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Mídias e Linguagens Sumário 1- Mídias e linguagens ......................................................................................................... 3 2- A relação professor x tecnologia ................................................................................. 14 As TICs na prática pedagógica ........................................................................................ 16 3- Aluno presencial x aluno virtual .................................................................................... 18 4-O que sabemos sobre a Aprendizagem Eletrônica ................................................ 27 5- A educação à distância ................................................................................................ 38 Referência Bibliográfica ...................................................................................................... 47 As TICs na prática pedagógica ........................................................................................ 48 1- Mídias e linguagens 1.1 – Aprender e ensinar na Era Digital Na história da humanidade, a escola surge a partir da necessidade dos grupos humanos se organizarem sob o conteúdo das suas tradições culturais, e, com isso, transmitirem os saberes adquiridos para garantir a existência das novas gerações. O texto caminha no sentido de refletir sobre a prática na sala de aula sobre o “aprender e ensinar na era digital” no contexto da sociedade atual, pois aprender faz parte da condição humana. Com a transformação das sociedades, a escola modifica-se, não se limitando a sua função conservadora, pois a escola é uma instituição que também se aprende. Com a complexidade da sociedade, a escola moderna passa a cumprir a função de educar o cidadão. Numa sociedade democrática que visa os direitos iguais para toda a escola tende a ser um espaço onde perpassa os interesses diversos e marcados por contradições. Como afirma Campos (2007, p.12): Neste sentido, o desafio que se coloca para a educação é o de intervir no mundo, transformando-o pelo diálogo. Quando a minha ação firma-se no diálogo, afirma-se a democracia. Portanto, a instituição escolar está incumbida de formar e informar o cidadão para esta nova sociedade, considerando-se as exigências da nova era. Entretanto, a educação brasileira está passando por um processo de transformação no que se refere “aprender e ensinar”, necessitando rever e promover reformas nos sistemas educativos. Segundo Castells (2001), a tecnologia influenciou definitivamente a forma de viver e aprender. Nesse sentido, o uso de tecnologias na educação oportuniza uma reflexão sobre as novas formas de construção do conhecimento, desenvolvimento de habilidades, múltiplas linguagens e processos de construção e constituição de identidade sobre a própria cultura escolar. Sabendo-se que desde a educação infantil, a criança é um ser produtor de cultura, não deve ser negado o acesso ás inúmeras possibilidades de expressão das diferentes linguagens presentes no nosso universo midiático. Com a evolução das tecnologias não só alteraram o sistema de comunicação entre as pessoas, mas também alteraram a noção do tempo e espaço da interação da criança e a escola, ou seja, também tende alterar o processo educacional. As chamadas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) pressupõem novos modos de entender e olhar o mundo. Propõe refletir sobre o surgimento de uma nova cultura a partir da emergência das novas tecnologias da informação, entre elas, o uso da internet, com o aparecimento da interface gráfica da World Wide Web, que tornou a interface gráfica da internet mais interativa nos anos 90 e possibilitou a sua popularização. Hoje se apresenta como um meio aberto não só de distribuição de informação, mas também de criação de conteúdos, reutilização, compartilhamento e colaboração. 1.2 Ambientes de ensino e aprendizagem: do tradicional ao virtual Considerando que vivemos na era da sociedade do conhecimento, marcada pelo foco da informação, a escola é desafiada por estas novas circunstâncias. As mudanças sociais levaram a efeito uma crise de paradigmas, inclusive com sérias repercussões na educação e em particular na formação de professores Para Levy, aquilo que chamamos de “novas tecnologias” recobre atividades multiformes de grupos humanos que se cristalizam na aparência inumana de “técnica”. Quando não conseguimos enxergar as atividades humanas por trás dessas tecnologias, o que o autor chama de “opacidade dos processos sociais”, sentimo- nos ameaçados. A solução para isso seria o desenvolvimento de processos de inteligência coletiva onde a sinergia entre competências, recursos e projetos colocariam várias memórias num esforço em comum, questionando poderes estabelecidos. Portanto, a escola não pode ignorar essa evolução tecnológica, uma vez que a cultura digital vem sendo incorporada tanto pelos jovens como pela educação formal. Os espaços virtuais destinados á Educação passaram a ser denominados Ambientes Virtuais de Ensino e Aprendizagem (AVEA) e foram introduzidos no meio educacional como plataformas tecnológicas de gerenciamento de ensino e aprendizagem. Eles consistem em um espaço virtual que reúne recursos tecnológicos necessários para a elaboração, implementação e gestão de aprendizagem a distância. Esses ambientes propiciaram um grande impulso para a disseminação da Educação a distância on-line, que até o final dos anos 90 era oferecida por meio de material impresso entregue pelo correio postal, radio fusão ou pela TV. A ideia da criação de softwares destinados ao gerenciamento dos processos educacionais (AVEA) e a cobrança para a sua utilização de certa forma causou mal-estar na sociedade. Para Levy, esse mal-estar denomina-se o “impacto” das novas tecnologias na cultura e na sociedade. Essas novas tecnologias da informação são parte da sociedade e frutos de sua experiência histórica. Elas não são algo externo, como vindo de outro planeta que “impactam” o nosso dia a dia, pois a tecnologia não é autônomo separado da sociedade. Uma tecnologia não é nem má, nem boa em si mesma. Ao passo que se pode argumentar que os computadores pessoais, surgidos na década de 80, aumentaram a capacidade de agir e de se comunicar das pessoas. Para o bem ou para o mal. Hoje o ensino pode ser ministrado por meio da internet, em uma plataforma (AVEA) em que professor e aluno distantes geograficamente podem manter sistematicamente um encontro dialógico, seja de forma síncrona (ao mesmo tempo) ou assíncrono (cada qual em tempos diferentes). Segundo Campos (2007, p.43): Hoje nada garante o sucesso do trabalho docente se os professores não superarem as suas crenças e se dedicarem ao fazer pedagógico que leve o aluno a experimentar outro comportamento diante dos objetos de ensino. Mais do que nunca o professor também precisa estar em permanente atualização, pois esta é a condição para exercer a docência nos novos ambientes virtuais. Nesse sentido, a ação docente requer compreensão para modificar essas crenças e propor vivências que por meio de dinâmicas e experiências de vida que se conscientizem a necessidade de superarem o saber-fazer-pedagógico. 1.3 Ambientes Virtuais de Ensino e Aprendizagem (AVEA) As plataformas tecnológicas nos ambientes virtuais de Ensino e Aprendizagem promovem um diálogo permanente entre o individuo e o mundo. As linguagens midiáticas no universo da educação são recursos que possibilitam a todos os envolvidos na ação pedagógica a exploração de outros modos de ler por meio de imagens, ícones, textos e hipertextos, vídeos, animações... Os recursos e ferramentas apresentados por softwares , programas e os própriosequipamentos levam a descobertas das estruturas funcionais para além do simples manuseio oferecendo novas formas de interação e de comunicação entre as pessoas. Cabe ao professor responsável organizar seu curso formatando-o de acordo com a sua concepção pedagógica e tempo de duração, disponibilizando-o no AVEA, onde virtualmente ele exercerá o papel de professor administrador de seu espaço acadêmico, assim como com suas incumbências no ambiente presencial, porém acrescidas das consequências de administrar um curso no ambiente virtual. O aluno também deverá apresentar habilidades de auto-organização e disciplina para alcançar sucesso na conclusão de um curso não presencial. É importante destacar a prática do registro, que contribui efetivamente para aumentar a qualidade de ensino. Nesse sentido o registrar se configura a partir de novos significados: o registro e a dialogicidade – o diálogo possível consigo e com o outro e para o outro; a historicidade – o registro da memória num determinado tempo, espaço e contexto e o registro enquanto fonte de reelaborações. 1.4 Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) A presença de tecnologias no ambiente educacional entendida como meio, como linguagens, permite aos alunos desfrutarem “no aqui e agora” os processos de criação, descoberta e comunicação inerentes a uma participação ativa na construção do conhecimento e na produção da cultura. Uma metodologia voltada para a colaboração, desenvolvida nesses ambientes virtuais de aprendizagem, promove o ensino na construção de conhecimento por meio de ações coletiva na participação ativa do aluno diante do computador, na interação com os colegas, assim potencializa o curso das descobertas e formas de comunicação que favoreçam o processo educativo. Texto complementar Educação na era digital Os usos das tecnologias influenciaram o modo de pensar e o comportamento do Homo zappiens. Isso tem importantes repercussões na maneira de aprender e de se relacionar “Repentinamente, as crianças que chegavam à nossa escola demonstravam um comportamento bastante diferente: direto, ativo, impaciente, incontrolável e, de certa forma, indisciplinado; parecia-me que algo havia acontecido no verão. Isso me assustava e empolgava ao mesmo tempo.” Foi assim que uma professora sueca descreveu o que sentiu quando começou o novo ano letivo em um bairro de Estocolmo na metade da década de 1990, quando crianças de 6 anos voltaram à escola depois das férias de verão. A professora teve a sensação de que, de um ano para o outro, uma nova geração surgira e que tinha de lidar com ela, ainda não sabendo como, mas percebendo que precisaria empregar estratégias e abordagens diferentes. Muitos professores vivenciam o fato de que os alunos de hoje demandam novas abordagens e métodos de ensino para que se consiga manter a atenção e a motivação na escola. Ouvimos muitos deles dizerem que os alunos dedicam atenção às atividades por um período curto de tempo, que não conseguem ouvir alguém falar por mais de cinco minutos. Os professores afirmam que as crianças não conseguem concentrar-se em uma tarefa só, fazendo várias atividades paralelamente, e que esperam obter respostas instantaneamente quando fazem uma pergunta . Não são apenas os professores que se preocupam com as crianças que crescem em um mundo digital. Os pais também estão preocupados, pois observam que elas passam o tempo em casa entre o computador e a televisão. Eles pedem que seus filhos saiam e brinquem na rua, encontrem seus amigos e pratiquem esportes. Pensam que o uso da tecnologia traz limitações físicas e um empobrecimento do convívio social. Além disso, observam que os livros não parecem mais ser do interesse de seus filhos, que preferem jogos de computador, inclusive aqueles violentos, em que parece não haver limites para os padrões morais. Todas essas preocupações devem ser abordadas quando consideramos as consequências das mudanças socioeconômicas decorrentes da presença da tecnologia digital em nossa sociedade. O comportamento social nunca se desenvolve no vácuo, e boa parte de nosso comportamento é influenciada pelo contexto social no qual crescemos. O que as crianças fazem e o que pensam é o resultado da interação com o que está ao seu redor, o mundo externo. Uma das mudanças mais impressionantes é a da globalização. A globalização econômica está levando a novas formas de desenvolvimento de mercados de trabalho, forçando nossas economias a se adaptarem a novos negócios e iniciativas. De um ponto de vista social, contudo, a globalização implica que os seres humanos estejam mais conectados, que estejam ligados em rede. As crianças comunicam se com o mundo inteiro, pois a internet não tem limites ou fronteiras. Se elas jogam no computador, podem comunicar-se com qualquer pessoa que esteja, como elas, disposta a resolver um problema ou responder a determinada questão A geração que nasceu do final da década de 1980 em diante tem muitos apelidos, tais como “geração da rede”, “geração digital”, “geração instantânea” e “geração ciber”. Todas essas denominações referem-se a características específicas de seu ambiente ou comportamento. Muitas gerações têm apelidos, então por que esta deveria ser diferente? A resposta é que a geração da rede difere de qualquer outra do passado porque cresceu em uma era digital. Chamamos essa geração de Homo zappiens, aparentemente uma nova espécie que atua em uma cultura cibernética global com base na multimídia. Sendo os primeiros seres digitais, eles cresceram em um mundo onde a informação e a comunicação estão disponíveis a quase todas as pessoas e podem ser usadas ativamente. As crianças hoje passam horas de seu dia assistindo à televisão, jogando no computador e conversando nas salas de bate- papo. Ao fazê-lo, processam quantidades enormes de informação por meio de uma grande variedade de tecnologias e meios. Elas se comunicam com amigos e outras pessoas de forma muito mais intensa do que as gerações anteriores, usando a televisão, o MSN, os telefones celulares, os iPods, os blogs, os Wikis, as salas de bate-papo na internet, os jogos e outras plataformas de comunicação, utilizando tais recursos e plataformas em redes técnicas globais, tendo o mundo como quadro de referência. Três aparelhos tiveram grande importância: o controle remoto da televisão, o mouse do computador e o telefone celular. Com o controle remoto da televisão, as crianças cresceram habituadas a escolher assistir a uma variedade de canais nacionais e estrangeiros. O número de canais de televisão disponíveis está sempre crescendo; via cabo e satélite, elas podem escolher qualquer um dos 2.200 canais ou 1.500 estações de rádio do mundo inteiro que estão disponíveis. Ao assistir à televisão, aprenderam a interpretar as imagens antes mesmo de aprender a ler e a interagir, ainda que de maneira bastante restrita, com um meio de comunicação de massa. O número de horas destinado a jogar no computador está aumentando e, em pesquisas recentes, o computador parece estar chegando ao topo da lista. Usando o mouse, os alunos navegam pela internet e clicam até encontrar o que querem, buscando ícones, sons e movimentos mais do que propriamente letras. O telefone celular ajudou-os a se comunicarem com os pais ou com os amigos com maior facilidade, já que a distância física não representa qualquer restrição à comunicação. O uso dessas tecnologias influenciou o modo de pensar e o com- portamento do Homo zappiens. Para ele, a maior parte da informação que procura está apenas a um clique de distância, assim como está qualquer pessoa que queira contatar. Ele tem uma visão positiva sobre as possibilidades de obter a informaçãocerta no momento certo a respeito de qualquer pessoa ou de qualquer lugar. O Homo zappiens aprende muito cedo que há várias fontes de informação, as quais podem defender verdades diferentes. Ele filtra as informações e aprende a tecer seus conceitos em redes de amigos/parceiros com os quais se comunica com frequência. A escola não parece ter grande influência em suas atitudes e valores. Como essa geração age e como ela desenvolve o seu comportamento? Vejamos três situações típicas encontradas pela maior parte dos pais. A primeira é a de um dia escolar comum em que os alunos reúnem-se ao redor dos portões da escola esperando pelo ônibus ou pegando suas bicicletas para ir para casa. Em casa, eles ligam seu computador e começam uma conversa no MSN com os mesmos colegas com que acabaram de falar na escola. Jogam on-line com eles, enquanto começam outra conversa com outros amigos que aceitaram na lista de contatos do MSN. Sua lista de contatos contém 150 nomes, já que este é o limite do MSN. A segunda situação que muitos pais enfrentarão é a de comprar um jogo de computador para seu filho. Quando chega em casa, a criança quer logo começar a jogar e coloca o CD no computador. Você começa a ler o manual de instruções, enquanto a criança começa a jogar. Quando o pai está na página 11, a criança provavelmente já está no meio do jogo. E, quando ela não consegue ir adiante, simplesmente liga para um amigo e pede ajuda, entra em um site sobre o jogo ou pergunta a alguém na escola. Ela sequer cogita ler as instruções. A diferença entre o Homo zappiens e você é que você funciona linear- mente, lendo primeiro as instruções — usando o papel — e depois começando a jogar, descobrindo as coisas por conta própria quando há problemas. O Homo zappiens não usa a linearidade: ele primeiro começa a jogar e depois, caso encontre problemas, liga para um amigo, busca informação na internet ou envia uma mensagem para um fórum. Em vez de trabalhar sozinho, são utilizadas redes humanas e técnicas quando há necessidade de respostas instantâneas. A terceira situação que a maior parte dos pais encontrará é a do Homo zappiens assistindo à televisão. Zapear canais é algo comum, já que as crianças assistem a seis ou mais canais ao mesmo tempo. Todas elas o fazem, e é raro uma criança assistir ao mesmo canal por mais de uma hora. Os canais de música, tais como a MTV, são populares entre elas, mas são vistos simultaneamente com outros canais. A velha regra de fazer uma coisa de cada vez para fazer a coisa certa não se aplica a essa geração. Seus representantes dividem sua atenção entre os diferentes sinais de entrada e decidem processá-los quando adequado, variando seu nível de atenção de acordo com o seu interesse. Se na TV estiver passando um videoclipe de que gostem, as crianças “ligam-se” no que está passando; depois que o clipe acaba a atenção destinada à televisão diminui. Fazer a tarefa escolar é uma questão de última hora. Enquanto você aprendeu a fazer sua tarefa de maneira planejada, o Homo zappiens começa a trabalhar no último momento possível. A escola é apenas uma parte de sua vida: não é a principal atividade. As crianças sabem que têm de ir à escola e fazer testes, mas a escola parece mais um lugar de encontro de amigos, um espaço social, do que um lugar para aprender. É um lugar onde você fala fisicamente com seus amigos, um lugar em que você entra em contato com eles, criando sua rede. As crianças fazem suas tarefas com o auxílio dessa rede e as finalizam bem na hora de entregá-las. Se você frequentou a faculdade, lembrará de um comportamento similar; contudo, na escola fundamental ou média, planejar como fazer suas tarefas e atividades semelhantes era como um hábito, algo mais comum entre os alunos. O Homo zappiens vive em um mundo cujos recursos de informação são muito ricos. Ele adotou o computador e a tecnologia tal como as antigas gerações fizeram com a eletricidade: a informação e a tecnologia da informação tornaram-se parte integrante de sua vida. As gerações anteriores consideravam a tecnologia, como câmeras de vídeo e aparelhos eletrônicos, algo difícil de dominar. O Homo zappiens, porém, trata a tecnologia como um amigo e, quando um novo aparelho surge no mercado, pergunta por seu funcionamento e quer entender como tal aparelho poderia ajudá-lo em seu cotidiano. Para ele, o principal critério para adotar a tecnologia não é o fato de o software ou programa ter boa usabilidade, mas o fato de dar conta ou não de suas exigências e necessidades. Na verdade, ele nasceu com um mouse na mão, já sabia como manipular o controle remoto da televisão com 3 anos e já tinha seu próprio telefone celular aos 8 anos. Todos os recursos mencionados têm algo crucial em comum: fornecem ao usuário o controle de uma ampla variedade de fluxos de informação e comunicação. Qualquer usuário pode, a qualquer momento, ativar, mudar ou interromper esses recursos a simplesmente apertando um botão. Eles colocam o usuário em uma posição de controle para decidir qual informação processar ou com qual comunicação envolver-se ou não. Tais recursos não só capacitam o usuário a controlar o fluxo de informação, como também o ajudam a lidar com a sobrecarga de informação e a selecionar a informação de modo eficiente, adequado e imediato conforme as suas necessidades. A velocidade com que o Homo zappiens usa a internet para buscar informação é alta — e, para os pais, pode parecer apenas uma questão de puro acaso que os filhos encontrem o que querem. Apenas buscando informação juntamente com uma criança é que você perceberá o contrário. É uma questão de habilidade, e não de acaso. A capacidade de busca das crianças é muito maior do que a nossa, e é improvável que você consiga alcançar a mesma velocidade delas, mesmo tendo praticado por muito tempo. Para concluir: as escolas e os pais tendem a ver as crianças a partir da perspectiva do que pensam que elas deveriam fazer de acordo com seus valores e normas. Não há nada errado nisso, pois todas as gerações agiram assim — chamamos isso de “criar nossos filhos”. Contudo, já que a geração atual é a primeira que ensina seus pais a usar um fórum, um telefone celular e a consultar sua conta bancária eletronicamente, entre outros serviços, é esta a primeira vez que observamos ocorrer uma “educação invertida”, fenômeno nunca visto antes. Muitos pais e professores, apesar disso, estão convencidos de que jogar no computador, conversar em salas de bate-papo e zapear os canais de TV é uma perda de tempo. Em nossa opinião, usar a internet, jogar no computador e zapear na televisão faz com que as crianças realmente desenvolvam habilidades valiosas, que vão além das habilidades instrumentais, como a coordenação entre o olhar e as mãos. Por causa dessas grandes mudanças em nossa sociedade, os pais e professores deveriam observar as crianças naquilo que elas de fato fazem para entender que essa geração viverá em um mundo diferente, para o qual habilidades, atitudes e comportamentos novos serão compulsórios. 2- A relação professor x tecnologia Permanece, ainda, o problema das difíceis condições de trabalho que os professores têm enfrentado por conta da disseminação das TICs na Educação. Até onde consigo perceber, o estranhamento dos docentes não se dá tanto em relação à natureza da tecnologia, embora seja possível perceber as resistências conservadoras à sua utilização por professores refratários às mudanças de qualquer tipo sobre atividades que se incorporaram à sua existência profissional. No entanto, que em sua maioria os educadores atuam aí como todos os demais trabalhadores, buscandoadotar um padrão mínimo de acompanhamento das inovações. Bem feitas ás coisas, é possível que os professores acabassem se constituindo num núcleo de profissionais catalisadores das mudanças. O estranhamento, portanto, é de outra ordem e tem outros motivos: ele existe em razão de um determinado conceito utilitário e quantitativa das TICs posto em prática na maioria das escolas (em especial as particulares) de forma meramente operacional, fato que dificulta ao docente o entendimento da riqueza que a técnica pode oferecer para o processo de ensino-aprendizagem. Responder e-mails de alunos, aplicar testes na rede, registrar frequência ou avaliações, sacrificar a qualidade de uma aula em razão de programações abstratas e pressionadas pela urgência constituem um conjunto de tarefas sufocantes e inspiradas numa concepção administrativa de sua relação com o conhecimento, porque não é dessa forma que ele é nem produzido nem apreendido. É natural que os professores vejam aí um padrão de atividade com o qual eles não se identificam e para o qual nem chegam a ser remunerados de forma adequada e digna; e é sintomático que a denominação de "tutor" vai ficando reservada para professores que veem o que fazem reduzido ao mero monitoramento de algumas dessas aplicações. Isso ocorre por dois motivos: • O primeiro deles é consequência direta e imediata da filosofia interna daquelas escolas onde essa situação é mais aguda, isto é, a precipitação e o afobamento da adoção de modelos que agilizem o ingresso de seus cursos nesses novos tempos - eventualmente com a compra de pacotes prontos de softwares estranhos a quaisquer projetos pedagógicos qualificados. Tudo indica que isso tem provocado a alienação do professor sobre aquilo que está sendo posto em prática, pois que ele não vê nas mudanças todas senão o sentido burocrático que se acrescenta ao sem- número de atividades com as quais já está envolvido. O resultado é o que se vê por aí: um grau de estresse, de desgaste físico, de sobrecarga de trabalho que anula a potencialidade que as TICs têm para os professores e para as próprias escolas como instituições educacionais, pois é isso o que elas deveriam ser. • O segundo motivo é bastante conhecido: em boa parte dos estabelecimentos de ensino, as mudanças incrementadas pelas novas tecnologias são inspiradas pelo mercado, pela concorrência, pelas cotoveladas que as empresas dão umas nas outras para conquistar a clientela; não têm nada a ver com o aperfeiçoamento dos processos didático-pedagógicos - ainda que os discursos que justifique as e digam que sim, até com certo deslumbramento. Sob esse aspecto, é possível que as mudanças estejam sendo bem- sucedidas, mas é insignificante o ganho educacional que representam, e esse é um elemento que se acrescenta ao estranhamento dos professores. As TICs são essencialmente emancipadoras da atividade intelectual e alargam as possibilidades de acesso à transmissão e à obtenção do conhecimento, mas sempre que isso seja feito de forma criteriosa e autônoma pelos sujeitos que conseguem estabelecer uma relação enriquecedora entre o conteúdo do que fazem e a forma como o fazem, no trabalho e na criatividade. A lógica com que elas têm sido inseridas na Educação é o oposto disso, como os professores testemunham todos os dias. Como é mesmo o nome daquela espécie de imposto que uma geração transfere para outra porque não tem noção dos efeitos negativos que sua ação tem no presente? Imposto geracional? Pois a forma como as TICs têm sido implementadas nos nossos sistemas de ensino é bem isso: estamos empurrando para frente ás consequências 1- Texto complementar As TICs na prática pedagógica A Tecnologia é a aplicação de um conhecimento, de um “saber como fazer”, de procedimentos e recursos para a solução de um problema no nosso cotidiano. O professor deve aprender a ler e a escrever as diferentes linguagens, e as diversas técnicas de informação e de comunicação, assim como as distintas representações usadas nas diversas tecnologias. A identidade do docente como ator e autor, se estabelece no sentido de ser professor, e confere à atividade docente no seu cotidiano a partir de seus princípios e dos seus valores, o modo de situar-se no mundo, de sua história de vida, de suas representações e saberes, e de sua rede de relações com outros funcionários da educação. As tecnologias se caracterizam por: tecnologias de informação, tecnologias de comunicação, tecnologias interativas, tecnologias colaborativas. As tecnologias de informação são as formas de gerar, armazenar, veicular e reproduzir a informação. As tecnologias de comunicação são as formas de difundir informação, incluindo as mídias mais tradicionais, da televisão, do vídeo, das redes de computadores, de livros, de revistas, do rádio, etc. Com a associação da informação e da comunicação há novos ambientes de aprendizagens, novos ambientes de interação. A Tecnologia Interativa é a elaboração concomitante por parte do emissor (quem emite a mensagem) e do receptor (quem recebe a mensagem), codificando e decodificando os conteúdos, conforme a sua cultura e a realidade onde vivem. As tecnologias interativas se dão através da televisão a cabo, vídeo interativo, programa multimídia e internet. As tecnologias colaborativas facilitam as interações entre pessoas e o mundo, permitem um trabalho em equipe satisfatório, e com as diferentes linguagens proporcionam tipos diferentes de aprendizagens. Na agenda do século XXI, o professor deve colocar as tecnologias como aliadas para facilitar o seu trabalho docente. Deve-se usá-las no sentido cultural, científico e tecnológico, de modo que os alunos adquiram condições para enfrentar os problemas e buscar soluções para viver no mundo contemporâneo. Ao professor cabe o processo de decisão e condução do aprendizado. De acordo com Gadotti, o professor deve ser um aprendiz permanente e um organizador da aprendizagem. Esclarecemos que um ambiente de aprendizagem não pode se transformar em mero transmissor de informações, mas, na efetivação da comunicação e construção colaborativa do conhecimento Ref: Cortelazzo; Iolanda Por Amelia Hamze Educadora Profª UNIFEB/CETEC e FISO - Barreto http://educador.brasilescola.com/trabalho-docente/as-tics-na-pratica-pedagogica.htm http://educador.brasilescola.com/trabalho-docente/as-tics-na-pratica-pedagogica.htm 3- Aluno presencial x aluno virtual Nesse capítulo vamos conhecer alguns fatores polêmicos que revelam afetar o aprendizado presencial e virtual. Da mesma forma, que o professor deve seguir um procedimento para virtualizar a sua docência, o aluno presencial que deseja fazer os seus primeiros passos nesta nova modalidade de ensinar e aprender virtualmente, também deverá seguir um processo evolutivo semelhante. Se para o professor este processo significa uma mudança importante em muitos aspectos que afetam a sua docência, como a explanação de ensinar, o modo de apresentar a informação dos conteúdos ou a forma de levar a sério a interação virtual, no caso do aluno este processo vai afetar a outros tantos aspectos de sua construção de conhecimento, a forma de interagir com seus companheiros ou as habilidades que deverá colocar em jogo para aprender. Durante os últimos vinte anos, tem se produzido dois tipos de explorações empíricas que tem sido um objeto similar: identificar e caracterizar os principais fatores que podem influenciar na qualidade dos processos de aprendizagem dos alunos e que, sendo aplicados a tipos de alunos diferentes, tem derivado em resultados diferentes. No primeiro caso, nos tem aportado um conhecimento bastante preciso dos fatores que intervémna aprendizagem dos alunos em condições de ensinamentos obrigatórios e presencial. No segundo caso, nos ajudam a conhecer cada vez mais aqueles fatores que afetam a aprendizagem que se realiza por meios virtuais e/ou à distância, dirigido para os alunos, que cursam estudos superiores como uma segunda atividade além de sua profissão. Vamos analisar sinteticamente os resultados de ambas as contribuições para apresentar uma proposta integrada com os fatores que cremos que podem ser chaves para este “novo” tipo de aluno que escolhemos para fundamentar essa estrutura de fatores provenientes de contribuições diferentes. Em relação ao primeiro grupo de fatores, referidos a dos alunos com estudos totalmente presenciais, recorremos uma informação elaborada por um grupo de trabalho do comité da associação psicológica americana de assuntos educativos (BEA, 1997). Essa revisão estabelece catorze princípios psicológicos que influencia na qualidade do aprendizado, entre eles, estão relacionados: Fatores cognitivos e metacognitivos 1. Natureza do processo de aprendizagem. Generalização de conhecimento, habilidades cognitivas e estratégias de aprendizagem. 2. Objetivos dos processos de aprendizagem. Representação coerente e significativa do conhecimento. 3. Construção de conhecimento. Conectar o novo conhecimento com os conhecimentos prévios. 4. Pensamento estratégico. Estratégias de pensamento e entendimento. 5. Pensar sobre o pensar. Processos de autorregulação da própria aprendizagem. 6. O contexto de aprendizagem. Fatores do contexto que influenciam na aprendizagem: cultura, tecnologia e práticas instrucionais. Fatores motivacionais e afetivos 1. Influências motivacionais e emocionais na aprendizagem. Estados emocionais, crenças, interesses ou objetivos e hábitos de pensamento. 2. Motivação intrínseca para aprender. Curiosidade, pensamento flexível, intuitivo e criatividade. 3. Efeitos da motivação sobre o esforço. Esforço e energia. Para o desenvolvimento social 1. Influências do desenvolvimento sobre a aprendizagem. Desenvolvimento individual em domínios com o físico, intelectual, emocional ou social. 2. Influências sociais na aprendizagem. Relações interpessoais, interações sociais e comunicação com os outros. Diferencias sociais 1. Diferencias individuais: na aprendizagem. Capacidades, enfoques ou estilos de aprendizagem. 2. Aprendizagem e diversidade. Diferencias linguísticas, culturais e sociais. 3. Modelo e Avaliação. Avaliação inicial, o processo final como uma parte integral do processo de aprendizagem. Recomenda se interpretar estes fatores levando em conta três observações: 1. Em primeiro lugar, deve se considerar que estes catorze princípios centram se no aprendiz e no processo de aprendizagem e, em consequência, situam se principalmente dentro do controle do aprendiz, mas nos hábitos ou condutas bem condicionadas por fatores psicológicos. 2. Em segundo lugar, indica se que cada um destes princípios não deve contemplar se de forma independente, porém melhor em conexão ou interdependente de uns com os outros. 3. Por último e em terceiro lugar, deve ter presente cada um dos fatores não de forma isolada de outros fatores como ensinar e o currículo, em consequência, devem considerar se como uma constelação de fatores que intervém holisticamente em situações de aprendizagem real. Em relação ao segundo grupo de fatores, relativos aos estudantes inteiramente virtuais em especial os que cursam estudos superiores, temos recorrido à proposta que havia dito anteriormente por Barberà, Badia e Mominó (2001) e na qual se distinguia entre três tipos de fatores, a totalidade dos quais afetava a motivação do estudante a distância ou virtual. Como dito, os fatores referiam se a aspectos da situação vital, aspectos pessoais e fatores relacionados com a atividade de estudo. Os primeiros agrupavam varias questões como situações sociais, profissionais ou familiares que facilitavam ou dificultavam a própria atividade de dedicação ao estudo, e que a menos incluído dentro da denominação de abandono do estudante a distância. O segundo grupo, relativo aos fatores pessoais, notavam se que certas características individuais como o nível dos estudos prévios, as habilidades comunicativas ou alguns traços da personalidade podiam influir também na motivação do estudante à distância. Por último, dentro dos fatores relacionados com a atividade de estudo, incluíamos quatro deles que, como os dos grupos de fatores anteriores, podiam possibilitar ou facilitar em diferentes graus a dedicação dos estudantes, e que eram algumas influências em nível da instituição educativas (como por exemplo, os aspectos de gestão dos materiais ou a facilitação de acesso à tecnologia), as características do curso (como por exemplo, à duração das atividades de aprendizagem virtual), a qualidade da relação com o professor e as características das tarefas de ensino e aprendizagem (referidas a fatores como, por exemplo, a consecução de recompensas externas por parte do estudante). 3-Texto Complementar A gestão de diferentes espaços nos cursos presenciais O professor, em qualquer curso presencial, precisa hoje aprender a gerenciar vários espaços e a integrá-los de forma aberta, equilibrada e inovadora. O primeiro espaço é o de uma nova sala de aula equipada e com atividades diferentes, que se integra com a ida ao laboratório para desenvolver atividades de pesquisa e de domínio técnico-pedagógico. Estas atividades se ampliam e complementam a distância, nos ambientes virtuais de aprendizagem e se complementam com espaços e tempos de experimentação, de conhecimento da realidade, de inserção em ambientes profissionais e informais. Antes o professor só se preocupava com o aluno em sala de aula. Agora, continua com o aluno no laboratório (organizando a pesquisa), na Internet (atividades á distância) e no acompanhamento das práticas, dos projetos, das experiências que ligam o aluno à realidade, à sua profissão (ponto entre a teoria e a prática). Antes o professor se restringia ao espaço da sala de aula. Agora precisa aprender a gerenciar também atividades a distância, visitas técnicas, orientação de projetos e tudo isso fazendo parte da carga horária da sua disciplina, estando visível na grade curricular, flexibilizando o tempo de estada em aula e incrementando outros espaços e tempos de aprendizagem. Educar com qualidade implica em ter acesso e competência para organizar e gerenciar as atividades didáticas em, pelo menos, quatro espaços: 1. Uma nova sala de aula A sala de aula será, cada vez mais, um ponto de partida e de chegada, um espaço importante, mas que se combina com outros espaços para ampliar as possibilidades de atividades de aprendizagem. O que deve ter uma sala de aula para uma educação de qualidade? Precisa fundamentalmente de professores bem preparados, motivados, e bem remunerados e com formação pedagógica atualizada. Isso é incontestável. Precisa também de salas confortáveis, com boa acústica e tecnologias, das simples até as sofisticadas. Uma sala de aula hoje precisa ter acesso fácil ao vídeo, DVD e, no mínimo, um ponto de Internet, para acesso a sites em tempo real pelo professor ou pelos alunos, quando necessário. Um computador em sala com projetor multimídia são recursos necessários, embora ainda caros, para oferecer condições dignas de pesquisa e apresentação de trabalhos a professores e alunos. São poucos os cursos até agora bem equipados, mas, se queremos educação de qualidade, uma boa infraestrutura torna-se cada vez mais necessária. Um projetor multimídia com acesso a Internet permite que os professores e os alunos mostrem simulações virtuais, vídeos, jogos, materiais em CD,DVD, páginas WEB ao vivo. Serve como apoio ao professor, mas também para a visualização de trabalhos dos alunos, de pesquisas, de atividades realizadas no ambiente virtual de aprendizagem (um fórum previamente realizado, por exemplo). Podem ser mostrados jornais on-line, com notícias relacionadas com o assunto que está sendo tratado em classe. Os alunos podem contribuir com suas próprias pesquisas on-line. Há um campo de possibilidades didáticas até agora pouco desenvolvidas, mesmo nas salas que detêm esses equipamentos. Essa infraestrutura deve estar a serviço de mudanças na postura do professor, passando de ser uma “babá”, de dar tudo pronto, mastigado, para ajudá-lo, de um lado, na organização do caos informativo, na gestão das contradições dos valores e visões de mundo, enquanto, do outro lado, o professor provoca o aluno, o “desorganiza”, o desinstala, o estimula a mudanças, a não permanecer acomodado na primeira síntese. 2. O espaço do laboratório conectado Um dia todas as salas de aula estarão conectadas às redes de comunicação instantânea. Como isso ainda está distante, é importante que cada professor programe em uma de suas primeiras aulas uma visita com os alunos ao “laboratório de informática”, a uma sala de aula com micros suficientes conectados à Internet. Nessa aula (uma ou duas) o professor pode orientá-los a fazer pesquisa na Internet, a encontrar os materiais mais significativos para a área de conhecimento que ele vai trabalhar com os alunos; a que aprendam a distinguir informações relevantes de informações sem referência. Ensinar a pesquisar na WEB ajuda muito aos alunos na realização de atividades virtuais depois, a sentir-se seguros na pesquisa individual e grupal. Outra atividade importante nesse momento é a capacitação para o uso das tecnologias necessárias para acompanhar o curso em seus momentos virtuais: conhecer a plataforma virtual, as ferramentas, como se coloca material, como se enviam atividades, como se participa num fórum, num chat, tirar dúvidas técnicas. Esse contato com o laboratório é fundamental porque há alunos pouco familiarizados com essas novas tecnologias e para que todos tenham uma informação comum sobre as ferramentas, sobre como pesquisar e sobre os materiais virtuais do curso. Tudo isto pressupõe que os professores foram capacitados antes para fazer esse trabalho didático com os alunos no laboratório e nos ambientes virtuais de aprendizagem (o que muitas vezes não acontece). Quando temos um curso parcialmente presencial podemos organizar os encontros ao vivo como pontuadores de momentos marcantes. Primeiro, nos encontramos fisicamente para facilitar o conhecimento mútuo de professores e alunos. Ao vivo é muito mais fácil que a distância e confiamos mais rapidamente ao estar ao lado da pessoa como um todo, ao vê-la, ouvi-la, senti-la. Depois, é mais fácil explicar e organizar o processo de aprendizagem, esclarecer, tirar dúvidas, organizar grupos, discutir propostas. É muito mais fácil também aprender a utilizar os ambientes tecnológicos da educação on-line. Podemos ir a um laboratório e nivelar os alunos, os que sabem se sentam junto com os que sabem menos e todos aprendem juntos. No presencial também é mais fácil motivar os alunos, atender às demandas específicas, fazer os ajustes necessários no programa. O foco do curso deve ser o desenvolvimento de pesquisa, fazer do aluno um parceiro-pesquisador. Pesquisar de todas as formas, utilizando todas as mídias, todas as fontes, todas as formas de interação. Pesquisar às vezes todos juntos, outras em pequenos grupos, outras individualmente. Pesquisar às vezes na escola; outras, em outros espaços e tempos. Combinar pesquisa presencial e virtual. Comunicar os resultados da pesquisa para todos e para professor. Relacionar os resultados, compará-los, contextualizá-los, aprofundá-los, sintetizá-los. Mais tarde, depois de uma primeira etapa de aprendizagem on-line, a volta ao presencial adquire uma outra dimensão. É um reencontro tanto intelectual como afetivo. Já nos conhecemos, mas fortalecemos esses vínculos; trocamos experiências, vivências, pesquisas. Aprendemos juntos, tiramos dúvidas coletivas, avaliamos o processo virtual. Fazemos novos ajustes. Explicamos o que acontecerá na próxima etapa e motivamos os alunos para que continuem pesquisando, se encontrando virtualmente, contribuindo. Os próximos encontros presenciais já trazem maiores contribuições dos alunos, dos resultados de pesquisas, de projetos, de solução de problemas, entre outras formas de avaliação. 3. A utilização de ambientes virtuais de aprendizagem Os alunos já se conhecem, já tem as informações básicas de como pesquisar e de como utilizar os ambientes virtuais de aprendizagem. Agora já podem iniciar a parte a distância do curso, combinando momentos em sala de aula com atividades de pesquisa, comunicação e produção a distância, individuais, em pequenos grupos e todos juntos[2]. O professor precisa hoje adquirir a competência da gestão dos tempos a distância combinado com o presencial. O que vale a pena fazer pela Internet que ajuda a melhorar a aprendizagem, que mantém a motivação, que traz novas experiências para a classe, que enriquece o repertório do grupo. Os ambientes virtuais aqui complementam o que fazemos em sala de aula. O professor e os alunos são “liberados” de algumas aulas presenciais e precisam aprender a gerenciar classes virtuais, a organizar atividades que se encaixem em cada momento do processo e que dialoguem e complementem o que estamos fazendo na sala de aula e no laboratório. Começamos algumas atividades na sala de aula: informações básicas de um tema, organização de grupos, explicitar os objetivos da pesquisa, tirar as dúvidas iniciais. Depois vamos para a Internet e orientamos e acompanhamos as http://www.eca.usp.br/moran/propostas.htm#_edn2 pesquisas que os alunos realizam individualmente ou em pequenos grupos. Pedimos que os alunos coloquem os resultados em uma página, um portfólio ou que nos as enviem virtualmente, dependendo da orientação dada. Colocamos um tema relevante para discussão no fórum ou numa lista e procuramos acompanhá-la sem sermos centralizadores nem omissos. Os alunos se posicionam primeiro e, depois, fazemos alguns comentários mais gerais, incentivamos, reorientamos algum tema que pareça prioritário, fazemos sínteses provisórias do andamento das discussões ou pedimos que alguns alunos o façam. Podemos convidar um colega, um pesquisador ou um especialista para um debate com os alunos num chat, realizando uma entrevista a distância, atuando como mediadores. Os alunos gostam de participar deste tipo de atividade. Nós mesmos, professores, podemos marcar alguns tempos de atendimento semanais, se o acharmos conveniente, para tirar dúvidas on-line, para atender grupos, acompanhar o que está sendo feito pelos alunos. Sempre que possível incentivaremos os alunos a que criem seu portfólio, seu espaço virtual de aprendizagem próprio e que disponibilizem o acesso aos colegas, como forma de aprender colaborativamente. Dependendo do número de horas virtuais, a integração com o presencial é mais fácil, Um tópico discutido no fórum pode ser aprofundado na volta à sala de aula, tornando mais claros os pontos de divergência que havia no virtual. Creio que há três campos importantes para as atividades virtuais: o da pesquisa, o da comunicação e o da produção. Pesquisa individual de temas, experiências, projetos, textos. Comunicação, realizando debates off e on-line sobre esses temas e experiências pesquisados. Produção, divulgando os resultados no formato multimídia, hipertextual, “linkada” e publicando os resultados para os colegas e, eventualmente, para a comunidade externa ao curso.[3] http://www.eca.usp.br/moran/propostas.htm#_edn3A Internet favorece a construção colaborativa, o trabalho conjunto entre professores e alunos, próximos física ou virtualmente. Podemos participar de uma pesquisa em tempo real, de um projeto entre vários grupos, de uma investigação sobre um problema de atualidade. O importante é combinar o que podemos fazer melhor em sala de aula: conhecer-nos, motivar-nos, reencontrar-nos, com o que podemos fazer a distância pela lista, fórum ou chat – pesquisar, comunicar-nos e divulgar as produções dos professores e dos alunos. É fundamental hoje pensar o currículo de cada curso como um todo, e planejar o tempo de presença física em sala de aula e o tempo de aprendizagem virtual. A maior parte das disciplinas pode utilizar parcialmente atividades a distância. Algumas que exigem menos laboratório ou estar juntos fisicamente podem ter uma carga maior de atividades e tempo virtuais. A flexibilização de gestão de tempo, espaços e atividades é necessária, principalmente no ensino superior ainda tão engessado, burocratizado e confinado à monotonia da fala do professor num único espaço que é o da sala de aula. http://www.eca.usp.br/moran/propostas.htm Especialista em mudanças na educação presencial e a distância Texto apresentado no 11º Congresso Internacional de Educação a Distância. 8/09 em Salvador, BA. Programação em www.abed.org.br/congresso2004/por/gradetc.htm#08 José Manuel Moran 4- O que sabemos sobre a Aprendizagem Eletrônica A comunicação eletrônica apresenta-se de diversas formas, incluindo e-mails, fóruns eletrônicos de discussão, quadros de aviso eletrônicos, serviços pagos por utilização e, finalmente, chats, tanto nos limites quanto fora de uma estrutura organizacional. Essas formas de comunicação têm em comum várias http://www.eca.usp.br/moran/propostas.htm http://www.abed.org.br/congresso2004/por/gradetc.htm#08 questões centrais que perpassam todo o meio e aparentemente invadem todo o tipo de comunicação eletrônica. Além disso, elas pertencem à comunicação face a face que ocorre quando tentamos construir a comunidade. Por estarmos interessados em humanizar um ambiente não humano e em criar, ao longo do processo, uma comunidade de aprendizagem é que surgem questões de cunho humano, quer esperemos ou não. No ambiente de uma sala de aula tradicional, o professor pode não saber que um aluno está enfrentando o fim de um relacionamento ou uma doença crônica na família a não ser quando o estudante resolve voluntariamente falar de tais assuntos. Na sala de aula virtual, porém, a fim de que se crie uma comunidade, é importantíssimo dar espaço para a vida pessoal e comum, isto é, para a vida diária. Estas são questões com que sempre lidamos à medida que construímos comunidades de aprendizagem por meio de aulas on-line: 1- contato virtual versus contato humano, conectividade e articulação; 2- responsabilidade: regras, papéis, normas e participação compartilhadas; 3- questões psicológicas e espirituais; 4- vulnerabilidade, privacidade e ética. É fundamental prestar atenção a tais questões na sala de aula eletrônica, ainda que elas não sejam tão importantes na sala de aula comum. Os excertos de diálogos que acompanham a discussão dessas questões são fragmentos do que nossos alunos escreveram. Contato virtual versus contato humano Na comunicação eletrônica, a noção de contato virtual como algo contrário ao contato humano determina um dualismo artificial. Pelo fato de as pessoas comunicarem-se, a comunicação virtual, mesmo que sob a forma textual, não deixa de ser humana. A inexistência de certos sinais contextuais nessa forma de comunicação pode ser tanto benéfica quanto prejudicial. A comunicação textual é uma espécie de grande equalizador e pode instigar-nos a refletir mais sobre o que dizemos on-line. Por outro lado, a questão do isolamento é um fator importante quando nos comunicamos eletronicamente, pois, embora on-line estejamos conectados a alguém, o risco de evitarmos o contato face a face realmente existe. Conectividade e articulação O fato de precisarmos da conectividade não necessariamente significa que tenhamos de desistir de nossa autonomia ou de nos submeter a uma autoridade qualquer. Essa noção de conectividade e articulação pode levar a uma sensação mais apurada do que seja conhecer o outro por meio de experiências comuns, como lidar com a matéria do curso e o próprio meio ao mesmo tempo; a conectividade também se apresenta por meio do conflito e do ato de aprender a aprender de uma nova maneira. Responsabilidade, regras, papéis, normas e participação compartilhados Parece que quando olhamos para a questão da comunidade e de como ela se desenvolve, começamos a explorar o tópico de responsabilidade, regras, papéis e normas compartilhados. Por meio da participação, dividimos a responsabilidade pelo desenvolvimento do grupo. As regras precisam ser fluídas e, na verdade, devem ser poucas. A única e verdadeira discussão que muitos dos nossos grupos levaram a diante foi acerca da participação e das normas, mais precisamente acerca de quanto e de com que frequência às queria. Não havia sempre consenso. Às vezes parece que nós, como facilitadores, temos expectativas diferentes quanto à participação. Consequentemente, é importante discutir de maneira aberta tais questões já na primeira vez que o grupo se reúne. Papéis No que diz respeito aos papéis, o facilitador tem várias funções: de organizador, de animador, de comunicador de informações. Os participantes também assumem seus papéis. A literatura sobre grupos de trabalho que interagem pela tecnologia sugere que os papéis voltados à execução de tarefas e á continuação do processo realmente surgem nesses grupos (McGrath e Hollingshead, 1994). Descobrimos que sempre há um participante que tenta fazer com que as coisas continuem a acontecer quando a discussão esfria, assim como há outro que sempre tenta mediar conflitos ou que busca outros participantes quando estes estão ausentes da discussão há alguns dias. O surgimento desses papéis é um indicador de que a comunidade está desenvolvendo-se, de que os participantes estão começando a ir ao encontro do outro e a tomar conta do desenvolvimento do próprio curso. Na sala de aula tradicional, com certeza, o espirito de liderança surgirá em um ou em alguns membros do grupo, o que também representa uma via pela qual os alunos conectam-se e vão ao encontro do outro. Normas, regras e participação Nesses grupos, as normas surgem à medida que se desenvolve o processo. Encontramos, com frequência, grupos que discutem questões de franqueza, honestidade e segurança como sendo normas a que geralmente obedecemos, mas que precisam ser reforçadas. Como grupo, também podemos discutir objetivos, os diferentes estilos pelos quais nos comunicamos e as responsabilidades envolvidas nessa espécie de comunicação. Tais discussões ajudam a criar uma comunidade que se desenvolve emocional e espiritualmente, bem como oferecem um espaço seguro e coeso, em que nos sentimos mais próximos e podemos compartilhar abertamente nossos pensamentos e sentimentos à medida que aprendemos com o outro. Poucas normas são estabelecidas no começo de nossos seminários; os participantes concordam quanto ás questões de franqueza e de honestidade. As normas referentes ao nível de participação surgem com o desenvolvimento do grupo. Cada vez mais se espera, e até mesmo se exige, dos estudantes que ingressam na universidade um endereço eletrônico (e-mail)- na esperança, é claro, de que eles usem. Contudo, ter um e-mail, não significa que os alunos estarão envolvidos, porque muitos ainda relutam quanto à utilização de tal meio. Alguns alunos dizem até mesmo sentir fobia tecnológica. Além disso, ter um endereço eletrônico não é garantia de que as pessoasresponderão às mensagens recebidas. Não responder a uma mensagem, às vezes, é fruto de excesso de informação. Portanto, nesse meio, é fácil, enviar mensagens destinadas ao que parece ser um buraco negro. Algo semelhante ocorre no seminário eletrônico. Sempre temos ao menos um aluno que envia sua apresentação e depois não se comunica mais, o deixando todos os outros a se perguntar sobre o que teria acontecido. Uma aluna, a qual desistiu de um seminário sem dar nenhuma explicação, entrou em contato conosco depois de muito tempo para dizer que sua expectativa após ter enviado a apresentação era a de que os outros lhe responderiam em nível pessoal, fazendo comentários sobre o que ela havia dito de si. Como isso não aconteceu, ela se sentiu desanimada e desapareceu, relutando mesmo em responder às nossas indagações sobre sua intenção de continuar. É interessante que o mesmo fenômeno ocorra nos grupos da vida real. Algumas pessoas por uma razão qualquer, simplesmente desistem, enquanto um grupo constitui-se em núcleo e continua. Em uma situação de grupo- talvez não em uma sala de aula, pede-se àquelas pessoas que porventura tenham desistido de participar que um dia retornem para se despedir dos outro. A presença e a ausência física são notadas no grupo, quer a participação seja verbal ou não. No meio eletrônico, as pessoas podem desaparecer mais facilmente; sua ausência é notada, porém é algo mais fácil de ignorar do que uma cadeira vazia. Também é fácil manter-se em silêncio em um grupo real, porque as pessoas sabem de sua presença mesmo quando você não fala. Em grupos eletrônicos o participante silencioso simplesmente não existe. É importante que os professores fiquem atentos para saber quais alunos enviam mensagens e quais não enviam. Pelo fato de o sucesso do seminário depender da participação de todos, os professores precisam lembrar seus alunos de que é sua responsabilidade participar, seja pelo envio de mensagens no site do curso, seja pelo contato individual. Questões Psicológicas e espirituais A discussão sobre as questões psicológicas e espirituais na sala de ala tradicional é frequentemente considerada controversa e mesmo frívola. Ao apresentarmos essas questões como sendo parte da comunidade on-line, não estamos querendo dizer que os professores precisam tornar-se conselheiros ou consultores espirituais de seus alunos. No entanto, pelas tentativas de conexão ao mundo on-line, nossos participantes farão com que tais questões venham à tona. Por isso, precisamos reconhecê-las e admiti-las quando surgem, pois são questões centrais na formação da comunidade. O individualismo é extremamente valorizado em nossa cultura. O fato de nos apegarmos intensamente ao individualismo é parte daquilo que nos causa incomodo emocional e psicológico (Peck, 1993; Ornstein,1995). Assim, a busca da comunidade e o consolo que nela encontramos são em parte nossa necessidade de conexão, interdependência, proximidade e segurança- psicologicamente falando (Shaffer e Anundsen, 1993; Walker, 1993;Whitmyer,1993). O medo é que nos impede de experimentar um alto nível de conexão psicológica com os outros; o medo de que nos percamos no processo, o medo de que sejamos rejeitados, o medo de que sejamos uma fraude, o medo de que não sejamos bons o suficiente. Questões psicológicas na comunidade virtual A comunidade certamente pode oferecer todos esses benefícios psicológicos recém-mencionados. Porém, falando de uma perspectiva junguiana, ela também tem um lado obscuro: elementos que estão “enterrados” e inconscientes, elementos que não queremos enfrentar. Um deles é a tendência de promover o “pensamento de grupo”, isto é, a sutil e nem tão sutil pressão para que estejamos de acordo com o grupo, tanto na ação quanto no pensamento. Essa espécie de opressão pode ter um efeito psicológico devastador. Quando se experimenta essa verdadeira pressão, o resultado pode ser o sentimento de desconforto, de não se encaixar no grupo, de não se sentir seguro – sentimentos de quem se considera um estranho, um intruso. Há também, quando um pequeno grupo cuja voz é mais forte fala pela comunidade ou pelo grupo, a tendência ao silêncio e ao desconforto da resignação. Depois de algum tempo, podemos deixar de falar, correndo o risco de cair no ostracismo e de abandonar o grupo. Se isso ocorrer na sala de aula on-line, os alunos que não se sentem à vontade possivelmente venham a deixar o curso. Pode ser difícil para o professor reengajar aqueles alunos que domina a discussão. Quando isso ocorre, é importante que o professor intervenha e crie espaço no processo para os participantes que se manifestam menos. Assim como pode pedir a participação de um aluno mais quieto na sala de aula tradicional, pode fazê-lo no grupo on-line, particularmente para apoiar o aluno cuja opinião é discordante. Do ponto de vista tecnológico, as questões psicológicas dependem do hardware e do software. Se a pessoa estiver à vontade com esses dois componentes, o ambiente será de segurança e de confiança. O oposto, porém, pode ocorrer se o hardware ou o software mudarem ou forem de difícil navegação. Tal fato pode causar problemas fisiológicos, como cansaço ocular, dores nas costas, dores de cabeça e estresse, os quais podem ter consequências psicológicas. Já tivemos alunos que se sentiram frustrados e infelizes devido ao hardware e ao software utilizados. Por isso, os professores devem conhecer as questões psicológicas que podem determinar o sucesso ou o fracasso do curso on-line. Assim como na sala de aula tradicional, deve-se prestar atenção aos alunos que se mostram excessivamente estressada ou que expressam um alto grau de emoção em suas mensagens. Os professores, com certeza, querem estimular seus alunos a correr riscos e a enviar mensagens que possam ser consideradas diferentes ou controversas, mas é importante que busquem sempre o equilíbrio e intervenham caso um deles demonstre problemas de ordem psicológica. Vulnerabilidade, Privacidade e Ética Toda interação social- qualquer tentativa de conexão- faz com que nos tornemos vulneráveis. Quando buscamos o outro, corremos o risco da rejeição, da dor e do desentendimento. Porém, os benefícios da conexão suplantam em muitos seus riscos. As questões relativas à privacidade são da maior importância na comunidade. Quanto precisamos abrir-nos, para o outro e quanto podemos legitimamente guardar para nós sem que ponhamos em risco a essência da comunidade? As questões referentes à privacidade surgem sob outras formas na comunidade. Por exemplo, na interação face a face ou telefônica, podemos ter conversas, de certa forma, particulares. Também podemos estar certos de que a mensagem enviada diretamente para o endereço eletrônico de alguém é algo relativamente particular. Na verdade, porém, não há garantias de privacidade quando nos comunicamos na sala de aula virtual. Vários autores notaram que as pessoas que se comunicam por meio de quadros de aviso eletrônicos frequentemente agem como se suas mensagens fossem privativas, ficando chocadas e machucadas quando descobrem que não são. É algo semelhante a ter uma conversa particular em um lugar público. Nunca sabemos se alguém ouve o que dizemos. Ética A questão da ética abre uma área de discussão bastante controversa. Pelo fato de a área da comunicação eletrônica ser muito recente, a ética que a governa ainda está sendo debatida. Há muitos lugares, tanto na sala de aula eletrônica quanto na internet, em que a noção da ética vem à baila. As pessoas que já usaram o e-mail no trabalho provavelmente têm muitas histórias sobre o uso ético e antiético do meio. Cada vez mais, vemos artigos sobre o assunto em jornais, em revistas e na internet. Além disso, os diretoresdas universidades estão sendo pressionados a enfrentar essas questões e a estabelecer padrões de inaceitabilidade, e até mesmo de ilegalidade, no uso de e-mail (McDonald,1997),Mary Sumner (1996,p.1) categoriza entre os novos problemas éticos e sociais desse meio o mau dos recursos públicos de computação, o que inclui a suspensão de estações de trabalho de livre acesso, espaço de disco, impressoras de rede e outros recursos compartilhados; a invasão de privacidade, tal como acessar, sem autorização e pela quebra da senha de acesso ou de fraude, o correio eletrônico de outra pessoa; o uso impróprio de sistemas de computação, incluindo assédio, uso comercial de informações relativas a instruções de programação e distorção da comunicação feita pelo usuário. As questões sexuais são outra preocupação inevitável na comunicação eletrônica. Experiências comuns nessa área incluem fazer-se passar por pessoa de outro sexo, fazer insinuações em mensagens de texto e assediar sexualmente. Uma professora relatou-nos sua experiência com um seminário eletrônico interrompido por um certo “Tom voyeur”. Os alunos que participavam do seminário sentiram-se desrespeitados e ficaram indignados quando essa pessoa apresentou- se ao grupo de maneira inadequada. Embora os sites dos cursos estejam protegidos por uma senha, é possível que um intruso consiga acessá-lo. Apesar de observadores poderem estar presentes ou de outras pessoas conseguirem acessar o site, o grupo constrói uma ilusão de privacidade que permite a seus integrantes continuar a comunicar-se abertamente entre si (Pratt, 1996). Nenhuma sala de aula eletrônica é totalmente privativa. Em geral, administradores do sistema têm acesso ao site para solucionar problemas técnicos que porventura surjam. Como parte de um sistema de inspeção mútua ou do programa de treinamento para novos professores on-line, muitas instituições pedem que os professores trabalhem em conjunto, ás vezes cobrindo a ausência de um colega. Outro fato que pode acontecer é que um aluno de fora ganhe acesso ao curso atuando como hacker, como fez o aluno recém -mencionado. Assim, tantos os mestres quanto os alunos devem pensar bem naquilo que comunicam aos outros. O objetivo deve ser o de equilibrar o diálogo aberto com a cautela. Se o professor sentir que as mensagens de um aluno são muito íntimas ou abertas, é importante contatá-lo confidencialmente para que se discuta a questão. Além disso, os professores devem imediatamente relatar qualquer rompimento da segurança do sistema, a fim de que a integridade do curso seja mantida. Privacidade A privacidade é algo sobre o qual é virtualmente impossível estarmos totalmente seguros na comunicação eletrônica. As mensagens criptografadas, raramente utilizadas no meio acadêmico, são as maneiras mais seguras para se garantir a privacidade. Todas as mensagens podem ser lidas mesmo quando não se está fisicamente presente na sala. Já que há incerteza quanto ao fato de as mensagens serem usadas pelos outros, a vulnerabilidade de participação nesse meio tornar-se evidente. Embora isso não devesse impedir os professores e estudantes de fazer uso desse meio para fins educacionais, questões bastantes significativas surgem e devem ser enfrentadas quando uma comunidade virtual está em formação. Os participantes devem avaliar bem o que escrevem. Certos limites devem, assim, ser mais importantes do que na comunicação face a face. Deve-se também aderir a esses limites e fortalece-los. 4- Texto Complementar Reorganização dos currículos Com todas as cautelas e problemas que este tema tem por trás, é importante que as universidades reorganizem seus currículos e projetos pedagógicos. As universidades, que têm mais autonomia, poderiam flexibilizar os currículos até chegar a uma carga horária, na média, de cinquenta por cento presencial e cinquenta por cento à distância. Na média, significa que algumas disciplinas teriam menos atividades a distância e outras poderiam ter mais. A implantação poderia ser progressiva, para fazer uma transição progressiva do totalmente presencial para o real semipresencial. A ideia não é aligeirar os cursos, nem pagar menos aos professores, mas realizar um planejamento de atividades muito mais racional, atraente, interessante e motivador para professores e alunos e para as instituições. Estar em aula vale a pena, mas durante menos tempo e com mais intensidade. Hoje aproveitamos efetivamente, em média, menos da metade do tempo nela, pela percepção que um curso é muito longo e de que muitas das informações que acontecem na sala de aula podem ser acessadas ou recuperadas em outro momento. Estar menos tempo em sala de aula permite que haja uma maior rotatividade de alunos nos mesmos espaços, necessitando construir menos prédios e otimizando melhor os já existentes. Com 25 por cento de um curso feito de modo não presencial é possível organizar horários de aula de três horas diárias por turma, o que permite organizar duas turmas diferentes por período, duplicando o uso de cada sala. Isso, visto numa escala de muitas turmas, poderia baratear o custo final da mensalidade do aluno sem perder qualidade. Novos modelos de cursos Com a Internet podemos reorganizar o tempo de sala de aula, o tempo de pesquisa juntos (laboratório) e o tempo de atividades à distância. Com a evolução da comunicação audiovisual em tempo real, via tele aula, videoconferência ou pela Internet banda larga, podemos pensar em professores atendendo a várias turmas/salas ao mesmo tempo, interagindo com elas ao vivo e organizando atividades à distância, com ajuda de assistentes. Alguns dos modelos atuais de educação à distância poderiam ser introduzidos na educação presencial. O que proponho é introduzir no presencial muitas das soluções e tecnologias utilizadas na educação a distância ou na educação on- line. Concordo que é um desafio, que há inúmeros problemas nestas propostas, que podem ser utilizadas para banalizar o ensino. Sei que algumas instituições verão nestas propostas só enxugamento de custos, assim como muitos professores só enxergarão a diminuição possível de aulas e de postos de trabalho. Mas é também verdade que até agora só tentamos paliativos para resolver os problemas de falta de motivação de alunos e professores no ensino presencial. As tecnologias não são a solução mágica, mas permitem pensar em alternativas que otimizem o melhor do presencial e o melhor do virtual. Sei também que muitas instituições não estão prontas para atender a alunos carentes e que precisam ser encontradas soluções de facilitação do acesso dos alunos ao computador e à Internet. Não podemos permanecer imobilizados, no entanto, porque educação de qualidade hoje se faz com soluções inovadoras pedagógicas, gerenciais e tecnológicas. Conclusão Com as tecnologias cada vez mais rápidas e integradas, o conceito de presença e distância se altera profundamente e as formas de ensinar e aprender. Estamos caminhando para uma aproximação sem precedentes entre os cursos presenciais (cada vez mais semi-presenciais) e os a distância. Os presenciais terão disciplinas parcialmente a distância e outras totalmente a distância. E os mesmos professores que estão no presencial-virtual começam a atuar também na educação a distância. Teremos inúmeras possibilidades de aprendizagem que combinarão o melhor do presencial (quando possível) com as facilidades do virtual. Em poucos anos dificilmente teremos um curso totalmente presencial. Por isso caminhamos para muitas fórmulas de organização de processos de ensino-aprendizagem. Vale a pena inovar, testar, experimentar, porque avançaremos mais rapidamente e com segurança na busca destes novos modelos que estejam de acordo com as mudanças rápidas que experimentamos em todosos campos e com a necessidade de aprender continuamente. Todas as universidades e organizações educacionais, em todos os níveis,precisam experimentar como integrar o presencial e o virtual, garantindo a aprendizagem significativa. Precisamos vivenciar uma nova pedagogia da comunicação e gestão do presencial e do virtual. É importante que os núcleos de educação a distância das universidades saiam do seu isolamento e se aproximem dos departamentos e grupos de professores interessados em flexibilizar suas aulas, que facilitem o trânsito entre o presencial e o virtual. 5- A educação à distância A educação a distância é mais do que um software que permite a uma instituição oferecer um curso on-line. Em qualquer situação, acadêmica, organizacional ou corporativa, é importante lembrar que são as pessoas que utilizam as máquinas, as quais fazem o curso prosseguir. O elemento humano, portanto, tem o seu papel na sala de aula eletrônica. Assim, qualquer pessoa, em qualquer lugar e em qualquer tempo, pode ter acesso ao conhecimento. Podemos conceituar que a educação a distância é uma modalidade de aprendizagem em que a comunicação e a construção de conhecimentos podem acontecer com a participação de pessoas em locais e tempos distintos. Essa nova forma de ensino e aprendizagem, tem exigido cada vez mais de instrumentos sofisticados desenvolvidos pela nova tecnologia, que busca corresponder como uma ferramenta a mais de forma significativa para o bom desempenho da relação aluno- professor no processo de aprendizagem. Ação docente, tecnologia e ambiente virtual de videoconferência A sociedade da informação ou do conhecimento é caracterizada por processos constantes de mudanças os quais abrangem vários aspectos: politica, cultura, relações sociais, ciência, entre outros. Essas mudanças foram permeados pelo fator comunicacional e este teve a sua aceleração pelos avanços tecnológicos. Não significa, contudo, que a comunicação por si só, gere as transformações da sociedade, e tampouco a tecnologia, é da relação estabelecida entre comunicação, sociedade e tecnologia que emergem novos processos sociais, tecnológicos e comunicacionais Tais transformações incidem também na cognição do ser humano, uma vez que este desenvolveu a capacidade de aprender a partir de fontes difusas de informação, não se restringindo a uma única e restrita fonte. A escola, responsável pelo processo de ensino e aprendizagem, legitimada pela sociedade é chamada a atender as demandas impostas por quem a legitimou e a desenvolver em seus alunos habilidades e competências para atuarem num mundo no qual o conhecimento é constantemente atualizado e reelaborado, de acordo com os diversos contextos mutantes que se apresentam ao aluno, e também reconhecer as novas dimensões de aprendizagem inerentes ao mesmo. Embora a comunicação seja natural ao ser humano, a escola não se apercebeu do fato que os processos de ensino são permeados por processos comunicacionais, independentes da modalidade de ensino. Hoje a comunicação passa a assumir um outro status nos processos educacionais, já que os dispositivos midiáticos se tornam necessários para que haja uma diversidade de disponibilização e utilização da informação nos processos de ensino aprendizagem. Os avanços tecnológicos recentes (computador e internet) propiciaram um salto qualitativo e quantitativo na comunicação. Quantitativo na medida em que se pode armazenar e socializar um grande número de dados, e quantitativos na medida em que as diferentes informações podem se articular gerando novos conhecimentos. A informação disseminada faz parte de uma rede de comunicação na qual o papel de receptor e emissor se alterna, uma vez que, o emissor e o receptador não mais pertencem a categorias estáticas. Hoje a velocidade na disseminação da informação resultou em modificações profundas no entendimento do que venha a ser o tempo e espaço. O espaço não possui mais como referencia a distância geográfica, bem como o tempo não está subordinado ao fuso horário, há, então, a redução da dificuldade de comunicação em razão do tempo e espaço, resultando na ampliação do campo comunicacional. A escola inserida nesta sociedade mutante permeada por diferentes meios de comunicação passa por um conflito interno, pois ao mesmo tempo em que a sociedade lhe atribui a função de sedimentar ás novas gerações os conhecimentos acumulados pela humanidade, ela deve preparar o indivíduo para uma sociedade em permanente estado de mutação onde o tempo e o espaço adquirem nova dimensão. Neste sentido, a escola assume o duplo papel; o de conservar o já existente e o de educar para a mudança. Este conflito está mais propenso a ir à direção da transmissão das informações uma vez que o status da escola residia em ser a detentora da informação assumida por ela como o conhecimento da humanidade. Na medida em que formamos o aluno para uma sociedade em constante mudança, isto pressupõe trabalhar com informações atualizadas constantemente onde o intervalo de tempo não é previsível e o papel do aluno é o de construir conhecimento a partir de informações contextualizadas para que se transformem em conhecimentos significativos. A imprevisibilidade de tempo, espaço e conhecimento tornam, assim, a escola insegura dificultando o novo papel para o qual ela é requisitada a assumir pela sociedade no contexto atual. Por sua vez o professor responsável historicamente pelo ensino se apoia quase que exclusivamente na estabilidade da transmissão de conhecimentos sedimentados pela escola através da oralidade, pois esta é tão natural ao processo educativo que o mesmo não possui a consciência do processo comunicacional vivido nesta dinâmica. A sociedade frente aos grandes desenvolvimentos tecnológicos que acabaram resultando na potencialidade dos processos comunicacionais legitimou, além da escola, outros segmentos responsáveis por disseminar e difundir as informações. Vale ressaltar que quando nos referimos à comunicação estamos considerando a existência de interações sejam elas conceituadas como interações conversacionais (face face), as interações mediadas de tipo dialógico e as interações deferida e/ou difusas. Muito embora os alunos estejam imersos nesta sociedade, na qual o acesso a diferentes meios de comunicação lhe propicia a transmissão de informações em linguagens diversificadas, o ensino desenvolvido pela maioria de nossos professores ainda é pautado exclusivamente pela oratória, a despeito dos avanços da tecnologia e das novas formas de comunicação e linguagem, dando pouco espaço para outros meios de comunicação, pois a integração das tecnologias nos processos educacionais tem despertado, desde há muito, certa rejeição. As diferentes formas de comunicação foram sempre consideradas pela educação como aspectos importantes, mas de segunda grandeza. A mobilidade didática esteve voltada para as concepções de ensino, organização do trabalho docente, metodologias e técnicas de ensino, enquanto a comunicação na educação esteve relegada à exposição oral alternada com recursos didáticos (retroprojetor, mapas, cartazes) com a finalidade de dinamizar a exposição oral, porem de forma a garantir o conhecimento já estabelecido, onde o aluno assume uma posição de consumidor do conhecimento. Independentemente de como os educadores valora a comunicação uma verdade se apresenta incontestável, “Não existe ensino sem a comunicação”, porem é importante ressaltar que a comunicação por si só não garante o ensino e tão pouco os processos educacionais. A dificuldade que os professores apresentam em incorporar as tecnologias no ensino nos remete a três questões
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