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O Que é Religião? Rubens Alves Aluna: Thaís Lorrayne Nascimento Pereira PERSPECTIVAS Houve um tempo em que os descrentes, sem amor a Deus e sem religião, eram raros. Com isso, que não acreditava, se escondiam, como se fossem contaminados por alguma doença. As pessoas eram educadas para o mundo religioso, que era sustentado por relatos que este mundo era encantado e maravilhoso, e que por trás de tudo que acontecia e que era vivido, havia um poder espiritual. Tudo era explicado pelo amor de Deus e pela religião. Porém, um tempo depois e com o avanço da ciência, foi-se construindo um mundo onde Deus não se fazia mais tão necessário. A religião não foi extinta, mas sua presença tornou-se limitada. Segundo o autor, “[...] não se pode negar que ela já não pode frequentar aqueles lugares que um dia lhe pertenceram: foi expulsa dos centros do saber científico e das câmaras onde se tomam as decisões que concretamente determinam nossas vidas. ” E é normal que as famílias não sonhem que seus filhos sigam a carreira sacerdotal. A religião, mesmo tendo sofrido mudanças na forma como está presente na vida das pessoas, não acabou e não mudou sua função. A religião não mudou ficou secularizada e os deuses e esperanças religiosas ganharam novos nomes e novos rótulos, e os seus sacerdotes e profetas novas roupas, novos lugares e novos empregos Até hoje, como o autor mesmo destaca, quando passamos por situações de angústia, desespero e dor, ainda recorremos à Deus, à igreja, à reza, etc. “O que ocorre frequência é que as mesmas perguntas religiosas do passado se articulam agora, travestidas, por meio de símbolos secularizados. Metamorfoseiam-se os nomes. Persiste a mesma função religiosa”. A religião então se transformou, adquiriu novos nomes, rótulos e novos entendimentos. Mas ela ainda se faz presente em nossas vidas, como algo que não podemos ver, mas que sentimos, e que constitui o nosso cotidiano. É como se a religião fizesse parte de nós mesmos e que podemos vê-la como um espelho que nos vemos. “A consciência de Deus é autoconsciência, conhecimento de Deus é autoconhecimento. A religião é o solene desvelar dos tesouros ocultos do homem, a revelação dos seus pensamentos íntimos, a confissão aberta dos seus segredos de amor. ” OS SÍMBOLOS DA AUSÊNCIA Nesse capítulo, o autor faz uma relação entre o mundo animal e o mundo humano, como possuem semelhanças, mas também destaca que os homens se recusaram a ser aquilo que a natureza lhes propõe, diferentemente dos animais, que não possuem a liberdade de mudar a ordem natural de suas vidas. E também evidencia o homem como um ser guiado pelos desejos. Inventaram mundos, coisas, jardins, casas, transformaram seus corpos, e a religião surge dessa teia de símbolos e desejos. A cultura também surge dando nome a tudo isso que que os homens imaginam e constroem, para sanar esses desejos. Desejo é sinônimo de privação, de ausência. Segundo o autor, “Porque o que a cultura deseja criar é exatamente o objeto desejado. A atividade humana, assim, não pode ser compreendida como uma simples luta pela sobrevivência que, uma vez resolvida, se dá ao luxo de produzir o supérfluo”. A religião está voltada para as experiências pessoais com o encontro com o sagrado. E a partir do momento que não conseguimos entender a cultura, quando ela fracassa é que surgem os símbolos. E os símbolos existem para criar um mundo que faça sentido, que explique o sentido da vida e da morte. Essa teia de símbolos não é composta por itens extraordinários, como diz o autor. Mesmo considerando-se os altares, santuários, comidas, lugares, capelas...consideram-se também gestos, rezas, canções, peregrinações, milagres, celebrações...as coisas se tornam religiosas quando os homens a caracterizam como tal. Ao contrário, coisas e gestos se tornam religiosos quando os homens os batizam como tais. A religião nasce com o poder que os homens têm de dar nomes às coisas, fazendo uma discriminação entre coisas de importância secundária e coisas nas quais seu destino, sua vida e sua morte se dependuram. E esta é a razão por que, fazendo uma abstração dos sentimentos e experiências pessoais que acompanham o encontro com o sagrado, a religião se nos apresenta como um certo tipo de fala, um discurso, uma rede de símbolos. O uso de objetos como coisa sagrada é mais uma faceta da religião, os objetivos visíveis adquirem uma dimensão nova, e passam a ser sinas de realidades invisíveis, é aquilo que o discurso religioso pretende fazer com as coisas: transformá-las, de entidades brutas e vazias, em portadoras de sentido. A religião é construída pelos símbolos que os homens usam. O EXÍLIO DO SAGRADO As coisas do mundo humano são diferentes das que constituem a natureza. Segundo o autor, a cultura surgiu das atividades dos homens e, quando os homens desparecerem, todas estas coisas criadas por eles também desaparecerão. A cultura já se tornou tão natural para nós que esquecemos que as coisas foram inventadas, segundo o autor, a coisificação do mundo já é algo natural, desde que nascemos, recebemos o mundo social pronto. E isso ocorre com os símbolos criados. De tanto serem repetidos e compartilhados, foram “coisificados”. O autor descreve a religião como rede de símbolos, e que no processo histórico recebemos uma herança que parte de duas vertentes: os hebreus e os cristãos e do outro as tradições culturais dos gregos e dos romanos. E isto gerou visões distintas, que se transformaram mutuamente dando origem ao período denominado Idade Média. Ele utiliza essa época como exemplo pois nela, os símbolos do sagrado faziam com que os mundos invisíveis fossem ainda mais sentidos que o mundo real. Tudo que acontecia naquela época tinha a explicação do poder sagrado. “Todas as coisas tinham seus lugares apropriados, numa ordem hierárquica de valores, porque Deus assim havia arrumado o universo, sua casa, estabelecendo guias espirituais e imperadores, no alto, para exercer o poder e usar a espada, colocando lá em baixo a pobreza e o trabalho no corpo de outros. ” Tudo tinha um propósito definido. Para os medievais não havia fantasia alguma. Seu mundo era sólido, constituído por fatos, comprovados por inúmeras evidências e além de quaisquer dúvidas. Poucos foram os que duvidaram. Acontece que os homens começaram a fazer coisas não previstas dentro da religião. As mudanças não vieram daqueles que tinham o poder, mas sim de uma classe social que se encontrava no meio, que corroeu as coisas e os símbolos da sociedade medieval. Surgiu então uma revolução no campo dos símbolos. O homem medieval contemplava e respeitava a natureza, já esse novo homem surgiu com a necessidade da riqueza, com uma atitude agressiva, pela qual apropria-se da natureza e a manipula. O universo religioso que era encantado, é tomado pela burguesia. Nesse sentido, a religião começa a perder seus símbolos, e a natureza perde sua aura sagrada, tornando-se apenas fonte de matéria prima. Até mesmo as pessoas perdem seu valor religioso, passando a valer o quanto ganha. As tensões entre Estado e Igreja intensificam-se. “Que a religião cuide das realidades espirituais, que das coisas materiais a espada e o dinheiro se encarregam”. Nesse capítulo, o autor deixa evidente que a religião perdeu espaço para a ciência, e não pode ser questionada. E o discurso religioso é deixado de lado, por não conter raciocínios lógicos e exatos, não é uma ciência exata e não pode ser completamente explicada. “Mas, se tal quadro de interpretação do fenómeno religioso se estabeleceu, foi porque, de fato, ela perdeu seu poder e centralidade. Como dizia Rickert, com o triunfo da burguesia Deus passou a ter problemas habitacionais crónicos. Despejado de um lugar, despejado de outro. Progressivamente foi empurrado para fora do mundo. Para que os homens dominem a terra é necessário queDeus seja confinado aos céus. E assim se dividiram áreas de influências. Aos negociantes e políticos foram entregues a terra, os mares, os rios, os ares, os campos, as cidades, as fábricas, os bancos, os mercados, os lucros, os corpos das pessoas. ” Porém, mesmo com essas mudanças, as pessoas ainda continuam a refletir sobre a vida e a morte; banqueiros ainda querem ter a certeza que a riqueza foi merecida, e buscam nela os sinais do favor divino; os operários escutam canções para suportar as angustias. A religião ainda se mantém como refúgio para as angustias e tristezas, e passa a ser considerada apenas como responsável pelo cuidado, salvação e cura das almas aflitas. O sagrado sobreviveu como religião para os oprimidos. A COISA QUE NUNCA MENTE O autor explica o significado das coisas, fazendo comparações e como essas coisas são transformadas em símbolos e adquirem significados. Para ele, no mundo dos homens existem dois tipos de coisas. A primeira são as coisas que significam outras, como símbolos. E a segunda são as cosas que não significam outas, elas são elas mesmas, não apontam para nada. E coisas que não significam nada podem ser transformadas em símbolos. Na Idade Média, a religião era considerada sagrada pois o que importava era o significado das coisas, porém, o avanço cientifico surgiu a partir da necessidade de dar ênfase ao que as coisas são de fato, e não o seu significado. E é aí que a religião assume outras perspectivas na sociedade, e não desaparece. Nesse sentido, Durkheim considera a religião como um fato, e não pode ser ignorada como fator social. O autor destaca a existência de dois mundos para entender o que é a religião. Existe o espaço das coisas sagradas e uma série de proibições, o mundo profano. “Sagrado e profano não são propriedades das coisas. Eles se estabelecem pelas atitudes dos homens perante coisas, espaços, tempos, pessoas, ações. ” O mundo profano é o círculo das atitudes utilitárias, ou seja, tudo se torna descartável. No círculo sagrado tudo se transforma. O autor enfatiza ainda os estudos de Durkheim sobre a religião. Ele não entendia qual força misteriosas faziam com que os indivíduos não destruíssem uns aos outros, queria entender o porquê. Pois mesmo que inconscientemente, o sagrado ainda faz parte da sociedade. Sempre há uma voz, um sentimento de culpa, a consciência, que nos dis quando algo sagrado foi violentado. “O sagrado é o centro do mundo, a origem da ordem, a fonte das normas, a garantia da harmonia. Assim, quando Durkheim explorava a religião ele estava investigando as próprias condições para a sobrevivência da vida social. E é isto o que afirma a sua mais revolucionária conclusão acerca da essência da religião. ” Com isso, é compreensível que a sociedade seja o Deus que todas as religiões adoram. Assim, "esta realidade, representada pelas mitologias de tantas formas diferentes, e que é a causa objetiva, universal e eterna das sensações sui generis com as quais a experiência religiosa é feita, é a sociedade". Para Durkheim, a religião era o centro da sociedade, e ele não podia imaginar uma sociedade totalmente profana e secularizada. E chegou mesmo a afirmar que "existe algo de eterno na religião que está destinado a sobreviver a todos os símbolos particulares nos quais o pensamento religioso sucessivamente se envolveu. Não pode existir uma sociedade que não sinta a necessidade de manter e reafirmar, a intervalos, os sentimentos coletivos e ideias coletivas que constituem sua unidade e personalidade". A religião pode se transformar. Mas nunca desaparecerá. AS FLORES SOBRE AS CORRENTES Nesse capítulo, o autor traz preocupações de Durkheim e Marx. Ambos os pensadores analisaram a religião sob o ponto de vista sociológico. Para Durkheim, a religião não pode ser negada, pois é um fato por si só. Ao investigar, entende que a religião, no passado, era o centro da sociedade. Mas, para outros filósofos da época, a religião era culpada por todos os problemas sociais existentes na época. Para Marx, o homem faz a religião e não a religião faz o homem. E o homem, dotado de desejos e necessidades estimula o crescimento do capitalismo, e junto com ele, surgem as angustias, as guerras, as desigualdades. E aí é que surge a religião, para amenizar e acabar com os sofrimentos, com a dor e consolar. “Religião, expressão de sofrimento real, protesto contra um sofrimento real, suspiro da criatura oprimida, coração de um mundo sem coração, espírito de uma situação sem espírito, ópio do povo". A religião, de certa forma, é um instrumento de força para aqueles que perderam tudo e não tem mais em que se agarrar. Ela nos conforta e nos dá esperança de um futuro melhor, mesmo que seja após a morte. Ele nos dá conforto e as vezes respostas para momentos de angustia e sofrimento. A VOZ DO DESEJO Freud e Feuërbach concordam que a religião é fruto do desejo humano. Ludwig Feuërbach ainda relaciona a religião com os sonhos. Por isso mesmo seria a verdade do coração humano, a essência dos homens, que não podem revelar seus desejos porque estão “controlados” pela sociedade, que prega a ordem. E que, portanto, deveríamos compreendê- la da mesma forma como analisamos os sonhos, sendo estes relacionados aos desejos. E é aí que surge a religião. As religiões, nesse capitulo, são considerados ilusões que tornam a vida mais esperançosa, suave, prazerosa, os mais fortes e urgentes desejos da humanidade. A religião afirma a divindade do homem. Freud afirma que a religião surge no inconsciente e como mensagem dos desejos, e que esses desejos devem ser reprimidos. Aqui, novamente a discussão do capítulo anterior e das perspectivas de Durkheim e Marx, novamente a religião está relacionada como aquilo que conforta o homem, porém, antes estava relacionado à situação social, mais externo, e nesse capítulo é apresentada de forma mais subjetiva, interna ao ser. O DEUS DOS OPRIMIDOS Nesse capítulo, o autor trata do ministério dos profetas, onde as pessoas pensam que os profetas são videntes dotados de poderes especiais para prever o futuro. Exemplifica aind ao profeta Hebreu, que se dedicava em denunciar as coisas do presente. Em suas bocas, tais palavras tinham um sentido social que todos entendiam e, a partir daí, instaurou-se um novo tipo de religião, de natureza e política, que entendiam as relações dos homens com Deus. As autoridades, por razoes óbvias, os detestavam, acusando-os de traidores. É provável que os profetas tenham sido os primeiros a compreender a ambivalência da religião: ela se presta a objetivos opostos, tudo dependendo daqueles que manipulam os símbolos sagrados. Ela pode ser usada para iluminar ou para cegar, para fazer voar ou paralisar, para dar coragem ou atemorizar, para libertar ou escravizar. Daí a necessidade de separar o Deus em cujo nome falavam, que era o Deus dos oprimidos, e que despertava a esperança e apontava para um futuro novo, dos ídolos dos opressores, que tornavam as pessoas gordas, pesadas, satisfeitas consigo mesmas, enraizadas em sua injustiça e cegas para o julgamento divino que se aproximava. Os profetas diziam que Deus era justiça e misericórdia, e que, portanto, não era um Deus opressor de seu povo. Os profetas também sonhavam com uma sociedade justa e igualitária para os povos, com muita harmonia. Religião nada mais é que alienação e ilusão, uma série de coincidência permitiu que se reconstruísse a visão profética da religião como instrumento de libertação dos oprimidos, daí dois fatores foram importantes: o desenvolvimento da ciência histórica, que tornou possível a recuperação dos fragmentos do passado e o desenvolvimento da arte de interpretação que permitia vislumbrar, através do discurso, a verdade acerca dos vencidos. Na verdade, toda sociedade tem uma classe dominante e uma classe dominada, necessariamente,é que os sonhos dos poderosos têm de ser diferentes dos sonhos dos oprimidos. E também suas religiões. Os poderosos moram em oásis, perpetua o presente pelo uso da força, também é necessário que dominadores e dominados aceitem tal situação como legitima. Riqueza pela vontade de Deus, pobreza pela vontade de Deus. Tudo se reveste com a aura sagrada, e sabemos que coisas sagradas são intocáveis. Assim a religião se apresenta na sua ambivalência política: os sonhos dos poderosos eternizam o presente e exorcizam um futuro novo; os sonhos dos oprimidos exigem a dissolução do presente para que o futuro seja a realização do Reino de Deus, não importa o nome que se lhe dê. A religião dos pobres se parece com a religião dos profetas. A APOSTA No último capítulo o autor afirma ter convocado e ouvido testemunhas: psicólogos, filósofos, cientistas sociais. Uns ao lado da acusação, nos asseguram que a religião é uma louca que afirma coisas sem nexo, distribuindo ilusões. Do outro os que saem em defesa da religião afirmando que sem ela o mundo humano não pode de existir e que, quando deciframos os seus símbolos, contemplamos como num espelho. Os cientistas prestam atenção, sem acreditar, escutam e anotam convencidos de que os homens não sabem sobre o que estão falando. Serão eles os cientistas, que retirarão do senso comum à verdade que somente a ciência tem acesso. Todas as ciências, sem exceção, são obrigadas e não homens de ciência. A ciência empalhou a religião, tirando dela as verdades muito diferentes daquelas que a própria religião viva cantava. A religião é vista como a esperança de dias melhores. O livro traz relatos da experiência religiosa dos tempos passados e dos tempos atuais, desde o período da Idade Média, discutida nos capítulos iniciais. Até o período em que a ciência passa a progredir e a religião perde espaço. Porém o autor ainda demonstra que a religião continua viva, e ainda continua sendo a resposta para os problemas e angústias as vários questionamentos levantados pela sociedade, principalmente sobre como nascemos, onde estamos e para onde iremos. O livro deixa claro o que é religião e qual é o seu papel na sociedade e na humanidade.
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