Buscar

DIREITO CIVIL - SUCESSOES

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 125 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 125 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 125 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

DIREITO CIVIL
Sucessões
Profª. Maitê Damé
 
 
I – SUCESSÃO EM GERAL 
1. Abertura da sucessão 
A sucessão se abre com o óbito. No exato momento da morte há a abertura da 
sucessão e a transmissão da herança (bens, dívidas, créditos e obrigações) deixada 
pelo falecido aos herdeiros (princípio da saisine) – art. 1.784. 
Não há herança de pessoa viva, embora possa ocorrer a sucessão do ausente. 
São, portanto, pressupostos da sucessão: 
a) que o de cujus tenha falecido; 
b) que lhe sobreviva herdeiro. 
Se o autor da herança estiver vivo, não há sucessão. Assim, só se abre a 
sucessão havendo óbito real ou presumido. 
Em termos de morte civil, existem três modalidades: a) morte real; b) morte 
presumida sem declaração de ausência; c) morte presumida com declaração de 
ausência. 
 
a. Morte real 
Aquela que se dá com corpo presente, ou seja, existe a materialidade (morte 
natural, por atropelamento, por um tiro, cerebral, ...). Neste caso, necessário um laudo 
médico, atestando a morte, para a elaboração do registro do óbito. 
 
b. Morte presumida sem declaração de ausência 
Via de regra é preciso que haja a apresentação do atestado de óbito para que 
possa ser considerada aberta a sucessão. Contudo, há casos em que a morte é 
presumida, quando, por exemplo, o corpo do de cujus não é encontrado em razão de, 
por exemplo, ter desaparecido em um naufrágio ou incêndio, de forma a impossibilitar 
a constatação da morte via atestado de óbito: 
- desaparecimento do corpo da pessoa, sendo extremamente provável a morte 
de quem estava em perigo de vida; 
- desaparecimento de pessoa envolvida em campanha militar ou feito 
prisioneiro, não sendo encontrado até dois anos após o término da guerra. 
Art. 7. Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: 
I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; 
 
 
 
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for 
encontrado até dois anos após o término da guerra. 
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente 
poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo 
a sentença fixar a data provável do falecimento. 
 
Nestes casos, após buscas e averiguações poderá ser requerida a declaração 
judicial da morte presumida, quando, na sentença, deverá constar a data provável do 
falecimento1. 
 
c. Morte presumida com declaração de ausência 
Ao lado da morte natural, o legislador previu a morte presumida do ausente (art. 
6.º). Considera-se ausente aquele que desaparece de seu domicílio sem dar notícias, 
sem deixar representante ou procurador para administrar-lhe o patrimônio, conforme 
art. 22: 
Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, 
se não houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-
lhe os bens, o juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério 
Público, declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador. 
 
Considerando que há uma presunção da morte do ausente, podem os herdeiros 
darem abertura ao processo sucessório. A lei prevê três fases2: curadoria dos bens do 
ausente, sucessão provisória e sucessão definitiva. 
Na fase de curadoria dos bens do ausente, em ação que deve ser proposta pelo 
MP ou pelo interessado (qualquer sucessor), será nomeado um curador para guardar 
os bens do ausente (art. 744, CPC/2015). 
Serão curadores: 
a) O cônjuge ou companheiro; 
b) Os pais do ausente; 
c) Os descendentes; 
d) Um curador dativo (pessoa idônea e de confiança). 
 
1 TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito das sucessões. V. 6. 9.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 13. 
 
2 TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito das sucessões. V. 6. 9.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 14-
20. 
 
 
Uma vez que tenham sido arrecadados os bens do ausente, o art. 745, CPC/2015 
determina que seja publicado edital na internet, no site do Tribunal de Justiça e na 
plataforma de editais do CNJ, onde deverá permanecer por 1 ano. Não havendo site, a 
publicação deve ocorrer, de dois em dois meses, no órgão oficial e na imprensa da 
Comarca. 
Passado 1 ano da arrecadação dos bens do ausente e da nomeação do curador, 
a sucessão provisória poderá ser aberta pelos herdeiros. Se o ausente tiver deixado 
representante, o prazo para abertura da sucessão provisória é de 3 anos após a 
arrecadação. Essa é a previsão do art. 26, CC: 
Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele 
deixou representante ou procurador, em se passando três anos, poderão os 
interessados requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a 
sucessão. 
 
O CPC/2015, contudo, traz a previsão, no § 1.º do art. 745, que o edital fará a 
previsão de prazo e, no final deste prazo, é que poderá ser requerida a abertura da 
sucessão provisória. 
§ 1º Findo o prazo previsto no edital, poderão os interessados requerer a 
abertura da sucessão provisória, observando-se o disposto em lei. 
 
A doutrina tem entendido que aplica-se a disposição do CPC e não do CC (que 
prevê a contagem de 1 ano a partir da arrecadação). 
Poderão requerer a abertura da sucessão provisória: 
Art. 27. Para o efeito previsto no artigo anterior, somente se consideram 
interessados: 
I - o cônjuge não separado judicialmente; 
II - os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários; 
III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua 
morte; 
IV - os credores de obrigações vencidas e não pagas. 
 
A sentença de abertura da sucessão provisória só produz efeitos após 180 dias 
da sua publicação na imprensa, ou seja, o trânsito em julgado desta sentença possui 
prazo especial e diferente do geral (art. 28, CC). 
Art. 28. A sentença que determinar a abertura da sucessão provisória só 
produzirá efeito cento e oitenta dias depois de publicada pela imprensa; mas, 
logo que passe em julgado, proceder-se-á à abertura do testamento, se houver, 
e ao inventário e partilha dos bens, como se o ausente fosse falecido. 
§ 1º Findo o prazo a que se refere o art. 26, e não havendo interessados na 
 
 
sucessão provisória, cumpre ao Ministério Público requerê-la ao juízo 
competente. 
§ 2º Não comparecendo herdeiro ou interessado para requerer o inventário até 
trinta dias depois de passar em julgado a sentença que mandar abrir a 
sucessão provisória, proceder-se-á à arrecadação dos bens do ausente pela 
forma estabelecida nos arts. 1.819 a 1.823. 
Art. 29. Antes da partilha, o juiz, quando julgar conveniente, ordenará a 
conversão dos bens móveis, sujeitos a deterioração ou a extravio, em imóveis 
ou em títulos garantidos pela União. 
 
Após este prazo é possível a abertura de eventual testamento e do inventário para 
partilha dos bens. Para que os herdeiros ingressem na posse dos bens do ausente, 
deverão dar garantia, através de penhor ou hipoteca dos seus bens (art. 30). Os que 
não puderem dar as garantias não receberão o patrimônio, que ficará sob a 
administração do curador. Contudo, o cônjuge, os descendentes e ascendentes 
poderão ingressar na posse, independentemente da garantia. 
Art. 30. Os herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do ausente, darão 
garantias da restituição deles, mediante penhores ou hipotecas equivalentes 
aos quinhões respectivos. 
§ 1º Aquele que tiver direito à posse provisória, mas não puder prestar a 
garantia exigida neste artigo, será excluído, mantendo-se os bens que lhe 
deviam caber sob a administração do curador, ou de outro herdeiro designado 
pelo juiz, e que preste essa garantia. 
§ 2º Os ascendentes, os descendentes e o cônjuge, uma vez provada a sua 
qualidade de herdeiros, poderão, independentemente de garantia, entrar na 
possedos bens do ausente. 
Art. 31. Os imóveis do ausente só se poderão alienar, não sendo por 
desapropriação, ou hipotecar, quando o ordene o juiz, para lhes evitar a ruína. 
Art. 32. Empossados nos bens, os sucessores provisórios ficarão 
representando ativa e passivamente o ausente, de modo que contra eles 
correrão as ações pendentes e as que de futuro àquele forem movidas. 
 
Os herdeiros tem direito a percepção dos frutos dos bens. Se descendente, 
ascendente ou cônjuge, percebem todos os frutos. Os demais sucessores, somente a 
metade. 
Art. 33. O descendente, ascendente ou cônjuge que for sucessor provisório do 
ausente, fará seus todos os frutos e rendimentos dos bens que a este 
couberem; os outros sucessores, porém, deverão capitalizar metade desses 
frutos e rendimentos, segundo o disposto no art. 29, de acordo com o 
representante do Ministério Público, e prestar anualmente contas ao juiz 
competente. 
Parágrafo único. Se o ausente aparecer, e ficar provado que a ausência foi 
voluntária e injustificada, perderá ele, em favor do sucessor, sua parte nos 
frutos e rendimentos. 
Art. 34. O excluído, segundo o art. 30, da posse provisória poderá, justificando 
falta de meios, requerer lhe seja entregue metade dos rendimentos do quinhão 
que lhe tocaria. 
 
 
Art. 35. Se durante a posse provisória se provar a época exata do falecimento 
do ausente, considerar-se-á, nessa data, aberta a sucessão em favor dos 
herdeiros, que o eram àquele tempo. 
 
Se o ausente reaparecer durante a sucessão provisória, o patrimônio lhe é 
devolvido. 
Art. 36. Se o ausente aparecer, ou se lhe provar a existência, depois de 
estabelecida a posse provisória, cessarão para logo as vantagens dos 
sucessores nela imitidos, ficando, todavia, obrigados a tomar as medidas 
assecuratórias precisas, até a entrega dos bens a seu dono. 
 
Se depois de passados 10 anos da abertura dessa sucessão provisória (sentença) 
o ausente não tenha retornado ou não tenha sido confirmada sua morte, os herdeiros 
poderão requerer a sucessão definitiva (art. 37 a 39). A sucessão definitiva também 
pode ser requerida se restar comprovado que o ausente conta com mais de 80 anos e 
que não há notícias dele há mais de 5 anos. 
Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado a sentença que concede a 
abertura da sucessão provisória, poderão os interessados requerer a sucessão 
definitiva e o levantamento das cauções prestadas. 
Art. 38. Pode-se requerer a sucessão definitiva, também, provando-se que o 
ausente conta oitenta anos de idade, e que de cinco datam as últimas notícias 
dele. 
 
Se o ausente retornar nos 10 anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, 
terá direito aos bens no estado em que se encontram, os sub-rogados em seu lugar ou 
o preço que os herdeiros tiverem recebido pelos bens alienados. O § 4.º do art. 745, 
CPC/2015 determina que no retorno do ausente deverão os sucessores provisórios ou 
definitivos serem citados para contestar: 
§ 4º Regressando o ausente ou algum de seus descendentes ou ascendentes 
para requerer ao juiz a entrega de bens, serão citados para contestar o pedido 
os sucessores provisórios ou definitivos, o Ministério Público e o representante 
da Fazenda Pública, seguindo-se o procedimento comum. 
 
Se o ausente não retornar dentro do prazo de 10 anos, os bens serão 
definitivamente dos herdeiros. 
Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura da 
sucessão definitiva, ou algum de seus descendentes ou ascendentes, aquele 
ou estes haverão só os bens existentes no estado em que se acharem, os sub-
rogados em seu lugar, ou o preço que os herdeiros e demais interessados 
houverem recebido pelos bens alienados depois daquele tempo. 
Parágrafo único. Se, nos dez anos a que se refere este artigo, o ausente não 
regressar, e nenhum interessado promover a sucessão definitiva, os bens 
 
 
arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se 
localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio da 
União, quando situados em território federal. 
 
Trata-se de uma exceção do sistema sucessório, “tendo em vista que se admite a 
abertura de sua sucessão simplesmente em razão de seu desaparecimento, sem que 
se tenha certeza de seu falecimento”3. 
 
2. Momento da transmissão da Herança. Comoriência - (Art. 8º CC) 
Com a morte, como visto, transmite-se a herança, desde logo, aos herdeiros 
legítimos e testamentários (art. 1.784), conforme a ordem da vocação hereditária (art. 
1.829) ou, a sua falta, a herança será recolhida pelo Município, Distrito Federal ou União 
(art. 1.844). 
A transmissão da herança ocorre no exato momento da morte do de cujus, 
havendo a necessidade que os herdeiros posteriormente aceitem a herança, vindo a 
tornar definitiva a transmissão que já havia ocorrido, conforme disposto no art. 1.784. 
Como se verificou, é preciso que o herdeiro sobreviva ao autor da herança 
(GONÇALVES, 2012, p. 36). Contudo, existem casos em que ambos falecem em 
condições que não há como se precisar qual faleceu primeiro (em um acidente de carro 
com morte instantânea, por exemplo). 
A isso se dá o nome de comoriência, questão que se encontra prevista no art. 
8º do Código Civil: 
Art. 8. Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se 
podendo precisar quem precedeu aos demais, presumir-se-ão 
simultaneamente mortos. 
 
A importância da comoriência é regular os casos em que se torna impossível 
reconhecer quem faleceu primeiro, para fins de transmissibilidade dos direitos 
hereditários. Roberto Gonçalves (2012, p. 36) afirma que quando 
[...] duas pessoas morrem em determinado acidente, somente interessa saber 
qual delas morreu primeiro se uma herdeira ou beneficiária da outra. 
 
Do contrário, inexiste qualquer interesse jurídico nessa pesquisa. O principal efeito 
 
3 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito das sucessões. 6.ed. São Paulo: Saraiva, 
2012, p. 34. 
 
 
da presunção da morte simultânea é que, não tendo havido tempo ou oportunidade 
para a transferência de bens entre os comorientes, um não herda do outro. 
No caso de comoriência a sucessão de cada um deve ser regulada como se o 
comoriente jamais houvesse existido. Nenhuma das pessoas atingidas sucederá a 
outra: por ficção jurídica é como estas pessoas nunca tivesse existido. Não há 
transferência de bens e direitos entre os comorientes. 
 
EXEMPLO: 
Num mesmo acidente morrem marido e mulher sem filhos. Com a regra, a 
sucessão de cada um é regulada como se o comoriente jamais tivesse morrido. Venosa 
demonstra a vital importância da comoriência: 
[...] já que a pré-morte de um casal, por exemplo, tem implicações no direito 
sucessório. Se faleceu primeiro o marido, transmitiu a herança à mulher; se 
ambos não tivessem descendentes ou ascendentes, e a mulher falecesse 
depois, a herança iria para os herdeiros dela, ou seja, seus colaterais. O oposto 
ocorreria se provasse que a mulher falecera antes. Tal situação pode ocorrer 
em casos de catástrofes, acidentes ou mesmo por coincidência. Para evitar os 
entraves das presunções de pré-morte, portanto, o Código presume 
comoriência, isto é, o falecimento conjunto (VENOSA, 2012, p. 13) 
 
Não sendo possível a prova da sobrevivência de nenhum deles, os herdeiros do 
marido herdarão o que era dele; e os da mulher, o que era dela. Entre os comorientes, 
não há transferência de direitos, isto é, nenhum pode suceder o outro, mas devem ser 
chamados a sucessão os herdeiros daqueles que faleceram, 50% cada. Os bens serão 
herdados, respectivamente, por seus parentes, na ordem da vocação hereditária 
do art. 1.829 CC. 
 
3. Transmissão da Herança. Princípio da Saisine 
O art. 1.784, CC afirma que havendoa morte, abre-se a sucessão e a herança 
transmite-se desde logo aos herdeiros. A disposição legal reafirma o direito/princípio 
da saisine. 
A sucessão mortis causa se abre com a morte do autor da herança. No exato 
momento do falecimento, o domínio e a posse da herança transmitem-se aos herdeiros 
legítimos e testamentários, mantendo o título, conteúdo e objeto. No momento da morte 
ocorre a abertura da sucessão hereditária. O acervo patrimonial do falecido transmite-
 
 
se aos herdeiros independentemente de qualquer formalidade (desde logo, portanto). 
Para que haja a transmissão é preciso que: 
a) o herdeiro exista ao tempo da morte; 
b) que a esse tempo não seja incapaz de herdar – a capacidade sucessória é 
verificada no momento da morte. 
 
Com a morte, extingue-se a personalidade civil e, por óbvio, a existência da 
pessoa natural (art. 6.º), bem como a capacidade para ser titular de direitos e 
obrigações. Assim, pelo princípio da saisine a posse da herança se transmite desde 
logo aos herdeiros. Segundo Tartuce (2012, p. 9) no momento da morte ocorre a 
delação (oferecimento da herança), segundo a qual os bens do falecido transferem- se 
ao patrimônio dos herdeiros. Trata-se do período existente entre a abertura da 
sucessão e a aceitação ou renúncia da herança. 
No caso da aceitação, o efeito é retroativo à data do óbito. A aquisição dos direitos 
não ocorre com a aceitação, mas sim com a morte do autor da herança. A aceitação é 
apenas uma confirmação do direito do herdeiro, mas trata-se de um ato essencial, já 
que ninguém pode ser herdeiro contra sua vontade (VENOSA, 2012, p. 15). Havendo 
renúncia, entende-se que o renunciante jamais foi herdeiro. 
 
A importância de saber o momento da morte é para que seja definida a lei que 
regula a sucessão e a capacidade (legitimidade) para suceder, nos termos do art. 1.787, 
CC: 
Art. 1.787. Regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente ao 
tempo da abertura daquela. 
 
Tartuce (2012, p. 7) traz um exemplo para deixar clara a questão da capacidade 
para suceder (e também para testar): 
Determinado marido elabora um testamento deixando a parte disponível de 
seus bens à sua esposa e, posteriormente, em razão de esclerose, torna-se 
absolutamente incapaz. Em razão da doença, a esposa o abandona, vindo ele 
a falecer cinco anos depois do divórcio do casal. No caso descrito, o testador 
era capaz no momento da elaboração do testamento e sua incapacidade 
superveniente não retira a validade do testamento (art. 1.861, CC). Sua esposa 
tinha legitimidade para receber a herança quando o testamento foi feito, mas 
perdeu-a no momento da abertura, pois já se encontrava divorciada. Não será 
herdeira, portanto. 
 
 
 
Desta forma, a capacidade de suceder é a do tempo da abertura da sucessão 
(momento da morte) e, além disto, o lugar onde se abre a sucessão é o do último 
domicílio do de cujus. Nestes termos: 
Art. 1.785. A sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido. 
 
Efeitos que derivam do Princípio da Saisine: 
a) A herança transfere-se como um todo unitário, independentemente que 
sejam vários herdeiros (art. 1.791), de modo que no período compreendido entre a 
abertura da sucessão pelo falecimento do de cujus até o momento em que houver a 
partilha, a herança é indivisível e o direito dos herdeiros será exercido em condomínio 
(co-herdeiros) (GONÇALVES, 2012, p. 39). Aqui aplicam-se as regras de condomínio. 
b) O inventariante tem a posse direta e os demais herdeiros a posse 
indireta, mas uma não anula a outra, conforme art. 1.197, CC, já que ambos ostentam 
a condição de possuidores (GONÇALVES, 2012, p. 39-40). Como as regras são do 
condomínio, um herdeiro não pode impedir o outro de usar o bem. 
c) O herdeiro que sobreviver ao de cujus faz sua a herança por ele deixada. 
Ainda que numa fração de segundo. Ele incorpora ao seu patrimônio deixado pelo 
morto (GONÇALVES, 2012, p. 41). 
d) Comoriência – em razão da transmissão imediata da herança (princípio da 
saisine) é importante fixar o momento exto da morte. 
 
4. Lugar em que se abre a sucessão 
A sucessão abre-se no local do último domicílio do falecido (art. 1.785, CC) 
(regra). 
Exceções: 
1. Falecido sem domicílio certo = situação dos bens (art. 48, § único, I, 
CPC/2015) 
2. Falecido sem domicílio certo e com bens em lugares diferentes = local de 
qualquer dos bens (art. 48, § único, II, CPC/2015) 
3. Falecido com pluralidade de domicílios = qualquer deles (art. 71, CC) 
 
Deve-se destacar que o CPC/2015 alterou a questão da competência, não 
 
 
importando mais o local do óbito para a definição do lugar em que se abre a 
sucessão. 
 
Estrangeiro: 
Na sucessão de bens de estrangeiros, há uma disciplina especial. No caso de 
bens de estrangeiros, situados no Brasil, aplica-se, via de regra, a lei do último domicílio 
do falecido (lei estrangeira), salvo se a lei brasileira for mais favorável ao cônjuge ou 
filhos brasileiros (o benefício é para situações em que o falecido for casado com 
brasileiro ou tiver filhos brasileiros). Significa dizer que a lei protege o direito do cônjuge 
e dos descendentes em prejuízo de outros herdeiros (ascendentes, colaterais). 
 
 
5. Espécies de sucessão 
O art. 1.786 define que a sucessão dá-se por lei ou por disposição de última 
vontade. 
 
 
 
a. Legítima 
Decorre da lei; obedece a ordem da vocação hereditária (1.829) - ab intestato 
(bens fora do testamento, testamento nulo) – art. 1.788. A sucessão legítima será 
sempre a título universal, pois os herdeiros recebem a totalidade dos bens do falecido, 
ou, uma fração ideal (não localizada) do patrimônio. Desta forma, os herdeiros 
participam da totalidade do ativo e do passivo. 
 
b. Testamentária 
Decorre da manifestação da última vontade - bens abarcados pelo testamento (é 
válido apenas sobre a quota disponível – 50% da sua parte). O falecido não tem o poder 
de dispor livremente e integralmente do seu patrimônio. Havendo herdeiros necessários 
(cônjuge, ascendentes e descendentes – 1.845), fica limitado pela liberdade de testar 
disposta no art. 1.789, CC. O poder de dispor integralmente só ocorre na hipótese de 
herdeiros facultativos. 
 
c. Simultânea: 
A sucessão será simultaneamente legítima e testamentária quando houver 
testamento e o extinto tiver herdeiros necessários. 
 
RESUMO 
 
Legítima Havendo herdeiros necessários, sem testamento. 
Havendo herdeiros necessários, com testamento que tenha 
caducado ou sido declarado nulo. 
Testamentária Havendo testamento ou legado. 
Simultânea Quando houver herdeiros necessários e, ao mesmo tempo, 
testamento válido. 
 
d. Sucessão a título universal e singular 
Título universal: o herdeiro é chamado a suceder na totalidade da herança, 
fração ou porcentagem. Pode ocorrer tanto na sucessão legítima como na 
testamentária. 
Título singular: quando a transferência é de bens determinados a pessoas 
determinadas. Ocorre, apenas, na sucessão testamentária (quando o testador deixa 
 
 
um legado). 
 
e. Sucessão contratual 
Apesar de não existir herança de pessoa viva (art. 426), é possível a sucessão 
contratual, sendo vedado o pacto sucessório. Porém, excepcionalmente, podem em 
vida, a teor do art. 2.018, os ascendentes partilharem o seu patrimônio entre os 
descendentes por escritura pública (com anuência de todos os descendentes): 
Art. 2.018. É válida a partilha feita por ascendente, por ato entre vivos ou de 
última vontade, contanto que não prejudique a legítima dos herdeiros 
necessários. 
 
f. Sucessões irregulares 
Sucessão irregular ou anômala é aquela que não obedece às normas próprias e 
à ordem da vocação hereditária. A CF/88 estabelece, no art. 5.º, XXXI,o benefício ao 
cônjuge ou filhos brasileiros, na sucessão de bens de estrangeiros situados no Brasil, 
permitindo a aplicação da lei pessoal do de cujus, se mais favorável. 
 
6. Espécies de sucessores 
Herdeiro ou sucessor é aquele que será beneficiado com o patrimônio deixado 
pelo falecido. O herdeiro pode ser legítimo ou testamentário. 
 
a. Herdeiro legítimo: 
O herdeiro legítimo é o que consta na ordem da vocação hereditária, indicada pela 
lei. Art. 1.829, CC e 1.790 (união estável). Classificam-se como necessários 
(descendentes, ascendentes e cônjuge) e facultativos (colaterais e companheiros ou 
conviventes). É chamada a sucessão que resulta da lei. 
i. Necessários (legitimário ou reservatário): 
É o descendente ou ascendente sucessível e o cônjuge (art. 1.845, CC), isto é, 
todo parente em linha reta não excluído da sucessão por indignidade ou deserdação 
(ou renúncia). Os herdeiros necessários não podem ser privados por disposição de 
última vontade. Sua existência impede que o testador disponha a totalidade de seus 
bens. A eles é reservada a legítima (metade da herança). 
Segundo o art. 1.846, pertence aos herdeiros necessários a metade dos bens da 
herança (legítima). A legítima corresponde, portanto a metade dos bens da herança 
 
 
deixada pelo falecido, após a retirada da meação (se houver) e pagas as dívidas e 
despesas de funeral. Assim, ao lado da expressão herdeiros necessários surge a ideia 
de legítima e de porção disponível, conceitos que estão todos interligados. 
Nesse sentido, o art. 1.789 afirma que havendo herdeiros necessários “o testador 
só pode testar a metade da herança”. Não existindo herdeiros necessários (ascendente, 
descendente e cônjuge) o testador pode dispor de 100% de seus bens. IMPORTANTE: 
durante a vida há a liberdade de alienar, onerosamente, todo o patrimônio existente, 
não deixando nada de herança. O que não pode haver é doação de todo o patrimônio 
ou excedendo a parte da liberalidade para um dos filhos. 
Nesse caso, algumas hipóteses podem ocorrer: 
a) Se o autor da herança tiver doado, em vida, para algum herdeiro, em 
detrimento dos demais, não mencionando que essa doação sai da sua parte disponível 
 o herdeiro que recebeu deverá, no inventário, trazer esses bens recebidos por 
doação a colação, descontando da sua quota parte (entende-se como adiantamento de 
legítima); 
b) Se o autor da herança tiver doado, em vida, para algum herdeiro, 
mencionando que se trata da sua parte disponível, não poderá exceder ¼ do patrimônio 
do casal (no caso de comunhão universal, ou seja, ½ de meação e ½ de herança – 
dessa ½ da herança, somente a ½ (¼ do patrimônio, portanto) pode ser disponível). 
Cálculo da legítima 
O art. 1.847 traz a forma de cálculo da legítima. A legítima é calculada sobre a 
meação do falecido, representada pelos bens existentes a época da abertura da 
sucessão. 
Art. 1.847. Calcula-se a legítima sobre o valor dos bens existentes na abertura 
da sucessão, abatidas as dívidas e as despesas do funeral, adicionando-se, 
em seguida, o valor dos bens sujeitos a colação. 
 
O cálculo da legítima é feito a partir do ativo da herança, ou seja, sobre a herança 
líquida, descontadas as dívidas e despesas de funeral. Devem, ainda, ser adicionados 
os bens sujeitos à colação. 
 
 
 
 
Liberdade de testar - art. 1.789 
Sem herdeiros necessários = liberdade plena de testar; 
Com herdeiros necessários = apenas 50% da herança (excluída meação). A outra 
metade constitui-se da legítima dos herdeiros. Deve ser respeitada a metade disponível 
aos herdeiros necessários - art. 1846, CC. 
E COMO SE CALCULA O VALOR PASSÍVEL DE SER TESTADO? O valor da 
parte disponível (o que importa é o valor da avaliação e não o número de bens 
existentes) será definido nos termos do art. 1.847, CC. 
Após a avaliação será definido se o testador se manteve dentro da parte 
disponível. Se houver excesso, haverá redução conforme as disposições dos arts. 
1.966 a 1.968, CC: 
Art. 1.966. O remanescente pertencerá aos herdeiros legítimos, quando o 
testador só em parte dispuser da quota hereditária disponível. 
Art. 1.967. As disposições que excederem a parte disponível reduzir-se-ão aos 
limites dela, de conformidade com o disposto nos parágrafos seguintes. 
§ 1º Em se verificando excederem as disposições testamentárias a porção 
disponível, serão proporcionalmente reduzidas as quotas do herdeiro ou 
herdeiros instituídos, até onde baste, e, não bastando, também os legados, na 
proporção do seu valor. 
§ 2º Se o testador, prevenindo o caso, dispuser que se inteirem, de preferência, 
certos herdeiros e legatários, a redução far-se-á nos outros quinhões ou 
legados, observando-se a seu respeito a ordem estabelecida no parágrafo 
antecedente. 
Art. 1.968. Quando consistir em prédio divisível o legado sujeito a redução, far-
se-á esta dividindo-o proporcionalmente. 
§ 1º Se não for possível a divisão, e o excesso do legado montar a mais de um 
quarto do valor do prédio, o legatário deixará inteiro na herança o imóvel 
legado, ficando com o direito de pedir aos herdeiros o valor que couber na parte 
disponível; se o excesso não for de mais de um quarto, aos herdeiros fará 
tornar em dinheiro o legatário, que ficará com o prédio. 
§ 2º Se o legatário for ao mesmo tempo herdeiro necessário, poderá inteirar 
sua legítima no mesmo imóvel, de preferência aos outros, sempre que ela e a 
parte subsistente do legado lhe absorverem o valor. 
 
Patrimônio de R$ 100.000,00 
Regime de bens: comunhão universal 
Cônjuge sobrevivente = meação  50%  R$ 
50.000,00 Herança = 50%  R$ 50.000,00 
Dívidas do de cujus = R$ 10.000,00 
Funeral = R$ 5.000,00 
Total de despesas = R$ 15.000,00 
50.000,00 – 15.000,00 = 35.000,00 
Parte disponível = ½  R$ 35.000,00 / 2 = 17.500,00 
Legítima = a outra metade + eventuais bens doados em vida como adiantamento de legítima. 
 
 
Herança ≠ meação  herança é o patrimônio e dívidas que sobram após a 
exclusão da meação. Ex.: regime de CUB. Dos 100% do patrimônio pertencente ao 
casal, 50% é meação e 50% é herança (sobre estes 50% é que será calculada a 
liberdade de testar). 
Nesse sentido, a legítima é o limitador do poder de dispor. A legítima é sagrada e 
inatingível (art. 1.961). 
i. Facultativos: 
Ao lado dos herdeiros necessários, encontram-se os facultativos, que são os 
colaterais até 4º grau. A existência de herdeiros facultativos não impede a disposição 
em testamento de todos os bens pelo testador, assim considerado a sua parte 
disponível. 
Conforme se verá mais adiante, também é herdeiro facultativo o companheiro 
sobrevivente, pois, ao contrário do cônjuge, que não pode ser excluído da herança por 
ser herdeiro necessário, o companheiro pode ser excluído através de testamento. 
 
b. Herdeiro testamentário ou instituído: 
É o herdeiro nomeado ou instituído, designado pelo testador por ato de última 
vontade como uma parte do acervo, sem individualização de bens. 
i. Legatário: 
É o contemplado em testamento com coisa certa e determinada, singularizada, 
precisa. 
 
2. Herança e espólio 
A herança é conjunto patrimonial que é transmitido em razão do falecimento de 
alguém. Deve-se destacar que a herança inclui tanto os bens, quanto os créditos e 
dívidas existentes em nome do falecido. 
A herança constitui o espólio, que é o titular do patrimônio. O espólio é um ente 
despersonalizado, uma massa patrimonial ou universalidade de coisas, até a 
individualização pela partilha. É utilizado sob o prisma processual. Ao espólio é 
reconhecida legitimidade ativa e passiva e o seu representante é o inventariante ou, 
antes de sua nomeação, pelo administrador provisório (art. 75, VII, CPC/2015). 
 
 
O espólio responde pelas dívidas do falecidoaté a partilha e dentro dos limites 
da herança. O espólio tem legitimidade para propor ação de despejo de imóveis de 
propriedade do falecido. Após a partilha, cada herdeiro responderá pela dívida, dentro 
das forças de seu quinhão. Realizada a partilha, o espólio deixa de existir, pois 
desaparece a universalidade patrimonial. 
 
3. Herança como um todo unitário e indivisível 
O art. 1.791 dispõe que a “herança defere-se como um todo unitário, ainda que 
vários sejam os herdeiros”, aplicando-se as regras do condomínio. Trata-se da noção 
de indivisibilidade. 
Uma vez aberta a sucessão, esta é considerada um bem imóvel, mesmo que nos 
bens deixados não existam imóveis (apenas móveis e automóveis, por exemplo) (art. 
80, II, CC). Noção de imobilidade. 
Em razão disto, prevê o art. 1.793, CC, que apenas por escritura pública pode 
haver a transmissão da herança (escritura pública de cessão de direitos hereditários). 
Trata-se de requisito essencial para a validade do ato jurídico. Além disto, há a 
necessidade de outorga do cônjuge do herdeiro, para a validade do ato (art. 1.647., I, 
CC). 
Art. 1.793. O direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que disponha 
o co-herdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública. 
 
São firmadas duas ideias fundamentais do direito sucessório: 
a) a devolução unitária da herança aos herdeiros: efeito translativo, se opera 
de plano, nascendo a indivisibilidade da herança, que diz respeito à posse e ao domínio 
dos bens transmitidos. 
b) a noção de indivisibilidade do monte hereditário: da abertura até o momento 
da partilha a herança permanece em condomínio, um todo unitário e indivisível até o 
transito em julgado da partilha. 
A indivisão inicia no momento da abertura da sucessão, que é considerada como 
um todo unitário e indivisível. Com a partilha, haverá a individualização da quota parte 
de cada herdeiro, quando, cada um, passará a administrar seu quinhão. Depois de 
julgada a partilha o art. 2.023 determina que o direito de cada herdeiro fica circunscrito 
aos bens do seu quinhão. 
 
 
Contudo, enquanto não operada a partilha, os herdeiros são todos coproprietários 
e co-possuidores da herança, tendo a regulação de seus direitos, conforme as 
disposições relativas ao condomínio. Assim, como se trata de um condomínio, cada 
herdeiro tem os mesmos direitos e deveres com relação ao todo, de modo que um 
herdeiro não tem mais ou menos direitos ou deveres sobre bens específicos da 
herança. Significa dizer que nenhum herdeiro pode “se apossar” de um bem 
determinado, em detrimento dos demais herdeiros. Neste caso, qualquer herdeiro que 
se sentir prejudicado pode se utilizar das ações possessórias para assegurar sua posse 
(arts. 1.825 e 1.827, CC). 
A partir dessa noção de indivisibilidade, pergunta-se, é possível que algum 
herdeiro aliene a herança? Sim, cada herdeiro pode alienar ou ceder, mas somente sua 
quota ideal, ou seja, pode transferir a terceiro seu quinhão, mas não pode ser 
transferida parte certa e determinada da herança. É nesse sentido a disposição do art. 
1.793, § 2.º, CC: “é ineficaz a cessão, pelo coerdeiro, de seu direito hereditário sobre 
qualquer bem da herança considerado singularmente”. Neste caso, se o herdeiro 
alienar sua quota parte sobre o bem X, esta cessão só terá eficácia se, com a partilha, 
o herdeiro, de fato, receber o bem X. 
Mas, como são aplicadas as regras do condomínio, o coerdeiro pode alienar, 
respeitando a preferência estabelecida no art. 504, CC. 
 
4. Cessão de direitos hereditários 
O art. 1.793 prevê que toda a herança ou parte dela (quota) é suscetível de 
alienação (onerosa ou gratuita). O titular dos direitos hereditários, desde o momento da 
abertura da sucessão, goza da faculdade dispositiva. Com a abertura da sucessão 
instaura-se a o condomínio sucessório entre os herdeiros legítimos e testamentários 
(art. 1.784). Antes da morte não é possível a cessão, pois o direito brasileiro veda o 
chamado pacto sucessório (contrato que tem como objeto a herança de pessoa viva) – 
arts. 426 e 166, II e VII, CC. A forma de transmissão destes direitos é a cessão. O 
cedente (herdeiro legítimo ou testamentário) transfere a qualidade hereditária 
patrimonial. 
A efetiva transferência do direito só se opera com a partilha (trânsito em julgado, 
 
 
registrado no CRI). Porém, o cessionário se investe instantaneamente nos direitos 
alienados, devendo, quando da abertura do inventário, se habilitar. 
O Herdeiro único e universal pode ceder, também, no todo ou em parte. Se for 
universal, o herdeiro-cedente nada mais terá a ver com a herança (persiste, é óbvio, 
sua responsabilidade perante o cessionário até a efetividade do título hereditário: 
partilha averbada). 
 
Forma e objeto 
O direito à sucessão aberta é considerado bem imóvel e, nesse sentido, para que 
seja realizada a cessão, deve ser feita por escritura pública, com outorga uxória como 
condição de validade do negócio jurídico (art. 1.793; art. 1.647, I; art. 166, IV). 
A escritura deve estipular se a cessão é feita de forma gratuita ou onerosa; se 
estão sendo cedidos todos os direitos hereditários ou somente de parte do quinhão; 
etc. 
O objeto do contrato são os direitos hereditários. 
O cedente: deve ter capacidade para alienar; garante a existência da herança, 
não sua extensão. 
O cessionário (aquele que adquire): recebe a herança no estado em que se 
encontra, correndo o risco de ser mais ou menos, dependo da existência de dívidas; 
sub-roga-se nos direitos do cedente, como se fosse ele próprio. 
A cessão não pode ser feita quanto a um bem determinado, mas somente quanto 
à quota parte do herdeiro cedente, sem individualização. Isto se dá em razão da 
indivisibilidade da herança (todo unitário), de forma que é ineficaz a cessão de bem 
individualizado (art. 1.793, § 2.º, CC). 
§ 2º É ineficaz a cessão, pelo co-herdeiro, de seu direito hereditário sobre 
qualquer bem da herança considerado singularmente. 
 
Não quer dizer que a cessão não possa ser feita, mas dependerá da concordância 
dos demais herdeiros. Ex.: “cede para Fulano de Tal os direitos hereditários que tem 
por falecimento de XXX, sobre o imóvel Y”. Dependerá da concordância/liberalidade 
dos demais co-herdeiros. Isto acontece, normalmente, quando os herdeiros fizeram a 
partilha de forma amigável, dividindo entre eles os bens existentes. 
 
 
 
Direito de acrescer 
A cessão realizada abrange apenas os direitos hereditários existentes no 
momento da cessão. Se depois de realizada houver, em favor do cedente, substituição 
ou direito de acrescer (em razão de renúncia de um co-herderio, p. e.x.), os direitos daí 
resultantes não estarão compreendidos na cessão realizada anteriormente 
(GONÇALVES, 2012, p. 58). 
 
Direito de preferência do co-herdeiro 
 
O herdeiro cedente, conforme art. 504, caput e § 1º, deve dar ciência aos herdeiros 
condôminos, para exercício de prelação (preferência). Nesse sentido, o art. 1.794, CC 
traz a determinação de que: 
Art. 1.794. O co-herdeiro não poderá ceder a sua quota hereditária a pessoa 
estranha à sucessão, se outro co-herdeiro a quiser, tanto por tanto. 
 
Caso não tenha sido dado o direito de preferência à algum co-herdeiro, este 
poderá, nos termos do art. 1.795, CC, exercer este direito a posteriori: 
Art. 1.795. O co-herdeiro, a quem não se der conhecimento da cessão, poderá, 
depositado o preço, haver para si a quota cedida a estranho, se o requerer até 
cento e oitenta dias após a transmissão. 
 
Este direito deverá ser exercido em até 180 dias após a ciência da alienação. E 
se mais de um herdeiro quiser exercer o direito de preferência? Neste caso, segundo 
Tartuce (2012, p. 18) deverá o quinhão cedidoser distribuído entre eles, na proporção 
de suas quotas hereditárias: 
Art. 1.795. Parágrafo único. Sendo vários os co-herdeiros a exercer a 
preferência, entre eles se distribuirá o quinhão cedido, na proporção das 
respectivas quotas hereditárias. 
 
Outros aspectos relevantes da cessão: 
- A Escritura Pública de Cessão não está sujeita ao registro imobiliário. Não 
existe a coisa em concreto, falta o pressuposto da especialidade, pois o objeto da 
cessão é a transferência de direitos e não da propriedade. 
- A cessão deve ser juntada aos autos do inventário. O cessionário pode 
manifestar-se no inventário (deverá se habilitar). Se for único herdeiro, pode requerer 
a adjudicação do bem cedido. Pode ser nomeado inventariante. Pode requerer a 
 
 
abertura do inventário. 
- Quando for feito inventário extrajudicial, pode-se realizar a cessão de direitos 
no mesmo dia da escritura de inventário. Basta que todos os impostos (transmissão) 
estejam pagos. 
- Pela força dos § § 2º e 3º do art. 1.793, o cedente não responde pela evicção, 
a menos que ceda bens inexistentes, ou que não lhe pertençam, em relação à sua 
quota-parte. Esta regra decorre do princípio da indivisibilidade da herança e do caráter 
aleatório da cessão. 
- A cessão depende da anuência conjugal (na hipótese de casados) porque a 
cessão é translativa. Havendo resistência do cônjuge ou companheiro em anuir à 
cessão, possível a busca do suprimento judicial de consentimento. Exceção: art. 1.647: 
alienar, fazer doação, prestar fiança ou aval (Regime da Separação de Bens); 
- O cessionário, responde como responderia o cedente, pelo passivo da herança 
(até o limite do quinhão). 
- A cessão pode sofrer desconstituição Judicial, quando eivada de qualquer dos 
vícios de consentimentos; 
- A ação anulatória deve ser promovida em autos próprios. Pode ocorrer a 
suspensão do inventário ou não (depois de decidida a questão, faz-se, então, uma 
sobrepartilha). 
- Os direitos testamentários ou legatários podem ser transferidos por cessão. 
- Quando o cônjuge cede a totalidade, chamamos de cessão da universalidade 
de Bens que compõe a meação. O cônjuge sobrevivo pode ceder parcialmente. 
 
5. Responsabilidade dos herdeiros 
Enquanto não realizada a partilha, o espólio responde pelas dívidas do falecido 
(art. 597, CPC/2015), tendo o espólio, representado pelo inventariante, capacidade 
para ser parte (art. 12, V, CPC/2015). 
O art. 1.792 prescreve que o herdeiro tem responsabilidade somente no limite das 
forças da herança, incumbindo-lhe a prova do excesso, salvo se houver inventário que 
a escuse, demonstrando o valor dos bens herdados. Contudo, para que o herdeiro não 
responda por dívidas superiores às forças da herança, terá de comprovar o excesso, 
 
 
salvo se houver inventário demonstrando o valor dos bens herdados (art. 796, 
CPC/2015). Como o inventário é um levantamento dos bens, créditos e débitos 
existentes em nome do falecido, apura-se o valor das dívidas e o valor dos bens 
necessários ao pagamento delas. Só serão partilhados os bens ou valores que 
restarem após o pagamento das dívidas existentes (GONÇALVES, 2012, p. 54). 
 
6. Abertura do Inventário – art. 1.796 
O art. 1.796 prevê que 30 dias após a abertura da sucessão deve-se instaurar o 
inventário. O CPC/2015 prescreve no art. 611 o prazo de dois meses a contar do óbito 
(abertura da sucessão) para a instauração do inventário. O art. 616 do CPC/2015 arrola 
outras pessoas que têm legitimação concorrente. 
A inobservância do prazo pode acarretar sanção de natureza fiscal, com a 
imposição de multa sobre o imposto, conforme súmula 542, STF. No caso do Rio 
Grande do Sul não há nenhum tipo de sanção. Essa multa é, quase sempre, relevada 
pelo juízo do inventário. CADA ESTADO REGULA A APLICAÇÃO DESTA SANÇÃO4. 
O foro competente para a propositura do inventário é o mesmo do lugar da 
abertura da sucessão: 
Art. 1.796. No prazo de trinta dias, a contar da abertura da sucessão, instaurar-
se-á inventário do patrimônio hereditário, perante o juízo competente no lugar 
da sucessão, para fins de liquidação e, quando for o caso, de partilha da 
herança. 
 
7. Administração provisória da Herança 
Como regra, a administração da herança compete ao inventariante. Contudo, do 
momento em que é aberta a sucessão até a nomeação e compromisso do inventariante, 
a administração provisória fica a cargo do espólio, que é o administrador provisório (art. 
613, CPC/2015). 
Art. 613. Até que o inventariante preste o compromisso, continuará o espólio 
na posse do administrador provisório. 
 
O administrador provisório está na posse da herança e representa o espólio ativa 
e passivamente, devendo trazer ao acervo os frutos dos bens do espólio (art. 614, 
CPC/2015): 
 
4 São Paulo: Lei Estadual 10.705/2000; Minas Gerais: Lei Estadual: 14.941/2003; Maranhão: Lei 
Estadual .912/1998. 
 
 
Art. 614. O administrador provisório representa ativa e passivamente o espólio, é obrigado a trazer 
ao acervo os frutos que desde a abertura da sucessão percebeu, tem direito ao reembolso das despesas 
necessárias e úteis que fez e responde pelo dano a que, por dolo ou culpa, der causa. 
 
Mas quem será o administrador provisório? O art. 1.797, CC traz o rol daqueles 
que podem ser administradores provisórios: 
Art. 1.797. Até o compromisso do inventariante, a administração da herança 
caberá, sucessivamente: 
I - ao cônjuge ou companheiro, se com o outro convivia ao tempo da abertura 
da sucessão; 
II - ao herdeiro que estiver na posse e administração dos bens, e, se houver 
mais de um nessas condições, ao mais velho; 
III - ao testamenteiro; 
IV - a pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa das indicadas nos incisos 
antecedentes, ou quando tiverem de ser afastadas por motivo grave levado ao 
conhecimento do juiz. 
 
Questão que não é pacífica é a obediência ou não a esta ordem. Há decisões que 
flexibilizam e permitem que a nomeação do administrador provisório seja distinta desta 
ordem do art. 1.797, CC. Outras, contudo, entendem que deva ser, rigorosamente, 
obedecida. 
 
8. Vocação hereditária. Capacidade para suceder - Art. 1.787. 
Aptidão para tornar-se herdeiro (VENOSA, 2012, p. 50) de uma determinada 
herança. Esta capacidade/aptidão é avaliada no momento da abertura da sucessão 
(morte do autor da herança – princípio da saisine). O herdeiro, no momento da morte, 
deve ostentar essa condição. 
Ex1: Se o autor da herança falecer hoje e deixar um herdeiro e, amanhã, entrar 
em vigor lei nova retirando deste a condição de herdeiro, a nova lei não o atingirá, pois 
já lhe havia sido transmitidos os direitos de posse e domínio. 
Ex2: Se a abertura da sucessão tiver ocorrido antes da CF/88, que igualou os 
direitos sucessórios dos filhos adotivos aos biológicos, se o de cujus tiver deixado um 
filho adotivo e o falecimento tiver ocorrido antes da vigência da CF/88, o filho adotivo 
não herdará (GONÇALVES, 2012, p. 40). Diferente será se o falecimento ocorrer após 
a entrada em vigor da CF/88. Neste caso, o filho adotado herdará da mesma forma que 
o biológico. 
O art. 1.798 trata da legitimidade para suceder, estabelecendo que aqueles que 
 
 
estiverem vivos ou concebidos no momento da abertura da sucessão serão legitimados 
a receber a herança. 
Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no 
momento da abertura da sucessão. 
 
Segundo Tartuce (2012, p. 23) o art. 1.798, CC trata da sucessão legítima, 
admitindo como herdeiro legítimo somente a pessoa natural e não a jurídica. 
A partir daí, vem a tona a questão do nascituro. Salienta Gonçalves que os 
“nascituros podem ser, assim, chamados a sucedertanto na sucessão legítima como 
na testamentária, ficando a eficácia da vocação dependente do seu nascimento. 
Podem, com efeito, ser indicados para receber deixa testamentária” (GONÇALVES, 
2012, p. 69). Assim, nascendo com vida, os efeitos retroagem a data da concepção. Se 
nascer o feto morto, não terá direitos, será como se nunca tivesse existido. Assim, os 
direitos do nascituro são subordinados a condição resolutiva, ou seja, nascimento com 
vida (TARTUCE, 2012, p. 24). Da mesma forma, caducam as disposições 
testamentárias que beneficiam pessoas já falecidas (a deixa testamentária volta para a 
sucessão legítima). 
Mas para que tenha direitos, já deve estar o embrião implantado no útero 
materno? Se for uma situação de fecundação in vitro haverá direitos sucessórios 
reservados ou não? De início é preciso que fique claro que não há uma uniformidade 
ou unanimidade, nem na doutrina, nem na jurisprudência. 
Há quem entenda que apenas o nascituro (o embrião já implantado no útero 
materno – com gravidez comprovada) poderá suceder legitimamente e não o embrião. 
Nesse sentido: Euclides de Oliveira e Sebastião Amorim afirmam que deve- se exigir a 
implantação no útero materno para que possa haver o regular desenvolvimento com 
vida (TARTUCE, 2012, p. 24). 
Em sentido contrário, há os que levam em consideração o art. 1.597, CC, que 
dispõe que se presumem concebidas na constância do casamento as pessoas nascidas 
a qualquer tempo, em se tratando de embriões excedentários, fecundados por 
fertilização homóloga. Neste caso: Zeno Veloso afirma que mesmo após a morte do 
pai, havendo a implantação do embrião e sendo a gestação levada a termo, o 
nascimento com vida e a aquisição da personalidade fazem com que este filho seja 
 
 
herdeiro, porque considera-se que estava concebido quando o genitor faleceu e, além 
disto, há a questão da igualdade trazida pelo art. 227, § 6.º, CF (TARTUCE, 2012, p. 
25). 
A III Jornada de Direito Civil, realizada em 2004, aprovou o enunciado 267, do 
Conselho da Justiça Federal e do Superior Tribunal de Justiça sobre o tema: 
Enunciado 267 - Art. 1.798: A regra do art. 1.798 do Código Civil deve ser 
estendida aos embriões formados mediante o uso de técnicas de reprodução 
assistida, abrangendo, assim, a vocação hereditária da pessoa humana a 
nascer cujos efeitos patrimoniais se submetem às regras previstas para a 
petição da herança. 
 
Desta forma, entende o STJ que embrião também é considerado sucessor 
legítimo. 
 
Para que alguém possa suceder, não basta invocar a ordem da vocação 
hereditária. Devem ser preenchidas algumas condições (VENOSA, 2012, p. 53): 
 
a) deve ser pessoa – animais não podem suceder. O que pode haver é o 
testador impor ao herdeiro testamentário um encargo de cuidar de um animal em 
específico. 
b) deve estar viva – pode já estar concebido na época da morte e terá direito se 
nascer com vida e, então, tornar-se-á herdeiro desde a concepção. 
c) deve ser capaz – é a aptidão específica para a herança, a legitimação. Assim 
não basta existir no momento da morte, tem de ser legítimo, pois se o autor da herança 
tiver deixado descendente, os ascendentes, mesmo que vivos, não serão legítimos; 
d) não pode ter sido declarada indigna – aquele que praticar atos contra o 
autor da herança, que sejam presumidos incompatíveis com os sentimentos de afeição 
real ou presumida. 
 
a. Legitimação para suceder por testamento: 
O art. 1.799, CC traz a previsão daqueles que são legitimados a suceder por 
testamento, além daquelas já existentes ou concebidas o momento da abertura da 
sucessão (nascituro): 
Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder: 
I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, 
 
 
desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão; 
II - as pessoas jurídicas; 
III - as pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador sob 
a forma de fundação. 
 
No inciso I, o legislador abre exceção à regra geral, possibilitando que filhos não 
concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que estas estejam vivas quando 
da abertura da sucessão, venham a ser herdeiros testamentários. É a chamada prole 
eventual ou o concepturo. 
Mas, se, por exemplo, o testador instituir cláusula no testamento, contemplando o 
filho não concebido de sua filha (seu eventual neto, portanto) e, quando a sucessão for 
aberta sua filha estiver morta, caducará a disposição testamentária. 
Dispõe o art. 1.800, CC que depois de feita a partilha os bens serão entregues a 
um curador nomeado pelo juiz: 
Art. 1.800. No caso do inciso I do artigo antecedente, os bens da herança serão 
confiados, após a liquidação ou partilha, a curador nomeado pelo juiz. 
§ 1º Salvo disposição testamentária em contrário, a curatela caberá à pessoa 
cujo filho o testador esperava ter por herdeiro, e, sucessivamente, às pessoas 
indicadas no art. 1.775. 
§ 2º Os poderes, deveres e responsabilidades do curador, assim nomeado, 
regem-se pelas disposições concernentes à curatela dos incapazes, no que 
couber. 
§ 3º Nascendo com vida o herdeiro esperado, ser-lhe-á deferida a sucessão, 
com os frutos e rendimentos relativos à deixa, a partir da morte do testador. 
§ 4º Se, decorridos dois anos após a abertura da sucessão, não for concebido 
o herdeiro esperado, os bens reservados, salvo disposição em contrário do 
testador, caberão aos herdeiros legítimos. 
 
Deve ser destacado o § 4.º, que estabelece que se até dois anos após a abertura 
da sucessão não for concebido o herdeiro esperado, os bens reservados caberão aos 
herdeiros legítimos. 
Quem deve existir no momento da morte do autor da herança são os pais do 
beneficiado, não este, que, na hipótese, sequer precisa estar concebido (GONÇALVES, 
2012, p. 73). 
IMPORTANTE: Também deve ser salientado que essa disposição do art. 1.799, 
I, CC, aplica-se tanto a filhos biológicos, quanto a filhos adotivos, em razão da igualdade 
estabelecida pela CF, no art. 227, § 6º. 
Com relação aos filhos havidos em razão de inseminação artificial, a questão é 
diferenciada (e, de certa forma, injusta). Gonçalves (2012, p. 75) explica bem a 
 
 
situação: 
Em princípio não se pode falar em direitos sucessórios daquele que foi 
concebido por inseminação artificial post mortem, uma vez que a transmissão 
da herança se dá em consequência da morte (CC, art. 1.784) e dela participam 
as “pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão” 
(art. 1.798). 
A questão, no entanto, é tormentosa e cabe à doutrina e à jurisprudência 
fornecer subsídios para sua solução. A doutrina brasileira se inclina no sentido 
de negar legitimação para suceder aos filhos havidos por métodos de 
reprodução assistida, quer na hipótese de a morte do ascendente preceder à 
concepção, quer na de implantação de embriões depois de aberta a sucessão. 
Solução favorável à criança ocorreria se houvesse disposição legislativa 
favorecendo o fruto de inseminação post mortem. 
[...] 
[...]se o Código Civil de 2002 trata os filhos resultantes de fecundação artificial 
homóloga, posterior ao falecimento do pai, como tendo sido “concebidos na 
constância do casamento”, não se justifica a exclusão de seus direitos 
sucessórios. Entendimento contrário conduziria à aceitação da existência, em 
nosso direito, de filho que não tem direitos sucessórios, em situação 
incompatível com o proclamado no art. 227, § 6.º, da Constituição Federal. 
 
O inciso II, do art. 1.799, CC permite que também as pessoas jurídicas possam 
ser beneficiadas no testamento. Desta forma, qualquer pessoa pode ser contemplada 
no testamento, tanto física quanto jurídica, simples ou empresária, de direito público ou 
privado. 
O inciso III, do art. 1.799, CC permiteque o testador beneficie uma fundação que, 
nos termos do art. 62, pode ser criada por escritura pública ou testamento. Neste último 
caso, segundo Gonçalves (2012, p. 77), “por ainda não existir a pessoa jurídica 
idealizada pelo testador, aberta a sucessão os bens permanecerão sob a guarda 
provisória da pessoa encarregada de instituí-la, até o registro de seus estatutos, quando 
passará a ter existência legal”. 
A doutrina admite que o testador deixe bens para uma pessoa jurídica existente 
de fato, mas não de direito. São os casos das sociedades de fato, nos termos do art. 
986, CC. O que se deve perceber é que estas pessoas jurídicas existem, já estão 
atuando, ainda que não tenham seus documentos constitutivos registrados. O que não 
se permite é que o testador beneficie pessoa jurídica que, sequer existe de fato. 
Se, contudo, os bens destinados para constituir a fundação forem insuficiente e o 
testador não dispuser de forma diversa, deverão os bens serem destinados a outra 
fundação que tenha finalidade igual ou semelhante (art. 63, CC). OBSERVAÇÃO: Já 
caiu questão no exame de ordem sobre esta situação! 
 
 
 
b. Pessoas que não podem ser nomeados herdeiros testamentários, nem 
legatários 
O art. 1.801 menciona que outras pessoas não podem ser nomeadas herdeiras, 
nem legatárias: 
Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários: 
I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou 
companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos; 
II - as testemunhas do testamento; 
III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver 
separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos; 
IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se 
fizer, assim como o que fizer ou aprovar o testamento. 
 
Essas incapacidades passivas ocorrem em razão de serem consideradas 
suspeitas. No inciso I a exclusão se dá por suspeição. No inciso II, da mesma forma, 
para garantir a segurança da vontade do testador, evitando influência das testemunhas. 
O concubino do testador casado também não pode figurar na sucessão (III) – 
concubinato = relação não eventual entre homem e mulher impedidos de casar. O inciso 
IV veda ser instituído como herdeiro ou legatário o tabelião ou escrivão, enfim, a 
autoridade perante quem se fizer ou aprovar o testamento. O intuito também é proteger 
e assegurar a vontade livre do testador. 
 
c. Simulação de contrato oneroso e interposição de pessoa 
O art. 1.802 dispõe: 
Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias em favor de pessoas não 
legitimadas a suceder, ainda quando simuladas sob a forma de contrato 
oneroso, ou feitas mediante interposta pessoa. 
Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os 
descendentes, os irmãos e o cônjuge ou companheiro do não legitimado a 
suceder. 
 
Assim, mesmo com as proibições dos arts. 1.801, 1.798, 1.799, I, se forem 
contempladas pessoas neles contantes, de forma direta ou mediante simulação, as 
disposições testamentárias serão NULAS. 
A nulidade da deixa testamentária pode revestir-se de duas formas: a) o 
testador dissimulada a liberalidade sob a aparência de contrato oneroso; ou b) 
recorre a interposta pessoa para beneficiar o proibido de suceder 
(GONÇALVES, 2012, p. 84). 
 
 
 
Para exemplificar a situação: 
a) o testador confessa ser devedor de obrigação inexistente, ou alega ter 
prometido à venda certo bem, afirmando já ter recebido o preço acordado; 
b) o testador utiliza um “testa de ferro” para realizar a operação que tinha em 
mente; 
c) o testador, com intenção de beneficiar a concubina, institui o pai da mulher, 
beneficiando-a, indiretamente. 
É lícita, contudo, a deixa ao filho do concubino, se também o for do testador (art. 
1.803). 
 
9. Aceitação da herança 
Com o falecimento abre-se a sucessão e a transmissão opera-se desde logo. A 
aceitação revela a anuência do beneficiário em receber a herança. Assim, o 
recebimento da herança é facultativo, pois o beneficiário poderá deliberar (aceitar ou 
renunciar) seu direito. A aceitação (ou adição) da herança é o ato pelo qual o herdeiro 
concorda com a transmissão dos bens do de cujus, que ocorreu, por lei, no momento 
da abertura da sucessão. 
Obs: Enquanto não manifestada a aceitação, entrementes, não é definitiva a 
transmissão, no que foi claro o Código em seu art. 1.804 CC. Embora se de a 
transmissão imediata, a aceitação vem a ser uma confirmação da aquisição que 
se dá a partir da abertura da sucessão. 
 
Espécies de aceitação: 
O art. 1.805, estabelece as duas formas de aceitação: expressa e tácita. 
a) Expressa - É a manifestada por escrito, público ou particular, de que o 
beneficiário deseja receber a herança. 
b) Tácita - É a que prevalece (Art. 1805, segunda parte, CC). A aceitação tácita 
resulta de qualquer ato que demonstre a intenção de aceitar a herança, atos 
compatíveis com caráter de herdeiro: 
a) se o herdeiro cede seus direitos hereditários; 
b) se o herdeiro nomeia advogado e se faz representar como tal no inventário; 
 
 
c) se o herdeiro concorda com a avaliação, ou contesta; 
d) se o herdeiro efetua cobrança de dívidas do espólio; 
e) se requer a abertura do inventário; 
f) quando paga dívida dos de cujus com numerário proveniente do espólio; 
g) quando doa bens da herança; 
h) que pratica atos que vão além de simples atos de conservação e 
administração e que impliquem, necessariamente, a intenção de aceitar; 
i) o silêncio do herdeiro, quando notificado para se manifestar (art. 1.807). 
 
 
Art. 1805, §1º, CC: “não exprimem aceitação da herança os atos oficiosos, como 
o funeral do finado, os meramente conservatórios, ou os de administração e guarda 
interina”. Esses atos são praticados de forma altruísta, sem o intuito de aceitar a 
herança. 
ATOS OFICIOSOS = praticados de forma desinteressada, com objetivo de prestar 
favor. 
ADMINISTRAÇÃO E GUARDA PROVISÓRIA = praticados pelo herdeiro para 
atender a uma necessidade premente, sem intenção de tê-los para si. 
Art. 1805, §2º, CC: a cessão pura e simples para os demais coerdeiros também 
não importa aceitação da herança – equivale a uma renúncia (GONÇALVES, 2012, p. 
91). 
c) Presumida - É o que ocorre no caso do art. 1807, CC, quando algum 
interessado em saber se o herdeiro aceita ou não a herança faz requerimento ao juiz, 
após passados 20 dias da abertura da sucessão, para que lhe intime a dizer, em prazo 
não superior a 30 dias, se aceita ou não a herança (GONÇALVES, 2012, 91). Nesse 
caso, o silêncio é interpretado como manifestação da vontade (aceitação presumida). 
Percebe-se, então, que a aceitação tácita difere da presumida, pois esta 
última depende da provocação de um terceiro interessado, enquanto que a 
primeira resulta “de atos próprios da qualidade de herdeiro”. 
Todavia, quem seriam esses interessados? 
a) Os demais herdeiros; 
b) As pessoas que, em caso de não aceitação, serão promovidas à condição de 
herdeiros; 
 
 
c) Algum credor. 
 
Forma que a pessoa manifesta a aceitação: 
a) Direta: oriunda do próprio herdeiro 
b) Indireta: quando alguém faz pelo herdeiro. Pode acontecer em algumas 
hipóteses: 
- oriunda de sucessores (art. 1809, CC) – se o herdeiro falecer antes de aceitar 
a herança impede a transmissão desta a seus sucessores. Neste caso, transmite-se a 
eles o direito de aceitá-la ou repudiá-la. Contudo, se para o recebimento da herança 
deve ser implementada uma condição (diploma universitário, p. ex.), se falecer o 
herdeiro antes da realização da condição, o direito hereditário é como se nunca tivesse 
existido e, portanto, os sucessores do herdeiro não poderão aceitar por ele. 
Ex.: A falece e deixa dois sucessores: B e C. Antes quehouvesse a aceitação da 
herança por estes, B falece e deixa os herdeiros X e Y. Neste caso, X e Y: 
• Podem recusar a herança do avô e aceitar a do pai; 
• Podem recusar a do pai; 
• Não podem recusar a do pai e aceitar a do avô – seria, de certa forma, um 
aceite “parcial” da herança! 
- mandatários – é possível haver renúncia ou aceitação da herança por 
procuração. 
- tutor ou curador – representantes do incapaz, mediante autorização judicial (art. 
1748, II, CC). 
- credores – não poderá haver renúncia com prejuízo aos credores. Nesse caso, 
os credores poderão aceitar a herança em nome do renunciante, a fim de evitar a fraude 
(art. 1.813, CC). Neste caso os credores, com autorização do juiz do inventário, aceitam 
a herança, recebem o quinhão hereditário do renunciante (na proporção da dívida) e, 
havendo saldo, os demais bens/valores serão entregues aos demais herdeiros que 
seriam beneficiados com a renúncia. O saldo não será devolvido ao renunciante. 
c) Aceitação parcial ou condicional: Não pode haver aceitação parcial. Nesse 
sentido, temos que interpretar o art. 1808, caput e §1º, CC, pois trata da questão de um 
mesmo herdeiro ser: 
- herdeiro universal de um título e; 
- legatário de um título singular. 
 
 
Art. 1.808. Não se pode aceitar ou renunciar a herança em parte, sob condição 
ou a termo. 
§ 1º O herdeiro, a quem se testarem legados, pode aceitá-los, renunciando a 
herança; ou, aceitando-a, repudiá-los. 
 
Assim, considerando que se trata de modalidades de sucessão distintas, nada 
impede que o beneficiário renuncie ou não aceite integralmente a uma sucessão, 
conservando a outra. Ele renuncia a toda herança e aceita o legado por inteiro, ou 
renuncia a todo o legado, aceitando toda a herança. 
O herdeiro ao continuar na posse dos bens, ocupa o lugar do de cujus em todas 
“as relações jurídicas, sub-rogando-se em seus direitos e obrigações”. 
O que lhe é vedado é aceitar parcialmente a herança. (A segunda parte do § 1º 
do art. 1.808 é que permite a renúncia parcial). Portanto, não pode o sucessor aceitar 
a herança sob determinada condição (aceita, mas se não tiverem dívidas a serem 
pagas). 
 
Irrevogabilidade da aceitação 
O Código Civil, em seu art. 1.812, define a irrevogabilidade da aceitação e de 
renúncia. Assim, realizada a aceitação (expressa ou tácita ou presumida) não haverá 
possibilidade de revogar tal ato, de modo que a aceitação gera efeitos imediatos e 
definitivos. 
 
Anulação da aceitação 
Assim, depois de realizada a aceitação, se for verificado que o aceitante não é o 
herdeiro, como por exemplo, chamar-se à sucessão os colaterais e, depois, verificar-se 
a existência de filhos, deverá ser declarada a ineficácia da aceitação, devolvendo-se a 
herança a quem de direito. Se, contudo, o inventário já tiver sido julgado, como 
homologação da partilha, apenas com a ação de petição de herança é que será possível 
reivindicar o que lhe cabe. 
 
10. Renúncia da herança 
Art. 1806, CC. 
É o ato solene pelo qual a pessoa, chamada à sucessão de outra, declara que 
não aceita. O herdeiro não é obrigado a aceitar a herança. A recusa de recebê-la 
 
 
chama-se renúncia ou repúdio. Os efeitos da renúncia retroagem a data da abertura da 
sucessão. Não se presume, pois é negócio formal e não está sujeita a condição ou 
termo. 
A renúncia tem como características: é unilateral, gratuita, irretratável e formal. 
Não é possível haver promessa de renúncia. 
Segundo o art. 1.806, CC, deve ser feita por instrumento público ou termo nos 
autos, sendo, portanto, vedada a renúncia tácita. Necessita de uma ação, de uma 
atividade por parte do herdeiro renunciante. Trata-se, pois, de negócio solene. 
 
O art. 1808 NÃO ADMITE CONDIÇÃO OU TERMO na renúncia, ou seja, ela é 
essencial, pura e simples. 
EX: Escritura pública de renúncia: por meio desta escritura pública de renúncia, 
Joãozinho renuncia a herança de Carlinhos, para que Marquinhos seja beneficiado. 
Nesse caso, se o herdeiro renunciante declarar que deseja beneficiar outro herdeiro, a 
hipótese não é de renúncia, mas de cessão de direitos hereditários. 
 
Não existe renúncia em favor de alguém. Se alguém renunciar em favor de 
alguém, trata-se de transmissão = cessão de direitos. 
 
Características da Renúncia: 
Rizzardo aponta as principais características da renúncia, acompanhando o 
entendimento doutrinário dominante: 
a) A unilateralidade, por não depender da vontade de outros herdeiros. 
b) A abstratividade, isto é, a ausência de motivações. Não é colocada nenhuma 
razão, e muito menos vem mencionado algum pagamento, posto que aí a figura seria 
cessão. 
c) A indivisibilidade, porquanto a renúncia se opera em relação à herança, e 
não a um bem, continuando o herdeiro a concorrer na partilha do restante do patrimônio. 
A lei não admite renúncia parcial (art. 1.808). 
d) Ato jurídico puro, ou seja, sem depender de condições ou termo. Art. 1.808 
CC. 
e) Gratuita, jamais se permitindo algum pagamento ou uma compensação, sob 
pena de confundir-se, então, com a cessão de direitos. 
 
 
f) Efeito retroativo, valendo a contar da morte do autor da herança. Arts. 1.784 
e 1.804. 
g) O formalismo, que é de rigor, nunca se acolhendo que seja reconhecida à 
renúncia por manifestação verbal, nem por instrumento particular. A renúncia deve ser 
feita por instrumento público ou termo judicial (art. 1.806). Não há presunção de 
renúncia ou renúncia tácita. Deve ser expressa e formal. 
 
Distinção entre os tipos de Renúncia: 
- Abdicativa: é a verdadeira renúncia, pura, simples, sem condição, é dizer que 
não quer, sem indicar favorecido. Essa renúncia opera-se em favor do monte. Incide, 
apenas o imposto mortis causa (ITCD). 
- Translativa: o herdeiro que renuncia em favor de determinada pessoa, o que 
implica em transmissão da herança, envolvendo duas declarações de vontade: 
aceitação e alienação simultânea. A renúncia existe apenas no nome, pois se trata de 
cessão de direitos hereditários. 
A importância de diferenciar a renúncia pura e simples da translativa se dá em 
razão da incidência de impostos. No caso da renúncia pura e simples incide, tão 
somente o ITCD (causa mortis). Já no caso da renúncia translativa, há a incidência de 
dupla tributação: causa mortis (ITCD – de cujus ao herdeiro) e inter vivos (ITBI - 
herdeiro ao terceiro/beneficiário). Equivale a uma cessão de direitos hereditários. 
 
 
Requisitos da Renúncia para ser válida 
Para validade da renúncia são indispensáveis alguns pressupostos ou requisitos, 
como: 
a) deve ser expressa: art. 1806, primeira parte, CC. Faz-se por declaração 
escrita; “instrumento público ou termo judicial”. 
b) deve ser promovida: art. 1806, segunda parte, CC - por instrumento público 
ou termos nos autos (não apenas nos autos do inventário) ... em qualquer processo 
que se discuta a herança). Significa dizer que há a necessidade de uma ação por parte 
do renunciante. 
c) exige plena capacidade jurídica do renunciante, em razão das 
consequências que acarreta. Assim, não pode renunciar aquele que for incapaz (nem 
 
 
por seu representante legal - curador), a menos que obtenha a autorização judicial. Não 
basta capacidade genérica, sendo necessária também a de alienar. Feita renúncia 
por mandatário, deve este exibir procuração com poderes especiais para renunciar (art. 
661, § 1.º, CC). 
d) não pode ser feita antes de aberta à sucessão. O óbito é que deflagra o 
processo sucessório e as questões relativas à qualidade de herdeiro. 
e) sendo casado o herdeiro, há necessidade do consentimento do cônjuge - 
exceto no regime da separação absoluta (art. 1.647, I). A outorga de consentimento do 
cônjuge é indispensável para a validade da renúncia, pois o direitoà sucessão aberta 
é considerado bem imóvel (art. 80, II). Se o cônjuge nega-se a dar o consentimento, o 
juiz poderá supri-lo, conforme art. 1.648, CC. 
Art. 1.648. Cabe ao juiz, nos casos do artigo antecedente, suprir a outorga, 
quando um dos cônjuges a denegue sem motivo justo, ou lhe seja impossível 
concedê-la. 
 
f) uma vez realizada, RETROAGE à data da abertura da sucessão, no sentido 
de que o renunciante é tratado como se nunca tivesse existido. 
g) que não prejudique os credores: A Lei de Falências e Recuperação de 
Empresas – Lei n. 11.101, de 9.02.2005, reconhece no art. 129, a ineficácia dos atos 
em relação a falência: inc. V: a renúncia à herança ou legado, até dois anos antes da 
decretação da falência. 
 
Nesse sentido, o art. 1.813, CC prevê que, se o herdeiro renunciar a herança e os 
credores sentir-se prejudicados, poderão aceitar a herança pelo herdeiro: 
Art. 1.813. Quando o herdeiro prejudicar os seus credores, renunciando à 
herança, poderão eles, com autorização do juiz, aceitá-la em nome do 
renunciante. 
§ 1o A habilitação dos credores se fará no prazo de trinta dias seguintes ao 
conhecimento do fato. 
§ 2o Pagas as dívidas do renunciante, prevalece a renúncia quanto ao 
remanescente, que será devolvido aos demais herdeiros. 
 
h) direito de acrescer: o quinhão volta automaticamente aos outros herdeiros. 
Se o herdeiro for o único da classe são convocados os herdeiros da classe seguinte. 
 
Na renúncia, não há que se falar em direito de representação. Os 
 
 
descendentes do renunciante não podem representá-lo porque ele nada recebeu. 
RENÚNCIA E REPRESENTAÇÃO NÃO VIVEM JUNTAS! 
 
Formas de renúncia: art. 1.806 
1) por termo nos autos – A renúncia por termo nos autos independe de 
homologação. Basta que seja feito um termo, pelo escrivão judicial (cuja fé pública se 
assemelha/equipara a do tabelião) para que tenha validade. 
2) por escritura pública – nunca contrato particular, art. 1806, CC. O Código 
menciona expressamente por instrumento público, inadmitindo escrito particular. 
 
Efeitos da Renúncia: 
Muitas são as implicações do ato de renunciar, irradiando alguns efeitos, em 
especial, a exclusão do herdeiro renunciante de forma ampla e definitiva. 
a) Exclusão, da sucessão, do herdeiro renunciante: o RENUNCIANTE é 
tratado como se nunca tivesse sido herdeiro (retroage à data da abertura da 
sucessão, ou seja, desde o óbito). O renunciante é afastado da sucessão (art. 1.810 
e 1811). NÃO CABE, PORTANTO, DIREITO DE REPRESENTAÇÃO. 
b) direito de acrescer: a parte do renunciante passa imediatamente à dos 
outros herdeiros da mesma classe, nos termos do art. 1810, CC. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A e B recebem a cota de “C” – A herança será divida em duas partes. 
 
c) Se ele for o único descendente e renunciar, a renúncia não atinge aos 
herdeiros da próxima classe (art. 1.810, segunda parte). Com isto, se o renunciante for 
filho único e tiver filhos, estes serão os herdeiros (os netos do falecido). Nesse caso, os 
netos herdam em condição própria, caso esses não existam, são convocados os 
ascendentes, seguindo-se a ordem legal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
B herdeiro renunciante 
 
“H” e “L” herdarão por cabeça – 50% para cada um. 
 
d) Renúncia e representação são incompatíveis (art.1.811). Se o renunciante 
vier a falecer, os seus herdeiros não herdam. Inexiste direito de representação. Os 
descendentes do de cujus não podem representar o renunciante na sucessão do 
ascendente, salvo se ele for o único herdeiro de sua classe ou se todos os herdeiros 
de mesma classe renunciarem. 
 
 
 
 
 
 
 
C herdeiro renunciante 
 
A e B recebem a cota de “C”. 
 
Herdeiros de C: não herdam 
 
 
 
 
e) Se todos os herdeiros da mesma classe renunciarem, os filhos (netos do 
autor da herança) serão chamados a suceder por direito próprio, por cabeça (art. 1811, 
CC). Neste caso, mesmo que o falecido tiver deixado vários filhos, todos renunciantes, 
e cada um deles com quantidade diversa de filhos, cada neto do autor da herança 
receberá em partes iguais, como se os seus pais jamais tivessem existido (serão, todos 
eles, herdeiros de mesma classe e, neste caso, não há diferença no percentual da 
herança). Se ele for o único descendente e renunciar, essa renúncia não atinge aos 
netos, que herdam em condição própria, caso esses não existam, são convocados os 
ascendentes... 
 
 
 
 
 
 
A, B e C = herdeiros renunciantes 
X, H, L e Y herdam por direito próprio ou cabeça. Não há diferença de percentual na 
herança, neste caso. 
 
e) SE A RENÚNCIA FOR LESIVA AOS CREDORES, aplica-se o art. 1813, de 
forma que o credor poderá aceitar a herança pelo renunciante. Satisfeito o débito, 
havendo saldo, este será devolvido ao monte, para repartir entre os demais herdeiros. 
 
Renúncia de Legado e Herança: 
 
Há diferença entre a renúncia de herança legítima e testamentária. No segundo 
caso, havendo renúncia ao testamento, se houver substituto, este receberá. Do 
contrário, será devolvido à massa. O art. 1.947, CC permite que o testador indique um 
 
 
substituto no testamento, caso o beneficiário não aceite a herança ou legado: 
 
Art. 1.947. O testador pode substituir outra pessoa ao herdeiro ou ao legatário 
nomeado, para o caso de um ou outro não querer ou não poder aceitar a 
herança ou o legado, presumindo-se que a substituição foi determinada para 
as duas alternativas, ainda que o testador só a uma se refira. 
 
Com isto, se houver substituto, havendo renúncia por parte do beneficiário, o 
substituto herdará. Se não houver (ou o substituto também renunciar), a herança ou 
legado deixados por testamento deverá ser partilhada. 
De qualquer forma, na sucessão testamentária, a renúncia do herdeiro acarreta a 
caducidade da instituição, salvo se o testador tiver indicado substituto (CC, art. 1.947) 
ou houver direito de acrescer entre os herdeiros (art. 1.943). 
 
Irrevogabilidade da Aceitação e da Renúncia 
 
Art. 1812, CC – São irrevogáveis os atos de aceitação ou de renúncia da 
herança. A renúncia é irrevogável, a não ser que se comprove que o renunciante obrou 
por um vício que aderiu a sua vontade. Nesse caso, se o ato de consentimento 
encontra-se viciado é anulável. 
A renúncia é, também, irretratável, não admite revogação, pois, tratando-se de 
ato jurídico unilateral. É um ato solene e se aperfeiçoa no momento da emissão da 
vontade, gerando seus efeitos. ELA SE OPERA RETROATIVAMENTE. 
É claro, como qualquer ato jurídico, proveniente de erro, dolo ou violência pode 
sofrer a sanção de invalidade (é anulável a renúncia). OBS: art. 1813. 
Nesse caso, ocorrerá a invalidade absoluta se não tiver sido feita por escritura 
pública ou termo judicial, quando feita por pessoa absolutamente incapaz, não 
representada e sem autorização judicial; e relativa, quando proveniente de erro, dolo 
ou coação, a ensejar a anulação do ato por vício de consentimento, ou quando realizada 
sem a anuência do cônjuge, se o renunciante for casado em regime que não seja o da 
separação absoluta de bens. 
 
 
 
 
 
 
 
Quadro comparativo 
 
RENÚNCIA CESSÃO 
Antes de aceitar a herança Após aceitar a herança 
Expressa Expressa 
Escritura pública ou termo nos autos Somente por escritura pública 
Repúdio total da herança Cessão pode ser parcial ou total 
Não pode haver renúncia em favor de pessoa 
determinada – operada a renúncia a quota parte 
divide-se entre os demais herdeiros 
A cessão é em benefício de pessoa ou pessoas 
determinadas 
Irrevogável Irrevogável 
Admite retratação em caso de vício de vontade – 
mas é caso de anulação ou nulidade. 
 
Renunciada a herança a parte do renunciante

Outros materiais