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Universidade do Estado da Bahia – IV Jacobina – Ba Curso: Licenciatura em História, 2019.2 Disciplina: Aspectos políticos da América Latina Docente: Lineker Noberto Discente: Jéssica Elen Cavalcante AVALIAÇÃO Questão: Como visto na terceira unidade do curso, a América Latina passou por um processo de militarização política na segunda metade do século XX. Levando em consideração que todos os países possuem suas particularidades, escolha e aborde uma das experiências debatidas em sala (ditadura paraguaia, uruguaia, chilena e argentina). A América Latina enfrentou diversas fases conturbadas, como vimos no decorrer do curso, o século XX em especial, foi palco de grandes e rápidas transformações, principalmente pelo processo de militarização política na região. Neste período houve uma proliferação de golpes militares, gerando uma sequência de rupturas em sistemas políticos até então tradicionais, impulsionadas por motivações ideológicas ligadas na maioria das vezes ao contexto global. A expansão dos regimes militares, inicialmente no Cone Sul – Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile, foi amplamente alimentada pelo apoio norte-americano, fornecendo suporte técnico e financeiro para os golpes militares que acenderam na região abaixo da linha do equador. É patente que os Estados Unidos sempre manteve relações diversas com esses países sul-americanos, no entanto, com o contexto de Guerra Fria e a ascensão dos conflitos entre os governos internacionais, essas relações ficaram ainda mais estreitas, principalmente pela necessidade norte-americana de sobrepor um potencial influencia soviética sobre a região, que potencialmente poderia ter ocorrido sob a sombra da experiência cubana. Nesse contexto, os Estado Unidos buscou se antecipar contra uma suposta ameaça comunista no território sul-americano, inflando os grupos considerados opositores as tendências tidas como comunistas no Cone Sul, afirmando principalmente a participação direta dos militares na política, alimentando a tese de que estaria neste apoio a possibilidade maior de combater essa ameaça, e expandir a influência dos Norte- americanos na região mais ao sul. Logo, a partir de pactos e negócios em comum, ocorreram na América do Sul muitos golpes militares, seguidos de regimes ditatoriais com apoio americano, dentre eles, a experiência argentina, objeto principal deste trabalho, em especial a que sucedeu o governo Peronista. Para compreender está última ditadura argentina é necessário analisar o contexto histórico do país que sofria intervenções militares frequentemente, em 1930 a Argentina sofreu o primeiro golpe de Estado, seguido por mais seis golpes sendo o último em 1976, o qual será aqui tratado, obtendo a redemocratização até então definitiva, somente em 1983. Entre o período de 1973 até 1976 o povo argentino comemorou um “espirro” democrático após esta sequência de golpes militares, com a eleição de Hector José Cámpora e o retorno de Juan Domingo Perón. Cámpora assumiu o governo em 1973 e pode-se dizer que sua eleição serviu de pano de fundo para volta de Perón, pois, em julho do mesmo ano Cámpora renunciou e Perón retornou do seu exílio, para disputar novas eleições e assumir novamente o governo argentino, encurtado pela sua morte em julho de 1974. Com a morte de Perón, quem assumiu foi sua sucessora e esposa Isabelita Perón (1974-1976), no entanto, o governo de Isabelita foi marcado por diversos conflitos políticos e econômicos que, abriu portas para um novo golpe sucedido por mais uma ditadura militar. Em 1976, Isabelita Perón que sucedia seu falecido esposo, não resistiu à pressão golpista de quatro Juntas Militares, que a derrubaram do poder e assumiram o governo argentino durante os sete anos seguintes. Esta junta era constituída pelos comandantes das três Forças Armadas, Jorge Rafael Videla (Exército), Emilio Massera (Marinha) e Orlando Agosti (Aeronáutica), sendo eles os responsáveis por escolher um representante para as funções executiva e legislativa. Foi instituído na Argentina um governo autodenominado de “Processo de Reorganização Nacional”, o qual tinha como objetivo reorganizar o país de todas as formas, lutando contra as ameaças comunistas e contra o inimigo interno, o Peronismo. Ainda em 1976 foi sancionado um Estatuto que estaria acima da Constituição do país, atribuindo amplo poder aos militares, com a centralização do poder nos comandantes, prática institucional esta que foi historicamente denominada como o Terrorismo de Estado1. O Processo de Reorganização Nacional era pautado numa política neoliberal, seguindo a cartilha Norte-americana, no entanto, não se tratava de uma novidade, uma vez que, as políticas neoliberais foram aplicadas na Argentina inicialmente em 1975, ainda no governo de Isabelita Perón, pouco antes do Golpe de Estado, e se consolidaram com a política econômica do Ministro da Fazenda José Alfredo Martínez de Hoz entre março de 1976 e março de 1981. (ROJAS,2011) O general Jorge Rafael Videla foi o primeiro a assumir a presidência durante a ditadura e ficou a maior parte do tempo no cargo, até 1981. Em sua liderança, a Argentina se alinhou econômica e politicamente aos Estados Unidos, incluindo-se na Operação Condor2 , que além de ter como objetivo eliminar as ameaças comunistas da América Latina, promoveu a limitação de alguns direitos e liberdades individuais da população, principalmente os relacionados a liberdade de expressão e direitos políticos, além disso, também motivou perseguições, prisões arbitrárias, torturas e assassinatos contra qualquer um que se opusesse ao regime. Em relação as questões econômicas, do ponto de vista do regime militar, a participação do Estado deveria ser mínima, deixando essa tarefa sob gestão do próprio mercado, isso além de indicar uma política respaldada no neoliberalismo, também evidencia uma ditadura de caráter classicista. O governo ditatorial também se pautou numa política de desindustrialização, onde, mantinha-se a crença de que eliminando a indústria elimina-se também o principal fator de disfunções da economia política – o trabalhador e suas reivindicações. Com a crescente importação de produtos estrangeiros houve uma redução das exportações e diminuiu-se significativamente a produção industrial, desse modo, o país tomou um prejuízo econômico muito grande e entrou numa enorme crise com o passar dos anos devido a dívida externa acumulada. Essa influência da política externa americana colocou a Argentina numa posição de total dependência das grandes potências capitalistas, principalmente, dos Estados Unidos, que reflete inclusive nos dias atuais. 1 O Terrorismo de Estado “em suma, é um sistema de governo que emprega o terror para enquadrar a sociedade e que conta com o respaldo dos setores dominantes, mostrando a vinculação intrínseca entre Estado, governo e aparelho repressivo”. SOUZA, Fabiano Farias de. Operação Condor: Terrorismo de Estado no Cone Sul das Américas. 2 A Operação Condor consistia em debater estruturas de organização político-revolucionárias de orientação comunista, as ações promoviam a troca de informações entre os países para perseguir militantes ligados a organizações e partidos que faziam oposição aos governos militares. Durante este momento de transformações, os grupos responsáveis pelo Terrorismo de Estado agiam incessantemente, pela defesa do regime suprimindo toda e qualquer tentativa de insurreição, ação evidenciada principalmente pelo desaparecimento de pessoas, normalmente de pessoas ligadas a organizações e partidosque faziam oposição aos governos militares. Com o aumento da repressão, a resistência se organizou, sindicatos, entidades estudantis, e dentre outros grupos opositores juntaram-se, dando origem inclusive a um dos maiores movimentos de oposição, a “Asociación Madres de La Plaza de Mayio” (Associação de Mães da Praça de Maio), fundada em 1977 e composta, como o próprio nome sugere, por mães de pessoas desaparecidas durante a ditadura, realizando manifestações denunciando os abusos do poder contra os Direitos Humanos. Posteriormente, com o governo enfraquecido Videla foi afastado do cargo em 1981, e o chefe do Estado Maior do Exército Roberto Eduardo Viola assumiu temporariamente o poder, sendo sucedido no mesmo ano, também temporariamente, por Carlos Alberto Lacoste, até a nomeação definitiva pela Junta Militar de Leopoldo Galtieri. O governo de Galtieri (1981-1982) foi marcado pelo conflito com o Reino Unido, a chamada Guerra das Malvinas, as ilhas Malvinas estavam sob domínio britânico desde 1833 e a Argentina reivindicava o território, acusando o Reino Unido como invasor. Em 1982 implodiu o conflito armado entre Argentina e Reino Unido pelas denominadas Ilhas Malvinas localizada no Atlântico Sul. Não há um consenso, até hoje, sobre a descoberta inicial das Ilhas, à época, pretendendo fazer uma revisão histórica, também visando o fortalecimento do regime, e desenvolver sua economia, já que ouvia- se sobre a existência de reservas de petróleo na região, Argentina entrou nesse confronto contra os ingleses pelo domínio das Malvinas. Iniciada em abril de 1982 com duração de 74 dias, a Argentina perdeu a guerra e saiu politicamente ainda mais enfraquecida, com a derrota, Leopoldo Galtieri renunciou ao cargo e em seu lugar assumiu de forma temporária Alfredo Oscar Saint-Jean, que ocupou o cargo de presidente até a Junta Militar indicar o General Reynaldo Bignone. Na presidência, Bignone criou a Lei de Auto-Anistia para impedir que militares fossem julgados pelos seus crimes, o que facilitou a transição para um possível regime democrático e, logo depois anunciou a convocação de eleições presidenciais para outubro de 1983, em setembro, o candidato da União Cívica Radical Raúl Alfonsín venceu as eleições e assumindo o cargo pondo fim a ditadura do país. Por fim, vale citar que a ditadura argentina se caracterizou pela repressão extremamente violenta, apesar de ter sido uma ditadura curta, estima-se que mais de trinta mil pessoas desapareceram. Além disso, a política econômica aplicada gerou um enorme prejuízo econômico ao país. Logo, pode-se deduzir que a intervenção do governo americano na Argentina além do aspecto ideológico, teve como propósito a preservação dos interesses dos Estados dominantes capitalistas, marcado pelo o controle dos grupos sociais e a criação de um regime de dependência comercial que até hoje evidencia-se pela economia fragilizada do país. Referências Bibliográficas: FERRERAS, Norberto O. A ditadura militar na Argentina de Marcos Novaro e Vicente Palermo. São Paulo: Edusp, 20017. (772p.) ROJAS, Gonzalo Adrián. A ditadura militar na Argentina (1976-1983): retomando algumas hipóteses frente aos relatos oficiais. Lutas Sociais, São Paulo, vol.18, n.32, p.163-176, jan./jun. 2014. SOUZA, Fabiano Farias de. Operação Condor: Terrorismo de Estado no Cone Sul das Américas. Aedos. Revista do corpo discente do PPG-História da UFRGS, nº8, vol.3, janeiro-junho de 2011, p.159-176.
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