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P ág in a1 Curso Solução Pacífica de Conflitos Leonardo Vizeu Figueiredo Introdução Inicialmente, insta salientar que por regulação econômica entende-se o ramo da economia que estuda o sistema econômico como um todo interativo, de forma a analisar a regularidade de preços e de quantidades produzidas, ofertadas e demandadas, por meio da interação entre as respectivas partes que o compõem, a saber, o Estado, as empresas, os credores, os trabalhadores, os consumidores e os fornecedores. Objetiva-se, com a regulação econômica, prevenir e corrigir, falhas de mercado, potenciais ou efetivas. Há que se ter em mente que a regulação jurídica, exercida pelo Estado, se trata de um dos instrumentos pelos quais a regulação econômica se operacionaliza. A intervenção indireta, por via de regulação da atividade econômica surgiu como pressão do Es-tado sobre a economia para devolvê-la à normalidade, isto é, para garantir um regime de livre-concorrência, evitando-se práticas abusivas pelos agentes mais fortes em face dos mais fracos, bem como em detrimento do mercado e, por consequência, de toda a sociedade. Por tal razão, as primeiras medidas interventivas manifestaram-se por meio de um conjunto de atos legislativos que intentavam restabelecer a livre- concorrência. Neste sentido, cumpre destacar que as primeiras ações estatais de caráter intervencionista foram as Leis Antitruste, criadas no final do século XIX, no Canadá (Competition Act) e nos Estados Unidos da TEORIA DA REGULAÇÃO P ág in a2 América (Sherman Act). Outrossim, conforme já visto, a Ordem Econômica somente foi positivada com força de norma constitucional na Carta Mexicana de 1917, marco das constituições sociointervencionistas. Nos EUA, a regulação como forma de intervenção indireta implementada via Executivo surgiu em 1887, ante a necessidade de se criar regras homogêneas para a normatização do comércio interes-tadual, evitando-se, assim, a guerra fiscal entre as unidades da Federação. Posteriormente, o processo de regulação foi ampliado, na década de 1930, em virtude de se estudar e normatizar o monopólio natural decorrente das linhas ferroviárias, bem como da necessidade de se coibir a prática de condutas abusivas neste mercado. O sucesso da experiência reguladora norte americana foi estendida a diversas outras áreas, tais como segurança pública, na qual possuem um ente independente e autônomo de investigação. Na Europa, foi oriundo do processo de desestatização da economia, decorrente da mudança do Estado Intervencionista (bem-estar social) para o Estado Neoliberal Regulador, mormente em virtude do avanço do ideário social-democrata, a partir da década de 1980. A experiência reguladora brasileira data igualmente do início do século XX. Uma de nossas pri-meiras medidas intervencionistas na Ordem Econômica foi oriunda do processo de necessidade de se controlar a oferta e a demanda do setor cafeeiro para o mercado externo que resultou, por ordem do governo federal, na queima do excedente de produção, sem, contudo, contar com um aparelhamento estatal estruturado para a regulação do setor. A partir de 1930, o Estado brasileiro passou a regular o setor de transporte aéreo civil, mediante a criação de um órgão ministerial para tanto, a saber, o Departamento de Aviação Civil – DAC (1931), o qual foi recentemente substituído pela Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC (2005), esta com uma estrutura de agência estatal independente. Outrossim, o setor cafeeiro somente passou a contar com um órgão regulador próprio a partir de 1952, a saber, o Instituto Brasileiro do Café – IBC, sendo, posteriormente, substituído pelo Departa-mento Nacional do Café – DNC (1989). P ág in a3 Em que pese os esforços acima, até então, a Nação não contava com uma experiência reguladora estruturada de forma autônoma, limitando-se a intervir em alguns poucos setores, tão somente. Com o processo de modernização econômica da ordem jurídica pátria, ante a necessidade de se normatizar e regular o mercado financeiro, o Estado brasileiro passou a adotar o modelo norte-americano para regular, inicialmente, o Sistema Financeiro Nacional, através da criação de um Banco Central independente e autônomo ao governo, o qual teve como marco regulador a edição da Lei n. 4.595/1964. Outrossim, o mercado de capitais passou a ser igualmente objeto de regulação estatal, com a criação da Comissão de Valores Mobiliários, autarquia federal com independência e auto-nomia funcional, nos termos do marco regulador (Lei n. 6.385/1976). A partir de 1990, a experiência brasileira passou a seguir o modelo europeu, notadamente o ado-tado na Inglaterra, a fim de implementar o processo de desestatização de nossa Ordem Econômica, nos termos da Lei n. 8.031/1990, devolvendo-se à iniciativa privada a liberdade de exploração de diversos setores de nossa economia que antes ficavam sob o jugo do monopólio estatal, mediante a criação de diversos entes e marcos reguladores para tanto. Com base tanto na experiência pátria quanto na estrangeira, resta claro que o Estado pode e deve interceder normativamente para regular a economia, editando leis e atos de cunho eminentemente político-econômico. O papel do Estado como ente regulador da atividade econômica ora perfar-se-á por meio da indução (incentivo e planejamento), ora através de direção (fiscalização e controle). Por regulação, a doutrina, tanto nacional quanto estrangeira, discorre com os mais diversos conceitos. No campo do Direito Comparado, para o jurista espanhol Santiago Muñoz Machado, a regulação é um conjunto de técnicas de intervenção pública no mercado, devendo ser entendida como um controle prolongado e localizado, P ág in a4 exercido por uma agência pública, sobre uma atividade à qual a comunidade atribuiu relevância social. 1 Por sua vez o ilustre doutrinador lusitano Vital Moreira considera que a regulação é “o estabelecimento e a implementação de regras para a atividade econômica destinadas a garantir o seu funcionamento equilibrado, de acordo com determinados objetivos públicos”. 2 Na lição do mestre José Joaquim Gomes Canotilho, na moderna concepção de posicionamento estatal em relação à economia, o Estado assume uma postura de regulador de atividades econômicas, podendo, inclusive, a regulação ser delegada a entidades administrativas independentes, não direta-mente subordinadas ao poder político governamental, quando se fizer necessário. Tal delegação a entes administrativos autônomos e independentes fundamenta-se na verificação de que a execução de muitas competências e atribuições estatais necessita de recursos, conhecimentos, experiências técnicas e profissionais que se encontram, por vezes, fora do aparelhamento estatal. 3 Ainda dentro do Direito Comparado português, Antônio Carlos dos Santos, em obra conjunta com Maria Eduarda Gonçalves e Maria Manuel Leitão Marques, definem que: A regulação pública da economia consiste no conjunto de medidas legislativas, administrativas e convencionadas através das quais o Estado, por si ou por delegação, determina, controla ou influ-encia o comportamento dos agentes econômicos, tendo em vista evitar efeitos desses comportamentos que sejam lesivos de interesses socialmente legítimos e orientá-los em direções socialmente desejáveis. 4 1 MACHADO, Santiago Muñoz. Servicio público y mercado: los fundamentos. Madrid, 1998. t. I, p. 264. 2 MOREIRA, Vital. Autorregulação profissional e administração pública. Coimbra: Almedina, 1997. p. 34. 3 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 4. ed. Coimbra: Almedina, 2000. 4 SANTOS, Antônio Carlos dos; GONÇALVES, Maria Eduarda; MARQUES, Maria Manuel Leitão. Direito econômico.4. ed. Coimbra: Almedina, 2002. p. 191. P ág in a5 Merece destaque a definição adotada pelo Departamento de Orçamentos do Congresso norte-americano que leva em consideração o impacto sobre as atividades de empresas privadas, tais como a entrada e saída do mercado, as estruturas de tarifas, os preços e rendas, e o ambiente competitivo. Acrescenta, ainda, diversas atividades do governo federal nas áreas de saúde, seguridade, proteção ambiental e do consumidor, ou no padrão de emprego pelos impactos que têm sobre as empresas privadas. Destarte, para a Administração Pública Norte-Americana, uma definição ampla de regulação pública incluiria todas essas áreas e ainda aquelas atividades que afetariam as operações da indústria privada e a vida dos cidadãos particulares. No que tange à doutrina pátria, Alexandre Santos de Aragão define a regulação como: “O conjunto de medidas legislativas, administrativas e convencionais, abstratas ou concretas, pelas quais o Estado, de maneira restritiva da liberdade privada ou meramente indutiva, determina, controla ou influencia o comportamento dos agentes econômicos, evitando que lesem os interesses sociais definidos no marco da Constituição e orientando-se em direções socialmente desejáveis.” 5 Para Carlos Ari Sundfeld, regulação é um instituto de cunho eminentemente político, indo além do direito, razão pela qual afirma que: “A regulação, enquanto espécie de intervenção estatal, manifesta-se tanto por poderes e ações com objetivos declaradamente econômicos (o controle de concentrações empresariais, a repressão de infrações à ordem econômica, o controle de preços e tarifas, a admissão de novos agentes no mercado) como por outros com justificativas diversas, mas efeitos econômicos inevitáveis (medidas ambientais, urbanísticas, de normalização, de disciplina, das profissões etc.). Fazem regulação autoridades cuja missão seja cuidar de um específico campo de atividades considerado em seu conjunto (o mercado de ações, as telecomunicações, a energia, os seguros de saúde, o petróleo), mas também aquelas com poderes sobre a generalidade dos agentes da economia (exemplo: órgãos ambientais). A regulação atinge tanto os agentes atuantes em setores ditos privados (o comércio, a indústria, os serviços comuns – enfim, as atividades econômicas em sentido estrito) como os que, estando 5 ARAGÃO, Alexandre. Agências reguladoras e a evolução do direito administrativo econômico. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 37. P ág in a6 especialmente habilitados, operam em áreas de reserva estatal (prestação de serviços públicos, exploração de bens públicos e de monopólios estatais).” 6 Para Odete Medauar7, a regulação abrange a edição de normas, a fiscalização de sua devida ob-servância, a imposição de sanções e a mediação dos conflitos, não sendo atividade exclusiva do direito econômico, mas de todo o ordenamento jurídico. Por sua vez, Marçal Justen Filho8 nos dá a seguinte definição: “A regulação econômico-social consiste na atividade estatal de intervenção indireta sobre a conduta dos sujeitos públicos e privados, de modo permanente e sistemático, para implementar as políticas de governo e a realização dos direi-tos fundamentais.” Esmiuçando pormenorizadamente seu conceito, explica o ilustre doutrinador paranaense que o vocábulo “regulação” traz um conceito mais amplo que engloba, concomitantemente, a junção de diversos instrumentos jurídicos de execução de sua função estatal, conforme veremos adiante. Outrossim, esclarece que toda regulação de atividade econômica tem por fim a promoção de va-lores sociais, não havendo como se efetuar a regulação econômica sem a respectiva promoção social. Destarte, pode-se conceituar, objetivamente, a regulação como o conjunto de atos e medidas estatais que tem por fim garantir a observância dos princípios norteadores da ordem econômica no mercado, bem como a devida e correta prestação de serviços públicos, além do incentivo e fomento para a implementação das políticas públicas respectivas para direcionamento de cada nicho da economia. Sob um aspecto subjetivo, pode-se conceituar a regulação como o processo estatal de normatização, de fiscalização, de incentivo, de planejamento e de mediação da atividade econômica dos particulares, conjugando os interesses 6 SUNDFELD, Carlos Ari. Direito econômico brasileiro. 1. ed., 2 a tiragem. São Paulo: Malheiros Editores, p. 18. 7 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 84. 8 JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de direito administrativo. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 447. P ág in a7 privados destes com os interesses público e coletivo envolvidos no ciclo econômico do respectivo mercado. Assim, da junção dos dois aspectos conceituais acima delineados, a regulação se trata de toda medida estatal, envidada no sentido de garantir a prevalência dos princípios da ordem econômica, bem como do respectivo interesse coletivo, a fim de efetivar a observância das políticas públicas norteadoras do planejamento econômico e social. Estrutura da regulação Via de regra, o Estado não intervirá na economia, somente o fazendo quando se configure estritamente necessário para garantir a observância dos princípios constitucionais que norteiam a Ordem Econômica, notadamente o princípio da liberdade de concorrência. Somente haverá motivo para promover a regulação de algum setor da economia se existir uma das chamadas falhas de mercado, que se manifestam das formas a seguir listadas, aliadas a uma insatisfação social e politicamente inaceitável (condição política). Por falhas de mercado entende-se toda a situação de anormalidade de efeito danoso, potencial ou efetivo, ao devido processo competitivo de determinado nicho de nossa economia, tendo resultados negativos para o bem-estar soci-oeconômico da população. Podem ocorrer das seguintes maneiras, sendo o requisito econômico para a implementação da regulação: a) Deficiência na concorrência: ocorre quando, no respectivo mercado, não há condições favorá-veis para existência de uma disputa saudável e equilibrada entre os agentes econômicos envolvidos, fato que prejudica o ciclo econômico, uma vez que a produção e a comercialização ficam na mão de um só agente (monopólio) ou de poucos agentes (oligopólio), gerando prejuízo no que tange ao con-sumo, ante a sobreposição arbitrária e injustificável dos interesses privados dos agentes sobre os interesses coletivos (consumidores) e sobre o interesse público (Estado). b) Deficiência na distribuição dos bens essenciais coletivos: ocorre quando o mercado não é ca-paz de promover o acesso da coletividade aos bens essenciais para satisfação do mínimo existencial, sendo incapaz de garantir o princípio da dignidade da pessoa humana. P ág in a8 c) Externalidades: fatores produzidos pelos agentes que operam no mercado, na consecução de suas atividades, cujos efeitos se fazem presentes sobre terceiros não participantes do respectivo ciclo econômico (produção, circulação e consumo), indo além do respectivo nicho, tendo forte impacto no meio social. Ex.: poluição. É de se ressaltar que a falha externa poluição é preocupação de caráter macro, no atual cenário socioeconômico mundial, a teor do Protocolo de Quioto, adotado em 10 de dezembro de 1997, que se trata da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a mudança de clima planetário. Tal acordo visa à redução da emissão de agentes poluidores decorrentes do uso dos fatores de produção, mediante celebração de compromissos mútuos entre os signatários (arts. 2o e 3o), tendo sido internalizado pelo Brasil mediante o Decreto Legislativo n. 144/2002. Outrossim, as externalidadesocorrem quando o bem-estar de um consumidor ou as possibilidades de produção de uma empresa são diretamente afetadas pelas ações de um outro agente da economia. De outra forma, as externalidades podem ser definidas como os efeitos sobre uma terceira parte, derivadas de uma transação econômica sobre a qual a terceira parte não tem controle. Externalidades positivas são efeitos que aumentam o bem-estar desta terceira parte (por exemplo, reduzindo os custos de produção), enquanto externalidades negativas são efeitos que reduzem o bem-estar (por exemplo, aumentando os custos de produção). d) Assimetria Informativa: ocorre quando o consumidor e/ou o Estado não possuem conhecimento sobre como o mercado opera, ou detém informações imperfeitas que não refletem a realidade material do respectivo setor econômico, fato que facilita e permite a prática de condutas abusivas por parte dos agentes econômicos que nele atuam, praticamente, à revelia do Poder Público. É de se ressaltar que a assimetria de informações gera efeitos igualmente funestos para o consumidor, que fica prejudicado ante ao desconhecimento de como se procedimentaliza a relação econômica de consumo, bem como ao produto que adquire, fatos que, somados a outros, o coloca em uma posição de hipossuficiência ante o agente econômico. Observe-se que a assimetria informativa representa violação ao princípio da transparência que se traduz na boa-fé econômica, sendo principiologicamente vedada pelo Direito, consoante institutos consagrados em diversos ramos jurídicos, tais como o Código Civil, o Código de Defesa do P ág in a9 Consumidor, Lei de Mercados de Capitais (Lei n. 4.728/1965), dentre outros. e) Poderio e Desequilíbrio de Mercado: é o prerrequisito econômico- financeiro, que se traduz na relevância do mercado para a economia nacional, podendo ser avaliado por diversos fatores, tais como o numerário movimentado periodicamente pelo respectivo nicho econômico, a quantidade de empregos, diretos e indiretos, gerada, a produção e circulação de riquezas, que refletem diretamente sobre o produto interno bruto, aumento de divisas, equilíbrio da balança comercial, bem como sobre a renda per capita, entre outros. Aliada a uma ou mais falhas de mercado acima, deve-se conjugar uma situação sociopolítica in-sustentável, que gere repercussão inaceitável para a coletividade, criando grande celeuma e prejuízos para a vida em sociedade. Isto porque não haverá necessidade de se regular setores que não tenham repercussão relevante para o interesse coletivo. Destarte, resta claro que somente haverá regulação onde o mercado privado, por si, não conseguir autorregular-se, isto é, quando não conseguir alcançar os fins colimados pelas políticas públicas adotadas pelo Estado, tanto no plano constitucional, quanto no plano legal, tampouco alcançar as necessidades inerentes à sua salutar manutenção, fazendo-se mister a intervenção estatal. Para tanto, mister se faz a conjugação de um requisito econômico (falha de mercado), com um requisito social (insatisfação popular) capazes de gerar uma instabilidade nas instâncias políticas de poderes constituídos. Podemos, outrossim, identificar duas formas de regulação distintas: a) Autorregulação ou regulação privada: Decorrente do processo de autocondução exercido pelo próprio mercado, que, por si e sem a necessidade de interferências externas, demonstra-se capaz de garantir o respeito aos princípios que norteiam a ordem econômica, mormente a livre- iniciativa e a liberdade de concorrência. É oriunda, tão somente, do uso devido dos mecanismos de mercado por parte dos próprios agentes econômicos que nele operam. Por mecanismos de mercado entende-se todo ato empresarial, de cunho privado, praticado pelos agentes econômicos na P ág in a1 0 consecução de seus negócios jurídicos. Via de regra, não há intervenção estatal em mercados capazes de se autorregularem (ex.: competições esportivas). Todavia, vale ressaltar que, na autorregulação, a atuação do Poder Público também se faz necessária, perfazendo-se de forma preventiva, mediante análise dos atos empresariais dos agentes econômicos por parte das autoridades antitrustes, responsáveis pela defesa concorrencial, a fim de se garantir que não haja desvirtuamento dos mecanismos de mercado. b) Heterorregulação ou regulação pública: a denominada heterorregulação é decorrente da necessidade que o Estado tem em interferir no mercado para garantir a observância dos princípios que norteiam a Ordem Econômica, uma vez que o mesmo, por vezes e não raro, revela-se incapaz de fazê-lo por si, apresentando falhas que necessitam ser corrigidas. Observe-se que não é indispensável que a regulação seja exercida por Agência Reguladora, podendo ser feita por qualquer órgão ou entidade integrante da Administração Pública. Como exemplos históricos de entes reguladores públicos, podemos destacar o antigo Departamento de Aviação Civil – DAC, criado em 22 de abril de 1931, pelo Presidente Getúlio Vargas, subordinado ao, então, Ministério de Aviação e Obras Públicas, tendo por fim disciplinar a navegação e a indústria aeronáuticas do Brasil, cujas atribuições encontram- se, atualmente, a cargo da recém criada Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC; o já extinto Instituto Brasileiro do Café, criado em 1952, em substituição ao Departamento Nacional do Café, com o fim de regular a política cafeeira nacional, o qual atuou até o ano de 1989, no qual foi substituído pelo Conselho Deliberativo de Política de Café; bem como o Banco Central do Brasil, responsável pela normatização do Sistema Financeiro Nacional. Tipos de regulação O Estado atua regulando diversos nichos da economia, bem como setores de relevante interesse para a coletividade, desde que os mesmos apresentem falhas de mercado. Assim, podemos identificar os seguintes tipos de regulação. 1. Econômica P ág in a1 1 Exercida com o fito de prevenir práticas abusivas, corrigir assimetrias informativas em defesa do consumidor, garantindo, ainda, o cumprimento das políticas públicas adotadas para condicionamento do exercício do poder econômico por parte dos agentes de mercado. A regulação econômica refere-se às intervenções cujo propósito é maximizar o ciclo econômico de determinado mercado. Irá ocorrer na presença das “falhas de mercado”, assegurando que o resultado da interação entre produtores e consumidores de determinado bem ou serviço seja eficiente, tendo como resultado adequados níveis de quantidade, qualidade e preço. Ex.: ANP, BACEN e CVM. A regulação econômica sistemática tornou-se uma questão concreta no Brasil com as privatizações levadas a cabo pelo governo brasileiro na década de 1990, que concedeu à iniciativa privada diversos “monopólios naturais”, ou “quase monopólios” que antes se encontravam sob a égide das empresas estatais. 2. Serviços públicos Visa garantir aos usuários a adequada prestação de serviços públicos por parte da Administração Pública, bem como dos respectivos delegatários. Busca-se adequar qualidade a acesso, de forma que os usuários possam desfrutar de um padrão mínimo de conforto. Objetiva-se, assim, garantir a efetiva universalização da prestação dos referidos serviços, aliada a uma política de manutenção de preços tarifários em patamares equânimes de modo a se garantir a justa margem de lucros dos delegatários e autorizatários. Ex.: ANATEL e ANEEL. 3. Social Visa preservar e garantir o respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana no que tange ao acesso e ao uso dos bens mínimos (mínimo existencial) necessários à vida em sociedade. É a regula-ção que intervém na provisão dos bens públicos e na proteção do interesse público, define padrões para saúde, segurança e os mecanismos de oferta desses bens. Ex.: ANVISA e ANS. 4. AmbientalP ág in a1 2 Tem por fim promover a preservação do meio ambiente, bem como a coexistência harmônica dos agentes econômicos com os fatores de produção naturais, determinando sua exploração racional, garantido seu acesso às futuras gerações. Aliada a isso, a regulação ambiental procura desestimular a exploração de fatores de produção potencialmente poluentes, encarecendo os custos de forma a incentivar a pesquisa e procura pela utilização de novas técnicas de produção que não sejam degradantes ao meio ambiente. Ex.: IBAMA. 5. Cultural Visa fomentar a produção cultural nacional, garantindo a preservação do patrimônio histórico-cultural do país, bem como a preservação dos valores morais da sociedade. A regulação cultural tem uma finalidade ímpar e de suma importância para a República, pois visa manter a identidade nacional da população com sua pátria, evitando a invasão predatória de valores estrangeiros no seio da Nação brasileira. Ex.: ANCINE e IPHAN. Instrumentos de regulação Instrumentos de regulação são os institutos jurídicos que materializam, no plano concreto, a atividade reguladora estatal, em caráter macro. Na prática, podemos definir a instrumentalização da regulação, condicionada a sua definição, quanto processo normativo, fiscalizador, incentivador, planejador e mediador da atividade econômica por parte do Estado, da seguinte forma: a) atos normativos, gerais e abstratos, porém de caráter setorial, para supervisão e regulamentação da atividade econômica; b) mediação entre os interesses dos setores públicos e privados, através de instrumentos jurídicos transacionais de composição extrajudicial de conflitos; c) exercício de poder de polícia (fiscalização) sobre a atividade econômica, seja mediante expedição de regulamentos proibitivos próprios, seja através de aplicação de sanções administrativas nas infrações a serem apuradas no caso concreto – função judicante; P ág in a1 3 d) fomento, estímulo e promoção a determinadas atividades, a fim de se alcançar os objetivos políticos estabelecidos pelo Poder Público. Por sua vez, compete às Agências Reguladoras, enquanto entidades integrantes da Administração Pública Indireta, exercerem a atividade de regulação de forma independente e apolítica ao Governo Central, como veremos adiante, em capítulo posterior. Mecanismos de mercado e de regulação Mecanismos de mercado são todos os atos de cunho empresarial e societário, dos quais podem se valer os agentes econômicos para garantir a sua permanência saudável em seus respectivos nichos econômicos, em respeito ao devido processo competitivo e às regras e normas do direito concorrenci-al. O direito brasileiro adotou uma figura híbrida oriunda do direito norte- americano, que configura um ponto de interseção entre os mecanismos de mercado e os instrumentos de regulação, denominan-do-os de mecanismos de regulação. Os mecanismos de mercado são os atos que efetivam a autorregulação, ao passo que os instrumentos de regulação são os atos que materializam a heterorregulação do Poder Público. Por mecanismos de regulação entende-se o conjunto de atos de cunho contratual, previstos e no-minados em legislação específica, aplicáveis setorialmente a determinado mercado regulado, dos quais os agentes econômicos podem se valer para controlar a oferta e demanda de seus produtos e serviços, desde que previamente autorizados pelo Poder Público. Isto é, trata-se de cláusulas estipuladas nos contratos de prestação de serviços celebrados entre os usuários e os agentes econômicos, com a prévia autorização do ente regulador, destinados a controlar a demanda dos serviços prestados, evitando-se, assim, que, em virtude de abusos de direitos, os consumidores aumentem o risco moral da atividade e majorem indevidamente a contraprestação cobrada pelos prestadores. Observe-se que, diferentemente dos instrumentos de regulação, que são característicos e aplicá-veis a toda atividade reguladora estatal, os mecanismos reguladores são de aplicação restrita a deter-minado setor, sendo de utilização dos agentes econômicos, como meio de autorregulação. P ág in a1 4 Frise-se que todo mecanismo de regulação deve ter previsão legal, ou estar devidamente instituído por meio de ato normativo próprio. Vale destacar que durante o período de racionamento no abastecimento de energia elétrica, que ficou mais conhecido por “apagão”, ocorrido durante a última gestão do Presidente Fernando Henrique Cardoso, a ANEEL autorizou a utilização da cobrança de uma sobretaxa em relação aos usuários que registrassem aumento em suas respectivas quotas de consumo. Tal permissivo contratual de cobrança de quota extra para controlar a demanda de consumo de energia elétrica, devidamente autorizado e normatizado pelo ente regulador, caracteriza e serve de exemplo de como o mecanismo de regulação se faz presente. Tais mecanismos, instituídos por medida provisória, tiveram sua constitucionalidade reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal, a teor da ementa a seguir transcrita: Gestão da crise de energia elétrica. Fixação de metas de consumo e de um regime especial de tarifação. O valor arrecadado como tarifa especial ou sobretarifa imposta ao consumo de energia elétrica acima das metas estabelecidas pela Medida Provisória em exame será utilizado para custear despesas adicionais, decorrentes da implementação do próprio plano de racionamento, além de beneficiar os consumidores mais poupadores, que serão merecedores de bônus. Este acréscimo não descaracteriza a tarifa como tal, tratando-se de um mecanismo que permite a continuidade da prestação do serviço, com a captação de recursos que têm como destinatários os fornecedores/concessionários do serviço. Implementação, em momento de escassez da oferta de serviço, de política tarifária, por meio de regras com força de lei, conforme previsto no artigo 175, III, da Constituição Federal (ADC n. 9. Relatora: Min.ª Ellen Gracie. DJ, 23.04.2004). Na prática, estes mecanismos têm como objetivo controlar o uso dos serviços prestados aos con-sumidores pelos agentes econômicos. É preciso ficar claro que estes mecanismos são controladores, mas não podem P ág in a1 5 traduzir-se em empeço ao acesso do consumidor a qualquer tipo de serviço, atendimento ou procedimento posto a sua disposição. Por óbvio, os serviços ofertados com mecanismos de regulação devem ter preços mais acessíveis. Assim, podemos entender os mecanismos de regulação como os recursos previstos em contrato, autorizados em legislação específica, que possibilitam ao agente econômico controlar a demanda ou a utilização de serviços prestados. Atualmente, podemos destacar como exemplo de mecanismos reguladores, os institutos contratuais específicos de saúde suplementar, previstos na Lei de Planos de Saúde (Lei n. 9.656/1998), que se encontram sob o campo de regulação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (Lei n. 9.961/2000). Tais mecanismos encontram-se normatizados via Resolução n. 8/1998, do Conselho Nacional de Saúde Suplementar. Os mecanismos de regulação mais comuns, normatizados na resolução retro, para utilização específica no mercado de suplementação dos serviços de saúde, são: a) Autorizações prévias para procedimentos médicos especificados: a operadora de planos privados de assistência à saúde pode solicitar, por exemplo, que o consumidor peça uma autorização prévia para certos procedimentos, obrigando o consumidor a solicitar liberação da operação. Desta forma, faz um controle prévio de demanda dos procedimentos médicos mais complexos e dispendiosos a serem prestados aos seus respectivos beneficiários. b) Direcionamento: o Direcionamento, Referenciamento ou Hierarquização de Acesso consiste em direcionar a realização de consultas, exames ou internação previamente determinadosna rede credenciada ou referenciada. Assim, o consumidor só pode realizar determinados procedimentos no credenciado/referenciado escolhido pela operadora. Ressalte-se que o direcionamento não desonera a operadora de seu dever de atendimento, tampouco de seu dever de cobertura financeira, quando o consumidor opta por profissional médico não credenciado. Todavia, somente ficará obrigada a reem-bolsar o valor de tabela que seria devido ao profissional da rede da operadora, ficando o ônus financeiro residual às expensas do consumidor. P ág in a1 6 c) Porta de Entrada: a Porta de Entrada é um mecanismo por meio do qual a operadora avalia e gerencia o encaminhamento do consumidor para a realização de procedimentos. Assim, o agente econômico exerce um controle prévio de avaliação da necessidade dos procedimentos a serem prestados ao consumidor, devendo este passar por um avaliador que irá ou não autorizar a realização do procedimento, antes de dirigir-se a um especialista credenciado para prestação do serviço. Observe-se que tal procedimento evita abusos de direito por parte dos consumidores, bem como gastos desnecessários por parte da operadora de planos privados de assistência à saúde. d) Franquia: trata-se de um valor, previamente estabelecido em contrato, até o qual a operadora não tem responsabilidade de cobertura, tanto para reembolso, quanto para o pagamento direto à rede credenciada. O valor estabelecido não pode corresponder ao pagamento integral do procedimento pelo consumidor. É o preço contratualmente estabelecido no plano ou seguro privado de assistência à saúde e/ou odontológico, sendo mais usual nos contratos de cunho securitário, até o qual a operadora fica isenta de responsabilidade pela cobertura financeira, quer nos casos de reembolso ou nos casos de pagamento à rede credenciada ou referenciada. e) Coparticipação: outra forma de regulação da demanda é a coparticipação, que se traduz em uma parcela de pagamento, além da mensalidade, para custear parte da despesa de um procedimento, sendo que o valor não pode corresponder ao pagamento integral do procedimento. Trata-se da parcela de pagamento que cabe ao consumidor pela realização de um procedimento, isto é, se trata da parte efetivamente paga pelo consumidor à operadora de plano ou seguro privado de assistência à saúde e/ou operadora de plano odontológico, referente à realização do procedimento médico coberto. Por sua vez, diante do uso de mecanismos de regulação, nos termos do artigo 4o da Resolução n. 08/1998, os agentes econômicos que atuam no mercado de saúde suplementar têm o dever específico de: a) informar clara e previamente ao consumidor, no material publicitário, no contrato e no livro da rede de serviços, os mecanismos de regulação adotados e todas as condições de cada modalidade; P ág in a1 7 b) encaminhar à ANS, quando solicitado, documento técnico demonstrando os mecanismos ado-tados e os critérios para sua atualização; c) quando houver impasse no decorrer do contrato, se solicitado, fornecer ao consumidor laudo detalhado com cópia de toda a documentação relativa às questões de impasse; d) garantir ao consumidor o atendimento pelo profissional avaliador para definição dos casos de aplicação das regras de regulação, no prazo máximo de 1 dia útil a partir do momento da solicitação ou em prazo inferior quando caracterizar urgência; e) quando houver divergência médica ou odontológica a respeito da autorização prévia, garantir a definição do impasse através da junta constituída pelo profissional solicitante (ou nomeado pelo usuário), por médico da operadora e por um terceiro (escolhido em comum acordo pelos profissionais acima nomeados), cuja remuneração ficará a cargo da operadora; f) quando houver participação do consumidor nas despesas decorrentes da realização de procedimentos, informar previamente à rede credenciada e/ou referenciada em forma de franquia; e g) em caso de internação, quando optar por fator moderador, estabelecer valores prefixados por procedimentos e/ou patologias, que não poderão sofrer indexação, cujos valores devem ser expressos em Reais. Outrossim, são expressamente defesas aos agentes econômicos do mercado de suplementação dos serviços de saúde, as seguintes práticas (art. 2o, Resolução n. CONSU 08/1998): a) impedir ou dificultar o atendimento em situações de urgência e emergência; b) limitar a assistência, adotando valores máximos de remuneração para procedimentos, exceto as previstas em contratos com cláusulas de reembolso; c) diferenciar por faixa etária, grau de parentesco ou outras classificações dentro do mesmo pla-no; P ág in a1 8 d) negar autorização para a realização de um procedimento, exclusivamente porque o profissional solicitante não pertence à rede credenciada da operadora; e) definir coparticipação ou franquia no valor integral do procedimento a ser realizado pelo usuário, ou criar fatores de restrição que dificultem o acesso aos serviços; f) limitar, em forma de percentual por evento, os casos de internação, exceto as definições especificadas em saúde mental; g) reembolsar ao consumidor as despesas médicas efetuadas através do sistema de livre-escolha, em valor inferior ao pago diretamente na rede credenciada ou referenciada; h) exercer qualquer atividade ou prática que infrinja o Código de Ética Médica ou Odontológica; e i) exercer qualquer atividade que caracterize conflito com as disposições legais em vigor. Recentemente, a Agência Nacional de Saúde Suplementar editou súmula administrativa, versan-do sobre o tema (Verbete n. 07), a seguir transcrita, que expressamente veda a proposta de descontos na contraprestação pecuniária pelo não uso do plano. Ante seu caráter ilustrativo, transcrevemos na íntegra a referida súmula, bem como sua respectiva exposição de motivos: Súmula Normativa n. 7, de 27 de junho de 2005. A Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS, no uso da competência que lhe confere os artigos 3o e 4o, incisos VII e XXXVII, combinado com o artigo 10, inciso II, da Lei n. 9.661/2000, e em conformidade com o inci-so III do artigo 64 do Regimento Interno aprovado pela Resolução Normativa – RN n. 81, de 2 de setembro de 2004: P ág in a1 9 Considerando que o inciso VII do artigo 2o da Resolução CONSU n. 8, de 03 de novembro de 1998, proíbe às operadoras de planos privados de assistência à saúde estabelecer coparticipação ou franquia que caracterize financiamento integral do procedimento por parte do usuário, ou fator restritivo severo ao acesso aos serviços. Considerando que operadoras fizeram consultas sobre a possibilidade de implementar plano pri-vado de assistência à saúde que garantiria aos seus beneficiários a devolução de um percentual do valor pago a título de mensalidade, ou descontos nas mesmas, ou ainda pontuação na propor-ção da utilização do plano em relação à mensalidade paga, sendo que esses pontos poderiam ser utilizados na compra de produtos de perfumaria, medicamentos não tarjados e/ou conveniências nas redes de farmácias da operadora. Considerando que os usuários do plano só fariam jus a esses benefícios desde que as coberturas do plano não fossem utilizadas, o que caracteriza uma modalidade de mecanismo de regulação vedado pelo inciso VII do artigo 2° da Resolução Consu n. 8/1998, resolve adotar o seguinte entendimento vinculativo: A proposta de implementação pelas operadoras de mecanismos que estimulem o não uso, pelos beneficiários, das coberturas do plano de assistência à saúde contratado, por meio de desconto, concessão de pontuação para troca por produtos, ou outra prática análoga, é vedada pelo inciso VII do artigo 2° da Resolução CONSU n. 8/1998, por constituir-se fator restritivo severo ao acesso dos beneficiáriosaos procedimentos disponibilizados. Desregulação Em que pese a implementação de políticas de planejamento estatal via adoção de entes reguladores independentes e autônomos ter como fim maior a correção de falhas econômicas de mercado para se gerar a satisfação social e a estabilidade política, nem sempre a heterorregulação estatal consegue alcançar a realização das metas traçadas para tanto, ficando aquém do desejado. P ág in a2 0 Isto porque a imposição de políticas de regulação excessivamente impositivas, draconianas e, não raro, desnecessárias, leva à supressão do devido processo competitivo, extirpando do mercado diversos agentes econômicos, que não conseguem nele permanecer ante a inadequação das normas reguladoras à realidade econômica, o que fatalmente acarreta monopolização ou oligopolização, com a nefasta supressão da livre-iniciativa e da liberdade de concorrência. Diante da implementação de políticas reguladoras inadequadas à realidade do mercado, surgem as falhas de governo, que podem ser entendidas como todo e qualquer situação de anormalidade em determinado nicho econômico, capaz de reduzir o bem-estar socioeconômico da população, resultante da manifestação de vontade estatal, representando entrave injustificável ao desenvolvimento da Nação. Diversos fatores podem resultar na ocorrência de uma falha de governo, dentre os quais podemos destacar: a) captura de interesses do ente regulador por parte de um dos segmentos sociais regulados; b) ineficiência e incapacidade técnica por parte dos agentes públicos especialistas em regulação de mercados; c) dissonância entre as políticas públicas de regulação e a realidade fático-econômica do mercado; d) alta carga tributária; e) procedimentos administrativos excessivamente burocráticos e lentos, o que torna a autorização para exploração de determinada atividade econômica extremamente custosa; f) morosidade judicial para resolução de conflitos de interesses, dentre outros. Muitas vezes o custo oriundo da falha de governo para um nicho econômico representa prejuízo de maior vulto, tendo efeito danoso muito maior do que a falha de mercado que o Poder Público visa minimizar com a regulação. Diante desta realidade, que se fez presente nos EUA no final da década de 70 do século XX, adotou-se uma política de desregulação para setores da economia cuja heterorregulação pública se revelasse perniciosa ao bem- estar socioeconômico da população e representasse entrave injustificável ao desenvolvimento da Nação, eliminando-se gradativamente as políticas públicas implementadas.
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