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1 Definição Caracteriza-se pelo conjunto de sinais e sintomas decorrentes da perda progressiva e irreversível da função ou estrutura renal, acarretando alterações eletrolíticas, volêmicas e endócrinas, com impacto sistêmico por um período mínimo de 3 meses para ser crônico. Etiologia As principais causas de DRC que levam pacientes para alguma modalidade dialítica são: Hipertensão arterial sistêmica. Diabete melito. Doenças glomerulares. Doença renal policística. Fisiopatologia A perda progressiva de né DRC progressiva leva (1) a anormalidades no balanço hidroeletrolítico e pH, (2) acúmulo de produtos de degradação normalmente excretados pelos rins, bem como (3) anormalidades na produção e metabolismo de certos hormônios (eritropoietina e vitamina D ativa). Felizmente, à medida que a TFG declina, vários mecanismos compensatórios sã a hiperfiltração glomerular nos néfrons funcionantes remanescentes. Em virtude desse mecanismo compensatório, o paciente pode se mostrar totalmente assintomático, apesar de ter perdido 70% da função renal. Entretanto, a hiperfiltração glomerular está associada à glomeruloesclerose nos néfrons funcionantes remanescentes, contribuindo para uma perda adicional de néfrons. Outros fatores que contribuem para a perda de néfrons são: (1) a ati nua da causa primária da DRC, (2) proteinúria, (3) lesões tubulointersticiais, (4) hiperlipidemia e (5) agressões renais superpostas agudas (nefropatia por meios de contraste, toxicidade dos ami dios etc.). Ref.: Current Diagnóstico e tratamento: nefrologia e hipertensão Estadiamento O estadiamento da DRC é feito com base em dois critérios laboratoriais: a estimativa do RFG e albuminúria. A depender da gravidade dessas duas variáveis, pode-se estimar o prognóstico da DRC. G1: TFG > 90 ml/min/1,73m2 G2: TFG entre 60 e 89 ml/min/1,73m2 G3: TFG entre 30 e 59 ml/min/1,73m2 G4: TFG entre 15 e 29 ml/min/1,73m2 G5: TFG < 15 ml/min/1,73m2 A1: albuminúria normal A2: albuminúria > 30 mg/24h A3: albuminúria > 300mg/24h Avaliação da filtração glomerular A creatinina sérica somente apresenta elevação significativa quando o RFG encontra-se abaixo de 50 ml/min. Desse modo, a dosagem isolada da creatinina sérica não serve como estimativa acurada do RFG. O RFG pode ser medido diretamente por meio de: Coleta de urina de 24 horas (com dosagem na urina e no sangue): como a creatinina é secretada nos túbulos, pode ocorrer superestimação do RFG. Infusão de inulina (com dosagem na urina e sangue): a inulina é um açúcar que é filtrado nos glomérulos e não é secretada nem absorvida nos túbulos renais e, portanto, estima de maneira acurada a filtração glomerular. Porém, não tem aplicação na prática clínica diária. Depuração de marcadores exógenos, pela técnica de medicina nuclear: Os principais marcadores utilizados são: o ácido etilenodiaminopenta-acético-Cr (EDTA-Cr), o TC- DTPA (pentetato de Tecnécio) e iotalamato. Atualmente, as técnicas de medicina nuclear são consideradas o padrão-ouro para determinação do RFG na prática clínica, uma vez que frequentemente ocorrem erros na coleta do exame de urina de 24h. Pode-se também estimar o RFG por meio de fórmulas validadas, descritas abaixo: Cockroft-Gault: RFG = (140 idade) x peso (em kg)X 0,85 (se mulher)/ 0,72 X SCr. MDRD: R = 175 X SC 1•1S4 X -4.0> X 0,742 (se mulher) x 1,212 (se negro). Sendo SCr = "creatinina sérica". CKD-EPI: trata-se de uma fórmula mais recente e reconhecidamente melhor que as duas acima para estimar o RFG em pacientes com DRC. Doença NEFROLOGIA 2 Complicações Alterações sistêmicas: Alteração do controle volêmico: dificuldade de concentrar ou diluir a urina, menor capacidade de excreção de sódio e água, com tendência à hipervolemia. Noctúria é a manifestação dessa incapacidade de concentração urinária. Por outro lado, certas patologias renais cursam com comprometimento tubular importante, podendo causar poliúria, com tendência à desidratação. Desnutrição: um dos sintomas clássicos da uremia, a anorexia, decorre tanto do acúmulo de escórias nitrogenadas quanto do maior estado inflamatório sistêmico, podendo levar a perda ponderai e desnutrição proteico-calórica. Anemia: a deficiência relativa de eritropoetina (EPO) a principal causa. Na DRC ocorre perda da massa renal e, portanto, menor produção de EPO. A DRC é também uma situação de inflamação sistêmica, proporcionando o desenvolvimento da anemia da doença crônica. É muito comum na DRC a deficiência de ferro. Pacientes em hemodiálise também apresentam perdas sanguíneas relacionadas ao procedimento. Outro aspecto que contribui para a anemia da DRC é a menor vida média da hemácia. Nos pacientes com função renal normal, a vida média das hemácias é de cerca de 120 dias, enquanto nos pacientes com DRC a vida média das hemácias é de cerca de 90 dias, possivelmente relacionado a certo grau de hiperesplenismo. Os pacientes com DRC apresentam hiperparatireoidismo, nessa caso, ocorre fibrose da medula óssea e menor produção de glóbulos vermelhos. Ainda concorrem para anemia da DRC as deficiências de vitamina Bl2 e ácido fólico, por conta das restrições alimentares recomendadas para esses pacientes. A anemia causa palidez cutânea, indisposição, diminuição da atenção e insuficiência cardíaca. Ela costuma aparecer na categoria 3 de DRC e é quase universal nos pacientes nas categorias mais avançadas de DRC. Imunodeficiência: por redução da imunidade celular e humoral; Doença mineral óssea da DRC: há uma maior produção de paratormônio (PTH) causa por: diminuição da eliminação renal de fósforo, deficiência de vitamina D ativa e diminuição do cálcio sérico. Com a perda da função renal ocorre menor eliminação renal de fósforo, que induz a produção, nos osteócitos, de FGF23, uma proteína que tem a função de evitar o aumento sérico de fósforo. O FGF23 também inibe a la-hidroxilase, enzima renal que acrescenta uma hidroxila na 25(0H)vitamina D, transformando-a na l,25(0H)2vitamina D, a forma mais ativa da vitamina D, que já tem sua produção diminuída por conta da perda da massa renal que ocorre na DRC. Em decorrência da deficiência de vitamina D, ocorre menor absorção intestinal de cálcio e, com isso, hipocalcemia. Distúrbios hidroeletrolíticos: notadamente acidose metabólica e hipercalemia. Nos rins, o excesso de íons H+ é eliminado por meio de acidez titulável e aumento de excreção de amônia. Nos estágios mais avançados de DRC, a capacidade de produção de amônia é limitada, com predisposição para acidose metabólica. Com relação ao potássio, à medida que ocorre a perda de função renal, existe um aumento de sua fração de excreção por mecanismo de compensação. Porém, nas categorias mais avançadas de DRC, tais mecanismos compensatórios tendem a ser insuficientes, com tendência ao acúmulo de potássio. A relevância clínica disso é de enorme importância, uma vez que a hipercalemia pode ser fatal na DRC, por estar associada a arritmias graves, como a fibrilação ventricular. Exames clínicos e laboratoriais Avaliação clínica Devem-se pesquisar, à anamnese, sintomas relacionados à hipertensão, anormalidades urinárias e qualquer histórico familiar de doença renal; uso de medicamentos que possam afetar a função renal ou lesionar os rins. Ao exame físico, maior ênfase deve ser dada aos fatores associados à DRC, como hipertensão, distúrbios cutâneos causados pelo prurido, evidências de diminuição da massa magra corpórea e alterações neurológicas. 3 Achados laboratoriais rica, que constituem um reflexo da menor TFG, ospacientes com DRC progressiva desenvolvem outras anormalidades laboratoriais: hiponatremia (devido ao aporte excessivo de água), hiperpotassemia, hiperfosfatemia, hipocalcemia, hipermagnesemia e hiperuricemia. A acidose metabólica, habitualmente com hiato aniônico elevado, também é comum. Com exceção da hipocalcemia, estes distúrbios hidreletrolíticos resultam de um desequilíbrio entre o aporte e o débito pelos rins progressivamente enfermos. Duas medidas da função renal devem ser realizadas: A mensuração da TFG requer a administração de compostos que apenas são eliminados através da filtração glomerular. Alternativamente, a TFG pode ser estimada através da concentração sérica de creatinina, as características do paciente e a equação MDRD. O grau de albuminúria: para simplificar esta mensuração, a relação entre as concentrações de albumina e creatinina na primeira urina da manhã pode ser determinada em 3 dias separados. Exames de imagem A ultrassonografia renal diferenciar a doença renal aguda da crônica. Rins simetricamente pequenos (< 8,5 cm) sustentam o diagnóstico de DRC. Entretanto, existem exceções, visto que algumas causas de DRC estão associadas a rins de tamanho normal ou mesmo aumentado, incluindo diabetes, DRP e amiloidose. A ultrassonografia com Doppler duplex das artérias renais, cintigrafia renal e angiorressonância magnética são úteis aos pacientes com suspeita de doenc a isque mica renovascular. A uretrocistografia miccional mostra-se útil para afastar a possibilidade de nefropatia de refluxo. A tomografia computadorizada possibilita avaliar a atividade dos cálculos renais, bem como evide ncias de necrose papilar. Exames especiais A biopsia renal deve ser reservada aos pacientes com rins de tamanho quase normal, nos quais não é possível estabelecer um diagnóstico bem definido através de métodos menos invasivos e quando há suspeita de causa potencialmente tratável. Tratamento O tratamento conservador, que habitualmente consiste em dieta e medicações, é indicado para todos os estágios de DRC. Finalmente, a terapia renal substitutiva com diálise ou com transplante torna-se necessária no estágio 5 da DRC. Os objetivos do tratamento conservador: 1) tratar a causa da DRC, se possível, e detectar assim como tratar qualquer causa reversível de diminuição da função renal, como depleção de volume, infecção do trato urinário, uropatia obstrutiva, uso de agentes nefrotóxicos, hipertensão acelerada ou descontrolada e reativação ou exacerbação do processo mórbido etiológico subjacente; 2) implementar as intervenções necessárias para evitar ou retardar a progressão da DRC; 3) prevenir ou tratar as complicações da DRC; 4) prevenir ou tratar as complicações associadas a outras condições comórbidas, particularmente diabetes e doença cardiovascular; 5) preparar o paciente e a sua família para a terapia renal substitutiva. Os DRC gio 4), visto que essa conduta permite tempo suficiente ao preparo adequado do paciente para terapia renal substitutiva; para os estágios mais iniciais da DRC, o tratamento conjunto dos problemas entre o médico de assistência primária e o nefrologista é apropriado. Intervenc o es para o da DRC O principal objetivo do tratamento dos pacientes acometidos pela DRC de estágios 1 e 2 é a prevenção das doenças cardiovasculares e da perda progressiva da função renal. A pressão arterial-alvo recomendad < 130/80 para pacientes com proteinúria de < 1 g/dia e < 125/75 para aqueles com proteinúria de >1 g/dia. O tratamento intensivo da doença de base e o monitoramento das alterações na albuminúria e da diminuição da TFG. Certas intervenções reduzem a velocidade de progressão da DRC, incluindo controle da pressão arterial, uso de IECA e/ou BRA, além do controle da glicemia em pacientes diabéticos. O tratamento consiste em dieta com baixo teor de sal e medicações anti-hipertensivas. Os inibidores da ECA e BRA constituem os agentes anti-hipertensivos de escolha, visto que reduzem a hipertensão glomerular através de um mecanismo duplo: redução da pressão arterial sistêmica e vasodilatação predominante da arteríola eferente; além disso, melhoram a permeabilidade da membrana glomerular e diminuem a produção de citocinas fibrogênicas. Estudos recentes sugerem que a combinação de inibidores da ECA com BRA pode ser mais efetiva para retardar a progressão da DRC do que qualquer um desses agentes isoladamente. 4 O cont outra intervenção que diminui o risco de desenvolvimento de nefropatia, particularmente quando iniciada precocemente. Por fim, a restrição dietética de proteína constitui outra intervenção que retarda a progressão da DRC. Prevenção e tratamento das complicações urêmicas Recomendam-se uma dieta com baixo teor de sal (2 a 3 g de sódio por dia) e diuréticos de alça para a sobrecarga de volume. A hiponatremia pode ser evitada reduzindo o aporte de água. Para prevenir a hiperpotassemia, recomenda-se uma dieta com baixo teor de potássio (40 a 60 mEq/dia); além disso, devem-se evitar as fontes exógenas de potássio, incluindo transfusões sanguíneas, substituto do sal e certas medicações (anti-inflamatórios não-esteroides e diuréticos poupadores de potássio). Se gota sinto tica, por conseguinte o tratamento dessa complicação com alopurinol em baixa dose. Para reduzir o risco de hipermagnesemia, deve-se evitar o uso de antiácid vel sérico de bicarbonato deve ser mantido em ≥ 22 mEq/l com a administração de bicarbonato de sódio, particularmente em pacientes sintomáticos, bem como para prevenir o retardo do crescimento em crianc as. A pericardite urêmica constitui uma indicação para iniciar a diálise; indica-se a pericardiocentese se houver tamponamento. As complicações neurológicas, como encefalopatia, constituem uma indicação para o início da diálise; a neuropatia tambe m melhora com diálise e, mais consistentemente, com transplante renal. As complicações gastrintestinais, como anorexia, na useas e vo mitos, melhoram com a diálise. E - tico de 0,75 g/kg/dia e 30 a 35 kcal/kg/dia, respectivamente. O tratamento da disfunção plaquetária e indicado aos pacientes com sangramento ativo, bem como antes da realização de procedimento cirúrgico; as medidas apropriadas incluem: (1) correção da anemia com eritropoietina ou transfusão sanguínea, (2) administração de desmopressina ou crioprecipitado para correção rápida, (3) utilizac ão de estrogênios conjugados para correção a longo prazo e (4) redução da azotemia com diálise, quando indicado. Preparação para terapia renal substitutiva Uma preparação adequada para essa terapia consiste em: 1) Informação sobre as diferentes modalidades de tratamento, 2) Educação sobre a preservação das veias do antebrac o v lise, 3) Encaminhamento aos servic os sociais para avaliar a necessidade de transporte até a unidade de diálise, continuação do trabalho em alguns casos, reabilitação e participação em grupos de apoio, 4) A colocação de acesso vascular permanente, de prefere ncia uma fístula arteriovenosa, quando a depuração de creatinina for < 25 ml/min, o nível sérico de creatinina for > 4 mg/dl, ou o tempo estimado até o início da diálise for de 12 meses; os cateteres para diálise peritonial devem ser colocados 2 a 4 semanas antes de iniciar a diálise.
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