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FUNDAMENTOS E PRÁTICAS EM RELAÇÕES PÚBLICAS Fernanda Lery Pereira Constante Definição das relações públicas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Realizar o levantamento das definições teóricas de relações públicas. Classificar as definições teóricas de relações públicas por tipos de correntes conceituais. Desenvolver o senso crítico referente às definições teóricas de relações públicas. Introdução Neste capítulo, você vai ler sobre as diversas definições de relações pú- blicas (RP) e o motivo de existirem tantos conceitos distintos, algumas vezes, tão complexos e, outras vezes, tão sucintos e simplificados. Com base nessas definições, você vai acompanhar a evolução histórica dessa área e da realidade de um profissional de RP. Conceito de relações públicas Conceituar RP não é algo fácil. Um dos motivos é o fato de que a expressão possui muitos signifi cados, pois pode se referir a objetos distintos: um processo, um profi ssional ou uma profi ssão. Além disso, muitos conceitos misturam esses signifi cados, fazendo uma enorme confusão semântica. Um ótimo exemplo dessa problematização em relação ao conceito de RP é a frase utilizada por Cândido Teobaldo de Souza Andrade: Não há escassez de definições — 987 nos Estados Unidos da América em 1952, mas nenhuma delas parece satisfazer completamente [...] Há tantas definições e conceitos sobre relações públicas quanto há estudiosos, profes- sores, profissionais e admiradores dessa atividade (ANDRARE, 2005, p. 29). Com o passar dos anos, a expressão relações públicas já teve muitos significados, pois, além da dificuldade de um consenso em relação a seu conceito, suas atribui- ções mudaram muito em decorrência das mudanças na sociedade e na realidade do mercado, desde seu surgimento. No início do século XX, a profissão começou a se organizar. Surgiram as primeiras associações e a publicação do primeiro livro sobre o tema (do autor Eduard Bernays). Foi nesse período que, nos Estados Unidos, começaram a surgir as primeiras tentativas de conceituação de RP. Todas essas tentativas tinham como ponto comum a opinião pública favorável e a compreensão mútua entre as organizações e a sociedade. No entanto, tais definições tinham como característica a unilateralidade, ou seja, a importância da comunicação era apenas da organização em relação ao seu público. Vamos começar com Bernays, em 1923, que definiu RP como uma atividade que “[...] objetiva, por meio da informação, da persuasão e do ajustamento, edificar o apoio público para uma atividade, causa, movimento ou instituição” (ANDRADE, 2005, p. 34). Ressaltamos que a expressão persuasão estava presente nesse momento de conceituação. Em 1945, o Webster’s New International Dictionary (NEILSON, 1954 apud ANDRADE, 2005, p. 31-32) apresentava a seguinte definição como conceito de RP: 1 — As atividades de uma indústria, sindicato, corporação, profissão, go- verno ou outra organização, realizadas com o objetivo de construir e manter relações sólidas e produtivas com públicos especiais, tais como clientes, empregados, acionistas e com o público em geral, de modo que a organização se adapte ao seu meio e interprete a si mesma para a sociedade; 2 — o estado de tais atividades ou grau de seu êxito na promoção da compreensão pública frente ao ajustamento econômico e social de uma organização, responde por boas ou más relações públicas; 3 — a arte ou profissão de organizar ou conduzir essas atividades, como os cursos ministrados pelas universidades de relações públicas, o exercício de relações públicas requer o domínio de várias técnicas. Daí dizer-se funcionário, diretor, conselheiro e consultor de relações públicas. Definição das relações públicas2 Em 1946, Raymond W. Miller conceituou RP como “[...] uma arte aplicada. Inclui todas as atividades e processos operacionais que permanentemente objetivam determinar, guiar, influir e interpretar as ações de uma organização, de maneira que sua conduta se conforme tanto quanto possível ao interesse e bem-estar públicos” (MILLER, 1946 apud ANDRADE, 2005, p. 32). Moura (2008) nos apresenta o conceito que RP definido pela International Public Relations Association (IPRA), no ano de 1958. Esta afirmou que RP caracteriza-se por ser uma função diretiva de caráter permanente e organizado, pela qual uma empresa, um organismo público ou privado, procura obter e manter a compreensão, a simpatia e o concurso daqueles com que tratam ou podem vir a tratar". Já em 1968, a Associação Brasileira de Relações Públicas (ABRP) criou seu conceito, não considerando as contradições do período político pelo qual passava o Brasil e reforçando a ideia da compreensão mútua que marcou a atividade nas décadas anteriores. Assim, a ABRP conceituou RP como um “[...] esforço deliberado, planificado, coeso e contínuo da alta administração, para estabelecer e manter uma compreensão mútua entre uma organização, pública ou privada, e seu pessoal, assim como entre essa organização e todos os grupos aos quais está ligada, direta ou indiretamente” (ANDRADE, 1983, p. 45 apud MACHADO; ANTUNES; MONTEIRO, 2007). No final da década de 1970, a redemocratização política no Brasil, o avanço da tecnologia e as novas demandas surgidas nesse período fizeram a sociedade se reorganizar e, aos poucos, aumentar sua participação em todas essas questões. Nesse momento, a relação entre sociedade e organizações começou a sofrer profundas mudanças. Essa situação exigiu, por parte das organizações, um novo posicionamento como forma de enfrentar esse novo cenário. Assim, a partir da década de 1980, os processos de comunicação iniciaram sua reestruturação. De forma bastante lenta, esse movimento resultou na criação de novos canais de comunicação, que visavam estreitar o diálogo e o relacionamento entre as organizações e seus stakeholders. Com isso, o processo de comu- nicação deixou de ser visto como algo isolado e sim como um processo já visto, inclusive, como bilateral, ou seja, já é vista a importância do receptor da mensagem na comunicação. Dessa forma, o papel dos públicos tomou outra proporção. A comunicação já não é mais realizada e valorizada apenas na direção organização/público. 3Definição das relações públicas Você sabe o que significa stakeholders? Stake, em inglês, significa interesse, participação, risco. Holder significa aquele que possui. Ou seja, stakeholder é a parte interessada, o público estratégico. É uma expressão muito utilizada no campo da administração e comunicação para designar todos os tipos de públicos e pontos de contato de uma organização. Cabe salientarmos também a definição aprovada em 1978, pelos 33 países participantes da Assembleia Mundial de Relações Públicas, realizada no México. Nessa ocasião, foi afirmado que: [...] o exercício profissional das Relações Públicas requer ação planejada com apoio na pesquisa, na comunicação sistemática e na participação programada para elevar o nível de entendimento, solidariedade e colaboração entre uma entidade e os grupos a ela vinculados, num processo de interação e de interesses legítimos, para promover seu desenvolvimento recíproco e da comunidade a que pertencem (CARVALHO, 2017, documento on-line) Na década de 1980, essa nova visão de processo para a comunicação apro- ximou os profissionais de RP e o marketing, assim, as duas áreas passaram a ser vistas como integradas. Para entendermos melhor sua relação, salientamos que o marketing está voltado para o mercado, já a comunicação de marketing é orientada para o produto ou serviço, uma vez que o objetivo é falar com consumidores e consequentemente realizar a venda. As RPs estão voltadas para os públicos de uma organização e todos os seus pontos de contato. A comunicação com esses públicos está direcionada para temas institucionais ou mais generalizados, não estando focadas em um produto ou serviço. Na obra Introdução à teoriadas relações públicas, Gisela Gonçalves nos relembra de outro conceito, datado já de 1997 e criado por Baskin, Aronoff e Lattimore: As Relações Públicas são uma função de gestão que ajuda a alcançar os objetivos organizacionais, a definir a filosofia e a facilitar a mudança organizacional. O profissional de relações públicas comunica com todos os públicos internos e externos relevantes para desenvolver relações positivas e para criar consistência entre os objetivos organizacionais e as expectativas sociais. O profissional de relações públicas desenvolve, executa e avalia os programas organizacionais que promovem a troca de influência e a intercompreensão entre as partes cons- tituintes da organização e os públicos (GONÇALVES, 2010, p. 5). Definição das relações públicas4 Gisela Gonçalves faz também uma citação, de Van Riel e Fombrun (2007), e apresenta uma conceituação mais contemporânea, em que já fala em co- municação corporativa. Nesse cenário, as RPs fazem parte de um dos cinco departamentos especializados e dedicados em lidar com os públicos de uma organização. Veja-os a seguir. Comunicação interna — departamento responsável pela comunicação com todos os colaboradores de uma organização. Muitas vezes, ligado ao departamento de recursos humanos. Comunicação de marketing — departamento responsável por toda a comunicação com clientes e consumidores. Relações com investidores — departamento responsável pela comu- nicação com aqueles públicos diretamente ligados ao desempenho financeiro da empresa, ou seja, investidores e analistas. Relações governamentais — departamento responsável pelas relações da empresa com legisladores, órgãos reguladores e outros representantes governamentais. Relações públicas — departamento responsável pela interatividade e comunicação com organizações não governamentais (ONGs) e grupos ativistas que se destinam a preservar o interesse público para o qual a empresa pode ou não ter contribuído. Muitos outros conceitos poderiam ser citados, pois existem em grande número. No entanto, podemos dizer que, em muitos deles, os conceitos de gestão, de organização e de público se fazem presente. Salientamos também que os conceitos voltados para a influência e a persuasão dos públicos ficaram no passado, pois trouxeram uma imagem bastante negativa para a área e a profissão. Uma visão atual de RP garante que a profissão não possui, como objetivo principal, controlar o público e sim auxiliar as empresas a se comu- nicarem com ele, de forma clara e verdadeira. Um dos grandes mitos da história das RPs é o de que a área está apenas vinculada à gestão de crises. Esse conceito faz parte de uma visão bastante antiga do trabalho de RP. Não há dúvidas de que o RP é fundamental em um momento de crise, mas ele também é imprescindível para situações anteriores, de prevenção a problemas, além de: comunicados de posicionamento; lançamento de novos produtos ou serviços; mudanças de rumo da organização; 5Definição das relações públicas responsabilidade e garantia do correto envio de informações entre organização e seus públicos; manutenção do bom relacionamento com todos os seus stakeholders. Correntes conceituais Em sua gênese, a prática e o desenvolvimento das RPs no Brasil ocorreram não pela realização de pesquisas e trabalhos científi cos voltados para a área, mas seu desenvolvimento foi basicamente sustentado por questões políticas no período da ditadura militar. Com o poder da comunicação nas mãos, os militares formataram seu conceito conforme interesses próprios, infl uenciaram e determinaram os novos rumos para a atividade de RP no País. Com o passar do tempo, novas e diferentes conceituações foram surgindo, sendo reconhecidas e possibilitando, portanto, dividi-las a partir de duas perspectivas: a acadêmica e a profissional. No artigo de Sonia Pedroso Sebastião, “Relações públicas: a comunicação, as organizações e a sociedade”, a autora cita que Harlow, no que se refere à perspectiva acadêmica, encontrou 472 definições de RP entre 1900 e 1976. Para ele, as RPs são: [...] uma função empresarial que contribuiu para o estabelecimento e a manu- tenção de linhas de comunicação, compreensão, aceitação e cooperação entre a organização e os seus públicos. Envolve a gestão de problemas; informa a direção sobre as correntes de opinião existentes nos diferentes públicos; define e enfatiza a responsabilidade social da empresa; ajuda à previsão e à adequação da organização a processos de mudança e a novas tendências; e utiliza a pesquisa e a ética como principais instrumentos (HARLOW, 1976 apud SEBASTIÃO, 2012, documento on-line). Tal definição une objetivos, processos e instrumentos utilizados pelas RPs e mostra a importância do seu exercício no contexto organizacional. Ainda se tratando de uma perspectiva acadêmica, o mesmo artigo traz o exemplo de Grunig e Hunt (1984,), que definem e conceituam as RPs como sendo a gestão da comunicação entre a organização e os seus públicos. Já Cutlip, Center e Broom (1999 apud SEBASTIÃO, 2012) as definem como uma função de gestão que estabelece e mantém relações e benefício mútuo entre a organização e os seus públicos. Definição das relações públicas6 No âmbito da perspectiva profissional, a Public Relations Consultants Association (PRCA) do Reino Unido conceitua RP como reputação, ou seja, como a consequência e o resultado daquilo que a organização efetivamente é, do que ela diz e daquilo que os outros dizem a respeito dela, sendo utilizados para criar compreensão e confiança entre essa organização e os públicos (SEBASTIÃO, 2012). Fazendo uma análise das definições, tanto na perspectiva acadêmica quanto na profissional, podemos registrar alguns conceitos-chave existentes em ambas: relações (trocas); comunicação (no sentido de tornar comum); processo e continuidade; intencionalidade; planejamento; organização e públicos (grupos de pessoas interessadas e atingidas pela organização em si e por seus produtos ou serviços). Analisando os muitos conceitos isolados da área e da profissão de RP, notamos que sua evolução esteve direcionada para a promoção do relacionamento das organizações com seus públicos, por meio da harmonização de interesses. Cândido Teobaldo, em Dicionário profissional de Relações Públicas (citada no artigo “Subsídios para o estudo do conceito de relações públicas”, de Fábio França [2003]), apresenta diversos conceitos, criados por inúmeros autores brasileiros e apresentados, cada um deles, por meio de uma visão ou corrente conceitual distinta (Quadro 1). 7Definição das relações públicas Visão tradicional Essa é a visão e a conceituação feitas pelo próprio autor Cândido Teobaldo. Ele define RP da seguinte forma: “São o diálogo planificado e permanente entre uma instituição e seus públicos, com o objetivo de determinar o interesse social e identificá-lo com o interesse privado” (ANDRADE, 1996, p. 105). Visão marxista A autora responsável por contestar os posicionamentos tradicionais é Cicilia M. Krohling Peruzzo. Ela busca na filosofia econômica do marxismo apoio para afirmar que a RP não se caracteriza por ser uma atividade que assume uma posição neutra, mas, sim, que está a serviço do capita- lismo, contribuindo, assim, para a alienação do trabalhador. Segundo a autora, todas as ações da área (como concursos, festas, comunicados internos, programas de reconheci- mento, entre outros) são utilizadas como forma de criar e manter um trabalhador submisso, desviá-lo dos problemas da sua classe e camuflar conflitos. Nessa visão, as RPs se revelam como um dos meios para envolver o pensamento das pessoas em um contexto altamente alienante. Visão política O conceito de RP por meio da visão política é trabalhado por Roberto Porto Simões. Para ele, “[...] a atividade de relações públicas é a gestão da função política da orga- nização” (SIMÕES, 1995, p. 83). Como justificativa a essadefinição, o autor complementa: “Como ciência, relações públicas abarca o conhecimento científico que explica, prevê e controla o exercício de poder no sistema orga- nização-públicos. Como atividade, relações públicas é o exercício da administração da função (subsistema) política organizacional, enfocado através do processo de comuni- cação da organização com seus públicos” Fábio França afirma que essa posição e conceituação criada por Simões — em que ele afirma que a função de RP é política, que seu objetivo é legitimar o poder e as de- cisões organizacionais e que a sua finalidade é facilitar as transações com os diversos públicos — chamou a atenção da categoria. Ele, por sua vez, tentou criar uma teoria que fornecesse respaldo para que as RPs fossem legitimadas como ciência. Quadro 1. Correntes conceituais das relações públicas (Continua) Definição das relações públicas8 Fonte: Adaptado de França (2003). Visão do transmarketing Essa teoria tem como autor Waldyr Gutiérrez Fortes, em Transmarketing: estratégias avançadas de relações públicas no campo de marketing (1999). Esse conceito trata da criação de uma conceituação superior ao marketing e às RPs, que é capaz de reunir os ambientes estratégicos de interesse das empresas e do mercado e que terá por função tornar bem-sucedidas as atividades de marketing e de RP. Segundo Fortes, essa expressão foi criada devido ao prefixo trans, que significa “movimento para além de”, “posição para além de”. Dessa forma, o transmarketing é o que está além do marketing, o que foi antes de depois dele, sendo função das RPs anteceder e suceder ao marke- ting nas organizações. Citando Fortes mais uma vez: “A rigor, o transmarketing não é uma teoria conceitual de relações públicas, mas de nova realidade destinada a controlar. Dá a impressão de diminuir o valor da atividade como gestora estratégica dos interesses corporativos maiores da organização, reduzindo-a ao cumprimento das decisões emanadas de uma entidade superior, que não é nem marketing nem relações públicas, mas tem o condão de direcionar as atividades de ambos” (FORTES, 1999, p. 11). Visão dos relacionamentos Essa visão propõe a criação de uma “filosofia global, corporativa e integrada de comunicação, para orientar e dar sentido a todos os relacionamentos organizacionais” (FRANÇA, 2008, documento on-line). França ainda afirma que essa visão estabelece que o que constitui a essência da atividade de RP são os relacio- namentos estratégicos com públicos específicos e que somente a partir deles é que se estabelecem as diferen- tes modalidades do exercício profissional ou da parte operacional da atividade. Assim, podemos dizer que RPs são uma atividade estratégica de relacionamentos com públicos específicos (FRANÇA, 2008). Quadro 1. Correntes conceituais das relações públicas (Continuação) 9Definição das relações públicas Relações públicas ontem e hoje Por meio da análise de diversas defi nições de RP, podemos concluir que seu papel está bem mais vinculado à gestão do que limitado a uma questão técnica e a um papel apenas como responsável pela disseminação de informações gerais de uma organização. Vamos agora, então, trazer os diversos conceitos de RP, desde o seu sur- gimento até a realidade atual. Que relação podemos fazer da nossa sociedade com o papel das RPs? O profissional de RP ainda deve priorizar a transparência das informações e o relacionamento com seus públicos? Como foi a evolução da comunicação e como as RPs acompanharam essa mudança? O acesso à tecnologia, hoje em dia, é muito maior do que há 20 anos, por exemplo. Com essa facilidade e devido à participação ativa das pessoas nas redes sociais, os indivíduos se tornaram produtores de conteúdo, conquistaram o direito e têm a liberdade de se manifestar em relação a produtos, serviços e atendimentos prestados pelas organizações. Dessa forma, eles adquiriram também uma maior expectativa em relação às respostas por parte das organi- zações. Assim, formou-se um cenário que acabou exigindo uma nova forma de pensar e de se manifestar por parte dessas organizações. Bianca Dreyer afirma que, com a chegada das tecnologias de informação e comunicação (TICs), aos poucos, as organizações estão amadurecendo e assumindo uma nova postura diante de seus públicos. Porém, apenas ingressar nas plataformas digitais e portar-se como observador ou publicador de informações, mesmo que por meio de mensagens diárias e bem criativas, não é suficiente. Os públicos esperam muito mais das organizações e querem dialogar com elas. Segundo Dreyer (2017, p. 18), “[...] o nosso dia a dia está mais conversacional devido ao uso de diversos recursos e plataformas digitais”. Na verdade, a essência do trabalho e da área de RP segue a mesma, ou seja, o relacionamento entre uma organização e seus públicos. A transparência na comunicação também é um item de extrema importância nos dias de hoje, que está presente desde 1906, com Ivy Lee. O que mudou, com o passar dos anos, foi a forma como se constroem os relacionamentos entre as organizações e seus públicos, como esses relacionamentos acontecem e como são trabalhados para que sejam mantidos. Segundo França (2008 apud FARIAS, 2011. p. 263): Chega-se ao momento do domínio da tecnologia, da informática, da rapidez da comunicação e da multiplicidade dos meios de transmissão que conduzem à desmassificação da mídia para torná-la segmentada de modo a atingir pú- blicos específicos, dirigidos, objeto da ação estratégica de relações públicas. Definição das relações públicas10 Apesar de a essência ser a mesma, alguns termos e conceitos foram criados no decorrer de todo esse período evolutivo. Hoje fala-se muito em comunicação organizacional e, inclusive, esse próprio termo já sofreu atualizações. Segundo Terra (2011, p. 22 apud DREYER, 2017, p. 40): [...] seguindo a evolução da comunicação de massa, passando dos meios impressos aos eletrônicos e, mais recentemente, aos digitais, a comunicação organizacional incorpora uma vasta lista de ferramentas que vão da intranet à televisão via satélite, agora a televisão digital, aos blogs, microblogs, chats, podcasts, entre outras. A soma desse ferramental digital que informa, treina e motiva públicos ligados à organização é o que se denomina comunicação organizacional. Diante da realidade atual das RPs, podemos classificar os formatos de comunicação em basicamente dois tipos (FARIAS, 2011): Comunicação tradicional — é toda forma de se expressar e comunicar por meio dos veículos de comunicação mais tradicionais, como, por exemplo, as mídias eletrônicas, mídias impressas ou mesmo as audiovisuais. Comunicação digital — é toda forma de comunicação oriunda da internet ou da comunicação móvel como plataforma de veiculação. Casali (2002 apud FARIAS, 2011) afirma que os novos instrumentos de tecnologia da informação modificaram todo o processo de comunicação organizacional, bem como o trabalho de RPs, que se desenvolveu como conse- quência às demandas globais e como um instrumental que produz e incentiva a globalização das ações organizacionais. Thompson (2014) explica também que o desenvolvimento dos meios de comunicação criou formatos de ação e interação entre as organizações e seus públicos, originando novos tipos de relacionamento social e, como consequên- cia, uma complexa reorganização de padrões de interação humana por meio do tempo e do espaço. Com certeza, mais e mais mudanças virão. Estamos em constante aperfei- çoamento, e a área de RP vai se adequando às novas demandas e realidades. Para Dreyer (2017, p. 152): [...] o profissional de relações públicas, responsável pela gestão da comunicação em uma organização, precisa contemplar, em seu modelo de comunicação 11Definição das relações públicas adotado, o viver contemporâneo e seus públicos, que tem se dado cada vez mais por meio das plataformas citadas. Por conseguinte, a atividade de relações públicas no século XXI estáatrelada às tecnologias de comunicação; devendo suas estratégias ou seus modelos de comunicação ser elaborados também com base no potencial uso dessas tecnologias. Com todas essas mudanças na sociedade e na nossa realidade, há um ponto que é condição sine qua non para que as RPs existam, independentemente das mudanças sofridas pela sociedade, da evolução e das novidades na área tecnológica: o público. Sem este, não existe com quem as organizações se relacionarem. Seus tipos e suas características também podem sofrer alterações conforme o ambiente e o meio em que estão inseridos, mas é esse o objeto específico das relações públicas. Segundo Kunsch (2003 apud DREYER, 2017), faz parte do trabalho das RPs conhecer esse público diante da dinâmica do ambiente, considerando as contingências, as ameaças e as oportunidades oferecidas do universo social e organizacional. ANDRADE, C. T. S. 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