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Prof. Diego Camargo Mestre em Engenharia de Transportes – EESC/USP FERROVIAS Aula 02 – Mecânica da locomoção PARTE 1 (Força de propulsão e esforço trator em locomotivas diesel-elétrico) INTRODUÇÃO • Uma ferrovia é constituída basicamente de três elementos físicos e um elemento virtual: Fonte: Rosa, R. A. (2016) INTRODUÇÃO • O Material Rodante se divide em: material de tração — composto por locomotivas e equipamentos de via — e material rebocado — os vagões. • Segundo Rosa (2016) o custo de construção de um quilômetro de ferrovia é estimado em US$ 1.000.000 a 1.500.000. • O custo de manutenção por quilômetro de ferrovia é estimado entre US$ 7.000 a 15.000/ano CARGAS TRANSPORTADAS • Carga geral: – é identificada unitariamente. São exemplos desse tipo de carga: blocos de granito, bobinas de aço, fardo de celulose, placa de aço, entre outras. Visando facilitar o manuseio e o transporte, foram criadas formas de unitização da carga. Existem três formas principais de unitização: pallet, big bag e contêiner. • Carga a granel: – seus elementos não se distinguem em unidades, ou seja, é feita pela tonelagem total, e não unitariamente. Alguns exemplos de produtos transportados a granel são: soja, farelo de soja, álcool, gasolina, gusa, toras e/ou toretes de madeira, entre outras. COMPOSIÇÃO FERROVIÁRIA • Os trens são também conhecidos como composição ferroviária e são formados por uma ou mais locomotivas acopladas por meio de engates a um ou mais vagões. • As composições ferroviárias podem ser classificadas em função da localização das locomotivas em sua extensão: – Tração simples; – Tração múltipla; – Tração distribuída; – Composição com Helper. COMPOSIÇÃO FERROVIÁRIA Fonte: Rosa, R. A. (2016) Fonte: Rosa, R. A. (2016) COMPOSIÇÃO FERROVIÁRIA Fonte: Rosa, R. A. (2016) MATERIAL RODANTE • Tipos de vagões: – Gôndola; – Hopper; – Isotérmico; – Plataforma; – Tanque; – Especiais MATERIAL RODANTE • Gôndola MATERIAL RODANTE • Hopper MATERIAL RODANTE • Isotérmico MATERIAL RODANTE • Plataforma MATERIAL RODANTE • Tanque MATERIAL RODANTE • Especiais MATERIAL RODANTE • Locomotivas FORÇA DE PROPULSÃO • Metrôs e bondes: – Cada vagão possuí o seu. • Trens: – Composições elétricas; – Locomotivas diesel-elétricas: rodas motrizes. FORÇA DE PROPULSÃO • O movimento de uma composição ferroviária depende das forças que atuam sobre ela e das regras estabelecidas para operação para o trecho pelo qual o trem viaja. Ft= Força motriz / de propulsão R = Resistência Nf= Força normal G = Força peso O que acontece se: Ft= R? Ft> R? Ft< R? FORÇA DE PROPULSÃO • Motores: Transforma energia em força • Trabalho produzido: W = Ft . S W = Trabalho (N.m ou J) Ft= Força de propulsão (N) S = distância (m) • A potência é a derivada do trabalho em função do tempo: P = dW/dt = Ft. dS/dt FORÇA DE PROPULSÃO • Ou seja, a potência de uma locomotiva é dada pelo produto da força de propulsão e a velocidade por ela desenvolvidas. • Se a potência da locomotiva for dada em quilowatts [kW] e a velocidade em quilômetros por hora [km/h], temos: 𝐹𝑡 = 3600. 𝑃 𝑉 𝐹𝑡: Força de propulsão ou força motriz [N]; 𝑃: Potência da locomotiva [kW]; 𝑉: Velocidade [km/h] FORÇA DE PROPULSÃO • Potência de motores costuma também ser dada em horse- power [hp], sendo 1hp = 745,7W e 1 m/s = 3,6 km/h, temos: 𝐹𝑡 = 2685. 𝑃 𝑉 𝐹𝑡: Força de propulsão ou força motriz [N]; 𝑃: Potência da locomotiva [hp]; 𝑉: Velocidade [km/h] FORÇA DE PROPULSÃO • Nem toda potência da locomotiva é usada para a locomoção do trem. • Uma parte é usada para acionar sistemas auxiliares (iluminação, compressores, etc.) e uma outra parte é perdida por ineficiências. • Eficiência da transmissão: 𝐹𝑡 = η. 3600. 𝑃 𝑉 η: é a eficiência da transmissão (valor típico para locomotivas diesel-elétricas 0,81) FORÇA DE PROPULSÃO • Considerando a eficiência de transmissão para locomotivas diesel-elétrica temos (para 𝐹𝑡 em [N] e V em [km/h]): – Potência em kW 𝐹𝑡 = 2916. 𝑃 𝑉 – Potência em hp 𝐹𝑡 = 2175. 𝑃 𝑉 LOCOMOTIVAS DIESEL-ELÉTRICA • Funcionam com o mesmo princípio do motor elétrico de tração, porém a diferença é a geração de energia através dos geradores a diesel. • Esse sistema permite que a energia de potência P seja constante, qualquer qualquer que seja a velocidade. LOCOMOTIVAS DIESEL-ELÉTRICA • Quanto menor a velocidade – Maior a corrente elétrica; – Maior o torque; – Menor a rotação do motor; – Menor a voltagem (tensão). LOCOMOTIVAS DIESEL-ELÉTRICA • Limite de operação: – Se a corrente for excessiva, ocorrerá um superaquecimento do motor que pode até causar a sua queima. – Para que não haja o superaquecimento deve ser estabelecido um limite máximo para a corrente elétrica. – Quando o motor funciona em alta rotação, a velocidade do trem é alta, assim como também é alta a diferença de potencial aplicado ao motor. – Há um limite de diferença de potencial, que é estabelecido pelas características do isolamento do motor. LOCOMOTIVAS DIESEL-ELÉTRICA LOCOMOTIVAS DIESEL-ELÉTRICA • Tração por aderência: – Deve existir um atrito entre a roda e o trilo para que haja tração para a movimentação da composição. – O torque T, aplicado ao eixo conectado à roda corresponde a T = 𝐹𝑡 . 𝑟. – Na zona de contato entre roda e trilho. 𝐹𝑎 = 𝑁. 𝑓 ADERÊNCIA MÁXIMA • Se a força de torque for maior que a força de atrito a roda da locomotiva patina; • A aderência, portanto, determina qual a maior força motriz que deve ser utilizada para movimentar o veículo. 𝐹𝑚á𝑥 = 𝑓. 𝑇𝑑 𝐹𝑚á𝑥: força motriz máxima [N]; 𝑓: coeficiente de aderência; 𝑇𝑑: peso aderente da locomotiva [N] PESO ADERENTE • O peso aderente é o peso que atua sobre as rodas motrizes da locomotiva; • Para melhor aproveitamento do peso aderente é interessante que todos os eixos sejam motrizes; RESISTÊNCIA AO MOVIMENTO RESISTÊNCIA AO MOVIMENTO • Quando um veículo terrestre se encontra em movimento, surgem diversas forças que se opõem ao movimento; • Este conjunto de forças damos o nome de Resistência ao Movimento. RESISTÊNCIA AO MOVIMENTO • A resistência ao movimento de um trem possui quatro componentes principais: – Resistência de rolamento (𝑅𝑟); – Resistência aerodinâmica (𝑅𝑎); – Resistência de rampa (𝑅𝑔); – Resistência de curva (𝑅𝑐). 𝑅 = 𝑅𝑟 + 𝑅𝑎 + 𝑅𝑔 + 𝑅𝑐 𝑅𝑡 𝑅𝑡 - Resistência inerente ao movimento RESISTÊNCIA DE ROLAMENTO – É causada pela deformação da roda e do trilho no seu ponto de contato; – Pelo atrito interno do motor; – Atrito entre eixos e mancais, rodas e trilhos; – Pelo balanço das rodas; – Pelos choques entre as flanges das rodas e os trilhos. 𝑅𝑟 = 𝑐1 + 𝑐2𝑥 𝐺 + 𝑐3 ∗ 𝑉 ∗ 𝐺 𝑅𝑟 = Resistência de rolamento (N) 𝑥 = Número de eixos da locomotiva/vagão G = Peso da locomotiva ou vagão (kN) V = Velocidade de operação (km/h) 𝑐1 = Constante do efeito da deformação da roda e do trilho (~0,65) 𝑐2 = Constante do efeito do atrito nos mancais (~125) 𝑐3 = Constante do efeito do atrito entre os frisos da roda e o trilho (~0,009 para vagões de passageiros e locomotivas e ~0,013 para vagões de carga) RESISTÊNCIA AERODINÂMICA • Chamada, também, de resistência aerodinâmica ou arrasto; • Depende de fatores, como por exemplo: – seção transversal frontal, – o comprimento, – a forma e rugosidade da superfície externa das locomotivas e vagões, – a velocidade com que a composição se desloca, – a velocidade e direção do vento. RESISTÊNCIA AERODINÂMICA 𝑅𝑎 = 𝑐𝑎𝐴𝑉 2 𝑅𝑎 = Resistência aerodinâmica (N) 𝑐𝑎 = Constante do efeito aerodinâmico (várias unidades) A = Área frontal do veículo (m²) V = Velocidade (km/h) RESISTÊNCIA INERENTE AO MOVIMENTO A resistência inerente ao movimento, que também pode ser conhecida como resistência básica 𝑅𝑡 = 𝑅𝑟 + 𝑅𝑎 Considere um vagão com massa bruta de 100 toneladas (peso = 980,60 kN), área frontal de 8m², que se movea 60 km/h. 𝑅𝑡 = 𝑅𝑟 + 𝑅𝑎 = 𝑐1 + 𝑐2𝑥 𝐺 + 𝑐3 ∗ 𝑉 ∗ 𝐺 + 𝑐𝑎𝐴𝑉 2 0,65 + 125 ∗ 4 980,60 + 0,013 ∗ 60 ∗ 980,6 + 0,009 ∗ 8 ∗ 602 = 2161 𝑁 RESISTÊNCIA DE RAMPA • A resistência a rampa é causada pela ação da gravidade terrestre sobre o trem, e: – É positiva (ou seja, atua no sentido contrário ao movimento) numa subida; – É negativa (ou seja, atua no sentido do movimento) numa descida; 𝑅𝑔 = 10𝐺𝑖 𝑅𝑔 = Resistência de rampa (N) 𝐺 = Peso do veículo (kN) 𝑖 = rampa (%) RESISTÊNCIA DE RAMPA • Considere um vagão com massa bruta de 100 toneladas (peso = 980,60 kN), área frontal de 8m², que se move a 60 km/h (já calculado anteriormente). Numa rampa de 0,5%, a resistência total (resistência básica mais a resistência de rampa) será: 𝑅 = 𝑅𝑡 + 𝑅𝑔 = 2161 + 10 ∗ 980,6 ∗ 0,5 = 7064 𝑁 • Ou seja, a resistência de rampa é mais que o dobro da resistência básica (69% da resistência total). Se a inclinação da rampa fosse maior a participação da resistência à rampa aumentaria. RESISTÊNCIA DE CURVA • É causado tanto pela força centrífuga que aumenta o atrito entre a roda e o trilho do trem, como pelo fato de que as rodas externas do truque são arrastadas numa curva. RESISTÊNCIA DE CURVA • A figura abaixo mostra as forças que atuam num veículo ferroviário que faz uma curva com superelevação e; • A resultante U da força centrífuga 𝐹𝑐 e do peso G pode ser decomposta em duas forças: T e 𝐹𝑟𝑐. • O ideal é que a superelevação elimine a componente 𝐹𝑟𝑐, mas em pontos em que 𝐹𝑟𝑐 não é nulo o friso das rodas comprime a lateral do trilho, causando atrito adicional nas curvas. RESISTÊNCIA DE CURVA • A estimativa da resistência de curva é normalmente feita por fórmulas empíricas, como a fórmula da AREA (American Railway Engineering Association): 𝑅𝑐 = 698 ∗ 𝐺 𝑟 𝑅𝑐 = Resistência de curva (N) 𝐺 = Peso da locomotiva ou vagão (kN) 𝑟 = raio de curva (m) RESISTÊNCIA DE CURVA • Considere um vagão com massa bruta de 100 toneladas (peso = 980,60 kN), ao entrar numa curva cujo raio é 500m. 𝑅𝑐 = 698 ∗ 𝐺 𝑟 = 698 ∗ 980,6 500 = 2378𝑁 COMPENSAÇÃO DE RAMPAS EM CURVAS • Compensação de rampas em curvas: deve-se evitar que um trecho com rampa e curva gere uma resistência maior que a resistência gerada da maior rampa do percurso ferroviário, tornando mais eficiente a potência fornecida. 𝑅𝑔𝑚á𝑥 > 𝑅𝑔 𝑖 + 𝑅𝑐 • Essas rampas compensadas garantem uma utilização mais eficiente da potência disponível das locomotivas, porque evitam a necessidade de aumentar a potencia da composição COMPENSAÇÃO DE RAMPAS EM CURVAS • Considere um vagão com massa bruta de 100 toneladas (peso = 980,60 kN) em uma rampa de 0,5%. Determine qual a redução na rampa necessária para compensar o efeito da curva de 500 m de raio. 7064 = 10 ∗ 980,6 ∗ 𝑖 + 2378 𝑖 = 4686 9806 = 0,48% VELOCIDADE DE EQUILÍBRIO VELOCIDADE DE EQUILÍBRIO • O movimento do trem depende da resultante dessas duas forças: – Se 𝐹𝑡 − 𝑅𝑡 ≠ 0, a composição está acelerando ou desacelerando; – Se 𝐹𝑡 − 𝑅𝑡 = 0, a velocidade do trem se mantém constante. • Quando 𝐹𝑡 = 𝑅𝑡, a velocidade à qual o trem viaja é chamada de velocidade de equilíbrio. VELOCIDADE DE EQUILÍBRIO • Resistência inerente ao movimento 𝑅𝑡 = 𝑅𝑟 + 𝑅𝑎 𝑅𝑡 = 𝑛𝐿𝑅𝑟𝐿 + 𝑛𝐿𝑅𝑎𝐿 + 𝑛𝑉𝑅𝑟𝑉 + 𝑛𝑉𝑅𝑎𝑉 𝑛𝐿 - Número de locomotivas; 𝑅𝑟𝐿 - Resistência de rolamento de uma locomotiva; 𝑅𝑎𝐿 - Resistência aerodinâmica de uma locomotiva; 𝑛𝑉 - Número de vagões; 𝑅𝑟𝑉 - Resistência de rolamento de um vagão; 𝑅𝑎𝑉 - Resistência aerodinâmica de um vagão. VELOCIDADE DE EQUILÍBRIO • Como a velocidade de equilíbrio é a força motriz igual a resistência, então: 2175 ∗ 𝑃 𝑉 = 𝑛𝐿𝑅𝑟𝐿 + 𝑛𝐿𝑅𝑎𝐿 + 𝑛𝑉𝑅𝑟𝑉 + 𝑛𝑉𝑅𝑎𝑉 • Conforme visto, a equação de 𝐹𝑡 utilizada considera a potência em horse-power [hp] e a velocidade em quilômetros por hora [km/h]. EXERCÍCIO • Seja um trem que viaja num trecho reto e plano e é composto por 3 locomotivas de 3.000hp, com peso de 1.300kN cada e 80 vagões de minério, com peso de 1.100kN cada. Sabe-se que a área frontal das locomotivas é de 10m² e a dos vagões 8,5m²; tanto os vagões como as locomotivas têm quatro eixos, sendo que nas locomotivas todos os eixos são eixos motrizes. A velocidade máxima das locomotivas é de 105km/h; a mínima é 15km/h; a aderência 0,2. Determine a velocidade de equilíbrio.
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