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SISTEMA DE CULTIVO (DIAGNÓSTICO AGRONÔMICO) Discente: Ana Paula Oliveira Aranha CASTANHAL-PA 2017 1 INTRODUÇÃO Os agroecossistemas apresentam grande variabilidade e complexas relações de interação, para compreender esses sistemas, tem sido muito utilizado o método do diagnóstico agronômico. Este, consiste em se confrontar o modelo teórico com as observações correspondentes às variáveis da cultura e às variáveis ambientais observadas a campo (LOYCE; WERY, 2006). O Diagnóstico Agronômico também objetiva verificar as razões pelas quais, em algumas situações agrícolas, não se atinge o nível esperado de desempenho. Esse enfoque de pesquisa leva em consideração a variabilidade de uma região e procura identificar os fatores limitantes dentro de uma rede de propriedades (MEYNARD et al., 1996). O estudo da unidade de produção familiar agrícola deve estar associado as práticas do agricultor, ou seja, na sua relação concreta sobre a natureza para ter uma produção. O objetivo é identificar problemas no processo e pensar nas possíveis mudanças/alternativas que permitam superá-las (VEIGA, 2013). Para alcançar este objetivo no que diz respeito à produção vegetal do estabelecimento agrícola (os sistemas de Cultivo) devemos: Considerar o contexto em que estão inseridas as práticas do agricultor no que diz respeito à produção vegetal e estudar a relação destas práticas com o meio ecológico e com as plantas cultivadas e seu efeito sobre a produção (VEIGA, 2013). Nesse sentindo, é de fundamental importância compreender a relação do homem com o meio biofísico e as interações dos fatores bióticos e abióticos que constituem o agroecossistema. Para melhor compreensão do funcionamento da unidade de produção familiar, torna-se necessário uma análise sistêmica vendo o estabelecimento agrícola como um sistema, Bourgeois (1995) fala que o mesmo é constituído por estabelecimento, agricultor e sua família, caracterizado como sistema família-estabelecimento. Partindo desse ponto, tem-se em primeira análise, a família no qual fornece ao sistema de produção, o trabalho, e posteriormente a essa troca do que ela extrai como retorno, faz uma avaliação se está comprometendo o sistema de produção ou não (BOURGEOIS,1995). Diante desse contexto, sempre deve ser levado em conta esses princípios para um melhor entendimento do funcionamento da unidade de produção familiar e de como as tomadas de decisão são realizadas a respeito do uso dos recursos. Partindo desses princípios da abordagem sistêmica, objetivou-se neste trabalho o diagnóstico agronômico do sistema de cultivo de uma propriedade de manejo de bacurizais nativos (Platonia insignis), em SAF com as frutíferas: sapotizeiros (Manilkara zapota), açaizeiro (Euterpe oleraceae L.), cupuaçuzeiro (Theobroma grandiflorum (Willd. ex Spreng.) K. Schum), aceroleira (Malpighia glabra L.), murucizeiro (Byrsonima crassifólia (L.) Rich)), gravioleiras (Annona muricata L.), taperebazeiros (Spondias mombin L.), limoeiros (Citrus spp), laranjeira (Citrus sinensis L. Osbeck), tangerineira (Citrus reticulata Blanco) e coqueiro (Cocus nucifera L.), de tais culturas destacam-se em importância de receita para o produtor, respectivamente: bacuri, açaí, cupuaçu. Os Sistemas agroflorestais (SAF’S) são sistemas sustentáveis de uso e manejo nos quais as árvores estão em associação com cultivos agrícolas e/ou animais em uma mesma área, durante um mesmo período ou em uma sequência temporal (DUBOIS, 1996; MACEDO, 2000). No manejo de bacurizais nativos, em algumas situações, transformar áreas de roças abandonadas ou fragmentos de capoeiras podem ser transformados em Sistemas agroflorestais. Diversas espécies frutíferas podem ser associadas aos bacurizeiros que estão sendo manejados, para mesorregião Nordeste Paraense. (HOMMA et al., 2006). 2 METODOLOGIA O diagnóstico em questão foi realizado em uma propriedade rural situada no ramal do SAAE (Sistema de abastecimento de água e esgoto), bairro Apeteua, município de Maracanã PA, na mesorregião nordeste do Pará, distante cerca de 150 km da capital do Estado (CIDADE BRASIL, 2016). Realizou-se a visita na propriedade no dia 12 de outubro de 2016, chegando às 08 h, onde inicialmente, buscou-se reunir com alguns agentes importantes para este trabalho, que foram proprietário, vizinhos, família, funcionário, e a equipe de estudo, onde, aplicou-se, para coleta de dados, os princípios do DRP (diagnóstico rural participativo), que consiste, segundo SALAS et al. (1994) e Verdejo (2010), em um conjunto de técnicas e ferramentas que permite impulsionar os agentes participantes da propriedade ou comunidade rural, a fazer auto reflexões sobre seus próprios problemas e as possibilidades para solucioná-los, fomentando, assim seu desenvolvimento sustentável. Foi realizado um percurso no estabelecimento agrícola utilizando ferramentas participativas dessa metodologia como entrevistas com perguntas norteadoras, caminhada transversal, levantamento de recursos naturais, uso da FOFA para identificar fortalezas, fraquezas, ameaças e oportunidades, fluxo econômico e camadas sociais, a fim de obter informações sobre o estabelecimento a partir de conversas informais, conforme proposto por Verdejo (2010), assim como o uso da abordagem sistêmica de acordo com Bourgeois (1995), fazendo levantamento de indicadores técnicos, econômicos, culturais, sociais, naturais, variáveis que devem ser consideradas para qualquer tomada de decisão, sejam decorrentes das políticas públicas e da conjuntura macroeconômica, de especificidades locais e regionais. Dados esses importantes para uma melhor compreensão do sistema de cultivo. 2.1 Perguntas Norteadoras Recorreu-se ainda a um roteiro com questões norteadoras, criando um ambiente aberto ao diálogo a respeito das principais informações sobre a família, o histórico do lote, as práticas de manejo, as plantas, dados de produção, as lógicas que a família encontrou para aquisição da propriedade e escolher o sistema ali implantado e a história da mesma, bem como identificar seus anseios para a propriedade e culturas e suas limitações para alcançá- los, além de experiências adquiridas ao longo do desenvolver das suas atividades naquele lote. 2.2 Caminhada Transversal Foi percorrida a área da propriedade em regiões de uso e recursos diferentes, acompanhados pelo proprietário, seu filho e caseiro da propriedade. Ao longo dessa caminhada foram anotadas informações que surgiram pela observação dos participantes em cada zona que foi cruzada, para se obter dados sobre os diversos componentes dos recursos naturais, vida econômica, rotina de trabalho, características do solo, aspectos quantitativos e qualitativos de produção e manejos aplicados, fluxo de recursos e camadas sociais em que está inserido o contexto da propriedade. 2.3 Levantamento dos Recursos naturais Foi realizada a caminhada na área fazendo levantamento florístico, dos aspectos hídricos (fontes, rios, sistemas de água), pluviométricos, tipos e fertilidade de solo e levantamento topográfico da área, produzindo mapa da área. (Figura 01), fez-se também coleta de solo para análise química, granulométrica e densidade do solo, buscando uma visão geral das propriedades do solo, caracterizando áreas de várzeas, tipos de solo e de vegetação ocorrente. Foram consideradas também informações sobre aspectos da fauna, relevo, poluição e impactos. Figura 01. Localização da propriedade. Fonte: Siqueira, 2017 2.4 Tomada de Decisões De posse dessas informações, buscou-se construir, de maneira participativa uma proposta de plano de ação, identificando os problemas e fatores limitantes e quais medidas necessárias a serem tomadas para se chegar às mudanças necessárias, promovendo assim maiores índices de produtividadee sustentabilidade. Conforme Lima et al. (2005), o produtor rural age e gestiona seu sistema de produção conferindo-lhe uma lógica, uma racionalidade que lhe é própria, condicionada por um ambiente físico, social, cultural, institucional, político e econômico. 3 RESULTADOS 3.1 A família e a formação do estabelecimento A constituição da família Pereira originou-se no município de Belém Pará, é constituída por 5 pessoas. O proprietário é o Sr. Raimundo Nonato da Costa Pereira, 55 anos e sua Esposa Nancy Nazaré Leão Pereira de 49 anos, e seus três filhos, sendo dois homens e uma mulher. A família se estabeleceu na cidade de Maracanã Pará, há cerca de 11 anos, e têm como sua principal atividade econômica o comercio em estabelecimento fixo, do segmento de papelaria, informática e utilidades domésticas. Seus três filhos são independentes financeiramente e moram em suas casas, porém ainda desenvolvem suas atividades econômicas na mesma cidade e empresa, caracterizando um negócio familiar. Residiam no centro da referida cidade junto ao estabelecimento comercial, porém atualmente, o casal de proprietários, passaram a residir no estabelecimento rural da família a cerca de 3 anos, e continuam a desenvolver suas atividades no ramo comercial. O estabelecimento da família possui 9,9 hectares sendo 30 % área de mata de reserva com parte em várzea, 60% para cultivos em terra firme e 10% livre para casa, instalações e jardim. Está em nome do Sr. Raimundo Nonato da Costa Pereira, com Título Definitivo, Licenciamento ambiental e demais documentações regulares. É uma área de manejo de bacurizais nativos de ocorrência natural na região, manejados em sistema agroflorestal com frutíferas, onde recebe o acompanhamento de pesquisadores da Embrapa Amazônia Oriental desde 2009, para estudo e pesquisa. Na área da propriedade, existem algumas fontes de água natural e um pequeno curso de igarapé que o perpassa na área de várzea, a área de reserva com mata e complementada por outras áreas circundadas de mata com pouca exploração o que proporciona a ocorrência de muitas espécies de animais silvestres que já não são facilmente encontrados na região por conta do desmatamento além de muitas espécies incomuns de pássaros que se abrigam nessas áreas, que são tratadas com um senso de preservação e cuidado muito grande pelo proprietário. Há sistema de água de poço artesiano mais destinado a uso doméstico e também fornecimento de água do sistema público, porém não existem sistema de irrigação instalado que abranja toda ou parte da área cultivada, apenas um sistema localizado com mangueiras “santeno” e aspersores, na área de cultivo do limão (Citrus limonum) e área de jardim. A propriedade foi adquirida em 2002, quando inicialmente era uma área com predominância de vegetação espontânea pós roça, que estava sem cultivos há alguns anos, possuía apenas 01 cajueiro, 01 mangueira e vegetação natural já existente como algumas espécies florestais na área próximo à várzea, como andiroba (Carapa guianensis), sapucaia (Lecythis pisonis Cambess), virola (Virola surinamensis), buriti (Mauritia flexuosa), açaí (Euterpe oleracea L.), e outras espécies desconhecidas do proprietário. As atividades produtivas realizadas no estabelecimento familiar é secundária e não representam principal atividade econômica, e sua aquisição não foi concebida, a princípio, com objetivo de cultivo para comercialização, e sim apenas para consumo, consequentemente não houve uma sistematização dos cultivos ainda no que diz respeito a buscar rigorosamente maiores taxas qualitativas e quantitativas de produção, bem como comercialização e maior lucratividade, limitando-se ainda a comercializar esporadicamente o excesso de produção. Mas atualmente o proprietário já comercializa maiores quantidades produzidas e vem mudando sua concepção para sistematização desses cultivos e implementação da colheita armazenamento e comercialização, motivado pelo potencial de mercado que o manejo de bacurizais proporciona, e também a demanda de polpas das demais frutíferas que compõem o sistema agroflorestal ali desenvolvido. A mão de obra é realizada por um funcionário que mora na propriedade e por outras pessoas que prestam serviço de acordo com a necessidade. O proprietário, apesar de desenvolver atividade comercial não agrícola, possui grande afinidade pela agricultura e esporadicamente também desenvolve as atividades de manejo, orientando e direcionando os trabalhos. 3.2 O sistema de produção O sistema de produção de um estabelecimento agrícola se define pela combinação (a natureza e as proporções) de suas atividades produtivas e de seus meios de produção (MAZOYER; ROUDART, 2010). A família Pereira possui um sistema de produção com uma dimensão de aproximadamente 7 ha de terra. Cada subsistema que o compõe possui características próprias, portanto precisam ser descritas de forma particular. Esse método é importante para a compreensão do todo a partir de uma abordagem sistêmica, com isso foi identificado o subsistema de cultivo e extrativista descritos nos itens posteriores. 3.2.1 O subsistema de Cultivo A unidade familiar detém de um subsistema de cultivo, trata-se de um Sistema Agroflorestal com espécies frutíferas e florestais são elas: FRUTÍFERAS Nome popular e científico Bacuri (Platonia insignis Graviola (Annona muricata L.) Sapoti (Manilkara zapota), Taperebá (Spondias mombin L.) Açaí (Euterpe oleraceae Mart.) Limão (Citrus spp) Cupuaçu (Theobroma grandiflorum) Laranja (Citrus sinensis L. Osbeck) Acerola (Malpighia glabra L.) Tangerina (Citrus reticulata) Muruci (Byrsonima crassifólia L. Rich) Coco (Cocus nucifera L.) FLORESTAIS Nome popular e científico Jatobá (Hymenaea courbaril) Pequi (Caryocar brasiliense) Louro pardo (Cordia trichotoma) Mogno-africano (mogno-khaya) Pequi (Caryocar brasiliense) Cedro (Cedrela fissili) Ipê (Tabebuia chrysotricha), ESPÉCIES ESPAÇAMENTO QUANTIDADE PRODUTIVOS Bacuri 10,0 x 9,0 580 240 Açaí 4,0 x 5,0 2.100 950 Cupuaçu 5,0 x 5,0 300 180 *O arranjo do plantio foi feito com base na distribuição natural do bacurizal quando feito manejo, portanto algumas plantas fogem o espaçamento citado. 3.2.2 Manejo do solo e das culturas Tratos culturais - Ainda não há na propriedade uma rotina de manejo sistematizada que seja aplicada com rigor e siga as recomendações técnicas, mas algumas culturas recebem alguns tratos culturais periodicamente. As florestais recebem apenas coroamento e limpeza quando é feito capina e roçagem. As culturas consideradas de menor importância econômica: graviola (Annona muricata L.), limão (Citrus spp), laranja (Citrus sinensis L. Osbeck), acerola (Malpighia glabra L.), recebem podas e adubação orgânica com esterco curtido de granja regularmente. No caso do limão e laranja, pulverização com fungicida, quando muito necessário. Na graviola, é feito o manejo de proteção dos frutos novos com sacos de papel para evitar brocas. As demais culturas tangerina (Citrus reticulata), sapoti (Manilkara zapota), taperebá (Spondias mombin L.), muruci (Byrsonima crassifólia L. Rich), coco (Cocus nucifera L.), só recebem os tratos de coroamento, capina e roçagem, quando necessários. As únicas culturas que recebem irrigação é o limão, que é feito com mangueiras de fita de PVC, “santeno”. Condições de preparo da área - Nunca se usou, no preparo de área para cultivo, gradagem e aradagem na propriedade, todo o preparo realizado para plantio de todas as espécies já estabelecidas foram feitos com mão de obra sem mecanização, apenas uso de roçadeira costal, também nunca foi realizada uma análise de solo, porém em todos os plantios foi feita calagem no preparo de covas, adubação com esterco e compostagem feita no local com resíduos culturais. Sempre há o cuidado de conservaçãodo solo mantendo-o coberto com restos culturais, e cobertura morta nas “coroas” das plantas, em algumas culturas como, cupuaçu, acerola, limão e graviola, é feito cobertura morta com bastante resíduos culturais: folhas, roçagem de grama, caroço de açaí, folhas secas, e folhas de nim (Azadirachta indica). Tratos culturais no açaí e cupuaçu - No caso do açaí, as mudas utilizadas foram de sementes selecionadas pelo produtor, oriundas de plantas com características desejáveis ao seu no seu ponto de vista, e de outras, a maioria, oriundas de viveiros da cidade de Castanhal PA, o preparo das áreas foi feito com limpeza, calagem a lanço, preparo das covas com 40 x 40 x 40 cm, com 2 kg de adubo orgânico curtido de granja, 100 g de calcário e compostagem orgânica de restos culturais, o espaçamento é de 4,0 x 5,0 m, variando um pouco em algumas plantas que são colocadas em espaços menores por conta do arranjos e combinações com as outras plantas no sistema (bacuri e florestais, por exemplo). Os principais tratos culturais constam de desbaste dos perfilhos, roçagem, coroamento, limpeza dos estipes, replantio de plantas mortas ou improdutivas e derrubada das plantas com altura inviável para colheita ou com algum dano irreparável, Não é recomendada adubação química, face às boas condições de fertilidade natural dos solos de várzea do estuário amazônico (HOMMA et al., 2006). Adubações com esterco orgânico são feitas apenas de 2 em 2 anos. Na cultura do cupuaçu, o plantio é feito com limpeza da área, que é escolhida próximo às outras árvores que formam sub-bosque (bacuri, açaí, florestais) para favorecer sombreamento as plantas na fase inicial, o preparo das covas com 40x40x50cm, preparada com 100 g de calcário, 5,0 kg de esterco de granja curtido e no fundo da cova costumase colocar 500 g de torta de mamona, compostagem orgânica, razão de se fazer a cova um pouco mais funda, acredita-se que servira de reservas de nutrientes em fase posterior da planta, espaçamento de 5,0 x,5,0 m, também variando em algumas plantas por conta do arranjo no sistema, o plantio é feito no início das chuvas, no mês de janeiro e feita uma irrigação com a mangueira “santeno” na chegada do verão no mês julho, neste caso, até o estabelecimento da cultura no local, e feita adubação após 1 ano do plantio no próximo inverno com adubo químico NPK 20,18,20 e esterco de granja curtido. As podas são realizadas desde as mudas, deixando sempre uma “trifurcação” e a medida que as plantas se desenvolvem, fazem a poda de condução proporcionado um porte adequado as plantas, e posteriormente conforme necessário, realiza-se poda de limpeza, eliminando “galhos ladrões”, ervas de passarinho e vassoura de bruxa quando ocorrem. O produtor sempre mantém uma cobertura morta na coroa das plantas. Na propriedade, mantém-se um viveiro, confeccionado com madeira e sombrite, com capacidade para 7 mil mudas, com irrigação por micro aspersor suspenso, aonde ficam mudas de várias espécies para plantio e replantio, visto que há necessidades de replantio e de plantar em novas áreas, além de manter mudas ornamentais para jardinagem. 3.2.3 Dados de Produção A produção desse estabelecimento é crescente a cada ano, visto que muitas plantas entram ou aumentam sua produção, porém não é contabilizada na sua totalidade de maneira organizada, apenas se faz o controle da produção do bacuri e cupuaçu, que são as de maior interesse comercial. Quanto ao açaí, o proprietário tem um valor estimado da produção do açaí em sacas nos períodos de inverno e verão, que estão representados na tabela a seguir. Produção das três culturas de maior interesse econômico. ESPÉCIE PRODUÇÃO/UND. MÉDIA OBS. Bacuri 19.200 frutos 80/ planta Frutos viáveis. Cupuaçu 2.520 frutos 14/planta Frutos viáveis Açaí 80 sacas (estimados) 1,6 ton/ha Essa média em SAF, total inverno e verão. * Dados baseados na colheita do ano de 2015. Os frutos do bacuri no ano de 2015 foram comercializados in natura, o cupuaçu foi retirado a polpa e parte, 60 % vendido também in natura. O Açaí foi destinado, cerca de 60 % para venda e 40% para consumo e doações. O produtor consciente que sua produção está bem abaixo dos índices padrões para sua área e que se melhorar o manejo e tratos culturais chegará a índices de produtividade cada vez melhores. Rendimento de polpa por frutos – Bacuri e Cupuaçu ESPÉCIE MÉDIA FRUTOS P / 1 KG DE POLPA Bacuri 30 FRUTOS Cupuaçu 3 FRUTOS * O açaí não tem índices exatos, portanto não está citado. O kg da polpa de bacuri em seria comercializado em média a R$ 25,00 na safra e o Kg da polpa do cupuaçu em média a R$ 14,00, a saca do açaí em média de R$ 60,00, considerando esses índices de preço do ano de 2015, podemos projetar um rendimento da produção dessas três principais culturas na propriedade. Projeção de rendimento em receita da produção. ESPÉCIE PROD. MÉDIA REND. RECEITA R$ Bacuri 19.200 frut. 30/Kg polpa 640 Kg polpa 16.000,00 Cupuaçu 2.520 frut. 3,5/Kg polpa 720 Kg polpa 12.600,00 Açaí 80 sacas (estimados) __________ 48 sacas, só 60% é vendido 2.880,00 TOTAL 31.480,00 Essa tabela mostra valores que poderiam ser alcançados se toda produção fosse processada para obtenção da polpa do bacuri e cupuaçu, juntamente com o açaí in natura e comercializados. O que não ocorreu, pois o proprietário preferiu comercializar uma parte do cupuaçu e toda produção do bacuri in natura, por não ter estrutura e suporte para processar a produção, diminuindo bastante o valor da receita alcançada, como podemos visualizar na tabela a seguir os valores obtidos da comercialização da forma que foi feita. Rendimento em receita da produção das três principais culturas. ESPÉCIE PROD. VALOR UN. OBS RECEITA R$ Bacuri 19.200 frut. 0,50 Toda prod. 9.600,00 Cupuaçu 1.512 frut 1,50 60% in natura 2.268,00 Cupuaçu 288 kg/polpa 14,00 40% polpa 4.032,00 Açaí 80 sacas (estimados) __________ 48 sacas, só 60% é vendido 2.880,00 TOTAL 18.780,00 * Dados fornecidos segundo anotações na propriedade. 3.2.4 Colheita A colheita é feita na época de cada cultura, que são bem distintas, pelo funcionário da propriedade que que diariamente passa pela manhã, pela área com carro de mão com caixas plásticas observando atentamente os frutos, ressaltam a importância de se manter limpo e roçada a área de acordo com a necessidade, para facilitar a colheita. A maioria dos frutos coincidem a colheita no inverno, sendo feita primeiro, pela manhã a coleta do bacuri que já está no chão, e posteriormente dos outros frutos, sempre utilizando EPI’s, principalmente capacete quando a colheita se faz na área de bacurizais, pelo risco de quedas dos frutos sobre o indivíduo. Os frutos colhidos são levados a um barracão, onde são selecionados e recebem a primeira lavagem e limpeza, depois levados a área da cozinha da propriedade, onde serão novamente selecionados por tamanho características e retirados os estragados ou inviáveis para comercializar, e os que serão vendidos in natura serão acondicionados em caixas para serem transportados e comercializados, no mercado local, são geralmente entregues em pontos de venda ou direto ao consumidor final que é previamente vendido. Os outros como graviola, taperebá, acerola, são lavados e colocados em solução de hipoclorito de sódio na proporção de 01 colher de sopa para cada litro de água e deixados em solução por cerca de 15 minutos. Alguns são colocados em freezer e outros processados pela esposa do proprietário ou pela pessoa que a auxilia na cozinha, destinados para consumo, sendo o excedente vendido. Os frutos como laranja, tangerina, e sapoti, são destinados para consumo. Em algumas colheitas passadas o proprietário já optou por processar o bacuri, cupuaçu, egraviola, contando com mão de obra contratada e mantendo congeladas as polpas em freezer para serem vendidos conforme fechava as negociações, conseguiu comercializar em alguns restaurantes em Belém PA e Castanhal PA, apesar da aceitabilidade e demanda alta, percebeu alguns problemas no que diz respeito a adequação a normas e aspectos de refrigeração, higiene, equipamento e embalagens adequadas para que esse processamento atendesse um padrão de qualidade aceitável. Razão de ter optado por comercializar os produtos in natura. Mas o proprietário tem planos de implementar uma sala de processamento padronizada para isso, e já iniciou a construção, faltando acabamentos e equipamentos, limitando-se ainda na questão de recursos financeiros para isso. 3.2.5 Resultados da análise de solo ANÁLISE QUÍMICA Características ÁREA 1 ÁREA 2 ÁREA 3 Alumínio trocável 2,2 1,6 1,7 Cálcio trocável 0,2 0,25 0,15 Ca + Mg trocáveis 0,8 1,2 0,3 pH 4,7 4,8 4.7 Acidez potencial (H+Al) 4,8 4,0 5,15 *Área 1 e 2 = Bacuri, Área 3= Próximo a várzea * Unidade: cmolc/dm3 A partir do resultado da análise química do solo pode-se observar de acordo com a classificação de Alvarez V et al, (1999) que os níveis de alumínio trocável estão muito altos, o que consequentemente reduz a quantidade de cálcio trocável no solo, esses dois fatores estão diretamente relacionados com a capacidade de troca catiônica, sendo que quando os valores de alumínio trocável estão elevados, a absorção dos nutrientes pelo solo fica comprometida. Como Alumínio trocável está elevado e Cálcio trocável em níveis baixos, o solo das três áreas coletas apresentaram pH baixo e acidez potencial alta, justificando alguns problemas identificados no momento de coleta de informações na propriedade. 3.3 O subsistema extrativista No subsistema extrativista da propriedade da família Pereira o produto retirado de origem vegetal é o bacuri. O Bacurizeiro (Platonia insignis Mart.) é uma espécie arbórea de porte médio a grande, com aproveitamento frutífero, madeireiro e energético (MENEZES et al., 2012). Segundo Müller et al. (2000) o bacurizeiro predomina na mesorregião do Nordeste Paraense, com grande ocorrência nas microrregiões do Salgado, Bragantina e Cametá. Após adquirir a propriedade foi realizada a limpeza da área com retirada de toda vegetação indesejada e feita algumas queimadas, o proprietário percebeu que posteriormente formou uma área de inúmeras brotações de bacurizeiros, quando surgiu a ideia de preservá-los dentro de um manejo gradativo, escolhendo as melhores plantas em espaçamento razoável e inserindo outras culturas principalmente frutíferas com objetivo de formar um pomar com uma grande variedade de espécies. Ressaltando que todo esse processo foi feito de maneira empírica e pouco conhecimento técnico adquirido em literaturas consultadas pelo proprietário, o que explica os primeiros bacurizeiros manejados terem um espaçamento abaixo do recomendado tecnicamente. Posteriormente a medida que foi adquirindo mais conhecimento e assistência passou a fazer o manejo com espaçamento mais aproximado ao padrão, que é cerca de 10 x 10 m (Embrapa Amazônia Oriental), observou-se que o proprietário sentia “pena” de ter que eliminar algumas plantas fora do espaçamento adequado, uma caraterística comum em quem maneja bacurizais nativos. Existe atualmente na área cerca de 580 bacurizeiros manejados, sendo 240 produtivos, com uma produção média de 110 frutos por planta por safra, sendo que parte desses frutos não são aproveitados por serem alguns perdidos, outros inviáveis, abortados ou roubados. Porém este número é crescente a cada ano, visto que novas plantas entram em frutificação ou aumentam sua produção. As plantas mais novas, recebem alguns tratos como poda de formação para deixar um porte favorável, quando necessário colocam-se calços para evitar tombamento de algumas, o que é muito comum nessa espécie pela maneira como a raiz principal se posiciona para um dos lados. Nas plantas maiores é feita a retirada de ervas de passarinho, que considerado pelo produtor um grande problema, visto que o sistema favorece a visita de grandes populações de pássaros. Utiliza-se uma ferramenta que ele chama de podão, ou um alicate de poda com um cabo extensor, para alcançar pontos altos da planta para se fazer a poda e retirada de ervas de passarinho. Em plantas mais altas utiliza-se escada e cintas de segurança para fazer este manejo, em algumas plantas o proprietário mesmo faz essa limpeza. Não é feita nenhuma adubação nessas plantas, como no local são realizadas pesquisas da Embrapa, já foram feitas adubações em algumas plantas e mostraram até então resultados insignificantes quanto a produção. Portanto não são feitos tantos tratos culturais nessa cultura. Assim também não se faz irrigação ou aplicação de defensivos para combate de pragas. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O termo “pluriatividade” vem sendo muito usado por pesquisadores e sociólogos para explicar a diversidade de atividades que envolvem alguns moradores rurais. Observa- se que não apenas o agronegócio vem causando mudanças no meio rural familiar, mas que uma nova relação campo-cidade metamorfoseou uma mudança muito grande nesse cenário, pessoas que, como este proprietário, estão se realocando dos “inchaços” urbanos e estreitando uma relação do campo com o urbano, surgindo assim os agricultores pluriativos, que são novos atores sociais: aposentados, pensionistas, comerciantes, pequenos empresários que vivem no campo ou migram para ele, mas não tem suas atividades ligadas diretamente a ele. Isso nos leva a refletir em um “novo rural”, a medida que a necessidade pela produção de alimentos só aumenta. Neste caso em estudo, apesar do proprietário não ter como sua principal atividade a agricultura, foi notado sua tendência muito grande e desejo de migrar para as atividades agrárias na sua propriedade e focar uma fonte de renda que justifique essa mudança. E apesar de ser uma propriedade relativamente pequena, já estabeleceu um sistema de cultivo que apresenta muitos aspectos favoráveis, como a questão do menor impacto ambiental, conservação do solo, menor uso de agrotóxicos e preservação de espécies, causando menos desequilíbrio, além de um ambiente mais agradável, e da possibilidade de, ao melhorar suas práticas de manejo otimizar sua produtividade e obter melhores lucros com menos impactos. Isso lhe coloca frente a uma oportunidade que o mercado lhe proporciona quando feita uma análise pelas tendências de demandas de produtos da fruticultura. “As demandas do mercado para polpa do bacuri são semelhantes às do açaí e do cupuaçu, em que se verifica um evidente conflito entre a oferta natural e a crescente pressão da demanda dessas fruteiras” (MENEZES et al., 2012). Além de que as demais frutíferas que há na propriedade representam também uma grande demanda de mercado local. Porém o que é muito comum com esse perfil de produtor pluriativo, que se vale da agricultura para complementar sua renda ou vice-versa, é que acaba deixando a desejar muito nos aspectos: organização, práticas de manejo adequadas, uso de tecnologias e ferramentas que podem lhe fazer alcançar resultados muito melhores que até superem suas outras atividades. Frente às ameaças que a invasão do agronegócio vem causando no contexto rural, restando ínfimas áreas para e pequeno produtor, é possível este produtor resistir, praticando uma forma de produção que o coloque em evidência no mercado de maneira menos impactante. Análise da área em estudo- É possível nitidamente enxergar nessa propriedade um meio rural promissor, rentável financeiramente e sustentável, porém que não tem alcançado melhores resultados por vários aspectos que contribuem para isso, mas que podem ser superados com algumas intervenções, noque diz respeito a gestão e usos de recursos necessários, sejam financeiros, técnicos e pessoais. Planejamento - A princípio seria necessário formular um plano de trabalho traçando as metas e objetivos para esta propriedade, e de que maneira isso pode ser alcançado, podendo levantar o que é necessário em recursos para isso e de que maneira se pode alcançar tais recursos. Isso só pode ser feito por um gestor que nesse caso seria o proprietário, que deve se organizar e destinar uma parcela de sua atenção e tempo para isso a despeito de sua outra atividade. Bem como fazer contabilidade dos custos e lucro, anotar dados referentes a produtividade das culturas. Análise de Mercado - Feito isso, é importante ressaltar que já existe produção no estabelecimento, sendo necessário analisar o mercado e demandas de outros produtos de frutíferas que não estão sendo comercializadas e garantir esses mercados. Procurar uma maneira de acessar capital com projeto para financiamento de uma linha de crédito afim, que possa custear a conclusão da sala de processamento agregando mais valor aos produtos e podendo armazenar e embalar de maneira adequada aumentando a qualidade do produto, para assim conquistar confiança no mercado consumidor. E também a compra de insumos para melhorar os tratos culturais. Solo - Fazer análise de solo e sanar as deficiências nutricionais e correções de PH para potencializar a produtividade dos cultivos, com adubações adequadas, que devem ser feitas respeitando seus intervalos e dosagens, como há preferência para adubação orgânica, utilizar os próprios resíduos de processamento e culturais para fazer compostagens para ajudar na melhor textura ao solo, que é um problema pelas declividades do solo da propriedade facilitando lixiviação de nutrientes. Irrigação – Implantar um sistema de irrigação, visto que há potencial hídrico favorável, irrigar nos períodos de estiagem, o que irá influenciar muito no aumento da produtividade como no caso do açaí, cupuaçu, acerola por exemplo, que podem ter um aumento muito significativo quando irrigados. 5 REFERÊNCIAS ALVAREZ V. V.H.; NOVAES, R. F.; BARROS, N. F.; CANTARUTTI, R. B.; LOPES, A.S. Interpretação dos resultados das análises de solos. In: RIBEIRO, A.C.; GUIMARAES, P.T.G.; ALVAREZ V., V.H. (Ed.). 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