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AULA 1 – DIREITO COOPERATIVO O que é uma sociedade cooperativa e qual a diferença entre ela e as demais sociedades empresariais e civis? Vamos analisar as características, peculiaridades e princípios próprios a essa sociedade. Em primeiro momento, destacamos que o cooperativismo surge como fruto da exclusão social causada pela revolução industrial. Em 1844 na Inglaterra, vamos encontrar a primeira experiência organizada de cooperativa que torna modelo para outras que surgem durante anos. A cooperativa de 1844 não é o primeiro modelo, na verdade a cooperação é anterior a 1884. No entanto, a partir desta, um círculo de estudo se organiza para formar a primeira cooperativa. CARACTERISTICAS 1) Ausência de fins lucrativos As sociedades empresarias em geral desenvolver atividade com o intuito de lucro, diferente das cooperativas. As sociedades cooperativas possuem sim finalidade econômica, no entanto, não estar em buscar o lucro, a cooperativa surge para solucionar problemas que são típicos do estado social (moradia, saneamento, saúde, entre outros). Por isso quando falamos de ausência de fins lucrativos, a sociedade permite ao sócio obter uma vantagem econômica, como por exemplo, a venda de produtos. Podemos dizer que a cooperativa atua como representante dos associados. 2 – Dupla qualidade do associado Ao mesmo tempo que o associado é sócio da cooperativa, ele também vai ser seu principal usuário, com isso, a cooperativa diferente das demais sociedades, tem por objetivo prestar serviços para os próprios sócios, expecionamento ela poderá prestar serviços para terceiro. Com isso surge a dupla qualidade do associado. 3 – Democracia Cooperativa Nas sociedades tradicionais, em que cada sócio tem um poder de decisão (quantidade quota maior). Na cooperativa, cada associado terá direito apenas a 1 voto, por cabeça e não por participação do capital social, independentemente da sua contribuição. 4 – Distribuição das sobras Enquanto na sociedade tradicional, o resultado positivo alcançado é considerado lucro, na cooperativa esse resultado positivo não vai ser lucro, mas sim, distribuído para os sócios a título de sobras. O objetivo da cooperativa está em conseguir a maior vantagem econômica ao associado. 5 – Adesão voluntária Ninguém pode ser obrigado a ingressar a cooperativa ou sair contra a sua vontade. No entanto, essa característica vai além, e vai refletir o que chamamos de princípio das portas abertas. 6 – Número ilimitado de sócios A cooperativa vai ter uma limitação operacional, diferente das sociedades tradicionais. Na cooperativa é possível que o número de sócios dependa da disponibilidade operacional da cooperativa. 7 – Capital Social Variável Trata-se de característica que diferencia a cooperativa das demais. Nas tradicionais, quando da decisão dos sócios para constituição da sociedade, será subscrito o capital social, ou seja, cada um dos interessados em integrar a essa sociedade, vai dizer com quanto vai participar de patrimônio, integralizando esse capital, com bens, valores ou créditos. Nas tradicionais há um capital social fixo. No caso das cooperativas é diferente, aqui, como vigora o princípio das portas abertas, é possível que a qualquer momento um novo sócio venha integrar a cooperativa ou venha a sair, portanto, constantemente há modificação no capital social, ao passo que nas sociedades tradicional é necessário a alteração do estatuto, do contrato social com o seu registro dessa alteração na junta comercial. Na cooperativa isso não é necessário na medida em que sócios entram e saiam. 8 – Inacessibilidade das quotas Está relacionada a variabilidade do capital social, livre adesão e com número ilimitado de sócios. Diferente do que acontece nas sociedades tradicionais em que é possível fazer a cessão da quota de um sócio para outro ou para terceiros, na cooperativa isso não é possível, ou seja, o sócio não pode transferir essa cota. Isso ocorre por conta das características acima elencadas, eu não preciso ceder a quota para outra pessoa na medida em que essa outra pessoa poderá ingressar na cooperativa. Se o cooperado decide sair da cooperativa, ele pode simplesmente se dirigir a ela e solicitar o reembolso aquele valor utilizado devidamente corrigido. 9 – Prestação de assistência aos associados O objetivo principal das cooperativas quando constituídas vem a ser a de prestar serviços aos associados, ao passo que nas tradicionais a prestação é para terceiros. 10 – Neutralidade política Aqui é a não discriminação, ou seja, dentro da cooperativa não pode ter tratamento diferenciado aos seus sócios em função de opção política ou ideológica. Essa neutralidade se aplica do ponto de vista interno da cooperativa, no ponto de vista externo há atuação forte da cooperativa. O cooperativismo brasileiro recebe um tratamento diferenciado, como o tratamento constitucional, sendo elevado a nível constitucional, pois há previsões na Carta Magna protegendo o cooperativismo. PERGUNTE AO PROFESSOR. Qualquer pessoa pode fazer parte de uma sociedade cooperativa? Sim, qualquer pessoa pode integrar uma cooperativa, no entanto, existe limites, em que pese existir nas cooperativas o princípio das portas abertas e da adesão livre e voluntária, alguns tipos de cooperativa vão exigir um perfil diferenciado, como é o caso da cooperativa de trabalho médico. Uma vez visto todas essas características, vamos estudar os princípios do cooperativismo. PRINCÍPIOS 1 – Princípio da livre adesão Qualquer um que possui o perfil da cooperativa, ele poderá ingressar, é também denominado de princípio das portas abertas. 2 - Princípio da gestão democrática A cooperativa é marcada pelo fato de que independe da quantidade de capital social, o sócio tem direito apenas à um voto nas Assembleias. Diferente das sociedades tradicionais. 3 – Participação Econômica Ela se dá de duas formas, quando da constituição da cooperativa, onde em regra esse associado irá contribuir na formação do capital social, mas também, devendo ter uma vantagem econômica proporcionada pela cooperativa. No entanto, importante destacar que essa vantagem econômica auferida vai ser diretamente proporcionada as relações que ele sócio possui com a cooperativa. Vamos imaginar que um sócio de sociedade tradicional, vai receber um lucro proporcional no quanto ele investiu no capital social, no entanto, na cooperativa, vai ser proporcional as relações celebradas com a cooperativa, de modo que, quanto mais o associado trabalhar com a cooperativa, maior vai ser o seu retorno econômico. Nas tradicionais, o lucro se dará de acordo com o que o sócio investiu. 4 – Autonomia e independência Esse princípio ficou marcado após a CF de 88, antes disso, havia limitação, pois, o Estado tomava para si a responsabilidade por tutelar a cooperativa, de modo que a constituição de uma nova cooperativa estava relacionada a uma autorização judicial. Atualmente esse princípio vigora quase que na sua plenitude, de maneira que a cooperativa é autônoma para regular seus rumos, e independente para tomadas de decisão sem necessitar de realizar prestação de contas ao estado (em regra) PERGUNTE AO PROFESSOR Qual a diferença entre uma sociedade cooperativa e uma sociedade empresaria? Em primeiro momento é preciso destacar que a sociedade cooperativa está prevista no Código Civil, e o CC trata essa sociedade cooperativa como uma espécie de sociedade simples. No CC a sociedade simples pode ser vista sob dois ângulos, ela pode ser vista como contraria a uma sociedade não empresarial e segundo pode ser vista como um tipo societária, forma pela qual pode se organizar aquela sociedade. A cooperativa por previsão expressa do CC, é não empresaria, ela é simples. A diferença principal entre a sociedadeempresaria, é que essa visa o lucro, diretamente relacionado com a participação do sócio na formação do capital social e na distribuição dos resultados ao final do exercício, de modo que todo o resultado positivo, será distribuído entre os sócios, independente da atuação dos sócios. Na cooperativa a distribuição do resultado está relacionado a atuação junto a cooperativa. Aqui há o objetivo de obter vantagem econômica ao associado. Existem vários ramos de cooperativa, por exemplo, de crédito, de consumo, produção, educação, teatro, cultura, médico, sociais, enfim. Cada cooperativa possui uma natureza a peculiaridade, conforme o ramo, ela vai buscar uma vantagem econômica maior ou menor, por exemplo a cooperativa de produção tem por objetivo é receber o produto produzido por um agricultor (por exemplo) e colocar esse produto no mercado, eliminando o intermediário. 5 – Educação, formação e informação Há uma preocupação nas cooperativas com a formação do cooperativado. Em todas as sociedades cooperativas há a obrigação da criação de um fundo destinado exclusivamente para educação. Após alcançado o resultado positivo de uma cooperativa, antes de realizar a distribuição da sobra, uma parcela será destinada a um fundo destinado a formar o cooperado. 6 – Intercooperação Formação de grande rede de cooperativa, uma colabora com a outra. Dessa forma, vamos organizar a cooperativa de vários níveis. Exemplo; sistema Unimed. 7 – Preocupação com a comunidade A cooperativa quando é constituída com o objetivo de melhorar as condições ecnomicas e sociais, melhorar as condições de vida não só dos cooperados, mas também de toda a comunidade que ela está inserida, exemplo clássico, sistema Unimed para a prestação de serviços médicos e hospitalares. Por meio dessas características e princípios, busca-se desenvolver alguns valores, como por exemplo: Auto-ajuda: um pode colaborar com o outro. Mutualidade: ajuda mutua, colaboração. Solidariedade Não lucratividade Democracia (participativa e econômica) Esforço voluntário Perseverança Educação Determinação ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS As cooperativas podem ser singulares, centrais/federações ou confederações. As singulares são a base do cooperativismo, formada pela regra geral. As centrais ou federações, são constituídas por pelo menos três cooperativas, formando uma organização de segundo grau, e a confederações são formas por pelo menos três centrais cooperativas. As singulares, em que pese a lei da cooperativa preveja a quantidade mínima de 20 integrantes, o CC altera e diz não a limitação mínima de integrantes. Importa destacar as organizações representativas do cooperativismo, e quais são elas? Há um organismo internacional com o objetivo desenvolver e fomentar o cooperativismo no mundo, denominado de Aliança Cooperativa Internacional (ACI). Em nível nacional, temos a participação da OCB (Organização das Cooperativas do Brasil). Temos também as organizações estudais e o sescoop que tem por objetivo o fomento do cooperativismo. PERGUNTE AO PROFESSOR No que consiste o ato cooperativo? Esse ato é o elemento previsto na cooperativa que diferencia a cooperativa das demais sociedades. O ato cooperativo é aquele ato praticado entre a cooperativa e o associado, entre o associado e a cooperativa ou entre as cooperativas. Esse ato não se trata de uma compra e venda, ou mercantil, é um ato diferenciado, que recebe um tratamento diferente pela CF. A própria CF determina tratamento especial de modo a fomenta-lo e incentiva-lo. Na aula de hoje analisamos o conceito, origem, diferenças, valores, características, princípios cooperativos, formas e organizações e órgãos que representam o cooperativismo. O objetivo do cooperativismo na sua origem estava relacionado a linha de pensamento do socialismo tópico representado por Robert Owen, cuja ideia era a modificação do mundo a partir da cooperação. AULA 2 – LEGISLAÇÃO COOPERATIVISTA Na aula de hoje vamos trabalhar a legislação cooperativista. Iniciando essa abordagem vamos partir da norma constitucional. O cooperativismo é incentivado pelo Brasil, e é previsto na CF. No entanto, antes de adentrarmos na CF, é importante entender a relação existente entre o cooperativismo e o Estado. O primeiro surge em face das deficiências do Estado. As teorias do desenvolvimento cooperativistas começam no início do século XIX, dando origem ao movimento cooperativista. Houve a influência da revolução francesa, a qual marca o rompimento do Estado absolutista para o liberal. No modelo do Estado absolutista, a figura do Estado se confundia com o Monarca, e um dos objetivos da revolução francesa foi limitar esse poder e ai surge a teoria da separação dos poderes a qual não se permite uma pessoa exerça a função de legislar, executar e julgar. Esse modelo novo representa um rompimento significativo e representa uma nova forma de pensar a relação do cidadão com o Estado. Essa nova forma representa um afastamento do Estado absolutista para o Estado liberal e a ideia passa a ser que o Estado liberal deve garantir a segurança e a paz. Paralelo a isso, surge também, um movimento econômico que modifica a sociedade, que é a revolução industrial, a qual representa um significativo avanço econômico, no entanto, ao longo do tempo, serve também, como fonte de exclusão social. Esse estado liberal junto a esse fenômeno foram fundamentais para o cooperativismo. Em primeiro momento, o cidadão precisa ele mesmo buscar alternativas para solucionar seus problemas sociais, pois até então não era função do Estado. Com mo passar do tempo, vamos identificar o segundo modelo de Estado, que é o social, prestando serviços aos cidadãos, que são os direitos de 2º geração. O Estado fornece, moradia, saúde, cultura, lazer, enfim. Contudo, aqui, encontra-se alguns elementos que impede a realização plena, entre eles está o financiamento, pois o Estado não tem condições de dar a todos esses direitos e é nesse contexto que o cooperativismo vai se desenvolver. O movimento cooperativista passa a ser um auxiliar do Estado para concretização dos direitos de 2º geração. As sociedades cooperativas se desenvolve surgem antes da lei, pois primeiro tem o movimento cooperativo, ou seja, criam-se regras próprias, depois, essas cooperativas passam a ser reguladas pelo Estado. A primeira legislação cooperativa é no início do século XX. Vamos estudar as constituições brasileiras, fazendo um paralelo ao direito cooperativo, vejamos: Constituição de 1824 Toda vez que analisamos um texto constitucional, temos que ter em mente que é a imagem da sociedade da época. Na doutrina constitucional, é costume dizer que toda constituição é procedida de uma revolução (não necessariamente armada), ou seja, surgimento de um novo modelo de Estado. Em 1822 o Brasil deixa de ser colônia de Portugal (independência do Brasil) e passar a ser um Estado autônomo. Fruto disso, é constituída uma assembleia e essa dá origem a constituição em 1824, e como fato marcante é que havia um quarto poder, além do legislativo, executivo e judiciário, há também o poder moderador. A CF 1824 não se refere em nada ao cooperativismo, pois ainda se encontrava em fase embrionária. Constituição de 1891 Como ato de revolução, a Constituição de 1891 foi a proclamação da república em 1889, que marca um modelo de Estado para o surgimento de outro. Antes, tínhamos o Estado unitário, e partir de 1891 tivemos uma república, antes era rei e posteriormente ao presidente. É nessa CF que o cooperativismo passa a ser previsto. Aqui, o Art. 72, §8º, autoriza o direito de associação em sindicatos e cooperativas por parte de trabalhadores. Essa é a primeira previsão constitucional no Brasil. PERGUNTE AO PROFESSOR As cooperativas estãoprevistas na CF? Sim, em diversos locais e desde a CF de 1891. Constituição de 1934 Essa CF é marcada pelas revoluções constitucionalistas de 1930 e 1932. Essa CF vai aprofundar o tratamento destinado ao cooperativismo, a qual garante a liberdade de associação e a não dissolução das sociedades cooperativas. Também vem a ser uma CF importante para o Direito brasileiro, pois sofre a influência das CF que reconhecem os direitos sociais e quando falamos disso, aos direitos na prestação por parte do Estado, não temos como deixar de falar da CF Mexicana de 1917 e da CF de Weimar de 1919, ambas modificam a forma como a qual o texto constitucional passa a ser estruturado, acrescentando-se o rol de direito fundamentais e sociais. Essa CF incorpora a ideologia acima. Constituição de 1937 Essa CF garantiu a liberdade de associação e atribuiu aos Estados a competência para legislar sobre matérias que não fossem completamente reguladas pelo direito federal. Essa CF amplia essas garantias. Aqui o ato de revolução marcante é o início da ditadura Vargas. Constituição 1946 e 1967 Ambas possuem como elemento marcante a previsão do direito cooperativo, se limitando a manter os direitos previstos na CF anteriores. No entanto, é importante observar que na CF de 1967 e todo o período posterior marcou-se um período de influência de controle do Estado em cima das cooperativas e isso é considerado como não benéfico, e isso causou um declínio no cooperativismo, pois controlava, também os atos. Esse declínio cessa a partir da CF de 1988. Constituição de 1988 A CF de Portugal foi o modelo seguido no que tange ao cooperativismo brasileiro. O trecho mais importante está na previsão no Art. 5º, XVIII da CF1. Esse dispositivo prevê a liberdade de associação e criação da cooperativa, vedando a interferência estatal. Até 1988, para constituir uma cooperativa, era necessária autorização do Estado, e partir de 1988, qualquer um pode criar, bastante apenas o número mínimo de associais e a criação do Estatuto registrado na Junta Comercial. É possível que se constituam cooperativas nos mais diversos ramos, no entanto, alguns ramos estão submetidos a outras legislações, como por exemplo, cooperativa de crédito. Na sequência, vamos encontrar outra previsão constituição importante, aquela prevista no Art. 146, III, alínea C da CF; Art. 146. Cabe à lei complementar: III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre: c) adequado 1 XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento; tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades cooperativas. O destaque está no reconhecimento constituição ao ato cooperativo. O que é ato cooperativo? Trata-se daquele ato praticado entre a sociedade cooperativa e o associado, entre o associado e a cooperativa ou entre a cooperativas entre si. O que difere o ato cooperativo entre as demais sociedades em geral? Porque esse ato merece tratamento diferenciado? O primeiro motivo é que o Estado brasileiro reconhece a importância do ato, a qual serve para auxiliar o Estado a concretizar direitos sociais. No que consiste esse ato cooperativo? Vejamos, quando praticamos um ato cooperativo podemos pegar como exemplo dois tipos de cooperativas, como por exemplo, a cooperativa de produção e a de consumo. Bom, vejamos a cooperativa de produção. Vamos ter vários associados que vão possuir como perfil o fato de serem produtores agrícolas (exemplo). O objetivo desses produtores é eliminar o intermediário, vejamos os esquemas abaixo: O esquema acima demonstra um ato mercantil. O intermediário adquire do produtor agrícola e revende. O intermediário adquire o produto ao preço de 10 reais e revende por 15, nessa operação, podemos dizer que 2 reais é o custo operacional e 3 reais é o lucro do intermediário. Agora, vejamos a perspectiva do ato cooperativo. A ideia é quase a mesma acima, no entanto, vejamos a diferença, a cooperativa não fica com o lucro, mas é devolvido ao produtor/associado. E isso é feito de forma proporcional para cada associado, ou seja, quanto mais determinado associado/cooperado venda o produto, maior é a distribuição. PRODUTOR AGRÍCOLA INTERMEDIÁRIO CONSUMIDOR/ SOCIEDADE PRODUTOR AGRÍCOLA COOPERATIVA AGRÍGOLA CONSUMIDOR/ SOCIEDADE PERGUNTE AO PROFESSOR Onde se encontram as normas sobre cooperativas? O principal local é na CF, no entanto, além do texto, temos também no CC e em uma legislação especial. As três são as normas bases do cooperativismo, no entanto, vamos encontrar outras normas que tratam do cooperativismo. Vamos analisar agora, o ato cooperativo de consumo. Ela muito se assemelha ao supermercado. A cooperativa vai buscar produtos de interesse dos associados e vai revender para esses associados por um custo mais baixo. Vejamos sob o viés de duas perspectivas, sendo a primeira aquela tradicional, encontrada no mercado pelo empresário, como por exemplo, Carrefour, portanto, adquire um produto à 10 reais e revende a 15 reais ao consumidor, sendo 2 reais a título de custo operacional e 3 reais a título de lucro. Na cooperativa, vai fazer as vezes do intermediário, ele vai buscar o produto ao preço de 10 reais e vai acrescer o custo operacional de 2 reais e vai colocar esse produto para os sócios a 12 reais, ou seja, aquele lucro que seria entregue ao empresário, ele vai ser colocado a disposição do associado, vai ser a vantagem econômica ao associado, pois ele poderia comprar esse produto no mercado em geral a 15 reais (intermediário/empresário). Veja que ele pega o mesmo produto com menor custo. O ato cooperativo traz benefícios para a sociedade em geral. No direito social, temos o direito à moradia, saneamento, acesso à energia elétrica e esses devem ser concretizados pelo Estado e há duas formas de fazer isso, a passiva, ou seja, aguardar que o Estado faça e a outra forma é a ativa, por meio do ato cooperativo, por meio da associação de pessoas que podem concretizar essa solução por meio da cooperativa. Por essa razão, é que há tratamento tributário diferenciado. Vamos encontrar também, o Art. 174, §2ºda CF: Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado. § 2º A lei apoiará e estimulará o cooperativismo e outras formas de associativismo. Aqui a lei determinado que o cooperativismo seja incentivado, por meio de políticas públicas e leis. O §3º do mesmo dispositivo fala o seguinte: § 3º O Estado favorecerá a organização da atividade garimpeira em cooperativas, levando em conta a proteção do meio ambiente e a promoção econômico-social dos garimpeiros. Aqui incentiva-se há uma cooperativa de trabalho, especificamente no garimpo. Temos também o §4º § 4º As cooperativas a que se refere o parágrafo anterior terão prioridade na autorização ou concessão para pesquisa e lavra dos recursos e jazidas de minerais garimpáveis, nas áreas onde estejam atuando, e naquelas fixadas de acordo com o art. 21, XXV, na forma da lei. Esse dispositivo foi além, pois incentiva as cooperativas de garimpo, ela também fala que a concessão de lavras, é necessário dar preferência a essas cooperativas. Outro dispositivo é o Art. 187 da CF: Art. 187. A política agrícola será planejada e executada na forma da lei, com a participação efetiva do setor de produção, envolvendo produtores e trabalhadores rurais, bem como dos setores de comercialização, de armazenamento e de transportes, levando em conta,especialmente: VI - o cooperativismo A lei mais uma vez incentiva o cooperativismo quando trata da política agrícola desenvolvida pelo Estado. Outro dispositivo importante é o Art. 192 da CF, que trata das cooperativas de crédito, incluindo expressamente dentro do Sistema Financeiro Nacional. Art. 192. O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, em todas as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por leis complementares que disporão, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro nas instituições que o integram. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 40, de 2003) (Vide Lei nº 8.392, de 1991) PERGUNTE AO PROFESSOR Há outra constituição com tratamento diferenciado para as cooperativas? Sim, temos a CF italiana, espanhola e portuguesa. A CF portuguesa, doutrinariamente falando, é conhecida como a CF econômica, ou seja, com conjunto e preceitos que regulam a atividade econômica e normalmente essas constituições são divididas em dois setores, o público e privado. No entanto, no caso da CF português, há três setores econômicos, o público, privado e o cooperativo. O Art. 199, §1 e 2§ da CF também é importante e pode ser aplicada as cooperativas, o Art. 199 da CF fala da assistência à saúde e permite a iniciativa privada o desempenho dessa atividade, vejamos: Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada. § 1º - As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos. § 2º É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às instituições privadas com fins lucrativos. AULA 3 – DIREITO CIVIL COOPERATIVO O direito civil cooperativo aborda o CC, ou seja, vamos analisar o que está escrito no CC para as sociedades cooperativas. Há uma ressalva, ao lado do CC temos a lei das sociedades cooperativas de 1971, ao passo que o CC é de 2002. O CC passa a tratar uma pequena parte daquilo que era tratado na lei das cooperativas, o CC representa um avanço, pois reconhece a existência das cooperativas. Uma observação; temos um critério de aparente conflito de leis quando duas se versarem da mesma matéria, é o que ocorre com o CC e a lei das cooperativas, no entanto, tanto o CC quanto a lei das cooperativas (lei especial) ambos se encontram da mesma hierarquia, dessa forma, quando encontramos duas leis que tratam da mesma matéria de mesma hierarquia e especial, a regra é que a norma mais recente revoga a mais antiga. O Art. 1.093 diz que se aplicam as sociedades as cooperativas as normas previstas no CC ressalvada a legislação especial, ou seja, a lei das cooperativas continuam em vigor, apenas adaptando-se as alterações no CC. Uma vez feita essa ressalva com relação a esse conflito aparente, podemos passar a analisar o CC propriamente dita. Em primeiro momento, vamos destacar o Art. 1.093 do CC2. Na sequência, temos o Art. 1.094, que trata das características da sociedade cooperativa: Art. 1.094. São características da sociedade cooperativa: I - variabilidade, ou dispensa do capital social; II - concurso de sócios em número mínimo necessário a compor a administração da sociedade, sem limitação de número máximo; III - limitação do valor da soma de quotas do capital social que cada sócio poderá tomar; IV - intransferibilidade das quotas do capital a terceiros estranhos à sociedade, ainda que por herança; V - quorum , para a assembléia geral funcionar e deliberar, fundado no número de sócios presentes à reunião, e não no capital social representado; VI - direito de cada sócio a um só voto nas deliberações, tenha ou não capital a sociedade, e qualquer que seja o valor de sua 2 Art. 1.093. A sociedade cooperativa reger-se-á pelo disposto no presente Capítulo, ressalvada a legislação especial. participação; VII - distribuição dos resultados, proporcionalmente ao valor das operações efetuadas pelo sócio com a sociedade, podendo ser atribuído juro fixo ao capital realizado; VIII - indivisibilidade do fundo de reserva entre os sócios, ainda que em caso de dissolução da sociedade. Essas características também são previstas na lei especial, o CC em alguns momentos ratifica ou altera essas características. I - variabilidade, ou dispensa do capital social; O inciso primeiro por exemplo, trata da variabilidade ou da dispensa do capital social. Veja, o estatuto não precisa ser modifica quando entra ou sai um sócio, na medida que o capital é variante, diferente demais sociedades tradicionais. Nas cooperativas, a regra é que o capital social é variável, no entanto, o inciso primeiro traz outra possibilidade, que é a dispensa do capital social e isso foi polemico, tendo em vista que a partir daí surge a possibilidade de constituir uma cooperativa sem capital social. Veja, o capital social na sociedade tradicional é fundamental. O capital social aqui, representa a medida da contribuição para o inicio daquela atividade e mais do que isso, esse capital social representa o poder do sócio na medida em que quanto mais o capital ou participação, mais é o poder de mando daquele sócio na sociedade, dessa forma, quanto mais quotas/ações, mais poder ele tem, além disso, esse capital social representa a parcela do lucro e ao final do exercício, alcançando o resultado positivo, será repartido entre todos os sócios de acordo com o capital social. O capital social é importante no momento de dissolução da sociedade empresário, pois quando da dissolução, uma vez liquidado o ativo, aquilo que restar vai ser divido entre os sócios na proporção de cada capital social dos sócios. E na cooperativa? O capital social na cooperativa tem a mesma importância que as sociedades tradicionais? Não. Primeiro, no caso do poder dentro da sociedade, o poder não está relacionado a participação do capital social, todos os sócios possuem direito a um voto, independentemente com a sua participação do capital social. Segundo, vimos que o capital social vai ser fundamental no momento da distribuição dos lucros (sociedade tradicional), na cooperativa, a repartição das sobras está relacionada a quantidade de operações realizadas pelo associado. Terceiro, na sociedade cooperativa o patrimônio não será dividido, uma vez optando pela dissolução, será pago todos os credores, sendo devolvido para cada associado o valor equivalente que ele contribuiu para formação do capital corrigido monetariamente, todo o patrimônio constituído pela cooperativa não será distribuído, mas sim será destinado para outra cooperativa similar ou na sua ausência, esse patrimônio será destinado ao tesouro nacional. Dificilmente vamos conseguir desenvolver qualquer atividade sem que haja o investimento, por menos que seja. É difícil ter na pratica uma sociedade que venha a ser constituída sem capital social. O inciso primeiro incentiva o cooperativismo, pois a ideia é que não haja impedimento para constituição de uma cooperativa, podendo ser constituída mesmo sem capital social. PERGUNTE AO PROFESSOR Qual a diferença entre cooperativas e associações? Tanto as cooperativas quanto as associações são pessoas jurídicas que se constituem a partir de pessoas com Afctio Societatis. A diferença etre ambas está na finalidade econômica, as associações serão união de pessoas que tem finalidade especifica, ou seja, filantrópica, social, cultural, esportiva, lazer entre outras, mas não há finalidade de vantagem econômica. A cooperativa possibilita o associado a receber uma vantagem econômica, contudo, não temfins lucrativos. II - concurso de sócios em número mínimo necessário a compor a administração da sociedade, sem limitação de número máximo; Vejamos agora a segunda característica, que também gerou certa polemica. O inciso II fala do concurso mínimo de pessoas necessárias a compor a sociedade. Nos vamos ver que a lei das sociedades cooperativas previa o número mínimo de 20 sócios para constituição de uma cooperativa (Art. 6º, I). O CC continua falando em numero mínimo, mas não fala quanto, mas sim um número necessário. Nesse caso, vamos encontrar diversas doutrinas, alguns entendem que o número é de 20 sócios outros entendem que o número mínimo é de 9 associados, pois é necessário ter o Conselho de Administração e Diretoria (3 sócios), o Conselho Fiscal (3 sócios + 3 suplentes). O legislador não incentiva a constituição de cooperativas pequenas. A lei de cooperativas de trabalho estabeleceu o mínimo de 7 sócios para constituição dessa cooperativa. Em outros países falam em 3 ou 5 sócios. No Brasil, ainda há divergência doutrinaria quanto ao mínimo para constituir uma sociedade cooperativa. III - limitação do valor da soma de quotas do capital social que cada sócio poderá tomar; Como já vimos, é possível ou independe do valor que eu venha contribuir com o capital social o poder de decisão na cooperativa, ou seja, o poder é igual para todos. No entanto, se porventura se permitir que eu tenha uma parcela signifitva do capital social, se eu pudesse investir sozinho o equivalente 60% a 80% do capital social, pode ocorrer que em determina assembleia eu tenha o voto vencido, e por isso, eu posso optar em me retirar da sociedade, o que pode inviabilizar a sua atividade, pois haverá a devolução do capital social. IV - intransferibilidade das quotas do capital a terceiros estranhos à sociedade, ainda que por herança; É a impossibilidade de um sócio transferir suas quotas para terceiros, nem mesmo podem ser transferidas em função de morte. Se porventura alguém tem interesse de ingressar na sociedade, basta ele demonstrar e essa manifestação possibilita o seu ingresso na cooperativa (principio das portas abertas), desde que tenha o perfil. O mesmo ocorre quando o associado queira sair. A ideia da transferência de quotas é nas sociedades tradicionais, quando o sócio se retira, ele venda suas quotas a terceiro ou transfere a outros sócios. PERGUNTE AO PROFESSOR Onde são registradas as cooperativas? O CC estabelece que as aplicam- se as regras da sociedade simples nas cooperativas. As cooperativas são registradas na Junta Comercial. V - quorum , para a assembléia geral funcionar e deliberar, fundado no número de sócios presentes à reunião, e não no capital social representado; O CC leva em consideração o voto por cabeça, e mais do que isso, ele diz que os quóruns levam em consideração o número de associados presentes na assembleia. VI - direito de cada sócio a um só voto nas deliberações, tenha ou não capital a sociedade, e qualquer que seja o valor de sua participação; Autoexplicativo. VII - distribuição dos resultados, proporcionalmente ao valor das operações efetuadas pelo sócio com a sociedade, podendo ser atribuído juro fixo ao capital realizado; Já vimos sobre a distribuição das sobras. E que de forma isso se dá? Ela se dá de forma proporcional as operações realizadas pelos sócios, ou seja, quanto maior o número de operação, mais é a quantidade de sobras. Se o sócio não possui operação, ele não receberá nada. Além disso, assim como as sobras são distribuídas, é necessário alcançar um resultado positivo. É possível que ocorra a repartição de prejuízos. Se a sociedade obter um resultado positivo ao final do exercício, ela venha a obter um resultado negativo, esse deverá ser dividido entre os sócios, ou seja, assuem o risco do negócio. Esse dispositivo fala também, sobre a possibilidade de atribuir um juro fixo ao capital realizado. Ou seja, que o capital investido seja corrigido anualmente. A lei das cooperativas limitam a 12% ao ano, ao passo que o CC não estabelece o mínimo, deixando para que a assembleia sem se distanciar dos princípios cooperativismo, decidam pelo percentual diferente. VIII - indivisibilidade do fundo de reserva entre os sócios, ainda que em caso de dissolução da sociedade. Vamos ver que as sociedades em regra possuem dois fundos, o de reserva e o fates. O primeiro serve para proteger as cooperativas em caso de resultado negativo, sendo possível utilizar esse fundo antes de causar prejuízos aos associados. Esse fundo de reserva deverá ser utilizado para situações de emergências, não podendo o fundo ser divido entre os sócios em caso de dissolução. Esses oito incisos foram implantadas pelo CC02, e além dessas características, o CC ainda traz uma informação importante, na possibilidade da cooperativa instituir a responsabilidade limitada e ilimitada. Por exemplo, no caso das sociedades limitas e anônimas, cuja regra a responsabilidade é limitada, ao passo que em outras sociedades tem como regra a responsabilidade ilimitada, já na cooperativa é possível adotar uma ou outra. Bom, no que tange a responsabilidade limitada, o sócio responde com seu patrimônio pessoal exclusivamente por aqueles valores investidos. Na responsabilidade ilimitada, o sócio responde com seu patrimônio pessoal além do valor investido. PERGUNTE AO PROFESSOR Pessoa jurídica pode ser sócia de cooperativa? Sim. No entanto, para que a pessoa jurídica faça parte da cooperativa, é necessário que esteja relacionado com a atividade da cooperativa. Dando continuidade no que tange a responsabilidade limitada e ilimitada. Em ambas, a responsabilidade é subsidiaria, devendo ser esgotado o patrimônio da sociedade para posteriormente ir para o patrimônio do sócio.
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