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O Papel das Oficinas de Criatividade Junto a Idosos Intitucionalizados

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0 PAPEL DAS OFICINAS DE 
CRIATIVIDADE JUNTO A IDOSOS 
INSTITUCIONALIZADOS
Luciana Tosetto Gaucher 
Wilma Antonia Nubiato Santesso51
Introdução
Este capítulo faz um apanhado do trabalho realizado por nós como estágio em “Oficina de Criatividade”, oferecido pela Universidade Paulista. A intervenção proposta era implantar e analisar o funcionamento e os resultados de uma Oficina de Criatividade junto a algum segmento da população, através de alguma instituição de nossa escolha. Escolhemos uma instituição para idosos, localizada na zona sul da cidade de São Paulo. A finalidade desta instituição é a de acolher idosos moradores nas ruas, que possuam ou não familiares e que tenham ou não deficiências físicas e mentais, mesmo que limitantes. Abriga mais de 50 idosos, entre homens e mulheres, cuja manutenção vem de doações e voluntariado, oferecidos pela comunidade local. Quanto à manutenção financeira, a maior parte vem do investimento social de uma multinacional e outra parte, da ajuda comunitária, através de bazares e bingos beneficentes.A escolha desta instituição para o desenvolvimento do trabalho deu-se pelo fato desta abrigar pessoas dos mais diversos níveis culturais e intelectuais, que por dificuldades financeiras encontram-se em situação
31. Colaboraram nas oficinas Heloisa Olival Costa e Maria Beatriz C. de Mello. 
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de miséria e abandono, de forma diferente de outras instituições para idosos que abrigam aqueles que têm condições financeiras para residir bem e famílias que venham a seu encontro quando necessário. Nosso objetivo, ao elegermos a instituição para desenvolver a Oficina de Criatividade, foi o de buscar um entendimento sobre as questões que envolvem o sofrimento para as pessoas que não recebem o amparo de suas famílias na fase final da vida e necessitam de alguma forma de intervenção para que ultrapassem obstáculos e limites dessa etapa. Na instituição, os abrigados encontram-se em fase de inserção em um novo grupo onde todos são idosos, ex-desabrigados ou semi-abrigados, sem familiares que lhes dêem amparo e com as doenças físicas e mentais próprias do envelhecimento.
A REALIDADE DO ENVELHECIMENTO
Desde a Antigüidade se discute a respeito do envelhecer. Encontramos leituras sobre direitos dos idosos no Código de Hamurabi, em hieróglifos encontrados no Egito, e citações na Bíblia e no Cristianismo. Em cada cultura, época ou religião o envelhecimento é caracterizado de alguma forma.A velhice é uma categoria social. Cada sociedade vive de forma diferente o desgaste do ser humano. Atualmente a sociedade rejeita o idoso, não querendo continuar a sua obra, por considerar que ele já não é mais produtivo. O idoso detentor de propriedades é mais bem acolhido, pois seus bens o defendem de sua desvalorização como pessoa. Depois do desenvolvimento industrial e urbanístico desordenado, os anciãos foram relegados a situações de marginalização e de empobrecimento.Idosos são populações ou indivíduos que podem ser caracterizados pela duração do seu ciclo vital. Segundo as convenções sócio- demográficas atuais, idosos são pessoas com mais de sessenta anos, nos países em desenvolvimento, e de mais de sessenta e cinco, nos países desenvolvidos (Neri, 2001). O envelhecimento é o processo de mudanças genéticas para a espécie e para cada indivíduo, que se traduz na diminuição da plasticidade comportamental, aumento da vulnerabilidade, acumulação de perdas evolutivas e aumento da probabilidade de morte (Neri, 1995). Beauvoir (1976) o entende como 
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Christina M.B. Cupertino (organizadora) 219
um fenômeno biológico com conseqüências psicológicas consideradas típicas da idade avançada, que modifica a relação do homem no tempo e seu relacionamento com o mundo e com sua própria história.E preferível para o idoso ser independente no ponto de vista econômico, pois isso significa que tem meios para viver dignamente. Depender da família o leva ao retraimento, pois esta vai auxiliando com pequenas quantias em dinheiro quando se faz necessário, o que cerceia sua autonomia. Muitos idosos só apresentam sua necessidade monetária quando se trata de problemas de saúde ou moradia, tendo vergonha de desejar comer melhor ou fazer uma viagem. Ficam na dependência da sensibilidade dos filhos.No Brasil, é característica da relação dos adultos com os velhos a falta de reciprocidade, que se pode traduzir numa tolerância sem o calor da sinceridade (Bosi, 2003). Não se discute com o velho e nem se confronta suas opiniões, negando-lhe a oportunidade de desenvolver aquilo que só se permite aos amigos: a convivência com a alteridade, o enfrentamento e o conflito. Recentemente, certas áreas das ciências sociais despertaram para o estudo dessa temática. A sociologia do envelhecimento constituiu-se como campo específico de investigação a partir do surgimento de um novo fenômeno: o rápido aumento da população de mais de 60 anos.A representação social do idoso conheceu uma série de modificações ao longo do tempo, uma vez que as mudanças sociais reclamavam políticas sociais para a velhice, que pressionaram a criação de categorias classificatórias adaptadas à nova condição moral e a uma construção ética do envelhecer, ou seja, conceder aos idosos condições e direitos para continuarem o restante da vida de forma digna e respeitosa.Em nosso país, o interesse do Estado nas questões ligadas aos idosos caminha a passos lentos. Em 2003 foi criado o Estatuto do Idoso, que entende que o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade, devendo ser objeto de conhecimento e informação para todos, asseverando que os idosos não devem sofrer nenhuma discriminação.
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220 ESPAÇOS DE CRIAÇÃO EM PSICOLOGIA:OFICINAS NA PRÁTICA
0 IDOSO INSTITUCIONALIZADO
Na Holanda do século XV surgiram as primeiras instituições oficiais para acolher idosos carentes ou enfermos e a Inglaterra foi o primeiro país a formalizar programas de cuidados em função do envelhecimento, após a Segunda Guerra Mundial. De maneira geral, a sociedade fecha os olhos para os abusos aplicados contra os idosos, que devido a uma discutível melhora da qualidade de vida, estão crescendo em número a cada ano. Ou seja, cresce a expectativa de vida, e, conseqüentemente, o número de pessoas idosas. Atualmente se morre com mais idade. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), entre 1991 e 2000, aumentou em 47,5% o número de idosos (com 65 anos ou mais). O crescimento da parcela de idosos da população foi de 17% em dez anos. Estima-se que em 2020, os maiores de 60 anos serão 30 milhões, ou o correspondente a 13% da população total do país.Os adultos, segundo Beauvoir (1990), muitas vezes interessam- se pelo idoso como um objeto de exploração. Multiplicam-se clínicas e casas de repouso, onde idosos que podem pagar o fazem a troco de conforto e cuidados, que freqüentemente deixam a desejar. Nessas instituições, apesar de receber os cuidados básicos, o idoso vai perdendo a originalidade, a vontade, a capacidade de projetar o futuro, o raciocínio, a memória, estando sempre à parte do processo da vida (Goffman, 1974). No cansaço e no desgaste do dia-a-dia, a vida vai passando. Os filhos, quando existem, já estão enfrentando os seus próprios problemas, e o velho fica só, sem reservas, sem saúde, sem planos, restringindo-se somente a um lugar para comer, higienizar-se e dormir. Sua vida torna-se mais sem sentido, passando ao isolamento.Quando se fala de idosos institucionalizados, temos que muitas são sqas formas de inserção. A mais comum delas é que muitos idosos dependem de seus filhos, que não podem lhes dar muita atenção, posto que trabalham e possuem seus afazeres, optando por colocá-los em asilos. Outra forma, mais dolorosa, são os idosos que, com o passar dos anos, perdem o contato com seus familiares e sofrem constantes abalos financeiros, que os levam a perder o lar e ir para a rua onde,após algum tempo e com muita sorte, são recolhidos em instituições de benemerência.
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O viver em um asilo faz com que muitas vezes os idosos sintam- se abandonados por seus familiares, que quando existem ou sabem do paradeiro de seus velhos, passam a visitá-los esporadicamente. Além disso, o fato de estarem abrigados em um local com custódia, faz com que fiquem totalmente afastados do seu convívio social anterior.Nesse sentido, a proposta de Oficina de Criatividade traz consigo uma oportunidade de elaboração de um trabalho junto aos idosos, que visa estabelecer redes de relacionamentos e facilitar sua inserção na instituição. Dentro de uma instituição, mesmo sabendo que os idosos têm limitações, pode-se estimular sua capacidade de reflexão e recuperar, pelo menos em parte, a capacidade motora e intelectual. E importante conscientizá-los, de forma gradativa, sobre a necessidade e a importância da interação nesse novo contexto social, criando um espaço em que sejam incentivados a desenvolver uma percepção integral de si e dos outros, através de exercícios de sensibilização, expressão artística e corporal.
0 IDOSO INSTITUCIONALIZADO
E A PROPOSTA DE OFICINA DE CRIATIVIDADE
Quando desenvolvemos o projeto para a aplicação de Oficina de Criatividade junto a idosos institucionalizados, diante do exposto acima sobre o envelhecimento, levantamos a hipótese de que, através da exploração de diversas formas de expressão, poderiamos facilitar o autoconhecimento e levar este grupo à compreensão de atitudes praticadas, no presente e no passado. Com a finalidade de promover a integração dos idosos através da criatividade, investiriamos no resgate da auto-estima e da dignidade, visto que os idosos, em grande parte, sentem-se frágeis e abandonados. Assim, a liberação da criatividade através de recursos expressivos deveria criar condições de desenvolvimento individual e grupai de forma produtiva e agradável.Os exercícios propostos na Oficina, a partir de atividades corporais e utilização de materiais expressivos, permitem aos participantes expressarem uma criatividade mais livre. Estes passam a ter, pouco a pouco, uma memória de instantâneos reconstituídos e transformados em seus trabalhos expressivos. A Oficina de Criatividade pode desempenhar, em uma instituição para idosos, um papel de 
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fundamental importância, uma vez que, por meio dela, é possível explorar a expressividade e modificar a forma de ver o mundo.A implantação de Oficina de Criatividade persegue, como produto adjacente, uma visão do ser humano contemporâneo como alguém que pode e deve expressar seus pensamentos e sentimentos, sem o receio de ser censurado. Para isso, utiliza a arte como estímulo sensorial, despertando capacidades. Podem também ser realizados exercícios de estimulação dos sentidos, trabalhando as percepções, explorando possibilidades e capacidades de cada um. Na Oficina de Criatividade pode-se trabalhar não só os conflitos e angústias, mas o florescimento das potencialidades criativas, desenvolvendo a recuperação da auto- estima, interação e integração dos idosos na instituição.O fazer artístico viabiliza a criatividade e o contato com os mais diversos tipos de elementos que constituem essa forma de linguagem, em uma atitude de constante reflexão e análise. Através da Oficina, a potencialidade criativa expressiva de cada um emerge a partir da prática, levando em conta o ritmo, as necessidades, e os interesses de cada um, visando um espaço interativo de criação. Os trabalhos ressaltam as possibilidades, fazendo reviver no grupo a sua condição de humanidade, individualidade e coletividade (Schmidt e Ostronoff, 1999).Tudo isso pode demarcar um lugar para a Oficina de Criatividade como prática possível para o atendimento à população de idosos, trabalhando percepções, explorando suas possibilidades criativas, levando em consideração as necessidades e interesses de cada um. Outro objetivo é fazer com que o idoso participante de uma Oficina de Criatividade analise a sua possível mudança e a adaptação à instituição, levando em conta que, sendo indivíduo, é um ser em constante evolução, participante de um mundo do qual recebe impactos e no qual também provoca reações.
AS VIVÊNCIAS E OS PROCESSOS NOS GRUPOS
Despertar as capacidades, além de caracterizar-se como um espaço de elaboração da experiência pessoal e coletiva por meio de recursos expressivos (Jordão, 1999). Esse foi o conceito de Oficina de Criatividade utilizado por nós no atendimento. Sabemos que a criatividade está presente em todos os indivíduos, mas nos idosos mostra- 
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se mais inibida por fatores próprios da idade, como as dificuldades motoras e de locomoção, doenças degenerativas e os problemas de memória. Desta forma, encaramos a Oficina como um instrumento positivo para o aparecimento do processo criativo, que aflora quando os participantes respondem prontamente às atividades.Para a intervenção, formamos duas duplas para aplicarmos as atividades de Oficina junto aos idosos, uma para a ala feminina e outra para a masculina. As atividades com o grupo feminino foram dirigidas a um público flutuante de 26 mulheres, com idades variáveis entre 60 e 90 anos. Falamos flutuante porque, em princípio, todas as mulheres interessaram-se pelo trabalho, mas a cada encontro compareciam as que tinham condições de participar. Na ala masculina, o grupo mostrou menos interesse em participar de atividades com recursos expressivos como a manipulação de tinta, papel, linha etc., por questões culturais, visto que, no entendimento geral deles, muitas dessas ferramentas são voltadas exclusivamente para mulheres. Por esse motivo, procurou-se utilizar o tempo disponível em atividades mais livres, evitando constrangimentos, além do número de participantes do grupo por atividades ser totalmente aberto e flutuante.As atividades na ala feminina foram iniciadas através de entrevistas de avaliação de demanda, observações e atendimento individual e grupai no período de dois meses, sendo os encontros realizados uma vez por semana, com duas horas de duração. O embasamento teórico das atividades foi elaborado através de pesquisa bibliográfica. A instituição colocou à disposição para a realização das atividades uma sala e o quiosque. A articulação das atividades levou em consideração o ritmo e o interesse das idosas, e elas foram orientadas para a conscientização gradativa e contínua da necessidade e da importância dos cuidados com seus corpos e mentes, estimulando a criatividade e a imaginação através de exercícios e manifestações artísticas. Com elas, visamos atingir conflitos e angústias, favorecendo o florescimento de potencialidades criativas e promovendo a recuperação da auto-estima. Com relação às mulheres, pretendíamos que a potencialidade criativa e expressiva de cada uma emergisse a partir da prática, levando em conta o ritmo, as necessidades e os interesses individuais, visando um espaço interativo de criação. Foram aplicadas técnicas previamente estruturadas e algumas improvisadas em função do contexto momentâneo.
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Com os homens não houve avaliação da demanda, pois o início das atividades não foi concomitante com o das mulheres, ocorrendo posteriormente. Além disso, com a dificuldade de aceitação de determinados recursos expressivos, nos limitamos a alguns que eram aceitos pelo grupo. As atividades também levaram em consideração o interesse dos idosos, sendo elaboradas em bases teóricas através de bibliografia. Na ala masculina não havia um espaço específico para a realização das atividades, então utilizamos a própria sala de estar e o pátio da instituição.Com as idosas, trabalhamos abordando temas relacionados com a questão do envelhecimento, seu significado e suas conseqüências,acoplados à utilização de Oficinas de Criatividade como ferramenta de motivação. Focalizamos aspectos como o viver asilado, o distanciamento de filhos e familiares e o afastamento do convívio social de amigos e vizinhos, festas, encontros sociais, clubes e igrejas e atividades prazerosas que compartilharam no passado. Nas oficinas, pudemos realizar atividades de discussão de filmes brasileiros antigos, trazendo de volta valores e experiências prévias à sua realidade atual; músicas sugeridas por elas, tocadas para reviver situações da vida de cada uma; leitura de textos e poesias voltadas para as vicissitudes humanas, o envelhecer e a morte; receitas da arte culinária familiar e depoimentos pessoais sobre situações a elas ligadas; utilização de recortes de revistas para colagens ou histórias; aplicação de diversos materiais em atividades artesanais; manipulação de materiais de estimulação sensorial, como essências de perfume; e muitas manifestações plásticas, através de colagens, desenhos, sempre antecedidas por uma introdução onde se explicava a atividade e um relaxamento para prepará-los para a participação ativa. Ao final das intervenções era feita a parte mais importante: recolher os depoimentos e fazer uma análise conjunta, tanto da apresentação em si, como dos afetos que a atividade despertou e assim levá-los à compreensão de alguns de seus sentimentos mais angustiantes.Nos encontros com os homens, propusemos atividades mais livres, como leitura de fábulas que focavam o envelhecimento, músicas antigas que fizeram com que eles entrassem em contato com o passado, trazendo à tona a realidade atual, fazendo com que eles expressassem suas angústias e desejos. Elaboramos, também, projeto de montar uma peça de teatro que expressasse seus sentimentos, dando-lhes a responsabilidade 
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de elaborar o roteiro, para que percebessem que eram capazes de muita coisa ainda, melhorando a sua auto-estima. Finalizamos com um desenho com uma temática onde puderam expressar no papel o que a Oficina de Criatividade tinha representado para eles. Ressaltamos aqui que, como os idosos se mostraram um pouco receosos com os recursos artísticos, as escolhas das atividades iam acontecendo de acordo com a maneira que se encaminhavam nossos encontros.As atividades realizadas junto ao grupo de idosos mostraram que a Oficina é viável como veículo para interação, compatível com a realidade dos institucionalizados. Nas atividades, observou-se no início a imensa dificuldade que alguns idosos encontraram em expressar o que sentiam, de experimentar algo novo, pois tinham medo de errar, sentindo-se frágeis e precisando de ajuda. Importante observar que foi um trabalho dinâmico que envolveu muitas pessoas de uma só vez, no qual cada uma delas acrescentou algo à experiência da outra. Como oficineiras, permanecemos numa atitude de escuta, reconhecendo aquilo sobre o que não podíamos interferir em determinados momentos, mas quando possível, ajudamos a dar um novo ritmo ao desenrolar da Oficina, propondo atividades e assuntos baseados no cabedal teórico que recebemos durante o curso de Psicologia. Por ser um trabalho desenvolvido sobre uma base fenomenológica, privilegiamos o que as idosas traziam no momento, fazendo assinalamentos e evitando interpretações.
0 DESENVOLVIMENTO DO GRUPO DE IDOSAS
A integração entre as mulheres deu-se de forma lenta, pois, tendo uma longa experiência de-vida, possuem suas crenças e valores arraigados, e muitas vezes não abriam mão de suas opiniões. A experiência de desprendimento e escuta das demais por vezes não foi fácil para as idosas, porém foi significativa. No decorrer das atividades foi possível observar mudanças importantes na forma de relacionarem- se umas com as outras, pois houve uma maior aceitação das diferenças individuais e uma maior integração do grupo.Percebemos que as mulheres idosas, no cotidiano da instituição, acabam por perder a curiosidade e a capacidade de criar, pois os acontecimentos rotineiros não geram novas idéias, não nutrem mais seu lado criativo. A instituição não oferece novas informações sobre 
226 ESPAÇOS DE CRIAÇÃO EM PSICOLOGIArOFICINAS NA PRÁTICA
assuntos variados, o que não contribui para que mantenham o interesse aceso, relegando-o a encontros casuais com eventos externos, que não oferecem necessariamente a oportunidade de novas descobertas. Nem a questão da morte é tratada, mesmo que no cotidiano das idosas institucionalizadas a morte seja uma constante.As idosas mostraram preconceitos que bloqueiam a sua criatividade e sua inserção no grupo: em uma das atividades, uma das idosas afirmou: “não posso pintar porque estou velha”. O sentimento dc inferioridade por estar velha não permitiu um momento de descontração e de atividade conjunta. Durante o tempo em que foi aplicada a Oficina, pudemos promover algumas modificações na rotina do dia-a-dia, visto que, pelo menos num dia da semana, as idosas participantes passaram a ter uma forma para pensar e criar, desenvolvendo uma maior valorização de suas próprias produções, o que favoreceu a confiança em si mesmas e nas construções, tanto materiais como afetivas realizadas por elas.A Oficina de Criatividade proporcionou às idosas a oportunidade de descobrirem o prazer do ato de inovar, de conhecerem o sentimento de estarem ainda interferindo no mundo e que não são “velhas inúteis” como aprenderam a pensar sobre si mesmas. Assim, passaram a procurar mais o campo da criação, da imaginação e das fantasias, ou seja, romperam seus bloqueios, questionando novas maneiras para enfrentarem e resgatarem uma parte do que perderam junto com a liberdade de ir e vir.Em todos os nossos encontros, as idosas falavam de sua intenção de voltarem para a casa de seus filhos e de viverem junto com seus netos, mas estas falas em geral eram fantasiosas, pois sabem que não voltarão para o convívio de seus filhos, já que a maioria delas foi recolhida na rua. Falar sobre isso, no entanto, sem receber críticas, causava um certo conforto e uma forma de luta contra a certeza do abandono. E percebemos, também, que durante a participação na Oficina, muitas destas mulheres passaram a interagir mais com as colegas, mostrando um maior grau de ligação com sua situação atual, ao invés de criarem formas fantasiosas de protegerem-se contra o abandono. A cada Oficina percebemos o quanto a música, o filme e a poesia proporcionam bem-estar, acabando, pelo menos naquele momento, com a tristeza, a decepção, a depressão ou a confusão mental.
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As idosas tiveram a possibilidade, através do ato de ver e ouvir coisas que faziam ecoar seu passado, de saírem de um estado de desânimo e poderem abrir-se e falar e, em seus depoimentos, puderam refletir sobre suas vidas.Na atividade em que foi passado um filme, este claramente ativou- lhes a imaginação e concentração, constituindo-se em verdadeira mensagem na dinâmica do pensamento das idosas, suas fantasias, experiências passadas, relacionando-as com o presente. Essa percepção demonstrou a capacidade de captar não o que estava na superfície aparente dos fatos, e assim, emergiram as carências, conflitos, emoções, sentimentos e lembranças.Algumas idosas, em suas atividades e depoimentos, demonstraram a capacidade de gerir sua própria vida, opinar com independência e autonomia, e este foi um ganho que puderam adquirir durante a prática da Oficina de Criatividade. Também é importante ressaltar o interesse que as idosas tiveram em escolher as próximas atividades e dar continuidade no processo da Oficina. Mostraram-se comprometidas com o trabalho, deram opiniões, sugeriram o que mais gostavam e foram sinceras quando não tinham interesse em alguma atividade levantada.A Oficina ofereceu a estas mulheres a estimulação da memória, apesar de algumas possuírem enfermidades limitantes e incapacidades físicas e mentais. Conforme resgatavam o seu passado, conversavam bastante, trocavam experiências e compartilhavamaspectos que marcaram as suas vidas. A Oficina de Criatividade foi riquíssima, com grande crescimento tanto emocional como na compreensão do outro.
0 DESENVOLVIMENTO DO GRUPO DE IDOSOS
A experiência de Oficina de Criatividade com os idosos foi diferente daquela da ala feminina da instituição, e como já foi dito, foram feitas poucas atividades com recursos expressivos, que consideravam típicas de mulheres. Na maioria dos encontros oferecemos espaço para falarem dos seus sentimentos, deixando-os à vontade para expressarem-se de maneira própria. Em um dos encontros, trabalhamos com a música Emoções, interpretada por Roberto Carlos, escolhida exatamente por tratar de sentimentos e emoções, que foram de fato despertados.
Obras protegidas por Direitos de Autor
226 ESPeÇOS □€ C5.AÇÃC =* =SCO_OGA O=CNAS \A ^'O
Em outros encontros focamos a montagem de uma peça de teatro, cujo tema seria uma representação do envelhecer. Porém. não hom e compromisso por parte da grande maioria dos internos, exceto um, que tinha sido ator Nesse dia, nossa percepção da apatia dos idosos em relação à realização de atividades diferentes ficou ainda mais fone e decidimos, então, criar um espaço de expressão sem atividades específicas.Uma boa participação foi percebida em uma Oficina em que foram lidos dois contos sobre velhice. Esse encontro foi bastante surpreendente, pois todos os idosos se expressaram, cada um à sua maneira, mostrando um aumento de auto-estima e vontade contagiante. No último encontro propusemos a eles que desenhassem, de uma forma livre, o que a Oficina de Criatividade tinha representado para eles, e depois explicassem o que haviam produzido. Foi aqui que pudemos perceber o quanto foi importante o nosso olhar e a nossa escura, já que nos desenhos apareceram formas como luz, agradecimento e crescimento.
Oficinas de criatividade como atendimento 
PSICOLÓGICO AO IDOSO
Ao iniciarmos o trabalho de implantação e análise da implantação da Oficina de Criatividade junto aos idosos institucionalizados, a expectativa era de uma participação criativa, desencadeada pela apresentação de músicas, poesias e filmes, com a finalidade de desvelar a criatividade humana no envelhecimento. A expectativa era que o trabalho fosse difícil. Após a experiência, percebemos que a aplicação da Oficina não é difícil, mas trabalhosa, exigindo paciência, e que, ao final, mostrou-se muito gratificante.Durante a Oficina foi possível colocar em prática várias atividades aprendidas no curso, assim como procurar novas técnicas viáveis para os diversos momentos, permitindo a atuação junto aos idosos, promovendo a integração, interação e a ressignificação de experiências. Conseguimos elevar a auto-estima, redescobrir valores e potenciais, criar vínculos, reduzir a apatia. A Oficina na instituição para idosos mostrou ser importante e viável, promovendo a exploração da criatividade adormecida pela rotina da vida asilada.
Christina M.B.Cupertino (organizadora) 229
Para nós, oficineiras, promoveu, em nosso desenvolvimento como psicólogas e como pessoas, uma transformação e uma nova visão de mundo e dos outros e sobre a forma como podemos atuar.Trabalhar com a criatividade é viver um processo de aprender, desaprender e reaprender, o que, se é desconfortável porque é instável, promove quase que uma constante revisão de nós mesmos. Tentar compreender o criar e o inventar é, também, um processo de criação e invenção. Na tentativa de apreendê-lo, o profissional reconhece o benefício de permanecer mais atento ao que acontece a sua volta, tendo sua vivência atrelada à constatação da impossibilidade cada vez maior de realizar essa apreensão de forma definitiva (Cupertino, 2001).Ser o psicólogo que acompanha a implantação de Oficinas de Criatividade é ter uma visão do mundo pela qual teoria e prática não se desvinculam. Como psicólogas, aplicamos as atividades com uma visão ampliada e respaldada na teoria, e é isso que caracteriza as atividades da Oficina de Criatividade como atendimento psicológico, diferenciando- a das atividades de recreação usuais nas instituições para idosos.Se em vários momentos percebemos que o que fazíamos lá (exibição de filmes, leitura de poemas, entre outras coisas) podia assemelhar-se ao trabalho de qualquer voluntário, diferentemente destes, como psicólogas, usamos a arte como veículo para expressão das demandas afetivas dos participantes. A função e a atuação do psicólogo residem na atitude centrada na relação com o outro. Por meio de uma atitude de escuta seletiva, busca-se dar oportunidade de uma tomada de consciência e ampliação do potencial de cada participante por canais não-racionais e não-verbais de expressão. Importante também é o planejamento, isto é, a constituição de cada grupo, de acordo com a demanda e suas necessidades.Segundo Cupertino (idem), o trabalho psicológico é carregado de particularidades que exigem do profissional um estado constante de atenção, simultaneamente endereçada a ouvir o outro e, ao mesmo tempo, a si mesmo. A diferença de uma Oficina de Criatividade e o desenvolvimento de técnicas criativas por voluntários ou outros profissionais é que o psicólogo cria um espaço para troca de experiências e expressão de sentimento, com a finalidade de atuar junto ao idoso e não o de ajudá-lo a ocupar seu tempo ocioso. Cada palavra é ouvida atentamente e analisada visando a ressignificação do pensamento dos 
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230 ESPAÇOS DE CRIAÇÃO EM PSICOLOGIA:OFICINAS NA PRÁTICA
envolvidos, promovendo o trânsito da comunicação no grupo, esclarecendo e explorando sentimentos.A opção pela oferta de uma Oficina de Criatividade para idosos asilados, além de desafiadora, foi prazerosa. Porém, foi muito mais que isto: foi uma vitória na direção de revermos preconceitos e nos abrirmos para o novo. Para Rogers, autor da Abordagem Centrada na Pessoa, “uma pessoa é criativa na medida em que realiza suas potencialidades como ser humano” (1977:24). Na instituição, entramos preparados a olhar cada indivíduo como um ser humano carregado de sentimentos. E no processo percebemos que, mais importante do que olhar, foi poder desenvolver nossa escuta, que Rogers nomeia como empática e que significa estar disposto a verdadeiramente ouvir e compreender o outro no que há de mais profundo. Um olhar e uma escuta autênticos têm o efeito de facilitar o crescimento pessoal, propiciando mudanças. Não estávamos preocupadas em interpretar, analisar ou impor nossas teorias e idéias sobre as experiências vividas, mas sim em escutar e, junto com eles, facilitar a reformulação de pensamentos e sentimentos. Foi nesses encontros que demos aos idosos a oportunidade de perceber suas potencialidades e facilitar a compreensão, promovendo a tomada de consciência de cada um. A Oficina de Criatividade proporcionou um crescimento mútuo, das psicólogas e dos idosos. Todos ali, de alguma maneira, tiveram um desenvolvimento pessoal e é assim, elaborando cada vez mais nossa escuta, que temos a certeza que, se formos abertas a cada relação que encontrarmos na vida, a ajuda acontecerá.
Referências Bibliográficas
BEAUVOIR, S. de. A velhice: a realidade incômoda. 2 ed. São Paulo: Difusão 
Européia do Livro, 1976. v. 1.
____________ A velhice. Trad. Maria Helena Franco Monteiro. Rio de Janeiro: 
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BOSI, E. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das 
Letras, 2003.
CUPERTINO, C. M. B. Criação e formação: fenomenologia de uma oficina. São 
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GOFFMAN, E. Manicômios, prisões e conventos. São Paulo: Perspectiva, 1974.
Obras protegidas por Direitos de Autor

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