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Genero e Sexualidade 100519

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Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 01 - Gênero e História 
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
1 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Discutir o conceito de Gênero. 
 A temática a ser enfocada nesta unidade é um estudo sucinto sobre o conceito 
de gênero. Vamos evidenciar que não se trata de ressaltar a diferença entre o homem e 
a mulher, tampouco de tentar alçar a mulher em uma posição de superioridade, mas de 
entender gênero como uma construção histórica e cultural. 
 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Para Varikas (1989), a noção de relação de gênero é importante aos estudos 
contemporâneos, pois volta-se para o conhecimento da condição feminina, 
especificamente, para explicitar as desigualdades entre homens e mulheres. 
Segundo a autora, é necessário separar sexo biológico, mais ou menos dado 
pela natureza, do sexo social, produto de uma construção social permanente, que cada 
sociedade institui para organizar as relações entre homens e mulheres. 
Barbosa (1989) afirma que gênero não significa homem e mulher tal como 
nascem, mas, sim, como se fazem com diferentes poderes, diferentes comportamentos 
e diferentes sentimentos. 
Vale dizer que, embora os estudos de gênero foquem a mulher como objeto 
de estudo, de um ponto de vista mais abrangente, devemos entender o termo como 
uma construção social, histórica e cultural, assentadas em diferenças sexuais. Nessa 
perspectiva, o conceito de gênero não se refere a um ou a outro sexo, mas às relações 
construídas socialmente entre eles. 
Vale dizer que as desigualdades de gênero não são distintas das demais 
desigualdades presentes na sociedade, tais como, raça, religião, economia, que 
concretizam mecanismos de produção e reprodução da discriminação. 
Leonardo
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 01 - Gênero e História 
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
2 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
O ponto de partida para o estudo de gênero não deve, em hipótese alguma, 
assentar-se na diferença biológica, pois isso significa aceitar a submissão da mulher ao 
homem, por ser, fisicamente, menor; pelo poder de maternidade; pela feminilidade. 
Aceitar a diferença de mulher e homem do ponto de vista biológico pode 
pressupor a consolidação do homem no exercício do poder; pode implicar um estudo 
que consiste, simplesmente, no exame de semelhanças e diferenças entre mulheres e 
homens. 
Scott (1990) afirma ser o gênero elemento constitutivo das relações sociais 
assentadas nas diferenças distintivas dos sexos. Um estudo de gênero deve levar em 
consideração como as diversas sociedades dão significação ao feminino e ao masculino. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Em meados dos anos 70, introduziu-se o conceito de gênero como categoria 
científica para explicitar as relações sociais entre os sexos, não se referindo, 
especificamente, a um ou a outro sexo, numa visão diferente da dos naturalistas e 
positivistas. 
Barbosa (1989) afirma que gênero não significa homem e mulher tal como 
nascem, mas, sim, como se fazem com diferentes poderes, diferentes comportamentos, 
diferentes sentimentos. 
Contra os discursos naturalistas e hegeliano, que ressaltam a diferença entre 
homem e mulher, baseando-se no sexo biológico, há, no início do século XX, a 
reivindicação de igualdade dos direitos civis e políticos e o acesso às profissões 
intelectuais. Surge a “Nova Eva”, em que passa, na cidade, a ser a mulher importante, 
embora tal relevância ainda esteja ligada à família. Trata-se da gestão da vida cotidiana. 
Assim, do trabalho doméstico não-assalariado, a mulher passa a outros afazeres, 
pequenos comércios, que lhe dão recursos complementares ao orçamento. 
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 01 - Gênero e História 
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
3 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
Perrot (1992), em seu estudo sobre as mulheres do século XVII e XIX, afirma que, 
embora juridicamente ocupassem posição inferior aos homens, uma vez que não 
exerciam direito de voto nem preenchiam posições políticas, na prática, constituíam o 
sexo superior, pois eram o poder que se ocultava por detrás do trono: elas “puxavam os 
fiozinhos dos bastidores”, enquanto os homens se mexiam na cena pública. 
Para Perrot (1997), as mulheres se ativam em todos os sentidos, tornando sua 
contribuição orçamentária marginal em essencial, como consequência do desemprego 
do homem; rebela-se contra a exploração dos preços pelos comerciantes, lutam por 
aluguéis justos e organizam mudanças na calada da noite, quando não podem pagá-
los. É uma mulher mais livre nos gestos, nas vestimentas, resistindo também à polidez e 
à afetação recatada. 
Saber se há “nova Eva”, se as mulheres se ativam em todos os sentidos, só pode 
ser por um caminho: o estudo dos discursos da e sobre as mulheres, temas de nossas 
próximas unidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 02 - A Mulher Mãe, a Mulher Dona de Casa 
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
4 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
Discurso é um suporte abstrato que 
sustenta os textos. 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivo: 
Efetuar um estudo sobre o papel da mulher 
 Nesta unidade, abordamos os discursos sobre a mulher mãe e dona de casa, 
com vistas a resgatar as marcas reveladoras de um papel intramuros exercido pela 
mulher. Para tanto, recorremos a textos que explicitam tais discursos. 
 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Para Varikas (1989), a noção de relação de gênero é importante aos estudos 
contemporâneos, pois se volta para o conhecimento da condição feminina, 
especificamente, para explicitar as desigualdades entre homens e mulheres. 
Segundo a autora, é necessário separar sexo biológico, mais ou menos dado 
pela natureza, do sexo social, produto de uma construção social permanente, que cada 
sociedade institui para organizar as relações entre homens e mulheres. 
Considerando-se que a 
formação discursiva determina o 
que pode e deve ser dito por 
uma determinada formação ideológica, pode-se afirmar que o sexo social é, então, 
determinado pelos discursos que circulam, na sociedade, sobre a relação homem e 
mulher. 
É consenso que, em nossa sociedade, homem e mulher têm estatuto diferente 
e, para cada um, há regras sociais ancoradas e articuladas. Não se trata de uma 
distinção da atualidade, mas, segundo Bruschini (1990), a opressão feminina não ocorre 
num período histórico determinado, mas se estende para as sociedades primitivas. 
Leonardo
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 02 - A Mulher Mãe, a Mulher Dona de Casa 
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
5 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
Aleitamento Mercenário: As mulheres de 
famílias mais abastadas possuíam 
escravas, empregadas, também, com a 
função de amas de leite. 
Para assistir ao vídeo acesse: YouTube - 
Cobertores Parahyba 
 
Conforme Antunes (1992), as mulheres são educadas para serem afetuosas, 
para sentirem mais gratidão, para exercitarem a graciosidade, para gostarem da casa e 
para participarem dos trabalhos domésticos. Isso, segundo a autora, merece crítica, 
pois, embora sendo tais afirmações 
verdadeiras, não é possível 
estabelecer um grau de 
valorização sobre as atividades 
voltadas para o interior (espaço reservado à mulher) e exterior (espaço masculino). 
Aliados a tais discursos, podemos citar os discursos figurativos da mulher “rainha do 
lar”, da “mãe”, da mulher “sexo frágil”. 
No século XIX, o discurso médico sanitarista, recorrendo ao problema do 
aleitamento mercenário, reacende a figura da mulher como “guardiã do lar”. Trata-se 
de um modelo da família, cuja ênfase é a intimidade do lar. 
Conceber a mulher como mãe e guardiã do lar, implica a aceitação do instinto 
natural, a procriação, e o sentimento da mulher emrelação a sua responsabilidade 
social de aceitação de seu campo profissional: a dona de casa, a responsável pela 
educação dos filhos, a mãe de família. 
Vale lembrar que ao homem era reservado o espaço extramuros, a esfera 
pública do trabalho, à mulher, a esfera privada. 
Vamos ver como isso se efetiva na prática? Quem não se lembra das 
propagandas dos Cobertores Parayba? 
Vale a pena retomá-las. 
Leia o texto: “Já é hora de 
dormir não espere mamãe mandar”. Ora, aqui está clara a função educativa e guardiã 
da formação dos filhos da mãe. Ela manda, os filhos obedecem. 
Escrevi, há algum tempo, um artigo a respeito da mulher policial, a partir de 
textos produzidos por elas. Examine bem o que disseram: 
 
http://www.youtube.com/watch?v=5qgAAsxdqwI&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=5qgAAsxdqwI&feature=related
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 02 - A Mulher Mãe, a Mulher Dona de Casa 
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
“A missão da polícia é servir a comunidade, portanto, a mulher com seu 
instinto materno o faz com delicadeza e austeridade”. 
“Na polícia Militar, é estabelecido às mulheres, no trabalho perante ao público, 
a aplicação da Polícia Comunitária, mais efetiva. Nós, ao meu ver, transmitimos 
mais segurança fraternal e mais carinho aos nossos “clientes” que geralmente 
são cidadãos com algum tipo de problema, é claro”. 
“Mas apesar de tudo, tem algo positivo, desde a emoção de fazer um parto, 
entregar criança perdida ao seu responsável e muitos casos”. 
 
Nesses fragmentos, embora sejam produzidos por mulheres que já ocupam o 
espaço público, o discurso figurativo da mulher mãe e carinhosa, da mulher delicada, 
mas austera, da mulher que educa é uma retomada do já dito que é assumido e 
endossado. Além disso, ela, mulher, reserva ao policial feminino tarefas diferentes das 
dos policiais masculinos, corroborando o discurso da desigualdade entre homens e 
mulheres. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Os textos publicitários também materializam o discurso da mulher, mãe e dona 
de casa, como podemos verificar abaixo. 
 
 
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 02 - A Mulher Mãe, a Mulher Dona de Casa 
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
7 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
Desnecessárias palavras para explicarmos o texto acima, pois as imagens falam 
por si: mãe fazendo bolo, mãe cozinhando, costurando, limpando e lustrando a casa. 
Evidentemente, que, após todas essas tarefas, surge o descanso merecido. 
O exame das produções das detentas revelou-nos que o já dito, já cristalizado, 
retorna em outra época histórica: trata-se do discurso da mulher mãe, da mulher 
protetora. Segundo elas, a ausência dos filhos é o maior problema que enfrentam, 
como podemos observar nos fragmentos: 
 
“O que mais me machuca é a falta dos meus filhos”. 
“Neste lugar me falta o principal: meus filhos”. 
“Meu maior sofrimento foi ter que deixar a minha filha nos braços da minha 
irmã e entrar na viatura”. 
“A dor maior é a saudade da família, principalmente do filho”. 
 
Nesses fragmentos, a imagem projetada da mulher é de Madona que protege 
os filhos e sofre por eles. É o instinto materno que fala mais alto, podendo-se inferir 
que a privação da liberdade nada significa diante da separação, comprovando-se, nesse 
silenciamento, a reiteração de um discurso calcado na visão naturalista, em que 
questões relativas à liberdade e à opressão são da alçada do mundo masculino. 
 
 
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 03 - A Mulher em Revista: Anos 70 a 80 
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
8 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivo: Examinar textos referentes à mulher em uma Revista Feminina 
Examinamos os arquivos da revista feminina A Feiticeira, veiculada trimestralmente em 
Catanduva, interior de São Paulo, nos anos de 1970 a 1980, no espaço denominado 
Cantinho Feminino, cujas responsáveis foram Carmem Suzana até 1976 e, dessa época 
até 1999, a cronista Olga Amorim, e instituímos séries temáticas, que abordam os 
discursos da e sobre a mulher, a partir das quais é possível detectar a construção da(s) 
identidade(s) feminina interiorana. Nesta unidade, examinamos os textos publicados na 
série Beleza. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
De acordo com um padrão cultural, histórico e heterossexual, o ideal da beleza e da 
forma configura-se como uma meta a ser atingida pelas mulheres, exigindo-lhes que 
entrem em competição, mediante a aparência, pela atenção do marido, do namorado, 
do patrão e, até mesmo, de outras mulheres, conforme Vestergaard e Schroder (1976). 
Para isso, um determinado padrão de beleza feminina, valor social e 
positivamente instituído, aparece materializado discursivamente na revista, sob a 
legenda de Dicas, em que são abordadas as técnicas de como tornar os lábios mais 
bonitos, regimes milagrosos, maquiagem, uso de perucas, enfim, dicas que evidenciam 
como a mulher deve proceder para se tornar mais bela e, obviamente, endossar os 
valores sociais. 
 Chama-nos a atenção o destaque dado aos olhos femininos, como podemos 
observar em dois textos publicados em dezembro de 1970 e em 1971, ano XXXI, da 
referida revista. 
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 03 - A Mulher em Revista: Anos 70 a 80 
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
9 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
Polêmica Discursiva ocorre quando, 
em um mesmo espaço textual, há 
manifestados discursos que se opõem. 
Bem poucas mulheres dão aos olhos os cuidados que merecem. Salientando a beleza 
dos olhos, você estará destacando o encanto do seu rosto. Como o essencial é a 
simplicidade, você poderá usar a mesma pintura pela manhã e à noite. Agora, se quiser 
um efeito mais sofisticado, depois das seis da tarde acrescente um leve sombreado 
abaixo da sobrancelha (1970) 
 
Em outro, depreende-se 
Um par de olhos bem maquilados dá maior força sobre a beleza feminina (...). Aplique 
sobre as pálpebras farta camada de sombra líquida com finalidade de umidificar e 
conservar a maquilagem. Passe sombra em pó em toda a volta do olho, tanto junto aos 
cílios superiores como inferiores. E pronto: você está com os olhos mais sedutores do 
mundo. 
 
 Nos dois textos acima, 
pode-se observar a polêmica 
discursiva, pois, se em um deles há 
afirmada a simplicidade; no outro, há assinalada a necessidade de intensificação da 
maquiagem, como nítido apelo à sensualidade e à sedução. Resta-nos questionar a 
razão de tanta atenção aos olhos. Para nós, trata-se de uma retomada do saber 
consensual de “os olhos são as janelas da alma”, que, uma vez destacados, permitem a 
visualização da feminilidade e da doçura, elementos e características vistos como 
“próprios” das mulheres. Ressalte-se, ainda, que alma é substantivo feminino, em que 
se guardam esses sentimentos. Uma vez mais lembramos que o sentimento, em 
oposição à razão, remete-nos ao campo do feminino. 
 Outras partes do corpo são referenciadas, pois observamos receitas para 
fortalecimento dos músculos do pescoço; para firmar o busto; para o fortalecimento da 
unha; para manter-se magra; para a conservação da pele suave, cujas dicas são evitar o 
sol e proceder a uma correta limpeza da mesma, por meio de cremes e de máscaras. 
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 03 - A Mulher em Revista: Anos 70 a 80 
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
10 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
Enfim, há preocupações bem específicas do campo feminino, que assinalam a 
necessidade e, por que não dizer, urgência de um determinado padrão de beleza 
feminina. 
 Se a beleza é bastante enfocada nos textos, cabe salientar que ela só pode ser 
classificada e percebida em relação ao seu oposto, a feiúra. Essa relação semântica é ali 
referenciada, nos textos, poisas mulheres feias são instauradas como interlocutor 
explícito. O próprio título corrobora essa afirmação “Como corrigir os defeitos”, cujo 
sentido é a feiúra. Para isso, há uma intertextualidade, na forma de citação, dos versos 
de Vinícius de Moraes: “As muito feias que me perdoem, mas a beleza é fundamental”. 
Cabe salientar que a esse discurso sobre a beleza contrapõe-se outro expresso no 
texto, instaurando a polêmica discursiva. Nesse sentido, o produtor do texto, uma 
mulher, utiliza-se da voz de um enunciador (ser, cuja voz é trazida para o interior do 
texto, sem que lhe sejam atribuídas palavras precisas), como se pode verificar em 
“porém há quem defenda a tese de que a mulher não deve ser bela, mas simplesmente 
“diferente”. É com base nesse “diferente” que o sujeito produtor afirma o seu ponto de 
vista. 
 Vejamos, então, diferente em quê? À primeira vista pode-se dizer que diferente 
é a mulher que foge aos padrões de beleza construídos na e pela sociedade, mas, 
segundo as próprias palavras do sujeito, é a mulher “nem feia nem bonita, com defeitos 
e qualidades, mas não anônima, apagada ou insignificante”. Nesse discurso, está nítida 
a construção de um novo saber sobre a beleza, caracterizando a polissemia discursiva 
(rompimento com o já dito e instauração do novo) vista não como aparência física 
apenas, mas definida a partir da essência, da espiritualidade, portanto, a partir da alma. 
Continuamos, assim, presos àquele campo que é social, cultural e historicamente 
constituído, o do feminino. Para isso, basta tornar o “ponto fraco”, os defeitos, em 
“ponto forte”. Mas como isso é possível? Quais as estratégias plausíveis? De acordo 
com a autora do artigo, o recurso seria o uso da inteligência, inferindo-se, 
contrariamente à memória (saber acumulado sobre os discursos) estabelecida, que a 
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 03 - A Mulher em Revista: Anos 70 a 80 
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
11 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
Nós não criamos nada, mas os discursos que produzimos são retomados de 
outros discursos já ditos, caracterizando a memória discursiva: todo o saber 
arquivado em nossa memória. No entanto, é possível romper com o já dito e 
instaurar um novo saber. Trata-se da Polissemia Discursiva. Quer saber um 
exemplo de polissemia? Ouça a música Bom Conselho de Chico Buarque. 
 
mulher possui inteligência e que esta não se circunscreve ao campo do masculino. 
Além disso, silencia-se outro discurso opositor: aquele que diz ser a mulher bonita 
desprovida de capacidade intelectual. A esse respeito, faz-se importante notar a tensão 
existente em tal discurso, ou seja, o mesmo discurso que, em alguns momentos, é 
aceito e impõe identidades e padrões pré-estabelecidos para as mulheres; em outros, 
como no caso do uso da inteligência, avança, indo além das normas. Mas é preciso 
observar que o recurso da inteligência é invocado em tema visto como feminino, isto é, 
a beleza. 
 Em seguida, o produtor do texto dá a “receita”, para que a mulher “diferente” 
adquira os valores sociais necessários, assinalando três pontos básicos: “intuição, 
feminilidade e técnica”. Ora, os dois primeiros são reveladores da memória discursiva 
sobre a mulher: a portadora do sexto sentido (capacidade de ser a mulher mais afeita 
aos estados emocionais, aos estados da alma) e feminilidade (traço hegemônico da 
distinção homem/mulher). Esses pontos, segundo o produtor do texto, não se 
aprendem, pois são naturais. Dessa maneira, reforçando a idéia de que as identidades 
são fixas e imutáveis, as diferenças entre homens e mulheres naturais e a 
exclusivamente biológica perpetuam o caráter fixo da oposição homem x mulher. A 
esse respeito, vale a pena destacar os trabalhos de Margareth Rago, Rachel Soihet, Joan 
Scott, entre outras que, não de hoje, estão atentas às relações de gênero e ao estudo 
das relações e estratégias de dominação. 
 
 
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 03 - A Mulher em Revista: Anos 70 a 80 
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
 O terceiro, a técnica, seria passível de aprendizagem, por isso, é enumerada 
várias dicas sobre os cuidados com o rosto e com o corpo. 
 O que se coloca sobre essa afirmação é: Será que todas as mulheres possuem 
intuição e inteligência e são capazes de aprender as técnicas de cuidados corporais? 
Seriam tais cuidados corporais preocupação exclusiva e naturalmente feminina? Quais 
são as mulheres capazes de cuidados? Nesse sentido, pode-se falar que há implícito o 
discurso da exclusão, ou seja, as diferentes só se tornarão capazes, se dotadas de 
inteligência. E as demais, aquelas não dotadas de beleza, pelo menos de um tipo de 
beleza, e de inteligência? A elas, o silêncio do sujeito produtor, cujo significado é 
explícito. 
 
 
 
 
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 04 - A Mulher em Revista: Anos 70 a 80 Parte II 
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
13 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivo: Continuar a reflexão iniciada na unidade anterior. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
[...] Em torno das relações com o corpo, convém ressaltar que as inúmeras e 
diversas exigências feitas ao corpo feminino partem de um padrão masculino e 
heterossexual, investido no aumento do nível de prazer masculino. Afinal, muitas 
mulheres buscam atingir o referido padrão de beleza, seguindo as “dicas” e “conselhos” 
de várias maneiras, para seduzir e agradar seus parceiros. Dessa maneira, os discursos 
selecionados em nossa pesquisa classificam, normatizam e criam corpos delineados em 
sexualidade, reforçando as diferenças e sugerindo identidades fixas. Por meio dos 
cuidados com o corpo, as mulheres sujeitavam-se às práticas reguladoras. Nas palavras 
de Tânia Swain: 
 
De um lado, o masculino, cuja genitália, física ou metafórica, concede-lhe um local de 
poder e de autoridade enquanto sujeito universal: o homem, sinônimo de humano, 
sujeito dotado de transcendência. De outro, o feminino, o Outro inevitável, marcado 
pela imanência de um corpo que lhe é destino, na maternidade e na sexualidade. 
(2002:328) 
 
Ainda sobre a Beleza, examinamos outro item: Bazar de Utilidades, veiculado no 
Cantinho Feminino, em 1972, em que há a abordagem do tema “Peruca”. Nesse caso, 
constatam-se dicas de qual peruca usar e como colocá-la adequadamente. Porém, o 
que mais nos chama a atenção é o início do texto: 
 
Leonardo
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 04 - A Mulher em Revista: Anos 70 a 80 Parte II 
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
“Para estar sempre na moda e bem penteada, para sair à noite sem ter ido ao 
cabeleireiro, a solução é sempre a mesma: você deve usar uma peruca”. 
 
Nele, duas informações merecem destaque: estar na moda e estar bem penteada sem 
ter ido ao cabeleireiro, pois depreendemos, novamente, o discurso da exclusão. Em 
outras palavras, quem, na verdade, são as mulheres, qual a classe social, etnia, idade 
que, à época, podiam estar na moda, podiam ter peruca? Possivelmente, só aquelas 
com poder aquisitivo, remetendo-nos a uma determinada raça, “as brancas”. Além 
disso, ir ao cabeleireiro, sem ser para uma ocasião especial, mas simplesmente para sair 
à noite, também é uma prática de mulheres de nível econômico razoável. Assim, o 
sujeito produtor do texto dirige-se a uma pequena parcela de mulheres, reservando-se 
à outra, à grande maioria, a qualificação de fora de moda e fora, também, da vida 
noturna e social. A elas, o espaço privado, não o público. 
 Outro texto usa de eufemismo para se referir à mulher que não se enquadra nos 
padrões de beleza socialmente admitidos. Assim, observamos: 
 
“as mulheres não bonitas devem escolher penteados sofisticados, selvagens,nada de 
modelos simples”. 
 
 
Nesse caso, a negação “não bonitas” remete-nos à afirmação semântica do termo 
“feias”. Cabe, então, indagar qual era o padrão de feio, uma vez não haver qualquer 
referência a ele. Mesmo assim, o texto apresenta solução, ou seja, as não bonitas 
devem recorrer a maquiagens, vistas como recurso para mudar o que, socialmente, é 
apresentado como intolerável, por causar, no lugar do prazer e admiração, o 
desencanto e repúdio. Trata-se da feiúra nas e de mulheres. Tais maquiagens marcam o 
rosto 
 
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 04 - A Mulher em Revista: Anos 70 a 80 Parte II 
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
Se a Polissemia Discursiva se 
caracteriza pelo rompimento com o 
discurso já dito, já sacramentado, a 
Paráfrase Discursiva é a retomada dos 
discursos, em outro tempo e lugar. É a 
repetição dos discursos. 
“por contraste entre branco e marrom, traços fortes, anatomia forte, delineador preto e 
cílios postiços”. 
Esse discurso parece corroborar o discurso da aparência feminina, ou seja, 
quanto mais sofisticada, mais produzida, mais bonita se torna a mulher, que se opõe ao 
discurso da simplicidade da naturalidade, já mencionado. 
 Em relação ao passar do tempo, que, consensualmente, parece ser um dos 
grandes dramas de qualquer mulher, há um texto publicado em 1972, cujo sujeito 
produtor é uma mulher. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
 Nesse texto, denominado “Os quarenta”, observamos, logo no seu início, a 
posição discursiva do seu produtor “Os quarenta anos representam um ponto crucial 
para o sexo fraco”, que se caracteriza 
pela retomada, em forma de paráfrase 
discursiva, do discurso que vê a 
mulher como inferior, como frágil e, 
portanto, submissa. 
 A dimensão temporal que opõe passado e presente se encontra explícita, por 
meio do marcador “hoje”. Assim, depreendemos: 
“A vida agitada que tantas e tantas mulheres levam hoje - quer trabalhando fora de 
casa, quer no lar - representa uma forte ameaça, impondo-lhes, sobretudo, esforços 
físicos e psíquicos que as esgotam aos poucos”. 
 No texto, o presente, caracterizado pelo trabalho da mulher fora e dentro do espaço 
de casa, propicia-lhe desgastes. Se, no passado, a vida da mulher era restrita ao lar, ao 
marido e aos filhos, no presente, sem negar o passado, há o discurso da dupla jornada 
das mulheres. Portanto, o que é avanço, a ocupação da mulher do espaço público, do 
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 04 - A Mulher em Revista: Anos 70 a 80 Parte II 
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
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ponto de vista do sujeito produtor, é prejudicial à aparência física e psicológica, aos 
atributos naturais de mulher e esposa amante.. 
 Deve-se salientar, entretanto, que, mesmo com esse acúmulo de tarefas 
desempenhadas pelas mulheres do presente, “sua mocidade, sua pele louça” é mais 
conservada do que a das avós. Isso, segundo o produtor do texto, se deve aos cuidados 
que a mulher atual dispensa à sua beleza, por meio de alimentação cuidada e prática 
de esportes. Esses elementos, apregoados pela sociedade como “essenciais”, só são 
atingidos, se a mulher compreender a sua importância. Em outras palavras, o desgaste 
é inevitável, quer para a dona de casa, quer para a que executa dupla jornada; o 
diferencial está no uso da inteligência e no desejo de se enquadrar ao protótipo de 
mulher estabelecido socialmente. 
 Dessa maneira, a mulher continuará bela, desejável e sedutora se conseguir, por 
meio de virtude e inteligência, se valer dos recursos a sua disposição, feita mulher 
consumidora ávida por produtos de beleza. 
 
 
 
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 05 - A Mulher em Revista: Anos 80 a 90 – Mulher e Trabalho Relacionamentos e Múltiplos Papéis. 
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
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CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivo: Examinar séries temáticas da Revista Feiticeira, com vistas a detectar os 
discursos da e sobre a mulher. 
 Nesta unidade, abordamos textos que explicitam a série temática: A mulher e o 
trabalho; O relacionamento homem e mulher e os múltiplos papéis da mulher. Vamos 
lá? 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Em relação à ocupação do espaço público pelas mulheres, em 1974, na Revista 
Feiticeira, há um artigo que merece comentário. 
 O título é “As profissões médias”, cujo sentido, no texto, é o de profissões 
que satisfaçam a pessoa economicamente, mas, sobretudo, àquela que se adapta às 
suas aptidões, seus talentos potencializados. 
 As profissões referidas são as executadas, preferencialmente por 
mulheres: cartazista letrista, figurinista, maquiadora, manicure, decoradora e vitrinista. 
 Essas profissões, segundo o sujeito produtor do texto, destinam-se às 
pessoas (mulheres) que não tiveram condições de cursar a universidade ou às mulheres 
que não o fizeram por endossarem o discurso pré-estabelecido a elas: o do casamento. 
 Em relação à cartazista letrista, há enumeradas as aptidões requeridas: 
habilidade manual; objetividade; criatividade; boa percepção de detalhes, capacidade 
de síntese, senso espacial desenvolvido, ressaltando-se que essas se ajustam, uma vez 
mais, ao campo do feminino. 
 Quanto à figurinista, as exigências são, basicamente, as mesmas, 
incluindo-se a criação de ternos e o cálculo de custos, atividades do campo do 
masculino. Além disso, tanto a cartazista quanto a figurinista têm como espaço de 
Leonardo
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 05 - A Mulher em Revista: Anos 80 a 90 – Mulher e Trabalho Relacionamentos e Múltiplos Papéis. 
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
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ocupação as fábricas, retomando-se o discurso sobre as mulheres e as fábricas, no 
século XIX, conforme trabalhos da historiadora francesa Michelle Perrot. 
 À maquiadora e à manicure são exigidas as aptidões: coordenação 
motora, sensibilidade tátil, rapidez de reações, habilidades para pequenos movimentos, 
também consideradas próprias do feminino. Tais profissões têm como espaço o salão 
de beleza, freqüentado, à época, exclusivamente por mulheres, não todas, obviamente. 
 A decoradora e a vitrinista têm como local de trabalho os escritórios, as 
casas de decoração, lojas, magazines e estabelecimentos similares que são 
frequentados por homens e mulheres, mas há supremacia do campo feminino. 
 Se o momento, século XX, apresentava a mulher como ocupadora do 
espaço público, a revista em questão aproveitou-se disso, mas destinou a elas, 
mulheres, ocupações e espaços nitidamente femininos. 
 Sobre o tema relacionamento entre homem e mulher, há vários artigos 
produzidos por mulheres, que abordam, por exemplo, as férias conjugais e o divórcio. 
 Sobre o divórcio, no início do texto, o sujeito produtor manifesta-se 
contrariamente, empregando como argumento a situação por que passa o país em 
1976: a fome, a doença, a ignorância, ressaltando que é com esses fatos que devem os 
políticos se preocupar e não com o divórcio. Usa, ainda, metáforas religiosas, tais como: 
“apresentam o divórcio numa bandeja de ouro, como foi apresentada a cabeça 
de João Batista à pecadora Salomé”, 
donde se infere o sentido de divórcio como pecado, contra as leis da Igreja. 
 Além disso, o divórcio é apresentado como desestruturador da sociedade, 
ou, pelo menos de um tipo específico de sociedade, conforme se verifica em “o divórcio 
só irá abalar ainda mais nossa pequena estabilidade constitucional”; como “cavalo de 
Tróia”, cujo interior está repleto de “amargura, insegurança, neurose, frustração e 
solidão”. Acreditamos ser pertinente a indagação sobre que frustrações e amarguras o 
divórcio acarreta. Para nós, muitas vezes, as mulheres, por serem vistas como sujeitos 
destinados, naturalmente, à família,são apresentadas como as responsáveis pela 
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 05 - A Mulher em Revista: Anos 80 a 90 – Mulher e Trabalho Relacionamentos e Múltiplos Papéis. 
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
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desestruturação dessa instituição. Fora da família, não teriam mais o espaço único e 
privilegiado de atuação e convívio. 
 Cabe assinalar que, antecipando a imagem do interlocutor defensor do 
divórcio, o produtor do texto refere-se às possíveis vantagens do mesmo, empregando 
os verbos no futuro do pretérito, cujo efeito de sentido é o de indicar uma 
possibilidade, uma probabilidade remota. Assim, mesmo para os “casais desajustados 
que pensariam em construir uma nova vida, em busca da felicidade”, o divórcio se 
configuraria como algo maléfico, pois criaria dramas de consciência e multiplicaria os 
problemas, atingindo os filhos e provocando a desestruturação familiar. Pois bem, 
sendo a mulher a “dona” da casa, a “rainha” do lar, quem seria o responsável pelos 
desajustes familiares? 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
 Finalmente, recorrendo ao discurso religioso, o sujeito produtor corrobora 
a posição da igreja sobre a indissolubilidade do casamento, negando, dessa maneira, as 
tendências sociológicas. Além disso, em tom laudatório clama pela luz divina para que 
interceda nos cérebros dos deputados e para que não aprovem o divórcio e, no futuro, 
esses mesmos deputados não aprovem o “aborto”, entrecruzando, dessa maneira, os 
muitos fios dialógicos entre o político e o religioso prol da estrutura familiar e social, 
que é histórico e culturalmente possibilitado. 
 Ainda sobre o relacionamento homem/mulher, um texto instaura como 
interlocutor a mulher que sai de casa de férias sem o marido, mas com os filhos. 
 Nesse texto, há referências explícitas sobre o discurso do “tudo pode para 
os homens”, inclusive aventuras amorosas. Assim, num discurso bem feminista, o sujeito 
revela as falsidades das quais os maridos se apoderam para assumirem outros papéis, 
como o de “coitados”. Para isso, ao lado das práticas masculinas “escrevem cartas 
diárias às esposas, contando suas desventuras por estarem abandonados, como um 
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 05 - A Mulher em Revista: Anos 80 a 90 – Mulher e Trabalho Relacionamentos e Múltiplos Papéis. 
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cachorro sem dono”, explicita-se o discurso feminino “coitadinho, tão sozinho em casa, 
enquanto eu me divirto com as crianças”, inferindo-se, portanto, o já-dito sobre a 
submissão e a culpabilidade da mulher, ou quanto é fácil enganá-la. 
 Se, de um lado, a mulher deixa o marido e o lar para passear; do outro, 
carrega os filhos consigo. Então, o questionamento a ser feito é: Quem realmente está 
de férias, está se divertindo? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 06 - A Mulher em Revista: Anos 80 a 90 – Mulher e Trabalho Relacionamentos e Múltiplos Papéis Parte 
II 
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CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivo: Continuar a reflexão iniciada na unidade anterior. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Sobre o tema A mulher e seus múltiplos papéis, selecionamos três artigos 
produzidos por duas mulheres e por um homem. 
 No primeiro deles, publicado em 1977, cujo produtor é um homem, no 
próprio título, há remissão aos papéis destinados à mulher: “A mulher: a mãe, a 
namorada”. 
 No início, o produtor faz um retrospecto sobre esses papéis 
 
“Parece que ainda a vejo, mulher-companheira! Era linda, em sua elegância 
natural, sua pele rósea (...) nunca lhe faltava conformação e paciência, com o homem e 
com os filhos. A mulher namorada e a mulher mãe! Queria ser agradável, servir, ser 
mulher, ajudar, doar-se, amar enfim”. 
 
Nesse discurso, está clara a submissão, o anular-se, para viver a vida do marido 
e dos filhos; o discurso da mãe “para isso foi feita, a mais sublime de todas as missões”. 
Uma vez mais cabe um questionamento, ou seja, quem define tal sublimidade? Não 
seria uma sociedade patriarcal, pautada por padrões, conceitos e discurso, em sua 
maioria, masculinos, brancos e heterossexuais? 
 Chama-nos a atenção o fato de o sujeito produtor elencar esses discursos 
sobre a mulher mãe, para, em seguida, remeter-se ao novo discurso sobre e da mulher 
livre, competidora. Assim, em posição masculina e machista, instaura a oposição 
“mulher que sabe fazer café, cozinhar, arrumar a casa, tornando-a abrigo, paraíso” e 
“mulher sem elegância, com calça Lee desbotada ou cabelos despenteados, 
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 06 - A Mulher em Revista: Anos 80 a 90 – Mulher e Trabalho Relacionamentos e Múltiplos Papéis Parte 
II 
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procurando nos gestos e na vida o lugar que não é seu! Ou então na noite e dia 
buscando, no trabalho, que gera miséria e marginalização, o dinheiro que impede o 
homem de ganhar, porque a prefere mais submissa, mais barata”. O naturalmente, 
feminino - beleza, capacidade e talento para as tarefas domésticas e dedicação - perde, 
assim, seu brilho natural pelo que seria socialmente permitido. Assim, é possível 
detectar discursos que assujeitam e ordenam a construção do sujeito “mulher”, vários 
deles escritos, inclusive, por mulheres. 
 Algumas questões podem ser levantadas sobre esse posicionamento 
discursivo. O primeiro deles diz respeito aos novos lugares ocupados pela mulher. Em 
outras palavras, quem destinou a ela o lar e o fogão? Não teriam sido os próprios 
homens? Outro refere-se à negação explícita que o sujeito faz da mulher que usa calça 
Lee, da mulher que executa tarefas diferentes daquelas a ela destinadas. Assim, 
calcando-se no discurso da mulher “carinho”, “mulher namorada”, “mulher mãe”, enfim, 
mulher Amélia, o sujeito produtor abomina a que executa outras tarefas. Na verdade, 
ser mulher, para ele, é repetir os modelos e papéis que ele assume e dos quais não 
abre mão. 
 Outro texto faz referência às múltiplas facetas da mulher, citando de Eva a 
Barbarella. Assim, tomando como ponto de partida a descoberta que Eva fez sobre a 
nudez, analogamente, o sujeito produtor vê a nova mulher: a que “tira os véus, desata 
as fitas, joga fora os quimonos, ganha o pão, o batom, a pílula com o suor de seu 
rosto”. Trata-se da mulher moderna, capaz de executar atividades iguais às dos 
homens, da mulher que usa como armas o “cálido olhar, a carícia das mãos, a seda da 
pele, a chama misteriosa da espécie, a quentura do sorriso”. É a mulher sedutora, que 
tem querer próprio, ciente da sua subjetividade, é a posse e uso de sua sexualidade, 
condição socialmente a ela negada. 
 Acreditamos ser esse discurso uma polissemia discursiva, isto é, a partir 
de um já dito, rompe-se com ele e se instaura um novo dizer. E esse novo dizer é fazer 
o que os homens fazem, sem, entretanto, perder os doces mistérios da sedução. É 
Leonardo
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 06 - A Mulher em Revista: Anos 80 a 90 – Mulher e Trabalho Relacionamentos e Múltiplos Papéis Parte 
II 
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vestir-se das múltiplas identidades: mãe, mulher, amante, profissional, sem ser 
sobredeterminada por nenhuma em específico, sabendo que as identidades são 
múltiplas, podendo, inclusive ser nômades, como indica Tânia Swain. É assim a nova 
mulher, segundo esse sujeito produtor: uma nova Eva, vibrante, pronta para descobrir o 
paraíso perdido, e que não pertence ao sexo frágil, pois esse “sexo frágil” deixa de ser 
visto como natural e eterno, passando a ser histórico e datado. 
 Essa nova mulher aparece reproduzida e assumida em umoutro texto, 
também produzido por mulher. 
 Nele, o sujeito produtor recorre à voz de um locutor, uma freira da Grã-
Bretanha, cujo posicionamento é contrário à submissão imposta pelos homens, no caso, 
os bispos e superiores diretos. Nesse sentido, em discurso direto, observamos: 
“Na estrutura atual da vida religiosa, uma freira não tem praticamente, nenhum 
direito, mas sobre os ombros muitos deveres: algumas monjas se resignaram de tal 
modo à situação que acabaram convencendo-se de que, ao fazer seus votos, impõem-
se renunciar a todos os direitos humanos... E, contudo, é natural que tenhamos tantas 
responsabilidades. Isso significa que deveríamos, também, manter certos direitos. Há 
cem anos todas as mulheres eram tratadas pelos maridos tal como as freiras são ainda 
hoje tratadas pelos bispos. Ora, por que a Igreja está tão atrasada em relação aos 
direitos que a sociedade aceita como direitos inalienáveis da mulher?”. 
 Nessas ponderações, está evidente a aceitação de que a mulher é outra, 
não importa sua opção social ou religiosa, ao mesmo tempo em que podemos inferir 
que as relações de submissão entre marido e mulher são reproduzidas nas instituições 
religiosas. Esse é o paralelo traçado pela freira que afirma: 
“Até agora, foram sempre os homens que decidiram a que horas devemos 
levantar-nos, a que horas devemos almoçar e como devemos trajar-nos. Trata-se, no 
entanto, de problemas que nós saberíamos resolver melhor sozinhas”. 
 
 
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 07 - A Mulher em Revista: 2000 a 2011 
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
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CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivo: Efetuar um estudo sobre a representação da mulher nos textos publicitários 
de 2000 a 2011 
 Na unidade anterior, examinamos os textos produzidos por e sobre 
mulheres, veiculados na Revista Feiticeira. Para esta unidade, a temática 
abordada será a mulher nos textos publicitários da última década. 
 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Antes de abordarmos a mulher no texto publicitário da ultima década, faz-se 
importante tecermos algumas considerações sobre o texto publicitário. 
O discurso publicitário, muito mais do que informar sobre um determinado 
produto, contribui para definir a representação que nós nos damos do mundo que nos 
rodeia. Nesse sentido, ao discurso de apresentação dos objetos sobrepõe-se o discurso 
figurativo de representação dos sujeitos desejantes (Landowisky, 1996: 105). 
 Os valores de prazer, de mudança para uma vida melhor, de beleza, de 
juventude, entre outros, figurativizados na mensagem publicitária, não se encontram 
apenas no objeto descrito, mas refletem, na imagem construída, os desejos do público 
que os almeja. 
 Nesse caso, a mensagem publicitária, além da valorização do objeto, 
constitui a identidade do seu público, pois constrói, no texto, a imagem do sujeito 
desejante, cumprindo a sua verdadeira função informativa, ou seja, informar nosso 
desejo. 
 Segundo Berger (1972: 58), 
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Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 07 - A Mulher em Revista: 2000 a 2011 
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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
“a busca da felicidade pessoal foi reconhecida como um direito universal. No 
entanto, nas condições reinantes o indivíduo sente-se impotente. Vive uma contradição 
entre o que é e o que gostaria de ser”. 
 
 É justamente esse conflito que a mensagem publicitária explora, ao 
mostrar um mundo do vir a ser e negar a monotonia cotidiana. 
 Vale dizer que os valores fixados para a mulher são materializados nos 
textos publicitários, principalmente, de épocas mais antigas. Assim, a mulher surge 
como a responsável pelos cuidados dos mínimos detalhes da vida dos membros de sua 
família, prevenir-se sobre a manifestação de qualquer doença de seus membros, 
corroborando o papel de protetora do lar, de guardiã do equilíbrio da família, como 
podemos observar no texto abaixo. 
 
 
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 07 - A Mulher em Revista: 2000 a 2011 
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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
 
 O texto acima deixa bem clara a imagem da mulher protetora. Ao afirmar: 
“Para os meus...”, pode-se inferir que há uma referência a todos os membros de sua 
família, que, embora não nomeados estão implícitos no uso das reticências 
empregadas. Além disso, há que se destacar o slogan: Leite Ninho- o melhor do 
mundo! Assim, para a família só serve o melhor do mundo. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
 A trajetória da mulher muda com o passar do tempo. Da rainha do lar já 
podemos evidenciar uma imagem de mulher empresária, executiva, cujo espaço de 
trabalho não é mais o lar, como podemos verificar abaixo. 
 
 
 
 
 Da imagem de uma mulher passiva, abnegada, sombra do homem surge uma 
nova imagem de mulher, simbolizada pela independência, pela força, pela luta para 
transformar a realidade cotidiana e, principalmente, como um ser com desejos que não 
precisam ser escondidos ou camuflados. Observe bem a imagem abaixo. 
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 07 - A Mulher em Revista: 2000 a 2011 
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Da mulher dona de casa, rainha do lar, submissa ao homem, assexuada, pois 
seus desejos e ímpetos sexuais não podiam ser mostrados, surge uma nova mulher 
capaz de tomar iniciativa em busca de um afeto, como podemos observar na imagem 
acima. 
 
 
 
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 08 - A Mulher em Revista: 2000 a 2011 Parte II 
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CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivo: Continuar a reflexão iniciada na unidade anterior. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
[...] A associação entre produtos e mulheres sensuais pode ser inferida nesse 
texto, por meio das alusões visuais e verbais. No visual, observamos a mulher com 
pernas bem feita e bem à mostra, pois usa um vestido curto e insinuante. Vale dizer 
que a cor do vestido: vermelha carrega consigo toda uma simbologia de pecado, pois 
Eva, segundo a Bíblia, mordeu a maça vermelha instaurando o pecado na humanidade. 
 O apelo verbal explicita-se no slogan: Levanta o bumbum e sua auto-estima”. 
Vale dizer que a autoestima pode referir-se à sensação de bem estar da mulher, como 
também pode implicar maior capacidade de sedução. 
 Chama-nos atenção o fato de o homem e a mulher não serem visualizados em 
sua totalidade, pois a cabeça de ambos não está refletida na imagem. Ora, se a cabeça, 
o rosto de cada um dos personagens estivesse à mostra seria uma individualização, isto 
é, seres específicos. No entanto, é possível uma leitura de generalização, ou seja, 
qualquer mulher que usar meias TriFil é capaz de seduzir e imobilizar o homem por 
meio de seus encantos. 
 
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UNIDADE 08 - A Mulher em Revista: 2000 a 2011 Parte II 
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 O objeto veiculado no texto acima é a Meia, razão pela qual estão em destaque, 
no foco de luz, as partes consideradas atraentes e sedutoras da beleza feminina: pernas 
e busto. 
 Na mensagem verbal: “Use Meias Flow. Mas cuidado com o assédio do 
presidente” é possível estabelecermos uma intertextualidade com o caso Mônica, ex-
estagiária da Casa Branca no governo Clinton. 
O que mais nos intriga é que as meias exercem um papel de objeto mágico, pois 
o simples fato de usá-las dota a mulher de possibilidade de conquistar até um 
presidente. 
 
Em Rago, observamos: 
Na sociedade atual, as relações entre o homem e a mulher são falsas e imorais, 
porque se fundam em interesses econômicos e consagram uma situação de 
dominação: a mulher se torna escrava do homem, a quemdeve obedecer 
servilmente. Isto, por sua vez, significa sua total anulação social, refletindo a 
hipocrisia dos sentimentos. (RAGO, 1997: 105) 
 
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 08 - A Mulher em Revista: 2000 a 2011 Parte II 
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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
A partir daí introduzimos um questionamento: será que é assim mesmo? Será 
que a situação de dominação a que a mulher se submete continua? Para responder a 
esses questionamentos, observe, atentamente, as imagens abaixo. Trata-se de um 
único texto, mas veiculado em páginas diferentes. 
 
 Nesta primeira parte da peça publicitária da Du Loren, observamos uma mulher 
jovem com um homem bem mais velho. A mulher, ao alimentar seu marido na boca, 
endossa o papel a ela atribuído no tempo: a “cuidadora” da família, retomando as 
afirmações de Rago, citadas acima. Agora, atente bem, para a segunda parte do texto. 
 
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 08 - A Mulher em Revista: 2000 a 2011 Parte II 
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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
 
 
 Ora, ao dizer: Casamento começa com “meu bem” e termina com “Meus bens”, 
já não constatamos uma mulher submissa, mas uma mulher que planeja, a mulher que 
seduz para tirar vantagem, no caso em questão, os bens advindos do casamento. 
 
 
 
 
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 09 - Mulheres e Espaços 
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CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivo: Explicitar de maneira sucinta a trajetória da mulher na ocupação de espaços 
extramuros. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Dentre as várias profissões ocupadas pela mulher, chama-nos a atenção a de 
policial feminino, uma vez que tal profissão era exclusividade do sexo masculino. Ainda 
hoje, há um percentual infinitamente superior de homens integrando o quadro dessa 
profissão. 
Para Antunes (1992), a própria opção da mulher em exercer este espaço de ação 
é singular. Concordamos com essa afirmação e aliamos a ela o fato de essa opção 
poder caracterizar o movimento de polissemia discursiva, ou seja, o já dito retorna de 
forma diferente, produzindo uma ruptura nos processos de significação, conforme 
Orlandi (1999). Entretanto, o exame sobre a história do policial feminino revela-nos que 
os textos produzidos na criação da corporação caracterizam-se por movimentos de 
paráfrase, isto é, o mesmo que volta, apenas com roupagens diferentes, no novo dizer. 
Ao ser criada, no Brasil, a polícia feminina consideraram-se os discursos que 
revelam as diferenças entre homens e mulheres. Assim, explicita-se que a polícia 
feminina foi criada, porque as mulheres solucionam melhor as tarefas da polícia 
preventiva e da polícia assistencial. Conforme se depreende do Guia do Policial 
Feminino, 
“a polícia feminina destina-se a executar tarefas de policiamento às quais, pela 
natureza, melhor se ajuste o trabalho feminino, em razão de sua formação 
psicológica peculiar, principalmente as que se referem à proteção de menores 
e mulheres”. 
Nesse discurso, há a figura da mulher possuidora do sexto sentido e da mãe que 
dá proteção, evidenciando, portanto, o caráter meramente assistencial. Além desse 
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 09 - Mulheres e Espaços 
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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
caráter social, há, no Guia, imposições como: uso de batom, uso de esmalte claro nas 
unhas e obrigatoriedade de cabelos presos, durante o horário de trabalho. Trata-se de 
regulamentos que, a nosso ver, acentuam a diferença entre homens e mulheres, uma 
vez que impõem hábitos especificamente femininos, não deixando opção de a mulher 
usar ou não batom, por exemplo. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
O interesse pelo tema: a Mulher Na Carreira Policial nasceu por ocasião de um 
curso de Língua Portuguesa que ministrava a esses profissionais, pois, a todo momento, 
percebíamos que o policial feminino apregoava ora um discurso de igualdade, ora de 
desigualdade, em relação aos colegas do sexo masculino. A partir daí, nosso interesse 
foi verificar como o já dito retorna no novo dizer, orientados pela seguinte questão: nas 
produções escritas há movimentos de paráfrase ou de polissemia? 
Nos textos analisados, observa-se que seus produtores, mulheres policias, 
procuram destacar, logo no início, a relação de igualdade em relação aos homens. 
Normalmente, o que se vê são colocações sobre a inserção da mulher no quadro da 
polícia militar, caracterizando, portanto, uma ruptura nos processos de significação: a 
mulher sai do espaço interno a ela confinado, passa a ocupar o espaço externo, não 
mais o da “cozinha”, como nos revelam os seguintes trechos, abaixo relacionados. 
1 -“A profissão de “policial feminino” é mais uma conquista da mulher, em um 
campo ocupado antes exclusivamente por homens”. 
2 -“A mulher, na sociedade, vem desenvolvendo um excelente trabalho dentro 
das várias profissões, alcançando inclusive cargos que exigem liderança” 
3 -“Diante da “Amélia, mulher de verdade”, muito de nós mulheres lutamos 
para conseguir um lugar de destaque que, em determinadas profissões, era 
privilégio dos homens” 
4 -“Nos dias de hoje, é normal as pessoas vêem (sic) mulheres trabalhando em 
profissões, que antigamente, eram ocupadas só por homens” 
5 -“No mundo inteiro e no trabalho, nós mulheres, estamos garantindo nosso 
espaço”. 
6 -“A mulher a cada dia vai conquistando o valor de seu trabalho em várias 
profissões. É comum encontramos muitas delas ocupando cargos de confiança 
e respeito. A profissão de “Policial Militar” é um exemplo claro, pois temos 
desde o Soldado Feminino até o Comandante”. 
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 09 - Mulheres e Espaços 
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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
Em todos os seis fragmentos está claro o novo posicionamento da mulher, a 
ruptura com o discurso de que ela é só para a cozinha e o surgimento do novo, isto é, 
ela pode exercer qualquer outra atividade. Surge, então, a mulher líder, a mulher que 
ocupa cargos importantes, a mulher, que diante da “Amélia”, que sabe lavar e cozinhar, 
luta para conseguir lugar de destaque, deixando implícito que a Amélia ocupa cargo 
inferiorizado. Entretanto, esse discurso polissêmico não se sustenta no decorrer dos 
textos analisados, pois há a retomada do movimento parafrástico, isto é, há a retomada 
do discurso que distingue os dois sexos. 
Outro ponto a assinalar sobre as redações analisadas refere-se ao fato de os 
policiais femininos se contradizerem no mesmo espaço textual. Nesse caso, mesmo 
preconizando a igualdade, negam-na explicitamente, como se pode verificar no 
fragmento abaixo. 
 
“É comum encontrarmos muitas delas ocupando cargos de confiança e 
respeito. Na polícia militar, a seleção é semelhante à do policial masculino, 
desde os testes escritos até o físico só com uma diferença, a concorrência é 
feita somente entre as mulheres e o masculino somente entre os masculinos”. 
 
Ao afirmar que é comum muitas mulheres ocuparem cargo de confiança e 
respeito, silenciou-se que tais cargos eram ocupados apenas por homens. Portanto, o 
que o produtor afirma é que, hoje, há a igualdade. Em seguida, entretanto, vê-se 
claramente o discurso da desigualdade, pois os exames para a carreira são feitos, 
considerando-se o gênero: as provas ocorrem separadamente, isto é, só para homens e 
só para mulheres. 
Em uma outra produção, observamos que o sujeito, ocupando o lugar de policial 
feminino, emprega a primeira pessoa, para modalizar o enunciado, mas, ao falar dos 
policiais femininos, afasta-se do enunciado e usa a terceira pessoa, produzindo um 
efeito de sentido de objetividade. Trata-se, na verdade, de um afastamento do sujeito, 
que sai da individualidadee adota um ponto de vista geral. 
 
Leonardo
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 09 - Mulheres e Espaços 
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
“Na condição de policial feminina, creio que se torna mais difícil, pois elas 
lidam ainda com o preconceito que existe tanto da parte dos civis, como 
dentro da corporação. Enfrentam todos os preconceitos devido a condição de 
MULHER. Isso fica mais forte por ser um campo novo que estão conquistando, 
o qual era restrito aos homens. O reconhecimento do trabalho desempenhado 
pelas policiais femininas é raramente reconhecido e elogiado. Já dos policiais 
masculinos é sempre reconhecido e elogiado, durante as solenidades 
existentes nos quartéis. O grande tabu é que estão sempre comparando a 
força do homem com a da mulher, e nisso elas ficam em desvantagem. Mas, 
no caso da Polícia Militar, as mulheres desempenham um excelente trabalho 
na parte burocrática, no trânsito, na área social, no trabalho com mulheres e 
crianças” 
 
Nesse fragmento, o sujeito se posiciona contrariamente aos discursos que 
afirmam serem as mulheres incapazes de realizar todas as tarefas que o homem realiza. 
Reclama dos preconceitos e diferenças em relação ao tratamento dispensado ao 
policial feminino. Como seu posicionamento discursivo é contrário à prática 
concretizada, pode-se afirmar que este sujeito ocupa uma posição discursiva que 
defende a igualdade entre os gêneros. Mais uma vez, porém, esse discurso de 
igualdade não é sustentado: mais uma vez as mulheres desempenham excelente 
trabalho burocrático. Ora, isso é uma paráfrase do próprio guia do policial militar 
feminino, conforme já citado anteriormente. 
 
 
 
 Gênero e Sexualidade- UNIDADE 10 
Mulheres Transgressoras 
Profª Drª Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
1 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivo: Analisar o discurso de mulheres presidiárias 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
No início do século XX, as mulheres francesas, em decorrência da carestia de laticínios e 
artigos de mercearia, organizam motins que se alastraram aos setores têxtil, chegando 
aos portos industriais, embora contra elas investissem os sindicalistas, que discordavam 
da sua forma de protestar (com panelas e utensílios de cozinha). 
 Concluindo seus estudos, Perrot afirma que as mulheres não são submissas nem 
passivas. Elas se afirmam por outras palavras, outros gestos. Na cidade, na própria 
fábrica, elas têm outras práticas cotidianas, elas “traçam um caminho que é preciso 
reencontrar”. 
 Nesse caminho que se afirma “por outras palavras” e “outros gestos”, há, 
acreditamos, “atalhos” de sentidos que pretendemos resgatar, norteados pela “placa 
sinalizadora” da questão: até que ponto o discurso das mulheres presidiárias do interior 
de São Paulo indicam sentidos assentados no confronto entre o velho e o novo dizer 
das (e sobre) mulheres? Para isso, analisamos textos produzidos por vinte detentas de 
cadeias públicas de Tabapuã e Fernando Prestes, cidades do interior paulista, sobre o 
tema “O que é ser mulher presidiária”. 
 
 
 
 
 Gênero e Sexualidade- UNIDADE 10 
Mulheres Transgressoras 
Profª Drª Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
2 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
Fórmulas Esteriotipadas são formas 
prontas, repetidas e empergadas em 
certas situações. Por exemplo: 
encontrar alguém e cumprimentar; 
pedir licença para adentrara certo 
local. 
Modalidade deôntica exprime 
juízos por meio dos quais o locutor 
procura agir sobre o seu 
interlocutor impondo, proibindo ou 
autorizando, a realização de uma 
determinada situação. 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 O discurso da submissão é manifestado em alguns textos de detentas, como se 
observa abaixo: 
“Me falaram que tem que pedir licença para entrar na sala do 
delegado. Somos dez mulheres as três mais velhas do X praticamente 
não fazem nada. As sete mais novas cada dia uma pra fazer faxina no X 
e cada X tem suas regras. 
Temos que ter cuidado e pensar antes de falar qualquer coisa, porque 
qualquer palavra errada pode gerar uma briga, as regras são rígidas, 
por isso, quando chega uma nova a mais velha do X explica o que 
deve e o que não deve fazer, se erramos somos chamadas atenção na 
hora e perto das outras e nem pensar em reclamar se não arranja briga 
com todas” 
 
 Observa-se que o valor deôntico de “ter que” indica as estruturas de poder 
circulantes na sociedade que são reproduzidas em todas as circunstâncias e a elas as 
presidiárias se submetem, como, por 
exemplo: 
a) atitudes estereotipadas no 
tratamento com autoridades (pedir 
licença ao delegado); 
b) submissão às regras criadas pelas detentas mais velhas (simulacro de lugar de 
autoridade). Em nenhum momento questionam por que entre elas há tratamento 
diferente, por que algumas nada fazem 
e outras a tudo obedecem, já que todas 
são iguais, uma vez que estão na mesma 
situação pelos delitos cometidos. 
 À exceção de dois textos, a maioria 
revela-se submissa às regras, mandos e acordos de cela, num reflexo da própria 
condição feminina estabelecida discursiva e historicamente como tal. 
 Gênero e Sexualidade- UNIDADE 10 
Mulheres Transgressoras 
Profª Drª Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
3 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
 A mulher sensível, afetiva também aparece no discurso das presidiárias. A 
solidariedade é traço bastante frequente em suas produções, pois dividem entre si o 
que têm; consolam-se, podendo-se inferir que a imagem que elas têm da sociedade 
não corresponde à união encontrada nas celas, conforme se depreende das afirmações 
abaixo: 
“Nesse X são todas unidas”. 
“Apesar de todos os sofrimentos nós somos unidas”. 
“Aqui você aprende a repartir, a conviver com pessoas completamente 
estranhas”. 
“Se uma está chorando, está triste, as outras correm consolar”. 
 Em algumas produções, verificamos afirmações referentes ao fato de a 
mulher ser uma guerreira, o que nos revela o movimento da polissemia discursiva, isto 
é, o já dito que retorna de forma diferente, produzindo uma ruptura nos processos de 
significação, conforme Orlandi (1999). Nesse sentido, a mulher mãe e dona-de-casa, 
que vivia às expensas do marido, toma para si a responsabilidade de prover a 
subsistência do lar e da família. Não é mais a mulher do século XIX que apenas 
complementava o orçamento doméstico, com pequenos comércios; é a que, sozinha, 
sustenta seu lar. 
“Guerreira é a mulher que batalha, que vai à luta pra sustentar sua casa, 
criar seus filhos, que mesmo sozinha não teme a sociedade, enfim não 
tem limites pra uma guerreira”. 
“Sou uma guerreira, sempre trabalhei na roça como um homem pra 
sustentar meus filhos”. 
“A mulher é guerreira na parte de vencer e criar os filhos”. 
 Na noção de “guerreira”, reflete-se a iniciativa, a coragem, a ação 
destemida, próprias ao papel do responsável pela criação e sustento dos filhos. Porém, 
esse papel é assumido, conforme o grifado, nos fragmentos acima, como se fossem 
homens, resgatando-se no dito, a visão a partir da qual foi construído: é o homem que 
Leonardo
 Gênero e Sexualidade- UNIDADE 10 
Mulheres Transgressoras 
Profª Drª Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
4 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
trabalha na roça para sustentar os filhos; é o homem que enfrenta a sociedade para 
proteger a família. 
 Assim, temos uma mulher que se vê guerreira, segundo a imagem do guerreiro 
(ela é guerreira, mas não é guerreira). 
 Esse paradoxo se apresenta também em outras definições de guerreira, como se 
depreende dos fragmentos abaixo: 
“Ser guerreira é lutar pelos ideais”. 
“Ser guerreira é ter garra, convicção em tudo o que quer”. 
“Sou guerreira por estar lutando contra o tempo neste lugar. A 
carência deste lugar é totalem todos os sentidos”. 
“Ser guerreira é poder vencer essa batalha e enfrentar essas 
dificuldades sempre de cabeça erguida”. 
“Ser guerreira é ser lutadora com o tempo, com a solidão em todas as 
dificuldades. 
 O deslizar entre os papéis de homem e mulher que o contexto de análise 
do “corpus” nos apresentou, revela a complexidade na delimitação entre a Eva e a 
Madona, entre a guerreira e a não-guerreira, entre homem e mulher. O único elemento 
central na construção de sua identidade social e que marca sua identidade de gênero é 
a maternidade (a maioria fala dos filhos). 
 
 
 
 
 
 
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 11 - Mulheres Transgressoras parte II 
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivo: Analisar o discurso de mulheres presidiárias 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
 Duas produções mostram-nos uma posição de mulher que questiona, que não 
aceita o estabelecido pelas regras da sociedade e, consequentemente, as das celas. 
 Uma delas se posiciona logo no início e afirma: “Hoje me dou conta como 
mulher “submissa” que sou que a mulher é dona de uma grande sabedoria”. 
 Entendemos que essa mulher, na verdade, não é mais submissa, pois , ser 
submissa é aceitar a diferença estabelecida com base no sexo biológico, é aceitar que à 
mulher cabem apenas o lar e os tecidos, conforme apregoavam os naturalistas. Ela é 
diferente e isso pode ser comprovado no uso de aspas na palavra submissa, reflexo de 
outra voz que ela introduz no texto. Essa mulher é diferente, ela não tem apenas 
emoção, ela tem sabedoria e consciência. Ressalte-se, ainda, que, no decorrer de seu 
texto, ela deixa marcas que nos permite dar sentido à “sabedoria” a que se refere. Para 
ela, ser sábia é tirar proveito da situação em que se encontra (“aprendi a fazer tapetes 
de crochê e quando sair daqui vou vender e ganhar dinheiro”). Para nós, essa é a 
mulher que tem consciência de seu papel, porque, utilizando-se da memória discursiva 
da submissão da mulher, ironiza-a e aproveita-se da sua experiência para tornar-se 
sábia, portanto, com o poder (advindo do saber construído) de, inclusive, criticar a 
sociedade a partir desse lugar. 
 
“A sociedade é muito falsa, egoísta, mas tem poder sobre nós, encarceradas. O 
grande mal da sociedade é que eles estão cegos, eles não conseguem ver que 
mesmo encarcerada, nós somos úteis para eles próprios. Trabalhamos aqui 
sem direito a nada, ganhamos aquilo que a gente produz” 
 
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 11 - Mulheres Transgressoras parte II 
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
 A sociedade é falsa, porque faz da mulher um ser submisso, exerce poder, 
porque discrimina a mulher, porque a vê como um bicho, não reconhecendo seu valor 
de lutadora. A sociedade não percebe, segundo suas palavras, que a mulher 
encarcerada é útil, ressaltando-se que há um novo sentido para a expressão “ser útil”, 
isto é, nas palavras do sujeito, “ser útil” não significa produzir para o bem comum, não 
significa ser cidadão, mas, nessa situação não ser um peso para o Estado. Nesse 
sentido, ela é útil porque faz tapetes, vende e sustenta seus filhos, mesmo estando 
presa. Se não os fizesse, seria a própria sociedade que deveria manter seus filhos, aí 
sim, não seria útil. 
 Finalizando seu relato, a detenta afirma que “a mulher não é sexo frágil, é uma 
heroína”, depreendendo-se, mais uma vez, o movimento da polissemia discursiva, 
revelada na figura da mulher forte, questionadora sobre o seu lugar no mundo. 
 Outra produção que nos chamou a atenção foi a referente ao texto abaixo: 
 
“Ser mulher na cadeia não muda nada, o que somos lá fora somos aqui 
dentro. Não me sinto ‘so, não tenho tristeza, só fico triste quando vejo uma 
mulher desvalorizando seu corpo, seu respeito. A falta de respeito é muito 
grande aqui nessa cadeia, são mulheres que usam um argumento tão forte 
que se deixar você fica até sem a calcinha”. 
“Estou presa por uma grande injustiça. São uma quadrilha de traficantes que 
por pouco não tira a minha vida. Tudo armação, começa na alta sociedade e 
termina na favela. Uma quadrilha que matou meu filho e iria matar o outro 
também e ainda olha na minha cara e diz que vai tentar de novo. Veja agora 
se uma pessoa dessa merece viver em sociedade e ainda diz que estuda 
Direito. Veja como são as coisas, nós, pessoas de bem temos que aceitar os 
traficantes e nós não podemos fazer nada. Onde está a justiça”. 
 
 Acreditamos que esse texto, entre os vinte analisados, é o segundo que revela 
uma mulher que é ciente do seu papel como “guerreira”, semelhante à anterior: assume 
o encarceramento “sem tristeza”, como resgate de sua pena, critica a mulher que 
desvaloriza o corpo, critica a companheira que cede às regras da cela (“... se deixar você 
fica até sem a calcinha:); critica a sociedade, pois sente-se injustiçada (“...a quadrilha de 
traficantes...”, “tudo armação”, “...e ainda diz que estuda Direito”, “...onde está a 
justiça?”). 
Leonardo
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 11 - Mulheres Transgressoras parte II 
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
 É interessante observar que, em relação a essa detenta, o carcereiro 
recomendou-nos a não-utilização de seu texto pelo fato de ela “ser louca”, pois havia 
queimado suas roupas, só lhe restando a do corpo, além de mentir a respeito do 
assassinato do filho. Segundo ele, o rapaz morrera de overdose. 
 Essa recomendação, na verdade, indica que o “ser louca” é qualidade atribuída a 
ela, segundo uma imagem pré-estabelecida que o carcereiro tem da mulher. Se ele a 
visse como “guerreira”, entenderia que o queimar as roupas é uma resposta negativa às 
regras impostas na cela, já que as mais velhas se assenhoram dos pertences das mais 
novas. Entenderia também que seu filho havia sido morto, sim, por traficantes, que com 
sua ação levaram seu filho à morte por overdose. Enfim, ela é uma guerreira. 
 É nesse “atalho” das celas dos presídios analisados que constatamos ser muito 
complexos os caminhos para “reencontrarmos” (conforme Perrot) a mulher nos dias 
atuais. Tanto nelas como na sociedade, elas se perdem na ilusão de estarem agindo 
como “guerreiras”, quando, na verdade, ainda veem o mundo pelos olhos dos homens. 
 Das vinte produções analisadas, duas se mostram guerreiras. As outras dezoito, 
nem tanto. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Abaixo, algumas imagens de mulheres transgressoras segundo a sociedade: 
 
 
(Fonte: http://www.select.art.br/article/selects/feministas-sempre) 
 
http://www.select.art.br/article/selects/feministas-sempre
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 11 - Mulheres Transgressoras parte II 
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
Nísia Floresta – Feminista Brasileira 
 
(Fonte: http://www.select.art.br/article/selects/feministas-sempre) 
 
Monique Wittig – Feminista Francesa 
 
(Fonte: http://www.select.art.br/article/selects/feministas-sempre) 
 
 
 
http://www.select.art.br/article/selects/feministas-sempre
http://www.select.art.br/article/selects/feministas-sempre
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 12 - Sexualidade na Infância e Orientação Sexual 
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
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CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivo: Analisar a questão de sexualidade e da orientação sexual. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
 O trecho a seguir foi retirado dos “Parâmetros Curriculares Nacionais” onde fala 
sobre sexualidade e orientação sexual.1 
 
 Sexualidade na infância e na adolescência 
Os contatos de uma mãe com seu filho despertam nele as primeiras vivências 
de prazer. Essas primeiras experiências sensuais de vida e de prazer não sãoessencialmente biológicas, mas se constituirão no acervo psíquico do indivíduo, são o 
embrião da vida mental no bebê. A sexualidade infantil se desenvolve desde os 
primeiros dias de vida e segue se manifestando de forma diferente em cada momento 
da infância. 
Assim como a inteligência, a sexualidade será construída a partir das 
possibilidades individuais e de sua interação com o meio e a cultura. Os adultos 
reagem, de uma forma ou de outra, aos primeiros movimentos exploratórios que a 
criança faz na região genital e aos jogos sexuais com outras crianças. As crianças 
recebem então, desde muito cedo, uma qualificação ou “julgamento” do mundo adulto 
em que estão imersas, permeado de valores e crenças atribuídos à sua busca de prazer, 
os quais estarão presentes na sua vida psíquica. 
Nessa exploração do próprio corpo, na observação do corpo de outros, e a 
partir das relações familiares é que a criança se descobre num corpo sexuado de 
menino ou menina. Preocupa-se então mais intensamente com as diferenças entre os 
 
1 Disponível: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/orientacao.pdf> acesso em: 02/07/2015. 
Leonardo
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 12 - Sexualidade na Infância e Orientação Sexual 
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
sexos, não só as anatômicas, mas todas as expressões que caracterizam o homem e a 
mulher. A construção do que é pertencer a um ou outro sexo se dá pelo tratamento 
diferenciado para meninos e meninas, inclusive nas expressões diretamente ligadas à 
sexualidade, e pelos padrões socialmente estabelecidos de feminino e masculino. Esses 
padrões são oriundos das representações sociais e culturais construídas a partir das 
diferenças biológicas dos sexos, e transmitidas através da educação, o que atualmente 
recebe a denominação de “relações de gênero”. Essas representações internalizadas 
são referências fundamentais para a constituição da identidade da criança. 
As formulações conceituais sobre sexualidade infantil datam do começo deste 
século, e ainda hoje não são conhecidas ou aceitas por parte de profissionais que se 
ocupam de crianças, inclusive educadores. Para alguns, as crianças são seres “puros” e 
“inocentes” que não têm sexualidade a expressar, e as manifestações da sexualidade 
infantil possuem a conotação de algo feio, sujo, pecaminoso, cuja existência se deve à 
má influência de adultos. Entre outros educadores, no entanto, já se encontram 
bastante difundidas as noções da existência e da importância da sexualidade para o 
desenvolvimento de crianças e jovens. 
Em relação à puberdade, as mudanças físicas incluem alterações hormonais 
que, muitas vezes, provocam estados de excitação difíceis de controlar, intensifica-se a 
atividade masturbatória e instala-se a genitalidade. É a fase de novas descobertas e 
novas experimentações, podendo ocorrer as explorações da atração e das fantasias 
sexuais com pessoas do mesmo sexo e do outro sexo. A experimentação dos vínculos 
tem relação com a rapidez e a intensidade da formação e da separação de pares 
amorosos entre os adolescentes. 
As expressões da sexualidade, assim como a intensificação das vivências 
amorosas, são aspectos centrais na vida dos adolescentes. A sensualidade e a “malícia” 
estão presentes nos seus movimentos e gestos, nas roupas que usam, na música que 
produzem e consomem, na produção gráfica e artística, nos esportes e no humor por 
eles cultivado. 
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 12 - Sexualidade na Infância e Orientação Sexual 
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
A escola, sendo capaz de incluir a discussão da sexualidade no seu projeto 
pedagógico, estará se habilitando a interagir com os jovens a partir da linguagem e do 
foco de interesse que marca essa etapa de suas vidas e que é tão importante para a 
construção de sua identidade. 
A comunicação entre educadores e adolescentes tenderá a se estabelecer com 
mais facilidade, colaborando para que todo o trabalho pedagógico flua melhor. 
A presente proposta de trabalho com sexualidade legitima o papel e delimita a 
atuação do educador neste campo. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
O TRABALHO DE ORIENTAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA 
A escola, ao definir o trabalho com Orientação Sexual como uma de suas 
competências, o incluirá no seu projeto educativo. Isso implica uma definição clara dos 
princípios que deverão nortear o trabalho de Orientação Sexual e sua clara explicitação 
para toda a comunidade escolar envolvida no processo educativo dos alunos. Esses 
princípios determinarão desde a postura diante das questões relacionadas à 
sexualidade e suas manifestações na escola, até a escolha de conteúdos a serem 
trabalhados junto aos alunos. A coerência entre os princípios adotados e a prática 
cotidiana da escola deverá pautar todo o trabalho. 
Para garantir essa coerência, ao tratar de tema associado a tão grande 
multiplicidade de valores, a escola precisa estar consciente da necessidade de abrir um 
espaço para reflexão como parte do processo de formação permanente de todos os 
envolvidos no processo educativo. 
A sexualidade é primeiramente abordada no espaço privado, por meio das 
relações familiares. Assim, de forma explícita ou implícita, são transmitidos os valores 
que cada família adota como seus e espera que as crianças e os adolescentes assumam. 
Gênero e Sexualidade 
UNIDADE 12 - Sexualidade na Infância e Orientação Sexual 
Vera Lúcia Masson Xavier da Silva 
 
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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
De forma diferente, cabe à escola abordar os diversos pontos de vista, valores e 
crenças existentes na sociedade para auxiliar o aluno a construir um ponto de auto-
referência por meio da reflexão. Nesse sentido, o trabalho realizado pela escola, 
denominado aqui Orientação Sexual, não substitui nem concorre com a função da 
família, mas a complementa. Constitui um processo formal e sistematizado que 
acontece dentro da instituição escolar, exige planejamento e propõe uma intervenção 
por parte dos profissionais da educação. 
O trabalho de Orientação Sexual na escola se faz problematizando, 
questionando e ampliando o leque de conhecimentos e de opções para que o próprio 
aluno escolha seu caminho. A Orientação Sexual aqui proposta não pretende ser 
diretiva e está circunscrita ao âmbito pedagógico e coletivo, não tendo, portanto, 
caráter de aconselhamento individual nem psicoterapêutico. Isso quer dizer que as 
diferentes temáticas da sexualidade devem ser trabalhadas dentro do limite da ação 
pedagógica, sem invadir a intimidade e o comportamento de cada aluno ou professor. 
Tal postura deve, inclusive, auxiliar as crianças e os jovens a discriminar o que pode e 
deve ser compartilhado no grupo e o que deve ser mantido como vivência pessoal. 
Apenas os alunos que, por questões pessoais, demandem atenção e intervenção 
individuais, devem ser atendidos separadamente do grupo pelo professor ou 
orientador na escola, e poderá ser discutido um possível encaminhamento para 
atendimento especializado. Alunos portadores de algumas deficiências podem 
eventualmente ter dificuldades de comunicação e de expressão da sexualidade e, por 
isso, exigir formas diferenciadas de orientação na escola, nos conteúdos e estratégias 
de abordagem. Dada a expressão singular da sexualidade em cada indivíduo, também 
os portadores de necessidades especiais merecem atenção diferenciada na escola, 
devendo ser acionadas assessorias de profissionais especializados se necessário. 
Propõe-se que a Orientação Sexual oferecida pela escola aborde com as 
crianças e os jovens as repercussões das mensagens transmitidas pela mídia, pela 
família e pelas demais instituições da sociedade. Trata-se de preencher lacunas nas 
Gênero e Sexualidade

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