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ESPIRITO SANTO PERÍCIA AMBIENTAL CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO – FAVENI 1 SUMÁRIO 1 DEFINIÇÃO DE PERÍCIA AMBIENTAL ...................................................... 3 1.1 Objetivo ................................................................................................ 4 1.2 O Perito Ambiental ............................................................................... 5 1.3 Assistente Técnico ............................................................................... 7 1.3.1 Parecer técnico .............................................................................. 8 2 LAUDO PERICIAL ...................................................................................... 9 2.1 Tipos de perícia: judicial, extrajudicial e arbitral ................................. 10 2.1.1 Perícia judicial .............................................................................. 10 2.1.2 Perícia extrajudicial ...................................................................... 10 2.1.3 Perícia arbitral .............................................................................. 11 2.2 Esfera judicial e extrajudicial .............................................................. 12 2.3 Tipos de quesito – Cálculo de honorários .......................................... 13 2.3.1 Quesito ......................................................................................... 15 2.4 Procedimentos Técnicos .................................................................... 16 2.5 A Legislação Motivadora dos Laudos ................................................. 17 2.6 A perícia ambiental e a tutela jurídica do meio ambiente ................... 18 3 DANOS AMBIENTAIS............................................................................... 22 4 MÉTODOS E TÉCNICAS APLICÁVEIS NA PERÍCIA AMBIENTAL ......... 26 5 IMPACTOS E PASSIVOS AMBIENTAIS .................................................. 27 6 IMPACTO E ATIVOS AMBIENTAIS ......................................................... 30 6.1 São exemplos de ativos ambientais ................................................... 31 7 POLUIÇÃO AMBIENTAL .......................................................................... 32 7.1 Os tipos de poluição ........................................................................... 33 8 IDENTIFICAÇÃO DE ASPECTOS E IMPACTOS AMBIENTAIS POR TIPOLOGIA DE ATIVIDADE ..................................................................................... 35 2 8.1 Definição de Avaliação de Impacto Ambiental ................................... 36 8.2 Objetivos da AIA ................................................................................. 37 8.3 Conceitos de Impacto Ambienta1 ....................................................... 38 8.4 Estudos De Avaliação De Impacto Ambiental .................................... 40 8.5 Considerações Preliminares ............................................................... 40 8.6 Definição das medidas mitigadoras e do programa de monitorarem dos impactos 45 8.7 O processo de AIA ............................................................................. 46 9 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 49 3 1 DEFINIÇÃO DE PERÍCIA AMBIENTAL Fonte: ibape.ecommerceflex.com.br Pode-se definir como Perícia, uma expressão genérica que abriga diversos tipos de exames de natureza especializada, visando esclarecer determinados fatos sob a ótica científica. Quando o conhecimento jurídico do magistrado não é suficiente para emitir OPINIÃO TÉCNICA, faz-se então, necessária a instauração de perícia para apurar circunstâncias e/ou causas relativas a fatos reais, com vistas ao esclarecimento da verdade (GONÇALVES, 2010). A Perícia Ambiental surge normalmente em decorrência de uma demanda Processual e tem como objeto de estudo o meio ambiente nos seus aspectos abióticos, bióticos e socioeconômicos, correlacionando a natureza com as atividades humanas. É um meio de prova utilizado em processos judiciais para determinar a extensão do “dano” ambiental e estimar a indenização. A Constituição Federal Brasileira de 1988 no capítulo dedicado ao Meio Ambiente estabelece como forma de reparação do dano ambiental três tipos de responsabilidade, a saber: civil, penal e administrativa, todas independentes e autônomas entre si. Perícias, de um modo geral, são operações designadas a ministrar esclarecimentos técnicos à Justiça. A Perícia Ambiental torna-se peça-chave nestes 4 novos tempos, no qual a dinâmica e a velocidade das mudanças ocorridas na sociedade contemporânea promoveram um rápido processo de transformações no meio ambiente em decorrência da ação do homem, causando de forma acelerada e acentuada o desequilíbrio, a redução e até mesmo o desaparecimento espécies e ecossistemas. A perícia ambiental é um meio de prova utilizado em processos judiciais, sujeito à mesma regulamentação prevista pelo CPC, com a mesma prática forense, mas que irá atender a demandas específicas advindas das questões ambientais, onde o principal objeto é o dano ambiental ocorrido, ou risco de sua ocorrência. Pericia ambiental, uma especialidade de perícia, relativamente nova no Brasil, mas que tem evoluído nos últimos anos devido ao aprimoramento da legislação ambiental e a própria necessidade humana de proteção e conservação do meio ambiente. Assim, trata-se de uma atividade profissional de relevante interesse social e de natureza complexa, a exigir uma prática multidisciplinar e a atuação de profissionais altamente qualificados para o trato das questões ambientais, além de estudos e pesquisas que fundamentem o desenvolvimento de seus aspectos jurídicos, teóricos, técnicos e metodológicos. A perícia ambiental é fundamental para elucidação dos processos ambientais. A perícia observa o contraditório e quando se trata de uma questão técnica é necessário ouvir todas as partes interessadas ou afetadas. A perícia ambiental não está restrita apenas ao solo, mas também ao ar, entorno, enfim, a toda dinâmica que existe no local (GONÇALVES, 2010). 1.1 Objetivo Objeto de estudo da Perícia Ambiental segundo a lei 9.605/98 - O Crime Ambiental pode ocorrer das seguintes formas: natureza dos crimes e do meio ocorrido: fauna, flora, administração ambiental, ordenamento urbano e territorial, poluição gerada por aspectos socioeconômicos e, outros. Ações de possíveis perícias ambientais: maus tratos em animais, ações antrópicas que dificultam o ciclo vital e, se o crime ocorre em área protegida ou não; desmatamento, queimadas, exploração de madeiras, produção de carvão; perícia sobre um RIMA (Relatório de Impacto Ambiental) ou PCA (Plano de Controle Ambiental) aprovado indevidamente em 5 Órgãos Ambientais; parcelamento do solo, ocupação indevida de áreas públicas, pichação de prédios públicos, depredação de sítios arqueológicos, parques, etc.; poluição sonora ou visual, temperatura, luminosidade, vibração, gases, chaminés, efluentes de: curtumes, agrotóxicos, matadouros domésticos, lixões e poluição residual (independentemente da origem, deixa sequelas ao homem e ao meio ambiente); mineração, execução de aterros, drenagem, dragagem, barragens, erosão, voçoroca, resíduos sólidos e obras de engenharia em geral. Para analisar o aspecto do desenvolvimento socioeconômico e ambiental de uma região, um território ou local, que visa o crescimento sustentável (em processo de resolução), o Perito e/ou Assistente Técnico também faz consultoria capaz de emitir pareceres ambientais, provendo modificações e soluções necessárias para promoção de ações mitigadoras e compensatórias, evitando riscos: físico-ambientais e econômicos (multas), resultando na prevenção ambiental e valorando o“bem” privado ou público tornando-o sustentado (resolução efetivada). O Meio Ambiente tem valor econômico agregado a partir de um sólido projeto de Gestão Ambiental (GONÇALVES, 2010). As ações privadas (individuais ou organizadas) de expansão territorial no ordenamento de zonas ambientais, tanto urbanas como rurais, devem ser feitas de forma articulada, coordenada e sistêmica, devendo sempre ter o auxílio de um profissional ambiental, obedecendo às Leis e Ações Estatais, vindo a se beneficiar e valorando o seu “bem”. Exemplo concreto é a Bolsa Verde, que concede incentivo financeiro para proprietários ou posseiros rurais, que promovam a conservação da cobertura vegetal nativa em Minas Gerais. 1.2 O Perito Ambiental Perícia é uma diligência realizada ou executada por peritos, a fim de esclarecer ou evidenciar certos fatos. Significa, portanto, a investigação, o exame, a verificação da verdade, ou realidade de certos fatos por pessoas que tenham habilitação profissional; reconhecida experiência quando à matéria e idoneidade moral. Perito ambiental é o profissional imbuído de averiguar e relatar informações relacionadas a crimes cometidos contra o meio ambiente. Sua missão é colher dados 6 que esclareçam os fatos, validando informações que servirão como suporte para que o juiz aplique as devidas medidas punitivas. Perito Ambiental deve ser registrado nos Conselhos Regionais (art. 145 a 147 da sessão II da Constituição Federal), sendo sua ação disciplinada pela Lei de Perícia Judicial - Lei 8.455/92 do Processo Civil. Tem por finalidade verificar fatos relativos à matéria em questão, certificando-os, apreciando-os ou interpretando-os. Seu parecer técnico, será representado, conforme determinação do Juiz, em inquirição, em audiência ou por escrito. Além dos Peritos, se faz necessário também os Assistentes Técnicos (profissional legalmente habilitado pelos Conselhos Regionais), que é indicado pelas partes e acompanham o Processo. Estes são de confiança das partes e ao contrário do que muitos rotulam não é um fiscal do Perito, mas um técnico coadjuvante dos trabalhos da Perícia, procurando satisfazer a busca da verdade, assemelhando-se ao Perito como auxiliar da Justiça. Com a publicação da Lei número 9.605 em 1998, conhecida por Lei de Crimes Ambientais, começou a surgir necessidade de um profissional para avaliar a dimensão dos danos cometidos contra o meio ambiente e fornecer laudos periciais para que as punições fossem adequadamente aplicadas. A atividade foi regulamentada pelo Código de Processo Civil, nos Artigos 420 a 439 e é permitida às pessoas que tenham qualquer formação em curso de nível superior, sendo necessária a inscrição em fórum localizado na região onde almeja trabalhar. A escolha será feita pelo respectivo juiz titular. Apesar disso, a formação mais indicada para a carreira é a graduação em Engenharia Ambiental, pois através de suas matrizes curriculares o curso aborda a legislação pertinente juntamente com as competências técnicas relacionadas à gestão e às tecnologias ambientais. Além dessa opção, existem cursos técnicos e também especializações e mestrados voltados à área ambiental (OLIVEIRA, 2010). A atuação do perito é feita após o crime ambiental ser denunciado ou flagrado. A perícia é realizada com aplicação da ciência e após profunda investigação dos fatos, buscando detectar suas causas e consequências para o ambiente. Caso seja necessário, o profissional pode solicitar o apoio de uma equipe multidisciplinar para dar suporte em casos que apresentem detalhes extremamente técnicos, já que as questões ambientais envolvem várias áreas do conhecimento humano. 7 As atividades do perito ambiental podem ser realizadas com flexibilidade de horário, conforme seu planejamento. Suas tarefas incluem as etapas envolvidas na pesquisa de campo e a produção de um documento descritivo e analítico, o laudo pericial. Esse documento, extremamente importante, é considerado como prova e fator decisivo para as decisões de julgamento. Para executar um bom laudo é preciso que o perito seja imparcial, não tendo nenhum parentesco ou ligação com as partes envolvidas. Ter uma postura ética e observadora também é imprescindível. O mercado de trabalho disponível é promissor e o profissional pode prestar concursos públicos para ingressar na Polícia ou no Ministério Público. Pode ministrar aulas em cursos correlatos de nível superior, ser consultor técnico ou científico em empresas de meio ambiente e também atuar em ações cíveis, trabalhistas e afins (OLIVEIRA, 2010). 1.3 Assistente Técnico Fonte: www.oquevocefezpeloplanetahoje.com.br/ Quando o perito possui a habilitação profissional na área, porém não domina determinado segmento dela. Por exemplo, o perito é engenheiro civil, mas não domina o cálculo estrutural de concreto armado. Ele, então, contrata um expert no assunto, 8 como é o caso de se contratar um professor universitário titular de uma disciplina nesse segmento. O professor contratado pode ajudar e ensinar o perito, inclusive no sentido de elaborar um relatório para ser anexado pelo perito ao seu laudo. Ocorre muito de a empresa envolvida em um processo judicial indicar um profissional terceirizado como assistente técnico e colocar à disposição desse um ou mais de seus funcionários ligados ao tema da perícia que transcorre. 1.3.1 Parecer técnico O parecer técnico é considerado pelo CPC o relatório do assistente técnico. Na verdade, laudo, parecer técnico e relatório, todos são trabalhos escritos por experts que constituirão provas, comprovações ou diagnósticos em ambientes judiciais ou extrajudiciais. A Lei que regulamenta os processos cíveis na Justiça Estadual e na Justiça Federal é o Código de Processo Civil – CPC. Já na Justiça do Trabalho, a Lei que regulamenta as reclamatórias trabalhistas é a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. Essa última estabelece que o relatório escrito pelo assistente técnico da parte é denominado laudo. E, para constar, nela o relatório do perito também é chamado de laudo. 9 2 LAUDO PERICIAL Fonte: meioambiente.culturamix.com Deve-se ressaltar que habitualmente em relação às atribuições para realizar perícias ambientais, os Órgãos Executores, Fiscalizadores, Normativos e Deliberativos (IBAMA, IEF, IGAM, FEAM, Polícia Ambiental, etc.) não podem atuar como Peritos nos crimes afetos à sua Fiscalização. A esses cabe criar políticas e diretrizes governamentais e fiscalizar os atos de autuação por infração com descrição precisa do fato delituoso. Tais Órgãos jamais devem fazer o levantamento e o exame do local, nem a emissão do Laudo Pericial, como acontece comumente nos casos de crimes ambientais. Os técnicos dos Órgãos Ambientais estão constantemente realizando relatórios para instrução de processo, tendo em vista que até o nome de “Laudo Pericial” não pode ser dado aos seus trabalhos, uma vez que este é restrito ao trabalho do Perito e/ou Assistente Técnico; estas “categorias“ de profissionais que estão realizando trabalhos periciais. A Perícia Ambiental tem como objetivo determinar a causa, a origem do Dano, Impacto e/ou Passivo Ambiental, se o mesmo foi ou não ato criminoso, se há risco à vida (como um todo/dentro do princípio de sustentabilidade), se houve falhas no sistema de proteção e operação do (s) Objeto (s) periciado (s). Dessa forma, o Laudo 10 Pericial é uma modalidade de Auditoria Ambiental, tornando-se um instrumento de vigilância e regulamentação do contexto da Gestão Ambiental. 2.1 Tipos de perícia: judicial, extrajudicial e arbitral 2.1.1 Perícia judicial O termo perícia judicial já induz ao pensamento de que esta é realizada sob a “proteção” do Poder Judiciário, portanto, revestida de todo o aparato legal, com regras e leis específicas. Nessa espécie de perícia, o juiz seráassistido por um profissional denominado de perito, conforme assegura o artigo 145 do Código de Processo Civil, citado a seguir: Art. 145 Quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico, o juiz será assistido por perito, segundo o disposto no art. 421. §1.º Os peritos serão escolhidos entre profissionais de nível universitário, devidamente inscritos no órgão de classe competente, respeitado o disposto no Capítulo Vl, seção Vll, deste Código. §2.º Os peritos comprovarão sua especialidade na matéria sobre que deverão opinar, mediante certidão do órgão profissional em que estiverem inscritos. §3.º Nas localidades onde não houver profissionais qualificados que preencham os requisitos dos parágrafos anteriores, a indicação dos peritos será de livre escolha do juiz. Essa espécie de perícia tem importância fundamental no processo judicial, pois possui duas finalidades muito importantes, que são: servir como meio de prova ou de arbitramento. 2.1.2 Perícia extrajudicial Essa espécie de perícia diferencia-se das demais, pois está totalmente fora do Poder Judiciário (pois se estivesse nesse meio seria uma perícia judicial), e tampouco se processa sob jurisdições protegidas pelo Estado ou Município (o que nesse caso seria uma perícia semijudicial). 11 Na perícia extrajudicial, o que prevalece é a vontade legítima das partes na solução de controvérsias, em que as partes envolvidas não têm a capacitação técnica para tomar uma decisão de forma isolada, pois carecem de conhecimentos específicos, buscando um profissional competente que os auxilie. Na perícia extrajudicial há subdivisões em conformidade com a finalidade para as quais são contratadas, sendo classificadas em: demonstrativas, discriminativas e comprobatórias. Serão demonstrativas quando a finalidade é demonstrar, de forma insofismável (indiscutível), a veracidade, ou não, do objeto da perícia contratada, utilizando-se o perito de toda a técnica requerida para que não reste dúvida às partes sobre o que foi periciado. As discriminativas são voltadas para o detalhamento do objeto periciado, de forma a colocar para os interessados a pormenorização dos fatos constatados, para que os envolvidos possam ter conforto e segurança na tomada da melhor decisão que motivou o trabalho. Por fim, as comprobatórias terão a finalidade de comprovar, através de fatos e registros contábeis, eventuais distorções, erros, simulações, fraudes, ou qualquer situação que fuja à normalidade das transações ocorridas sobre o objeto periciado. 2.1.3 Perícia arbitral A perícia arbitral funciona como um mix entre a perícia judicial e a extrajudicial, portanto não se enquadra diretamente em nenhuma das demais espécies estudadas anteriormente. A perícia arbitral é voltada para aquelas situações em que o desejo das partes envolvidas é pela rapidez, segurança e credibilidade para a conclusão e o desfecho do litígio, com o rigor muito próximo àquele que seria obtido no Poder Judiciário. A arbitragem no Brasil foi normatizada pela Lei 9.307 de 23 de setembro de 1996, na qual institucionalizou no sistema brasileiro o juízo arbitral como a instância adequada para resolver conflitos com maior rapidez e segurança. 12 2.2 Esfera judicial e extrajudicial Fonte: i0.wp.com PERÍCIA JUDICIAL: Tem seu fundamento numa ação postulada em Juízo, podendo ser determinada diretamente pelo juiz dirigente do processo ou a ele requerida pelas partes em litígio. PERÍCIA EXTRAJUDICIAL: Livremente contratada entre as partes em pré- litígio. “PERÍCIA é a verificação de fatos ligados ao patrimônio individualizado visando oferecer opinião, mediante questão proposta. Para tal opinião realizam-se exames, vistorias, indagações, investigações, avaliações, arbitramentos, em suma, todo e qualquer procedimento necessário à opinião”. Da perícia Judicial a principal fonte legal que rege as perícias judiciais, é o Código de Processo Civil na Justiça, havendo ainda a Lei de Falência ou recuperação judicial, a legislação trabalhista e outras leis especificas que tratam do assunto. 13 2.3 Tipos de quesito – Cálculo de honorários O site do Conselho Federal de Administração1 – CFA divulga a tabela de honorários mínimos de perícias judiciais para o perito administrador. Os honorários do perito judicial variam de acordo com o valor que está sendo discutido, as características do processo e o número de horas trabalhadas. Para se obter retorno na atividade de perito judicial e sentir o quanto é compensadora, demora um certo período, pois há um espaço de tempo grande entre o início da atividade e o recebimento efetivo dos honorários. Por outro lado, no começo pode não haver muitas nomeações e a frequência não ser a adequada. Assim, a atividade é interessante para quem já possui outra que mantenha o profissional até que os resultados dos honorários com as perícias cheguem a um patamar esperado. O perito que souber a burocracia e as possibilidades de fazer propostas de honorários, se sairá muito bem. Os honorários sugeridos são mínimos, e a FENAD lembra que honorário é livre para cada perito administrador, dependendo de sua experiência, atividade e da perícia judicial prestada, devendo, no entanto, ser atendida a referida planilha como parâmetro para evitar-se o aviltamento entre os próprios administradores. A tabela dos honorários do perito administrador tem 03 modalidades de apresentação de honorários em perícias judiciais: – Honorários considerando o tipo de perícia a ser realizado – Honorários considerando o número de horas a serem trabalhados na perícia – Honorários considerando o valor da discussão no processo (valor da causa) ou o valor envolvido na perícia. Existem três tipos de Justiça onde podemos trabalhar como perito: a Justiça Estadual e Federal, ambas com idêntico tratamento no que se refere ao tópico honorários; e a Justiça do Trabalho, onde o tema é tratado de forma um tanto diferente. Na Justiça Estadual e Federal, a possibilidade de aplicação do artigo 33, parágrafo único, do Código de Processo Civil – CPC garante ao perito judicial o depósito integral de seus honorários no processo para o qual é realizada a perícia, 1 Site do conselho: http://www2.cfa.org.br/administrador/destaques/conteudo-1/salario-e- honorarios 14 antes de ela ser iniciada. Ou seja, o perito só começa a trabalhar depois que seus honorários estão depositados. Depois de entregue o laudo pericial, ele recebe seus honorários, depositados na conta judicial que o processo possui. Para o perito receber honorários dessa forma, ele deve saber agir frente ao tópico honorários como um todo, sob pena de, sem saber de todas as suas nuances, o sucesso na atividade possa estar comprometido. Para tanto, é sugerido o livro Manual de Perícias ou o curso a distância Perícia Judicial Online, àqueles que não têm possibilidades de fazer um curso presencial. Na Justiça do Trabalho, o perito recebe os honorários no final do processo, e serão pagos pela parte perdedora. Os honorários do perito judicial parecem ser tabelados na Justiça do Trabalho. Um juiz do trabalho, em sua jurisdição, costuma praticar o mesmo valor de honorários para todas as perícias. Isso acontece em razão de haver uma grande quantidade de perícias do mesmo tipo, praticamente idênticas, com pequeno volume de trabalho a ser realizado pelo perito, proporcionando, assim, o tabelamento dos honorários pelo juiz. O perito propõe honorários profissionais através de uma petição, a qual é anexada ao processo. No livro Manual de Perícias, nos cursos presenciais e no curso a distância Perícia Judicial Online, constam diversos modelos de petição (requerimento) de proposta de honorários de perito judicial, inclusive requerendo adiantamento de honorários. Nesse caso, o perito começasua atividade já com parte dos honorários em seu bolso. Uma das finalidades do recebimento de uma quantia adiantada é o pagamento de serviços terceirizados ou de despesas necessárias à realização da perícia. A outra finalidade é o perito receber um valor para sustentá-lo durante um trabalho que dure, por exemplo, mais de um mês. A quantia a ser requerida, em geral, é de 50% do valor total de honorários que o perito propôs; porém pode chegar a 60%, ou mais, nos casos em que os custos com terceiros sejam elevados. As despesas da perícia judicial devem estar declaradas na petição de proposta de honorários do perito. O perito deve pagar despesas com terceiros através do montante recebido como adiantamento de honorários, de equipe de topografia, de exames de laboratórios, de equipe de cálculos, viagens, plantas etc. 15 Os consultores do perito também são pagos com a verba adiantada. Quando o perito realiza uma perícia que, além do conhecimento de sua formação de nível superior, é necessário outra ou outras, é obrigado a contratar um ou mais consultores para fornecer o saber necessário. Dessa maneira, o consultor pode fornecer um laudo ao perito, o qual poderá ser anexado pelo último ao seu próprio laudo. No corpo dele, nas respostas aos quesitos e na conclusão, o perito trata do objeto da perícia, citando o laudo do consultor. Assim, o perito estará mais bem fundamentado, além de ficar garantido quanto à habilitação ou às habilitações que não possui. Convém que a petição (requerimento) de proposta de honorários do perito judicial não tenha um formato amador e que mostre a falta de familiaridade do perito com a importante função que está desempenhando. No seu início, a petição deve conter os dados gerais de qualificação do perito e os dados do processo; antes deles, há um campo largo na folha, em branco, destinado ao despacho do juiz. Quando a parte não possui condições econômicas, as despesas do processo serão pagas pelo tribunal, através da AJG – Assistência Judiciária Gratuita. Se a parte pagadora dos honorários do perito for agraciada com a AJG, estes serão pagos também pelo tribunal. 2.3.1 Quesito Determinada a realização do exame, a autoridade policial ou judiciária e as partes podem formular quesitos, ou seja, perguntas pertinentes à perícia e que versem sobre pontos a serem esclarecidos. Tais quesitos podem ser formulados até o ato da diligência, consequentemente não podem ser propostos durante sua realização. Cabe o oferecimento tempestivo de quesitos em qualquer espécie de perícia. Quesitos são os elaborados pelas partes para obtiverem respostas, esclarecimentos sobre o laudo pericial. Isto é, a parte requer ao juiz que mande intimar o perito e o assistente técnico para comparecerem à audiência, formulando desde logo as perguntas, sob forma de quesitos. Compete ao juiz indeferir quesitos impertinentes e formular os que entender necessários ao esclarecimento da causa. Segue o link com modelos de quesitos para formulação do laudo de perícia ambiental: http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/9/docs/quesitos_para_pericia_ambiental.pdf. 16 2.4 Procedimentos Técnicos Fonte: www.gazetadopovo.com.br 1) Leitura completa e criteriosa dos autos do processo É nesse momento inicial que o perito toma consciência do processo, o qual foi solicitado para elaboração de laudo pericial. Possibilita o profissional estruturar as ações já realizadas no processo, a fim de embasar melhor as suas decisões enquanto perito. Essa ação é relevante como forma de preparar a vistoria, ou seja, a análise da quesitação. Junto a esse procedimento, é dever do perito identificar os Assistentes Técnicos das partes para solicitação de informações, documentos, projetos e para marcar data e hora da vistoria ao local da lide. 2) Levantamentos preliminares Nesta fase, o perito busca os instrumentos legais (urbanística / ambiental / específica) a respeito da temática a ser trabalhada no laudo pericial e consequentemente enquadrar ou não a atividade ou o dano decorrente da mesma dentro de padrões legais. 3) Vistoria do Local (Trabalho de Campo) 17 Pode-se dizer que esta etapa é a mais, ou melhor, uma das mais importantes no momento da elaboração de um laudo de cunho pericial ambiental. Isto porque, a partir da ida até o local de conflito (dano ambiental ocorrido ou em risco de ocorrência) é possível fazer um diagnóstico mais aprofundado, bem como comprovar as informações (documentação cartográfica, imagens de satélite, fotografias aéreas) analisadas na fase dos levantamentos preliminares. Alguns procedimentos devem ser adotados, de acordo com alguns autores a) Caracterização da área do entorno b) Descrição das atividades desenvolvidas c) Estimativa do número de pessoas direta ou indiretamente atingidas pelo dano d) Registro fotográfico e) Observação detalhadas dos aspectos fisiográficos da área f) Constatação de evidências de conflitos ambientais g) Análise dos aspectos socioeconômicos h) Aplicação de questionários 4) Elaboração do Laudo Pericial Para esse momento, o perito une todos os materiais constantes das fases anteriores e busca redigir, reproduzir os anexos e montar o laudo. A elaboração final do laudo pericial inicia-se com a leitura e análise: _ Documentação técnica disponível; _ Interpretação cartográfica, topográfica, aerofotogramétrica e imagens de satélite; _ Cruzamento dos resultados de campo, laboratório e escritório; Por fim procede-se a redação, digitação, reprodução dos anexos e montagem do laudo (SANTOS, 2010). 2.5 A Legislação Motivadora dos Laudos Lei de Crimes Ambientais (9.605/98) – Diversos artigos prevendo a necessidade da Perícia. • Artigo 17 – “A verificação da reparação a que se refere o parágrafo 2.º do artigo 78 do Código Penal será feita mediante laudo de reparação do dano 18 ambiental e, as condições a serem impostas pelo juiz, deverão relacionar-se com a proteção do meio ambiente”. • Artigo 19 – “A perícia de constatação do dano, sempre que possível, fixará o montante do prejuízo causado para efeitos de prestação de fiança e cálculo de multa”. Parágrafo Único – “A perícia produzida no inquérito civil ou no juízo cível poderá ser aproveitada no inquérito criminal, instaurando-se o contraditório”. • Artigo 20 – “A sentença penal condenatória, sempre que possível, fixará o valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando. Art. 27 – Lei 9.605/98 – “Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de aplicação imediata da pena restritiva de direito ou multa, prevista no artigo 76 da Lei n.º 9.099/95, somente poderá ser formulada, desde que tenha havido a prévia composição do dano ambiental, salvo em caso de comprovada impossibilidade”. Art. 28 incisos. I – “... A declaração de extinção de punibilidade... dependerá de laudo de constatação de reparação do dano ambiental, ressalvada a impossibilidade...”. Inciso II – prorrogação do prazo de suspensão do processo, com a não reparação (laudo de constatação). Inciso IV – (novo laudo). Inciso V – esgotamento do prazo (necessário laudo que comprove todas providências de reparação pelo autor). 2.6 A perícia ambiental e a tutela jurídica do meio ambiente A legislação ambiental brasileira, pioneira na matéria, é considerada hoje como um dos mais completos instrumentos de proteção ao meio ambiente, servindo de referência a diversos países, em que pese as falhas que carrega. A positivação de direitos ligados à preservação do meio ambiente fomentou, na mesma proporção, mecanismos judiciais de tutela de tais direitos, desde aqueles de responsabilidade civil por danos ambientais (indenização), como de prevenção de danos e de 19 responsabilidade penal, o que passou a exigir especial atenção na atuação das partes em juízo (MATTEI, 2006). Na sequênciaaos avanços nos antigos Códigos Florestal e de Águas, entre outros instrumentos legais até então vigentes, a Lei n° 6.938 de 1981 inovou ao instituir uma Política Nacional do Meio Ambiente, visando assegurar condições ao desenvolvimento socioeconômico, à segurança nacional e à proteção da dignidade humana numa perspectiva de preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental. Esta Lei criou também o Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA, constituído de diversos órgãos com competências distribuídas no âmbito federal, estadual e municipal, incumbido da implantação, controle e fiscalização da consecução dessa política de desenvolvimento econômico-ambiental. A Constituição Federal de 1988, por sua vez, fixou o controle de qualidade ambiental de forma definitiva no País, ao conferir grau constitucional ao direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, cujo dever de defesa e preservação foi estendido a toda coletividade (Artigo 225, CF). A previsão constitucional deu novo significado à legitimidade do Ministério Público, dada pela Lei 6.938/81, e à própria Ação Civil Pública já prevista na Lei 7.347/85, que se tornaram importantes instrumentos desse direito/dever de todos os brasileiros de proteção da qualidade ambiental (MATTEI, 2006). A tutela legal do meio ambiente alargou-se, ainda, com a edição da chamada Lei dos Crimes Ambientais, Lei n° 9605/98, que descreve condutas potencialmente lesivas ao meio ambiente para as quais prevê duras sanções, tanto em âmbito administrativo quanto penal. Ante tão vasto aparato legislativo de proteção ambiental, a efetivação dos direitos surge por meio de diversas formas de tutela judicial, em demandas individuais ou coletivas. Em todas elas, especialmente no âmbito civil, o princípio poluidor- pagador guia as decisões judiciais, no sentido de que em se constatando o dano ambiental e a exploração de uma atividade potencialmente (em menor ou maior grau) poluidora, o explorador dessa atividade deverá ser responsabilizado - a reparar ou indenizar – pelo dano. Constitui-se, em suma, na aplicação em matéria ambiental (cível, especialmente) da teoria da responsabilidade objetiva, pela qual o explorador da atividade potencialmente poluidora responderá pelos danos causados independentemente da comprovação de culpa (MATTEI, 2006). 20 Neste contexto, a constatação do dano e a sua dimensão tornam-se determinantes para a solução da lide, o que, via de regra, deverá ser apurado por meio de perícia ambiental. Trata-se de meio de prova disciplinada pelos Artigos 420 a 439 do Código de Processo Civil, aplicáveis também às lides de Direito Ambiental, em que o juiz nomeia pessoa de sua confiança e com conhecimento técnico suficiente para averiguar a veracidade de fatos e, no mais das vezes, quantificar as consequências dos mesmos, através de avaliação da área afetada com a realização de diversos testes de qualidade ambiental. O perito judicial é nomeado conforme a confiança que lhe deposita o juiz e não pode ter qualquer interesse no sucesso na lide de uma ou outra parte, isto é, deve ser imparcial. As partes, de outro lado, têm a faculdade de indicar o seu assistente técnico, o qual irá acompanhar o trabalho do perito, colaborando dentro das faculdades conferidas pela lei. Note-se que não há suspeição ou impedimento em relação aos assistentes técnicos, ficando sua escolha unicamente sujeita à própria parte no processo. Por esta razão, para que os argumentos e conclusões defendidos pelo assistente técnico sejam considerados pelo juiz ao formar convencimento, isto é, no julgamento da causa, é essencial que também estes demonstrem a mesma competência técnica e idoneidade de que gozam os peritos nomeados pelo julgador (MATTEI, 2006). Na perícia ambiental, como já mencionado, de forma geral, devem ser apurados e quantificados todos os danos causados ao meio ambiente, tais como ao solo, aos lençóis freáticos, à fauna, à flora, à paisagem, à saúde, à cultura, entre outros. A amplitude dessa avaliação demanda conhecimento técnico em áreas diversas, difícil de ser alcançada por um único profissional. A complexidade da perícia ambiental exige, portanto, uma atuação multidisciplinar, o que a diferencia da tradicional perícia judicial. Vale acrescentar que a própria Lei dos Crimes Ambientais determina, em seu artigo 19, a utilização de perícia para a constatação do dano ambiental e, sempre que possível, a quantificação dos prejuízos inclusive para fins de prestação de fiança e cálculo de multa a ser imposta ao infrator. Neste contexto, é lícito ao perito judicial, e praticamente essencial ao expert ambiental em juízo, contar com uma equipe auxiliar com conhecimento profundo em várias áreas distintas, a fim de que cada espécie de dano seja analisada por 21 profissional tecnicamente habilitado, aproximando o máximo possível o laudo pericial da verdade dos fatos. O perito nomeado será responsabilizado pela qualidade do trabalho apresentado, na medida em que lhe é facultado, para não dizer devido, convocar outros profissionais, de sua confiança, para auxiliar na realização da perícia. A qualidade do trabalho dos assistentes técnicos e, por conseguinte, o grau de influência de sua atuação no resultado do litígio parecem depender também de um trabalho multidisciplinar. Possivelmente, se a complexidade da causa demandar a presença de um perito liderando uma equipe de áreas diversas, um mesmo trabalho em equipe será exigido aos assistentes técnicos, já que a falta de conhecimento em área específica por que transita a perícia pode mesmo determinar uma atuação aquém da esperada dos auxiliares das partes (MATTEI, 2006). Em que pese o julgador não estar vinculado ou adstrito ao laudo pericial, não há dúvida de que as conclusões obtidas pelo expert são na maioria dos casos as principais bases para a formação do seu convencimento. Pela riqueza do trabalho e sua extensão, tendo em vista as muitas áreas pelas quais perpassa a perícia ambiental, e sobre as quais os demais participantes da lide não possuem conhecimento técnico suficiente, resulta sendo o laudo pericial a principal prova para fundamentar as decisões judiciais, tanto quanto à extensão ou à quantificação dos danos, ou mesmo ambas. Assim, o papel do perito ambiental e dos assistentes técnicos ganha notável importância na atualidade, já que são responsáveis por reproduzir com a maior fidelidade possível os fatos da lide, em teses prejudiciais ao ambiente, de forma a permitir a fixação do melhor plano de recuperação da área degradada, inclusive para quantificação de indenização, se for o caso. Com efeito, um bom trabalho de perícia ambiental pode indicar um plano de reparação de danos muito mais eficiente do que a tradicional indenização pecuniária, como, por exemplo, a reposição das espécies atingidas, comumente utilizada em se tratando de pequenas áreas de vegetação não- nativa. Para tanto, há necessidade de profundo conhecimento técnico, que por sua especificidade nem sempre é alcançado pelo julgador da causa. A atuação de profissionais capacitados, especialmente auxiliados por uma equipe multidisciplinar, traz ao processo, enfim, uma maior garantia de correção e justiça nas decisões. Mesmo ante às exigências impostas pelos mecanismos legais e judiciais de proteção ao meio ambiente, não se pode olvidar que, ao fim e ao cabo, o que se busca 22 é o desenvolvimento econômico e social, sem que isto resulte em perda de qualidade ambiental. Sob este prisma, a adoção de todo e qualquer mecanismo de prevenção de danos deve ser estimulada e preferida a mecanismos de reparação. E a atuação de equipes multidisciplinares tecnicamente preparadas, seja através de serviços de consultoria, seja pela realização de perícias preventivas e extrajudiciais, deve ser levada em consideração pelos exploradores de atividades potencialmentepoluidoras, até mesmo como forma de evitar litígios judiciais futuros (MATTEI, 2006). 3 DANOS AMBIENTAIS Fonte: ogimg.infoglobo.com.br/ O dano ambiental pode tanto afetar o interesse da coletividade quanto seus efeitos podem ter reflexo na esfera individual, o que autoriza o indivíduo a exigir a reparação do dano, seja ela patrimonial ou extrapatrimonial. As atividades que os homens desenvolvem provocam impactos negativos ou positivos no meio ambiente, por conseguinte, podem ser fontes de perturbações toleráveis ou não. Nem todo dano ecológico pode ser reparado, porque (regra geral) esses são irreparáveis e infungíveis. Os danos ambientais são de difícil reparação, especialmente em razão de 23 suas características que dificilmente são encontradas nos danos não ecológicos. Apresentam, portanto, as seguintes especificidades: os danos ao meio ambiente são irreversíveis; a poluição tem efeitos cumulativos; os efeitos dos danos ecológicos podem manifestar-se além das proximidades vizinhas; são danos coletivos e difusos em sua manifestação e no estabelecimento do nexo de causalidade; têm repercussão direta nos direitos coletivos e indiretamente nos individuais. É justamente em razão deste fato, que se prioriza a prevenção dos danos ambientais, porque se há possibilidade de serem quantificados os custos do dano ecológico, dificilmente se conseguirá restituí-lo ao estado primitivo (SILVA, 2015). Classifica os crimes ambientais como: Crimes contra fauna; Poluição hídrica; Poluição sonora; Poluição do ar; Poluição do solo: Crimes contra ordenamento urbano e patrimônio cultural. Os crimes contra fauna são aqueles que constituem-se em: a) Comércio ilegal: venda, exposição à venda, aquisição, guarda, transporte, exportação de espécimes vivos ou abatidos, ovos, filhotes, larvas. Podem fazer parte do comercio ilegal nacional e internacional, além de animais domésticos, os silvestres provenientes de criadouros comerciais, jardins zoológicos e comerciantes legalizados; b) Maus tratos: a crueldade contra animais pode ser praticada por ação ou omissão voluntaria, negligência, imperícia ou imprudência. A crueldade intencional inclui torturas, espancamentos e mutilações com possibilidade de utilização de instrumentos perfurantes, cortantes e contundentes, substancias químicas, toxicas ou escaldantes, choques elétricos e fogo; c) Caça: a captura ilegal de animais silvestres para alimentação, estimação e ornamentação são responsáveis pela extinção de populações faunísticas locais; e d) Pesca proibida: é proibida a captura de pescado em quantidades superiores as legais, de espécies protegidas, com tamanhos inferiores aos permitidos, em período de defeso ou piracema, em lugares interditados, com a utilização de aparatos e métodos ilícitos. Os crimes contra flora são o desmatamento, que implica na descontinuidade da distribuição da vegetação original, reduz o habitat disponível aos organismos silvestres e acrescenta bordas a uma paisagem até então continua. Isso resulta em mudanças na distribuição e abundância dos organismos, afetando a demografia e a genética das populações e consequentemente a biodiversidade. Outro problema sério, que provoca a destruição do verde, são as queimadas e incêndios florestais. Muitos deles ocorrem por motivos econômicos. Proibidos de 24 queimar matas protegidas por lei, muitos fazendeiros provocam estes incêndios para ampliar as áreas abrindo estradas para os motoristas. Bombeiros afirmam que muitos incêndios têm como causa inicial as pontas de cigarros jogadas nas beiradas das rodovias (SILVA, 2015). Referente à poluição hídrica, as fontes de poluição das águas podem ser agrupadas em poluição natural, poluição causada por esgotos domésticos, poluição causada por efluentes industriais, poluição causada por drenagem de áreas agrícolas e urbanas. Sendo a poluição natural o arraste pelas águas da chuva, de partículas orgânicas e inorgânicas do solo, de resíduos de animais silvestres e de folhas e galhos de arvores; a poluição produzida por esgotos tratados ou não, que alteram as características da água quando lançados nela; a poluição produzida por efluentes industriais que dependendo da natureza da indústria os efluentes podem conter elevadas concentrações de produtos cancerígenos, teratogênicos, mutagênicos e microrganismos patogênicos; e a poluição causada por drenagem de áreas agrícolas e urbanas, na qual os materiais acumulados em valas e bueiros são arrastados pelas águas pluviais constituindo uma fonte de poluição enorme. O deflúvio superficial agrícola depende das práticas utilizadas na região. A poluição sonora não é, ao contrário do que pode parecer numa primeira análise, um mero problema de desconforto acústico. O ruído passou a constituir atualmente um dos principais problemas ambientais dos grandes centros urbanos e, eminentemente, uma preocupação com a saúde pública. Trata-se de fato comprovado pela ciência médica os malefícios que os barulhos causam à saúde. Os ruídos excessivos provocam perturbação da saúde mental. Poluição sonora ofende o meio ambiente e, consequentemente afeta o interesse difuso e coletivo, à medida que os níveis excessivos de sons e ruídos causam deterioração na qualidade de vida, na relação entre as pessoas, sobretudo quando acima dos limites suportáveis pelo ouvido humano ou prejudiciais ao repouso noturno e ao sossego público, em especial nos grandes centros urbanos. Os especialistas da área da saúde auditiva informam que ficar surdo é só uma das consequências. Os ruídos são responsáveis por inúmeros outros problemas como a redução da capacidade de comunicação e de memorização, perda ou diminuição da 25 SILVA, S.B. audição e do sono, envelhecimento prematuro, distúrbios neurológicos, cardíacos, circulatórios e gástricos. Muitas de suas consequências perniciosas são produzidas inclusive, de modo sorrateiro, sem que a própria vítima se dê conta. O resultado mais traiçoeiro ocorre em níveis moderados de ruído, porque lentamente vão causando estresse, distúrbios físicos, mentais e psicológicos, insônia e problemas auditivos. Além disso, sintomas secundários aparecem: aumento da pressão arterial, paralisação do estômago e intestino, má irrigação da pele e até mesmo impotência sexual. A poluição do ar normalmente tem como causa a queima de campos e florestas, as instalações de incineração, a fumaça, o vapor e o gás poluem o ar mediante a emissão de gases de poluentes, entre os quais os mais perigosos são oxido de enxofre, monóxido de carbono, fluoreto de hidrogênio, e cloreto de hidrogênio. A polução do ar podem ter causas naturais como a erupção vulcânica, decomposição de vegetais e animais, ação eólica lançando poeira no ar, ação biológica de microrganismos no solo, formação metano nos pântanos, aerossóis marinhos, incêndios, descargas elétricas; e causas antropogênicas devido as operações industriais, queima de combustível, queima de lixo, incineração, poeira fugitiva, limpeza de roupas a seco, poeiras de demolição civil, produtos químicos voláteis, pinturas em geral, equipamentos de refrigeração (SILVA, 2015). Poluição do solo e do subsolo consiste na deposição, disposição, descarga, infiltração, acumulação, injeção ou enterramento no solo ou no subsolo de substâncias ou produtos poluentes, em estado sólido, líquido ou gasoso. Dentre o meio de poluição do solo. Destacam a infiltração do chorume proveniente de aterros sanitários e lixões; insumos agrícolas como corretivos, fertilizantes e agrotóxicos; solventes, tintas e metais pesados derivados de indústrias; necrochorume de cadáveres em cemitério; derramamento de combustíveis e lubrificantes nos postos de combustíveis; vazamentos causados por desastres no transporte de produtos químicos em rodovias; urina e fezes de animais domésticos nas praças, praias; depósitos de rejeitosquímicos industriais e de mineradoras; irrigação de áreas agrícolas com água salobra, causando a salinização do solo; chuva ácida que modifica o pH do solo; e lodo de esgoto, geralmente contendo metais pesados, provenientes das estações de tratamento de efluentes. 26 Destacam-se ainda os crimes contra ordenamento urbano e patrimônio cultural, como edificação em área de preservação permanente se configura numa infração praticada nos centros urbanos. O parcelamento ou desmembramento de áreas enquadradas como Zonas de Preservação Ambiental (ZPA’S) afronta a lei 6.766/79 que diz que somente será admitido parcelamento do solo para fins urbanos em zonas urbanas, de expansão urbana ou urbanização Perícia Ambiental: Definições, Danos e Crimes Ambientais especifica, assim definidas pelo plano diretor e aprovadas por lei municipal (SILVA, 2015). 4 MÉTODOS E TÉCNICAS APLICÁVEIS NA PERÍCIA AMBIENTAL Os métodos e técnicas que serão aplicados em uma Perícia Ambiental são definidos e aplicados no âmbito da vistoria, de acordo com o objeto de estudo do caso, e estão englobados nos procedimentos técnicos que o Perito Ambiental deve seguir para a execução da Perícia. Exemplos de métodos e técnicas aplicáveis na execução de Perícias Ambientais: a. Medições e coleta de amostras para análise; b. Utilização de GPS para marcar pontos relevantes; c. Registro fotográfico e entrevistas; d. Confecção de croquis, por exemplo, croqui de localização da área, croqui de identificação de áreas direta e indiretamente afetadas, croqui demonstrando locais de coletas de amostras. O meio ambiente engloba os meios físico, químico e biológico. Assim, problemas ambientais podem afetar um ou mais meios, por exemplo, um aspecto de uma atividade pode causar poluição no ar, na água, no solo e prejudicar a fauna e flora local. Então, quando o Perito recebe o caso a ser estudado, ele precisa levantar quais foram os meios direta e indiretamente afetados por aquele problema e identificar os métodos que irá usar para quantificar a poluição e/ou contaminação. A grande maioria das Perícias Ambientais no Brasil está relacionada à água, ao lançamento de efluentes líquidos e à poluição de mananciais superficiais e subterrâneos pela disposição inadequada de resíduos sólidos. É importante frisar que 27 como cada caso de Perícia Ambiental é diferente, cada Perícia irá envolver o levantamento dos métodos adequados ao estudo da mesma, o que pode ser facilmente realizado através de livros técnicos da área ou, até mesmo, através de consulta à legislação específica. 5 IMPACTOS E PASSIVOS AMBIENTAIS Fonte: blog.chicomaia.com.br/ Podem ser definidos como as obrigações de curto e longo prazo que as empresas assumem a fim de promover o melhoramento ambiental. Investimentos em ações para amenização ou extinção de danos causados pela produção e os processos relacionados. São consideradas, ainda, as dívidas contraídas para a preservação do meio ambiente, sejam novas ou antigas. Multas e indenizações também se encaixam nessa categoria (KRAEMER, 2003). Apesar de normalmente ter uma conotação negativa, os passivos ambientais podem ser decorrentes de atitudes positivas da empresa, como a contratação de pessoas para gerir um projeto ambiental ou o financiamento de maquinário, por 28 exemplo. São exemplos de passivos ambientais, os gastos da Petrobrás quando há vazamentos de óleo, como ocorreu em Cubatão em 1980 e na Baía de Guanabara em 2000. O passivo ambiental representa os danos causados ao meio ambiente, representando, assim, a obrigação, a responsabilidade social da empresa com aspectos ambientais. Uma empresa tem Passivo Ambiental quando ela agride, de algum modo e/ou ação, o meio ambiente, e não dispõe de nenhum projeto para sua recuperação, aprovado oficialmente ou de sua própria decisão. Passivo Ambiental representa toda e qualquer obrigação de curto e longo prazo, destinadas única e exclusivamente a promover investimentos em prol de ações relacionadas à extinção ou amenização dos danos causados ao meio ambiente, inclusive percentual do lucro do exercício, com destinação compulsória, direcionado a investimentos na área ambiental (KRAEMER, 2003). No Brasil, as regras contábeis, a literatura que envolve o Passivo Ambiental ainda é recente. Certas empresas têm atividades complexas dificultando o tratamento a ser dado no registro e na divulgação dos passivos ambientais. Os passivos ambientais normalmente são contingências formadas em longo período, sendo despercebido às vezes pela administração da própria empresa, envolvendo conhecimento específico. Neste caso, não só a administração da empresa se envolve, nem a contabilidade, mas também advogados, juristas, engenheiros, etc. Normalmente, o surgimento dos passivos ambientais dá-se pelo uso de uma área, lago, rio, mar e uma série de espaços que compõem nosso meio ambiente, inclusive o ar que respiramos, e de alguma forma estão sendo prejudicados, ou ainda pelo processo de geração de resíduos ou lixos industriais, de difícil eliminação. Ficaram amplamente conhecidos pela sua conotação mais negativa, ou seja, as empresas que o possuem agrediram significativamente o meio ambiente e, dessa forma, têm que pagar vultosas quantias a título de indenização de terceiros, de multas e para a recuperação de áreas danificadas (KRAEMER, 2003). Deve-se ressaltar que os passivos ambientais, não têm origem apenas em fatos de conotação tão negativa. Eles podem ser originários de atitudes ambientalmente responsáveis como os decorrentes da manutenção de sistema de gerenciamento ambiental, os quais requerem pessoas (que recebem uma remuneração) para a sua operacionalização. Tais sistemas exigem ainda a aquisição de insumos. Máquinas, 29 equipamentos, instalações para funcionamento, o que, muitas vezes, será feito na forma de financiamento direto dos fornecedores ou por meio de instituição de crédito. Esses são os passivos que devem dar origem aos custos ambientais, já que são inerentes à manutenção normal do processo operacional da companhia. O passivo ambiental, como qualquer passivo, está dividido em capital de terceiros e capital próprio os quais constituem origens de recursos da entidade: Bancos - empréstimos de instituições financeiras para investimento na gestão ambiental; Fornecedores - compra de equipamentos e insumos para o controle ambiental; Governo - multas decorrentes a infração ambiental; Funcionários - remuneração de mão-de-obra especializada em gestão ambiental; Sociedade - indenizações ambientais; Acionistas - aumento do capital com destinação exclusiva para investimentos em meio ambiente ou para pagamento de um passivo ambiental; Entidade - através de destinação de partes dos resultados (lucro) em programas ambientais. Com a dinâmica dos negócios, os passivos ambientais devem ser tratados com muita atenção e devem fazer parte da tomada de decisões das organizações na aquisição de outras empresas, na formação de cluster, nas fusões, nas análises de riscos do negócio, na venda da empresa e na concepção de novos produtos, dentre outras transações pertinentes ao assunto. Um passivo ambiental deve ser reconhecido quando existe uma obrigação por parte da empresa que incorreu em um custo ambiental ainda não desembolsado, desde que atenda ao critério de reconhecimento como uma obrigação. Portanto, esse tipo de passivo é definido como sendo uma obrigação presente da empresa que surgiu de eventos passados. A identificação do passivo ambiental está sendo muito utilizada em avaliações para negociações de empresas e em privatizações, pois a responsabilidade e a obrigação da restauração ambiental podem recair sobre os novos proprietários. Ele funciona como um elemento de decisão no sentido de identificar, avaliar e quantificar posições, custos egastos ambientais potenciais que precisam ser atendidos a curto, 30 médio e a longo prazo. O cuidado que se há de ter com o passivo ambiental não está restrito ao empresário ou industrial, mas atinge o cidadão comum no seu cotidiano (KRAEMER, 2003). 6 IMPACTO E ATIVOS AMBIENTAIS Fonte: www.educare.bio.br São todos os insumos já adquiridos, empregados e disponibilizados por uma instituição com a finalidade de controlar o impacto ambiental, preservar e recuperar o meio ambiente. Estão incluídos nesse critério as máquinas, os equipamentos e insumos utilizados diretamente no processo produtivo, empregados na eliminação de resíduos poluentes ou para o descarte correto de resíduos sólidos (HENDGES, 2013). Os ativos ambientais agregam ainda itens consumidos na pós-operação para a limpeza dos locais afetados por poluentes ou para purificar os resíduos produtivos, como as águas, os gases e os detritos que serão depostos no meio ambiente natural de alguma maneira. Há diferenças significativas entre os ativos ambientais das diversas organizações, exatamente, porque os possíveis danos ambientais e o modo de 31 prevenção são diferentes para cada processo de produção. Além disso, os ativos ambientais devem ser classificados ainda entre estoques ambientais, ativo permanente imobilizado e diferido ambiental. A identificação dos ativos ambientais é utilizada em negociações, avaliações, transferências, fusões e aquisições entre empresas, comprovando-se a viabilidade legal, a sustentabilidade e a adequação das atividades e valorizando financeiramente o empreendimento. A evidenciação dos ativos na contabilidade ambiental é um elemento fundamental para identificar, avaliar e quantificar os custos e gastos ambientais que necessitam de atenção em curto, médio ou longo prazo, assim como relacionar os investimentos necessários. Os ativos ambientais não precisam estar diretamente vinculados aos balanços patrimoniais, constituindo-se em relatórios complementares específicos em que são discriminados estes recursos econômicos destinados ao controle, preservação e recuperação do meio ambiente. Os ativos ambientais estão relacionados com investimentos em tecnologias, matérias primas e processos de prevenção, contenção, diminuição ou eliminação de aspectos poluentes ou que representam riscos ao meio ambiente, à saúde pública ou dos trabalhadores em uma perspectiva de geração de benefícios econômicos e valorização dos empreendimentos, assim como ao estabelecimento de diferenciais de mercado vinculados com a responsabilidade social e ambiental das empresas (HENDGES, 2013). 6.1 São exemplos de ativos ambientais – Imobilizado: investimentos na aquisição de itens que reduzam os resíduos durante a produção e que tenham vida útil além do exercício social. Exemplos: máquinas, equipamentos, instalações e infraestruturas relacionadas ao controle de aspectos ambientais; – Estoques: insumos aos processos de produção, armazenagem, transporte e distribuição para reduzir e/ou controlar os impactos ambientais decorrentes; – Diferido: despesas relacionadas diretamente com receitas futuras em períodos específicos. Exemplos: pesquisas, desenvolvimento de tecnologias, substituição de matérias primas; 32 – Provisão de desvalorização: perda do valor de ativos em função de alterações no meio ambiente. Exemplo: construção de obras em áreas de ocupação humanas ou industriais que obriguem a remoção, deslocamento ou atenção especial. Exemplo: construção de usinas nucleares ou termoelétricas próximas de áreas de ocupação humana; – Depreciação: em função da destruição, poluição ou alterações ambientais. Exemplo: construção de usinas hidrelétricas em áreas de ocupação humana; – Goodwill: diferença entre os valores econômicos do ativo ambiental e o valor total da empresa na geração de lucros futuros. Exemplos: boa reputação entre os fornecedores, funcionários, comunidade, clientes, localização geográfica favorável, know-how (saber fazer), Know who (quem sabe fazer) (HENDGES, 2013). 7 POLUIÇÃO AMBIENTAL Fonte: www.portalsuldabahia.com.br A poluição causada por produtos químicos pode ser considerada um dos principais tipos de poluição ambiental. E nessa categoria podemos destacar os principais problemas e quem é o responsável por cada um deles. Os produtos 33 químicos que poluem o meio ambiente podem ser aqueles usados pelos agricultores para combater as doenças que atacam as suas plantações, por exemplo. A poluição química nesse caso, começa quando o agricultor espalha o produto químico sobre a planta, vem a chuva e o arrasta para os rios e para as águas que existem no subsolo. Como você percebe o efeito pode atingir diretamente: solo e água. Um outro fator que pode fazer com que produtos químicos aumentem a poluição ambiental é o de lavagem clandestina de barcos no alto mar, que acabam deixando resíduos na água. Mais grave ainda são os resíduos químicos radioativos depositados no fundo do mar ou quando são contidos (pela impossibilidade) depois de um acidente com uma usina nuclear. Nesses casos, eles podem causar prejuízos para os rios e para o ar. 7.1 Os tipos de poluição Poluição do ar Também chamada de poluição atmosférica, refere-se à contaminação do ar por gases, líquidos e partículas sólidas em suspensão, material biológico e até mesmo energia. Essas substâncias são chamadas de poluentes atmosféricos e existem em forma de gases ou partículas provenientes de fontes naturais (vulcões e neblinas), ou ainda de fontes artificiais produzidas pelas atividades humanas. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a poluição do ar é responsável por mais de sete milhões de mortes por ano no mundo - matando mais que a AIDS e a Malária. Poluição da água É a contaminação dos corpos d'água por elementos físicos, químicos e biológicos que podem ser nocivos ou prejudiciais aos organismos, plantas e à atividade humana, ou seja, é um problema crítico. Um fator preocupante desse tipo de poluição é que os lençóis freáticos, os lagos, os rios, os mares e os oceanos são o destino final de todo poluente solúvel em água que tenha sido lançado no ar ou no solo. Dessa forma, além dos poluentes já lançados nos corpos d'água receptores, as águas ainda recebem os poluentes vindos da atmosfera e litosfera (solo). 34 Poluição do solo Ela é causada pela introdução de químicos ou a alteração do ambiente do solo pela ação do homem. Essas substâncias químicas levam à poluição do solo e, direta ou indiretamente, à poluição da água e do ar. Entre esses químicos, os mais comuns são os hidrocarbonetos de petróleo, metais pesados (como o chumbo, cádmio, mercúrio, cromo e arsênio), pesticidas e solventes. Poluição radioativa Também conhecida como poluição nuclear, é considerada o tipo mais perigoso de poluição devido a seus grandes efeitos negativos. Esse tipo é proveniente da radiação, efeito químico derivado de ondas de energia, seja de calor, luz ou outras formas. A radiação é existente naturalmente no meio ambiente, porém, devido a ações do homem, ela vem sendo liberada em excesso, podendo causar mutações nas células e originar doenças, como câncer. Não existe nenhum processo para limpeza desses poluentes, sendo assim, um lugar uma vez contaminado não pode ser descontaminado. Além disso, os átomos radioativos têm uma durabilidade muito longa - o plutônio, por exemplo, apresenta como tempo de meia vida cerca de 24.300 anos. Poluição térmica É pouco conhecida por não ser facilmente observável (ela não é visível ou audível), mas seu impacto é considerável. Ela ocorre quando a temperatura de um meio de suporte de algum ecossistema (como um rio, por exemplo) é aumentada ou diminuída, causando um impacto direto na população desse ecossistema. A poluição térmica do ar, embora menos comum, também pode provocardanos ambientais. A liberação de vapor de água por uma indústria em uma área com pouca dispersão do ar pode ocasionar a morte de pássaros, insetos e plantas. Poluição visual É o excesso de elementos visuais criado pelo homem que estão, na maioria das vezes, espalhados em grandes cidades, e acabam promovendo certo desconforto visual e espacial. Ela pode ser causada por anúncios, propagandas, placas, postes, fios elétricos, lixo, torres de telefone, entre outros. Esse tipo de poluição está muito presente nos grandes centros urbanos pelas grandes quantidades de anúncios 35 publicitários e sua falta de harmonia com o ambiente, desviando exageradamente a atenção dos habitantes. Poluição luminosa Trata-se do excesso de luz artificial emitida pelos grandes centros urbanos. Pode ser emitida de diversas formas, como por luzes externas, anúncios publicitários e, principalmente, pela iluminação pública. A poluição luminosa afeta nossa saúde e os ecossistemas, tornando-se um grande prejuízo para todos. Poluição sonora Ela é um dos maiores problemas ambientais nos grandes centros urbanos. Ocorre quando o som altera a condição normal de audição em um determinado ambiente. Embora não se acumule no meio ambiente como outros tipos de poluição, ela causa vários danos ao corpo e à qualidade de vida das pessoas e, por isso, ela é considerada um problema de saúde pública mundial. 8 IDENTIFICAÇÃO DE ASPECTOS E IMPACTOS AMBIENTAIS POR TIPOLOGIA DE ATIVIDADE 36 Fonte: 1.bp.blogspot.com 8.1 Definição de Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) Existem inúmeras definições na literatura especializada. A maioria delas é de cunho acadêmico, enfatizando os aspectos técnicos. Outras enfocam os componentes políticos e de gestão ambiental. Há ainda as definições legais, como aquela instituída pelo NEPA. Em tese, a avaliação de impacto ambiental é um instrumento de política ambiental formado por um conjunto de procedimentos capaz de assegurar, desde o início do processo, que se faça um exame sistemático dos impactos ambientais de uma ação proposta (projeto, programa, plano ou política) e de suas alternativas, e que os resultados sejam apresentados de forma adequada ao público e aos responsáveis pela tomada de decisão, e por eles devidamente considerados (SÁNCHEZ, 2013). A AIA é um dos instrumentos de que se dispõe para a implementação de uma política ambiental. Portanto, sua aplicação é determinada pelos objetivos e princípios que norteiam essa política e pelo quadro institucional que a sujeita. O conceito vigente de meio ambiente indica o escopo e a abrangência dos estudos e AIA. Não a definição científica de meio ambiente, mas a opção política quanto ao grau de controle ambiental que se quer garantir, aos fatores ambientais a serem considerados, aos recursos prioritários a serem geridos. O que se leva em conta para determinar a qualidade ambiental a ser mantida ou alcançada pode variar de acordo com o momento e a região ou país onde se aplica a AIA. Além do mais, o controle ambiental implica em custos que crescem exponencialmente, à medida que se aumentam as exigências. A AIA toma a forma de um conjunto de procedimentos, denominado processo de AIA, que combina os arranjos institucionais (legais e administrativos) destinados a orientar sua aplicação e os métodos e técnicas usados para a realização dos estudos correspondentes. Os procedimentos devem assegurar que a avaliação seja realizada desde o início do processo ge planejamento ou da tomada de decisão, de modo a possibilitar a comparação entre as alternativas e a adoção de medidas corretivas e mitigadoras dos impactos. Avaliar impactos ambientais após ter sido tomada uma decisão, ou 37 depois de executado um projeto, faz com que a AIA perca suas finalidades, limitando- se os estudos a oferecer sugestões para a correção dos efeitos mais evidentes. O exame sistemático dos impactos implica nas atividades de identificação e valoração dos prováveis impactos, através de métodos e técnicas objetivos, de modo a garantir resultados consistentes. Significa também considerar não só os impactos no meio natural, como também os impactos sociais e as interações existentes entre eles. A AIA pode ser aplicada a diversos tipos de ação: projetos individuais, como por exemplo uma unidade industrial, uma rodovia, uma lavra de minério ou uma estação de tratamento de esgotos sanitários; planos de desenvolvimento, como um novo distrito industrial, o aproveitamento turístico de uma área costeira ou um plano de renovação urbana; políticas ou programas mais amplos, como uma proposta legislativa para regular o uso de agrotóxicos, um programa de desenvolvimento de alternativas energéticas ou um programa de desenvolvimento econômico regiona1. A AIA deve ser encarada como um subsídio à tomada de decisão. Portanto, os resultados devem ser apresentados em linguagem corrente, compreensível para o público em geral, a imprensa e os políticos, para os grupos sociais afetados pelas ações propostas e para as autoridades administrativas envolvidas e encarregadas da decisão (SÁNCHEZ, 2013). 8.2 Objetivos da AIA A AIA não é uma "caixa preta" que possa gerar respostas definitivas a problemas ambientais resultantes da implantação de grandes obras ou que possa evitar, por si só, desastres ecológicos ou degradação ambiental. Enquanto instrumento de política ambiental, ao auxiliar o processo decisório, tem como finalidade viabilizar o uso dos recursos naturais e econômicos, dentro dos processos de desenvolvimento. Promovendo o conhecimento prévio, a discussão e a aná1ise imparcial dos impactos ambientais positivos e negativos de uma proposta, permite evitar e corrigir os danos e otimizar os benefícios, aprimorando a eficiência das soluções. Ao melhorar o escopo e a qualidade dos dados e ao permitir a divulgação das informações e o acesso aos resultados dos estudos, possibilita a redução dos 38 conflitos de interesse dos diferentes grupos sociais afetados pela proposta (SÁNCHEZ, 2013). 8.3 Conceitos de Impacto Ambienta1 O meio ambiente, além de sua evo1ução natural, está sujeito a constantes alterações. Uma alteração pode ser causada por fenômenos naturais ou provocada pelo homem. As alterações naturais se processam mais ou menos lentamente, em escalas temporais que variam desde centenas de anos a poucos dias, como no caso As alterações resultantes da ação do homem são usualmente denominadas efeitos ambientais. A maioria dos autores associa o termo impacto ambienta1 à in¬c1usão, na definição de efeito ambiental, de um julgamento de valor. Assim, define- se impacto ambiental como qualquer alteração significativa no meio ambiente - em um ou mais de seus componentes - provocada por uma ação humana. Um impacto ambienta1 é sempre consequência de uma ação. Porem, nem todas as consequências de uma ação do homem merecem ser consideradas como impactos ambientais. Os fatores que levam a qualificar um efeito ambienta1 como significativo são subjetivos, envolvendo escolhas de natureza técnica, po1ítica ou social. Mais uma vez, a noção de meio ambiente e fundamental para o entendimento e a aplicação do conceito de impacto ambiental. De acordo com a legislação, as opções políticas, os interesses dos grupos sociais, ou mesmo a competência técnica, devem-se definir os componentes, fatores e parâmetros ambientais considerados relevantes. Os impactos ambientais possuem dois atributos principais: a magnitude e a importância. A magnitude é a grandeza de um impacto em termos absolutos, podendo ser definida como a medida da alteração no valor de um fator ou parâmetro ambiental, em termos quantitativos ou qualitativos. Para o cálculo da magnitude, devem-se considerar o grau de intensidade, a periodicidade e a amplitude temporal do impacto, conforme o caso. A importância é a ponderaçãodo grau de significação de um impacto em relação ao fator ambiental afetado e a outros impactos. Pode ocorrer que um certo impacto, embora de magnitude elevada, não seja importante quando comparado com outros, no contexto de uma dada AIA (SÁNCHEZ, 2013). 39 Uma ação pode vir a causar inúmeros impactos, muitas vezes estreitamente interligados, fazendo com que seja importante ter em mente suas diversas características. a. Características de valor: * impacto positivo, ou benéfico - quando uma ação resulta na melhoria da qualidade de um fator ou parâmetro ambiental; * impacto negativo, ou adverso – quando a ação resulta em um dano à qua1idade de um fator ou parâmetro ambienta1. b. Características de ordem: . impacto direto - quando resulta de uma simples relação de causa e efeito; também chamado impacto primário ou de primeira ordem; . impacto indireto - quando é uma reação secundária em relação à ação, ou quando é parte de uma cadeia de reações; também chamado impacto secundário, ou de enésima ordem (segunda, terceira, etc.), de acordo com sua situação na cadeia de reações. c. Características espaciais: * impacto local - quando a ação afeta apenas o próprio sítio e suas imediações; * impacto regional - quando um efeito se propaga por uma área além das imediações do sitio onde se dá a ação; * impacto estratégico - quando é afetado um componente ambiental de importância coletiva ou nacional. d. Características temporais ou dinâmicas: * impacto imediato - quando o efeito surge no instante em que se dá a ação; * impacto a médio ou longo prazo - quando o efeito se manifesta depois de decorrido um certo tempo após a ação; * impacto temporário - quando o efeito permanece por um tempo determinado, após a execução da ação; * impacto permanente - quando, uma vez executada a ação, os efeitos não cessam de se manifestar, num horizonte temporal conhecido. Os impactos ambientais podem ser caracterizados ainda por sua reversibilidade, de acordo com a possibilidade de o fator ambiental afetado retornar às suas condições originais. Entre os impactos totalmente irreversíveis e os reversíveis existem infinitas gradações. A reversão de um fator ambiental às suas 40 condições anteriores pode ocorrer naturalmente ou como resultado de uma intervenção do homem. As propriedades cumulativas e sinérgicas de algumas substâncias químicas levaram a que alguns autores incluíssem, entre as principais características dos impactos, a avaliação dos efeitos cumulativos e sinérgicos (ou sinergéticos). A distribuição social dos impactos é outra característica a ser tomada em conta, uma vez que os impactos benéficos e adversos nunca são igualmente sentidos pelos diversos grupos sociais (SÁNCHEZ, 2013). 8.4 Estudos De Avaliação De Impacto Ambiental Fonte: www.pensamentoverde.com.br 8.5 Considerações Preliminares Além dos requisitos legais e administrativos estabelecidos no processo de AIA, os estudos de avaliação de impacto pressupõem algumas considerações, de modo a assegurar resultados objetivos: 41 - o conhecimento das possíveis alternativas da proposta em estudo, inclusive aquela de não se proceder à sua implantação (6); as alternativas podem ser de localização ou de processo operacional; - o nível de detalhamento dos estudos, que deve ser determinado em função dos fatores ambientais, como a fragilidade dos sistemas ou a importância estratégica dos componentes a serem afetados, e dos recursos disponíveis para a execução dos trabalhos (orçamento, conhecimento técnico, dados, informações e tempo); - as diversas etapas de realização do projeto; em geral, a avaliação é feita apenas para as etapas de implantação e de operação. Entretanto, algumas propostas merecem que se considerem também os impactos gerados nas etapas de planejamento e desativação; - a necessidade de se contar com uma equipe técnica multidisciplinar, já que qualquer estudo de AIA abrange uma ampla gama de disciplinas, coordenada por profissional que tenha conhecimentos gerais sobre as diversas áreas científicas envolvidas e sobre o processo de AIA, de modo a poder orientar os trabalhos setoriais, promover a interação de seus resultados e apresentá-los de forma adequada. - os limites da área geográfica a ser afetada, denominada área de influência, a serem determinados de acordo com a natureza e os impactos potenciais da proposta; a área de influência pode chegar a ter dimensões consideráveis, abrangendo territórios de outras unidades político-administrativas, até mesmo outros países (SÁNCHEZ, 2013). Atividades dos estudos de AIA Os estudos de AIA devem desenvolver um conjunto de atividades, aqui descritas em uma certa ordem apenas para efeito de apresentação, não implicando que se realizem, necessariamente, umas após as outras. De fato, algumas são interdependentes e outras se processam ao longo de todo o estudo, podendo ser aperfeiçoadas à medida que os trabalhos se desenvolvem. a)|Diagnóstico ambiental da área de influência A primeira atividade ou tarefa de um estudo de AIA é a realização de um diagnóstico ambiental da área a ser afetada pela proposta, o que significa conhecer os componentes ambientais e suas interações, caracterizando assim a situação 42 ambiental dessa área, antes da implantação do projeto. Os resultados desta atividade servirão de base à execução das demais. A primeira questão a surgir é o problema de disponibilidade e organização dos dados necessários: informações cartográficas atualizadas e em escalas adequadas, dados referentes aos componentes físicos e biológicos do meio ambiente, dados econômicos e sociais das populações locais. Nem sempre existem todos esses dados, o que exige, muitas vezes, trabalhos de campo para complementação. Mesmo os existentes podem se encontrar dispersos por instituições diferentes e, em geral, foram coletados e armazenados de acordo com os objetivos específicos dessas instituições. Em alguns países, os órgãos públicos de controle ambiental organizam e mantêm bancos de dados atualizados para orientar suas atividades técnicas e políticas, o que facilita a execução de estudos consistentes de AIA. Dentro do universo de dados e informações existentes, devem ser selecionados aqueles que serão efetivamente utilizados nos estudos. São recomendáveis estudos de consistência e análise estatística, podendo as deficiências de dados serem com pensadas por comparação com sistemas ambientais semelhantes (SÁNCHEZ, 2013). Alguns componentes ambientais podem ser descritos através de dados numéricos mais ou menos precisos, enquanto outros só podem ser expressos por dados qualitativos de natureza subjetiva. Isto faz com que a realização dos estudos de diagnóstico ambiental apresente dificuldades relativas à determinação das interações desses componentes. Além da dinâmica dos sistemas ambientais, os estudos devem contemplar também os problemas de variação cíclica de certos fatores. Não existem listas de componentes, fatores e parâmetros ambientais que possam servir para orientar todos e quaisquer estudos de AIA. Os profissionais encarregados de sua execução devem desenvolver uma listagem apropriada ao estudo que realizam, podendo ser orientados por instruções específicas a certo tipo de projeto, estabelecidas nas normas legais ou fornecidas pela autoridade que determinou a execução de AIA. Na ausência dessas instruções, o pré-conhecimento dos impactos potenciais da proposta, outros estudos semelhantes e os métodos correntes de AIA podem auxiliar a elaboração da listagem dos itens a serem considerados. b) Identificação dos impactos 43 A partir do conhecimento da proposta, suas alternativas, e do diagnóstico ambiental da área afetada, desenvolve-se a atividade seguinte, que consiste na identificação dos impactos que serão objeto de pesquisas mais detalhadas.A identificação dos impactos, de maneira geral, é tarefa complexa, por causa da enorme variedade de impactos que podem vir a ser gerados, pelos inúmeros tipos de projeto e ações correspondentes, em diferentes sistemas ambientais. Estudos de AIA de projetos semelhantes e os métodos de AIA publicados podem orientar a execução desta tarefa. A identificação de impactos não deve se limitar à fase inicial dos estudos, de modo a aproveitar as informações e os dados que se tornem disponíveis ao longo dos estudos, tanto sobre o projeto quanto sobre o meio ambiente. Nas primeiras avaliações de impacto ambiental realizadas, a tendência era identificar todos os impactos que porventura pudessem ocorrer e proceder a estudos detalhados de medição e valoração. Muitas vezes aconteceu que, após os estudos, muitos dos impactos pesquisados foram considerados de pouca importância científica ou mesmo irrelevantes para os grupos sociais afetados, o que, juntamente com a necessidade de se economizarem recursos financeiros e tempo, reduzindo os prazos de aprovação dos projetos e aprimorando a eficiência da avaliação, fez com que se passasse a proceder a uma seleção prévia dos impactos a serem objeto de estudos posteriores, chamada definição do escopo. A definição do escopo consiste, portanto, em discussões destinadas a selecionar, dentre os prováveis impactos de uma proposta, aqueles que são importantes o bastante para merecer estudos mais detalhados. Quanto maior o número de representantes dos setores envolvidos com o processo de AIA (técnicos especialistas, órgãos públicos encarregados da análise e aprovação dos estudos e da tomada de decisão, associações comunitárias interessadas no projeto) maior a possibilidade de os resultados dos estudos serem representativos e validados por esses setores (SÁNCHEZ, 2013). c) Previsão e medição dos impactos Trata-se de prever as características e prognosticar a magnitude dos impactos anteriormente identificados. Quanto mais amplamente forem consideradas as características dos impactos mencionadas no item 2.3 deste trabalho, mais completos e consistentes os resultados dos estudos de AIA. 44 A magnitude pode ser expressa em termos quantitativos, através de valores numéricos que representem a alteração a ser produzida pela ação num determinado parâmetro ou fator ambiental, ou em termos qualitativos, expressando a provável variação de qualidade a ser observada no fator ambiental afetado. Algumas vezes, pode ser definida por uma combinação de valores quantitativos e qualitativos. Para a previsão e medição dos impactos nos componentes físicos do meio ambiente, existem inúmeras abordagens científicas que utilizam técnicas há muito conhecidas, como os modelos matemáticos analíticos, os modelos físicos em escala reduzida, as análises probabilísticas, etc. Também há técnicas específicas para o cálculo dos impactos no meio biológico, tais como métodos para a quantificação das perturbações nas cadeias alimentares, da redução do número de indivíduos em determinadas espécies, das perdas de produtividade, etc.. Os efeitos diretos da proposta sobre os fatores sociais, econômicos e culturais, bem como os efeitos causados na comunidade humana pelos demais impactos da proposta podem ser estimados quer pelo uso das técnicas tradicionais, quer pelo uso de outras recentemente desenvolvidas para esse fim; em especial, para os impactos econômicos, utilizam-se as técnicas tradicionais de análise de projeto. d) Interpretação e valoração dos impactos (8) Ligada à definição da importância dos impactos, esta atividade consiste em duas operações distintas. A primeira, chamada interpretação dos impactos, dedica-se a estabelecer a importância de cada um dos impactos em relação aos fatores ambientais afetados, o que, naturalmente, vai depender do projeto que se analisa e de sua localização. A segunda, denominada valoração dos impactos, refere-se à determinação da importância relativa de cada impacto, quando comparado aos demais; esta operação oferece certo grau de comp1exidade, na medida em que se propõe a comparar valores expressos em unidades diferentes. Para isto, alguns métodos de AIA procedem à normalização desses valores, outros comparam-nos a índices de qualidade ambiental ou estabelecem escalas verbais ou numéricas que reflitam a ordem de importância entre os impactos. A importância de um impacto significa sua resposta social, isto é, o quanto é importante esse impacto para a qualidade de vida do grupo social afetado e para os demais, e depende de um julgamento de valor. O grau de importância determinado pe1os técnicos que executam os estudos será certamente diferente dos atribuídos 45 pelas decisões e pelos representantes da comunidade. Daí a necessidade de se criarem condições para o envolvimento, nesta atividade, de todos os participantes do processo de AIA, em especial, dos grupos sociais afetados pelo projeto. Existem inúmeros métodos que permitem o envolvimento do público nas tarefas destinadas a definir graus de importância dos impactos confiáveis e representativos, evitando-se assim que os estudos apresentem resultados insatisfatórios para um ou outro ator do processo de AIA (SÁNCHEZ, 2013). 8.6 Definição das medidas mitigadoras e do programa de monitorarem dos impactos Fonte: www.pensamentoverde.com.br As medidas mitigadoras são aquelas destinadas a corrigir impactos negativos ou a reduzir sua magnitude. Identificados esses impactos, devem-se pesquisar quais os mecanismos capazes de cumprir esta função, avaliando-se sua eficiência. Os equipamentos para tratamento de despejos e emissões para a atmosfera incluem-se no elenco das medidas mitigadoras conhecidas para a correção das diversas formas 46 de degradação ambiental. Existe, na literatura especializada, uma vasta gama de medidas mitigadoras já utilizadas, o que pode auxiliar a execução desta atividade. O programa de monitorarem dos impactos deve ser estabelecido ainda durante os estudos de AIA, de modo que se possam comparar, durante a implantação e operação da proposta, os impactos previstos com os que efetivamente vierem a ocorrer. A monitorarem dos impactos é atividade onerosa e difícil, requerendo medições prévias dos parâmetros que vão ser considerados, razão pela qual, na maioria das vezes, não é levada a efeito. Entretanto, deve ser realizada sempre que possível, para verificar a aplicação e a eficiência das medidas mitigadoras, assegurar que os padrões de qualidade ambiental não sejam ultrapassados, detectar impactos não previstos a tempo de corrigi-los e, também, contribuir para o aperfeiçoamento técnico dos métodos de AIA e das técnicas de previsão e medição dos impactos, no sentido de melhorar o grau de precisão dos estudos futuros. f) Comunicação dos resultados Os resultados da avaliação dos impactos e suas interações, para as diversas a1ternativas estudadas, necessitam ser apresentados de forma objetiva e adequada à sua compreensão por parte dos participantes do processo de AIA. As informações técnicas devem ser traduzidas em linguagem acessível, de modo que todos os setores envolvidos na decisão sejam capazes de entender as vantagens e desvantagens da proposta e todas as implicações referentes à sua implementação. As informações devem ser apresentadas, sempre que possível através de mapas, gráficos e diagramas. Os resultados dos estudos de AIA são "quase sempre apresentados às decisões em forma de documentos escritos denominados Relatórios de Impacto Ambiental ou Declarações de Impacto Ambiental. 8.7 O processo de AIA Ao discutir-se o conceito de AIA, como aquele encarregado de promover a articulação dos procedimentos administrativos com os métodos e técnicas de execução dos estudos, de modo a auxiliar efetivamente a tomada de decisão, de acordo com os princípios e objetivos de uma determinadapolítica ambiental. 47 Em primeiro lugar, é necessário instituir o processo de AIA, o que pode ser feito ou através de alterações moderadas nas estruturas administrativas existentes ou através de sua centralização em um órgão de controle ambiental. Pode ser adotado para os diversos níveis político-administrativos, vinculado aos mecanismos de financiamento de projetos e obras, ao planejamento dos órgãos púb1icos encarregados de obras de infraestrutura, aos sistemas de licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente ou aos processos de aprovação de projetos da iniciativa privada. Os procedimentos de AIA são o ordenamento dos atos administrativos e a atribuição das respectivas responsabilidades, estabelecidos pela administração pública para implementar o processo de AIA e, assim, atender às diretrizes da política ambiental. A coordenação do processo de AIA, em geral a cargo do órgão governamental responsável pela execução da política e pela gestão ambiental, ao criar os procedimentos, deve determinar as regras de utilização da AIA, o que obviamente dependerá do quadro institucional vigente. Qualquer que seja esse quadro, devem ser contempladas algumas questões administrativas, que também são de natureza técnica, porque envolvem conhecimentos sobre as ciências ambientais. Essas questões dizem respeito aos regulamentos e às normas específicas para a exigência e a aplicação da AIA, à realização e revisão dos estudos e o conteúdo dos relatórios. Os estudos de AIA devem se desenvolver desde os estágios iniciais do planejamento da proposta, quando. As alternativas de projeto e de localização estão para serem definidas, existindo ainda a possibilidade de impedir sua execução, caso os impactos ambientais sejam de todo inaceitáveis. E consenso que, quanto mais cedo se iniciar o processo de AIA, melhores serão os resultados dos estudos e maior a sua contribuição para o controle e a proteção da qualidade ambiental. Os regulamentos devem prever, para cada tipo de atividade, instruções para elaboração dos estudos de AIA, incluindo a forma e o conteúdo dos relatórios, os resultados esperados e os critérios e padrões ambientais a serem observados. Entretanto, a coordenação do processo de AIA deve ser capaz de fornecer orientações mais detalhadas e apropriadas para cada caso, sempre que se fizer necessário (SÁNCHEZ, 2013). 48 A realização dos estudos de AIA envolve ainda duas questões a serem claramente definidas: quais serão os responsáveis técnicos pela execução e quem pagará os custos. Os estudos podem ser executados: pelo próprio proponente, seja ele um órgão público ou uma empresa privada; por uma equipe técnica independente, como por exemplo uma firma de consultoria; ou por um grupo de trabalho formado por representantes do proponente, das autoridades responsáveis pela decisão, crescida de especialistas em ciências ambientais contratados para esse fim e, em certos casos, de representantes credenciados da comunidade. De qualquer forma, é essencial que os estudos se realizem com isenção e objetividade, por profissionais tecnicamente capacitados. É importante, também que se promova uma comunicação constante entre a equipe executora e as autoridades que coordenam o processo de AIA. Geralmente, os custos recaem sobre o proponente. Portanto, as exigências quanto ao conteúdo e ao nível de detalhamento dos estudos de AIA devem considerar o montante dos recursos financeiros necessários à sua execução, de modo a evitar que os esforços de implementação do processo venham a ser paralisados por custos exorbitantes ou que o inviabilizem. Quando o proponente é um órgão público, a estimativa dos custos da AIA deve ser agregada ao orçamento referente ás fases de estudos de viabilidade e de projeto. A experiência de alguns países em desenvolvimento mostra que são altos os custos das primeiras aplicações AIA, pela pouca experiência das equipes técnicas executoras e por deficiências do processo. Nesses mesmos países, as estimativas e avaliações de custo concluíram também que, na maioria dos casos, os valores situam-se entre um e cinco por cento do custo do projeto. Mesmo para os estudos mais complexos e controvertidos, esses valores não ultrapassam os dez por cento (Interim Mekong Commitee 1982) (SÁNCHEZ, 2013). 49 BIBLIOGRAFIA DA SILVA, Sandey Bernardes. Perícia Ambiental: Definições, Danos e Crimes Ambientais. Revista de Ensino, Educação e Ciências Humanas, v. 13, n. 1, 2015. GONÇALVES, Marileia Ieno. O que é Perícia Ambiental? Geógrafa - CREA/MG99868D. Perita Ambiental - Instituto Ecológico Aqualung – RJ. 2010. HENDGES, Antônio Silvio. O que é Ativo Ambiental. Contribuição para o EcoDebate. 2013. KRAEMER, Maria Elisabeth Pereira. Passivo ambiental. Passivo Ambiental, 2003. MATTEI, Juliana. A perícia ambiental e a tutela jurídica do meio ambiente. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, IX, n. 30, jun 2006. Disponível em: <http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_ leitura& artigo_ id=1180>. Acesso em ago 2017. MOREIRA, Iara Verocai Dias. Avaliação de impacto ambiental–AIA. Rio de Janeiro, FEEMA, 1985. OLIVEIRA, Catarina, Perito ambiental. Universidade Metodista de São Paulo, 2010. SÁNCHEZ, Luis Enrique. Avaliação de impacto ambiental. Oficina de Textos, 2015. SANTOS, Éder Clementino dos. Procedimentos técnicos. Perito Ambiental. 2010.