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1 - INTRODUÇÃO: A VERDADE DOS PREÇOS E A TRANQUILIDADE DOS VIZINHOS O artigo de Ronald Coase publicado em 1960, deu início a uma análise econômica do direito sobre o custo social. O conceito de custo social está certamente associado à ideia de externalidades. Externalidades Conceito - Pigou: “Quando um serviço prestado entre agentes econômicos, afetam de forma positiva ou negativa a vida dos espectadores; (pessoas que não fazem parte do negócio) ”. ● Externalidades São falhas do mercado ● Com as Externalidades, os agentes sociais devem pensar além do resultado do mercado em relação ao lucro, mas também o bem-estar das outras pessoas afetadas. As externalidades podem ser negativas (quando uma empresa, polui o meio ambiente visando um maior rendimento) ou positivas (quando uma empresa investe em tecnologia, que por sua vez, melhora a qualidade de vida dos cidadãos). O custo privado suportado por quem engendra a externalidade negativa é inferior ao custo social. Visto que, os custos provenientes da poluição não entram no cálculo da empresa. ● Custo privado: Valor pago pelos consumidores e produtores referente a um produto. ● Custo Social= Custo privado + Externalidades Negativas/Positivas. Pigou ao evidenciar tais fundamentos de externalidades, foi uns dos principais a preconizar regras de responsabilidade e regulamentação para aqueles criadores de externalidades negativas. O teorema de Coase Conceito = “A solução das externalidades a que as partes(agentes econômicos) chegariam depende do custo das diferentes soluções possíveis e não da regra jurídica aplicável.“ (ignorando custos de transação) Problemática do Livro: “Uma marcena-ria próxima do consultório de um médico que pratica medicina geral e psicanálise. A interação entre os dois vizinhos se desenvolve sem atritos até o momento em que a marcenaria, pelo sucesso de suas operações, instala máquinas mais potentes, fonte de barulho e vibração, incomodando o médico.” “De súbito, a clientela do médico diminui, o que lhe causa perda de parte da receita. Presuma-se que ele não encontra, nas imediações, nenhuma pessoa ou instituição incomodada pelo barulho ou a vibração.”. “Para resolver o problema, há duas opções que seriam as menos onerosas. A primeira, sob controle da marcenaria, consiste em instalar isolante nos muros; a segunda, sob controle do médico, construir um consultório em local mais distante da marcenaria na sua propriedade. “ Conclusão: Observando o quadro acima é possível identificar os objetos ao qual o teorema se refere. A coluna à esquerda demonstra uma realidade na qual o isolamento da serraria seria mais viável financeiramente do que mudar de lugar o consultório (solução). Ainda nesta realidade e coluna, existem duas situações aplicando o conceito de ordem jurídica; quando a serraria é responsável pelo prejuízo do consultório e quando não é (considerando o barulho parte das inconveniências normais da vizinhança). Concluindo assim o pensamento, independentemente do responsável; Serraria ou Consultório (ordem jurídica) a solução é escolhida, apenas em critério do custo, de acordo com o esquema representado na tabela. ● Esta ideia na época, era uma espécie de oposição às normas de regulamentação de Pigou. “Pode-se supor que o resultado seria diferente se a marcenaria fosse não apenas responsável pelo prejuízo, mas que uma Corte pudesse obrigá-la (injunção), intimando-a a cessar os prejuízos causados às atividades do médico. Examinemos mais detalhadamente essa hipótese, que vem exposta na linha do meio do Quadro II, 1.2.” Destarte, mesmo que o médico pudesse recorrer à corte, ele não o faria. Ao realizar uma das duas soluções propostas através de um acordo entre as partes, elimina a necessidade da aplicação da injunção. Na pior das hipóteses, o médico, mesmo depois da mercearia pagar o seu prejuízo junto a um valor referente ao “teto” (valor que seria pago, caso a mercearia fosse mudar de local ou isolar a fábrica), ele ainda sim a obrigasse aplicar as outras medidas através da injunção. 2. Custos de transação significativos -Coase Custos de transação: A empresa não possui apenas os custos de produção, mas também os custos de transação. Esses custos podem ser definidos como custos de negociar, redigir e garantir o cumprimento de um contrato (burocracias). Custos de produção: Valor aplicado apenas na produção de um produto Os exemplos anteriores partem do pressuposto de que, as partes possam chegar a se entender sem custos. Entretanto, nas situações reais não ocorre da mesma forma. Considere agora, que os custos de transação sejam proibitivos porque as partes não se encontram e não se entendem. Como em situações de acidentes rodoviários, aos quais os acordos são difíceis de aceitar e respeitar. Deste modo, todas a soluções que partiam de um acordo perfeito (menos oneroso), agora darão espaço para outros tipos de solução. A solução é determinada pela identificação da pessoa que toma a iniciativa no processo, o que conduz à adoção de uma solução, examinando-se a que solução pode recorrer quando a outra parte não seja acessível . Então assim, para resolver situações desse tipo, cabe ao legislador, identificar qual parte ficaria responsável em aplicar a solução menos onerosa, que neste caso seria mercearia. Exemplificação do Livro = “A casa que se quer evitar é a da solução marcada em negrito porque ela não é a menos onerosa. Optamos, então, pela regra jurídica da primeira ou da segunda linha da primeira coluna. Ela consiste em imputar responsabilidade às marcenarias, chegando-se, desse modo, a implantar a solução menos onerosa. “Da mesma maneira, se os custos relativos às soluções se apresentarem como formulados na segunda coluna, em que a mudança do consultório médico é a menos onerosa das soluções, a regra de direito deve prever que os médicos a assumem, isentando as marcenarias de responsabilidade.” “Na medida em que a solução preventiva à disposição do autor de um dano for menos onerosa do que as perdas impostas pela falta dessa prevenção, o autor poderia ser considerado, em termos jurídicos, culpado por não ter prevenido, e será, pois, condenado a pagar os danos.“ 3. Generalização Proposta por Demsetz Na concepção de Coase, os contratos não estimavam todos os custos existentes, como o custo social. Por esse motivo, ele afirmava que na realização de um contrato entre agentes econômicos A e B que partilham de um mesmo recurso, não conseguiriam chegar a um solução caso um se destacasse, abaixando o rendimento do outro. Então para Demsetz, só seria possível resolver este problema com o entendimento entre as partes, negociando assim um equilíbrio. A parte que toma a iniciativa, segundo a demonstração precedente, escolherá o equilíbrio mais proveitoso entre custos e ganhos resultantes dos entendimentos. Não há, pois, descolamento entre custo social e custo privado, pois todos os custos serão sempre levados em consideração. Para Demsetz, “custos de transação” são custos de produção como os demais. Sob essa perspectiva, o mundo sem custos de transação não seria mais do que a extremidade da escala, e as conclusões relativas à atribuição de direitos vale-riam igualmente. O que varia é o custo relativo de mudar tal atribuição e, portanto, os ganhos de produtividade que podem ser obtidos pelos interessados. Externalidade = custos de interação, ou de coordenação, enquanto os recursos concorrentes estão em diferentes mãos. Custos de administração = custos de interação, ou de coordenação, enquanto os recursos concorrentes está nas mãos de uma só pessoa. Objeções ao teorema 1. DISTRIBUIÇÃO DE RIQUEZAS “Conforme o médico ou a marcenariaassumam os custos do conflito de usos, o preço dos serviços médicos ou o das obras em madeira o espelhará. A produção e o consumo globalmente gerados variarão. No longo prazo, haverá uma variação.” “Se a marcenaria for responsável em rela-ção ao médico, a rentabilidade de sua operação diminui. Entretanto, ela opera em regime de concorrência com marcenarias estabelecidas em outros locais. Se a rentabilidade destas não for afetada pela nova regra de responsabilidade, nossa marcenaria, para permanecer no negócio, deve obter a mesma rentabilidade” “De maneira geral, o custo do conflito de uso é, imediatamente, internalizado no preço – capitalizado – do recurso afetado: vale menos conforme as utilizações se tornem mais custosas ou impossíveis” 2. EFEITO DA DOTAÇÃO = Supervalorização de algo que possuímos, independente do seu valor no mercado. “A demonstração do teorema pressupõe, implicitamente, que o preço de um direito não varia conforme seja comprado ou vendido. Ora, pesquisas experimentais demonstraram que as pessoas tendem a exigir mais para se desfazerem de um bem do que ofereceram para adquiri-lo.” “Que conclusão pode-se tirar do teorema de Coase? Se o efeito se mantiver em outras experiências, porá em questão a validade do teorema de Coase na sua generalidade. De Meza sustenta que, mesmo admitindo que as pessoas prefiram, em geral, manter sua propriedade e em consequência fazem menos trocas do que no caso contrário, as trocas efetivamente realizadas geram ganhos para as duas partes.17 Mas esse argumento não nos parece suficiente, porque a invariância que o teorema postula não valeria e a situação jurídica inicial, qualquer que seja a origem, pode ser a final.” Implicações do Teorema 1. Direitos e Responsabilidades a atribuir Calabresi - “ Em um conflito de usos que gera perdas ou acidentes, trata-se de imputar a responsabilidade àquela das partes envolvidas que pode, ao menor custo, reduzi-los ou evitá-los (cheapest cost avoider). No nosso exemplo, essa parte seria a marcenaria; o resultado se conforma com aquele obtido segundo as outras fórmulas.” (Custo de transação Baixo) Quando as partes podem negociar entre si visando a melhor solução, independente da ordem jurídica. Em caso de custo de transação baixo, aconselha-se a proteger os direitos mediante regras de exclusividade. Dessa forma, fica clara e pode ser facilmente corrigida a situação jurídica entre as partes, simplifica-se a tarefa dos tribunais se a eles se recorrer. Entretanto, se os custos de transação forem altos e a correção de equivocada atribuição de direitos por acordo entre as partes for impossível, deve-se verificar a possibilidade de correção, pelos tribunais, recorrendo estes aos usos feitos pelas duas partes, aplicando regras de responsabilidade. Neste caso, é necessário saber que há possibilidade da corte não respeitar o valor subjetivo que as partes atribuem a seus bens. O consenso é conferir proteção por regras de exclusividade (posse de um direito visado por outra parte; “mercearia compartilhava o meio ambiente com o consultório. A partir do momento de que a mercearia polui sonoramente, o médico paga para a preservação do direito) salvo se, por razões precisas (custos de transação elevados), houver indicação contrária. natureza dos custos de transação = A negociação é subjetiva, imprevisível e oportunista.
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