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49 i c~-~~~~-1-~--~·-······················ ···· ·········· ··· ·· ············· ·· ··•···oesafios profissionais na elaborac;ao de estudo/perf cia social e de seus registros e na relac;ao entre perito/assistente tecnico na Justic;a de Famflia P ensar a atuar;ao do assistente social naJustir;a de Familia e um desafio de significativa envergadura. Cientes disso e do restrito acumulo de debate dessa tematica, nossa perspectiva e levantar pontos que instiguem os profissionais da area a examina-la com vistas a ultrapassar a imediaticidade, a generalizar;ao e a interpretar;ao dos litigios como algo pontual e "problema" daquele individuo ou familia. Partimos do entendimento de que a contribuir;ao do Servir;o Social para definir;oes judiciais que respeitem direitos de crianr;as e adolescentes e atentem para seu bem-estar, mesmo com a separar;ao dos pais, pode resul- tar tanto do processo de realizar;ao da pericia social como de seu parecer final D il' d ' . · urante o processo, procedimentos comumente ut 1za os na penc1a social · d' · ' · ' como entrevistas individuais e conjuntas, nos espar;os JU 1C1ano e 50 Dalva Azevedo de Go· . 15 • Rita c . S. Oliveira domiciliar, podem oportunizar reflexoes e dialogos come d . . d. . . d . entre os env l vidos em 1sputas JU 1cta1s, o que po ena ser propicio para o - a constru - algum entendimento entre eles, em prol do bem-estar dos filhos. r;ao de d , . d . 1 d Quando d conclusao a penc1a e e seu reg1stro em au o, com O pert" a . inente Pare social, tem-se a oportumdade de ofertar analise fundamentada de as cer sociais da situac;ao objeto da lide, o que podera ampliar a pectos ( ) .d d ( ) . d. . , . ( ) b compreensao da s auton a e s JU iciana s so re o assunto e dos suJ· eit os envolvid no processo judicial. 0 s Contudo, para que uma pericia social assim se processe h, d . . , a e se ter clareza quanto ao papel do ass1stente social nessa atribuic;ao e 'fi . . . . , . , . , speer 1ca, 0 que ex1ge delmear duetnzes et1co-poht1cas, teorico-metodolog· , 1cas e tec- nico-operativas para sua realizac;ao. Considerando as questoes lev d anta as no capitulo I, em especial no que diz respeito ao insuficiente acumulo de produc;ao do Servic;o Social na Justic;a de Familia, indaga-se se O conjunto de assistentes sociais com atuac;ao nessa area tern investido na reflexao e na elaborac;ao de questoes preponderantes de seu exercicio profissional. Nossa experiencia e o dialogo com colegas dessa area apontam para a necessidade de constancia e de aprofundamento no debate dessas diretrizes, inclusive pela crescente complexidade das situac;oes que chegam as Varas de Familias. Vale ressaltar, tambem, a importancia de o assistente social contar com infraestrutura apropriada para a realizac;ao dos procedirnentos cornumente utilizados em uma pericia, que deve ser assegurada pela insti- tuic;ao empregadora, de modo a garantir qualidade etica e tecnica, conforme disposto na Resoluc;ao CFESS n. 493/2006. 2.1 0 estudo/perfcia social na Justi<;a de Famma . . . , . m diferentes Na hist6ria do Servic;o Social, os estudos socms Ja tivera . (2009). Para bases analiticas, conforme afirmam Favero (2014) e Mwto d . h. , · critica, base 0 os fins deste texto, centramo-nos na perspectiva 1stonco- ,,.. . Justic;a de Famflia . 5oc1al no 5erv1<;0 51 , . _ olitico da profissao e, em consequencia, de apreensao e analise . tO etICO p , . , . pr0Je _ ocial dos lit1g10s de fam1has. a dirnensao s , . . , . d O da Justic;a de Familia, o respe1to ao usuano-cidadao passa No espa<;: I ·t ra da situac;ao por ele apresentada, tendo como foco a defesa urna er u . . . por . humanos e, dentre esses, espec1almente os soc1a1s, e o respeito direitos _ , . , doS ·d d das diferentes configurac;oes de fam1has e de outros nucleos cl' rs1 a e a ive . 1 Alem disso, a centralidade no social, que ea area para a qual •da soc1a. da Vl ostamente preparados para trabalhar, pode representar eficacia, estarnos sup . , . - d vista tecmco e etico, em nossa atuac;ao. do ponto e . Nessa direc;:ao, cabe ao profiss1onal se perguntar: que expressoes da _ cial estao embutidas na lide posta pelo processo judicial em questao? questao so . . _ . . . d . itos estao preservados e que dire1tos estao v10lados? A mvest1gac;ao Que ire , . rnetodol6gica sobre temas que tern emergido nas disputas entre ex- teonco- -conjuges faz parte de nosso cotidiano de trabalho? Na elaborac;ao de laudos, buscamos privilegiar a analise social da situac;ao em vez de sua descric;ao? Nossas analises guardam pertinencia com a especificidade do Servic;o Social? Se ha necessidade de descrever algo da situac;ao em analise, fazemos isso de forma a evitar a exposic;ao dos sujeitos e o acirramento do litigio? 0 debate sobre estudo/pericia social, atribuic;ao privativa do/a assis- tente social, conforme estabelecido no artigo 5° da Lei n. 8.662/ 199 3, esta consideravelmente subsidiado nas produc;oes de Favero (2013 e 2014), de Mioto (2009), de CFESS (2014), de Martins (2017) e de Fuziwara (prelo), restando aqui levantar alguns pontos para reflexao sobre sua especificidade no Judiciario. A Resoluc;ao CFESS n. 557 /2009, que dispoe sobre a emissao conjunta de pareceres, laudos, opinioes tecnicas entre o assistente social e outros profissionais, tambem alicerc;a esse debate, assim como o Comuni- ~ado CG n. 1.749/2017 (TJSP), que trata da prerrogativa de escolha dos 10strumentos de avaliac;ao dos Setores Tecnicos. d As _produc;oes aqui referidas deixam claro ser indispensavel, em estu- os/pencias s · · . ocia1s e seus reg1stros, analises sociais, devidamente funda- mentadas, da realidade soc1·al d . . 1 .d - . d. . . d m d os SUJe1tos envo VI os nas ac;oes JU 1cia1s, e 0 0 a contrib · u1r para o acesso, a promoc;ao e a defesa de seus direitos. 52 Dalva Azevedo de Gois • Rita C · S. Olive· lrQ Nesse sentido, 0 conteudo deste texto visa a oferecer subsidios que 0 . - d . . 1 p dern. contribuir para ahcerc;ar a atuac;ao o ass1stente socia naJustic;a de Fa,.,..., 1 . «d Ia Acrescente-se que, no ambito do Servic;o Social, o estudo/per' . · . . . - ic1a social tern como particulandade a mvest1gac;ao de express6es da quesc . . . . ao sacral Presentes nas situac;oes que const1tuem obJeto da d1sputa judicial . . para as quais esta voltado o trabalho do ass1stente social, cabendo ao profi . 1ss1ona] identifica-las e analisa-las fundamentadamente. Esse nos parece ser 0 grande desafio de assistentes sociais, quando da realizac;ao de estudos/peri'c• 1as so- ciais ea analise de alguns aspectos pode contribuir para seu enfrentam ' ento. A contextualizac;ao social da vivencia conjugal e a analise dos p actos estabelecidos para a organizac;ao familiar na vigencia da uniao conjugal, assim como da organizac;ao de vida p6s-separac;ao, podem favorecer a apreensao de possiveis reproduc;oes de desigualdades no ambito da ocupac;ao profi.ssionaI, de rendimentos, <las relac;oes de genero no casamento (assimetrias de poder na definic;ao de quest6es da vida familiar, como a administrac;ao de atividades domesticas e das relac;oes com o meio social), autoritarismo ou ate violencias nas relac;oes parentais, alem de outras associadas a questoes etnico-raciais. Nesse sentido, Favero (2013, p. 523) refere-se a importancia de uma "[ ... ] investigac;ao rigorosa da realidade social vivida pelos sujeitos e grupos sociais envolvidos nas ac;oes judiciais, desvelando a dimensao hist6rico-social que constr6i as situac;oes concretas atendidas no trabalho cotidiano". Espera-se que a analise dessas quest6es possa resultar em contribuic;ao, por meio de estudos/pericias sociais, para o acesso, a promoc;ao ea defesa de direitos dos sujeitos envolvidos na disputa judicial, em especial de crianc;as e adolescentes. Dentre esses direitos, esta o de convivencia social, que cons- titui, em nossa perspectiva,sua finalidade no ambito da Justic;a de Familia. A convivencia social, enquanto processo sociorrelacional, da qual faz parte a convivencia familiar e comunitaria, transcende responsabilidades individuais e familiares por ser tambem de responsabilidade publica esta- tal. Com efeito, a convivencia pode se constituir em espac;o de protec;ao e de reconhecimento, mas tambem de humilhac;ao, de desqualificac;ao e de . social no Justic;a de Fomflio 5erv1c;o 53 balternizac;ao, conforme refere Torres (2013)1 • stt , . d . . Por tars razo . _0 ea anahse a conVIvencia social da f; ,1 . es, a rnvesti- ga<;a . . s am1 1as em liti i rte dos profiss1ona1s1 apropriac;ao de conteud d . g os requer, por pa os as d1mensoe t , · dol6gica e etico-politica que possam iluminar a - s eonco-me- to . . , apreensao dessas questoes A responsab1hdade publica estatal relativa a . . . · 1, • 'b . conVIvencia social esta aldada nas po ltlcas pu hcas, entre elas a p l't' N . resp . o i ica ac1onal de Assisten- . Social - PNAS, que se const1tui em politica d S . c1a e egundade Social nao contributiva, e tern como um de seus objetivos a protec;ao social de familias, . dividuos e grupos que dela necessitarem. Os servi" d _ . in . .,.os a protec;ao social ·sam a garantir a seguranc;a de Sobrevivencia de Co , . d VI 1 IlVlVIo e e Acolhida. A Seguranc;a de Convivio, de acordo com a PNAS (2004) _ . _ , pressupoe a na-0 aceitac;ao de s1tuac;oes de reclusao e de perda <las rel - 1 ac;oes e ressa ta na Perspectiva do direito ao convivio, as interac;oes multicultura· . ' . 1s, gerac1ona1s, territoriais, entre outras. Acrescentamos aqui as intera"o-es r 1· • .,. e 1g1osas e ra- ciais, que tambem sao significativas quando se trata de convivencia social. E possivel que, nos litigios de familias, para alem das desigualdades socioecon6micas e de genero, as quais resultam, geralmente, em desi- gualdade de poder, estejam condensadas muitas dessas outras questoes, independentemente da camada social a que pertenc;a a familia. Aspectos relativos a interac;6es multiculturais, geracionais, territoriais, religiosas e raciais que, por vezes, geram desagregac;ao entre as familias, nem sempre se expressam claramente e, por isso mesmo, requerem dos profissionais cuidadosa investigac;ao, de modo a preservar ou a restabelecer o direito de crianc;as e adolescentes a convivencia social, quer nos dois ramos parentais, quer em seus territ6rios de vivencia anteriores a separac;ao dos pais, ou seu afastamento em caso de situac;oes cujo convivio constitua risco. Estamos, assim, nos movimentando no terreno <las expressoes da questao social, conforme definic;ao constante no item 1.2 do Capitulo I, cujo 1. Sobre convivencia social, ver tambem O Caderno do MDS "Concepc;ao de Convivencia e Fortalecim , . • . ento de Vinculos", disponivel em: http://www.mds.gov.br/webarqu1vos/publlcacao/ assistencia s . . - ocial/Codernos/concepcao_fortalecimento_vinculos.pdf. Acesso em: 04 JUI. 2018. 54 Dalva Azevedo de Gois • Rita C · S. Olivo· "'ra rebatimento no ambito familiar acarreta restri<;ao de muitos d ' . . . . ireitos. E relac;:ao a cnan<;as e adolescentes tern, h1stoncamente, resultado em . rn , . d' dis tan ciamento cerceamento e ate mesmo 1mpe 1mento do convivio . - , . . - , . social deia com os do1s ramos parenta1s. Isso e expresso, mmtas vezes por s , l . . d ' um dos Pais ou por outra pessoa responsave , persistm o em afastar O outr . ' 0 genitor d contato direto e frequente com o filho. Embora isso tenha oc .d 0 . . . orn o desde sempre na atuahdade, existe uma nova leitura em curso impul . , , sionada po uma parcela de pessoas, talvez mais comumente de camadas soc· . , . r iais media mas tambem de camadas populares, que busca a manutenc;:ao d s, . . , . , e um con- vivio paterno-fihal ma.is proximo, no pos-separac;:ao conjugal 1 , . . . sso talvez seja reflexo de uma possivel mudanc;:a sobre idea1s relativos a pare t 1 .d n a i ade conforme consta do capitulo IV. ' Retomando aspectos que dizem respeito a condic;:oes para realizac;ao de estudo/pericia social, em especial no TJSP, o Comunicado CG n. 1.749/ 2017 recomenda aos juizes que facultem aos assistentes sociais "a prerrogativa de escolha dos instrumentos de avalia<;ao (analise de documenta<;ao, observac;ao, entrevista, visita domiciliar, entre outros)". Em tese, esse comunicado seria desnecessario, tendo em vista que essa garantia esta prevista no artigo 20 do Codigo de Etica do/a Assistente Social. Contudo, a excessiva hierarquiza- <;ao do Foder Judiciario abre espa<;o para a nao preserva<;ao da autonomia profissional, resultando em comunicados de teor dessa natureza. Nessa discussao sobre instrumentais do Servi<;o Social, o que nos parece merecer reflexao e a forma como os profissionais os manejam na realizac;ao de estudos/pericias sociais. A entrevista, por exemplo, constitui um processo de dialogo? A entrevista no domicilio tem privilegiado a compreensao da ambiencia familiar e do territ6rio de vivencia das familias d . - . 1 . d o a servic;:os derivados e suas me ia<;oes nesse espa<;o, me um o o acess d I, . . . ., A . . de convivio de crian~as as po ltlcas sociaisr v1sita a outros espa<;os . . I , . .. t oportunizado a e adolescentes SUJe1tos de estudos penc1as s0C1a1s em c c T ;i Esses aspectos apreensao da convivencia social para alem da es,era 1am1 iar. . . de forma clara, sao registrados e analisados em relat6rios e laudos soCiais coerente e consistente? . social no Justi<;a de Famflia 5erv1~0 55 para alem do laudo resultante de estudo/perici . 1 . , . . a socia , CUJO teor deve ser d minantemente anaht1co e finahzar com um p . pre o . arecer social da situac;:ao inada, ex1stem certas demandas na J ustic;a de Fam ,1., . exam . 1 1a que podenam ser ·das por um parecer social. supn Sobre isso, Favero (2014, p. 58) afirma que: 0 parecer social diz respeito a esclarecimentos e analises c b , om ase em conhe- cimento espedfico do Servic;:o Social, a uma questao ou quest- 1 . oes re ac1onadas a decis6es a serem tomadas. Trata-se de exposic;:ao e man1·rest - . • • 11 ac;ao sucmta, enfocando-se ob1et1vamente a questao ou situac;ao analisada e os b. . o Jet1vos do trabalho solicitado e apresentado; a analise da situac;ao, referenciada em fundamentos te6ricos, eticos e tecnicos, inerentes ao Servic;o Social_ por- tanto com base em estudo rigoroso e fundamentado - e uma finalizac;ao, de carater conclusivo ou indicativo. O dialogo em espa<;os coletivos de profissionais atuantes em Varas de Familias e tambem com colegas no cotidiano de trabalho tern nos indicado que, por vezes, o Servi<;o Social recebe demandas que requerem um parecer sobre o assunto, devidamente fundamentado em produ<;oes da profissao sobre a questao, mas nao exigem, necessariamente, a realiza<;ao de uma pericia ou a apresenta<;ao de um laudo social. Nessa dire<;ao, Ferreira (2018) refere-se a oferta de parecer nas situa<;oes de retifica<;ao do registro civil para pessoas transexuais e travestis. 0 autor cita que um grupo de profissionais do Servic;o Social e de outras areas do saber, com experiencia em Porto Alegre nos proc · d ' . . I ' essos JU 1cia1s re ativos a essas situa<;oes, propos o uso de parecer em vez de laudo. Em relarao a . l M . . .,. parecer socia, ore1ra e Alvarenga (2014, p. 102), ao reflettrem b . 'b . so re O tema a part1r de experiencia na politica previdenciaria pu hca, afirmam . que o parecer social deve estar fundamentado em estudo social da situa<;ao fi . . " . ·- . refi .d . em oco e expnm1r [ ... ] a opm1ao profiss1onal sobre a en a s1tuac;:ao . . . . . . do em consonancia com o obJet1vo que gerou a sohc1ta<;ao parecer social" 56 Dolvo Azevedo de Go·is R· • 1ta c · S 01· . iveiro Os posicionamentos dos autores relacionados nessa disc _ . - ussao leva ao entend1mento de que, para elabora<;ao de um parecers •a1 Ill-nos oc1 ad" te6rica, a etica e a tecnica, assim como o objetivo para O q 1 ; . irnensao ua !01 sor . 0 referido procedimento, sao elementos-chave desse proc icitado esso. A a analise social da situa<;ao em foco emerge como aspecto primordial Puracta fi · al d fi · d" 'cabend ao pro 1ss1on e mir os proce 1mentos a serem utilizado 0 · d ' t- t al d 't - 1· s, 0 que estara· assoc1a o a ques ao cen r a s1 ua<;ao em ava 1a<;ao Tambe . . d J . d F 'l' al" . m compete aos assistentes socia1s a ust1<;a e am1 ia av 1ar e definir as dema d n asnasqu. seria indicada a apresenta<;ao de um parecer social em vez de um 1 d ais I , . I d 'al . , . au o social. O re atono ou au o soc1 , como Ja vimos, constitui prov .. a penc1a} no processo judicial, mas nao podemos perder de vista o clever de d . . . . _ pro uz1-lo na dire<;ao da garant1a de dire1tos e nao como instrumento de cl .fi . . . ass1 1cai;ao e disciplinamento dos suJe1tos envolvidos. Embora os aspectos aqui referidos tenham sido apresentado s para alicer<;ar a discussao sobre pericia social, muitos deles podem ser pensados tambem para a atua<;ao do assistente tecnico da area de Servi<;o Social nos processos de Justi<;a de Familia, conforme veremos no t6pico seguinte. 2.2 A atua~ao do perito social e do assistente tecnico A atua<;ao do assistente social como perito social e como assistente tecnico esta respaldada na Lei n. 8.662, de 7 de junho de 1993, que dispoe sobre a profissao de Assistente Social, em especial, no artigo 5°, que define as atribui<;oes privativas do Assistente Social. Os dois profissionais respondem, igualmente, aos preceitos do C6digo de Etica do Assistente Social, de 13 de mar<;o de 1993. Tambem o CPC, Lein. 13.105, de 16 de mar<;o de 201 _ 5 ' "A d. · · a de Instru~ao trata dessa materia no artigo 361, ao dispor sobre u 1enc 1 . . ,, ,, . b "P ova Penc1al • e Julgamento e, nos artigos 464 a 480, ao d1spor so re r . . . , · rocedimentos A explmtai;ao da presern;a do ass1stente tecmco em P . ma1s r . dos pontos tecnicos do perito, conforme § 2° do art. 466, 101 um .01 no Justic;a de Famflio . 50CI 5er111c;o 57 ·dos no Judiciario paulista e polemico em relarao as m d d d" cutl ,,. u an<;as a - '.:das do cPC (2015). A discordancia profissional quanta a participa<;ao v1,, d · , . d g ados ou e ass1stentes tecmcos em procedimentos tecni·co-o de a vo . . , pera- entrev1stas reahzadas no Forum ou no domicilio com os su· ·t tiVOS - . . . _ Jel OS rocesso jud1c1al -, para a reahza<;ao de estudo social, resulta de um do P _ , . . P autado em questoes et1cas merentes ao sigilo e a autonomia ernbate rofissional. p O entendimento e que isso contribuiria para o agravamento do liti- . viola<;ao de direitos da parte contraria envolvida na a<;ao i· udicial g10 e a . - . . , . ' odendo reproduzir rela<;ao des1gual de poder Ja ex1stente entre os sujeitos ~ rocesso judicial. E, ainda, atinge o principio do sigilo profissional des- ~ p nos artigos 15 a 17 do C6digo de Etica do Servi<;o Social e contraria cnto 0 artigo 11, ao qual esta sujeito inclusive o assistente tecnico dessa area, que veda ao assistente social "intervir na presta<;ao de servi<;os que estejam sendo efetuados por outro profissional, salvo a pedido desse profissional; ou quando se tratar de trabalho multiprofissional ea interven<;ao fizer parte da metodologia adotada". Para melhor compreender o que se processou a partir da publica<;ao do ultimo CPC, e interessante revisitar normativas anteriores sobre esse assunto. Nesse sentido, vemos que o antigo CPC (1973) regulava alguns aspectos relativos a pericia judicial e ao papel do perito e do assistente tec- nico, prevendo ate mesmo um trabalho conjunto, desde que nao houvesse divergencia entre ambos. Os artigos 430/431 (CPC-1973) indicavam que 0 perito e os assistentes tecnicos, depois de averigua<;ao individual ou em conjunto, dialogariam reservadamente e, havendo acordo, elaborariam laudo unanime. Se houvesse divergencia entre ambos, cada qual escreveria 0 ~audo em separado, dando as razoes em que se fundamentou. Entretanto, tais artigos foram revogados com a aprovai;ao da Lein. 8.455/ 1992. Nesse contexto legal anterior a mudarn;a do CPC (2015), atendendo a de~ao<las eticas apontadas especialmente por psic6logos do Judiciario pauhsta foi p bl' d . S . ' u 1ca o o Comumcado do Nucleo de Apoio Profissional de efVJ.<;o S . 1 ocia e Psicologia do TJSP, no Diario da J usti<;a Esta dual - D JE, 58 Dolvo Azevedo de G . o1 s • Rita C · s or . iveira de 16/ 12/2008, trac;:ando algumas diretrizes para a r I - . . , . - e ac;:ao entre o a . social el ou ps1cologo na pos1<;ao de perito e de assi t , ssistente s ente tecnico Embora seja evidente que o assistente tecnic d · fi - . . d ' . I . , o eva ser da me pro JSSao que o pento JU 1c1a , Ja que emitira seu par · srna . . ecer a respeito d balho penc1al, nem sempre essa premissa era respe ·t d 0 . 0 tra-1 a a. 1ante d' documento registra que deve ser "[ ... ] 0 Assistente S . 1 / isso, tal A . T , . fi . I oc1a e ou Psic6Jo ss1stente ecmco o pro 1ss10na capacitado para quest' . go , . - . ionar tecn1came anahse e conclusoes reahzadas pelo Assistente Social e/ p . , nte a ou s1cologo Pe . _ . nto ". Sobre a rela<;ao entre o pento e o assistente tee · . mco, o comunicado destaca a perspect1va da colabora<;ao, recomendando que· "[ ] . . _ . · .. · 0 material coletado provemente da avaha<;ao social ou psicol6gica se· . . . . , Ja compart1lhado com o outro ass1stente social ou ps1cologo1 mediante anue · d . " . . nc1a as partes por escnto [ ... ] . A troca de 1deias entre os dois profissionais t b, . am em fo, prevista no referido documento: "[ ... ].sendo indicado tarnbern a 1· -rea 1za~ao de reunioes para inicio e conclusoes dos trabalhos." A partir dessa regulamenta<;ao, os conflitos entre perito e assistente tec- nico foram amenizados, ate que foi aprovado o CPC (2015), renovando-se a demanda quanto a presen<;a do assistente tecnico nas entrevistas sociais e tambem nas visitas domiciliares. Em seu artigo 466, § 2°, esta explicito que "o perito deve assegurar ao assistente <las partes o acesso e o acompanhamento <las diligencias e exames que realizar, com previa comunica<;ao nos autos". A mobiliza<;ao dos assistentes sociais que atendem exclusivamente demanda da Justi<;a de Familia na capital foi importante para a retomada da discussao por parte do Nucleo de Apoio Profissional, cujo parecer resultou na publica<;ao do Provimento CG n. 12/2017, que incluiu paragrafo unico no art. 803 do Torno I das NSCGJ, esclarecendo que o acompanhamento das diligencias, mencionado no§ 2° do art. 466 do C6digo de Processo Civil, "[. .. ] nao inclui a efetiva presen<;a do assistente tecnico durante as entreviS t a~ do~ psic6logos e assistentes sociais com as partes, crianc;:as e adolescent~s- . . stente tecn1co, ln clui , porem, a possibilidade de reuniao entre pento e assi ~e ho uver interesse deste, com a devida informa<;ao nos autos. ..,,. •al na Justi~o de Familia ·ro 5oc1 serv1 .,. 59 A publicac;:ao do Provimento CG n. 12/2017 tern amparado a prer- ·va da etica e da autonomia profissional, mas a constru<;ao da r 1 -rogatt . . , e a~ao fi ·onal entre pen to e ass1stente tecnico e um campo abert t d pro 1ss1 . . . . , o, en o coJll0 no rte a perspect1v~ d~ ga~a~tia d,o. dire1to a convivencia familiar e nitaria e da competencia teonca e etico-politica. Enquanto O papel da coJllU . . _ , ·a social tern ma10r defimc;:ao, o mesmo nao ocorre com o trabalho d peflCI , . 0 . rente tecnico. ass1s 0 perito social e o assistente social que realiza estudo/pericia social abrangendo tanto os sujeitos que desencadearam o processo judicial como aqueles a quern o processo esta direcionado, sendo sua nomeac;:ao prerro- gativa do juiz. 0 produto final de seu trabalho e o laudo social eseu cor- respondente parecer, que abordara, portanto, a situa<;ao social de todos os envolvidos naquele processo. Alem das normativas legais citadas, a atuac;:ao do profissional, no caso de assistentes sociais do TJSP, tarnbem tern por base as atribuic;:oes definidas por essa institui<;ao, conforme ja mencionado no capitulo inicial deste livro. 0 assistente tecnico, por sua vez, e o assistente social contratado pela pessoa que desencadeou o processo ou pela pessoa a quern se dirige o processo ou, ainda, no caso de assistencia juridica gratuita, por assistentes sociais que fazem parte do quadro da Defensoria Publica, devendo ele realizar estudo social somente daquele que lhe contratou e apresentar o correspondente relat6rio sociaF. Considerando os ritos processuais que preveem o amplo direito de defesa e do co t d't , · • . - d . n ra 1 ono, a part1cipa<;ao o ass1stente tecnico no proce · d · · l · . sso JU icia Vlsa a responder a esses direitos "[ ... ] que se propoem sin- tomzados com O · , · d d prmc1p1O a emocracia, em que as partes podem usufruir 2. Conforme ja informomo . . sinonim s. eSt omos ut1hzondo os termos "estudo" e "perfcio" sociois como os, emboro em Favero (2014 54 . . -social re r · p. ) conste, como d1stinc;ao entre um e outro. que o perfcia , a izada por meio de t d . , . parecer cu· t · . es u O social, e oss1m denominado "( ... ] por se trota r de estudo e Ja inohdade e sub .d. . - "laudo social" si ior uma dec1sao. gerolmente, judicial ". Quando usamos o termo , estamos nos referi d d . . do assistente t , . n ° 00 ocumento produz1do pelo pento social: ao registro escrito ecn1co da area . I socio , estamos nomeando de relot6rio socia l. 60 Dolvo Azevedo de Gois • Rita c. s or . IVeira 0 direito de opinarem e questionarem afirmac;oes feitas no processo caso, afirmai;oes que tenham carater tecnico" (CFESS, 2014, p. 49)_ e, no A atuai;ao do assistente tecnico em um processo de Vara de Fa , . c 1 - d · rn11ta omera geralmente, com a 1ormu ac;ao e ques1tos e sua posterio . c .,. , r Indus· nos autos pelo advogado da parte contratante. Resguardar a espe .fi . ao . . . . c1 ic1dade do Servii;o Social e pnvileg1ar aspectos preponderantes do objeto d . . , a s1tua. i;ao social da disputa na formulai;ao dos ques1tos e uma forma de contrib . P ara O aprimoramento das pericias sociais. Nessa direc;ao a form 1 _ uir . . , . ' u ai;ao e exame a apresentai;ao de pertmentes ques1tos requer prev10 e cuidadoso dos autos alem de investigac;ao te6rica dos principais temas da si·t _ ' uai;ao social em causa, com vistas a favorecer analises sociais primordiais a lide e a oferecer efetiva contribui<;:ao para que as autoridades judiciarias tomem decisoes que assegurem os direitos e o bem-estar de crianc;as e adolescentes, sujeitos daquele processo. A postura do perito social frente a quesitos formulados pelo assistente tecnico tern sido, costumeiramente, a de aborda-los no corpo do laudo, 0 que nos parece coerente. 0 assistente social, de acordo com o C6digo de Etica, tern O clever de "desempenhar suas atividades profissionais, com eficiencia e responsabilidade, observando a legislac;ao em vigor" (Art. 3°, item a), o que e precedido por seu direito a "liberdade na realizac;ao de seus estudos e pesquisas, resguardados os direitos de participac;ao de individuos ou grupos envolvidos em seu trabalho" (Art. 2°, item i). Reinterpretar os quesitos resguardando a dimensao tecnica e etica do Servi<;o Social e papel do perito social ( CFESS, 2014). A considera<;ao e 0 respeito ao trabalho do colega assistente tecnico devem se concentrar na observa<;ao <las questoes subjacentes aos quesitos levantados e na abordagem de tais questoes no laudo social e nao necessariamente em respostas pontuais. A possibilidade de agendamento de reuniao entre perito social e . , . . d 1 . d" sao do caso, ass1stentes tecmcos para exposu;ao da meto o og1a e 1scus • · d rece de de- confo rm e estabelecido no Provimento em referenc1a, am a ca ar oes bate para que possa se constituir em contribuic;ao efetiva para as av ia<; ·al no Justic;o de Fomflio 'rO SoCI serv'~ 61 . . do perito e dos assistentes tecnicos. Considerando a c 1 ·d d cia1s omp ex1 a e so ocessos atuais, a pr6pria pluralidade de formas de ser familia ea at I dos pr . . ua realidade social bras_1leira, ent~e ~utros aspectos, isso talvez exija multiplos b rados proced1mentos tecmcos para a realiza<;:ao de uma pericia social e ela O , . . ntemple as vanas nuances da s1tua<;:ao. Afinal a reflexao coni·unta que co . . . ' sses profiss1ona1s, desde que todos esteJam compromissados com a entre e . . . c e a protei;ao de dire1tos de cnan<;:as e adolescentes poderia promover de1esa . , tendimento ma1s aprofundado <las questoes preponderantes do obi· eto umen . 't arao social que enseJOU o processo judicial. da s1 u .,. E possivel que os diferentes entendimentos sobre o teor do documento a ser apresentado em juizo pelo assistente tecnico, por vezes pautado tambem na ideia de fiscaliza<;ao ou de avalia<;ao do trabalho do perito, dificultem um dialogo fecundo com o perito social. Temos observado que parcela dos assis- tentes tecnicos apresenta um relat6rio social cujo teor privilegia a discussao do constante no laudo social e, em alguns casos, de modo adversario, o que pode resvalar em desqualificac;ao do trabalho realizado pelo perito social, deixando de registrar analise fundamentada do estudo por ele realizado. Outros assistentes tecnicos retratam, em seu relat6rio social, tanto uma analise social especifica e pormenorizada da situac;ao da parte contratante, fruto do estudo social por ele realizado, quanto uma discussao sobre o teor do constante no laudo apresentado, salientando pontos levantados pelo perito social, afirmando-os ou divergindo deles. Desse modo, evidenciam os direitos da crianc;a/adolescente, em conformidade com as especificidades da configurac;ao daquela familia a quern corresponde seu trabalho. E certo que tanto o perito social quanto o assistente tecnico devem "empenhar-se na viabilizac;ao dos direitos sociais dos/as usuarios/as atra- , d ' ves os programas l't· · · " c , . _ e po 1 1cas socia1s , con1orme preceitua o artigo 8° do Codigo de Etica do(a) Assistente Social, neste caso na defesa de direitos de crianc;a(s) d 1 ( ) ' , . ea o escente s . Tambem nao pode restar duvida de que as possive1s critica d · , . d s O ass1stente tecmco sobre o teor constante do laudo social evem ser t . apresentadas em seu relat6rio social, de forma "objetiva, cons- rut1va e compro , I" d vave , e acordo com o estabelecido no item f, do artigo D2 Dalva Azevedo de Go· 15 • Rita c · S 01· . l\lo · -1r0 10 do C6digo de Etica do(a) Assistente Social, que trata <las Rel _ · S · · I P fi · · ac;:oes Ass1stentes oc1a1s e outros as ro 1ss10na1s. corn. Por essas razoes e por entender que os relat6rios dos . assistente . nicos tambem podem ser fonte para as autoridades J. udicia' . s tee. nas ampI· e aprofundarem seu entendimento, no ambito social sob Iarero. d . . d .. I .d 'd d ' re o objeto da 1sputa JU 1cia , cons1 eramos que o conteu o esse documento dev permeado por analise social da situa(;'.ao da parte contratante E e e st ar . fu d d d" . , . l' . . essa analise prec1sa ser n amenta a em iretnzes et1co-po 1t1cas te6rico m t d ' - e o olog· , . . , . . Icas e tecmco-operat1vas compat1ve1s com o proJeto etico-politico d . , . a profissao Ass1m, concebemos o relatono a ser apresentado pelo assiste t , . · . , . . . n e tecn1co como o reg1stro de uma anahse social da s1tua(;'.ao objeto do est d . u o soc1aI realizado, havendo um item especifi.co no qual se dialoga funda , mentada- mente, sobre o constante no laudo apresentado pelo perito, constando, ao termino, a analise final e o parecer social do assistente tecnico. Nessa mesma linha de defesa do rigor tecnico e eticona atuac;:ao dos profissionais em processes daJusti(;'.a de Familia, entendemos que a realizac;:ao de estudos sociais e seu registro em laudo/relat6rio/parecer sociais requer aprimoramento do conhecimento em Servi(;'.o Social, alinhamento ao projeto etico-politico da profissao e dominio de temas relativos a questao-foco da situac;:ao social que motivou o processo judicial. Tambem se deve considerar o possivel (auto)impedimento do assis- tente tecnico para assumir determinada causa. Embora no artigo 466, § 1 °, do CPC/2015, conste que "Os assistentes tecnicos sao de confian(;'.a da parte e nao estao sujeitos a impedimento ou suspei(;'.ao", cabe ao profissional in- dagar-se quanto a assumir toda e qualquer causa, sendo oportuno refletir sobre seu preparo tecnico para assumir aquela determinada causa, sabre a necessidade de busca de supervisao, com vistas a aprimorar seu trabalho e se, do ponto vista etico, todas as causas sao aceitaveis, mesmo considerau<lo o direito a ampla defesa. Por fim, ha de se considerar que a participa(;'.ao do perito social e do assiStente tecnico, amparada em norrnativas legais, aponta para a possibilidade . 1 no Justic;a de Familia ·ro socio 5erv1.,. 63 reta!;:6es de uma mesma situac;:ao social a partir de diferentes e interp , d e visoes. Nesse sentido, o documento do CFESS (2014 p 49) ectos ' · asP tea atua(;'.ao de assistentes sociais na area socioJ·uridica refere· "A disco · que a do/ a assistente tecnico/ a e a expressao maxima de que nao existe [!gur . . , l <lade absoluta e mquest1onave - tampouco aquela produzida pela uJlla ver · d s v d 1: d d' '1 b" · 'cia" Acrescenta, am a, a nos o er em e1esa e um ia ogo O Jetivo e pert . · ' . . ·a1 "A d d t ·vo entre ass1stente tecmco e pento soc1 : epen er dos inte- constru 1 . , . . disputa, do referenc1al teonco, d1ferentes narrativas e conclusoes resses ern . " r produzidas sobre um determmado fato (CFESS, 2014, p. 49). podern se Aqui estao expostas questoes complexas, que ensejam continuada fl - e nossa pretensao foi a de instigar a problematiza(;'.ao desse tema, re ex:ao, Cl .al por se tratar de contribui(;'.6es de assistentes sociais, mesmo eIIl espe , ue posicionados em diferentes lugares de uma mesma disputa judicial, ;ara efetiva(;'.a.O do direito de crian(;'.as e adolescentes a convivencia social (familiar e comunitaria) em condi!;:6es dignas.
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