comportamentos agressivos cada vez menos frequentes entre alunos em sala de aula e no espaço escolar, buscando cada vez mais alternativas de ensino aprendizagem nos diversos campos do conhecimento dando sentido às experiências e à realidade que cada um pertence. 1.2.1 TOD (TRANSTORNOOPOSITOR-DESAFIADOR) 18 Dentro do contexto da educação infantil é normal que os professores se deparem com crianças desafiadoras, porém, deve se atentar se a agressividade, transgressão as regras, a indisposição com colegas, família e escola não se trata de um transtorno psicossocial chamado Transtorno Opositivo-Desafiador (TOD). É muito importante que crianças muito opositivas, desafiadoras, autoritárias sejam avaliadas para que um diagnóstico precoce as auxilie a lidar com a problemática que envolve o TOD. (TEIXEIRA, 2014). De acordo, com o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5.a edição (DSM-V), o Transtorno Opositivo-Desafiador (TOD) trata-se de um transtorno ou distúrbio psicossocial que se encontra na categoria de transtornos de conduta e controle de impulso. É mais comum seu aparecimento na faixa etária de 6 a 12 anos, esse transtorno causa episódios raivosos no comportamento, questionador e irritável, além de uma índole vingativa (BRASIL, 2014). Uma criança extremamente opositiva, desafiadora, que discute por qualquer coisa, que não assume seus erros ou responsabilidades por falhas e que costuma sempre se indispor com os demais de seu grupo ou de sua família de maneira a demonstrar que a cada situação será sempre difícil convence-lo, mesmo que a lógica mostre que suas opções estão evidentemente equivocadas. Provavelmente essa criança tem TOD. Em virtude, do mau comportamento da criança, existem três tipos de tratamentos; o medicamento, a psicoterapia e a psicoeducação. O diagnóstico do aluno é prejudicado pela semelhança das características com comportamentos naturais na infância e na adolescência que também são por vezes desafiadores. Mas, o padrão de comportamento de uma criança com TOD pode acarretar em alguns problemas se não tratado, principalmente, no âmbito escolar como, por exemplo, problemas de aprendizagem, baixo rendimento escolar e dificuldade de convivência com os demais, desse modo o aluno apresenta pouca atenção, dificuldades na escrita na linguagem, e na leitura, dificuldade em se concentra. Em razão disso, com o auxílio da psicomotricidade, no processo de desenvolvimento da criança diagnosticada com Transtorno Opositor Desafiador (TOD), compreende que a criança deve ser bem condicionada, com atividades 19 psicomotoras, no qual cabe ao professor, buscar atividades adequadas e busque inovar cada vez mais seus métodos, onde cada criança possa vivenciar momentos únicos através dos movimentos do seu corpo, com estímulos, motivação, entre outros. Para que melhore a afetividade, e assim, possibilite a socialização. 1.2.2 QUANDO A AGRESSIVIDADE PODE SER BOA A agressividade sempre foi vista como algo negativo, uma referência à violência. Porém ela possibilita ao indivíduo seu desenvolvimento. Tudo depende de como é utilizada. Pensando a questão da fantasia agressiva das crianças, considere a perspectiva importante e congruente. Colocada por Ajuriaguerra e Marcelli (1986, p. 81): “seja quais foram as condições de educação, não existe criança sem fantasia agressiva”. A agressão faz parte da expressão lúdica da criança, a criança que gosta de brincar de armas, super-heróis, de fingir que constrói ou destrói, está somente exercitando sua fantasia de forma lúdica, está forma de expressão pode evitar que uma criança se torne tímida diante do mundo e se transforme numa pessoa cheias de fobias e outros problemas. Essa expressão lúdica da agressividade pode ser observada na capacidade da criança de enfrentar situações de separação dos adultos que lhe protegem (ou não), na medida em que busca por si próprio, por meio da fantasia, mostra-se forte o suficiente para enfrentar seus desafios. Isto não significa estimular a agressividade, mas legitimar a capacidade de sentir-se potente. A agressividade faz parte do ser humano, do seu dia a dia. Ela é uma energia que nos impulsiona a fazer algo. Quando bem canalizada, é aquela dose de determinação que temos em algumas situações quando queremos atingir determinado objetivo ou nos posicionarmos diante de um fato. Uma pessoa, por exemplo, para defender seu ponto de vista, precisa demonstrar confiança e determinação na relação com outro e isso também tem a ver com agressividade. Assim sendo ela sinônimo de coragem, de determinação, torna-se um aspecto positivo. É o que diz Jô Alvim (2018). A educação e os mecanismos sociais da lei e da tradição buscam subordinação e controle da agressividade. A criança aprende a reprimir e a não expressar tais manifestações de modo descontrolado. Ao mesmo tempo a cultura cria condições 20 para que o indivíduo possa canalizar, e levar esses impulsos para produções consideradas positivas. A agressividade positiva é afirmação, é a capacidade de enfrentar situações de frente, sem temores. Ela é extremamente importante para a boa adaptação da criança à sociedade competitiva em que vivemos. (BOCK, FURTADO e TEIXEIRA, 1997). Apesar de ser um mecanismo de defesa que o ser humano utiliza como conservação da espécie ou para proteger-se de algum perigo, a agressividade é rejeitada socialmente. Por isso que há pessoas que nunca expressam tal sentimento. O que poucos sabem é que colocar para fora o que sentimos faz bem para o corpo e para a mente. Jô Alvim (2018), afirma que, quando uma agressividade é reprimida, esta energia negativa pode transformar-se em doenças, desde as simples até a depressão, a automutilação ou o suicídio, para citar algumas. Ou seja, a hostilidade reprimida poderá ser demonstrada no corpo através de algum sintoma, numa demonstração clara da estreita relação corpo e mente. Pode-se pensar que atitudes das crianças, diante do jogo e do brinquedo constitui uma área intermediária onde a criança pode experimentar suas fantasias agressivas sem ser destrutiva para os outros e nem ser destruída por ele (Winicott, 1975). Sem dúvida, o problema da agressividade está nas suas formas de expressão, manifestá-la sem equilíbrio tem consequências negativas, é preciso expressa-la adequadamente. Quando a agressividade é expressa através do diálogo, numa postura onde a pessoa reflita sobre o ponto de vista do outro, ao mesmo tempo em que expressa suas ideias, está, demonstrando a sua não passividade, a sua força em enfrentar a situação e não em fugir dela. Conflito de ideias ou sentimentos é parte da vivência humana. Reagir ao conflito, expressando os sentimentos de forma saudável, demonstra maturidade emocional. Esta agressividade, como sinônimo de coragem, é positiva, pois mostra a capacidade do individuo de administrar os problemas sem afetar sua saúde mental. (JÔ ALVIM, 2018). 21 O diálogo como prática pedagógica cotidiana deve ser utilizada por professores no enfrentamento das situações de agressividade no cotidiano escolar. Envolver a criança com práticas de atividades que propiciem o debate envolvendo a criança com jogos e brincadeiras de seu interesse conquistando sua confiança, o afeto e a atenção dos alunos são estratégias que podem contribuir para minimizar o problema da violência e da agressividade. 1.3 O VALOR DAS BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL É muito comum considerar que a situação da criança com objetos que representam armas, possa desencadear e estimular atitudes agressivas e violentas diante do mundo que as cerca. Devemos atentar para o fato de que a agressividade faz parte do psiquismo infantil e de nossa condição humana. As crianças gostam de brincar de guerra, de matar, atirar, ferir, morrer etc. (Ajuriaguerra e Marcelli, 1986). E não precisam de uma arma de brinquedo para brincar de atirar, usam o polegar para isto, e para o coleguinha “atingido” é suficiente para cair e fingir de morto, uma “vara” se transforma em uma espada, que numa luta ao tocar o “inimigo” o deixa mortalmente ferido.Nessas brincadeiras a criança está só exercitando sua fantasia agressiva de forma lúdica e sem culpa. Punir a criança por sua expressão agressiva pode torná-la muitas vezes inibida e angustiada. A agressividade faz parte da expressão lúdica da criança. Segundo Winnicott citado por FORTUNA, na Revista do Professor (1996, p.12) “...a agressão tem dois significados: por um lado constitui-se direta ou indiretamente em uma reação à frustração. Por outro lado, é uma das muitas fontes de energia de um indivíduo”. Os pontapés que o bebê dá no útero materno testemunham, precocemente, o prazer muscular no movimento e na resistência encontrada. Desde esta experiência até a cólera passando pela pancada acidental, o golpe com a intenção de causar dano, as ideias e impulsos destruidores, a agressão está sempre ligada, conforme este autor, “ao estabelecimento de uma distinção clara entre o que é e o que não é o eu”. A questão é: que método deve o sujeito encontrar para dominar estas forças agressivas, colocando-as a serviço da tarefa de viver, amar, brincar e, finalmente, trabalhar? 22 As brincadeiras por abranger a vida física e psíquica da criança deve entrar em contato com situações que envolvem características cognitivas e comportamentais dos alunos em aula ou em outras situações dentro da escola, de modo que o educando poderá demonstrar sentimentos de temores, bloqueios, agressividades, sonhos, desejos e formas diferenciadas de relacionamentos com os outros, com seu corpo, e com a sociedade. “O movimento tem a função de expressar e implementar as características da personalidade” (FEIJÓ, 1998). Em se tratando de Educação Infantil é comum fazermos referência ao brincar. A aceitação da brincadeira como parte inerente a vida da criança e da infância é uma visão social intrínseca a cultura ocidental. A criança brinca para interagir com seu mundo externo, se relacionar em seu contexto histórico e social, imitar os adultos para compreender como pensam, falam, agem e sentem. A criança brinca para constituir-se como sujeito e compreender os sujeitos que fazem parte do seu mundo social. Através do brincar a criança experimenta, organiza-se regula-se, constrói normas para si e para o outro. Ela cria e recria, a cada nova brincadeira, o mundo que a cerca. O brincar é uma forma de linguagem que a criança usa para compreender e interagir consigo, com o outro, com o mundo (DORNELLES, Apud CRAIDY, 2001, p.104) Quando as produções infantis vão para o “lixo”, ou são rotuladas de “feias” ou um “monte de rabiscos”, ou que só estamos “brincando” (como algo menor e esvaziado de sentido), a criança sente-se desvalorizada. É preciso traduzir as práticas infantis para a comunidade e mostrar que brincar é um direito da criança e que muito se aprende brincando. De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil a brincadeira contribui para o desenvolvimento de capacidades como atenção, imitação, a memória, a imaginação. O mesmo documento destaca que o brincar faz parte do processo de maturação da criança. A criança repete em seus jogos as impressões que acaba de viver, reproduz e imita-as. Nas mais jovens, a imitação é a regra dos jogos, 23 a única que lhes é acessível enquanto não podem ultrapassar o modelo concreto, vivo, para atingir o abstrato, porque a sua compreensão não é primeiro, senão uma semelhança de outrem, em si e de si em outrem, em que a imitação desempenha precisamente um grande papel. (WALLON, Apud RABINOVICH, 2007, p.51) O brincar livre ou regulamentado com o olhar do adulto, sozinho ou em grupo é uma atividade espontânea e imprevisível. No universo do brincar a criança age como se estivesse em outro lugar mesmo estando inteiramente conectado com a realidade. Muitas vezes as crianças fazem escolhas que demonstram seus desejos, preferências, medos. O brincar revela suas vivências, como a identificação dos papéis do pai, mãe, irmãos, professores. Papéis esses que se tornam visíveis em uma simples brincadeira de faz-de-conta, quando a criança imita o papel da mãe ou do filhinho. Freire (2005) afirma que não é a atividade em si que define o caráter lúdico do jogo ou da brincadeira, mas a maneira subjetiva como as crianças se relacionam com essas manifestações culturais. Quando brincam, as crianças constroem, por meio de sua “cultura de pares”, diferentes modos de jogar e brincar, que dificilmente são compreendidos por um observador externo, mas que conferem a elas coesão e sentido. Portanto, atribuir centralidade às crianças na Educação Infantil implica, necessariamente, considerar as suas produções culturais mediadas pelos jogos e brincadeiras. Dentre as inúmeras formas de brincar produzidas pelas crianças, estão as “brincadeiras lúdico-agressivas”, que se caracterizam por alguma contenda ou confronto de natureza simbólica e corporal. Geralmente, essas manifestações lúdicas são coibidas no contexto escolar, sob o argumento de que elas são prejudiciais às crianças, pois geram violência (CANDREVA et al., 2009). Em sentido contrário a essa visão, Farias, Wiggers e Viana (2014), Barbosa (2011) e Jones (2004) pesquisaram o papel dessas brincadeiras no extravasamento das emoções infantis, no processo de apropriação e ressignificação da realidade e na produção de sentidos para as atividades lúdicas. Apesar da proibição, as crianças resistem e, de maneira “sorrateira e subversiva”, brincam longe do olhar do adulto de lutinha, de mocinho e bandido e de heróis e vilões, de karatê e judô, de capoeira ou boxe, basta assistir a um desenho ou 24 filme que apresentam esses tipos de lutas, que pronto! Lá estarão eles reproduzindo os movimentos com os colegas. Esse tipo de comportamento entre as crianças é normal, até o momento em que na brincadeira uma machuca a outra, ou usa de mais força, já é o suficiente para as coisas saírem do controle, e começaram a brigar de verdade. Neste momento o professor deve intervir para esfriar os ânimos mais esquentados, e ajudando-os a resolver o conflito, fazendo que dialoguem e resolvam suas diferenças com uma conversa amigável, e reunindo-os para uma brincadeira cooperativa, levando-os a refletir sobre amizade, cuidado e respeito com o outro. É na interação que a criança constrói o seu conhecimento. Educar significa estar junto, construir, vivenciar, atuar, trocar, ceder, descobrir e humanizar estabelecendo uma interação dinâmica com o grupo. Educar significa também respeitar a criança: ela não é um mini-adulto, mas um ser que tem características, sensibilidade e lógica próprias. Assim, desenvolvimento, transformação, crescimento são partes desse processo global. A Educação Infantil tem um papel social de valorizar os conhecimentos que as crianças possuem e garantir a aquisição de novos conhecimentos. Escola e família não se excluem se completam. Além de tentar ver a criança de forma integrada, o olhar teórico de Wallon vai buscar e focá-la de modo contextualizado, isto é, “a pessoa inserida em seus contextos em seus meios de atuação”. Por tanto a atitude teórica de Wallon, vai ser sempre procurar compreender o sentido de uma conduta, em função do contexto nos quais está conduta está inserida. A brincadeira é tão importante para o desenvolvimento humano que em uma simples disputa por um brinquedo pode se acontecer o aprendizado. O profissional de Educação precisa refletir criticamente a respeito do brincar, repensando as próprias práticas e abordagens metodológicas, pois o brincar traz desafios a ação pedagógica. O brincar mesmo que submetido a capacidade criativa das crianças não é algo que vem pronto, não depende de uma repleta gama de objetos caros, mas sim da observação atenta as necessidades das crianças. Um brincar comprometido com sua devida importância para o desenvolvimento da criança permite ao professora participação e o compartilhamento desse universo infantil. CAPÍTULO II 25 2. O OLHAR DE WALLON SOBRE A CRIANÇA: OS CAMPOS FUNCIONAIS 2.1.1 O MOVIMENTO Nessa tentativa de olhar a criança de um modo integrado, Wallon vai delinear quatro campos, que são chamados, campos funcionais, sobre os quais a teoria vai fornecer mais elementos. O movimento que é o primeiro sinal de vida psíquica que dá á criança ao nascer, e que é uma dimensão, que vai permear todas as idades e todos os campos. É interessante destacar que no estudo do movimento, Wallon discrimina duas dimensões do movimento: uma é a dimensão mais expressiva, isto é, que é o movimento que não significa deslocamento necessariamente, mas que é, a expressão que está na base das emoções. E a outra dimensão do movimento, é sim, a dimensão instrumental, isto é, o movimento, mas comumente estudado, que é o de ação direta sobre o meio físico, o meio concreto. Na dimensão expressiva do movimento encontramos elementos interessantes no sentido de poder se atentar mais como educador. Para a concretude da criança, as posturas corporais e os seus gestos, sinalizam para o educador questões importantes, e fazem parte da criança como um todo. Muitas vezes o professor considera o movimento como sempre algo que atrapalha, quer dizer, é comum no professor em sala de aula, achar que pra criança aprender ela tem que estar imóvel, ela tem que tá paradinha sentada, etc.. E se o professor for integrar essas questões mais teóricas acerca do movimento, e mesmo se o educador, começar a afinar o seu olhar sobre o movimento, verá que é ao contrário, que muitas vezes, é graças a essa dimensão mais expressiva do movimento, dos pequenos gestos, ou interação com os colegas que a criança consegue aprender. Nesse sentido impedir a criança de se movimentar ao invés de favorecer que ela aprenda, pode impedir que ela aprenda. Porque o pensamento da criança no primeiro momento, é muito sustentado no movimento. Ela precisa se mexer de vários modos para construir um fluxo de pensamento. Porque o pensamento da criança no primeiro momento ele é muito sustentado no movimento. Ela precisa se mexer de vários modos para construir um fluxo de pensamento, processo pelo qual vai se construindo na criança a capacidade de controlar o seu próprio movimento. Para Wallon, essa capacidade “...é difícil, é custoso, é gradual.” 26 2.1.2 AS EMOÇÕES Para Wallon as emoções são as primeiras manifestações afetivas que compõem, que estão presentes, que se constituem na criança. Para ele as emoções são o fator fundamental de interação da criança com meio no qual ela está inserida. São várias as peculiaridades das emoções, dentre elas serem manifestações afetivas que se expressam, isto é, que são visíveis para o outro, e que são mais claramente identificáveis pelo próprio sujeito, e que tem uma variabilidade intensa, e que com frequência vem acompanhada de modificações no próprio funcionamento, orgânico do corpo. Para compreender o sentido das emoções no desenvolvimento humano é necessário olhar os primórdios da vida humana, portanto, as primeiras situações, reações do recém-nascido, ele é desprovido de capacidades que lhe possibilitem agir diretamente sobre o meio físico. Ele está num estado de imperícia, porque ele não consegue pegar a mamadeira sozinho etc. Ao mesmo tempo que ele tem essa imperícia, do ponto de vista das condutas que possibilitariam a ele, agir diretamente sobre o meio físico. Ele é dotado de enorme expressividade, isto é, toda uma gestualidade que no começo é disparatada, desintegrada, desarticulada que parece sem sentido. O próprio choro, como manifestação emocional de uma força intensa, tem uma expressividade muito grande, nesse sentido a gente vê, como que o bebê pequeno é eficaz. De acordo com os estudos de Wallon a função das emoções é principalmente uma função social, que é justamente de possibilitar interação da criança com o meio social. Nesse sentido, o primeiro meio, com o qual interage a criança, não é o meio físico dos objetivos, mas o meio das pessoas. As emoções por tanto são os primeiros recursos de interação da criança com o meio social. Por isso, elas têm um papel fundamental, é o que permite ao recém- nascido da espécie humana se imergir num meio social, e desta forma imerso, ter por exemplo, acesso a linguagem. E é a linguagem que é o recurso fundamental de estruturação do pensamento, de construção de si. Mesmo quando a linguagem se consolida como recurso de interação social, as emoções continuam como um tipo de manifestação muito presente. As emoções têm características importante e de extrema contagiosidade entre os indivíduos. E esse traço fica muito claro, nas situações de dinâmicas de grupo por exemplo. Quantas 27 situações de sala de aula não podem ser mais bem compreendidas, um exemplo desses fatores que são situações de turbulências, de alvoroço, e que muitas vezes tem motivos muitos concretos, para ocorrerem, e que estão na base das práticas educativas que tem que ser ajustadas. Mas o professor pode entendê-las melhor recorrendo a essa ideia das emoções, isto é, muitas vezes é a excitação de uma criança, ou do próprio professor, que contagia as crianças, que contagia o professor, e acaba criando algumas situações, enfim, de muito descontrole. Mas essa mesma contagiosidade das emoções também está presente nas dinâmicas de grupo de um modo muito positivo, que é por exemplo, aquilo que permite que o professor, quando está entusiasmado com sua atividade, entusiasmado com aquele conhecimento, que ele quer partilhar com as crianças consiga por meio de seu entusiasmo, que vai se refletir, no tom da voz, na expressão dos olhos, na postura do corpo dele, consiga contagiar positivamente as crianças que tenderão a ficarem igualmente entusiasmada por esse conhecimento. 2.1.3 A INTELIGÊNCIA Para compreender o desenvolvimento da inteligência. Wallon vai destacar inteligência discursiva. A inteligência que se expressa e se constituem por meio da linguagem, por meio da fala inclusive, a ideia de que a inteligência nasce das emoções, se constitui e se constrói em cada indivíduo, graças a esse primeiro momento de fusão emocional que há no início da vida humana, e por meio desse momento de fusão emocional é que a criança pequena tem acesso a linguagem própria do seu meio. A inteligência também, se apoia fortemente no ato motor, por exemplo para o professor ilustrar isso, é o educador lembrar dos primeiros faz de contas da criança onde ela faz um gesto que representa um objetivo, como por exemplo. A criança repete o movimento de dirigir um carro. Então esse gesto que representa uma ideia, ilustra pra gente o quanto a representação mental está fortemente ligada ao movimento no início, e a tendência é que gradualmente a inteligência é um funcionamento mental vá se descolando do movimento, mas esse é um processo gradual, e é um processo que nunca se completa totalmente, basta cada um de nós pensarmos o quanto a gente move as mãos pra falar, ou quanto a gente pensa melhor ou pior numa dada posição, num determinado movimento. 28 A inteligência sincrética, tem uma a característica que Wallon vai definir como central. O sincretismo evoca, mistura, globalidade, confusão. O pensamento sincrético é um pensamento por exemplo em que a criança não separa a qualidade da coisa, por exemplo. É uma situação em que a criança pequena de 2 ou 3 anos, tem dificuldade de aceitar. Que briga com outra criança quando ela descobre que a mãe tem o mesmo nome. Então nessa situação, que a criança briga com o outro, que diz minha mãe chama Eliana. E o primeiro menino que diz minha mãe também chama Eliana. É a minha mãe que chama Eliana. E que não admite que a mãe do segundo possa ter o mesmo nome que a dele.A gente vê um exemplo de sincretismo. Porque é como se o nome Eliana, fosse colado a figura que é a mãe dele. Logo impossível de haver outra mãe com o mesmo nome. Pensamento categorial– então a direção do desenvolvimento da inteligência é do estado de total indiferenciação, para estados progressivo de diferenciação. Esse estado que caracteriza a infância é chamado então de sincretismo, o pensamento sincrético como Wallon vai definir, e conforme vão se processando diferenciações fundamentais no sincretismo, a criança constrói algo que Wallon vai chamar de pensamento categorial. Pensamento categorial que nada mais é, do que a possibilidade de pensar o real, por meio de categorias. O que poderíamos associar, o pensamento categorial com o pensamento conceitual, que é a característica do pensamento adulto, que é aquilo que começa a se consolidar no final da primeira infância, no início da idade escolar. 2.1.4 A PESSOA Pessoa – o quarto campo, é o campo que ele nomeia pessoa justamente, que é ao mesmo tempo àquilo que articula todos os demais, mais também, é um campo independente, isto é, ele vai mostrar por tanto, como que, ao longo do desenvolvimento vai se construindo, a noção pra cada sujeito de si mesmo, diferente do outro, uma noção de eu, ou consciência de si. Como Wallon fala. A Relação entre esses quatro campos funcionais: Movimento, Inteligência, Emoção, Pessoa nem sempre são de harmonia, isto é, é uma relação que está muito marcada pelo antagonismo, pelo conflito, embora cada um desses campos seja inseparáveis uns dos outros. 29 Além de tentar ver a criança de forma integrada, esse olhar teórico vai buscar e focá- la de modo contextualizado, isto é, a pessoa inserida em seus contextos em seus meios de atuação. Por tanto a atitude teórica de Wallon, vai ser sempre procurar compreender o sentido de uma conduta, em função do contexto nos quais está conduta está inserida. 2.2 UMA PEDAGOGIA DO MOVIMENTO POSSÍVEL NA ESCOLA Quando se trata da questão do movimento e do corpo inseridos na prática pedagógica, é preciso lembrar das contribuições de Piaget, Wallon e Le Bouch que, apesar de terem estudos diferenciados, demonstraram uma coisa em comum: a atenção especial à infância como fase imprescindível na formação das bases necessárias ao desenvolvimento infantil. Esses autores mostram como a dimensão motora está integrada ao desenvolvimento da criança e é base para a construção das estruturas cognitivas, de representações simbólicas e de esquemas afetivos. Para Piaget, a motricidade intervém em todos os níveis de desenvolvimento das funções cognitivas, na percepção, nos esquemas sensório-motor e nos substratos da imagem mental das representações pré-operatórias e das operações propriamente ditas, ou seja, a inteligência não aparece num dado momento do desenvolvimento mental da criança, mas é resultado da experimentação motora, integrada e interiorizada. Posteriormente à experiência motora, o indivíduo constrói formas de pensamento, baseadas na incorporação dos dados fornecidos por meio dela e assimila os objetos para si. Esse processo Piaget denominou inteligência reflexiva, ou seja, é a capacidade que a criança tem de pensar sobre seus atos, solucionando problemas e modificando-os de acordo com sua realidade. Para Wallon, a motricidade infantil é lúdica, marcada por uma expressividade que supera a instrumentalidade, e a atividade mental se projeta no ato motor, ou seja, o conhecimento e a aprendizagem se dão mediante a interação da criança com seu mundo exterior e com seu próprio corpo; assim a criança vai estabelecendo relações entre seus movimentos e suas sensações. Wallon enxergou o desenvolvimento humano como uma construção progressiva que se sucede em fases, ora com predominância afetiva, ora com 30 predominância cognitiva, e esta predominância corresponde aos recursos de que a criança dispõe, ao interagir com o ambiente. Jean Le Bouch dedicou-se aos estudos sobre o desenvolvimento psicomotor, introduzindo no meio terapêutico e educacional a ideia de educação pelo movimento, conhecida também como psicocinética ou educação psicomotora. Em psicocinética trabalha-se com o desenvolvimento motor da criança, para “ajudá-la a construir a ‘aresta central’ da sua personalidade, constituída pelo esquema corporal. Ela se propõe a dar uma formação geral, desenvolvendo determinadas capacidades psicomotoras e certas atitudes mentais indispensáveis para o desenvolvimento da criança”. É necessário que o educador tenha um olhar diferenciado e considere que educação, criança, psicomotricidade e ludicidade atuam conjuntamente. A ideia apenas de movimento é ampliada para os domínios relativos à percepção sobre o corpo em movimento, que supõe relações com a dimensão da vida e o desenvolvimento do ser humano. Freire (1994), ao abordar o tema “movimento” na escola de primeira infância, descreve os obstáculos enfrentados no cotidiano escolar no que concerne a professores, alunos, métodos e espaço físico. Menciona a importância da interação criança e meio (externo). Freire chama atenção para o fato dá criança apresentar dificuldades ao chegar na escola, critica certas pré-escola, que não aplicam o que pregam deixando de lado atividades que envolvem a ação corporal e desconsiderando o movimento psicomotor e o desenvolvimento biológico. Freire (1991, p.26) declara: O homem não é um zumbi intelectual. Nosso planeta é a terra, onde não existe forma possível de expressão que não seja a motora. Pela corporeidade existimos, pela motricidade nos humanizamos. A motricidade não é movimento qualquer, é expressão humana. Entender a pedagogia do movimento como processo de trabalho/vivência com práticas corporais, visando à qualidade na percepção corporal com consequente avanço nas ações/interações do ser humano no mundo. Compartilhamos, assim das ideias de Celano (1999, p.44), quando esclarece: “Somos seres multidimensionais e 31 nos sentiremos harmonizados se nossas ações, afetos, vontades, pensamentos, imagem, autopercepção, o ambiente e os níveis energéticos mais sutis estiverem em equilíbrio”. O corpo passa a ser entendido como espaço de vida e comunicação consigo e com o outro. Assim, a pedagogia do movimento pode pensar o corpo não como máquina, com funções repetitivas, mas sim, na sua relação com outras dimensões, como a emocional, a mental, a estética etc., ou seja, considera o ser humano como uma totalidade. As escolas estão adotando metodologias que visem o desenvolvimento motor através de uma série de exercícios psicomotores, jogos e brincadeiras. Essas atividades além de desenvolverem as estruturas físicas, também auxiliam na maturação mental, afetiva e social. No entanto, Negrine faz algumas observações sobre a adoção das metodologias pelos professores: “Seja qual for à experiência proposta e o método adotado, o educador deverá levar em consideração as funções psicomotoras (esquema - corporal, lateralidade, equilíbrio, etc.) que pretende reforçar nas crianças com as quais está trabalhando. Mesmo” levando em conta que, em qualquer exercício ou atividade proposta, uma função psicomotora sempre se encontra associada a outras, o professor deverá estar consciente do que exatamente está almejando e onde pretende chegar. (NEGRINE, 1995, p. 25). Logo nos deparamos com a importância do educador conhecer as funções psicomotoras e qual a sua contribuição para o crescimento infantil, pois sem esse conhecimento, o professor, poderá pular etapas do desenvolvimento motor o que causará problemas futuramente as crianças. O professor precisa ter muito claro qual o caminho a seguir, quais as necessidades de seus alunos naquela etapa do desenvolvimento em que se encontram e o que pretende alcançar com a realização de determinada atividade,ou melhor, se sua proposta de trabalho está realmente de acordo com as necessidades daquele grupo. O professor precisa ter uma instrumentalização teórica. De nada 32 adianta conhecer a brincadeira ou o jogo psicomotor, se não souber aplicá-lo com significados no processo de ensino-aprendizagem. O aluno, ao perceber que tem dificuldades em sua aprendizagem, muitas vezes começa a apresentar desinteresse, irresponsabilidade, agressividade, hiperatividade, baixo nível de atenção, dificuldade para seguir instruções, imaturidade social, dificuldade com a conversação, inflexibilidade, fraco planejamento e habilidades organizacionais, distração, falta de destreza, falta de controle dos impulsos, entre outros. A dificuldade acarreta sofrimentos e nenhum aluno apresenta baixo rendimento por vontade própria, cabendo ao professor identificar as dificuldades do aluno buscando formas de auxiliá-lo. O professor tem um papel fundamental na construção do processo de aprendizagem dos alunos, e sua função ganha ainda maior ênfase quando se trata da educação infantil, pois nesse período é através do vínculo aluno-professor que se dá a aprendizagem, que acontece especialmente no campo emocional. 2.3 A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA Piaget caracteriza o jogo da criança a partir de três formas: o exercício, o símbolo e a regra, constituindo os jogos de construção, a transição entre as três formas. Estas estruturas de jogo serão observadas, segundo sua forma típica de assimilação. Na criança, o jogo de exercício é o primeiro a aparecer e desenvolve-se nos primeiros meses de vida até, aproximadamente, os dois/três anos de idade. A sua função é exercitar as condutas por simples prazer funcional ou prazer de a criança tomar consciência de seus próprios poderes. De acordo com Piaget, os hábitos são as principais formas de aprendizagem no primeiro ano de vida e constituem a base para futuras operações mentais. Os jogos de exercício do bebê permitem a coordenação de esquemas motores, por exemplo, em brincadeiras repetitivas, como: pegar um chocalho, ouvir seu ruído e utilizar esse esquema ou movimentar os objetos para investigar os efeitos de sua ação. Pensando na construção do conhecimento na escola, percebe-se que a repetição é um importante recurso de aprendizagem, pois fazer algo uma única vez tem pouco sentido para as crianças; pior ainda é repetir algo, sem significado, sem 33 caráter lúdico. A repetição com seu caráter funcional, como viveu a criança no seu primeiro ano de vida, é matriz para a regularidade, tão essencial para a aprendizagem escolar. A segunda categoria de jogos infantis são os jogos simbólicos, que implica a representação de um objeto ausente. Essa forma de jogo caracteriza-se por seu valor analógico, isto é, poder tratar um elemento X como se fosse Y. Por exemplo, quando uma criança de, aproximadamente três anos resolve brincar de boneca, escolhendo representar o papel de mãe, ela repete, por analogia, o que a mãe tantas vezes fez com ela, na vida real. Nesse sentido, a criança assimilará o mundo conforme seus desejos fazendo invenções, expressando suas realidades; assim terá mais facilidade de tornar-se produtora de linguagens e dos seus próprios pensamentos. Uma terceira grande categoria, que Piaget denominou de jogos de regras: “Ao invés do símbolo, a regra supõe, necessariamente, relações sociais ou interindividuais”. Esta forma de jogo contém como propriedade fundamental de seu sistema, duas características herdadas das estruturas de jogos anteriores: a regularidade (jogo de exercício) e as convenções (jogo simbólico). Mas pode-se observar algo que é próprio desta última estrutura de jogo: o seu caráter coletivo, ou seja, o desafio do jogo está em função de a jogada do outro ser melhor que a sua mesmo, ou de seu colega. Os jogos de regras possuem um caráter competitivo, pois para ganhar, é necessário ser atento, habilidoso, concentrado, ter boa memória, relacionar e abstrair as coisas e, nesse caso, a competição não é vista como algo negativo, mas como um problema universal que a criança enfrentará em algum momento da sua vida. A escola possui uma função instrumental e, se tratar os conceitos de maneira lúdica, com sentido e significado, as crianças serão capazes de lidar com soluções de problemas, por exemplo, uma professora ao ensinar a contagem numérica para as crianças, tanto poderá fazê-la da maneira tradicional, por repetição mecânica dos números, ou com brincadeiras com figurinhas adesivas, que a criança poderá manusear, encontrando respostas a partir de ações concretas. A psicocinética walloniana atribuiu grande importância ao movimento que tem papel afetivo e cognitivo, o ser humano é geneticamente social e a própria natureza 34 humana constitui um processo de interação interpessoal e intercultural, cabendo ao corpo o papel principal. Outra função importante é a percepção que está ligada à função tônica. Na infância é visível o papel do movimento na percepção: “A criança reage corporalmente aos estímulos exteriores adotando posturas e expressões que vão de acordo com seu contentamento ou descontentamento e, muitas vezes, até recorre aos gestos para completar a expressão do seu pensamento.” O jogo nesse caso é considerado a principal estratégia para efetivação do trabalho corporal, pois os jogos e brincadeiras são consideradas como atividades próprias das crianças, pois se mantém espontâneas e lúdicas. Ao brincar, os alunos podem criar seus próprios jogos e interagir com outros colegas. Para alguns o jogo pode criar remorso, mas para a maior parte é um sentimento de permissão que acaba por vencer o da proibição, o que aumenta muito a alegria de jogar. Wallon sugere iniciar um trabalho com a criança de um ano, com ritmos, melodias, musicalidades e brincadeiras com a linguagem de forma lúdica e espontânea. Estas atividades desenvolverão a gestualidade não intencional. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao percorrer a dinâmica da agressividade, pode-se intuir que esse comportamento na educação infantil e educação fundamental pode ser considerado normal na maioria dos casos, salvo algumas exceções. As escolas pesquisadas e professores entrevistados não ofereceram um modelo a ser seguido, mas “lógicas internas” diferentes que apontaram a existência de uma agressividade sempre presente, mas com modulações variáveis. A única consistência dos fatos observados, parecia residir numa força agregadora entre as crianças que servia de suporte à um sentimento de partilhar juntos os momentos de brincadeiras, em que era possível notar a diminuição da agressividade. A perspectiva de Wallon vai olhar a infância como uma fase de preparação para vida adulta. Porque o educador vai ver a criança sempre como um Ser inacabado, ou 35 ver a criança, só no seu estado atual, e não levar em conta o fato de que ela se transforma, e que a tendência dela é virar um adulto. É evidente que cada criança, tem uma história peculiar e única, isto é, nenhuma criança chega na escola como uma tábua rasa, cada criança chega com uma bagagem, com um repertório que é o ponto de partida, que é algo que a escola tem que buscar se articular. Então é um desafio enorme esse de tentar articular esses três tempos: a história da criança, suas demandas atuais e as perspectivas. Com o desenvolvimento desse trabalho voltado à formação do professor do curso normal, foi observado que, há uma grande inquietação por parte dos professores em encontrar novas formas de ensinar, e que estas consigam abranger também os conteúdos de suas disciplinas, porque é preocupante para eles também, o quanto é evidente a quantidade de alunos, com dificuldade de aprendizagem e de interações socio-afetivo. Mesmo quando a linguagem se consolida como recurso de interação social,as emoções continuam como um tipo de manifestação muito presente e ainda muito fundamental nas interações sociais. Porque como foi dito neste trabalho, as emoções têm características importante a sua extrema contagiosidade entre os indivíduos. E esse traço, é um traço que fica muito claro nessas situações de dinâmicas de grupo por exemplo, quantas situações de sala de aula não podem ser melhor compreendida, se a gente ver esse fator. Um exemplo desses fatores que são situações de turbulências, de situações de alvoroço etc., que muitas vezes tem motivos muitos concretos para ocorrerem, e que estão na base das práticas educativas que tem que ser ajustadas. Mas outras vezes essas situações de turbulências e alvoroços parecem não ter motivos concreto mas ligado a organização da atividades. E aí o professor pode entende-las melhor recorrendo a essa ideia das emoções, isto é, então muitas vezes é a excitação de uma criança, ou do próprio professor que contagia as crianças, que contagia o professor, é acaba criando algumas situações, enfim, de muito descontrole, mas essa mesma contagiosidade das emoções também está presente nas dinâmicas de grupo de um modo muito positivo, que é por exemplo aquilo que permite que o professor quando está entusiasmado com sua atividade, entusiasmado com aquele conhecimento, que ele quer partilhar com as crianças, consiga por meio de seu entusiasmo que vai se refletir no tom da voz, na expressão dos olhos, na postura do 36 corpo dele, consiga contagiar positivamente as crianças que tenderão a ficarem igualmente entusiasmada por esse conhecimento. Na dimensão expressiva do movimento encontramos elementos interessantes no sentido de poder se atentar mais como educador. As posturas corporais, os seus gestos, sinalizam para o educador questões importantes, e fazem parte da criança como um todo. Muitas vezes o professor considera o movimento como sendo algo que atrapalha, quer dizer, é comum no professor em sala de aula, achar que pra criança aprender ela tem que estar imóvel, ela tem que tá paradinha sentada, etc.. E é ao contrário, que muitas vezes é graças a essa dimensão mais expressiva do movimento, dos pequenos gestos ou interação com os colegas, que a criança consegue aprender, nesse sentido impedir a criança de se movimentar ao invés de favorecer que ela aprenda, pode impedir que ela aprenda. Porque o pensamento da criança no primeiro momento ele é muito sustentado no movimento. Ela precisa se mexer de vários modos para construir um fluxo de pensamento. Sabe-se que os estímulos dado as crianças contribuem para o desenvolvimento de suas capacidades motoras, afetivas, cognitivas e de relacionamento como também o desenvolvimento de sua autonomia, nunca esquecendo que as crianças, no processo de sua aprendizagem, têm interesses e desejos próprios e que pode e são capazes de interferir no meio em que vivem. As crianças começam a demonstrar sua agressividade antes mesmo da iniciação escolar, é por isso comum observar nas relações entre as crianças na escola demonstração de agressividade através de mordidas, arranhões, tapas, até mesmo gritos e chutes. É a partir desse momento em que os limites devem ser impostos para que a criança comece a ter consciência a respeito das regras de convivência. Diante disso percebe-se o quanto é importante criar situações, que podem ser com diálogo, brincadeiras e jogos para estabelecer os limites, mostrando para os alunos que devem respeitar os colegas, tratá-los com carinho, e cuidado. Oferecer um ambiente tranquilo e acolhedor às crianças é o primeiro passo para diminuir a agressividade natural nessa fase: quanto maior o bem-estar, menor a necessidade de se expressar agressivamente. Isso mostra o quanto as aulas lúdicas com jogos e brincadeiras são importantes e benéficas, pois além de auxiliarem no desenvolvimento das habilidades psicomotoras são ótimos para envolverem e aproximarem as crianças, desenvolvendo o sentimento de cooperação, cuidado, respeito as regras, atenção, autoestima. É 37 interessante apontar que durante as aulas com atividades psicomotoras, poucas crianças demonstraram agressividade, além daquela considerada normal, como as apresentadas no estudo. Aulas atrativas e diferenciadas sempre chamam mais atenção das crianças, por isso é importante que o professor se envolva com o brincar direcionando as brincadeiras, com acréscimos de imaginação e ludicidade, porque a criança enquanto brinca constitui-se como sujeito e compreende os sujeitos que fazem parte do seu mundo social. O estágio levou aos futuros professores a descobrir que atos valem mais que palavras, especialmente ao considerar a modalidade do pensamento infantil - concreto por excelência – de modo que é de pouca valia teorizar sobre coisas que a criança não entende, e até mesmo a agressividade diante dela. Compreender antes de agir é ponto chave na redução da agressividade. REFERÊNCIAS AQUINO, Julio Groppa. Violência na escola, violência da escola. Revista Nova Escola. São Paulo. Nº 152. p.22. maio 2002. ASSIS, Simone Gonçalves de. Crescer sem violência – um desafio para os educadores. Rio de Janeiro: Editora DP&A, 1994. BERGER, Peter I. e LUCKMANN, Thomas. A construção Social da Realidade – Antropologia. 9ª ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1991. BOCK, Ana Maria; FURTADO, Odair e TEIXEIRA, Maria de Lourdes. Psicologias: Uma Introdução ao Estudo da Psicologia. 10ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 1997. BROTTO, F. O. Jogos cooperativos: o jogo e o esporte como um exercício de convivência. Santos: Projeto Cooperação, 2002. BURITI, Marcelo de Almeida. Psicologia do Esporte, (org.). Campinas, S.P: Editora Alínea, 1997. 38 CAETANO, A. P. Dilema dos professores. In ESTRELA, Maria Teresa. Viver e construir a profissão docente. Porto: Porto Editora, 1997. CANDAU, Vera Maria; LUCINDA, Maria da Consolação e NASCIMENTO, Maria das Graças. Escola e Violência. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora DP&A, 2001. CNS nº 446/11, Conselho Nacional de Saúde, Composição da Comissão de Ética em Pesquisa. de 11 de agosto de 2011, nos termos do Decreto nº 5.839 de 11 de julho de 2011. CARDOSO, Ofélia Boisson. Problemas da Infância. 3ª ed. São Paulo: Editora Melhoramentos, 1964. CARDIA, Nancy. Violência Urbana e a Escola. In: Revista Contemporaneidade e Educação. Rio de Janeiro, IEC, ano II, n.2, p.26-69, 1997. DARIDO, S. C. A. Avaliação em educação física escolar: das abordagens à prática pedagógica. In: SEMINÁRIO DAVIDOFF, Linda. Introdução à Psicologia. 3ª ed. São Paulo: Editora Makron Books, 2001. DE MEUR, A. & STAES, L. Psicomotricidade: educação e reeducação. Rio de Janeiro: Manole, 1984. DIAS, Kátia Pedreira. Educação Física X Violência – Uma abordagem com meninos de rua. Rio de Janeiro: Editora Sprint, 1996. FACHIN, O. Fundamentos de metodologia. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. FEIJÓ, Olavo G. Sociologia para o Esporte: Corpo e Movimento. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora Shape, 1998. FONSECA, Vitor, Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem, Porto Alegre: Artmed, 2008,1- Psicomotricidade Titulo. Catalogação na publicação; Juliana Lagoas Coelho- CRB/179. FORTUNA, Tânia Ramos. Agressividade. Revista do Professor, Porto Alegre, v.12, n. 46, p.11-13, abr./jun. 1996. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 29ª ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1996. FREIRE, J. B. Educação de corpo inteiro. 4ª ed. São Paulo: Editora Scipione, 1999. FREUD, Sigmund. Obras completas. Madrid: Editorial Biblioteca Nueva, 1948. VII. GALLARDO, Jorge Sérgio Perez; OLIVEIRA, Amauri A. Bassoli de; ARAVENA, César Jaime Oliva. Didática de Educação Física: a criança em movimento. Jogo, prazer e transformação. São Paulo: Editora FTD, 1998. 39 GROSSI, Esther Pillar; BORDIN, P. Jussara Paixão
Compartilhar