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LIBÂNIO, M Fundamentos de qualidade e tratamento de água Campinas, SP Editora Átomo, 2ª Ed , 2008

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câ íl Editora 
uçp Átomo
DIRETOR GERAL 
Wilon Mazalla Jr.
COORDENAÇÃO EDITORIAL 
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COORDENAÇÃO DE REVISÃO E COPYDESK
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REVISÃO DE TEXTOS 
Giovana Aparecida Tartari
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA 
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Camila Lagoeiro 
Fabio Diego da Silva 
Gisele de Cássia Ribeiro Amaral 
Tatiane de Lima
CAPA 
Ivan Grilo
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Libânio, Marcelo
Fundamentos de qualidade e tratamento de água/ 
Marcelo Libânio. - - Campinas, SP: Editora Átomo, 2010. 
3a Edição
Bibliografia
1. Água 2. Água - Estação de 
tratamento - Equipamento e acessórios 3. Águas 
naturais - Purificação 4. Água - Controle de 
qualidade I. Título.
05-6323 CDD-628.1
índices para Catálogo Sistemático
1. Água: Tratamento: Controle de qualidade: 
Tecnologia: Engenharia sanitária 628.1
ISBN 978-85-7670-165-1
Todos os direitos reservados à
_ r
Editora Atomo
Rua Tiradentes, 1053 - Guanabara - Campinas-SP 
CEP 13023-191 - PABX: (19) 3232.9340 e 3232.0047
www.atomoealinea.com.br
Impresso no Brasil
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Á tom o
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Área | Química
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Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
Célio Pasquini
Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
Flávio Leite
T & E Analítica
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Universidade Estadual Paulista - UNESP
Pedro Faria
Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
Ricardo Ferreira
Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
Robson Fernandes de Farias
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Ao meu querido tio (Rubens LiSânio, que desempenha há tanto tempo 
e com tanto desvefo um papeíque taívez não Che couBesse.
A Leonardo Rarma e (Bernardo Macedo, amigos exemplares!, 
peta ventura de uma convivência já tocada pehos anos.
A Ana Rereza e Mariana. IncondicionaCmente.
Não há como deixar de reconhecer a importância das diversas pesquisas desenvolvidas 
sob a chancela de órgãos como Fundunesp, Fapemig, Finep, Capes e CNPq, cujos 
principais resultados foram, com êxito variável, transpostos para as páginas deste livro. Da 
mesma forma, o papel dos diversos alunos de graduação e pós com os quais tenho tido a 
satisfação de trabalhar. Destes, em especial, Maria de Lourdes Fernandes Neto e Vanessa 
Cristina Lopes. A primeira pela leitura aguda dos capítulos relacionados à qualidade de 
água, a segunda pelas diversas figuras que se espraiam pelas páginas do livro. A ambas 
pela atenção e delicadeza.
Por fim, agradecimento especial aos colegas do Departamento de Engenharia Hidráulica 
e Recursos Hídricos da UFMG pelo constante apoio e acolhimento ao longo de mais de 
uma década de convívio tão profícuo quanto prazeroso.
[...] Tudo o que quiserem, porque a terra que andamos puxados pelos pés, 
querendo deitar raízes, homens-árvore como no mito de Dafne, é a das serras 
em forma das chaminés, lanças, seios, anátemas, agulhas, manoplas, ereções, 
castelos, torreões, navios - azuladas pela manhã, quando emergem do mar 
de bruma dos vaiados, refulgentes ao sol do meio-dia e recortando-se sobre 
os tons de cobre, ouro e púrpura do entre dia-e-noite. Serras, serras, picos... 
Curral, Piedade, Rol a-Moça, Caraça, Itacolomi, Vertentes, Mantiqueira. Serras 
de cujas encostas descem os rios que vão ao São Francisco e Paraíba para 
soltar no Atlântico o nosso sangue mineral. Rios encachoeirados, rápidos 
ou lentos, turvos ou claros, limosos, vermelhos, lamacentos, verdes, cheios 
de ferrugem e de ouro em pó. Rios, rios, ribeirões... Sapucaí, Paraopeba, 
Arrudas, Santa Bárbara, Carmo, .Grande, Rio das Velhas, Rio das Mortes... 
Rios que levam até o mar o sabor de Belo Horizonte, Caeté, Sabará, O uro 
Preto, Mariana, Congonhas do Campo, Santa Bárbara do Mato Dentro. Rios 
que pela vida subterrânea dos lençóis d ’água drenam do solo das igrejas e da 
terra dos cemitérios a substância calcária de meus parentes - porque deles há 
sempre um esqueleto em cada cripta ou cada campo santo - contido naquele 
círculo que começa e acaba em Queluz, tendo Rio Acima como centro do seu 
raio. Essas áreas não posso chamar de pátria, porque não as amo civicamente. 
O meu sentimento é mais inevitável, mais profundo e mais alto porque vem 
da inseparabilidade, do entranhamento, da unidade e da consubstanciação. 
Sobretudo, da poesia... Assim, onde é que já se viu um pouco d'água amar o 
resto da água? Se tudo é água...
Pedro Nava - Baú de Ossos
Sumárior •
Apresentação à 3a Edição.............................................. ....................................... ......... .........13
Introdução.............................. 15
Conceito e histórico.............................................................................................. 15
Disponibilidade hídrica............. ...........16
Propriedades das águas naturais......................................... ................................. ............ 19
Características das Aguas Naturais.................................................... 25
Características físicas............................ 25
Características químicas.......................................................................................... 42
Características biológicas.......................................... ................. .............. ......................63
Características radioativas............................................................................ 78
índices de Qualidade de A gua................................................................................................. 79
Metodologia Delphi..................................................................................................• -.......80
índice de qualidade de água........................................................................ ......................80
índice de qualidade de água bruta....................................................... ............................. 84
A Evolução dos Padrões de Potabilidade................................................................................91
Histórico.......................... 91
Evolução dos padrões de potabilidade americanos.........................................................92
Evolução dos padrões de potabilidade nacionais.......................... 93
Tendências ...................................... .....98
CvüíAuv 33
Poluição e Contaminação de Mananciais............................................................... .......107
Conceito.... ......................... 107
Tipos de captação e seus efeitos sobre a qualidade de água....................................... -111
Alterações nas características das águas superficiais................................. H6
Alterações nas características das águas subterrâneas.................................................. 123
Proteção de mananciais...... ............................................................................... ••••••....... 129
Tecnologias de Tratamento ............ .................................... .......... .
Fatores intervenientes na definição da tecnologia de tratamento. 
Tecnologias de tratamento........... ................................................ .
Coagulação....................................................................................... ......
Histórico e conceito..... ................................................... ...............
Mecanismos de coagulação.......................... .............. ...................
Fatores intervenientes na coagulação............................................
Unidades de mistura rápida......... ............... ..................................
Floculação............................ ..................................................................
Considerações iniciais................
................................ ....................
Mecanismos de transporte e intervenientes na floculação..........
Mecanismos de agregação e ruptura dos flocos............................
Fatores intervenientes na floculação.............................................
Tipos de unidades de floculação.....................................................
TTo 7v
Decantação.............................................................................................
Conceito e histórico.........................................................................
Distribuição de água floculada........................................................
Sedimentação de partículas discretas............................................
Sedimentação de partículas floculentas.........................................
Tipos de unidades de decantação...................................................
Resíduos gerados nas unidades de decantação..............................
Cm? tule. Vj
Filtração ..................... .............................................................................
Conceito e histórico.... .....................................................................
Mecanismos intervenientes na filtração.........................................
' Meio filtrante.....................................................................................
Tipos de filtros empregados no tratamento de água..... ................
Sistemas de drenagem, camada-suporte e calhas de coleta.........
Aspectos operacionais dos filtros rápidos......................................
Sistemas de controle de filtros.........................................................
Adequação e Otimização de Estações..................................................
Introdução..........................................................................................
Diagramas de coagulação................................................................
Ensaios de tratabilidade para estações existentes................. ........
Ensaios de tratabilidade para estações por construir.....................
Procedimentos para realização dos ensaios em reatores estáticos 
Avaliação do desempenho das unidades filtrantes........................
.135
.135
.146
.153
.153
.157
.162
.196
.209
.209
.211
.216
.221
.237
.257
.257
.258
.262
.269
.270
.302
.309
.309
.311
.318
.332
.359
.365
.378
.385
.385
.387
.391
.401
.406
.408
Filtração em Membrana.................................................................................... .....................411
Introdução........................................................................................................................... 411
Histórico..... ....................................................................................... 413
Aplicação e tipos de membranas.................... 414
Custos dos sistemas de filtração em membrana........................................... 417
Eficiência da tecnologia de filtração em membranas.......................................... 419
Capitulo 13
Desinfecção..............................................................................................................................421
Conceito e histórico.......................................................................................................... 421
Processos e mecanismos de desinfecção................ 423
Fatores intervenientes na eficiência da desinfecção...................................................... 424
Desinfecção com compostos de cloro.... ........... 427
Desinfetantes alternativos ao cloro........................ 436
Fluoretação.............. 445
Conceito......................... 445
Histórico.................................................. 445
Atuação preventiva do flúor............................................................................................. 447
Fluoretação no Brasil................................. 449
Compostos de flúor................................................................................................ 450
Aplicação do flúor............................................................................................................. 451
Custo da fluoretação..........................................................................................................453
Corrosividade e Agressividade.............................................................................................. 455
Aloísio de Araújo Prince
Introdução........................................................................................................................... 455
Relevância..........................................................................................................................456
Corrosão metálica.............................................................................................................. 457
Agressão a concreto..........................................................................................................465
Métodos de combate à corrosão.......................................... 466
Condicionamento químico............................................................................................... 469
Teste para Determinar o Estágio de Saturação
de Carbonato de Cálcio de uma Água (Teste de Mármore)................................................477
Referências..................................... 479
Apresentação à 3 a Edição
É difícil precisar quando a motivação para escrever este livro manifestou-se pela primeira vez. 
Talvez tenha surgido de forma ainda tênue quando ministrei, em nível de graduação na Pontifícia 
Universidade Católica de Minas Gerais, disciplina relacionada ao tema no final da década de 1980. 
Alguns anos depois o mesmo se deu na Universidade Estadual Paulista (Faculdade de Engenharia 
de Ilha Solteira). A partir de 1994, passei a ministrá-la com maior frequência no contexto do curso 
de Especialização em Engenharia Sanitária e pouco depois, de forma perene, no bojo do Programa 
de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG. Tive também 
oportunidade de ministrar diversos cursos de curta duração em vários estados do Brasil, experiência 
que ajudou a consolidar o desejo de produzir uma obra que contribuísse para disseminação dos 
conceitos relacionados a tão importante tema.
O discreto êxito das duas edições anteriores motivou-me, nesta 3a edição, a ampliar o espectro 
de abrangência da obra. Assim, como resultado de pesquisas que tive a satisfação de coordenar nos 
últimos anos, foram inseridos dois capítulos versando sobre indicadores de qualidade de água e filtração 
em membrana como emergente tecnologia de tratamento. Os demais capítulos expandidos centram-se 
nos aspectos fundamentais relacionados às características das águas naturais, enfatizando também a 
poluição de mananciais passíveis de serem empregados para abastecimento. Os principais processos 
e operações unitárias intrínsecos às tecnologias de tratamento mais extensivamente utilizadas ou que 
cujas características favoreçam seu emprego no País são abordados nos capítulos subsequentes. Destes, 
apenas a flotação por ar dissolvido não foi contemplada, de uso restrito ainda no País, embora em 
algumas estações na Região Sudeste esta operação unitária faça-se presente com resultados variáveis.
Cabe destacar que o Capítulo 15 foi elaborado pelo engenheiro Aloísio Prince e os capítulos 
9 e 12 contaram, respectivamente, com a colaboração dos engenheiros Nelson Guimarães e Alisson 
Bragança. O livro destina-se a profissionais e estudantes (em nível de graduação e pós), apresentando 
os fundamentos teóricos das etapas do tratamento e diversos exemplos de cálculo. Cálculos adicionais 
dos parâmetros hidráulicos inerentes às tecnologias
de potabilização podem ser realizados por meio de 
software disponível no endereço www. ehr.ufmg.br.
Por fim, resolvi incluir no início de cada capítulo verbetes hídrico-literários, incomuns em obra 
que mais das ciências exatas se aproxima, e que talvez - também pela significativa presença do maior 
ícone das nossas letras - possam se constituir deste texto a sua melhor parte.
Introdução
Um homem nunca se banha duas vezes no mesmo rio. Porque 
o homem nunca é o mesmo. £ nunca é o mesmo rio.
Heráclito de Éfeso (470 d.C.)
Conceito e histórico
A água ocupa aproximadamente 75 % da superfície da Terra e é o constituinte inorgânico mais 
abundante na matéria viva, integrando aproximadamente dois terços do corpo humano e atingindo 
até 98 % para certos animais aquáticos, legumes, frutas e verduras. Constitui-se também no solvente 
universal da maioria das substâncias, modificando-as e modificando-se em função destas. Diversas 
características das águas naturais advêm desta capacidade de dissolução, diferenciando-as pelas 
características do solo da bacia hidrográfica. Como consequência, o corpo d’água, rio ou lago sempre 
inclui a bacia hidrográfica que, por sua vez, imprimir-lhe-á muitas das suas características no que 
tange à geologia, à pedologia, à morfologia, à hidrologia, à vegetação, ao clima predominante e, 
principalmente, às atividades antrópicas nela desenvolvidas.
Aliada à mencionada capacidade de dissolução, a água atua como meio de transporte - em 
escoamento superficial e subterrâneo - permitindo que as características de um mesmo curso d’água 
alterem-se temporal e espacialmente. Por fim, as características das águas naturais influenciam e são 
também influenciadas pelo metabolismo dos organismos aquáticos, conferindo estreita interação entre 
estes e o meio ambiente, base da ciência denominada Ecologia.1
A relação do ser humano com os corpos d ’água data de tempos imemoriais. Estima-se que 
há 10000 anos, com a revolução da agricultura, o ser humano tenha começado a abandonar a caça 
como principal fonte de sustento e iniciaram-se as primeiras culturas e a criação dos rebanhos. 
Como consequência, renunciou-se progressivamente ao nomadismo, que caracterizava as primeiras 
comunidades, e a busca por fontes de abastecimento culminou com o estabelecimento dos primeiros 
povoados às margens dos cursos d’água, provavelmente na região da Mesopotâmia (Iraque). A partir 
daí delineou-se clara identificação dos primeiros povoados, e posteriormente das primeiras cidades,
1. Termo de origem grega - íóikos' (casa) + ‘ lógos’ (arte, ciência) - que designa a ciência que estuda as relações 
dos seres vivos entre si ou com o meio ambiente.
com o curso d’água que as margeia, muitas vezes emprestando-lhes o próprio nome. Consolidaram-se 
associações de, por exemplo, Viena e Budapeste ao Danúbio, Londres ao Tâmisa, Paris ao Sena, Roma 
ao Tíbere, entre outras tantas.
Disponibilidade hídrica
Estima-se entre 1,36 x 109 a 1,46 x 109 km3 o volume de água no Planeta e aproximadamente 
97 % correspondem aos mares, oceanos e lagos de água salgada (Von Sperling, 2006). Ainda que 
a dessalinização como tecnologia de potabilização tenda a crescer, a água doce disponível, via de 
regra, constitui-se na alternativa de abastecimento mais facilmente acessível às populações. No Brasil, 
por exemplo, a parcela habitada do arquipélago de Fernando de Noronha/Pe é abastecida durante o 
período de escassez de chuvas por meio de uma unidade de dessalinização de osmose inversa, bem 
como diversas comunidades de pequeno porte no interior da Região Nordeste. Em nível mundial, 
diversas cidades - Riad (Arábia Saudita), Barcelona (Espanha), Cingapura, entre outras - são parcial 
ou totalmente abastecidas por meio de captação de água do mar.
Todavia, a parcela mais significativa da água doce, disponível nas calotas polares, é praticamen­
te inaproveitável para fins de abastecimento para a quase totalidade da população terrestre, conforme 
evidenciado na figura 1.1.
Figura 1.1. Distribuição percentual da água doce disponível na Terra.
Fonte: Borghetti et al. (2004 apud Di Bernardo; Paz. 2009a).
Dos percentuais apresentados na figura 1.1, destaca-se a ínfima parcela referente aos cursos 
d’água que se constituem usualmente na principal alternativa ao abastecimento de comunidades 
de médio e grande porte e, paradoxalmente, no principal corpo receptor ao lançamento de esgotos 
domésticos e industriais.
A parcela referente às águas superficiais distribui-se entre os cinco continentes conforme denota 
a figura 1.2.
Figura 1.2. Distribuição das águas superficiais entre os continentes.
Fonte: Borghetti et al. (2004 apud Di Bernardo; Paz, 2009a).
Os percentuais discriminados na figura 1.2 evidenciam o porquê de parcela significativa dos 
^ ^ ^ países europeus ser majoritariamente abastecida, por vezes na totalidade como Lituânia e Dinamarca,
i é
por meio de aquíferos subterrâneos e a situação frequentemente dramática vivenciada pela população 
africana, estimada, em 2006, superior a 350 milhões de pessoas.
O percentual das águas superficiais localizado nas Américas apresentado na figura 1.3 
testifica o papel de relevo do Brasil no contexto mundial, representando algo como 13 % das 
reservas mundiais.
Figura 1.3. Distribuição (%) da disponibilidade hídrica nas Américas.
Fonte: Von Sperling (2006).
Todavia, ao relacionar a disponibilidade hídrica à população do país, o Brasil cai para o 9o lugar 
em virtude da magnitude da população comparada à de outros países, conforme evidencia a figura 1.5.
Disponibilidade hídrica per capita (mil m3/hab.ano)
Figura 1.4. Relação dos nove países com maior disponibilidade hídrica per capita do planeta.
Uma segunda constatação que emerge da figura 1.4 se reporta à relevância das Américas 
na disponibilidade hídrica do globo, uma vez que seis dos nove países listados se localizam neste 
Continente.
Associada à disponibilidade hídrica apresentada na figura 1.2 insere-se o consumo de água nos 
continentes conforme mostra a figura 1.5.
CAPÍTULO 01
Figura 1.5. Distribuição do consumo de água nos continentes.
Fonte: Borghetti et ai. (2004 apud Di Bernardo; Paz, 2009a).
1 7
Com base nos percentuais apresentados na figura 1.5 aflora a constatação do elevado consumo 
per capita2 nos Estados Unidos, pois este país representa algo como 4,8 % da população mundial e 
71 % da população da América do Norte3. Corrobora esta afirmativa, inferência elaborada com fyase 
em dados de 1996 nos Estados Unidos, que apontou cota per capita média nos 51 estados americanos. 
Os valores extremos variaram de 494 L/hab.dia, no estado de Maine na Costa Leste, atingindo até 
1230 L/hab.dia no desértico estado de Nevada na Costa Oeste, conforme apresentado na figura 1.6. 
Vale enfatizar que os valores listados na figura 1.6 referem-se tão somente ao abastecimento doméstico 
e industrial, não contemplando o consumo com irrigação.
Figura 1.6. Consumo per capita de abastecimento doméstico e industrial em alguns estados dos EUA, referentes 
a 1996.
Fonte: AWWA (1998).
Em nível mundial, do volume total utilizado para consumo humano, o abastecimento responde 
pela menor parcela (10 %) quando cotejada ao uso agrícola (69 %) e industrial (21 %). No Brasil, tais 
percentuais apresentam-se ligeiramente distintos conforme mostra a figura 1.7.
Figura 1.7. Consumo de água por setor em nível nacional.
Embora dotado de significante disponibilidade hídrica comparada à da maioria dos países, o 
Brasil apresenta expressiva desuniformidade na distribuição no que tange às regiões mais populosas. 
A quase totalidade da população brasileira (95 %) habita as quatro regiões que respondem por 
aproximadamente 27 % da disponibilidade hídrica superficial do País. A classificação da disponibili­
dade per capita em nível dos estados brasileiros apresenta-se conforme evidenciado
pela tabela 1.1.
2. Volume de água diário, requerido por indivíduo, usualmente expresso em L/hab.dia. Esse valor é adotado, nos 
projetos de sistemas de abastecimento de água, para satisfazer ao consumo doméstico, ao consumo comercial 
e industrial, ao consumo público e às perdas.
3. Estimativa elaborada baseada em populações de 420 milhões e 6,3 bilhões de pessoas para os EUA e o Planeta, 
respectivamente.
CAPITULO 01
1 QAO ..... ' ■ ' ' ■ ■ - ' ‘ -................. ............................................................................... . .....
Tabela 1.1. Classificação da disponibilidade hídrica per capita dos 
estados da Federação.
. Situação
Abundância > 20.000 m3/hab.ano
Muito rico > 10.000 m3/hab.ano
Rico > 5000 m3/hab.ano 
Situação correta > 2500 m3/hab.ano 
Pobre < 2500 m3/hab.ano
Situação crítica < 1 500 m3/hab.ano
Estado
Roraima
Amazonas
Amapá
Acre
Mato Grosso 
Pará
Tocantins
Rondônia
Goiás
Mato Grosso do Sui
Rio Grande do Sui
Maranhão
Santa Catarina
Paraná
Minas Gerais
Piauí
Espírito Santo 
Bahia 
São Pauio 
Ceará
Rio de Janeiro
Rio Grande do Norte
Distrito Federal
Alagoas
Sergipe
Paraíba
Pernambuco
Esta constatação evidencia-se mais significativamente pelo fato dos mananciais das regiões 
Sudeste e Sul, em especial, serem os mais fortemente impactados pelo lançamento dos despejos 
domésticos e industriais, tendendo a tomar progressivamente mais conflituosa a questão da prioridade 
de uso dos recursos hídricos. Em semelhante contexto, o consumo regional de água divide-se conforme 
a figura 1.8.
Figura 1.8. Consumo de água (%) nas cinco regiões brasileiras.
Propriedades das águas naturais
Importante distinção deve ser feita entre as propriedades e as características (físicas, 
químicas, biológicas e radioativas) das águas naturais. As propriedades da água - ou, por definição, 
característica do que é próprio - constituem-se no que lhe é inerente e a distingue dos demais fluidos.
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 01
2 2
Já as características diferenciam as águas naturais entre si, podendo se manifestar em uma ou outra 
circunstância. Por exemplo, para o abastecimento público, a estrutura de captação haverá de influenciar 
nas características da água bruta, mas não interfere nas suas propriedades. Vale também mencionar 
que uma importante característica das águas, a temperatura, influenciará em algumas das Suas 
propriedades. Neste aspecto, há controvérsia se a temperatura seria uma propriedade ou característica 
física. Optou-se pela última pela importância no tratamento e pela mencionada influência em algumas 
das propriedades das águas naturais, além do fato da temperatura não a diferenciar dos demais fluidos.
\
Calor específico
O calor específico é a quantidade de energia requerida, por unidade de massa, para elevar a 
temperatura de um fluido ou substância e, neste contexto, uma caloria (cal) é a energia requerida para 
elevar em 1,0 °C a temperatura de um grama de água. O elevado calor específico da água (1,0 cal/g °C), 
superado apenas pelo hidrogênio líquido e amoníaco, permite absorver grande quantidade de calor sem 
apresentar significativa variação de temperatura. Esta propriedade adquire crucial importância para a 
biota do meio aquático e também para o abastecimento público, pois significativa amplitude térmica 
do ar atmosférico manifesta-se em muito menor magnitude em termos da alteração da temperatura da 
água.
Ilustra esta assertiva o fato de serem raros os casos de congelamento da água nas redes de 
distribuição nos países frios, mesmo para temperaturas do ar inferiores a 30 °C negativos. No contexto 
nacional, a recorrente limitação de algumas tecnologias ou etapas da potabilização raramente se 
manifesta no Brasil (reápectivamente, a filtração lenta e a coagulação), onde temperaturas médias 
mensais das águas naturais inferiores a 15 °C somente ocorrem em algumas cidades serranas das 
regiões Sul e Sudeste.
Massa específica, densidade e peso específico
Define-se massa específica4 (kg/m3) como o quociente entre a massa e o volume de um fluido 
ou de determinada substância, diferindo do conceito de densidade. Este adimensional refere-se à razão 
entre a massa específica do líquido ou sólido e a da água a 4 °C, e, para os gases, considera-se como 
referência a massa específica do ar atmosférico a 0 °C. Associa-se também ao conceito de massa 
específica, o peso específico (N/m3) como o produto desta e a aceleração da gravidade.
Interessante particularidade da água manifesta-se em relação à massa específica, quando comparada 
aos demais líquidos, por apresentar o valor máximo a 4 °C (1000 kg/m3), ao passo que para os demais 
tal ocorre na temperatura de congelamento. À temperatura de 20 °C, usual na maioria dos sistemas de 
abastecimento do. País, a massa específica da água é 998 kg/m3 e o peso específico 9789 N/m3.
A variação da massa específica da água com a temperatura assegura a manutenção da vida 
aquática e a constância do próprio abastecimento de água em diversos países; do hemisfério norte nos 
quais os invernos são muito rigorosos. Por ser mais densa a 4 °C do que a 0 °C, para temperaturas 
negativas a água termina por ocupar as camadas profundas de rios e lagos, permitindo que a superfície 
do corpo hídrico se congele. Desta forma, garante-se a preservação da comunidade aquática e a 
perenidade no abastecimento durante este período do ano.
Conforme a tabela 1.2 a seguir mostra, as maiores variações na densidade da água verificam- 
-se para temperaturas superiores a 20 °C. Por exemplo, a diferença de densidade da água entre as 
temperaturas de 24 e 25 °C é 26 vezes maior da observada no intervalo de 4 a 5 °C. Esta propriedade
4. Utilizar-se-á sempre o Sistema Internacional (SI) como referência para as unidades das propriedades das 
águas naturais.
assegura a estratificação de corpos d’água, principalmente lagos e represas. Dependendo da magnitude 
da diferença de temperatura, e de densidade, formam-se três camadas distintas, denominadas epilímnio, 
metalímnio e hipolímnio. A primeira camada superficial de maior temperatura e menor densidade, uma 
camada intermediária - na qual ocorre queda acentuada da temperatura - e a terceira ao fundo de 
menor temperatura e maior densidade.
Evidentemente que quanto menor temperatura externa menor também será a diferença de 
densidade ao longo da profundidade e, portanto, menos significativa a estratificação térmica do 
corpo d’água. Desta forma, nos períodos mais frios do ano a densidade tenderá a apresentar menor 
variação ao longo da profundidade e nestas circunstâncias pode ocorrer o fenômeno do turn over, 
inversão térmica ou virada do lago ou reservatório, caso a ação dos ventos favoreça a circulação 
da água no seu interior. Quando da virada do reservatório, pode ocorrer o revolvimento do fundo 
e significativa alteração nas características da água bruta com efeitos negativos na eficiência do 
tratamento. Captações realizadas em reservatórios de acumulação, comumente apresentam torres de 
tomada que permitem a captação da água bruta a distintas profundidades da coluna d’água, visando 
a minimizar tais efeitos. A estratificação voltará a se estabelecer com aumento da temperatura da 
superfície.
Esta propriedade da água, denominada anomalia térmica, decorre das variações na estrutura 
molecular da água com a temperatura. Na forma de gelo, a água apresenta estrutura tetraédrica ou 
cristalina, caracterizada pela existência de espaços vazios. A medida que a temperatura se eleva, 
a água assume gradativamente a estrutura conhecida como compacta, na qual as moléculas estão 
acondicionadas sem espaços vazios. Isto significa que com o incremento de temperatura valendo-se do 
congelamento, a água vai se tomando progressivamente mais densa. Em contrapartida, este aumento 
da temperatura provoca a expansão molecular nos corpos. Desta forma,
dois fenômenos contrapõem- 
-se quando ocorre um aumento de temperatura. Por um lado a densidade aumenta, em razão de 
alterações na estrutura molecular, e ao mesmo tempo diminui, em decorrência da expansão molecular. 
A superposição destes dois fenômenos conduz à obtenção do mencionado ponto de densidade máxima 
a 4 °C, reduzindo-se posteriormente com o aumento da temperatura (Von Sperling, 2006).
Viscosidade dinâmica
Aviscosidade dinâmica ou absoluta (Pa.s) de um líquido traduz a sua resistência ao escoamento 
(ou ao deslocamento no interior da massa líquida), e o quociente entre esta e a massa específica 
denomina-se viscosidade cinemática (m2/s). Entre os líquidos, a água apresenta viscosidade baixa, 
superior apenas a do benzeno e da gasolina. A viscosidade dos líquidos é inversamente proporcional 
à temperatura, pois, com o aumento desta reduz-se a coesão entre as moléculas e consequentemente 
a resistência ao escoamento. Interessante constatar que para os gases, como as forças de coesão são 
muito menores, a viscosidade é diretamente proporcional à temperatura (Streeter; Wylie, 1981). 
Da mesma forma, para temperatura de 20 °C, a água apresenta viscosidade dinâmica de 10"3 Pa.s e 
viscosidade cinemática de 10'6 m2/s.
Para o ambiente aquático esta propriedade interfere na sobrevivência de diversos organismos, 
como algumas espécies de algas que não apresentam movimentação própria, sendo assim forçadas a 
viver próximas à superfície, utilizando-se da viscosidade da água como meio de sustentação. Durante 
os períodos mais quentes do ano, com a redução da viscosidade, estes organismos tendem a se 
aprofundar na coluna d’água, onde há menor disponibilidade de luz e oxigênio. Na potabilização, em 
contrapartida, o aumento da temperatura da água e consequente redução da viscosidade favorecem a 
sedimentação de partículas, embora o aporte à estação de tratamento tenda a se elevar em virtude da 
concomitância das precipitações com o período mais quente do ano.
CAPÍTULO 01
Pressão de vapor
A evaporação sucede-se quando as moléculas de água escapam através da superfície líquida. 
Em ambiente fechado, o equilíbrio é atingido quando o número de moléculas que deixam a superfície 
iguala-se ao número de moléculas de vapor que se condensam ao atingir a superfície livre. Neste 
contexto, denomina-se pressão de vapor à pressão exercida no espaço pelas moléculas de vapor. A 
magnitude desta pressão é governada pela pressão reinante e pela temperatura, de forma que quando a 
pressão acima da superfície líquida iguala-se à pressão de vapor o líquido entra em ebulição, mesmo 
à temperatura ambiente.
As mencionadas propriedades da água estão listadas na tabela 1.2 em função da tempe­
ratura.
Tabela 1.2. Propriedades físicas da água no Sistema Internacional de Unidades.
Temperatura
(°C)
Massa Espec ífica 
(kg/m3)
Peso Específico 
(N/m3)
Viscosidade
Dinâmica
(IO '3 Pa.s)
V iscos idade 
Cinemática 
(1 0 6 m 2/s)
Pressão de 
V apo r 
(Pa)
0 999,9 9805 1,79 1,79 611
5 1000,0 9805 1,52 1,52 873
10 999,7 9803 1,31 1,31 1266
15 999,1 9798 1,14 1,14 1707
20 998,2 9789 1,01 1,01 2335
25 997,1 9779 0,89 0,90 3169
30 995,7 9767 0,80 0,80 4238
35 994,j 9752 0,72 0,73 5621
40 992,2 9737 0,66 0,66 7377
45 990,2 9720 0,60 0,61 9584
50 988,1 9697 0,55 0,56 12331
55 985,7 9679 0,51 0,51 15745
60 983,2 9658 0,47 0,48 19924
65 980,6 9635 0,44 0,44 25015
70 977,8 9600 0,41 0,42 31166
75 974,9 9589 0,38 0,39 35563
80 971,8 9557 0,36 0,37 47372
85 968,6 9529 0,34 0,35 57820
90 965,3 9499 0,32 0,33 70132
95 961,9 9469 0,30 0,31 84552
100 . 958,4 9438 0,28 0,30 101357
Tensão superficial
Na interface entre um líquido e um gás, ou dois líquidos imiscíveis, desenvolve-se uma 
fina película em virtude das forças de atração entre as moléculas do líquido abaixo da superfície. 
Como consequência, da mesma forma que a viscosidade, a tensão superficial da água é inversamente 
proporcional à temperatura. Exemplo clássico refere-se à colocação de um pequeno alfinete sobre a 
superfície da água e constata-se que esta fina película suportará seu peso.
Esta propriedade permite que diversos pequenos organismos possam sobreviver na interface 
água-ar atmosférico e desempenham importante papel na cadeia trófica do ambiente aquático. Além 
do efeito da temperatura, a tensão superficial da água pode ser afetada pelo lançamento de despejos 
contendo sabões e detergentes que causará o desequilíbrio deste ecossistema.
Condutividade térmica
A condutividade térmica de fluido constitui-se no coeficiente de transferência de calor em 
função do gradiente de velocidade, ou em outras palavras, é a capacidade de um fluido ou substância 
transmitir a energia térmica por meio das colisões moleculares. Diferentemente do calor específico, a 
água apresenta baixa condutividade térmica e a difusão de calor na massa líquida somente ocorre por 
convecção graças a variação da densidade (massa específica) com a temperatura na coluna d’água.
Capacidade de dissolução
Conforme salientado, as águas naturais apresentam capacidade de dissolução de grande 
diversidade de substâncias químicas e gases. A solubilidade das primeiras é significativamente 
influenciada pelo aumento da temperatura e redução do pH do ambiente aquático. A solubilidade dos 
gases na água, e a concentração por consequência, depende da denominada pressão parcial do gás e 
esta da temperatura.
A relevância das substâncias dissolvidas presentes nas águas naturais relacionar-se-á com o 
tipo de uso e com as atividades desenvolvidas na bacia hidrográfica. Para fins de consumo humano, os 
compostos orgânicos têm adquirido progressivamente maior relevância pela dificuldade na remoção 
nas estações de tratamento, pela perspectiva de conferir odor e sabor à água tratada - favorecendo a 
rejeição da comunidade abastecida - e pela formação de subprodutos da desinfecção com compostos 
de cloro.
No Brasil, principalmente pa região central do estado de Minas Gerais, os compostos de 
ferro e manganês representam outra importante característica, pois, quando se apresentam na forma 
dissolvida (Fe+2 e Mn+2) podem não ser adequadamente removidos no tratamento e, ao se oxidarem 
na rede de distribuição (Fe+3 e Mn+4), conferir cor à água de consumo. Corpos d’água em regiões de 
garimpo ou sujeitos ao lançamento de efluentes industriais tendem a apresentar concentração mais 
significativa de metais pesados - sobretudo, mercúrio, chumbo e cromo. Finalmente, vale mencionar 
os compostos de fósforo e nitrogênio (amônia, nitrito, nitrato) - originários do arraste de fertilizantes 
de solos agriculturáveis ou do lançamento de despejos - responsáveis pela eutrofização de lagos e 
reservatórios, bem como alguns ânions (carbonatos, bicarbonatos, cloretos e sulfatos) responsáveis 
pela alcalinidade e dureza das águas naturais.
Em relação aos gases dissolvidos nas águas naturais, evidente importância recai para o oxigênio 
dissolvido (OD) pelo fundamental papel na manutenção da diversidade do ecossistema aquático. 
Embora existam organismos anaeróbios, capazes de utilizar o oxigênio contido em compostos 
como sulfatos (S 04'2) e nitratos (N03~), a diversidade da biota de um ecossistema é assegurada pela 
concentração de OD. Reforça esta assertiva o fato da respiração anaeróbia favorecer a emanação de 
gases mal cheirosos como sulfeto de hidrogênio (H2S) e metano (CH4).
Características das Águas Naturais
[...] Como os rios não dormem. 0 rio não quer ir a nenhuma parte, ele 
quer é chegar a ser mais grosso, mais fundo. [...] Rebebe o encharcar 
dos brejos, verde a verde, veredas, marimbús, a sombra separado dos 
buritizais, ele. Recolhe e semeia areias.
Guimarães Rosa - Grande Sertão: Veredas (1956)
s características físicas, químicas, biológicas e radiológicas das águas naturais traduzem uma 
série de processos que ocorrem no corpo hídrico e na
bacia hidrográfica, como consequência 
das mencionadas capacidades de dissolução de ampla gama de substâncias e de transporte 
pelo escoamento superficial e subterrâneo. Nas características físicas, químicas e biológicas listadas 
nos tópicos a seguir, far-se-á menção aos padrões de potabilidade nacional (Ministério da Saúde, 
2004), americano (AWWA - American Water Works Association, 2006) e da Organização Mundial de 
Saúde (OMS) (World Health Organization, 2004).
Características físicas
As características físicas das águas de abastecimento encerram comumente o impacto de 
imediato ao consumidor, podendo, com alguma frequência, concorrer para recusa da água distribuída 
pela concessionária. Quando tal se sucede, a opção de abastecimento recai para fonte alternativa, não 
necessariamente segura. Esta percepção imediata abarca os sentidos da visão (turbidez e cor), paladar 
e olfato (sabor e odor).
Temperatura
A temperatura da água e dos fluidos em geral, indica a magnitude da energia cinética do 
movimento aleatório das moléculas e sintetiza o fenômeno de transferência de calor à massa líquida. 
As forças de coesão intermolecular são de natureza eletrostática e, em princípio, independentes da 
temperatura. Caso seja fornecida energia em forma de calor (aquecimento) à massa líquida, atingir- 
-se-á estado no qual as forças inerciais das moléculas em movimento serão de mesma magnitude às de
coesão intermolecular. O novo aumento da temperatura fará com que ocorra a expansão e mudança de 
estado para gás ou vapor.
A temperatura é diretamente proporcional (i) à velocidade das reações químicas - qpe 
praticamente dobra para elevação de 10 °C na temperatura das águas (ii) à solubilidade das substânciàs, 
(iii) à concentração do oxigênio dissolvido, (iv) ao metabolismo dos organismos presentes no ambiente 
aquático, (v) à formação de subprodutos da desinfecção, (vi) ao recrudescimento microbiológicç e 
(vii) à taxa de corrosão nas tubulações integrantes dos sistemas de abastecimento (Dezuane, 1997).
A alteração da temperatura das águas naturais decorre em especial da insolação, esta influen­
ciada significativamente pelo clima e latitude, e, quando de origem antrópica, do lançamento de 
despejos industriais - em especial originários de indústrias de bebidas - e/ou de águas de refrigeração 
de máquinas e caldeiras.
Para fins de tratabilidade, esta característica representa vantagem ainda maior para os países 
tropicais, nos quais as variações de temperatura da água são menos significativas. A etapa de coagulação, 
presente na quase totalidade das tecnologias de tratamento, realiza-se de forma menos exitosa a baixas 
temperaturas. No Brasil, à exceção de alguns mananciais das regiões Sul e Sudeste, nos quais a temperatura 
da água em períodos de inverno pode baixar a valores entre 5 e 15 °C - atingindo, em alguns casos 
excepcionais, até o ponto de congelamento -, as médias diárias das águas naturais afluentes às estações 
de tratamento nas demais regiões do País raramente apresentam-se inferiores a 18 °C. Em contrapartida, 
diversos países do hemisfério norte apresentam amplitude térmica anual frequentemente superior a 
20 °C. Estas assertivas são ilustradas pela figura 2.1, na qual se apresentam as médias aritméticas mensais 
de 2004 da temperatura da água bmta afluente a uma estação de tratamento de água no estado de Minas 
Gerais (latitude 18S) e a outra na província de Alberta no Canadá (latitude 54N).
O ETA Brasil 
□ ETA Canadá
Meses (2004)
Figura 2.1. Médias aritméticas mensais da temperatura da água bmta em duas estações no Brasil e Canadá.
Na figura 2.1 evidencia-se a significativa menor variação da temperatura da água em países 
tropicais, no caso praticamente restrita ao intervalo de 20 a 25 °C, ao passo que na estação canadense, a 
temperatura da água bruta apresenta-se inferior a 1 °C em cinco meses do ano, superando 15 °C apenas 
durante os três meses de verão.
A associação com águas naturais correntes favorece a maior aceitabilidade do consumidor a 
águas de baixa temperatura. O controle da temperatura da água natural inviabiliza-se e águas com 
temperatura elevada tendem a ser rejeitadas pela população em termos de consumo, também pela maior 
percepção gustativa do ser humano nestas condições aos problemas de odor e sabor. Adicionalmente, 
temperaturas mais altas tendem a favorecer a dissolução de uma mi rí ade de constituintes inorgânicos 
e compostos orgânicos passíveis de conferir às águas tais características.
Aguas subterrâneas captadas a grandes profundidades, frequentemente necessitam de unidades 
de resfriamento a fim de adequá-las ao abastecimento, como ocorre em diversas cidades do interior do
CAPÍTULO 02
estado de São Paulo. Para os sistemas de maior porte, é comum a conjunção de captações superficiais e 
subterrâneas, com a mistura ocorrendo na própria rede de distribuição. Com incremento do consumo de 
água envasada, mineral ou não, sobretudo nas classes economicamente mais abastadas, tem-se verificado 
menor rejeição do consumidor a águas de temperatura elevada, por reduzir o gasto doméstico de energia 
elétrica durante os banhos e por tomar a lavagem dos utensílios de cozinha menos dispendiosa.
Em virtude dos insignificantes efeitos à saúde e extrema dificuldade de alteração na temperatura 
da água para abastecimento de maiores populações, os padrões de potabilidade brasileiro e da OMS 
não estabelecem temperatura máxima para água de consumo, limitada em 15 °C no padrão canadense 
e americano.
Cor
A cor da água é produzida pela reflexão da luz em partículas minúsculas, denominadas 
coloides, finamente dispersas de origem predominantemente orgânica e dimensão inferior a 10 pm, 
relacionando-se com a concentração de carbono orgânico presente no ambiente aquático. Pode também 
ser resultado da presença de compostos de ferro e manganês ou do lançamento de diversos tipos de 
resíduos industriais. Quando a cor se manifesta em águas subterrâneas, via de regra é resultado da 
presença destes compostos de ferro e manganês.
Os compostos orgânicos que conferem cor às águas naturais são provenientes basicamente de 
duas fontes:
i) em maior magnitude, da decomposição de matéria orgânica de origem predominantemente 
vegetal e do metabolismo de microrganismos presentes no solo;
ii) de atividades antrópicas, tais como, descargas de efluentes domésticos ou industriais, 
lixiviação de vias urbanas e solos agriculturáveis.
Corrobora afirmativa anterior, levantamento realizado no rio Mississipi (EUA) em 1977 
apontando percentual da ordem de 80 % da matéria orgânica presente em virtude das substâncias 
húmicas de origem natural e elevado peso molecular, para apenas 15 % oriunda das atividades 
antrópicas. A prevalência das primeiras manifestava-se nas concentrações referenciadas em mg/L, ao 
passo que a matéria orgânica de origem antrópica em pg/L (Cohn; Cox.; Berger, 1999).
Confere-se a genérica denominação de substâncias húmicas ao conjunto de compostos orgânicos 
de elevado peso molecular, de origem predominantemente vegetal e de dimensões coloidais, cuja 
constituição em média apresenta 87 % de ácidos fúlvicos, 11 % de ácidos himatomelânicos e apenas 
2 % de ácidos húmicos, propriamente ditos. A supremacia dos primeiros, de cor amarela característica 
e menor peso molecular comparado aos demais, justifica-se por se constituir na fração mais solúvel do 
húmus natural dos solos (Branco, 1986).
Para efeito de caracterização de águas para abastecimento, distingue-se a cor aparente, na 
qual se consideram as partículas suspensas, da cor verdadeira. A determinação da segunda realiza-se 
após centrifugação (a 3500 rpm por 30 min) ou filtração da amostra em filtro de papel para remoção 
das partículas suspensas. A determinação da intensidade da cor da água é realizada comparando-se a 
amostra com um padrão de cobalto-platina, sendo o resultado
apresentado em unidades de cor (uC) ou 
unidade Hazen (uH).
Desta forma, visando a facilitar a determinação da cor verdadeira, para sete amostras de 
águas naturais, com turbidez variando de 2,1 a 44 uT e cor aparente de 50 a 120 uH, foram realizadas 
determinações deste parâmetro após filtração em filtros de café (número 102) comumente encontrados 
no mercado e em filtros Whatman 40, o segundo de custo muito superior. Não foi detectada diferença 
significativa nos valores obtidos para cor verdadeira, indicando a possibilidade do uso do filtro de café 
para tais determinações na rotina de operação das estações de tratamento de água (Leal; Libânio, 2002).
Embora teores mais significativos de cor concorram para dificultar a manutenção da concentração 
residual do cloro nas redes de distribuição - além de favorecer a formação de subprodutos motivos 
eminentemente estéticos justificam o limite de 15 uH estabelecido pela Portaria 518 e pelo padrão 
americano.5 Valores acima do qual comumente são mais facilmente perceptíveis ao olho humano, 
concorrendo para rejeição da água fornecida pela concessionária pela população abastecida. Aguas 
com teores superiores a 100 uH, usualmente apresentam coloração semelhante ao chá e, salvo situações 
extremas de escassez, são plenamente rejeitadas pelo consumidor.
A cor verdadeira constitui-se em importante indicador da concentração de matéria orgânica 
presente nas águas naturais, embora não haja menção a este parâmetro para água tratada no atual 
Padrão de Potabilidade. Além da cor verdadeira, a inferência da concentração de matéria orgânica 
pode ser efetuada por meio da determinação do carbono orgânico total (COT), do oxigênio consumido, 
da demanda (bio)química de oxigênio - dois últimos raramente empregados em estações de tratamento 
de água - e da absorbância por raios ultravioleta6 a comprimentos de onda de 254 nm. Todavia, a cor 
ainda é monitorada na maioria das estações de tratamento do País por meio do emprego do disco 
comparador e, nos sistemas de maior porte, por espectrofotometria. Apesar da obsolescência e da 
imprecisão intrínseca decorrente da habilidade do operador da estação de tratamento, a confiabilidade 
do método de comparação visual é corroborada pelo Standard Methods. Recomenda-se que tal 
determinação deva ser realizada conjuntamente à do pH, pois a menores valores de pH associam-se 
maior intensidade da cor verdadeira.
As águas naturais apresentam, em geral, cor verdadeira variando de 0 a 200 uH, e valores 
inferiores a 10 uH são praticamente imperceptíveis. Corpos d’água de cor naturalmente escura ocorrem 
em regiões ricas em vegetação e, consequentemente, de solos menos erodíveis. Neste contexto, o Rio 
Negro, afluente do Rio Amazonas, constitui-se exemplo paradigmático cujo nome alude à cor escura 
causada pela presença de produtos de decomposição vegetal e pigmentos de origem bacteriana. O 
intemacionalmente famoso encontro das águas reporta-se ao evidente contraste das águas escuras do 
primeiro com as turvas do segundo, conforme denota a figura 2.2.
Figura 2.2. Encontro das águas entre o Rio Negro e o Rio Amazonas (Foto: Márcio B. Baptista, 2002).
A importância da cor como parâmetro de qualidade de água adquiriu maior evidência após a 
confirmação, no início da década de 1970, da perspectiva de formação de produtos potencialmente
5. A Organização Mundial da Saúde não estabelece limite (denominado valor-guia) para cor. Recomenda o 
mesmo valor (15 uH) e estabelece máximo admissível de 50 uH.
6. É frequente no meio científico, menção à concentração de matéria orgânica em termos da adsorbância 
específica (SUVA - Specific Ultraviolet Light Asorbance) que consiste na razão entre a absorbância 
determinada a 254 nm e o carbono orgânico dissolvido (L/mg-m). Este por sua vez é a fração dissolvida do 
COT após filtração em membrana de 0,45 um.
CAPITULO 02
28 ■ ■ ' ■ . ■
cancerígenos (trihalometanos - THM) como consequência da cloração de águas coloridas com a 
finalidade de abastecimento. Vale ressaltar que os THM não são os únicos subprodutos da desinfecção, 
mas, especialmente, verifica-se maior prevalência na formação de espécies halogenadas do que de 
outros subprodutos, e seus efeitos na saúde têm sido avaliados há mais de três décadas, a despeito da 
amplitude de variação deste parâmetro nos diversos países.
Conforme mencionado, a matéria orgânica presente nas águas naturais é composta de substâncias 
húmicas e não húmicas. As primeiras referem-se ao mencionado conjunto de compostos orgânicos 
de dimensões coloidais e de origem predominantemente vegetal cuja constituição média congrega 
ácidos fúlvicos, em maior monta, e ácidos húmicos, propriamente ditos. Já proteínas, carboidratos, 
algas e seus produtos metabólicos, aminoácidos, ácidos carboxílicos e hidrocarbonetos, em especial, 
constituem as substâncias não húmicas. Há controvérsia acerca da parcela predominante na matéria 
orgânica, embora as substâncias húmicas tendam a prevalecer em mananciais menos impactados por 
atividades antrópicas ou nos quais não se verificam florações de algas.
A distinção da parcela concernente aos ácidos fúlvicos na matéria orgânica natural ganhou 
projeção no meio científico pela menor susceptibilidade destes à coagulação. Por outro lado, os ácidos 
húmicos, de maior peso molecular, apresentam capacidade de ao complexarem traços de metais, como 
ferro por exemplo, contribuir ainda mais significativamente para cor das águas naturais e, embora mais 
facilmente removidos na coagulação, formam maiores concentrações de THM e ácidos haloacéticos 
(AHA) (Shomey; Freeman, 2004). Nesta perspectiva, o emprego de diversos processos oxidativos - 
ozônio, ultravioleta, peróxido de hidrogênio, isoladamente ou série - tende a reduzir o peso molecular 
destas substâncias tomando-as menos reativas com o cloro e reduzindo a coloração da água tratada 
(Owen; Amy; Chowdhury, 1993).
A presença de matéria orgânica, além de fomentar a formação de subprodutos, pode conferir 
odor e sabor às águas, interferir na remoção de ferro e manganês e propiciar condições para o 
recmdescimento de microrganismos na rede de distribuição. Já há alguns anos, pesquisadores 
têm investigado os fatores intervenientes no crescimento dos biofilmes nas redes de distribuição, 
concluindo que o mesmo ocorre quando a matéria orgânica e os sedimentos acumulam-se nas redes 
e a temperatura da água eleva-se. Atribui-se à parcela não húmica da matéria orgânica papel mais 
relevante no desenvolvimento destes biofilmes. Fatores hidráulicos e ambientais - tais como pH, 
temperatura e pluviosidade, além da presença de resíduos de desinfetantes, a corrosão e a acumulação 
de sedimentos - têm sido relacionados ao crescimento de bactérias nas águas de abastecimento.
Turbidez, sólidos suspensos e contagem de partículas
Estes três parâmetros, em última instância, referem-se predominantemente à mesma carac­
terística, qual seja, a concentração de partículas suspensas e coloidais presentes na massa líquida e 
apresentam significados semelhantes em termos de qualidade de água, embora apenas a turbidez se 
insira nos padrões de potabilidade nacional e internacional. Comumente, respondem pela turbidez das 
águas naturais, fragmentos de argila, silte, plâncton, microrganismos, e matéria orgânica e inorgânica 
particulada. Ainda que com menor frequência, a turbidez pode também ser causada pela precipitação de 
carbonato de cálcio para águas duras, de óxido de ferro e de compostos de alumínio em águas tratadas.
A determinação da turbidez adquiriu primazia como parâmetro de monitoramento do afluente 
e efluente da quase totalidade das estações de tratamento de água do Planeta pela simplicidade e 
rapidez da determinação, além do significativo menor custo do equipamento envolvido comparado aos 
necessários à determinação de sólidos suspensos e da contagem de partículas.
A turbidez
como característica física acaba por se constituir em uma inferência da concentração 
de partículas suspensas na água obtida por meio da passagem de um feixe de luz através da amostra,
sendo expressa por meio de unidades de turbidez (uT), também denominadas unidades nefelométricas 
de turbidez (UNT) ou, em tempos idos, unidades Jackson. A despeito da miríade de materiais que 
confere turbidez às águas, a prevalência das partículas de silte e argila testifica-se pelo fato de 1,0 uT 
representar 1,0 mg Si02/L.
Originalmente, constituía-se em um parâmetro de natureza limnológica por meio do qual se 
inferia a profundidade de penetração da luz no corpo d’água (Burlingame; Pickel; Roman, 1998). 
Posteriormente, segundo American Public Health Association, a turbidez passou a ser definida 
como expressão da propriedade óptica que faz a luz ser dispersa ou absorvida em vez de ser 
transmitida em linha reta através da amostra. Portanto, águas de mesma intensidade de turbidez 
podem apresentar partículas suspensas com características diferentes - em termos de tamanho, 
composição e forma - , de modo que os tipos de partículas hão de interferir na transmissão da luz 
(APHA; AWWA; WEF, 2005).
O princípio básico do funcionamento dos equipamentos de determinação nefelométrica 
de turbidez consiste em um detector disposto a um determinado ângulo em relação ao raio de luz 
incidente. A posterior detecção da luz refletida pelas partículas suspensas e coloidais é convertida em 
sinal elétrico e registrada no painel do equipamento. Para o ângulo de 90°, o equipamento denomina- 
-se nefelômetro ou turbidímetro, e a técnica de determinação nefelometria. Aliado às características 
das partículas suspensas, o comprimento de onda da luz incidente interfere na transmitância da luz. 
Além disso, outros fatores podem afetar os valores de turbidez medidos por diferentes equipamentos. 
Destacam-se o tipo de lâmpada, as lentes, as células para amostragem, a deterioração e a mencionada 
orientação da fonte de luz e do detector, o número de detectores, a limpeza interna do medidor, a 
susceptibilidade a vibrações e a interferências eletrônicas, e a capacidade de fornecer estabilidade nas 
leituras.
Neste contexto, alguns fabricantes têm procurado aprimorar a qualidade e a precisão de seus 
equipamentos, dotando-os de múltiplos detectores que compensam a interferência de fatores como a 
cor na amostra, flutuações de desvio de luz, entre outros fatores (Hach; Vanous; Heer, 1989).
A turbidez natural das águas superficiais está geralmente compreendida na faixa de 3 a 500 uT, 
e inferior a 1,0 uT para águas subterrâneas com significativa frequência decorrente da presença de ferro 
e manganês como também ocorre para a cor. Em lagos e represas, onde a velocidade de escoamento 
da água é menor, a turbidez tende a ser bastante baixa, com muita frequência inferior a 10 uT. Além da 
ocorrência de origem natural, a turbidez da água pode também ser causada por lançamentos de esgotos 
domésticos ou industriais.
No Brasil, a turbidez dos corpos d’água é particularmente elevada em regiões com solos 
erodíveis, onde as precipitações podem carrear partículas de argila, silte, areia, fragmentos de rocha 
e óxidos metálicos do solo. Grande parte das águas de rios brasileiros é naturalmente turva em 
decorrência das características geológicas das bacias de drenagem, dos índices pluviométricos e do uso 
de práticas agrícolas muitas vezes inadequadas. Por outro lado, regiões de clima frio menos susceptíveis 
a precipitações intensas apresentam águas naturais de turbidez significativamente mais baixa.
Esta discrepância confirma-se na análise das figuras 2.3 e 2.4 nas quais estão apresentadas 
as médias mensais da turbidez da água bruta afluente a duas estações de tratamento no Brasil e no 
Canadá, respectivamente. Na figura 2.3 reporta-se à média geométrica mensal dos dados diários de 
turbidez da água bruta no período 1997-2000 afluente a uma estação de médio porte na Região Sudeste 
do País (vazão média de 145 L/s), ao passo que a figura 2.4 refere-se à média aritmética no período 
2002-2004 para uma das estações da cidade de Edmonton (vazão média de 1,7 m3/s) na província 
de Alberta (Canadá). Cabe ressaltar que ambas captações realizam-se diretamente no curso d’água 
sem qualquer estrutura que minimize o aporte de sólidos às estações e a segunda unidade localiza-se 
praticamente na região central da cidade.
CAPITULO 02
3 ® ................... ■ ........................... ■ • ...................................................................... .....................................................
Meses
Figura 2.3. Média geométrica mensal da turbidez da água bruta afluente a uma estação de médio porte brasileira.
Figura 2.4. Média aritmética mensal da turbidez da água bruta afluente a uma estação de grande porte canadense.
A magnitude dos valores de turbidez para estação brasileira manifesta-se pelo próprio emprego 
da média geométrica como medida de tendência central, menos susceptível à influência de valores 
extremamente elevados que a média aritmética, e motivou a elaboração da figura 2.5. A significativa 
variação da turbidez da água bruta ao longo do período amostrado para estação brasileira motivou 
realização de uma análise de consistência dos dados, tendo sido detectado em períodos esparsos a 
improvável repetição de elevados valores de turbidez da água bruta, cujo descarte ou inserção, não 
comprometería o resultado das análises estatísticas realizadas em virtude do tamanho da amostra. A 
definição dos intervalos desiguais de frequência relativa estabelecidos para os valores da turbidez 
da água bruta, embora inusuais, objetivou inferir o tempo de funcionamento da estação para o qual 
tecnologia de potabilização mais simples pudesse ser empregada (Viana; Libânio, 2002).
Enquanto a turbidez da água bruta afluente à estação canadense foi determinada por meio 
de equipamento de escoamento contínuo - inferindo-se a cada hora os valores máximo, mínimo e 
médio - , na estação brasileira a análise realizava-se por meio de equipamento de bancada. Para a 
segunda, ainda que possam ter ocorrido variações significativas entre duas análises sucessivas desta 
característica física, a magnitude do universo amostrai (mais de 34 mil resultados) permite associar os 
valores de turbidez ao tempo de funcionamento da estação. Desta forma, pode-se afirmar que em mais 
de,26 % do tempo de funcionamento da estação afluiu a mesma água com turbidez superior a 200 uT 
e, no período chuvoso, frequentemente valores superiores a 1000 uT. Paradoxalmente, verificaram-se 
apenas 60 eventos pontuais desta natureza na estação canadense (turbidez superior a 200 uT) e em 
apenas três vezes este parâmetro superou 1000 uT quando do início do degelo.
CAPÍTULO 02
30,00 i r 120
26,26
- 100
0,00 0
0 < x < 5 5 < x < 15 15 < x < 50 50 < x < 200 >200
Turbidez da água bruta (uT)
Figura 2.5. Frequências relativas simples e acumulada dos valores de turbidez da água bruta afluente a uma 
estação de médio porte brasileira.
Para fins de potabilidade, a turbidez da água filtrada vem progressivamente consolidando-se 
em todo Planeta como um dos principais parâmetros na avaliação do desempenho das estações de 
tratamento, transcendendo o aspecto estético a ela associado. Há muito no meio técnico consolidou-se 
a premissa da maior eficiência da desinfecção, independente do desinfetante empregado, para águas 
com turbidez baixa, em virtude da proteção conferida aos microrganismos pelas partículas suspensas 
na massa líquida, por vezes denominada efeito-escudo. Em outro contexto, as partículas suspensas 
podem ser capazes de adsorver substâncias tóxicas, tais como agrotóxicos organoclorados e outros 
compostos orgânicos, e sua remoção reduziría de roldão a concentração destes compostos.
Esta assertiva comprova-se pelo padrão de potabilidade
estabelecido pela Portaria 518, embora 
águas com turbidez inferior a 5,0 uT, comumente não cause rejeição pela população abastecida. 
Consoante com padrões internacionais, esta Portaria estabelece para águas de consumo humano, limite 
máximo permissível de 1,0 uT7 no efluente da estação de tratamento - recomendando enfaticamente 
valores inferiores a 0,5 uT em 95 % das amostras mensais - , essencialmente objetivando assegurar o 
êxito das etapas de clarificação na remoção física e da desinfecção nâ inativação de patogênicos mais 
resistentes. Limites ainda mais restritivos são empregados nos EUA-jam ais exceder 1,0 uT e 0,3 uT 
em 95 % das amostras em um dado mês - e províncias do Canadá, embora o padrão neste país também 
seja 1,0 uT. Contudo, diversos estados americanos e províncias canadenses adotaram voluntariamente 
limite de 0,1 uT. Por fim, embora a OMS não estabeleça valor limite em termos de risco à saúde (o 
valor de 5,0 uT é mencionado em termos de aceitabilidade pelo consumidor), há recomendação de se 
produzir água tratada com turbidez média inferior a 0,1 uT, como forma de avaliação da performance 
do tratamento e visando à otimização da desinfecção.
O emprego da turbidez como parâmetro indicador da eficiência do tratamento encontra respaldo 
em recentes estudos associando a remoção desta característica física à de cistos e oocistos de protozoários. 
Nesta perspectiva, as normas mundiais para água de consumo têm-se tomado progressivamente mais 
restritivas para os limites da turbidez da água filtrada.
A afirmativa anterior é corroborada por pesquisa (Patania et al., 1995), avaliando a remoção 
de cistos e oocistos de protozoários, Giardia muris e Cryptosporidium parvum, realizada em diversas 
unidades-piloto, totalizando 105 pontos de amostragem, em três estados americanos - Oregon,
CAPÍTULO 02
7. A Portaria 518 estabelece que até 5 % das amostras do efluente da estação de tratamento podem apresentar 
turbidez superior a 1,0 uT assegurando-se o valor máximo permissível de 5,0 uT na rede de distribuição.
Washington e Califórnia empregando águas naturais com turbidez inferior a 10 uT. Embora os 
resultados apontassem baixa correlação entre a remoção de turbidez e ad e protozoários, a elevação 
de 0,1 a 0,3 uT da turbidez da água filtrada esteve associada à redução de 1,0 log8 na remoção destes 
microrganismos.
Também com intuito de inferir a concentração de partículas nas águas naturais, a partir da década 
de 1990 inseriu-se na rotina das estações de tratamento dos EUA e Canadá a contagem de partículas 
(n°/mL). O fundamento do emprego dos contadores de partículas calca-se na bidimensionalidade 
desta medida, ao passo que a determinação da turbidez - como o próprio princípio de funcionamento 
dos turbidímetros evidencia - ê uma medida unidimensional do grau de transparência da água. 
Esta determinação objetiva associar a remoção de partículas de determinada faixa de tamanho à 
de microrganismos patogênicos, uma vez que os contadores são capazes de detectar alterações na 
concentração de partículas não detectáveis pelos turbidímetros, especialmente para valores de turbidez 
inferiores a 0,1 uT.
Exemplo do emprego dos contadores de partículas visou a avaliar a ocorrência de cistos de 
Giardia e oocistos de Crypto na água tratada em estudo realizado em 66 estações de tratamento 
localizadas em 14 estados dos EUA e uma província do Canadá. Em relação à água bruta, detectou- 
-se a presença dos mesmos, respectivamente, em 81 e 87 % das amostras oriundas de mananciais 
superficiais. A ocorrência de cistos e oocistos destes protozoários foi verificada em 39 % das amostras 
dos efluentes de estações de tratamento de água cuja turbidez média era de 0,19 uT. Em 78 % dos 
casos de detecção dos protozoários os efluentes apresentavam turbidez inferior a 0,5 uT. Embora as 
estações envolvidas nesta pesquisa apresentassem efluentes com turbidez média de mesma magnitude, 
a contagem do número de partículas apontou diferenças de até 1000 vezes (LeChevallier; Norton, 
1997). Esta constatação também aflorou em pesquisa anterior utilizando contadores de partículas e 
turbidímetro de escoamento contínuo para o monitoramento da água filtrada. Verificou-se que variações 
de 0,01 uT redundavam em alterações da ordem de 550 partículas/mL com dimensão superior a 0,7 pm 
(Hargesheimer; Lewis; Yentsch, 1992).
Uma vez que a maioria dos equipamentos detecta somente partículas maiores que 1 pm, esta 
contagem acaba centrando-se sobretudo nas partículas suspensas causadoras de turbidez. Desta forma, 
há significativa correlação entre a determinação de turbidez e a contagem de partículas, em especial 
para águas com turbidez superior a 0,1 uT. Tal correlação confirmou-se no mencionado estudo durante 
o monitoramento de 220 h da água filtrada com turbidez de 0,07 a 0,15 uT, apresentando coeficiente 
de determinação (R2) de 0,985.
O emprego dós contadores de partículas de escoamento contínuo, para águas com turbidez 
consistentemente inferior a 0,1 uT, foi objeto de avaliação em outra estação de tratamento de grande 
porte da província de Alberta (Canadá). Neste estudo, diferentemente dos citados, objetivava-se aferir 
o resultado das alterações nas dosagens de produtos químicos valendo-se da contagem de partículas da 
água filtrada com dimensão maior ou igual a 2 pm, compatível à de cistos e oocistos de protozoários. 
Aplicaram-se dosagens de sulfato de 5, 6, 8 e 10 mg/L, e comprovou-se a maior acurácia da contagem 
de partículas em relação à determinação da turbidez na detecção de pequenas variações nas dosagens 
de coagulantes. A avaliação norteou-se nas análises de frequência acumulada de partículas detectadas 
nos efluentes dos filtros, culminando - após definição da melhor dosagem - com sensível redução do 
aporte de partículas na água filtrada (Hargesheimer et a l, 1998).
No Brasil o custo destes equipamentos praticamente os tem restringido às instituições de 
pesquisa e em raríssimas estações de tratamento de sistemas de maior porte estes se fazem presentes.
CAPITULO 02
8. Há mais de uma década verifica-se a tendência de se reportar à redução de microrganismos em unidades 
logarítmicas, ou seja, 1 log corresponde a uma eficiência de 90 %, 2 log a 99 %, e assim sucessivamente.
33
Desta maneira, comparação entre o contador de partículas e o turbidímetro de bancada foi objeto 
de estudo englobando água bruta natural, decantada e filtrada em unidade-piloto instalada em uma 
estação de tratamento de água. Para as 90 amostras, a concentração de partículas - nesta pesquisa 
atipicamente referenciada em cm3/L - reportava-se o número de partículas ao diâmetro médio de caia 
uma das oito faixas de tamanho variando de 2 a 350 pm. Os resultados evidenciaram significativa 
correlação entre os dois parâmetros para água bmta e com menor significância para as águas decantada 
e filtrada, conforme evidencia a figura 2.6 (Pádua; Di Bernardo, 2001).
Concentração de partículas (cm3/L)
Figura 2.6. Relação entre a turbidez e volume médio de partículas para as águas bruta (a) e filtrada (b).
A diferença significativa entre os dois coeficientes de determinação apontam para dois cenários. 
O primeiro evidencia a menor relevância do emprego dos contadores de partículas no monitoramento 
de água bruta, pois, a determinação da turbidez fornece informação expedita e fidedigna acerca da 
concentração de sólidos suspensos. Por outro lado, para os efluentes das estações de tratamento a 
contagem de partículas guarda maior especificidade, pois águas de turbidez de mesma magnitude podem 
apresentar predominância de tamanhos de partículas que tomem a desinfecção mais ou menos eficiente. 
Tal se deve ao mencionado efeito-escudo que protege os microrganismos da ação do desinfetante. Para 
valores praticamente equânimes de turbidez, a predominância de partículas cujas dimensões superam 
à dos microrganismos
patogênicos tenderá a tomar a desinfecção por agente químico menos efetiva.
É intrínseca a correlação entre a turbidez e a concentração de sólidos suspensos, como parcela 
dos sólidos totais cuja distribuição é apresentada na figura 2.7.
Em suspensão
Sedimentáveis 
Não sedimentáveis
Sólidos totais <
Dissolvidos
Voláteis
Fixos
Figura 2.7. Distribuição genérica dos sólidos presentes nas águas naturais.
As frações de sólidos podem ser assim definidas (Piveli; Kato, 2006):
• sólidos totais constituem nos resíduos após evaporação em banho-maria e posterior secagem 
a 103-105 °C;
• sólidos suspensos constituem-se a porção em massa com dimensões superior a 1,2 pm, 
retida após filtração;
• sólidos voláteis é a porção dos sólidos totais, dissolvidos ou suspensos que se volatiliza 
após calcinação a 550-600 °C, por 15 min para sólidos suspensos ou 60 min para sólidos 
totais e dissolvidos;
A
o i ) ^
CAPÍTULO 02
• sólidos fixos, analogamente, constituem-se a porção dos sólidos totais, dissolvidos ou suspensos 
que resta após calcinação a 550-600 °C, por 15 min para sólidos suspensos ou 60 min para 
sólidos totais e dissolvidos;
• sólidos sedimentáveis é a porção de sólidos suspensos que se sedimenta quando mantida em 
repouso em cone Imhoff de um litro durante uma hora.
A parcela dissolvida dos sólidos haverá de conferir em especial cor verdadeira às águas naturais e 
o padrão de potabilidade estabelecido pela Portaria 518 reporta-se à concentração máxima de 1000 mg/L 
(como sólidos dissolvidos totais). A correlação entre a turbidez e a concentração de sólidos suspensos 
pôde ser demonstrada valendo-se do monitoramento da água bruta afluente a uma unidade-piloto de 
filtração lenta, conforme mostra a figura 2.8.
A correlação entre sólidos suspensos para com a turbidez e a cor aparente foi objeto de uma 
avaliação mais abrangente contemplando 18 anos de dados operacionais (1980-97) de duas estações 
de tratamento responsáveis pelo abastecimento de Vitória e Cariacica (ES) com base no mesmo curso 
d’água. A amostra constou de 312 determinações de sólidos totais e a análise balizou-se em quatro 
cenários: considerando todos os dados, e separando-os em dias de chuva, sem chuva e por faixas de 
concentração de sólidos suspensos. Os resultados para os três primeiros cenários estão apresentados na 
tabela 2.1, destacando-se os valores mais elevados do coeficiente de detenninação para cada cenário 
em função do tipo de modelo de regressão empregado (Piccolo; Pinto; Teixeira, 1999).
Tabela 2.1. Valores de R2 valendo-se dos diferentes tipos de regressão e três cenários de análise.
Regressão
Todos os dados Dados com chuva Dados sem chuva
55 x C. A 55x Turb. 55 xC. A 55 x iu rb . 55 x C. A 55x Turb.
Linear 0,7837 0,7970 0,8669 0,8859 0,3516 0,4041
Potência • 0,6531 0,7464 0,8138 0,8627 0,4035 0,5231
Exponencial 0,5779 0,5819 0,5996 0,5848 0,4363 0,5329
Obs.: SS - sólidos em suspensão (mg/L); C. A. - cor aparente (uC); Turb. - turbidez (uT).
Como seria de esperar, os coeficientes de determinação para regressão linear foram significativos 
tanto para cor aparente quanto para turbidez, e de mesma magnitude, para a totalidade dos dados e para 
os coletados em dias com chuva.
Ao analisar os dados gerados em dias sem chuva, a correlação para com a cor aparente foi mais 
pronunciadamente inferior à da turbidez, pois, a parcela dos sólidos dissolvidos - não contemplada na 
análise de sólidos suspensos - contribuiu mais significativamente para aquele parâmetro. As baixas
CAPÍTULO 02
35
correlações também para a turbidez podem ser explicadas pelo emprego de apenas uma estação pluvio- 
métrica, podendo chuvas não detectadas por esta estação terem contribuído para a maior dispersão dos 
resultados.
Os resultados da correlação por faixa de de concentração de sólidos suspensos são apresentados 
na tabela 2.2.
Tabela 2.2. Valores de R2 por faixa de valores de sólidos suspensos.
Regressão
SS < 30 mg/L 31 mg/L < S5 < 69 mg/L 70 mg/L < SS < 2 8 s mg/L
S 5 x '€ A 55 x Turb. 55 x C. A. 55 x Turb. : 55 xC. A 55 x Turb.
Linear 0,5372 0,8194 0,2272 0,1664 0,8803 0,9618
Potência 0,5725 0,8374 0,1664 0,1335 0,7905 0,8811
Exponencial 0,3517 0,6520 0,1921 0,1645 0,8955 0,9675
Os resultados da tabela 2.2 confirmam a estreita correlação entre os parâmetros avaliados para 
os valores mais elevados de sólidos suspensos, correspondendo aos períodos de precipitação o maior 
carreamento de partículas ao corpo d’água. E, como não podia deixar de ser, sempre que a correlação 
mostrou-se mais significativa, o coeficiente de determinação foi superior para turbidez.
A determinação da concentração de sólidos, nos seus diversos matizes, não é comumente 
realizada nas estações de tratamento em virtude da morosidade das análises, aos equipamentos 
necessários e à menor precisão pra menores concentrações, sendo substituídas pelas análises de cor, 
aparente e verdadeira, e turbidez.
Por fim, outro parâmetro diretamente associado à turbidez é a transparência, utilizada sobretudo 
no caso de lagos e represas, parâmetro obtido mergulhando-se na água um disco de 20 a 30 cm de 
diâmetro9 e anotando-se a profundidade de desaparecimento. Lagos turvos apresentam transparências 
reduzidas, da ordem de poucos centímetros até um metro, ao passo que em lagos cristalinos, a trans­
parência pode atingir algumas dezenas de metros.
A estimativa da profundidade atingida pela luz, denominada zona fótica e de crucial importância 
para o desenvolvimento da comunidade fitoplanctônica, dá-se considerando aproximadamente o triplo 
da profundidade de desaparecimento do disco.
Sabor e odor
A conceituação de sabor envolve uma interação de gosto - salgado, doce, azedo e amargo - 
com o odor, sendo portanto imensuráveis. Apesar de sensações distintas, usualmente são referenciadas 
conjuntamente. Embora possam existir odores agradáveis, de ervas ou de terra, frequentemente 
associa-se o odor nas águas de consumo sob o ponto de vista negativo. Sua origem está associada 
tanto à presença de diversas substâncias químicas ou gases dissolvidos10, algumas das quais utilizadas 
no próprio tratamento como o cloro e, mais raramente, o ozônio.
As manifestações de odor e sabor apresentam causas distintas para águas superficiais e subterrâneas. 
Para as primeiras, compostos orgânicos resultantes do metabolismo de alguns microrganismos - em 
especial algas, cianobactérias e actinomicetos11 -, decomposição de folhas e plantas aquáticas, lançamento
9. Disco de Secei, denominação em homenagem a seu inventor, naturalista italiano.
10. Gás carbônico, oxigênio, nitrogênio, amônia, sulfeto de hidrogênio e, em menor frequência, metano 
constituem-se os gases mais usualmente encontrados nas águas naturais, alguns dos quais passíveis de 
conferir odor e sabor. Os três primeiros perfazem a quase totalidade da composição do ar atmosférico e os 
demais decorrem da decomposição da matéria orgânica presente pela ação das bactérias.
11. Bactérias filamentosas comumente presentes no solo que apresentam odor característico de terra e capazes de 
produzir os compostos denominados Geosmina e 2-metilisobomeol (MIB).
de efluentes industriais e lixiviação de solos agriculturáveis habitualmente constituem-se nas principais 
causas de sabor e odor nas águas superficiais.
Diferentemente, para as águas subterrâneas odor e sabor advêm usualmente de fenômenos 
naturais, ainda que as ações antrópicas possam agudizar tais características. Em primeira instância, 
destaca-se a ação bacteriana na decomposição anaeróbia de enxofre orgânico, sulfatos e sulfitos 
gerando ácido sulfídrico - produzindo odor característico de ovo podre - e na redução de compostos 
de ferro e manganês (a ser detalhado em item subsequente). Inserem-se também nesta vertente, a 
dissolução de sais e minerais pa percolação da água através de solos e rochas,

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