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FACULDADE SERRA DA MESA-FASEM CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO ALEFE CARVALHO BORGES BRUNO BORGES CAIO LUIZ DE MELO NASCIMENTO CARLOS HENRIQUE DA SILVA FARIAS EDER ANTÔNIO DOS SANTOS SILVA VICTOR MAYCON DA SILVA MOREIRA VEDAÇÃO DA REVIÇÃO PRO SOCIETATE URUAÇU 2020/1 1. INTRODUÇÃO A revisão criminal é um instituto jurídico que visa reavaliar o processo do acusado a fim de corrigir erros de julgamento e procedimental. No Brasil a revisão criminal somente pode realizada quando em benefício do réu, ou seja, quando após transito em julgado da sentença condenatória ou absolutória imprópria, nos casos previstos no Art. 621 do Código de Processo Penal. Dessa forma, a revisão que tenha por objetivo prejudicar a situação do acusado não é admitida no ordenamento jurídico brasileiro. Esse tipo de revisão é a chamada revisio pro societate, que significa revisão em favor da sociedade, tem cabimento em decisões de mérito absolutórias quando a sentença for proferida em desacordo com a lei e/ou a verdade material dos fatos, em prejuízo da sociedade e da própria justiça. Esse trabalho tem como objeto de estudo principal a revisio pro societate, tal tema é assunto controvertido na doutrina mundial, onde se discute a sua validade. Portanto, com foco na doutrina nacional trazemos à luz os posicionamentos de doutrinadores nacionais e seus argumentos, sejam eles contra ou a favor dessa espécie de revisão criminal, e por fim, alguns julgados demonstrando como os tribunais brasileiros se posicionam acerca do tema. 2. DA REVISÃO CRIMINAL A revisão criminal figura no ordenamento jurídico como ação autônoma de impugnação, sendo de competência originaria dos tribunais. Tem o objetivo de rever decisão condenatória ou absolutória impropria com transito em julgado, em decorrência de erro judicial. O Art. 621 do Código de Processo Penal elenca em rol taxativo os fatos que podem ensejar tal ação. Art. 621. A revisão dos processos findos será admitida: I – quando a sentença condenatória for contraria ao texto expresso da lei penal ou à evidência dos autos; II – quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou documentos comprovadamente falsos; III - quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do condenado ou de circunstância que determine ou autorize diminuição especial da pena. Sendo assim, a revisão criminal será admitida quando entender-se que o réu foi condenado de forma injusta. No Brasil, somente será admitida a revisão criminal quando em benefício do réu, dessa forma o ordenamento jurídico brasileiro proíbe a revisão pro societate. Tal proibição encontra seu fundamento no Art. 5º, §2º da Constituição Federal de 1988, o qual admite que direitos e garantias oriundas de tratados internacionais em que o Brasil seja parte, concomitantemente ao Art. 8.4 do Pacto de San José da Costa Rica (Convenção americana de direitos Humanos) ratificado pelo Brasil em 1969. Aduz o referido diploma: Artigo 8º. Garantias judiciais [...] 4. O acusado absolvido por sentença transitada em julgado não poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos. 3. DA REVISÃO CRIMINAL PRO SOCIETATE A revisão criminal pro societate (em favor da sociedade) é aquela que tem cabimento quando os errores in iudicando ou in procedendo ocorrem em decisão de mérito absolutória transitada em julgado. Ela tem por objetivo a desconstituição da sentença favorável ao acusado, proferida em desacordo com a lei e/ou com a verdade material dos fatos, em prejuízo da sociedade e da própria justiça. Como já mencionado anteriormente, a revisão pro societate não é admitida no ordenamento jurídico brasileiro, contudo, de acordo com pesquisa realizada por Jorge Alberto Romeiro países como Alemanha (CPP atualizado em 1º de 1960); Alemanha Ocidental (CPP, par. 362); Noruega (CPP de 1º/07/1934, par. 415); Suíça (Lei Federal de Processo Penal, de 15/06/1934, art. 229, salvo os cantões de Nidwald, Valais, Vaud e Genève); Suécia (Lei Processual de 18/07/1942, posta em vigor em 1º/01/1948, capítulo 58, par. 3º); Hungria (CPP, de 1951, alterado em 1954 e 1957, parágrafos 213 e 214); Iugoslávia (CPP de 1º/01/1954, par. 379); Tchecoslováquia (CPP de 1956 que vigorou até 1961); Áustria (CPP de 20/04/1960, par. 355); e, Rússia (CPP de 27/10/1960, arts. 373 e 380), admitem a revisão em prol da sociedade. Entretanto, a revisão pro societate é assunto controvertido na doutrina mundial, discutindo-se, portanto, a sua validade. 4. POSICIONAMENTO DOUTRINÁRIO 4.1. JULIO FABBRINI MIRABETE Mirabete posiciona-se como favorável à revisão em prol da sociedade haja vista que sob o ponto de vista da lógica e da busca da verdade material, judicial ou processual, a revisão não deveria ser admitida somente quando do interesse do acusado, mas também quando é favorável ao interesse da justiça, ou seja, quando após o trânsito em julgado da sentença absolutória, descobrirem-se provas da responsabilidade criminal do réu ou que as provas que motivaram sua absolvição ou extinção da punibilidade sejam atestadas como falsas. Aduz o referido autor: Sob um ponto de vista de lógica, a provocação dos tribunais depois de transitar em julgado a sentença deveria caber também ao Estado quando se verificasse injustiça da decisão que favoreceu o réu, como ocorre em várias legislações. Embora o instituto da vedação da revisio pro societate decorra de tratado internacional ratificado pelo Brasil, Mirabete defende que: Embora criada pela Constituição de 1891, a revisão criminal não se inclui mais entre os direitos e garantias individuais da Carta Magna vigente, mas está apenas prevista na lei processual. Nada impede, portanto, que seja ela abolida ou se institua também a revisão pro societate, como já se tem aventado. 4.2. PEDRO LESSA Pedro Lessa posiciona favorável ao entendimento pro societate assim como o pro réu são muito relevantes dentro de um determinado processo, ele cita na sua obra ‘memorias jurisprudencial Pedro Lessa’ que. Desse modo, fica evidente que, nos termos da Constituição de 1891, /somente havia a revisão criminal pro reo, o que Pedro Lessa considerava uma mutilação do instituto científico, que deveria compreender também situações pro societate, nos casos de sentenças absolutórias ou em que as penas fossem muito brandas. 4.3. EDGARD MAGALHÃES NORONHA A revisão criminal consiste em ação autônoma de impugnação, de acordo com Renato Marcão; para Fernando Capez (2019), trata-se de ação penal rescisória. Apesar da divergência doutrinária quanto à natureza jurídica da revisão criminal, temos que trata-se do reexame de um processo já transitado em julgado, para modificação de sentença judicial anterior em razão de: sentença penal condenatória contraria a texto legal, sentença condenatória contraria a provas constantes nos autos, sentença condenatória fundada em provas falsas, surgimento de provas que comprovem a inocência do condenado, ou quando surgirem provas que autorizem a minoração da pena. O ordenamento jurídico brasileiro adota, tradicionalmente, a revisão criminal pro reo, tendo em vista que não admite a revisão pro societate. A revisão pro societate objetiva a desconstrução da sentença favorável ao réu, em desconformidade com a lei ou provas materiais, prejudicando a sociedade. Para Renato Marcão (2019), ainda que de sentença judicial errônea decorra absolvição do acusado, não haverá revisão pro societate. De acordo com Edgard Magalhães Noronha (2002), a revisão criminal tem aplicabilidade quando utilizada em benefício do acusado, mesmo que a sentença aplicada não tenha sido severa o suficiente, para livrá-lo de decisão injusta. Isto é, a revisão criminal só existirá em benefício do réu. Segundo Noronha, a revisão pro societate ensejaria insegurança jurídica no quetange a coisa julgada, posto que ela “não pode estar a todo momento sujeita a reexames” (p. 506), pois, deste modo o interesse judicial correria risco em razão da instabilidade decisória. 4.4. VICENTE GREGO FILHO Tendo em vista a realidade no âmbito processual penal, a revisão criminal que por sua vez é a desconstituição de uma sentença sendo que ao iniciar qualquer processo será caracterizada na origem nos tribunais, um grande anexo ao se dizer sobre a revisão criminal somente vai ser efetivamente aplicada quando for desfavorável ao réu. Inexiste dentro do ordenamento jurídico brasileiro a revisão pro societate, sendo plausível a ideia de que no processo que se dá a sentença trânsito em julgado primeiramente permitirá a revisão em prol dos direito do réu, que está sendo julgado, sendo contrária a ideia de que a decorrente revisão possa ser interposta a favor da sociedade. Isto é, a sentença condenatória pois, é que é recusável, admitindo-se, também, a revisão de sentença de absolvição impropria (...) porque tem conteúdo sancionatório: a aplicação da medida de segurança. (Greco Filho, 1991, pág. 387). Ao analisar essa doutrina. Somente existirá absolutamente a revisão a favor do réu, segundo Vicente Greco Filho “nem mesmo a extinção da punibilidade obtida com certidão de óbito falsa tem sido admitida como recidivem ou modificável após o prazo recursão respectivo”. Pois segundo os seus pensamentos, aberta as exceções poderia ser perigosa as aberturas nas quais permitiriam dentro da garantia de liberdade visto que não poderá ser admitida. 5. PRECEDENTES E JURISPRUDÊNCIA 5.1. HABEAS CORPUS N° 84.525 – MG RELATOR: CARLOS VELLOSO PROCESSO: HC 84525 MG ÓRGÃO JULGADOR: SEGUNDA TURMA - STF PARTES: Florismar Viana Barbosa, Artur Gonzaga da Costa, Superior Tribunal de Justiça. PUBLICAÇÃO: LEXSTF v. 27, n. 315, 2005, p. 405-409 DJ 03-12-2004 PP-00050 EMENT VOL-02175-02 PP-00285 JULGAMENTO: 16 de Novembro de 2004 EMENTA PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE AMPARADA EM CERTIDÃO DE ÓBITO FALSA. DECRETO QUE DETERMINA O DESARQUIVAMENTO DA AÇÃO PENAL. INOCORRÊNCIA DE REVISÃO PRO SOCIETATE E DE OFENSA À COISA JULGADA. FUNDAMENTAÇÃO. ART. 93, IX, DA CF. I. - A decisão que, com base em certidão de óbito falsa, julga extinta a punibilidade do réu pode ser revogada, dado que não gera coisa julgada em sentido estrito. II. Nos colegiados, os votos que acompanham o posicionamento do relator, sem tecer novas considerações, entendem-se terem adotado a mesma fundamentação. III. Acórdão devidamente fundamentado. IV. H.C. indeferido. 5.2. RECURSO ESPECIAL N° 1.172.278 – GO ( 2009/0246886-9 ) RELATOR: MINISTRO JORGE MUSSI PROCESSO: REsp 1172278 GO 2009/0246886-9 ÓRGÃO JULGADOR: QUINTA TURMA – STJ PUBLICAÇÃO: DJe 13/09/2010 JULGAMENTO: 26 de Agosto de 2010 EMENTA RECURSO ESPECIAL. CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA. CONDENAÇÃO PELO TRIBUNAL DO JÚRI. RETIFICAÇÃO DE DEPOIMENTO TESTEMUNHAL. REVISÃO CRIMINAL JULGADA PROCEDENTE. DETERMINAÇÃO DE NOVO JULGAMENTO PELO TRIBUNAL POPULAR. POSSIBILIDADE. RECURSO DESPROVIDO. 1. Ao Tribunal do Júri, conforme expressa previsão constitucional, cabe o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, sendo-lhe assegurada a soberania dos seus veredictos. 2. Por outro lado, o ordenamento jurídico assegura ao condenado, por qualquer espécie de delito, a possibilidade de ajuizar revisão criminal, nas hipóteses previstas no art. 621, do Código de Processo Penal. 3. In casu, o recorrente foi condenado pelo delito de homicídio qualificado, tendo transitado em julgado a sentença. Com base na retificação de depoimento testemunhal, foi apresentada revisão criminal, em que se pleiteava a absolvição do requerente, por ausência de provas. 4. Considerando-se que o Tribunal de Justiça julgou procedente a revisão criminal para determinar a realização de novo julgamento popular, com fundamento na soberania dos veredictos, não merece reparo o aresto objurgado por estar em consonância com julgado desta Corte Superior. 5. Recurso desprovido. 5.3. HABEAS CORPUS N° 104.998 – SP RELATOR: MINISTRO DIAS TOFFILI PROCESSO: HC 104998-SP ÓRGÃO JULGADOR: PRIMEIRA TURMA - STF PARTES: Ministro Dias TOFFILI, Ivanildo Canudo Soares, Marcelo Martins Ferreira e outros (A/S), Superior Tribunal de Justiça PUBLICAÇÃO: Dje-085 DIVULG 06-05-2011 PUBLIC 09-05-2011 EMENT VOL- 02517-01 PP-00083 JULGAMENTO: 14 de Dezembro de 2010 EMENTA EMENTA "HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE AMPARADA EM CERTIDÃO DE ÓBITO FALSA. DECISÃO QUE RECONHECE A NULIDADE ABSOLUTA DO DECRETO E DETERMINA O PROSSEGUIMENTO DA AÇÃO PENAL. INOCORRÊNCIA DE REVISÃO PRO SOCIETATE E DE OFENSA À COISA JULGADA. PRONÚNCIA. ALEGADA INEXISTÊNCIA DE PROVAS OU INDÍCIOS SUFICIENTES DE AUTORIA EM RELAÇÃO A CORRÉU. INVIABILIDADE DE REEXAME DE FATOS E PROVAS NA VIA ESTREITA DO WRIT CONSTITUCIONAL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE. ORDEM DENEGADA. 1. A decisão que, com base em certidão de óbito falsa, julga extinta a punibilidade do réu pode ser revogada, dado que não gera coisa julgada em sentido estrito. 2. Não é o habeas corpus meio idôneo para o reexame aprofundado dos fatos e da prova, necessário, no caso, para a verificação da existência ou não de provas ou indícios suficientes à pronúncia do paciente por crimes de homicídios que lhe são imputados na denúncia. 3. Habeas corpus denegado. 5.4. HABEAS CORPUS N° 358.292 – SP ( 2016/0146054 – 3 ) RELATOR : MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA PROCESSO: HC 358292-SP ÓRGÃO JULGADOR: SEXTA TURMA – STJ PUBLICAÇÃO: Dje 01/09/2016 JULGAMENTO: 23 de agosto de 2016 EMENTA EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL. VIA INADEQUADA. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. AUSÊNCIA DE CUMPRIMENTO INTEGRAL DA PENA. POSSIBILIDADE DE CORREÇÃO. FATO JURÍDICO INEXISTENTE. OFENSA A COISA JULGADA. INEXISTÊNCIA. WRIT NÃO CONEHCIDO. 1. Por se tratar de habeas corpus substitutivo de recurso especial, inviável o seu conhecimento, devendo ser analisado, entretanto, a existência de ilegalidade flagrante. 2. A decisão que julgou extinta a punibilidade de pra paciente, posteriormente revogada, baseou-se em um fato jurídico inexistente, qual seja, o cumprimento integral da pena; portanto pode ser revista, sem que tal caracterize ofensa à coisa julgada. 3. Writ não conhecido. 6. CONCLUSÃO Foi exposta no nosso trabalho a relevância de um instituto chamado de revisio pro societate, onde expomos o entendimento de varios doutrinadores favoravel e contrários a esse assunto, demonstramos a relevância desse recurso dentro de um processo para que seja garantida o devido processo legal. Podemos notar então que assim como o pro reu o pro societate deve estar sempre presente no processo penal, pois assim temos um processo mais justo e humanizado. Como foi notado expomos o entendimento doutrinario e também buscamos jurisprudencias para complemetar nosso trabalho e trazer um entendimento mais simples aos nossos colegas de classe e professora. 7. REFERÊNCIAS LESSA.Pedro. memorias jurisprudenciais ministro Pedro Lessa. Obra de brasilia 2007.pag 51 e 52 sobre pro societate. MARCÃO, Renato. Curso de Processo Penal. 5º ed. São Paulo: SaraivaJur, 2018. NORONHA, Edgard Magalhçaes. Curso de Direito Processual Penal. 28 ed. São Paulo: Saraiva, 2002. CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 5º Edição. São Paulo: SaraivaJur, 2019. JUSBRASIL.HC 104998-SP. https://stf.jusbrasil.com.br/. Acesso 09/03. JUSBRASIL. HC 409161- MS 2017/ 0178735-8. https://stj.jusbrasil.com.br/. Acesso 09/03. JUSBRASIL.HC 84525 MG. https://stj.jusbrasil.com.br/. Acesso 09/03. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo penal - 18 ed. Rev. e atual. Até 31/12/2005. 5 reimpr. - São Paulo: Atlas, 2007.pag 700. JORGE Alberto Romero,Da Revisão, apud Geraldo Batista de Siqueira, et al, Revisão Criminal:Titularidade do Ministério Público, in Justitia 99/77, p. 76. FILHO Grego Vicente. Obra sobre processo penal. Edição de 1991.
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