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História Contemporânea GERARDO ACERVES CONDE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA 1ª EDIÇÃO Sobral/2016 GERARDO ACERVES CONDE | História Contemporânea4 INTA - Instituto Superior de Teologia Aplicada PRODIPE - Pró-Diretoria de Inovação Pedagógica Diretor-Presidente das Faculdades INTA Dr. Oscar Rodrigues Júnior Pró-Diretor de Inovação Pedagógica Prof. PHD João José Saraiva da Fonseca Coordenadora Pedagógica e de Avaliação Profª. Sonia Henrique Pereira da Fonseca Professor Conteudista Gerardo Acerves Conde Assessoria Pedagógica Sonia Henrique Pereira da Fonseca Evaneide Dourado Martins Juliany Simplício Camelo Design Instrucional Sonia Henrique Pereira da Fonseca Revisora de Português Neudiane Moreira Félix Analista de Qualidade Anaisa Alves de Moura Diagramador José Edwalcyr Santos Diagramador Web Luiz Henrique Barbosa Lima Analista de Tecnologia Educacional Juliany Simplicio Camelo Produção Audiovisual Francisco Sidney Souza de Almeida (Editor) Operador de Câmera José Antônio Castro Braga | História Contemporânea6 Sumário 1 2 3 4 Palavra do Professor-Autor ................................................................................... 09 Biografia do autor .................................................................................................. 11 Ambientação ........................................................................................................... 12 Trocando ideias com os autores ........................................................................... 16 Problematizando .................................................................................................... 18 A Historiografia da Revolução Francesa Revolução Francesa ...........................................................................................................................23 Neocolonialismo e Imperialismo Conceito ................................................................................................................................................33 As causas do novo Imperialismo .................................................................................................35 Imperialismo no Extremo Oriente e no Pacífico ....................................................................36 A Questão Nacional no século XIX Nacionalismo e Liberalismo no século XIX ..............................................................................41 O Liberalismo no século XIX ..........................................................................................................41 O Nacionalismo no século XIX......................................................................................................44 A onda revolucionária: 1820 1830 e 1848 ................................................................................45 As unificações da Alemanha e da Itália .....................................................................................48 Nacionalidade e minorias nacionais Nacionalidade e minorias nacionais ...........................................................................................59 5 6 Mundos entre Guerras A Primeira Guerra Mundial ...........................................................................................................65 A antessala da I Guerra Mundial ..................................................................................................66 As causas imediatas à Primeira Guerra Mundial ....................................................................68 As alianças no conflito .....................................................................................................................70 As etapas da guerra ..........................................................................................................................71 Consequências da Primeira Guerra Mundial ...........................................................................72 Os tratados de paz ............................................................................................................................73 A Segunda Guerra Mundial............................................................................................................76 As causas da Guerra ..........................................................................................................................76 Antecedentes imediatos à Guerra ...............................................................................................78 Guerras por etapas ............................................................................................................................80 Consequências da Segunda Guerra Mundial ..........................................................................97 Tensões sociais e processo imigratório A transição demográfica mundial ............................................................................................103 As grandes migrações internacionais .....................................................................................104 Leitura Obrigatória ..............................................................................................108 Revisando ..............................................................................................................110 Autoavaliação .......................................................................................................112 Bibliografia ...........................................................................................................114 Bibliografia Web ..................................................................................................119 História Contemporânea | 9 Palavra do Professor-autor Olá, caros estudantes! Fazemos parte de uma sociedade voltada para a satisfação imediata dos desejos do aqui e do agora, onde se nega o futuro - que ainda não existe-, e se ignora o passado porque já ficou para trás. O presente nega a História. Por isso, a importância da História, e de seu intérprete, o historiador. É importante que você, estudante da História, se coloque perante o TEMPO e os ACONTECIMENTOS com uma atitude diferente daquela que assumem os que não conhecem seu passado. Não somente por revalorizar a sua futura profissão, mas, principalmente, por recuperar a memória que nos identifica socialmente, nos constrói como membros ativos de nosso grupo humano e nos previne de repetir os mesmos erros. Apesar das discrepâncias em torno da nomenclatura dada a esta etapa da História, é de comum acordo entre os historiadores que a História Contemporânea é a etapa mais veloz e mais dramática que a humanidade já vivenciou. Nunca houve tanta produção científica, técnica, literária e industrial. O desenvolvimento humano foi tão grande e tão veloz, que muitos sociólogos e filósofos hoje se questionam sobre o rumo que as ciências e a técnica irão tomar, e sobre seus perigos para o futuro da humanidade. A sociedade humana cresceu em saúde, esticou seu tempo de vida, diminuiu radicalmente o analfabetismo e a mortalidade infantil e aproximou- se por meio das TIC’s, superando as fronteiras. Porém, ao mesmo tempo, nunca o ser humano se colocou tão perto de sua própria extinção. Qual foi o caminho para o ser humano olhar para sua própria dignidade, se tornar independente das ideologias e os mitos, proclamar e defender sua dignidade? Quais foram as causas pelas quais se voltou contra si mesmo? Quais os pensamentos que fundamentaram o agir das forças que levaram a humanidade ao extremo de sua aniquilação? E sobretudo, como evitar que isso volte a acontecer? Na leitura dos acontecimentos passados é possível encontrar respostas a essas perguntas. Por isso é necessário olhar para trás no tempo, sem negá-lo. Ele faz parte de nossa identidade e, ao mesmo tempo, é lição que adverte sobre as consequências futuras do agir recorrente da humanidade. Por isso é verdadeira a sentença que diz que desconhecer o passado, é condenar-se a repeti-lo. | História Contemporânea10Portanto, preparamos este material para orientar o seu estudo, sem limitar-se a ele. Ele não esgota de forma nenhuma a tremenda quantidade de informações que a historiografia contemporânea nos oferece. No entanto, ele é uma boa síntese de alguns de seus mais importantes assuntos, escolhidos para incentivar você a construir seu próprio conhecimento. Realize suas atividades, suas leituras e assista as vídeoaulas. O autor! História Contemporânea | 11 Biografia do autor Gerardo Acerves Conde, Bacharel em Filosofia pela Universidade Pontifí cia. Licenciado em Ciências Eclesiásticas pela Universidade de Navarra, Espanha. Bacharel em Teologia. Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional pelas Faculdades INTA. Licenciado em Letras Espanholas, pela Universidade Federal do Ceará. Mestrando em Gerontologia, pela Universidade Aveiro- Portugal. Atualmente é professor de Língua Espanhola e Formação Humana na Escola Profissionalizante Dom Walfrido T. Vieira e professor universitário, lecio nando várias disciplinas na área de humanas. aAMBIENTAÇÃO À DISCIPLINAEste ícone indica que você deverá ler o texto para ter uma visão panorâmica sobre o conteúdo da disciplina. História Contemporânea | 13 Olá, sejam bem-vindos à disciplina.... Imagine um indivíduo que perdeu totalmente sua memória. Ele vivenciará o drama de ter que recomeçar a viver aprendendo tudo, desde as atividades mais básicas, como segurar os talheres na hora da refeição ou fazer as necessidades fisiológicas, até as mais complexas, como comunicar-se ou ter que conviver familiarmente com quem desconhece, ou pior ainda, identificar-se a si mesmo. Perder a memória é perder a própria identidade. Analogamente, um povo que perdeu sua memória histórica perdeu sua identidade cultural e está condenado a repetir os mesmos erros e a padecer os mesmos dramas. Crescemos sobre aquilo que já sabemos. Sem a história não há progresso. Por isso, a melhor maneira de usufruir do conhecimento, da técnica e da riqueza que a humanidade já foi capaz de criar nos últimos séculos, é conscientizar- se do que a humanidade é capaz de fazer, de bom e de ruim, e a partir da análise do que a humanidade já experimentou deduzir as consequências às quais as atitudes presentes poderão levar à sociedade. Para isso serve a História da humanidade que é relativamente breve. Omo I e Omo II, os esqueletos de Homo Sapiens mais antigos que se conhecem, foram encontrados na Etiópia em 1967 e revelam uma data de cento e noventa e cinco mil anos. Mas essa breve existência sempre foi uma história de confrontação onde os ideais de convivência pacífica, igualdade de oportunidades, recompensa justa ao esforço pessoal e bem-estar viram-se constantemente ofuscados no drama dos diferentes conflitos em que as sociedades se embrenharam. Eles, no entanto, não ceifaram de raízes os mais íntimos anseios da humanidade pela felicidade, os quais levaram os povos a procurarem se organizar às vezes de forma acertada, e outras, de forma mortalmente equivocada. Em seu afã, por organizar-se foi necessário justificar a autoridade dos que mandavam e fundamentar seu poder. Apelou-se à origem divina da autoridade, com mitos e com religiões, e utilizou-se a razão para organizar sistemas de governo, de administração, de aplicação da justiça e de defesa dos territórios. Entre acertos e equívocos, os pensadores das diferentes culturas influenciaram a edificação das sociedades, e com elas, o devir da História. Um dos pontos de inflexão mais transcendentes para a humanidade aconteceu na última década do século XVIII, ao grito de igualdade, liberdade e fraternidade. | História Contemporânea14 O slogan que sobreviveria à Revolução converteu-se na sua época no compromisso coletivo de burgueses, militares, camponeses empobrecidos e miseráveis famintos dos becos parisienses, politizados pelos ideólogos revolucionários, que em seu afã por construir um novo sistema levariam suas cidades ao Terror, na tentativa de reconstruir a Nação. Nenhum daqueles personagens viram, na época, seu sonho realizado, mas, sem sabê-lo, eles construíam já os fundamentos de todas as democracias atuais, tanto na Europa, quanto nas Américas, embora tenham tido que pagar para isso o preço do sangue derramado nas cabeças decepadas dos senhores do Antigo Regime. Na luta pela felicidade, as sociedades desenvolvidas do século XIX perceberam que as fontes de energia que utilizavam (carvão e petróleo), eram escassas. Sua superioridade técnica e econômica levou-as a pensar alto, e em nome do pretendido direito da supervivência do mais forte, lançaram-se à conquista de territórios onde pode ampliar seu espaço vital. Enquanto houve terras para conquistar, as potências suportaram-se umas às outras. Quando aquelas terminaram, as potências decidiram confrontar-se em duelo mortal. Guerras sempre houve. Homo homini lupus (diria Plauto, dois séculos antes de Cristo, e o repetiria Hobbes, no XVII, para justificar o absolutismo da monarquia). O homem sempre foi um lobo para o homem. Todavia, o século XX foi especialmente trágico, tanto pela crueldade das mortes infringidas às pessoas, quanto pela capacidade de ampliar cada vez mais sua fatal eficácia e sofisticar sua letífica capacidade destrutiva. O resultado dos dois confrontos bélicos internacionais, acontecidos entre Agosto de 1914 e Setembro de 1945 foi o quase extermínio das sociedades europeias ocidentais. Isso evidenciou a inutilidade dos sistemas éticos tradicionais e impôs uma nova ordem mundial, a qual colocou em xeque a segurança do mundo com a ameaça real do cataclismo nuclear. Mas o século XX findou, e entramos no novo século carregando os desafios que as duas centúrias anteriores nos deixaram em herança. As relações sociais e afetivas, as transações econômicas, a realidade como um todo, se tornaram virtuais, mas o medo diante da insegurança, o temor à fome, e os desejos mais íntimos de realização, bem-estar e felicidade, ainda continuam sendo uma realidade utópica na maioria dos povos democráticos, quanto mais naqueles onde imperam sistemas de governo absolutistas. Este material não pode pretender extenuar tudo o que no período conhecido como Contemporaneidade a humanidade já vivenciou. Serve como marco para História Contemporânea | 15 apresentar alguns dos mais significativos fatos neste período que começa com a Revolução Francesa, passa pela formação dos impérios nacionalistas, os confrontos internacionais identificados como Guerras Mundiais e se estende até a universalização do comércio e das relações que hoje caracterizam nosso tempo. Ela constitui um grande esforço sintético de vários artigos e livros acerca dos assuntos tratados. Durante sua formação constatamos a grande divergência que há nos autores acerca das cifras oficiais e de opiniões e julgamentos, sobre tudo quando se trata das Guerras Mundiais, ainda que elas se fundamentem nos registros das diversas nações beligerantes Para agilizar a leitura, fizemos um esforço por evitar citações diretas e, ao mesmo tempo, evitar o uso indevido das referências utilizadas. Desejamos que este material inspire você a tomar a iniciativa na procura de novas leituras e possa lhe oferecer uma visão de conjunto que possa favorecer seu estudo pessoal. O autor! tiTROCANDO IDEIAS COM OS AUTORES A intenção é que seja feita a leitura das obras indicadas pelo(a) professor(a) autor(a), numa tentativa de dialogar com os teóricos sobre o assunto. História Contemporânea | 17 Agora é o momento de você trocar ideias com os autores Propomos que você leia a obra 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. O autor relata a história da coroa portuguesa no Brasil, especificamente pouco antes dos franceses invadirem a península ibérica, até pouco antes da independência. Descreve os costumes da classe política, dos cidadãos, dos nativos mais conhecidos pelosportugueses e dos escravos. Sua obra é um retrato dos anos da coroa portuguesa na Colônia. O autor soube conjugar a pesquisa bibliográfica e documental, com a qual fundamentou sua narração, e a arte de uma escritura erudita e ágil, às vezes dramática e outras, inclusive, engraçada. Isso ajudou a fazer de 1808 um Best seller dentre os livros de divulgação do conhecimento da história do País. GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. São Paulo: Planeta Brasil, 2007. Propomos também a leitura da obra 1822: como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil - um país que tinha tudo para dar errado. Esta obra é a sequência de 1808. Nesta ocasião, o autor narra a história da política no Brasil pouco antes do Grito até a morte de Dom Pedro. Fala das diferenças socioeconômicas no Brasil de D. João, da situação em Minas Gerais e do grito no Ipiranga, a situação política na Bahía, a Constituição, a Maçonaria e sua influência no Trono, e outros assuntos, que se tornam interessantes pelo esforço do autor por desmascarar os mitos que se propagaram na história oficial em torno dos personagens e dos fatos que construíram a independência brasileira. No entanto, 1822 ganhou à força da atitude crítica contra a autoridade, sua hipocrisia, seus desvios morais e suas alianças criminosas pelas quais foi gerado um Brasil ‘que tinha tudo para dar errado’. GOMES, Laurentino. 1822: como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil - um país que tinha tudo para dar errado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010. GUIA DE ESTUDO Após a leitura das obras, escolha uma e faça uma resenha crítica e comente com seus colegas. PLPROBLEMATIZANDOÉ apresentada uma situação problema onde será feito um texto expondo uma solução para o problema abordado, articulando a teoria e a prática profissional. História Contemporânea | 19 GUIA DE ESTUDO Baseado na situação acima reflita: Qual é o perigo da ignorância sobre a história? Se o estudante tivesse sido branco, rico, do sexo masculino, teria tido razão em abraçar a ideologia nazista? Até onde chega o direito de expressar nossas ideologias e a partir de que momento isso se torna apologia ao crime? Na procura da própria identidade, os adolescentes tendem a afiliar-se a grupos, a imitar ídolos, e abraçar ideologias. Em uma Escola Estadual de Educação Profissional do Ceará, um estudante afrodescendente, morador de uma favela e homoafetivo, expôs a suástica enfeitando seu armário. Poucos dias depois colocou- se uma medalha com o emblema nazista e com o tempo declarou-se abertamente neonazista. Era lógico que não sabia o que dizia. O professor mandou-lhe pesquisar como foram tratados os militares argelinos pelos nazistas, como foram utilizados os negros nas pesquisas sobre “raças”, e qual era o fim dos pobres e os homossexuais durante a ditadura do III Reich. No dia seguinte, o estudante chamou o professor à parte, pediu-lhe perdão e chorou agradecendo-lhe ter lhe aberto os olhos. ApAPRENDENDO A PENSARO estudante deverá analisar o tema da disciplina em estudo a partir das ideias organizadas pelo professor-autor do material didático. História Contemporânea | 21 1 A HISTORIOGRAFIA DA REVOLUÇÃO FRANCESA CONHECIMENTOS Conhecer a Historiografia da Revolução Francesa, considerando as grandes linhas historiográficas e as diferentes perspectivas desde as quais a Revolução francesa tem sido estudada. HABILIDADES Identificar as linhas historiográficas de forma a fundamentar o julgamento pessoal a respeito desse assunto. ATITUDES Desenvolver um senso crítico a respeito da Revolução Francesa. História Contemporânea | 23 Revolução Francesa Poucos acontecimentos na história da humanidade foram tão significativos quanto a Revolução Francesa. Ela é um desses fatos que por serem tão importantes geraram em torno de si, muitas controvérsias acadêmicas e políticas, prolongando- se no tempo e exigindo das pessoas uma tomada de posição em torno do modelo de sociedade pelo qual pretende-se optar. Assim, como atualmente o mundo parece continuar a estar dividido entre capitalismo e socialismo, da mesma maneira a Revolução Francesa dividiu (e atualmente é dividida) em escritores e políticos representantes de extremos opostos. A historiografia acerca da Revolução Francesa é produto da postura tomada pelos autores no meio da luta de poder, acontecido no contexto histórico social, específico no contemporâneo e subsequente à Revolução. Em 1789 o sistema produtivo e econômico dominante era o feudalismo. Taracena (1994), menciona que nesse ano os camponeses formavam 85% da população francesa, os grãos estavam escassos e as necessidades básicas eram cada vez mais difíceis, o que fez a indústria nascente recuar. No entanto, a aristocracia crescia. Ela possuía 30% da terra produtível, mantinha uma pesada taxa de tributos feudais e controlava a distribuição da água, a utilização dos moinhos de grão, os fornos e a distribuição de justiça para as classes populares. Nessas circunstâncias, o denominado “Antigo Regime”(sistema de governo monárquico representado na França pelos reis absolutistas Luis XIV – XVI, totalmente concentrada na figura do rei com acúmulo de riquezas) sobrevivia de um sistema social hierarquizado onde a base camponesa mantinha uma cúpula formada pela nobreza e pelo alto clero, beneficiados pela isenção de impostos e pelo revestimento dos títulos honoríficos que lhes garantiam a proteção militar da coroa. No centro do sistema encontrava-se o rei, cujo poder tinha sido fundamentado na crença da origem divina de sua autoridade. Por isso, quando a violência estourou contra o sistema político-econômico, o sistema religioso dominante também foi atingido. A seguir, confrontaremos os autores e sua produção historiográfica com o contexto histórico-social. Porém, os limites próprios de nossa metodologia não nos permitem abranger o amplo repertório escrito acerca do tema da Revolução. Com o estouro da Revolução foi produzida literaturas de diversos gêneros: acusações, panfletos, artigos jornalísticos, charges, e discursos dos mais diversos tons e posições políticas. Porém, foi no começo do século XIX que, por várias razões, toda essa literatura se multiplicou. Entre essas razões, destacou-se o Romantismo que | História Contemporânea24 floresceu nessa época, o radicalismo com o qual a Revolução constituiu ruptura e a incerteza econômica e social que ela provocou. Mas, o que está por trás de tudo, em última instância, é o conceito de ‘nação’ que está a se formar, e com ele, o futuro da França. O esforço fundamental dos revolucionários foi destruir a ordem social, inclusive pela via das armas. No entanto, antes de estourar o conflito armado, o grosso da população das cidades teve que ser conscientizada politicamente. A nobreza chamou a esses revolucionários de ‘sans culottes’, livremente traduzido como os “sem calção”, em referência às calças curtas usadas pela nobreza. Os revolucionários, por sua vez, utilizaram as calças próprias dos trabalhadores artesãos, compridas e mais resistentes. Eles eram a massa da população que apoiaria a facção política republicana conhecida como os jacobinos por se abrigarem em um antigo convento dominicano dedicado a Saint Jackes (São Jacob), e que promoveram a execução de Luis XVI, enfrentando-se a grupos mais moderados como os Feuillants, que se conformavam com modernizar a monarquia. Nesse âmbito compreende-se que os escritos acerca da Revolução Francesa tenham sido produzidos dentro de um ambiente de contestação e controvérsia. Taracena (2004), cita como referência obrigatória um livro de 1790, Reflexões sobre a Revolução Francesa, cujo autor irlandês, Edmund Burke, vê na Revolução “o triunfo da demagogia (arte ou poder de conduziro povo) e o despotismo (forma de governo onde todo o poder está concentrado em apenas um governante) sobre o contrato social”. Para ele, o povo não tinha o direito de modificar sua Constituição, e para demonstrá-lo, compara a Revolução Francesa com a inglesa, “sabiamente empírica e capaz de consolidar a herança dos costumes nacionais”. No entanto, a francesa aplicou a noção ‘tabula rasa’ para justificar o delírio selvagem de seus personagens no seu esforço por apagar os vestígios da sociedade do antigo regime. Outro exemplo dessa corrente literária denominada conspiração é Memórias para servir à história do jacobismo, de Barruel, um sacerdote jesuíta que em 1799 pretendeu demonstrar que os jacobinos eram uma “seita devoradora que se levantava contra a ordem estabelecida”, e convidava os países europeus a refletir sobre a experiência sofrida na França. No entanto, outra corrente historiográfica contemporânea à Revolução é a teoria da força das coisas, cujos representantes são Mallet Du Pan, Condorcet e Rabaut Sain-Etienne, os dois últimos decapitados na guilhotina, vítimas dessa mesma “força das coisas” (TARACENA, 2004). Segundo o seu pensamento, a história estava determinada a seguir seu caminho e a Revolução teria que sucumbir à ordem História Contemporânea | 25 estabelecida. Frente a essa doutrina determinista, os escritos da burguesia posterior ao mês de Termidor se esforçaram por fazer um inventário da herança revolucionária, porém, descriminando suas fases violentas, sobretudo a de 1793, conhecida como a época do Terror. A historiografia posterior a 1815 (ano da Restauração) encaixa-se numa classificação conhecida como Mitológica, e estende-se até as revoluções de 1830 e 1848. A tendência desta época, tanto para os liberais quanto para os românticos, é demonstrar historicamente a necessidade da luta violenta na Revolução. O principal representante dos liberais é o advogado Louis Adolphe Thiers, que escreveu História da Revolução (1823-1827). O advogado reuniu uma grande quantidade de documentação para justificar que os autores da Convenção tinham sido exclusivamente os burgueses, que a violência desatou-se por culpada resistência dos aristocratas à mudança e que as massas populares (das cidades e dos campos) não tinham lugar na cena histórica nem na soberania popular. Auguste Mignet, autor ligado à corrente historiográfica Mitológica, ele destaca a necessidade das duas revoluções, a de 1789, como boa e necessária e a de 1793 como “nefasta, porém inevitável”, e reforça a “teoria das circunstâncias de ordem interno e externo” (TARACENA, 1994). Em 1843 foram publicadas, em caráter póstumo, as anotações feitas na prisão por um orador famoso, morto na guilhotina, Antoine Pierre Barnave. Ele analisou pela primeira vez a existência da luta de classes dentro da Revolução de 1789. Barnave diz que as classes sociais dominantes na economia mantinham também o poder político e resistiam a serem removidos do poder, terminando por serem anulados ou derrubados por meio de ações políticas, expressadas “algumas vezes por uma progressão doce e insensível, outras vezes por comoções violentas” (FONTANA, Apud TARACENA, 1994, p. 4). Na década de 1840 teve início a celebração popular da Revolução, a qual coincidiu com o apogeu do romantismo literário. Daí que, em 1847 surgiram as três obras mais famosas da historiografia da Revolução Francesa: A História da Revolução Francesa (de Louis Blanc) A História da Revolução Francesa (de Jules Michelet) e a História dos Girondinos (de Alphonse de Lamartine), que tiveram a originalidade de recuperar a tradição oral, entrevistando os descendentes dos revolucionários. Ao fazê-lo, recuperaram o papel do povo e, por sua perspectiva romântica, justificaram a violência popular pela pureza dos motivos republicanos, em detrimento das causas históricas, que serão retomadas na corrente literária seguinte, a corrente positivista. | História Contemporânea26 A derrota da revolução de 1848 e a posterior instauração do Segundo Império vão animar, na historiografia da Revolução francesa, a refutação das tradições e dos mitos herdados até esse momento. A erudição irá substituir a encrespação ideológica. A obra de Alexis de Tocqueville, O Antigo regime e a Revolução (1815), marcada pela polêmica europeia entre a ‘liberdade democrática’ e a ‘tirania dos Césares’, entre a prática cívica descentralizadora e o centralismo monárquico, será a que inaugure o novo período. Tocqueville renova a historiografia revolucionária investigando suas origens, distantes e próximos, sendo o primeiro em dar consistência ao conceito de ‘Antigo Regime’ e ao de ‘pré-revolução’, individualizando o período de conjuntura histórica de 1787 a 1789 e dando importância, pela primeira vez, ao fato de que a revolução administrativa tinha precedido à revolução política. Além do mais, insiste na importância dos ativismos institucionais e sociológicos. (TARACENA, 1994, pg. 6). Saiba mais: Alexis de Tocqueville (1805-1859) foi um pensador político e estadista francês. Foi considerado um dos grandes teóricos sobre a democracia americana. Especulou sobre a natureza essencial da própria democracia, suas vantagens e perigos. Depois de Tocqueville, seu aluno, Ernest Renan, já no auge do positivismo, diz que “pelo momento não se trata de continuar a Revolução, senão de criticá-la e de corrigir os seus erros”, e inicia um debate acerca da historiografia da Revolução, no qual sobressai Danton, radicalizando sua postura contra Robespierre e evidenciando a oposição entre jacobinos e girondinos. Danton sentenciou que a descristianização era necessária para fazer surgir o Estado Cívico, além de ser necessário concentrar o poder político diante dos perigos revolucionários. Em outras palavras, Danton justifica as propostas positivistas da desamortização e o centralismo, a ordem e o progresso. GUIA DE ESTUDO Sugerimos que pesquise sobre Ernest Renan, Georges Jacques Danton e Robespierre. História Contemporânea | 27 A seguinte corrente historiográfica foi a denominada Científica. Esta iniciou às portas do primeiro centenário da Revolução, com a obra As Origens da França, de Henri Taine (1894). Este livro foi uma das mais sérias tentativas de construir uma história esclarecedora da luta de classes subjacente à Revolução, luta antes encoberta sob os conceitos de “Terceiro Estado” e “povo”. Já no século XX, Jean Jaurès escreveu A História Socialista da Revolução (1901-1904), e criou a Comissão de Investigação e Publicação dos textos e documentos relativos à História econômica e social da Revolução Francesa. A esta comissão deve-se, entre outras coisas, a explicação da Revolução como um fenômeno burguês apoiado pelas massas populares, da cidade e dos campos. Este modelo, de influência marxista, explica a Revolução como uma forma de mudança das estruturas sociais e das forças de produção acontecida na metade do século XVIII, e dá importância causal à crise da produção de grãos, ao peso da carga fiscal, ao crescimento demográfico e ao surgimento de novos setores sociais. Na metade do século XX, Fernand Braudel publicou na revista Annales o famoso artigo “Longa duração” onde diminui a importância das conjunturas sociais francesas, e explica a Revolução como um fenômeno resultante da longa duração da história francesa, produto da história da civilização material e das mentalidades sociais e políticas conviventes ao longo do tempo. Esse artigo influenciou tanto os historiadores, que durante a seguinte década a historiografia dedicou-se a trabalhar a longa duração. Os historiadores ingleses dos anos 60 inauguraram uma historiografia crítica (atualmente denominada revisionismo) que chegou a duvidar da existência de uma verdadeira burguesia francesa pré-revolucionária, o que implicava uma posição totalmente oposta à interpretação jacobinista do século anterior. Segundo os jacobinistas a nobreza possuía uma parte importantedo capital da indústria francesa, o que permitiria que os nobres progressistas e a burguesia mais acomodada entrassem em consenso. Isso poderia ter evitado a radicalização do conflito. Nessa hipótese, os críticos ingleses se questionam sobre as causas dessa radicalização, a qual de fato aconteceu. Os principais autores da linha crítica ou revisionista são Alfred Cobban, autor de O mito da Revolução francesa (1955) e G. Taylor que escreveu O capitalismo doente e as origens da Revolução. Os autores que seguiram essa linha de pesquisa concluíram com bases sólidas, através de documentos que o compromisso entre burguesia e nobreza foi, de fato, possível, mas que não aconteceu. François Furet e Daniel Richet explicam esse fato | História Contemporânea28 pela entrada em cena das massas populares, do campo e da cidade, seduzidas pelo jacobismo, que prometiam mudanças sociais e econômicas. Isso destruiu as teorias que defendiam a ascensão da revolução burguesa e as que defendiam a teoria das circunstâncias. Segundo esta teoria, a radicalização do processo revolucionário teria acontecido pelo movimento contrarrevolucionário dos conservadores, a nobreza e os agricultores, que se coligaram com os reinos vizinhos à França para defender a monarquia. Segundo essa teoria, as massas populares teriam extravasado provocando a desordem violenta que levaram à ditadura. Os jacobinos responderam, liderados por Seboul, que investigou sobre a história agrária e urbana da França do século XVIII, especializando-se nos movimentos sociais da Capital. Régine Robin, também do movimento jacobino, estudou o estágio de transição da burguesia da época imediatamente prévia à Revolução, que dava maior importância à renda do que à ganância capitalista. E Serge Bianchi buscou “restituir à Revolução cultural de 1791 sua verdadeira dimensão histórica, ocultada por uma historiografia que lhe era hostil” (TARACENA, 1994, p. 8). A última corrente historiográfica, denominada contrarrevolucionária surgiu com os estudos feitos para a celebração do bicentenário da Revolução. Estes estudos concentram-se no movimento opositor o qual concentrou em suas fileiras aos aristocratas, aos católicos e aos camponeses, turma que provocou o chamado ‘genocídio franco-francês’ onde se calculam mais de cento e vinte mil mortes. Por outro lado, a corrente contrarrevolucionária nega que a Revolução tenha assentado as bases do liberalismo do século XIX. Esta última corrente historiográfica deixa de considerar a Revolução Francesa como a mãe do Estado Civil moderno, onde se reconhecem os valores humanos, dá-se a liberdade religiosa, proíbe-se a escravidão, promovem-se as liberdades e os direitos humanos. Em contrapartida, vê na Revolução um movimento selvagem que banhou de sangue a Nação, e que foi provocado pela desunião entre os povos participantes na contenda (guerra, violência, lutas, combate). Nessa linha de pensamento encontram-se autores como Vovelle e Eric Hobsbawm, que na obra Nações e Nacionalismos depois de 1780 ensina que os teóricos revolucionários franceses procuraram alicerçar seu sentimento nacional no critério de ‘cidadania’, e que logo passaram a insistir nos elementos culturais da uniformidade linguística, possibilitando criar uma nação de acordo à eleição de seus políticos, rompendo radicalmente com a lealdade ao sistema anterior. História Contemporânea | 31 2 NEOCOLONIALISMO E IMPERIALISMO CONHECIMENTOS Compreender a relação entre o Colonialismo e o Imperialismo dos séculos XIX e XX e superar os preconceitos que o fundamentaram. HABILIDADES Identificar os elementos antropológicos, políticos, ideológicos e militares que sustentaram o Colonialismo e o Imperialismo. ATITUDES Desenvolver um senso crítico a respeito dos preconceitos que fundamentaram o Colonialismo e o Imperialismo. História Contemporânea | 33 Conceito Para estudarmos sobre o Colonialismo teremos primeiro que conceituá-lo. Em torno do conceito colonialismo existem hoje muitas polêmicas, mas há um consenso em que ele leva consigo a prática de dominação de uma nação poderosa sobre uma nação frágil, por diferentes motivações, porém quase sempre econômicas e geograficamente estratégicas. O colonialismo no fim do século XIX e começo do século XX foram motivados por essas razões, e teve como consequência a exploração de milhares de habitantes do chamado Terceiro Mundo e a deflagração dos maiores conflitos bélicos, que a humanidade já conheceu. Veremos durante o estudo a forma como o colonialismo dos anos 1875-1914 adquiriu as características anacrônicas que o identificaram, e nas quais os governantes se autoproclamavam imperadores: Alemanha, Áustria, Rússia e Turquia proclamaram- se Império. A Grã Bretanha também, com relação à Índia. França já vinha fazendo desde a era napoleônica. Além das fronteiras europeias, os governantes da China, o Japão, Etiópia e Marrocos fizeram o mesmo, embora, antes de 1918 já tivessem desaparecido cinco desses impérios. O imperialismo era um conceito aplicado especialmente à França no século XIX, sobretudo para se falar da era de Napoleão III. Porém, em 1869 começou a utilizar-se a expressão “imperialismo no bom sentido” para justificar a presença dos países europeus nas relações com países dentro e fora da Europa, como a presença europeia no Canadá ou o governo inglês na Irlanda. Porém, além do subterfúgio citado, essa época se caracterizou pelo esforço continuado das potências europeias por conquistar novos territórios, principalmente na África e na Oceania, dos quais extraia as riquezas naturais, o minério e as fontes de energia como o carvão e o petróleo. Mas, não somente as grandes potências europeias empenharam-se no colonialismo imperialista, como também potências nascentes, e até então pouco influentes, como Estados Unidos e Japão, que entraram com força na carreira imperialista da época, atrás dos recursos naturais dos países conquistados e na procura de novos compradores. Diz Hobsbawm: Para alguns Estados europeus, como Inglaterra e França, já fazia tempo que realizavam uma política de expansão colonial. Para 1885 este processo de expansão da civilização europeia por todo o globo sofre uma violenta | História Contemporânea34 aceleração; em poucos anos converteu-se numa autêntica carreira das potências europeias em pós dos territórios de ultramar ainda ‘livres’, à qual, a partir de 1894, somaram-se também Japão e os Estados Unidos (HOBSBAWM, 1998, p. 88). Até o momento, as potências europeias tinham deixado a iniciativa colonial para às empresas que comercializavam seus produtos, tentando reduzir o risco da intervenção militar, mas os nacionalismos estimularam a intervenção. Adquirir novos territórios tornou-se um imperativo para os países fortes, financiaram conquistas e penetraram na economia dos países subdesenvolvidos. O colonialismo levou ao imperialismo, “e entre 1876 e 1915 uma quarta parte do planeta foi distribuído e redistribuído em forma de colônias entre meia dúzia de Estados” (HOBSBAWM, 1998). Sobre a novidade do imperialismo, Briggs comenta: Embora os imperadores e os impérios fossem instituições antigas, o imperialismo era um fenômeno totalmente novo. Era uma voz nova idealizada para descrever um fenômeno novo. A análise do imperialismo, fortemente crítico, realizado por Lênin converter-se-ia num elemento central do marxismo revolucionário dos movimentos comunistas a partir de 1917 e também nos movimentos revolucionários do terceiro mundo. Efetivamente, para Lênin, o imperialismo era a etapa final e cume do capitalismo. Para ele, a expansão do modo de produção capitalista leva inexoravelmente a seu estágio supremo e último, (sua fase superior), o imperialismo, em cujo interior se produz a exacerbação das contradições do sistema que darão como fruto o triunfo das classes menos favorecidas. A concentração monopolista dos capitais financeiros, os quais devem ser colocados nos territóriosdominados pelas principais potências, supõe o incremento das lutas internacionais pela obtenção dos distintos mercados, dando assim como resultado a definitiva aparição das condições necessárias para a transformação da sociedade segundo o modelo revolucionário socialista (BRIGGS, 1989, p.148). História Contemporânea | 35 As causas do novo imperialismo O principal argumento para justificar o imperialismo era a procura de novos mercados. Para Hobsbawm (1988), a criação da economia global penetrou progressivamente nos cantos mais distantes do mundo, “com um tecido cada vez mais denso de transações econômicas, comunicações e movimento de produtos, dinheiro e seres humanos que vinculava os países desenvolvidos entre si e com o mundo subdesenvolvido”. Se não tivesse sido por essas motivações econômicas e a necessidade de possuir lugares estratégicos para defendê-las, não teria havido interesse pelas ilhas rochosas do Pacífico ou pelas selvas impenetráveis do Congo. As vias de transporte e comunicação possibilitaram que lugares antes marginais se tornassem mercados desejados pelas potências. O principal país investidor e também imperialista foi à Inglaterra. Ela investiu principalmente na região alta do rio Nilo e na Índia, enquanto que os impérios tradicionais de Espanha e Holanda permaneceram ainda durante um tempo na América do Sul. Portugal e Itália cresceram, embora em 1896 fracassasse a tentativa italiana de se apoderar de Abissínia (nome dado a uma região da atual Etiópia). Também Bélgica, que hipoteticamente não era um império, gerenciava o Congo (por isso chamado Congo Belga). E “até os Estados Unidos, com um absoluto histórico de anticolonialismo adquiriu colônias na década de 1890” e tirou da Espanha suas últimas colônias (BRIGGS & CALVÍN, 1997). Territórios com minas foram os mais procurados no novo imperialismo, pois os benefícios eram tão importantes que justificavam o investimento na construção de vias ferroviárias, estradas e portos. Em segundo lugar eram almejadas as terras cultiváveis, e em terceiro lugar, quando já satisfeitas as duas primeiras prioridades, objetivavam-se os centros comerciais e financeiros. Para Hobsbawm, “a pretensão de explicar o novo imperialismo desde uma ótica não econômica é tão pouco realista quanto o intento de explicar a aparição dos partidos operários, sem ter em conta para nada os fatores econômicos” (HOBSBAWM, 1998, p. 80). A rivalidade entre as nações imperialistas era inevitável. O nacionalismo gerava cada vez mais necessidade de conquistar territórios, e quando não houve mais terra independente a conquistar, a solução foi conquistar as colônias dos outros. Na prática, essa seria a principal causa, se não a única, das guerras mundiais, ou seja, o imperialismo esteve estreitamente unido ao capitalismo. “Todos os intentos de separar a explicação do imperialismo dos acontecimentos específicos do capitalismo na última fase do século XIX devem ser considerados como meros exercícios ideológicos, embora muitas vezes ocultos e em ocasiões agudas” (HOBSBAWM, 1998, p. 82). | História Contemporânea36 Outros autores afirmam que o imperialismo estimulou às massas, em especial os elementos potencialmente descontentes, a identificar-se com o Estado e a Nação imperial, dando assim de forma inconsciente, justificação e legitimidade ao sistema social e político representado por esse Estado. “O imperialismo ajudava a criar um bom cimento ideológico. Em alguns países alcançou uma grande popularidade nas classes médias cuja identidade social descansava na pretensão de serem os veículos elegidos do patriotismo” (BRIONES & MEDEL, 2010, p. 6). Por outro lado, o imperialismo foi estimulado pelas ideias racistas amplamente difundidas na época, como salienta Hobsbawm: “Não pode negar-se que a ideia de superioridade e de domínio sobre um mundo povoado por gentes de pele escura em lugares remotos tinha arraigo popular e que, por tanto, beneficiou a política imperialista” (HOBSBAWM, 1998, p. 80). Imperialismo no Extremo Oriente e no Pacífico O imperialismo também se desenvolveu em outras partes do mundo, assim como no Japão, que na época vivia sua Revolução Industrial, precisava das minas da China, para o desenvolvimento de sua indústria, e das suas estepes (um tipo de vegetação própria de grandes planícies) para alimentar sua crescente população. A indústria bélica e a comercial encontraram-nas com o apoio do Estado, ou seja, do Imperador. Entre os anos 1894 - 1895, a guerra entre as duas nações deu a conhecer ao mundo a fortaleza do pequeno Japão e a debilidade da grande China. No final do século, os bóxers revelaram-se. Segundo Mommsen (1971), o movimento dos bóxers foi esmagado relativamente cedo por um exército internacional, e, no entanto, ele produziu consideráveis complicações a nível mundial. A Rússia aproveitou-se da situação para reforçar sua posição na Manchúria e, caso alguma potência quisesse tirar vantagem do conflito, Inglaterra e Alemanha estavam dispostas a tomar iniciativas comuns para garantir seus interesses (MOMMSEN, 1971, apud BRIONES & MEDEL, p. 7). Saiba mais: Bóxers: Foi uma sociedade secreta politizada, formada por praticantes de ar- tes marciais que, cansada da ingerência das potências estrangeiras semeou o terror no norte da China, agindo principalmente contra os missionários cristãos (em 1899) e depois em Pekin, contra as delegações internacionais. Eram subsidiados pela imperatriz CiXi, da dinastia Manchú. História Contemporânea | 37 Briggs & Calvin (1997), ressaltam o lado antropológico do colonialismo - imperialismo na África, na Oceania, na Ásia e no Pacífico. Entre todos os que participaram do processo de expansão, havia exploradores, botânicos, antropólogos, missionários cristãos com suas diferentes versões do evangelho e com outras coisas, como a educação, emigrantes, aventureiros, homens de negócios em busca de novos mercados e matérias primas, atravessadores, construtores, e soldados, muitos soldados “porque os anais do imperialismo estão manchados do sangue derramado no que veio ser chamado, muitas vezes de forma enganosa, ‘pequenas guerras’”. Os autores concluem: “Toda essa gama de personagens levaria exploração, a submissão e abuso de poder em nome da civilização cristão-ocidental ao terceiro mundo africano e asiático, mudando radicalmente a vida de milhões de habitantes subjugados pelo progresso” (BRIGGS & CALVIN, 1997). História Contemporânea | 39 3 A QUESTÃO NACIONAL NO SÉCULO XIX CONHECIMENTOS Compreender a relação entre o Nacionalismo e o Liberalismo dos séculos XIX e XX. HABILIDADES Identificar os elementos antropológicos, políticos, ideológicos e militares que o sustentaram o Nacionalismo e o Liberalismo, assim como suas consequências na queda das monarquias tradicionais e na formação da Europa Contemporânea. ATITUDES Desenvolver um senso crítico sobre o Nacionalismo e o Liberalismo e sobre a unificação da Alemanha e Itália. História Contemporânea | 41 Nacionalismo e Liberalismo no século XIX A História está permeada de ideologias, conjunto de pensamentos ou de doutrinas que influenciam a vida social e as orientações políticas. O nacionalismo e o liberalismo são duas ideologias conviventes que influenciaram as grandes mudanças sociais, econômicas, culturais e políticas que caracterizaram o século XIX, desde a queda do parlamentarismo norte-americano, até o triunfo da industrialização capitalista e o nascimento dos novos Estados. A primeira metade do século XIX será identificada como a época da onda revolucionária de 1820, nome dado à série de revoluções (1820, 1830 e 1848) que enfrentaram monarquistas e liberais, e que concluíram na restauração da monarquia, porém orientada por princípios constitucionais de caráter liberal. A burguesia fará triunfar o liberalismo nestas revoluções e ficará dominando a sociedade e a produção cultural, até perder a sua índole revolucionária e ser contestada por outras duasideologias, o marxismo e os monarquistas. O liberalismo reagiu contra o absolutismo no momento em que a burguesia estava a se consolidar e não pretendia perder sua influência política. O nacionalismo fortaleceu-se depois da Revolução Francesa e do Império Napoleônico, que fizeram acordar a consciência nacionalista nos Estados europeus e da necessidade do equilíbrio de poder para evitar o desastre da guerra. Diante da necessidade de reorganizar as fronteiras europeias, Napoleão I é derrotado, as Nações reuniram-se na capital Austríaca entre outubro de 1814 e junho de 1815 e buscaram retornar à organização europeia anterior à Revolução. Mas nem os liberalistas, nem os nacionalistas ficaram contentes com as decisões do congresso de Viena, e a partir de 1820 enfrentaram-se violentamente contra os princípios da Restauração e, enquanto ideologias tornaram-se mais complexas. O Liberalismo no século XIX O liberalismo é simplesmente a ideologia que defende a liberdade individual em todos os sentidos. De forma mais estrita, o liberalismo é um conjunto de ideias políticas, intelectuais, religiosas e econômicas que refletiram os ideais burgueses do século XIX, opondo-se ao despotismo ilustrado e ao absolutismo. Porém, conforme o tempo avançou, aquela famosa definição de Benjamin Constant, deixou de ser suficiente para compreender as características específicas, que cada uma daquelas dimensões propostas por ele foi adquirindo de forma independente. | História Contemporânea42 O Liberalismo Econômico nasceu com a Revolução Industrial. Seu sustento filosófico é que a motivação para o agir do ser humano é o interesse individual, por isso apoia radicalmente a iniciativa privada e ensina que o Estado deve interferir na economia o menos possível, pois ela rege-se pelas suas próprias leis: a livre iniciativa individual, a livre competência e o livre funcionamento das leis do mercado. O antecedente imediato do liberalismo econômico encontra-se no liberalismo agrário (ou fisiocrata) que já defendia a não intervenção do estado, a livre iniciativa e a existência das ‘leis naturais’ do mercado dos produtos agrícolas (a principal fonte de riqueza). Elas, segundo os teóricos do liberalismo agrário, permitiam a circulação dos produtos pelos quais se reparte a riqueza à sociedade toda. O principal representante desta doutrina econômica foi o francês Quesnay, embora o liberalismo econômico tenha encontrado seu máximo desenvolvimento na Inglaterra, guiado pela escola clássica do liberalismo, formada por Adam Smith, David Ricardo, Tomas Robert Malthus e J. Stuart Mill. Seus ensinamentos levaram às transformações econômicas e políticas que colocaram a Ilha no topo do mundo no começo do século XX. O liberalismo político rege-se pelos princípios a seguir: • A Liberdade Individual de expressão, de imprensa e religiosa, pelas quais se rejeita a censura e se defende a laicidade do Estado e do ensino, assim como a desamortização dos bens eclesiásticos. • A Constitucionalidade: A Carta Magna de cada país deve conceder e proteger todas essas liberdades nos seus cidadãos, limitando o poder do monarca. • A Soberania Nacional pela qual se constrói a autonomia do país e se reconhece os direitos da legítima defesa nacional, o serviço militar, etc. • A Divisão de Poderes: Seguindo a Montesquieu, se defende a divisão e independência dos poderes legislativo, executivo e judiciário. O liberalismo político uniu os interesses da burguesia, dos camponeses, dos operários e dos intelectuais em torno da luta comum contra o absolutismo da Restauração. No entanto, as revoluções de 1830 revelaram as contradições dessa ideologia com os interesses da grande maioria da população e evidenciaram que no sistema proposto por essa ideologia unicamente um grupo social sai favorecido: a burguesia. História Contemporânea | 43 A partir de 1830, o liberalismo se dividiu em moderado (também conhecido como doutrinário) e progressista (também conhecido como democrático). Estas são suas características: Liberalismo moderado ou doutrinário: • Sufrágio censitário, ou seja, restrito aos cidadãos que cumprissem os requisitos para adquirirem o direito de votar (ser homem, com um determinado nível econômico e de formação, tipo de profissão, e outros). • Soberania nacional. • Monarquia Constitucional (com superioridade do rei sobre o Parlamento). O liberalismo moderado ascendeu ao poder político na França com a Revolução de 1830, e seu teórico mais importante foi Tocqueville. Este liberalismo francês caracterizou-se por centrar-se nos problemas políticos e fazer apelos aos ideais da Revolução Francesa, que ainda não se consolidavam. Na Inglaterra o liberalismo moderado caracterizou-se por preocupar-se mais pelos assuntos econômicos, pois já tinha vivido sua Revolução Política em 1688 e agora estava em plena Revolução Industrial. Liberalismo democrático ou progressista: • Sufrágio Universal (ainda que na época fosse um direito exclusivamente masculino). • Soberania popular. • Monarquia Constitucional (com superioridade do Parlamento sobre o rei), ou República. Os liberais da segunda metade do século XIX tiveram que enfrentar o dilema de permanecerem liberais e defender os direitos democráticos, ou apoiar o imperialismo, pois a realização das reivindicações liberais tocantes à ordem política, como o sufrágio, a liberdade de associação, e outros, enfrentaram-se às formas de exercício do poder que caracterizaram os nacionalismos imperialistas. | História Contemporânea44 O nacionalismo no século XIX O patriotismo nacionalista nasceu talvez na Idade Média, entre os grupos de camponeses que, revoltados contra o feudalismo, encontraram nas suas origens uma fonte comum de identidade e de coerção social. Já no século XVIII, o nacionalismo foi, durante a Revolução Francesa, o sentimento que permitiu considerar a Pátria como uma entidade soberana, em oposição ao monarca. Durante o século XIX, o nacionalismo se desenvolveu inspirado em uma dos principais ideais da Revolução Francesa, o qual diz que todos os povos tem o direito de determinar-se a si mesmos. Ironicamente, as tropas de Napoleão disseminaram as ideias nacionalistas ao tempo que, por serem invasoras, acordaram os sentimentos nacionalistas nos povos subjugados, fazendo-os reagir contra o Império Napoleônico. Por outro lado, o Congresso de Viena (1814-1815) tinha traçado arbitrariamente fronteiras que deixaram descontentes várias nações e tinha imposto às nações vencidas governantes absolutos. Tudo isso foi fermento para que os sentimentos nacionalistas cobrassem força. As correntes artísticas também fortaleceram os sentimentos nacionalistas. Em concreto, o Romantismo, entre cujas características destacam sua oposição às formas estereotipadas do neoclassicismo, o racionalismo e a ilustração. Em contrapartida, defende a expressão dos sentimentos do artista na sua obra, a liberdade de criação e a ruptura dos moldes clássicos. Antropologicamente caracteriza-se também por expressar a consciência do Eu, dar a primazia ao espírito criador, valorizar a expressão dos sentimentos perante a frialdade da razão, promover a originalidade e promover os valores e ideais da terra, perdidos durante o absolutismo, como o folclore nacional e os costumes antigos, fonte da identidade nacional. Paris e Inglaterra foram os principais centros europeus onde se desenvolveu o nacionalismo, embora tenha sido Alemanha o berço dos seus principais teóricos, Herder e Fitche. Herder foi o criador da ideia de Nação como grupo histórico (Volkstum), oposta à ideia de Estado, que é uma criação artificial. Fitche propôs nos Discursos à Nação Alemã a resistência contra Napoleão. Motivadas por essa literatura, formaram-se associações nacionalistas secretas, como a Jovem Alemanha e a Jovem Itália. Se considerarmos que o Romantismo teve, além do mais, sua origem na Alemanha, é fácil concluir que os sentimentos nacionalistas na Alemanha enos países vizinhos cresceram facilmente. Embora os movimentos nacionalistas se tornassem virulentos na primeira metade do século XIX, tiveram que esperar a unificação italiana (1861) e alemã História Contemporânea | 45 (1871) para começarem a ter êxito, e embora tivessem surgido do liberalismo, os nacionalistas permaneceram liberais somente até depois da revolução de 1848. Iniciada a segunda metade desse século, os nacionalistas se tornaram conservadores e fundamentaram a expansão imperialista. Para a metade do século XIX, portanto, antes dos movimentos revolucionários, o mapa europeu encontrava-se assim: Alemanha e Itália ainda eram Estados divididos. Nove nações estavam submetidas a outras: Irlanda estava submetida à Grã Bretanha, Noruega à Suécia, Bélgica à Holanda, Scheliewig e Holstein (territórios alemães) pertenciam à Dinamarca, e Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia, à Rússia. Havia dois impérios compostos com várias nações: O Império Austro-Húngaro (com territórios em Alemanha, Hungria, Checoslováquia, Polônia, Eslováquia, Eslovênia, Croácia, Sérvia, Romênia e Itália). E o Império Turco, limitado à região dos Bálcãs (ou seja, com territórios em Grécia, Bulgária, Sérvia, Albânia e Romênia). A onda revolucionária: 1820, 1830 e 1848 Europa enfrentou uma grave crise econômica a partir de 1816, surgida, em parte, pela reestruturação da economia que estava a se adaptar aos tempos de paz. Os preços nos produtos agrícolas oscilaram gravemente, a indústria parou, as forças da Restauração, ainda presentes, impediram implantação dos planos econômicos dos Estados e as massas populares estavam descontentes. Os movimentos revolucionários de 1820 foram instigados pela burguesia com o intuito de promover os ideais do liberalismo e o nacionalismo em um ataque frontal contra o Antigo Regime e a Restauração. As revoltas ocorreram na Península Ibérica, na Rússia, nos Estados Pontifícios, nos Reinos de Nápoles e Sicília, no Piemonte, na Grécia e nas Colônias Espanholas. Em 1830, as lutas antiabsolutistas iniciaram na França, também movidas pela burguesia. Rapidamente estenderam-se à Bélgica, Itália, Alemanha, Polônia, Áustria, e a Península Ibérica. A jornada revolucionária de 1830 congregou liberais e nacionalistas, a baixa burguesia, o baixo clero e as massas populares, que padeciam com a fome desde 1827. Na França, houve vários dias de revoltas e enfrentamentos encarniçados, motivados pelas restrições à liberdade e pela fome ocasionada pela crise, Luis | História Contemporânea46 Felipe de Orleans foi entronado contrariando o Congresso de Viena e substituindo a dinastia dos Borbones. Felipe de Orleans era burguês e liberal, o que representou o triunfo do liberalismo e da grande burguesia. Depois do triunfo liberal em Paris, os liberais belgas sentiram-se fortalecidos. Além do mais, contavam com a anuência do Congresso de Viena e com o clero católico que arengava os cristãos, em apoio aos liberais contra o rei holandês, quem enviou suas tropas contra as massas, que revidaram fazendo os militares fugirem. Bélgica declarou sua independência e instituiu um governo provisório. A nova Constituição, de caráter liberal, estabeleceu um governo parlamentar e a Nação declarou-se imparcial, como a Suíça, status que permaneceu até 1914. Holanda reconheceu a independência da Bélgica somente em 1839, no entanto, a influência dos movimentos franceses e belgas refletiria na Europa inteira. Os nacionalistas alemães aglutinaram-se em torno da União Alfandegária, movimento prussiano que agrupou os Estados da Confederação, e que promoveu a unificação nacional. Na Itália, as cidades de Parma, Módena e Romagna rebelaram - se contra o papado. Fracassaram diante do exército austríaco, que apoiou o papa, porém ficaram à espreita do momento oportuno para o Risorgimento, que por fim terá êxito sob o comando de Garibaldi. Ao norte da península italiana, os liberalistas venceram em Zúrich, Ginebra e Basiléia. Embora os cantones suíços não fossem unânimes em sua opção pelo liberalismo e iniciasse uma guerra civil, as famílias tradicionais terminaram perdendo seus privilégios, implantou-se a liberdade jurídica, a liberdade de imprensa e a anistia para os vencidos, que puderam retornar a sua terra. Na Espanha também houve guerra civil. Ao morrer o rei Fernando VII, os moderados apoiaram a entronização de Isabel II. Os absolutistas queriam entronar seu irmão Carlos, e deram início às guerras carlistas. Ali perdeu o liberalismo. Os nacionalistas polacos também perderam. Eles levantaram-se contra os russos em várias ocasiões, entre 1830 e 1832. Esse último ano a repressão das tropas russas será pesada, e a Polônia ficaria novamente submetida aos russos. Até a tradicional Inglaterra viu-se afetada pelo liberalismo. No parlamento os shigs (nome dado a ladrões de cavalos presbiterianos que viviam na Escócia) fortaleceram-se o suficiente para enfrentar os tories (salteadores fora da lei própria da região do Reino Unido) e conseguir a reforma eleitoral necessário para favorecer a burguesia e ampliar o voto censitário. História Contemporânea | 47 Portanto, a onda de revoluções da década de 30 trouxe consigo a independência da Bélgica e a Constituição Suíça, mas enfraqueceu a Polônia, a qual não poderá gozar de sua independência (embora momentânea) senão até depois da 1ª Grande Guerra. Os levantamentos de 1820 semearam o liberalismo doutrinário, moderado, aliado à alta burguesia, enquanto que os de 1830 consolidaram à alta burguesia no poder e deixaram insatisfeita à baixa burguesia, que pugnava pelo liberalismo democrático. No final dessas ondas revolucionárias, o Continente Europeu ficou dividido em dois bandos doutrinários e políticos. No oeste, a Europa liberal de Grã Bretanha, Bélgica, França, Portugal e Espanha. No oriente, Áustria, Rússia e Prússia, ainda dominando Europa central e oriental. Mas o nacionalismo continuou a fermentar, preparando as revoluções de 1848. Nesse ano, a crise agrícola, a falta de crédito, a ausência de liberdade, a influência do romantismo e o desejo de criar Estados liberais fizeram explodir uma nova onda revolucionária. Ela estourou em alguns dos países que já tinham padecido a guerra, como a França, Itália e Alemanha. Bélgica já tinha conseguido o que queria. Suíça também, e por isso ficaram em paz. Polônia estava afogada pelos russos. Não utilizou armas, porque não podia. As lutas mais fortes aconteceram nos lugares mais distantes dos ideais liberais, ou seja, na Europa dominada pelo Império Austríaco. Os motivos das revoltas nas revoluções de 1848 obedecem às circunstâncias políticas diferentes a cada nação e estão localizados em zonas geográficas também diferentes. No oriente europeu o liberalismo democrático lutou por abolir as estruturas arcaicas da monarquia. No ocidente, a guerra substituiu às dinastias monárquicas pelas repúblicas. Ou seja, dentro do liberalismo como um todo existia um enfrentamento interno: os moderados (doutrinários) enfrentaram os democratas. A pequena burguesia, que tinha ficado descontente, e sem poder nas revoluções de 1830, conseguiu o apoio dos operários e atacou a alta burguesia doutrinária. Os democratas lutaram pela abolição do voto censitário e por estabelecer o sufrágio universal. Eles “criticam o liberalismo moderado de pregar somente uma igualdade jurídica e esquecer-se dos fortes contrastes sociais entre ricos e pobres” (LARA, 2012). O ano de 1848 é o ano das primeiras reivindicações operárias. A Europa está se industrializando a níveis cada vez mais acelerados. As cidades estão crescendo formando bairros operários e junto com o liberalismo democrático e o nacionalismo, surge uma nova força política, ainda que incipiente: o socialismo. | História Contemporânea48 Na França, a Revolução de 1848 destronou o rei Luis Felipe e instaurou a Segunda República, de índole democrática, que será derrotada pelo nacionalismo autoritário do Segundo ImpérioNapoleônico. Nos países mediterrâneos e no centro europeu a onda revolucionária foi mais violenta. Contudo, a historiografia da época nega que se tenham alcançado os resultados esperados, mas a partir da segunda metade de 1848 as colheitas melhoraram, o desemprego diminuiu, os burgueses ficaram sem o apoio do proletariado, que por crescer cada vez mais se fez, para os empresários e pequenos burgueses, um peso insustentável. Por outro lado, essas forças, antes unidas, ficaram sem um motivo comum que as aglutinasse, impossibilitando-lhes chegarem ao poder e constituir um Estado soberano e autônomo. No entanto, as revoluções de 1848 não podem considerar-se um fracasso explícito, pois conseguiram alguns avanços sociais como o sufrágio universal (masculino) na França, a abolição da servidão e a libertação dos camponeses no Império Austríaco, a experiência piemontesa italiana, antecedente da unificação do País, o fortalecimento do Estado Prussiano e o Parlamento de Frankfurt. As unificações da Alemanha e da Itália O momento mais forte dos nacionalismos aconteceu na metade do século XIX. Uma de suas consequências mais notáveis foi a da formação de Nações a partir da unificação de Estados. Isso aconteceu na Alemanha e na Itália, que ainda tinha algumas regiões sob o domínio austríaco. O nacionalismo alemão já vinha se formando desde a existência do Sacro Império, na Idade Média (o I Reich), mas na Itália não existiu nenhum projeto unificador importante senão até o século XIX. No entanto, o reino de Piemonte e Sardenha conseguiu dirigir a unificação da Itália. O mesmo sucedeu com o Reino de Prússia que promoveu a unificação Alemã. Ambos os acontecimentos foram possíveis porque se deram alguns elementos que possibilitaram essas uniões. Lara (2010) cita: • O impacto da Revolução Francesa e do Império Napoleônico. • As diversas concepções do nacionalismo, surgidas entre 1815 e 1870. • A expansão econômica em ambos os casos e a união comercial como prelúdio da unificação política, no caso alemão. • A disposição de um exército moderno e o agir de políticos audazes. História Contemporânea | 49 Desde 1815 a Península Italiana estava dividida em oito Estados: O reino de Piemonte e Sardenha, ao Norte; os Estados de Lombardia e Veneza submetidos ao Império Austro-Húngaro; Parma, Módena e Toscana, sob o domínio da Áustria; os Estados Pontifícios, regidos pelo Papa, e o reino das duas Sicílias, sob a dinastia dos Bourbons. A unificação não foi um processo fácil, mas doloroso e sujeito à oposição dos monarquistas e dos impérios austríaco, russo e prussiano, a Santa Aliança-, cuja intervenção fez fracassar todas as tentativas de unificação realizadas entre 1815 e 1849 (a chamada ‘primeira fase da unificação’). As lideranças das primeiras tentativas, exiladas em Paris e Londres, cultivam o sentimento nacionalista e começam a planejar o Risorgimento, movimento que nos anos trinta e quarenta se concretizaria em diferentes projetos para lograr a reunificação. Mazzini e Garibaldi projetaram a formação da República Unitária; Gioberti, a República Federal e Victor Manoel e Cavour o projeto de uma Monarquia Constitucional. No norte, o reino de Piemonte e Sardenha é o território mais liberal, pois contava com uma burguesia crescente. As revoluções de 1848 tinham deixado para os Piemonteses uma Constituição Liberal, mas a insurreição contra os austríacos fracassou em Lombardia e Veneto, assim como as tentativas de unificar Nápoles e de tomar do Papa os territórios pontifícios. Saiba mais: Santa Aliança - Acordo político assinado em 26 de setembro de 1815 pelos impérios Russo (Alexandre I), Austríaco (Francisco I) e Prussiano (Frederico Guilherme III), logo depois da derrota definitiva de Napo- leão. Essa aliança objetivou frear as ideias liberais francesas e inglesas e fazer manter as monarquias absolutistas na Europa enfrentando a onda revolucionária. Na segunda fase da unificação (1859-1861) destacam personagens como Vítor Manoel II (Rei de Sabóia) e seu ministro, o Conde Cavour, que planejou a unificação de forma muito realista, pois percebeu que esta não seria concretizada sem a anterior expulsão dos austríacos, o apoio diplomático da França e o crescimento econômico da região do Piemonte. O levantamento contra Áustria iniciou em 1859. Com a expulsão de seus exércitos dos territórios de Lombardia, esta se unificou ao território de Piemonte. Porém não foi possível vincular Veneza. | História Contemporânea50 Em 1860 o centro da Itália (Parma, Módena e Toscana) uniu-se ao Piemonte (no norte) pacificamente, através da realização de plebiscitos populares e da formação de um parlamento comum. França apoiou politicamente a adesão, em troca dos territórios de Niza e Saboya, cedidos no Tratado de Turim. O resto do território, na parte meridional, conseguirá sua unificação a partir de 1960 até 1961. Os liberais, com mais de mil soldados comandados por Garibaldi e Cavour, avançaram para Sicília. Esses militares eram, na maioria, descendentes da burguesia italiana, e estavam decididos a apoiar aos sicilianos contra o rei Francisco II. Garibaldi entrou em Nápoles e destituiu a dinastia Bourbon em setembro de 1860, anexando as duas Sicílias (A ilha de Sicília e o reino de Nápoles, no sul da Itália). Ao mesmo tempo, um exército de voluntários vindos do Piemonte atravessou os Estados Pontifícios e chegou ao sul da Itália, anexando a região de Marcas e da Úmbria. Garibaldi não conseguiu chegar a Roma, mas os representantes dos Estados já anexados enviaram a Turim seus representantes, formando o primeiro parlamento do novo reino, o qual proclamou a Vítor Manoel II, da dinastia dos Saboya, como rei da Itália. Cavour tornou-se ministro de governo e terá a difícil tarefa de consolidar a unificação, fazer desenvolver a economia interna e procurar o reconhecimento internacional do novo reino. A terceira fase do processo de unificação da Itália (1861-1870) se caracterizou pela incorporação de Veneza e a solução do conflito com o Vaticano, a chamada questão Romana. A unificação de Veneza deu-se dentro do contexto da guerra austro-prussiana. Itália apoiou à Prússia e quando ela venceu em Sadowa, Itália tomou posse de Veneza para si, expulsando os austríacos definitivamente da Península. A questão romana foi mais complicada. O novo reino da Itália, com apoio quase unânime da população, se apossou da Cidade de Roma como sua capital. Mas o Papa Pio IX desejava conservar a autonomia da Igreja e a soberania sobre Roma e o Lácio. Napoleão III apoiou o Papa, buscando ganhar para si o apoio dos católicos franceses. A solução veio como resultado da guerra entre Prússia e a França, onde Napoleão III teve que abdicar (outubro de 1870). Já sem o perigo do exército francês apoiando o Papa, o exército italiano invadiu Roma, e em 2 de outubro de 1871 a Cidade Eterna foi proclamada capital do Reino. O Papa, que tinha protestado perante o mundo dizendo sentir-se prisioneiro dos italianos no Vaticano, não verá solucionada sua questão. Seu sucessor, Pio XI, será o responsável de assinar o tratado de Letrão diante de Mussolini, em fevereiro de 1929. História Contemporânea | 51 A unificação da Alemanha foi possível pela comunhão de várias circunstâncias: A presença da dinastia Hohenzollern, o reino de Prússia, os junkers prussianos, a burguesia industrial e força de Bismarck. Como foi visto nesta unidade, ao estudar a unificação italiana, a Alemanha também foi dividida em três fases: A primeira fase da unificação alemã (1815-1848) foi motivada pela anterior ocupação francesa, a qual fez desenvolver a consciência nacional na região prussiana. Como consequência do Congresso de Viena, o território alemão ficou dividido em 39 Estados, os quais formaram a Confederação Germânica. Eles eram os reinos de Baviera, Hannover, Saxônia, Wutemberg e Prússia, o Império Austríaco, 29 ducados e principados (chamados também grandes ducados), e quatro CidadesLivres. O século XIX foi favorável ao desenvolvimento alemã. Economicamente desenvolveu-se através da construção das vias férreas e a organização de bancos e associações. O nacionalismo germano tinha sido semeado pelos intelectuais e políticos do tamanho de Schiller, Arndt, Kleist e Fichte, de tal forma que, apesar da grande variedade de fronteiras, todos os territórios souberam reconhecer o valor comum que os unia: a língua. Os centros acadêmicos alemães, principalmente Bonn, Jena, Heidelberg e Kiel converteram-se em centros propagadores do idealismo e do nacionalismo de tal forma que os intelectuais terminaram por abraçar essas ideias e difundi-las entre os jovens estudantes. Nesse ambiente, Áustria foi, aos poucos, ficando fora do jogo político, cedendo espaço para Prússia, que a partir de 1815 promoveu o crescimento econômico e a unificação alemã: “(Prússia) toma a iniciativa de agir com suas lideranças e sua burguesia, protestante e intelectual, a favor da consolidação política e do progresso socioeconômico com a aspiração à unidade, e iniciando um desenvolvimento econômico que haverá de abranger vários aspectos: o inicio da industrialização em regiões como o Ruhr, Silesia e Berlim, o incremento do transporte ferroviário, e especialmente com a União Alfandegária, que cria uma zona de livre comércio com os Estados alemães” (LARA, 2010, p. 13). | História Contemporânea52 A segunda fase da unificação alemã estende-se desde 1848 até 1862, e correspondem à fase bélica do processo. Os levantamentos iniciam mais ou menos simultaneamente em Baviera, Baden, Hannover, Saxônia e Prússia, onde os liberais conseguiram algumas concessões e cátedras nos ministérios. Em maio de 1848 o Parlamento de Frankfurt, que já estava integrado por representantes eleitos nos diferentes Estados alemães e que eram majoritariamente nacionalistas liberais e democratas moderados, encontrava-se ideologicamente dividido. A unidade alemã era assunto comumente aceito, porém havia diferentes posições contraditórias acerca da forma em que essa unificação devia acontecer. Em um grupo estavam os partidários da “Grande Alemanha”, que incluía Áustria. Em outro, os partidários da “Pequena Alemanha”, que excluía Áustria e pugnava pelo predomínio da Prússia. Em um grupo estavam os partidários de um Estado autoritário. No outro, os que queriam um governo liberal. E entre os que queriam um Estado liberal as opiniões se dividiam: “Censitário ou democrático, centralizado ou federal, império eletivo ou hereditário” (LARA, 2010). No meio dessa variedade de opiniões, o Parlamento viu-se incapaz de organizar a almejada união alemã, e ficou sem autoridade moral perante os Estados. Nesse ambiente produziram entre dezembro de 1848 e maio de 1849 novos levantamentos armados promovidos por milícias armadas advindas do ambiente popular, dos campos e das cidades, e inclusive participaram de movimentos operários influenciados por Marx, de tal forma que o Parlamento chegou a ser dissolvido em maio de 1849. Desde esse ano, até 1862, Alemanha viverá um período de paz e de crescimento econômico e industrial no qual Prússia irá congregando através de diversas iniciativas, as forças dispersas do nacionalismo, o liberalismo e a unificação econômica. Entre 1851 e 1852 essa união econômica estará consolidada (zollverein). Saiba mais: Zollverein é o nome da aliança aduaneira que teve como meta a liberdade alfandegária para os 39 estados alemães, o que favoreceu a liberdade entre as suas fronteiras internas facilitando assim o maior comércio e uma maior estrutura para os processos industriais, excluindo a Áustria, que era rival da Prússia. História Contemporânea | 53 A unificação política e geográfica (terceira fase da unificação alemã) haveria de esperar até 1871, e haverá de realizar-se sob o comando de Bismark, chanceler de Guilherme I, entronado em 1861. O projeto político de Bismark tinha um objetivo fundamental: realizar a união alemã beneficiando a Prússia e excluindo a Áustria. Para fazer isso, Bismark teve que rodear-se de ministros fortes, capazes de suportar a oposição, reorganizar e fortalecer o exército e agir diplomaticamente para conseguir a neutralidade da Prússia, da França e da Rússia, e neutralizar a Áustria, colocando Prússia a frente do Estado Alemã Unificado. Bismark conseguirá tudo isso entre 1864 e 1871, a custa de três guerras sucessivas: • A guerra dos ducados (1864): Em 1 de fevereiro de 1864 Bismarck, comandando os exércitos de Prússia, com o apoio do imperador austríaco Francisco José, decide invadir dois ducados dinamarqueses, Schleswig- Holstein e Saxônia-Lauenburgo, que tinham sido unidos por Dinamarca no Protocolo de Londres (1852). A guerra foi relativamente rápida, e encerrou-se em 30 de outubro do mesmo ano, com o tratado de Viena, que cedeu a administração dos territórios ocupados as duas potências. Prússia e Áustria tentaram administrar conjuntamente o território, conforme os acordos que assinaram na Convenção de Gastein, em 14 de agosto de 1865, porém as divergências ideológicas-políticas levariam ambos os países a guerra. • A guerra Áustro-Prusiana (1866): O papel diplomático de Bismark nesta guerra foi decisivo, pois ele conseguiu a neutralidade da Rússia, da França e da Inglaterra, e conseguiu o apoio da Itália contra os austríacos, porque eles mantinham a posse da Venécia. Bismark invadiu o lado austríaco de Hostein e venceu seu exército numa só batalha, em Sadowa (Königgrätz, para os alemães). Apesar de breve (14 de junho a 23 de agosto), esta batalha significou para Prússia passar a ser o Estado preponderante e supremo na confederação germânica. • A guerra entre França e Prússia (1870-1871): Foi a guerra europeia mais importante desde as guerras napoleônicas e uma das causas da primeira Guerra Mundial. Iniciou em 19 de julho de 1870 e terminou em 10 de maio de 1871. Com a França seccionada e humilhada a guerra franco-prussiana ocorreu assim: depois da vitória em Sadowa, Bismarck estendeu rapidamente seu domínio | História Contemporânea54 aos territórios do norte da Alemanha, consolidando o controle alfandegário em toda a fronteira mediante o Zollparlament (o Parlamento de Alfândega), o que preocupou o Imperador Napoleão III. Ele mobilizou o exército, ameaçando a Bismark para que não anexasse os territórios do sul da Alemanha (Baviera, Wurtemberg y Baden) nos quais a França tinha influência e interesses econômicos, em Luxemburgo. Mas, apesar das tensões, a guerra não foi declarada senão até a famosa manobra de Bismark, quem de fato tinha interesse no conflito bélico, e publicou na imprensa o resumo manipulado de um telegrama do rei prussiano, que provocou a guerra. Acontece que o trono espanhol estava vazio, e o General Prim procurava candidatos ao trono, mas os franceses pediram que o candidato alemão (Leopoldo de Hohenzollern-Sigmarigen) renunciasse a sua candidatura. O rei Guilherme se opôs a isso e escreveu um telegrama a Bismark expondo sua posição, porém Bismark o manipulou excluindo os parágrafos que o faziam politicamente e diplomaticamente, correto, resultando em um texto depreciativo que exaltou a ira do imperador da França. Ele declarou aguerra em 19 de julho. Os franceses, que já estavam posicionados na fronteira, foram os primeiros a movimentar-se adentrando nos territórios fronteiriços, porém os alemães revidaram e, em menos de uma semana, já tinham recuperado os territórios invadidos, e fizeram recuar a França, a qual se viu surpreendida com o apoio maciço de todos os Estados alemães, inclusive os do sul. Os alemães foram ocupando França, derrotando seus exércitos em Froeschwiller-Woerth, Mars-la-Tour, Saint-Privat-la-Montagne, Loigny e em 1 de setembro, em Sedan. A batalha de Sedan foi a mais importante e decisiva. Depois de perder em Loignny os franceses somente contavam com a companhia comandada pelo Marechal Patrice de MacMahon e uma outra companhia sitiada em Metz. MacMahon,
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