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L ITERATURA TEL: (61) 4102-8485/4102-7660 SITE: www.cursodegraus.com.br 111 ÍNDICE Linguagem poética ...................................... 111 História da literatura ............................... 114 Gêneros Literários ..................................... 114 Estrutura da narrativa .............................. 116 Trovadorismo .............................................. 121 Humanismo ................................................... 122 123 Barroco ......................................................... 129 Arcadismo .................................................... 136 Romantismo .................................................. 141 Realismo / Naturalismo ............................. 167 Parnasianismo .............................................. 176 Simbolismo ................................................... 179 Pré-modernismo .......................................... 185 Vanguarda Europeias no Brasil................. 187 Modernismo ................................................. 187 Tendências contemporaneas .................... 194 LINGUAGEM POÉTICA VERSIFICAÇÃO Versificação: é a técnica de fazer versos ou de estudar-lhes os expedientes rítmicos e métricos de que se constituem. Prosa – é a forma de expressão continuada. Embora a prosa também possa ter ritmo, aqui ele é menos rigoroso que na poesia. Organiza-se em parágrafos. Poema – composição literária organizada em versos, que, por sua vez, se organizam em estrofes. Poema em prosa – composição literária que expressa um todo poético, não se configura em versos e apresenta estruturação livre, organizada em parágrafos. Aqui os parágrafos dão desobrigados da estruturação habitual, com tópico frasal e ideias secundárias. Exemplo: O poema Uma formiguinha atravessa, em diagonal, a página ainda em branco. Mas ele, aquela noite, não escreveu nada. Para quê? Se por ali já havia passado o frêmito e o mistério da vida... (Mário Quintana – sapato florido) Verso – é o conjunto de palavras que formam, dentro de qualquer número de sílabas, uma unidade fônica sujeita a um determinado ritmo. Em outras palavras, verso é cada linha do poema. Estrofe – agrupamento de versos que formam um conjunto rítmico e significativo. MÉTRICA Metro é a medida do verso. O estudo do metro chama-se metrificação e escansão é a contagem dos sons dos versos. As sílabas métricas, ou poéticas, diferem das sílabas gramaticais em alguns aspectos. Contam-se as sílabas ou sons até a tônica da última palavra de um verso. Exemplo: A-mo-te,ó-cruz,no-vér-ti-ce-fir-ma/da = 10 sílabas De es-plên-di-das-i-gre/jas = 6 sílabas Mi-nha-mu-lher-ex-pi-rou = 7 sílabas E as-bre/ves = 2 sílabas Vir-gem-das-do/res = 4 sílabas L ITERATURA TEL: (61) 4102-8485/4102-7660 SITE: www.cursodegraus.com.br 112 Tipos de verso A um número de sílabas métricas em determinado verso podem ser atribuídos nomes: Dodecassílabo: 12 sílabas Ins | pi | ra | do^a | pen | sar | em | teu | per | fil | di | vi | (no) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 -Alexandrino - Dodecassílabo com tônica na sexta e na décima segunda sílaba, formando dois hemistíquios. Decassílabo: 10 sílabas (muito comum em sonetos e presente em Os Lusíadas de Luís de Camões) Não | tens | que | ças | da | que | lea | mor | ar | den | (te) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 - Heroico - Decassílabo com sílabas tônicas nas posi- ções 6 e 10 - Sáfico - Decassílabo com sílabas tônicas nas posições 4, 8 e 10 -Martelo - Decassílabo Heroico com tônicas nas posi- ções 3, 6 e 10 - Gaita Galega ou Moinheira - Decassílabo com tôni- cas nas posições 4, 7 e 10 Redondilha maior ou heptassílabo: 7 sílabas Se | nho | ra, | par | tem | tão | tris | (tes) 1 2 3 4 5 6 7 Redondilha menor: 5 sílabas Tan | tos | gri | tos | rou | (cos) 1 2 3 4 5 A lista geral de designações é a seguinte: 1. Monossílabo: 1 sílaba 2. Dissílabo: 2 sílabas 3. Trissílabo: 3 sílabas 4. Tetrassílabo: 4 sílabas 5. Pentassílabo ou Redondilha Menor: 5 sílabas 6. Hexassílabo ou Heroico Quebrado: 6 sílabas 7. Heptassílabo ou Redondilha Maior: 7 sílabas 8. Octossílabo: 8 sílabas 9. Eneassílabo: 9 sílabas 10. Decassílabo: 10 sílabas 11. Hendecassílabo: 11 sílabas 12. Dodecassílabo ou alexandrino: 12 sílabas poéticas. Métrica clássica Na poesia grega e latina, a métrica conta-se em fun- ção da quantidade das sílabas, consoante sejam breves ou longas. Ao conjunto de sílabas chama-se pé. Entre os mais divulgados contam-se o iambo, com uma sílaba breve seguida de uma longa (U—); o espondeu, com duas sílabas longas (— —); o dáctilo com uma sílaba longa e duas breves (—UU). Dos diversos tipos de versos usados, destacam-se o hexâmetro, com seis pés, e o pentâmetro, com cinco pés. O hexâmetro classifica-se segundo o tipo do penúl- timo pé: hexâmetro dactílico com o quinto pé dáctilo, e hexâmetro espondaico com o quinto pé espondeu. Um par formado por um hexâmetro e um pentâmetro designa-se dístico elegíaco. Métrica medieval Na Idade Média continuou a usar-se o pé como uni- dade métrica. Mas nessa época a noção de quantidade já não era aplicável às sílabas na generalidade das línguas. Assim, o pé passou a contar-se em função das sílabas tónicas. Tipos de pé: Troqueu - Uma sílaba tônica e uma átona; Iambo - Uma sílaba átona e uma tônica; Dátilo - Uma sílaba tônica e duas átonas; Anapesto - Duas sílabas átonas e uma tônica. Versos Isométricos A poesia clássica elaborava preferencialmente poe- mas com versos isométricos, isto é, com a mesma me- dida. Por exemplo, a epopeia camoniana foi construída toda ela com versos decassílabos. "Cessem do sábio grego e do troiano as navegações grandes que fizeram. Cale-se de Alexandre e de Trajano a fama das vitórias que tiveram, Que eu canto o peito ilustre lusitano a quem Netuno e Marte obedeceram. Cesse tudo que a Musa antiga canta que outro valor mais alto se alevanta." Versos Heterométricos A poesia moderna por ser revolucionária, vanguar- dística, substituiu o verso metrificado pelo verso livre, isto é, livre de qualquer forma de fôrma pré- estabelecida, não tendo nem regularidade métrica nem rima. Alguns poemas de autores modernos podem valer- se de versos metrificados e com rimas, mas sem preocu- pação com uma determinada regularidade. São os versos heterométricos, metrificados, mas com grande varia- ção. Exemplo: ENCONTRO Almas gêmeas? Não sei... tanto faz. O que importa é que minh'alma quando encontra a tua a paz se faz. Minha alma fica nua, revela-se, desvela-se e nisso se compraz. Mas quando o meu penetra o teu corpo, tudo nele se contrai tudo nele se distrai e faz-se morto de prazer. L ITERATURA TEL: (61) 4102-8485/4102-7660 SITE: www.cursodegraus.com.br 113 SONETO Soneto é um poema de forma fixa, composto por 14 versos. Pode ser apresentado em 3 formas de distribuição dos versos: Soneto italiano ou petrarquiano: apresenta duas estro- fes de 4 versos (quartetos) e duas de 3 (tercetos) Soneto inglês ou "Shakespeareano: três quartetos e um dístico Soneto monostrófico: Apresentauma única estrofe de 14 versos. Estrutura O soneto possui uma estrutura lógica com uma in- trodução, um desenvolvimento e uma conclusão, consti- tuída pelo último terceto; esta última tomou o nome de "chave-de-ouro", porque se constitui como decodifica- dora do significado global do poema. RIMA A rima é uma homofonia externa, cons- tante da repetição da última vogal tônica do verso e dos fonemas que eventualmente a seguem. A rima pode ser classificada segundo sua Posi- ção no Verso, sua Posição na Estrofe, a sua Sonoridade, a Tonicidade e ainda o seu Valor. Classificação das Rimas Posição no verso Externa - Quando a rima aparece ao final do verso. É o tipo mais comum de rima. Interna - Quando a semelhança fonética aparece no interior do verso. “Lembranças, que lembrais meu bem passado Para que sinta mais o mal presente Deixai-me se quereis viver contente Não me deixeis morrer neste estado” (Lembranças, que lembrais meu bem passado, Luís Vaz de Camões) Posição na estrofe a) Cruzadas ou alternadas: O primeiro verso rima com o terceiro, e o segundo com o quarto (abab). “Minha desgraça não é ser poeta, Nem na terra de amor não ter um eco, E meu anjo de Deus, o meu planeta Tratar-me como se trata um boneco…” (Minha Desgraça, Álvares de Azevedo) b) Interpoladas ou intercaladas: O primeiro verso rima com o quarto, e o segundo com o terceiro (abba). “Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênese da infância, A influência má dos signos do zodíaco.” (Psicologia de um Vencido, Augusto dos Anjos) c) Emparelhadas: O primeiro verso rima com o se- gundo, e o terceiro com o quarto (aabb). “Aos que me dão lugar no bonde e que conheço não sei de onde, aos que me dizem terno adeus sem que lhes saiba os nomes seus[…]” (Obrigado, Carlos Drummond de Andrade) d) Encadeadas ou Internas: Quando rimam pala- vras que estão no fim do verso e no interior do verso seguinte: “Salve Bandeira do Brasil querida Toda tecida de esperança e luz Pálio sagrado sobre o qual palpita A alma bendita do país da Cruz.” e) Misturadas: Não têm ordem determinada entre as rimas. “A chuva chove mansamente… como um sono Que tranquilize, pacifique, resserene… A chuva chove mansamente… Que abandono! A chuva é a música de um poema de Verlaine… E vem-me o sonho de uma véspera solene, Em certo paço, já sem data e já sem dono… Véspera triste como a noite, que envenene … Num velho paço, muito longe, em terra estranha, Com muita névoa pelos ombros da montanha… Paço de imensos corredores espectrais, Onde murmurem, velhos órgãos, árias mortas, Enquanto o vento, estrepitando pelas portas, Revira in-fólios, cancioneiros e missais…” (A Chuva Chove, Cecília Meireles) f) Versos brancos ou soltos: São os que não têm rima. “A rosa com cirrose A anti-rosa atômica Sem cor sem perfume Sem rosa sem nada.” (Rosa de Hiroshima, Vinicios de Moraes) Tonicidade a) Agudas: Quando a rima acontece entre palavras oxítonas ou monossilábicas. Exemplo: Valor/Amor, és/viés b) Graves: Quando a rima acontece entre palavras paroxítonas. Exemplo: Santa/planta, mala/sala, toque/choque. c) Esdrúxulas: Quando a rima acontece entre palavras proparoxítonas. Exemplo: Mágico/Trágico, Fábula/tábula. L ITERATURA TEL: (61) 4102-8485/4102-7660 SITE: www.cursodegraus.com.br 114 Sonoridade a) Perfeitas (consoantes, soantes, totais): Há uma perfeita identidade dos sons finais, assim como uma semelhança entre as últimas vogais e consoantes. Exemplo: Fada/dourada, rosa/formosa, anil/Brasil. b) Imperfeitas (assonantes, toantes, parciais): Quan- do, ou há identidade apenas entre as vogais finais, não havendo necessariamente identidade entre os sons fi- nais, ou quando o sonoridade é semelhante, mas a grafia das palavras é diferente. Exemplo: Estrela/vela, vertigem/virgem, mais/faz, seis/fez. Valor a) Pobres: Quando a rima acontece entre palavras da mesma classe gramatical. Exemplo: Falar/amar, o calor/o sabor, bonito/bendito. b) Ricas: Quando a rima acontece entre palavras de classes gramaticais diferentes. Exemplo: Cantando/bando, mar/navegar. c) Raras: Quando a rima acontece entre palavras de difícil combinação melódica. Exemplo: Cisne/tisne. d) Preciosas: Rimas entre verbos na forma verbo- pronome com outras palavras. Exemplo: Estrela/Tê-la, Tranquilo/segui-lo. HISTÓRIA DA LITERATURA A história da literatura estuda os movi- mentos literários, artistas e obras de uma determinada época com características gerais de estilo e temáticas comuns, e sua sucessão ao longo do tempo. As histórias da literatura são divididas em grandes movimentos denominados eras, que se dividem em movimentos denominados estilos de época ou escolas literárias. Cada escola literária representa as tendências estéti- co-temáticas das obras literárias produzidas em uma determinada época. Os Gêneros Literários na Antiguidade Na Grécia Clássica, os textos literários se dividiam em três gêneros, que representavam as manifestações literárias da época: GÊNEROS LITERÁRIOS Quanto à forma, o texto pode apresentar-se em prosa ou verso. Quanto ao conteúdo, estrutura, e segundo os clássicos, conforme a "maneira de imitação", podemos enquadrar as obras literárias em três gêneros: GÊNERO LÍRICO Quando um "eu" nos passa uma emoção, um estado; centra-se no mundo interior do Poeta apresentando forte carga subjetiva. A subjetividade surge, assim, como característica marcante do lírico. O Poeta posiciona-se em face dos "mistérios da vida". É na maioria das vezes expressa pela poesia. Entretanto é de grande importân- cia realçar que nem toda poesia pertence ao gênero lírico. Esse gênero se preocupa principalmente com o mundo interior de quem escreve o poema, o eu lírico. Os acontecimentos exteriores funcionam como estímulo para o poeta escrever. O que é fundamental em um poema é o trabalho com as palavras, que dá margem à compreensão da emoção, dos pensamentos, sentimentos do eu lírico e, muitas vezes, levam à reflexão, portanto, sendo geralmente escrito na primeira pessoa do singular. Características: 1. Elementos gramaticais de primeira pessoa; 2. Predomínio da função emotiva da linguagem; 3. Recordação (ação de retornar ao coração); 4. Imagens poéticas de apelo emocional. Ode – é um texto de cunho entusiástico e melódico, em geral uma música. Hino – é um texto de cunho glorificador ou até santi- ficador. Os hinos de países e as músicas religiosas são exemplos de hino. Soneto – é um texto em poesia com 14 versos, carac- terizado em dois quartetos e dois tercetos, com rima geralmente em A-B-A-B A-B-B-A C-D-C D-C-D. Elegia – poesia marcada pela melancolia, cujo tema são acontecimentos tristes ou a morte de alguém. Idílio e écloga – poesias bucólicas, pastoris, que exal- tam a vida campestre. A écloga difere do idílio por apresentar uma estrutura dialógica. Epitalâmio – poesia cuja temática básica são as núp- cias de alguém. GÊNERO DRAMÁTICO Quando os "atores, num espaço especial, apresen- tam, por meio de palavras e gestos, um acontecimento". Retrata, fundamentalmente, os conflitos humanos. Drama, em grego, significa "ação". Ao gênero dra- mático pertencem os textos, em poesia ou prosa, feitos para serem representados.Isso significa que entre autor e público desempenha papel fundamental o elenco (in- L ITERATURA TEL: (61) 4102-8485/4102-7660 SITE: www.cursodegraus.com.br 115 cluindo diretor, cenógrafo e atores) que representará o texto. O gênero dramático compreende as seguintes moda- lidades: Tragédia - é a representação de um fato trágico, sus- cetível de provocar compaixão e terror. Aristóteles afirmava que a tragédia era "uma representação duma ação grave, de alguma extensão e completa, em lingua- gem figurada, com atores agindo, não narrando, inspi- rando dó e terror". Comédia - é a representação de um fato inspirado na vida e no sentimento comum, de riso fácil, em geral criticando os costumes. Sua origem grega está ligada às festas populares, celebrando a fecundidade da natureza. Tragicomédia - modalidade em que se misturam elementos trágicos e cômicos. Originalmente, significa- va a mistura do real com o imaginário. Farsa - pequena peça teatral, de caráter ridículo e caricatural, que critica a sociedade e seus costumes; é um texto onde os personagens principais podem ser duas ou mais pessoas diferentes e não serem reconheci- dos pelos feitos dessa pessoa. Drama – representação que se caracteriza, principal- mente, pela exploração dos sentimentos humanos. Pela natureza da sua abordagem apresenta um tom solene, sério. Auto – representação de caráter religioso, abordando a vida de Cristo ou de santos. Características: 1. Predomínio do discurso direto; 2. Marcado essencialmente pelo diálogo; 3. As ações levam o público às emoções; 4. Ações dramáticas apresentam-se como atualidades. GÊNERO ÉPICO OU NARRATIVO Quando temos uma narrativa de fundo histórico; são os feitos heroicos e os grandes ideais de um povo o tema das epopeias. O narrador mantém um distancia- mento em relação aos acontecimentos (esse distancia- mento é reforçado, naturalmente, pelo aspecto temporal: os fatos narrados situam-se no passado). Temos um Poeta-observador voltado, portanto, para o mundo exte- rior, tornando a narrativa objetiva. A objetividade é característica marcante do gênero épico. A épica já foi definida como a poesia da "terceira pessoa do tempo passado". A palavra "epopeia" vem do grego épos, ‘verso’+ poieô, ‘faço’ e se refere à narrativa em forma de versos, de um fato grandioso e maravilhoso que interessa a um povo. É uma poesia objetiva, impessoal, cuja caracterís- tica maior é a presença de um narrador falando do pas- sado (os verbos aparecem no pretérito). O tema é, nor- malmente, um episódio grandioso e heroico da história de um povo. O Gênero narrativo é visto como uma variante do gênero épico, enquadrando, neste caso, as narrativas em prosa. Dependendo da estrutura, da forma e da extensão, as principais manifestações narrativas são o romance, a novela e o conto. Em qualquer das três modalidades acima, temos re- presentações da vida comum, de um mundo mais indi- vidualizado e particularizado, ao contrário da universa- lidade das grandiosas narrativas épicas, marcadas pela representação de um mundo maravilhoso, povoado de heróis e deuses. Características: 1. Elementos gramaticais de 3ª ou 1ª pessoa; 2. Predomínio da função referencial da linguagem; 3. Rememorização (ação de retornar à memória); 4. Linguagem poética objetiva, sem apelos emocionais. As narrativas em prosa, que conheceram um notável desenvolvimento desde o final do século XVIII, são também comumente chamadas de narrativas de ficção. Epopeia – narrativa em versos de um fato grandioso, heroico e maravilhoso de interesse de uma nação, reali- zada numa atmosfera de exaltação. Além da epopeia, existe o poemeto épico e o poema herói-cômico. Romance: narração de um fato imaginário, mas ve- rossímil, que representa quaisquer aspectos da vida familiar e social do homem. Comparado à novela, o romance apresenta um corte mais amplo da vida, com personagens e situações mais densas e complexas, com passagem mais lenta do tempo. Dependendo da impor- tância dada ao personagem ou à ação ou, ainda, ao espa- ço, podemos ter romance de costumes, romance psico- lógico, romance policial, romance regionalista, romance de cavalaria, romance histórico, etc. Novela: na literatura em língua portuguesa, a princi- pal distinção entre novela e romance é quantitativa: vale a extensão ou o número de páginas. Entretanto, pode- mos perceber características qualitativas: na novela, temos a valorização de um evento, um corte mais limi- tado da vida, a passagem do tempo é mais rápida, e o que é mais importante, na novela o narrador assume uma maior importância como contador de um fato pas- sado. Conto: é a mais breve e simples narrativa centrada em um episódio da vida. O crítico Alfredo Bosi, em seu livro O conto brasileiro contemporâneo, afirma que o caráter múltiplo do conto "já desnorteou mais de um teórico da literatura ansioso por encaixar a forma conto no interior de um quadro fixo de gêneros. Na verdade, se comparada à novela e ao romance, a narrativa curta condensa e potencia no seu espaço todas as possibilida- des da ficção". Fábula: narrativa inverossímil, com fundo didático, que tem como objetivo transmitir uma lição moral. Normalmente a fábula trabalha com animais como per- sonagens. Quando os personagens são seres inanimados, objetos, a fábula recebe a denominação de apólogo. Crônica – relato de episódio do cotidiano, captados pela sensibilidade do escritor, que extrai deles momen- tos de humor, e reflexão sobre a vida e o mundo. L ITERATURA TEL: (61) 4102-8485/4102-7660 SITE: www.cursodegraus.com.br 116 ESTRUTURA DA NARRATIVA Narrativa – é uma obra literária caracterizada pela existência de um narrador que apresenta um enredo, com tempo e espaço determinados, no qual atuam per- sonagens inseridas em situações imaginárias ou não. Narração – é a atividade literária que configura a nar- rativa propriamente dita. Assim, a narração pode ser vista como a ação, processo ou efeito de narrar. É uma exposição escrita ou oral de um acontecimento ou de uma série de acontecimentos mais ou menos sequencia- do. A ação da narrativa é constituída por três ações: In- triga, Ação principal e Ação secundária. Intriga: Ação considerada como um conjunto de acon- tecimentos que se sucedem, segundo um princípio de casualidade, com vista a um desenlace. A intriga é uma ação fechada. Ação principal: Integra o conjunto de sequências narra- tivas que detêm maior importância ou relevo. Ação secundária: A sua importância define-se em relação à principal, de que depende, por vezes; relata acontecimentos de menor relevo. Sequência A ação é constituída por um número variável de se- quências (segmentos narrativos com princípio, meio e fim), que podem aparecer articuladas dos seguintes modos: Encadeamento ou organização por ordem cronológica. Encaixe, em que uma ação é introduzida numa outra que estava a ser narrada e que depois se retoma. Alternância, em que várias histórias ou sequências vão sendo narradas alternadamente pela forma que foi escrita esse eu lírico deve ser mais abrangente de forma que o leitor se familiarize com a leitura. A ação pode dividir-se em: Apresentação ― é o momento do texto em que o narrador apresenta os personagens, o cenário, o tempo, etc. Nesse momento ele situa o leitor nos acontecimen- tos (fatos). Desenvolvimento ― é nesse momento que se inicia o conflito (a oposição entre duas forças ou dois persona- gens). A paz inicialé quebrada através do conflito para que a ação, através dos fatos, se desenvolva. Clímax ― momento de maior intensidade dramática da narrativa. É nesse momento que o conflito fica insus- tentável, algo tem de ser feito para que a situação se resolva. Desfecho ― é como os fatos (situação) se resolvem no final da narrativa. Pode ou não apresentar a resolução do conflito. Tempo Tempo cronológico ou tempo da história - determi- nado pela sucessão cronológica dos acontecimentos narrados. Tempo histórico - refere-se à época ou momento histórico em que a ação se desenrola. Tempo psicológico - é um tempo subjetivo, vivido ou sentido pela personagem, que flui em consonância com o seu estado de espírito. Tempo do discurso - resulta do tratamento ou ela- boração do tempo da história pelo narrador. Este pode escolher narrar os acontecimentos: por ordem linear com alteração da ordem temporal (anacronia), recor- rendo à analepse (recuo a acontecimentos passados) ou à prolepse (antecipação de acontecimentos futuros); ao ritmo dos acontecimentos (isocronia), como, por exemplo, na cena dialogada; a um ritmo diferente (anisocronia), recorrendo ao resumo ou sumário (condensação dos acontecimentos), à elipse (omissão de acontecimentos) e à pausa (inter- rupção da história para dar lugar a descrições ou diva- gações). Personagens A personagem poder ser pessoas, seres humanos, um animal (Revolução dos Bichos), a morte (As intermitên- cias da morte), uma cidade decadente ou uma caneta caindo, desde que estejam num espaço e praticando uma ação, ainda que involuntária. Relevo das personagens Protagonista, personagem principal ou herói: desem- penha um papel central, a sua atuação é fundamental para o desenvolvimento da ação. Personagem secundária: assume um papel de menor relevo que o protagonista, sendo ainda importante para o desenrolar da ação. Figurante: tem um papel irrelevante no desenrolar da ação, cabendo-lhe, no entanto, o papel de ilustrar um ambiente ou um espaço social de que é representante. Composição Personagem modelada ou redonda ou esférica: dinâ- mica, dotada de densidade psicológica, capaz de alterar o seu comportamento e, por conseguinte, de evoluir ao longo da narrativa. Personagem plana ou desenhada: estática, sem evolu- ção, sem grande vida interior; por outras palavras: a personagem plana comporta-se da mesma forma previ- sível ao longo de toda a narrativa. Personagem-tipo: representa um grupo profissional ou social. Personagem coletiva: Representa um grupo de indiví- duos que age como se os animasse uma só vontade. L ITERATURA TEL: (61) 4102-8485/4102-7660 SITE: www.cursodegraus.com.br 117 Espaço ou Ambiente • Espaço ou Ambiente físico: é o espaço real, que serve de cenário à ação, onde as personagens se movem. • Espaço ou Ambiente social: é constituído pelo ambi- ente social, representando, por excelência, pelas perso- nagens figurantes. • Espaço ou Ambiente psicológico: espaço interior da personagem, abarcando as suas vivências, os seus pen- samentos e sentimentos. O espaço ou ambiente pode ser desde uma praia a um lago congelado. De acordo com espaço ou ambiente é que os fatos da narração se desenrolam. Narrador Participação Heterodiegético: Não participante. Autodiegético: Participa como personagem principal. Homodiegético: Participa como personagem secundá- ria. Focalização: É a perspectiva adoada pelo narrador em relação ao universo narrado. Diz respeito ao MODO como o narrador vê os fatos da história. Onisciente: colocado numa posição de transcen- dência, o narrador mostra conhecer toda a história, ma- nipula o tempo, devassa o interior das personagens. Observador: o conhecimento do narrador limita-se ao que é observável do exterior. Neutra: O narrador não expõe seu ponto de vista (este modo não existe na prática, apenas na teoria). Restritiva: A visão dos fatos dá-se através da ótica de algum personagem. Interventiva, intrusa: O autor faz observações sobre os personagens (típica dos romances modernos - Machado de Assis) QUESTÃO 01 (Ufes) "Quem sabe se nesta terra não plantarei minha sina? Não tenho medo da terra cavei pedra toda a vida e para quem lutou a braço contra a piçarra da caatinga fácil será amansar esta aqui, tão feminina" João Cabral de Melo Neto. Morte e vida severina. Quanto ao gênero literário, é correto afirmar sobre o fragmento do texto lido: a) Não há lirismo, pois é feito para ser representado: b) É narrativo, pelo cunho regionalista e social; c) É dramático, com uma linguagem fortemente poética; d) É uma peça teatral, sem qualquer lirismo, pela rudeza da linguagem; e) É mais épico que lírico ou dramático. Com base no texto abaixo, responda às questões de números 2 e 3. "[...] Não resguardei os apontamentos obtidos em largos dias e meses de observação: num momento de aperto fui obrigado a atirá-los na água. Certamente me irão fazer falta, mas terá sido uma perda irreparável? Quase me inclino a supor que foi bom privar-me desse material. Se ele existisse, ver-me-ia propenso a consultá-lo a cada instante, mortificar-me-ia por dizer com rigor a hora exata de uma partida, quantas demoradas tristezas se aqueciam ao sol pálido, em manhã de bruma, a cor das folhas que tombavam das árvores, num pátio branco, a forma dos montes verdes, tintos de luz, frases autênti- cas, gestos, gritos, gemidos. Mas que significa isso? Essas coisas verdadeiras podem não ser verossímeis. E se esmoreceram, deixá-las no esquecimento: valiam pouco, pelo menos imagino que valiam pouco. Outras, porém, conservaram-se, cresceram, associaram-se, e é inevitável mencioná-las. Afirmarei que sejam absoluta- mente exatas? Leviandade. [...] Nesta reconstituição de fatos velhos, neste esmiuçamento, exponho o que notei, o que julgo ter notado. Outros devem possuir lembran- ças diversas. Não as contesto, mas espero que não recu- sem as minhas: conjugam-se, completam-se e me dão hoje impressão de realidade. [...]" Graciliano Ramos. Memórias do cárcere. Rio, São Paulo: Record, 1984. QUESTÃO 02 O fragmento transcrito expressa uma reflexão do autor- narrador quanto à escrita de seu livro contando a experi- ência que viveu como preso político, durante o Estado Novo. No que diz respeito às relações entre escrita literária e realidade, é possível depreender, da leitura do texto, a seguinte característica da literatura: a) Revela ao leitor vivências humanas concretas e reais; b) Representa uma conscientização do artista sobre a realidade; c) Dispensa elementos da realidade social exterior à arte literária; d) Constitui uma interpretação de dados da realidade conhecida. QUESTÃO 03 A relação entre autor e narrador pode assumir feições diversas na literatura. Pode-se dizer que tal relação tem papel fundamental na caracterização de textos que, a exemplo do livro de Graciliano Ramos, constituem uma autobiografia — gênero literário definido como relato da vida de um indivíduo feito por ele mesmo. A partir dessa definição, é possível afirmar que o caráter autobiográfico de uma obra é reconhecido pelo leitor em virtude de: a) Conteúdo verídico das experiências pessoais e coleti- vas relatadas; b) Identidade de nome entre autor, narrador e persona- gem principal; L ITERATURA TEL: (61) 4102-8485/4102-7660 SITE: www.cursodegraus.com.br 118 c) Possibilidadede comprovação histórica de contextos e fatos narrados; d) Notoriedade do autor e de sua história junto ao públi- co e à sociedade. Com base no texto abaixo, responda às questões de números 4 a 6. O Corpo "Acrobata enredado Em clausura de pele Sem nenhuma ruptura Para onde me leva Sua estrutura? Doce máquina Com engrenagem de músculos Suspiro e rangido O espaço devora Seu movimento (Braços e pernas sem explosão) Engenho de febre Sono e lembrança Que arma E desarma minha morte Em armadura de treva." Armando Freitas Filho QUESTÃO 04 (Uerj) No poema, o eu lírico desenvolve, empregando diferentes imagens, a ideia de corpo como clausura. Isso não ocorre no seguinte verso: a) “Acrobata enredado” (v. 1). b) “Sem nenhuma ruptura” (v. 3). c) “Com engrenagem de músculos” (v. 7). d) “Em armadura de treva.” (v. 17). QUESTÃO 05 (Uerj) A concisão é uma das características que mais se destacam na estrutura do poema. Essa concisão pode ser atribuída a: a) Clara ausência de conectivos, explorando a sonorida- de do poema. b) Pouco uso de metáforas, enfatizando a fragmentação dos versos. c) Abrupta mudança de versos, reforçando a lógica das ideias. d) Baixa frequência de verbos, exprimindo a inércia do eu lírico. QUESTÃO 06 (Uerj) "Engenho de febre Sono e lembrança Que arma E desarma minha morte Em armadura de treva." A ausência de pontuação nessa última estrofe do poema pode nos levar a diferentes leituras do texto. A única interpretação incoerente desse trecho é apresentada em: a) Engenho de febre e de sono, e lembrança que arma e desarma minha morte em armadura de treva. b) Engenho de febre, de sono e de lembrança, a qual arma e desarma minha morte em armadura de treva. c) Engenho de febre, de sono e de lembrança, o qual arma e desarma minha morte em armadura de treva. d) Engenho de febre, engenho que é sono e lembrança, e que arma e desarma minha morte em armadura de treva. Leia o poema de Manuel Bandeira para responder às questões de números 7 a 10. Versos de Natal "Espelho, amigo verdadeiro, Tu refletes as minhas rugas, Os meus cabelos brancos, Os meus olhos míopes e cansados. Espelho, amigo verdadeiro, Mestre do realismo exato e minucioso, Obrigado, obrigado! Mas se fosses mágico, Penetrarias até ao fundo desse homem triste, Descobririas o menino que sustenta esse homem, O menino que não quer morrer, Que não morrerá senão comigo, O menino que todos os anos na véspera do Natal Pensa ainda em pôr os seus chinelinhos atrás da porta." QUESTÃO 07 (Unifesp) Para o poeta, o espelho é um amigo verdadei- ro porque: a) Não permite que ele sofra, atrelando-o à realidade em que vive. b) Aguça seus sentidos, incentivando-o aos devaneios, como uma criança. c) Perpetua a crença de que a imaginação nunca se aca- ba. d) Mostra a realidade, desnudando-lhe as faces da velhi- ce. e) Denuncia o estado decrépito em que está, mas cria- lhe a fantasia da felicidade. L ITERATURA TEL: (61) 4102-8485/4102-7660 SITE: www.cursodegraus.com.br 119 QUESTÃO 08 (Unifesp) No poema, a metáfora do espelho é um cami- nho para a reflexão sobre: a) A velhice do poeta, revelada por seu mundo interior, triste e apático. b) A magia do Natal e as expectativas do presente, mai- ores ainda na velhice. c) O encanto do Natal, vivido pelo homem-menino que a tudo assiste sem emoção. d) A alegria que ronda o poeta, fruto dos sonhos e da esperança contidos no homem e ausentes no menino. e) As limitações impostas pelo mundo externo ao ho- mem e os anseios e sonhos vivos no menino. QUESTÃO 09 (Unifesp) O fato de o poeta reconhecer em si a existên- cia do menino indica que: a) Há toda uma fragilidade envolvendo-o, já que se sente um homem triste, ao qual não cabe mais nada senão esperar a morte. b) Tem consciência de uma força para viver, pois o menino se define como sua base e lhe permite romper com a realidade que o circunda. c) Se ajusta placidamente à velhice presente, a qual o amigo espelho insiste em mostrar-lhe de forma degra- dante e revestida de tristeza. d) Vive como uma criança, sempre alegre e sonhador, totalmente alheio ao mundo real de que faz parte. e) Contesta o mundo em que vive, idealizado e opressor, que reflete os seus cabelos brancos e a tristeza que sen- te. QUESTÃO 10 (Unifesp) No poema, o poeta contesta o senso comum, isto é, a ideia de que: a) As pessoas, na velhice, esperam pelos presentes de Natal. Para ele, os presentes são direitos apenas das crianças. b) Os idosos sabem reconhecer a força exercida neles pelo tempo. Para ele, essas pessoas deixam a realidade e vivem num mundo distante e cheio de fantasias. c) O menino morre com a chegada da vida adulta. Para ele, o menino está atrelado ao homem até o fim, portan- to, vivo por toda a vida. d) A chegada da velhice faz com que as pessoas voltem a ser crianças. Para ele, os idosos são perspicazes e enxergam a realidade de forma crítica e consciente. e) O Natal é uma época de alegria e de união entre as pessoas. Para ele, a ocasião vale pelos presentes e não pelos sonhos e sentimentos. QUESTÃO 11 (PRISE/UEPA-2006) Assinale a alternativa que indica corretamente os gêneros literários dos textos abaixo relacionados, na sequência em que estão dispostos: I- “O Dr. Mamede, o mais ilustre e o mais eminente dos alienistas, havia pedido a três de seus colegas e a quatro sábios que se ocupavam de ciências naturais, que vies- sem passar uma hora na casa de saúde por ele dirigida para que lhes pudesse mostrar um de seus pacientes.” (Guy de Maupassant) II- Todas as noites o sono nos atira da beira de um cais E ficamos repousando no fundo do mar. O mar onde tudo recomeça... Onde tudo se refaz... Até que, um dia, nós criaremos asas. E andaremos no ar como se anda na terra. (Mário Quintana) III- Oh! Que famintos beijos na floresta! E que mimoso choro que soava! Que afagos tão suaves, que ira honesta, Que em risinhos alegres se tornava! O que mais passam na manhã e na sesta, Que Vênus com prazeres inflamava, Melhor é experimentá-lo que julgá-lo; Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo. (Luiz de Camões) IV- Velha: E o lavrar, Isabel? Isabel: Faz a moça mui mal feita, corcovada, contrafeita, de feição de meio anel; e faz muito mau carão, e mau costume d’olhar. Velha: Hui! Pois jeita-te ao fiar Estopa ou linho ou algodão; Ou tecer, se vem à mão. Isabel: Isso é pior que lavrar. (Mário Quintana) a) Narrativo – Épico – Lírico – Dramático. b) Dramático – Lírico – Épico – Narrativo c) Narrativo – Lírico – Épico – Dramático d) Dramático – Épico – Narrativo – Lírico e) Épico – Dramático – Narrativo – Lírico Instrução: As questões de números 12, 13 e 14 tomam por base um trecho de uma carta do Padre Antônio Viei- ra (1608-1697) e um soneto do poeta simbolista brasilei- ro Péthion de Villar (Egas Moniz Barreto de Aragão, 1870-1924). Carta XIII — Ao Rei D. João IV — 4 de abril de 1654 "(...) Tornando aos índios do Pará, dos quais, como dizia, se serve quem ali governa como se foram seus escravos, e L ITERATURATEL: (61) 4102-8485/4102-7660 SITE: www.cursodegraus.com.br 120 os traz quase todos ocupados em seus interesses, princi- palmente no dos tabacos, obriga-me a consciência a manifestar a V.M. os grandes pecados que por ocasião deste serviço se cometem. Primeiramente nenhum destes índios vai senão violen- tado e por força, e o trabalho é excessivo, e em que todos os anos morrem muitos, por ser venenosíssimo o vapor do tabaco: o rigor com que são tratados é mais que de escravos; os nomes que lhes chamam e que eles muito sentem, feiíssimos; o comer é quase nenhum; a paga tão limitada que não satisfaz a menor parte do tempo nem do trabalho; e como os tabacos se lavram sempre em terras fortes e novas, e muito distante das aldeias, estão os índios ausentes de suas mulheres, e ordinariamente eles e elas em mau estado, e os filhos sem quem os sustente, porque não têm os pais tempo para fazer suas roças, com que as aldeias estão sempre em grandíssima fome e miséria. Também assim ausentes e divididos não podem os ín- dios ser doutrinados, e vivem sem conhecimento da fé, nem ouvem missa nem a têm para a ouvir, nem se con- fessam pela Quaresma, nem recebem nenhum outro sacramento, ainda na morte; e assim morrem e se vão ao Inferno, sem haver quem tenha cuidado de seus corpos nem de suas almas, sendo juntamente causa estas cruel- dades de que muitos índios já cristãos se ausentam de suas povoações, e se vão para a gentilidade, e de que os gentios do sertão não queiram vir para nós, temendo-se do trabalho a que os obrigam, a que eles de nenhum modo são costumados, e assim se vêm a perder as con- versões e os já convertidos; e os que governam são os primeiros que se perdem, e os segundos serão os que os consentem; e isto é o que cá se faz hoje e o que se fez até agora.” Padre Antonio Vieira. Carta XIII. 1949. O último pajé “Cheio de angústia e de rancor, calado, Solene e só, a fronte carrancuda, Morre o velho Pajé, crucificado Na sua dor, tragicamente muda. Vê-se-lhe aos pés, disperso e profanado, O troféu dos avós: a flecha aguda, O terrível tacape ensanguentado, Que outrora erguia aquela mão sanhuda. Vencida a sua raça tão valente, Errante, perseguida cruelmente, Ao estertor das matas derrubadas! 'Tupã mentiu!' e erguendo as mãos sagradas, Dobra o joelho e a calva sobranceira Para beijar a terra brasileira." Péthion de Villar. A morte do pajé. 1978. QUESTÃO 12 (Vunesp) Embora separados por mais de dois séculos, os textos apresentados focalizam uma mesma questão social surgida no Brasil-Colônia, que tem repercussões até os dias atuais. Releia os dois textos com atenção e, a seguir: a) Identifique a questão social abordada por ambos os textos; b) Explique em que medida o poema de Péthion de Villar, escrito em 1900, simboliza, com certa dramatici- dade, um dos desfechos possíveis dos problemas apon- tados em 1654 por Vieira ao rei de Portugal. QUESTÃO 13 (Vunesp) Podemos estranhar, por vezes, o emprego de certas palavras nos textos, seja por não serem muito comumente usadas, seja por manobras estilístico- expressivas do escritor. O contexto em que tais palavras se encontram, todavia, permite percebermos o sentido sem que precisemos socorrer-nos do dicionário. Com base neste comentário: a) Aponte o que pretende significar Vieira, no terceiro parágrafo, sob o ponto de vista religioso, com a expres- são “gentios do sertão”; b) Estabeleça, com base na leitura de todo o poema, o sentido que a palavra “crucificado” apresenta no tercei- ro verso do soneto de Péthion. QUESTÃO 14 14. (Vunesp) Ao focalizar como tema a mesma questão histórico-social, Vieira e Péthion o fazem sob pontos de vista distintos. Lembrando que Vieira escreve uma carta ao rei e que Péthion escreve um poema, responda: a) O que quer enfatizar Vieira com a frase final “... e isto é o que cá se faz hoje e o que se fez até agora”? b) Por que, mesmo situando seu conteúdo num plano imaginário, idealizado, simbólico, o poema de Péthion não desfigura a realidade em que se baseia? Gabarito 1. C 2. D 3. B 4. C 5. D 6. A 7. D 8. E 9. B 10.C 11. C 12. a) A questão social abordada pelos textos é a do exter- mínio indiscriminado dos índios pelos brancos — ou, em outros termos, a falta de uma política de inclusão social do indígena no processo de civilização das terras virgens da América Portuguesa. b) O poema de Péthion de Villar descreve a morte indi- vidual de um índio, particularizando o processo social de que fala a carta de Vieira. O texto poético encena o drama do ponto de vista psicológico, ao imaginar o extermínio de uma etnia por meio de um indivíduo. O de Vieira trata a questão como tema cultural, discorren- do sobre as condições gerais do povo oprimido. 13. a) A expressão “gentios do sertão” remete àqueles que “vivem sem conhecimento da fé”, isto é, aos que ainda não foram catequizados e conduzidos ao cristianismo. O substantivo “gentio” é, muitas vezes, empregado como sinônimo de pagão, enquanto a locução adjetiva “do sertão” designa quem vive distante das “povoações” a que refere Vieira. Assim, a expressão “gentios do ser- L ITERATURA TEL: (61) 4102-8485/4102-7660 SITE: www.cursodegraus.com.br 121 tão” indica todos aqueles que não são adeptos do cristi- anismo e que se mantêm distantes dos povoados que estavam sob a influência da Igreja. b) A palavra “crucificado” está sendo empregada para indicar o momento em que o pajé morre. Esse adjetivo, impregnado de traços semânticos cristãos (na medida em que a cruz é o principal símbolo religioso da Igreja), reforça a hipótese de que o pajé passou por um processo forçado de cristianização, que fez com que sua cultura fosse “profanada”. Tal situação justifica a conclusão final do pajé (“Tupã mentiu”), pois nem mesmo o deus dos índios impediu que o pajé fosse “crucificado na sua dor”. 14. a) Vieira descreve, na carta, o resultado da ação dos colonizadores em relação aos índios: submetidos ao trabalho desumano nas plantações de tabaco, na condi- ção de escravos, sem poder cuidar de suas mulheres e filhos, que se viam reduzidos à miséria — o que tornava inviável o esforço missionário de conversão dos gentios à fé católica. Com a frase final, ele enfatiza o caráter danoso da ação dos colonizadores — tanto dos gover- nantes, responsáveis pelos maus tratos, quanto daqueles que permitiam tal procedimento, uma vez que ambos não prejudicavam somente os índios e o trabalho missi- onário, mas a eles próprios, pois a ação dos primeiros (governantes) e a omissão dos segundos (colonizadores governados), igualmente, os levariam à perdição eterna. b) A realidade em que se baseia o soneto de Péthion de Villar é a do quase extermínio físico e cultural dos ín- dios no Brasil, em decorrência da ação colonizadora. Tal realidade não é deturpada pelo poema na medida em que se trata de um fato histórico. No entanto, exatamen- te por ser uma obra literária, o soneto opera uma trans- figuração ficcional da realidade. TROVADORISMO Designa-se por Trovadorismo o perío- do que engloba a produção literária de Portugal durante seus primeiros séculos de existência (séc. XII ao XV). No âmbito da poesia, a tônica são mesmo as Cantigas em suas modalidades; enquanto a prosa apresenta as Novelas de Cavalaria. CONTEXTO HISTÓRICO Momento final da Idade Média na Península Ibérica, onde a cultura apresenta a religiosidade como elemento marcante. A vida do homem medieval é totalmente norteadapelos valores religiosos e para a salvação da alma. O maior temor humano era a ideia do inferno que torna o ser medieval submisso à Igreja e seus representantes. São comuns procissões, romarias, construção de templos religiosos, missas etc. A arte reflete, então, esse sentimento religioso em que tudo gira em torno de Deus. Por isso, essa época é chamada de Teocêntrica. As relações sociais estão baseadas também na sub- missão aos senhores feudais. Estes eram os detentores da posse da terra, habitavam castelos e exerciam o poder absoluto sobre seus servos ou vassalos. Há bastante distanciamento entre as classes sociais, marcando bem a superioridade de uma sobre a outra. O marco inicial do Trovadorismo data da primeira cantiga feita por Paio Soares Taveirós, provavelmente em 1198, intitulada Cantiga da Ribeirinha. CARACTERÍSTICAS A poesia desta época compõe-se basicamente de cantigas, geralmente com acompanhamento de instru- mentos (alaúde, flauta, viola, gaita etc.). Quem escrevia e cantava essas poesias musicadas eram os jograis e os trovadores. Estes últimos deram origem ao nome deste estilo de época português. Mais tarde, as cantigas foram compiladas em Canci- oneiros. Os mais importantes Cancioneiros desta época são o da Ajuda, o da Biblioteca Nacional e o da Vatica- na. As cantigas eram cantadas no idioma galego- português e dividem-se em dois tipos: líricas (de amor e de amigo) e satíricas (de escárnio e mal-dizer). Do ponto de vista literário, as cantigas líricas apre- sentam maior potencial, pois formam a base da poesia lírica portuguesa e até brasileira. Já as cantigas satíricas, geralmente, tratavam de personalidades da época, numa linguagem popular e muitas vezes obscena. Cantigas de amor Origem da Provença, região da França, trazidas atra- vés dos eventos religiosos e contatos entre as cortes. Tratam, geralmente, de um relacionamento amoroso, em que o trovador canta seu amor a uma dama, normalmen- te de posição social superior, inatingível. Refletindo a relação social de servidão, o trovador roga a dama que aceite sua dedicação e submissão. Eu-lírico - masculino Cantigas de amigo Neste tipo de texto, quem fala é a mulher e não o homem. O trovador compõe a cantiga, mas o ponto de vista é feminino, mostrando o outro lado do relaciona- mento amoroso - o sofrimento da mulher à espera do namorado (chamado "amigo"), a dor do amor não cor- respondido, as saudades, os ciúmes, as confissões da mulher a suas amigas, etc. Os elementos da natureza estão sempre presentes, além de pessoas do ambiente familiar, evidenciando o caráter popular da cantiga de amigo. Eu-lírico – feminino Cantigas satíricas Aqui os trovadores preocupavam-se em denunciar os falsos valores morais vigentes, atingindo todas as clas- L ITERATURA TEL: (61) 4102-8485/4102-7660 SITE: www.cursodegraus.com.br 122 ses sociais: senhores feudais, clérigos, povo e até eles próprios. o Cantigas de escárnio - crítica indireta e irônica o Cantigas de maldizer - crítica direta e mais grosseira A prosa medieval retrata com mais detalhes o ambi- ente histórico-social desta época. A temática das nove- las medievais está ligada à vida dos cavaleiros medie- vais e também à religião. A Demanda do Santo Graal é a novela mais impor- tante para a literatura portuguesa. Ela retrata as aventu- ras dos cavaleiros do Rei Artur em busca do cálice sa- grado (Santo Graal). Este cálice conteria o sangue reco- lhido por José de Arimateia, quando Cristo estava cruci- ficado. Esta busca (demanda) é repleta de simbolismo religioso, e o valoroso cavaleiro Galaaz consegue o cálice. HUMANISMO O Humanismo é um termo relativo ao Renascimento, movimento surgido na Europa, mais precisamente na Itália, que colocava o homem como o centro de todas as coisas existentes no universo. Nesse período, compreendido entre a transitoriedade da Baixa Idade Média e início da Moderna (séculos XIV a XVI), os avanços científicos começavam a tomar espaço no meio cultural. CONTEXTO HISTÓRICO A tecnologia começava a se aflorar nos campos da matemática, física, medicina. Nomes como Galileu, Paracelso, Gutenberg, dentre outros, começavam a se despontar, em razão das descobertas feitas por eles. Galileu Galilei comprova a teoria heliocêntrica que dizia ser o Sol o centro do sistema planetário, defendida anteriormente por Nicolau Copérnico, além de ter cons- truído um telescópio ainda melhor que os inventados anteriormente. Paracelso explora as drogas medicinais e seu uso, enquanto Gutenberg descobre um novo meio de reproduzir livros. Além disso, a filosofia se desponta como uma ativi- dade intelectual renovada no interesse pelos autores da Antiguidade clássica: Aristótoles, Virgílio, Cícero e Horácio. Por este resgate da Idade Média, este período também é chamado de Classicismo. A burguesia e a nobreza, classes sociais que despon- tam no final da Idade Média, passam a dividir o poderio com a Igreja. É neste contexto cultural que a visão antropocêntrica se instala e influencia todo campo cultural: literatura, música, escultura, artes plásticas. CARACTERÍSTICAS Na Literatura, os autores italianos que maior in- fluência exerceram foram: Dante Alighieri (Divina Comédia), Petrarca (Cancioneiro) e Bocaccio (Decame- ron). Os gêneros mais cultivados foram: o lírico, de temática amorosa ou bucólica, e o épico, seguindo os modelos consagrados por Homero (Ilíada e Odisseia) e Virgílio (Eneida). Podemos denominar Humanismo como ideia surgida no Renascimento que coloca o homem como o centro de interesse e, portanto, em torno do qual tudo acontece. Nesse período, destacam-se as prosas doutrinárias, dirigidas à nobreza. Já as poesias, que eram cultivadas por fidalgos, utilizavam o verso de sete e de cinco síla- bas. Algumas manifestações: - Teatro O teatro foi a manifestação literária onde ficavam mais claras as características desse período. Gil Vicente foi o nome que mais se destacou, ele es- creveu mais de 40 peças. Sua obra pode ser dividida em 2 blocos: Autos: peças teatrais cujo assunto principal é a religião. “Auto da alma” e “Trilogia das barcas” são alguns exemplos. Farsas: peças cômicas curtas. Enredo baseado no coti- diano. “Farsa de Inês Pereira”, “Farsa do velho da horta”, “Quem tem farelos?” são alguns exemplos. Poesia Em 1516 foi publicada a obra “Cancioneiro Geral”, uma coletânea de poemas de época. O cancioneiro geral resume 2865 autores que tratam de diversos assuntos em poemas amorosos, satíricos, reli- giosos entre outros. Prosa Crônicas: registravam a vida dos personagens e aconte- cimentos históricos. Fernão Lopes foi o mais importante cronista (historiador) da época, tendo sido considera- do o “Pai da História de Portugal”. Foi tam- bém o 1º cronista que atribuiu ao povo um papel importante nas mudanças da história, essa impor- tância era, anteriormente, atribuída somente à nobreza. No mundo: Quatro séculos depois do início do trovadorismo, surge em Portugal o classicismo, também chamado de Quinhentismo por ter se manifestado no século XVI, em 1527 (pela data), quando o poeta Sá de Miranda retorna da Itália trazendo as características desse novo estilo. CONTEXTO HISTÓRICO L ITERATURA TEL: (61) 4102-8485/4102-7660 SITE: www.cursodegraus.com.br 123 do classicismo: renascimento As grandes navegações fazem com que o homem do inicio do século XVI se sinta orgulhoso e confiante em suacapacidade criativa e em sua força: desafiar os ma- res, percorrer os oceanos, descobrir novos mundos, produzir saberes, desenvolver as ciências e transformá- las em tecnologia, tudo isso resulta no surgimento de um Homem muito diferente daquele existente na idade media e esse homem volta a ser o centro da sua própria vida (antropocentrismo). O que esse homem faz de melhor é em prol de si mesmo e isso se reflete também na arte e na literatura que ele produz nessa época. Esse caráter humanista ou antropocêntrico estava esquecido nas “trevas” da idade média, mas já havia existido na antiguidade (na civiliza- ção grega, por exemplo) e é porque, no início do século XVI, ocorre o ressurgimento ou renascimento do Antro- pocentrismo, que esse período da historia é chamado de renascimento. O renascimento é o momento histórico em que o homem produz grande quantidade e qualidade de obras artísticas e literárias; elas perdem o primitivismo e a ingenuidade de obras medievais e ganham um aprimo- ramento técnico que supera ate as obras da antiguidade: as cores se multiplicam, surge à noção de perspectiva, as formas humanas são concebidas de maneira mais nítida, no caso da arte. O “berço” do renascimento é a Itália. O tema predominante nas obras artísticas e literárias do renascimento é sempre o homem e tudo que diz res- peito a ele. Características do classicismo renascentista: 1. Antropocentrismo 2. Presença de elementos da mitologia 3. Presença de elementos do cristianismo 4. Preciosismo vocabular 5. Obediência à versificação 6. Figuras (em especial de personificação) 7. Racionalismo (=objetividade) 8. Universalismo (=generalização) Características do classicismo: 1- Imitação dos autores clássicos gregos e romanos da antiguidade: Homero, Virgílio, Ovídio, etc... 2- Uso da mitologia: Os deuses e as musas, inspiradoras dos clássicos gregos e latinos a parecem também nos clássicos renascentistas: Os Lusíadas: (Vênus) = a deusa do amor; Marte (o deus da guerra), protegem os portu- gueses em suas conquistas marítimas. 3- Predomínio da razão sobre os sentimentos: A lingua- gem clássica não é subjetiva nem impregnada de senti- mentalismos e de figuras, porque procura coar, através da razão, todos os dados fornecidos pela natureza e, desta forma, expressou verdades universais. 4- Uso de uma linguagem sóbria, simples, sem excesso de figuras literárias. 5- Idealismo: O classicismo aborda os homens ideais, libertos de suas necessidades diárias, comuns. Os perso- nagens centrais das epopeias (grandes poemas sobre grandes feitos e heroicos) nos são apresentados como seres superiores, verdadeiros semideuses, sem defeitos. Ex.: Vasco da Gama em os Lusíadas: é um ser dotado de virtudes extraordinárias, incapaz de cometer qualquer erro. 6- Amor Platônico: Os poetas clássicos revivem a ideia de Platão de que o amor deve ser sublime, elevado, espiritual, puro, não-físico. 7- Busca da universalidade e impessoalidade: A obra clássica torna-se a expressão de verdades universais, eternas e despreza o particular, o individual, aquilo que é relativo. No Brasil: Século XVI, a Europa vive o Renascimen- to e provoca grandes transformações cul- turais. Inicia-se a exploração das Améri- cas. O Quinhentismo, conhecido como literatura informativa, surge para descrever a nova terra, rela- tar as viagens dos novos exploradores, os estranhos hábitos dos povos indígenas e histórias dos degreda- dos portugueses que são a grande parte da popula- ção. Os únicos intelectuais da nova terra, os jesuítas, encontram na literatura uma das formas de cateque- se e pregação da nova religião ao povo indígena. Brasil, 1500, Pedro Álvares Cabral e sua frota chegam ao litoral brasileiro. Missão: tomar posse da nova terra e colher as primeiras impressões. Pero Vaz de Caminha será o responsável por observar e transcre- ver suas impressões. Assim surge o primeiro documento escrito em língua portuguesa que traz relatos sobre a nova e estranha terra. No caminho para as Índias, a feitoria portuguesa de Calicute sofre poderoso ataque, supostamente dos Mou- ros, e boa parte dos marinheiros de Cabral morre, além do escrivão oficial de sua frota, Pero Vaz de Caminha, em dezembro de 1500. Morre tragicamente, mas nos deixa um importantíssimo relato da viagem e as primei- ras impressões sobre os, até então, donos da terra. A adoção do sistema de capitanias hereditárias, a expedição de Martim Afonso e o estabelecimento do governo geral, em 1549, em Salvador, na Bahia, foram fatos marcantes no processo de colonização do Brasil. Com o primeiro governador geral, Tomé de Souza, chegaram os primeiros jesuítas, chefiados por Manuel da Nóbrega, com a missão de catequizar o indígena, marcando o início da organização da vida administrati- L ITERATURA TEL: (61) 4102-8485/4102-7660 SITE: www.cursodegraus.com.br 124 va, econômica, política, militar, espiritual e social do Brasil-Colônia. CARACTERÍTICAS No cumprimento de suas tarefas, portugueses colo- nizadores, jesuítas, viajantes aventureiros dão origem às primeiras manifestações literárias do período, cujas primeiras obras são predominantemente informativas. Seus textos descrevem a fauna, a flora, os habitantes nativos e as condições de vida na terra recém- descoberta. Apesar de não ser considerada literária, essa crônica histórica tem seu valor, pois além da linguagem e da visão de mundo dos primeiros observadores do país, revelam as condições primitivas de uma cultura nascente. Nesse primeiro século da nossa formação, a literatu- ra informativa do colonizador português é representada inicialmente pela Carta de Pero Vaz de Caminha, rela- tando o descobrimento do Brasil a D. Manuel. Histori- camente, é uma verdadeira certidão de nascimento do país e dá início a um período de três séculos na nossa literatura: o Período Colonial, que inclui, além do Qui- nhentismo, o Barroco e o Arcadismo. Outro documento da época é O Diário da Navegação (1530) de Pero Lopes de Souza. Não é tão importante como a carta de Caminha, mas enquadra-se nas crônicas de viagens, prestando informações a futuros colonizado- res e exploradores de Portugal. Sem muitos dados histó- ricos, relata a expedição de Martim Afonso de Souza ao Brasil, em 1530, como também o comando de Pero Lopes no retorno da esquadra a Portugal. Apenas em uma ou outra passagem, faz alguma referência histórica, ressaltando a beleza da terra e de seus habitantes. Narra eventos e aponta observações náuticas e geográficas, o que o torna um documento de interesse para a história marítima de Portugal e para a da colonização do Brasil. Essencialmente informativas, as obras: História da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil (1576) e Tratado da Terra do Brasil, publicado somente em 1826, de Pero de Magalhães de Gândavo, e Tratado Descritivo do Brasil em 1587 (1587), de Gabriel Soares de Souza, inauguram atitudes e lançam sugestões temáticas. Manifestações que serão retomadas por alguns escritores brasileiros pertencentes ao Moder- nismo, tais como Oswald de Andrade (Pau-Brasil) e Mário de Andrade (Macunaíma). O trabalho informativo, pedagógico e moral dos je- suítas tem como expoentes as obras dos padres Manuel da Nóbrega, Fernão Cardim e José de Anchieta. Nóbrega, com a carta noticiando sua chegada ao territó- rio brasileiro, inaugura, em 1549, a literatura informati- va dos jesuítas. Além da vasta correspondência em que relata o andamento da catequesee da obra pedagógica a outros membros da Companhia de Jesus, escreve o Diálogo sobre a conversão do gentio (1557), única obra planejada e com valor literário reconhecível. Nela, sua intenção é convencer os próprios jesuítas do significado humano e cristão da catequese. Quanto à valorização literária, José de Anchieta destaca-se como o único autor desta época cuja produ- ção extrapola o caráter meramente histórico. Escreveu poemas líricos, épicos, autos, cartas, sermões e uma pequena gramática da língua tupi. Além do caráter in- formativo e educacional, algumas de suas criações lite- rárias visavam, apenas, satisfazer sua vida espiritual. PERO VAZ DE CAMINHA Pero Vaz de Caminha, escrivão, comerciante e nave- gador português. Sabe-se muito pouco de sua vida, mas desde 1817, quando o padre Aires do Casal publica o livro Coreografia Brasileira, os brasileiros passam a conhecer a grande obra de Caminha, a Carta do Descobrimento, até então ignorada e guar- dada nos arquivos da Torre do Tombo por mais de três séculos. Pero Vaz de Caminha nasce supostamente na cidade do Porto, em 1450, filho do cavaleiro do Duque de Bragança, Vasco Fernandes de Caminha. Casa-se com Dona Catarina e com ela tem uma filha, Isabel. Em 1476, então com 26 anos, passa a ocupar o lugar de seu pai na Casa da Moeda portuguesa, como mestre de ba- lança. Também se dedica ao comércio. É designado a ser o escrivão da feitoria de Calicute, na Índia. Parte com a grandiosa frota de Pedro Álvares Cabral, que tem a missão de conhecer as novas terras à oeste do caminho para as Índias. Entre 22 de abril e 1º de maio de 1500 elabora a famosa Carta do Descobri- mento para o rei Dom Manuel. A CARTA DE PERO VAZ DE CAMINHA O texto tem um notável valor histórico - por ser o primeiro registro escrito sobre a realidade local - mas vale ainda mais pela agudeza com que Caminha revela a paisagem física e humana daquilo que ele julga ser uma imensa ilha. Aspectos mais significativos do texto: - A atenção objetiva pelos detalhes. - A simplicidade no narrar os acontecimentos. - A disposição humanista de tentar entender os nativos. - A capacidade constante de maravilhar-se. Vejamos como ele descreve o primeiro contato com os índios: A feição deles é parda, algo avermelhada; de bons rostos e bons narizes. Em geral são bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Não fazem o menor caso de cobrir ou mostrar suas vergonhas, e nisso são tão ino- centes como quando mostram o rosto. Ambos traziam o lábio de baixo furado e metido nele um osso branco, do comprimento de uma mão travessa* e da grossura de um fuso de algodão. (...) Os cabelos deles são corredios. E andam tosquiados, de tosquia alta (...) Quando eles vieram a bordo o Capi- L ITERATURA TEL: (61) 4102-8485/4102-7660 SITE: www.cursodegraus.com.br 125 tão (Cabral) estava sentado em uma cadeira, bem vesti- do, com um colar muito grande no pescoço e tendo aos pés, por estrado, um tapete. E eles entraram sem qual- quer sinal de cortesia ou de desejo de dirigir-se ao Capi- tão ou a qualquer outra pessoa presente, em especial. Todavia, um deles fixou o olhar no colar do Capitão e começou a acenar para a terra, como querendo dizer que ali havia ouro. (...) Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo: pegaram-no logo com a mão e acenavam para a terra, como a dizer que ali os havia. Mostraram-lhes um carneiro: não fizeram caso dele; uma galinha: quase tiveram medo dela - não lhe queri- am tocar, para logo depois pegá-la, com grande espanto nos olhos. Deram-lhe de comer: pão e peixe cozido, confeitos, bolos, mel e figos passados. Não quiseram comer quase nada de tudo aquilo. E se provaram alguma coisa, logo a cuspiam com nojo. Trouxeram-lhes vinho numa taça, mas apenas haviam provado o sabor, imediatamente demonstraram não gostar e não mais quiseram. PADRE JOSÉ DE ANCHIETA José de Anchieta, jesuíta e escritor, foi o fundador da cidade de São Paulo. Desembarca no Brasil com a comitiva de Duarte da Costa e torna-se o principal missionário da igreja junto aos indígenas e sua obra literária é essencialmente no sentido da catequiza- ção. Chegada ao Brasil e fundação de São Paulo e aprendizado tupi Chega ao Brasil com a comitiva de Duarte da Costa, segundo governador-geral, em 1553, com o objetivo de catequizar os índios. Em 25 de janeiro de 1554, funda um colégio às margens dos rios Tamanduateí e Anhan- gabaú. Ao redor do colégio uma vila começa a se for- mar que Anchieta a batiza de São Paulo. Sob as ordens do Padre Manoel da Nóbrega, segue para São Vicente e lá, aprende a língua tupi. Em 1563, é mantido sob cárce- re pelos índios tamoios, quando escreve o poema em latim: De Beata Virgine Dei Matre Maria, além de ou- tros autos religiosos, aos moldes de Camões. Anchieta vive para a catequização dos índios, políti- ca e criação literária: poemas, crônicas, sermões, cartas e teatro, nas línguas: latim, português, espanhol e tupi. Procura usar uma linguagem direta e simples, voltada a seu alvo principal, os indígenas. Suas principais obras teatrais são: Quando, no Espírito Santo, se Recebeu uma Relíquia das Onze Mil Virgens (1579) e Na Vila de Vitória (1586). Destaca-se também sua obra sobre a arte e língua dos tupis: Arte de Gramática da língua mais usada na costa brasileira, escrita em 1595. Já doente, muda-se para o Espírito Santo, onde vem a falecer, em 1597. Em 1980 é beatificado pelo papa João Paulo II. Os autos - Auto: forma teatral oriunda da Idade Mé- dia e caracterizada por sua liberdade em relação às leis clássicas do teatro, que exigiam unidade de ação, tempo e espaço. Compõe-se de uma multiplicidade quase está- tica de quadros e cenas. Interessa-nos hoje, sobretudo, a obra teatral de An- chieta. Nela, o autor intenta conciliar os valores católi- cos com os símbolos primitivos dos habitantes da terra e com os aspectos da nova realidade americana. Os elementos sagrados do catolicismo europeu li- gam-se aos mitos indígenas, sem que isso signifique uma contradição maior, pois as ideias que triunfam nos espetáculos são evidentemente as do padre. As crendi- ces e superstições dos nativos acabam vinculadas ao pecado e seu poderoso agente, Satanás. Neste confronto perpétuo entre o bem e o mal, o primeiro é defendido por santos e anjos, os quais ex- pressam o cristianismo e subjugam o segundo, constitu- ído por deuses e pajés dos nativos, misturados com os demônios da tradição católica. Desta forma, os índios (sobremodo os curumins) percebem que os seus valores são falsos e corruptos e aceitam de melhor grado os princípios cristãos. Do ponto de vista da encenação dos autos, - confor- me depoimentos de época - a liberdade formal salta aos olhos: o teatro anchietano pressupõe o lúdico, o jogo coreográfico, a cor, o som. É algo arrebatador, de enor- me fascínio visual. Dirige-se mais aos sentidos do que à razão, apelando para a consciência mítica dos nativos. Santos e demônios duelam; desencadeiam-se milagres e apocalipses; alternam-se elementos históricos e fictícios, religiosos e profanos; pequenos sermões musicados irrompem no meio das cenas. Perante essa festa para as emoções e o coração, o indígena vacila em suas crenças. Alegrem-se os nossos filhos Por Deus os ter libertado Guaixará vá para o inferno Guaixará, Aimbiré, Saravaia Vão para o inferno. Os autos anchietanos contribuem para desculturar os índios, que assim perdem a sua identidade. Desajustadosante a nova ordem social e psicológica, irão se ver, como disse José Guilherme Merquior, "dolorosamente arrancados à cultura materna e dolorosamente desarma- dos ante a bruta realidade da experiência colonial." O papel de Anchieta em nossa literatura O crítico Afrânio Coutinho sustenta que a literatura teria nascido, no Brasil, pelas mãos dos jesuítas. Assim, José de Anchieta seria o nosso primeiro escritor. Tal argumentação é refutada pela maioria dos estudiosos, pois o padre possui uma visão de mundo tipicamente europeia. Por isso, os elementos culturais indígenas presentes em seu teatro são destruídos - dentro da ação dramática - com pleno apoio do autor que se serve deles apenas para reafirmar um sistema de ideias alheio ao universo dos próprios índios. Além disso, a sua obra teatral não tem seguidores. Não inicia qualquer tradição no gênero dramático brasi- L ITERATURA TEL: (61) 4102-8485/4102-7660 SITE: www.cursodegraus.com.br 126 leiro. Não deixa nenhum rastro. A originalidade de Anchieta consiste na criação de objetos culturais com fins religiosos para um público que jamais teria acesso à produção estética dos homens brancos. Fora essa cir- cunstância, sua importância no panorama da literatura nacional é insignificante. QUESTÃO 01 (UFSC) A carta de Pero Vaz de Caminha Num dos trechos de sua carta a D. Manuel, Pero Vaz de Caminha descreve como foi o contato entre os portu- gueses e os tupiniquins, que aconteceu em 24 de abril de 1500: "O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, aos pés de uma alcatifa por estrado; e bem vestido, com um colar de ouro, muito grande, ao pesco- ço [...] Acenderam-se tochas. E eles entraram. Mas nem sinal de cortesia fizeram, nem de falar ao Capitão; nem a ninguém. Todavia um deles fitou o colar do Capitão, e começou a fazer acenos com a mão em direção à terra, e depois para o colar, como se quisesse dizer-nos que havia ouro da terra. E também olhou para um castiçal de prata, e assim mesmo acenava para a terra, e novamente para o castiçal, como se lá também houvesse prata! [...] Viu um deles umas contas de rosário, brancas; fez sinal que lhas dessem, folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço, e depois tirou-as e meteu-as em volta do braço, e acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão, como se davam ouro por aquilo. Isto tomávamos nós nesse sentido, por assim o desejarmos! Mas se ele queria dizer que levaria as contas e mais o colar, isto não queríamos nós entender, por que não lho havíamos de dar! E depois tornou as contas a quem lhas dera. E então estiraram-se de costas na alcatifa, a dormir sem procurarem maneiras de esconder suas vergonhas, as quais não eram fanadas; e as cabeleiras delas estavam raspadas e feitas. O Capitão mandou pôr por de baixo de cada um seu coxim; e o da cabeleira esforçava-se por não a estragar. E deitaram um manto por cima deles; e, consentindo, aconchegaram-se e adormeceram." Coleção Brasil 500 anos, Fasc. I, Abril, São Paulo, 1999. De acordo com o texto, assinale a(s) proposição(ões) VERDADEIRA(S): 01 ( ) Pero Vaz de Caminha, um dos escrivães da arma- da portuguesa, escreve para o Rei de Portugal, D. Ma- nuel, relatando como foi o contato entre os portugueses e os tupiniquins. 02 ( ) Em "E eles entraram. Mas nem sinal de cortesia fizeram, nem de falar ao Capitão; nem a ninguém", fica implícito que os tupiniquins desconheciam hierarquia ou categoria social lusitanas. 04 ( ) Nada, na embarcação portuguesa, pareceu desper- tar o interesse dos tupiniquins. 08 ( ) O trecho "[...] e acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão, como se davam ouro por aquilo. Isto tomávamos nós nesse sentido, por assim o desejarmos" evidencia que havia problemas de comunicação entre os portugueses e tupiniquins. QUESTÃO 02 (Ufla-MG) Todas as alternativas são corretas sobre o Padre José de Anchieta, EXCETO: a) Foi o mais importante jesuíta em atividade no Brasil do século XVI. b) Foi o grande orador sacro da língua portuguesa, com seus sermões barrocos. c) Estudou o tupi-guarani, escrevendo uma cartilha sobre a gramática da língua dos nativos. d) Escreveu tanto uma literatura de caráter informativo como de caráter pedagógico. e) Suas peças apresentam sempre o duelo entre anjos e diabos. QUESTÃO 03 (UEL-PR) "José de Anchieta, o Apóstolo do Brasil, trouxe em sua bagagem, vindo da Canárias onde nasceu, mais do que seu pendor poético. Vinha ele com mais meia dúzia de bravos com a espantosa missão de converter e educar os índios, que seus olhos e dos outros, a princípio, não reconheciam qualquer cultura." DELACY, M. Introdução ao teatro. Petrópolis: Vozes, 2003. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a prática de catequização de José de Anchieta, considere as afir- mativas a seguir: I. Para catequizar, Anchieta valeu-se de sua criatividade, usando cocares coloridos, pintura corporal e outros adereços que os indígenas lhe mostravam. II. Com a missão de levar Jesus àqueles “bugres e incul- tos”, Anchieta se afastou de suas próprias crenças con- vertendo-se à religião daquele povo. III. Com a finalidade de catequizar, Anchieta começou a escrever autos, baseados nos autos medievais, nas obras de Gil Vicente e em encenações espanholas. IV. Para implantar a fé como lhe foi ordenado, Anchieta representava os autos na língua pátria de Portugal. Estão corretas apenas as afirmativas: a) I e III. b) I e IV. c) II e IV. d) I, II e III. e) II, III e IV. QUESTÃO 04 (Ufam) Leia as estrofes abaixo, que constituem o início de um famoso poema chamado A Santa Inês: “Cordeirinha linda, como folga o povo porque vossa vinda lhe dá lume novo! Cordeirinha santa, L ITERATURA TEL: (61) 4102-8485/4102-7660 SITE: www.cursodegraus.com.br 127 de Iesu querida, vossa santa vinda o diabo espanta.” Pela religiosidade e pelo didatismo do poema, seu autor só pode ser: a) Frei Vicente do Salvador b) Pero Lopes de Sousa c) José de Anchieta d) Manuel da Nóbrega e) Gabriel Soares de Sousa QUESTÃO 05 (Ufam) A respeito das primeiras manifestações literárias no Brasil, NÃO é correto afirmar: a) José de Anchieta escreveu um manual prático, intitu- lado Diálogo sobre a conversão do gentio, com eviden- tes intenções pedagógicas, nele expondo sobre a melhor forma de lidar com os indígenas. b) Em sua Carta, Pero Vaz de Caminha descreveu a paisagem do litoral brasileiro e o aspecto físico dos índios, admirando-se da ausência de preconceito que eles demonstravam em relação ao próprio corpo e à nudez. c) Pero de Magalhães Gandavo, demonstrando total incompreensão, julgou os índios de forma irônica, di- zendo que, por não possuírem em sua língua as letras F, L e R, não podiam ter nem Fé, nem Lei, nem Rei. d) Os textos dos viajantes, no primeiro século de vida do Brasil, foram escritos com o objetivo de informar a Coroa Portuguesa sobre as potencialidades econômicas da nova terra. e) A Carta de Pero Vaz de Caminha é um documento fundado numa visão mercantilista (a conquista de bens materiais) e no espírito religioso (dilatação da fé cristã e a conquista de novas almas para a cristandade). QUESTÃO 06 (UnB-DF) Senhor: I. "Posto que o Capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova
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