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Resenha do Filme Carandiru

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Discente: Izadora santos Coutinho dos Reis
Matricula: 09020336
Resenha sobre o filme Carandiru 
Carandiru conta a história de um médico (Luiz Carlos Vasconcelos) que se propõe fazer um trabalho de prevenção à Aids no maior presídio da América Latina: a Casa de Detenção de São Paulo, mais conhecida como Carandiru. Lá, ele entra em contato com o que, aqui fora, a maioria das pessoas tem medo de imaginar: violência, superlotação, instalações precárias, falta de assistência médica e jurídica. Porém, o médico testemunha solidariedade, organização e uma grande disposição de viver. Carandiru foi um filme dirigido por Hector Babenco e lançado em 2003 baseado no livro Estação Carandiru, escrito pelo Dr. Dráuzio Varella. O filme narra histórias de vários detentos que tiveram contato direto com o médico, que além de prestar atendimento clínico aos presos, lhes dava momentos de boa conversa, onde estes podiam se sentir seguros para contar sobre suas vidas e o que lhes levou até ali, sobre sua rotina dentro da cadeia, e falar mais abertamente sobre suas relações amorosas e sexuais sem o medo de serem julgados pelo seu passado e presente. O médico, por sua vez, observava atentamente as condições em que os detentos eram submetidos, como a superlotação das celas, a infestação de animais peçonhentos e a exposição dos detentos a doenças como sarna e a AIDS. A campanha de prevenção a AIDS chegou a detenção quando inúmeros homens já haviam contraído o vírus. A década de 1990 é considerada a época onde o surto de AIDS mais se manifestou no Brasil, o Dr. Dráuzio Varella relata anos depois em um documentário que mais de cinco doentes chegavam a ir a óbito por semana na enfermaria do Carandiru por conta do vírus. Um detento desabafa no documentário que se sentia negligenciado, pois a assistência médica era de má qualidade e que muitas vezes ele não recebia os medicamentos adequados quando chagava o fim de semana e havia a troca de médicos. Fica explicito que o atendimento tardio e campanha de prevenção inadequada foram fatores inquestionáveis que corroboraram para o descontrole e a propagação do vírus dentro da detenção.
Pode-se ainda associar o consumo exagerado de drogas à vulnerabilidade psicológica e emocional de muitos homens que estavam lá. Um exemplo que o filme nos dá disso, é o caso de Ezequiel, um homem aidético que assume a culpa de um assassinato, aumentando assim a sua pena, no intuito de ter acesso a drogas para o sustento do seu vício, mesmo quando faltavam poucos anos para este alcançar a liberdade. A disputa de poder fazia com que os homens adotassem uma postura ainda mais rígida e intolerante na convivência de uns com os outros dentro das facções, onde havia a imposição de regras e hierarquias que eram temidas e respeitadas pela firmeza daqueles que comandavam o lugar. A Casa de Detenção de São Paulo, popularmente conhecida como Carandiru, já chegou a abrigar cerca de sete mil pessoas mesmo quando só havia capacidade para quatro mil. Sidney Sales, sobrevivente do Massacre do Carandiru em entrevista para a Brasil de Fato e a Radioagência NP em 2012 fala sobre seu cotidiano na maior detenção da América Latina. Ele relata que no dia dois de outubro de 1992 após a final do campeonato de futebol, dois ladrões tidos como muito influentes e de alta periculosidade começaram uma briga onde um deles ficou gravemente ferido, as quadrilhas a qual eles pertenciam entraram em confronto, outros detentos que pertenciam a uma gangue se misturaram ao confronto e anunciaram em meio ao tumulto que se tornara rebelião levando ao ápice do caos, detentos se armaram e atearam fogo em oficinas que eram setores de produção de trabalhos, como marcenaria e fábrica de guarda-chuva, houve uma explosão de gás na cozinha que se tornou o estopim para o Choque invadir a detenção com a autorização do então diretor Ismael Pedrosa. Segundo Sidney Sales o número de mortos no massacre ultrapassa cento e onze, como informou a justiça. Até onde ele pôde contar foram mais de duzentos e cinquenta mortos, e cento e onze foi o número de mortos cujo a família e advogados recorreram à justiça, visto que muitos homens em situação de cárcere acabam perdendo vinculo familiar ou viviam antes em situação de rua e de vulnerabilidade. A polícia deveria ser responsável por estabelecer a ordem no local e conter a rebelião, em contrapartida trata os homens de forma desumana, reduzindo a vida de outro a nada, decidindo quem vive e quem morre, ferindo os direitos humanos e exercendo um poder de repressão, com aval do Estado, que é repudiável.
Em \u201cCarandiru\u201d obra dirigida por Hector Babenco, o desenvolvimento da trama se utiliza de personagens que representam indivíduos comuns que são estereotipados em seu gênero, raça, sexualidade e classe social, afirmando no imaginário de senso comum uma inferiorização do outro baseada em impulsos sexuais e de luta pela sobrevivência animalescos e desprovimento de intelecto crítico destes sobre suas próprias realidades enquanto cidadãos marginalizados pelo sistema excludente e genocida que afeta majoritariamente a população negra e periférica. Um exemplo de estereotipação racial que o filme nos dá é a forma romântica em que o público tende a ver a personagem transexual branca, interpretada por Rodrigo Santoro, sempre de forma delicada e afetuosa enquanto outra personagem transexual negra pouco aparece e a ela é atribuído apenas o apelo sexual. No caso de Majestade, personagem interpretado por Airton Graça, fica evidente a forma sexista que ele trata as duas mulheres que se relaciona, considerando constituição familiar (que advém dos filhos) apenas com a personagem branca, sendo que, também gerou filhos com a personagem negra. A reafirmação estereotipada ocorre por meio da racialização das figuras femininas que discorrem de diferentes posturas expressas quando cabe a personagem negra a função de levar drogas para Majestade em seus dias de visita como motivo maior até mesmo que a presença do filho, e a personagem branca, por sua vez, faz visitas regulares para além de contato com os filhos, relacionando-se com ela intimamente e amorosamente. A estereotipação é um sistema de juízos que a sociedade utiliza para supor e tratar como verdade óbvia uma generalização, como a mulher branca perfeita para relacionamento firme e a negra amante, vulgar e promíscua. Os estereótipos reafirmam uma opressão que o indivíduo possa vir a sofrer por pertencer a determinados grupos, sejam eles raciais, de sexualidade, de gênero, ou sociais, e é de suma importância ressaltar que é inaceitável que tais estereótipos sejam tidos como verdade uma vez que a obra ressalta a história de indivíduos que possuem alteridade e singularidade apesar do meio em que vivem e sobrevivem.
REFERENCIAS
VIDEO DOCUMENTÁRIO DO DR. DRÁUZIO VARELLA SOBRE A AIDS NO CARANDIRU
http://drauziovarella.com.br/audios-videos/videos/aids-no-carandiru/
DEPOIMENTO DE SIDNEY SALLES, SOBREVIVENTE DO MASSACRE NO CARANDIRU

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