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AULA 1 - A história psicopatologia

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AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PSICOPATOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Alisson Siqueira 
 
 
2 
TEMA 1 – A HISTÓRIA DA PSICOPATOLOGIA 
Para começarmos a falar de psicopatologia, é importante termos uma visão 
geral de sua história. Tudo começa quando o ser humano passa a questionar o 
que não conhece ou o que não tem uma clareza. O termo clareza aqui é usado 
para designar o sentido causa e efeito observável. Um exemplo é o corte no dedo 
que vem a sangrar e a doer. 
Hipócrates (460-377 a.C.), considerado o pai da medicina ocidental, 
compreendia os transtornos mentais como qualquer outra doença e que, portanto, 
deveriam ser tratados como tal. 
Entendia que suas origens provinham de patologias cerebrais ou de 
traumas. Além disso, poderiam ser resultado de uma influência hereditária. 
Em sua experiência de vida e viagens, Hipócrates começou a estabelecer 
alguns critérios para compreender o sofrimento psíquico, razão pela qual passou 
a verificar a estrutura das relações humanas e da vida. Notou que havia uma 
agente de esforço, que designamos como estresse psicossocial. 
Tal observação somada à aprendizagem com os egípcios fizeram o 
estudioso grego chegar ao conceito de histeria, definidos por ele como a 
sintomática física sem causa aparente. 
Nessa mesma busca de compreensão, Claudio Galeno (129-198 d.C.) 
desenvolveu a Teoria da Patologia Humoral, cuja descrição estabelece a relação 
entre fluídos corporais e a funcionalidade do encéfalo. 
Os fluídos relacionados por Galeno são: 
 Sangue: relacionado ao coração; 
 Bile negra: estabelecida no baço; 
 Bile amarela: contida no fígado; 
 Fleuma: líquido do encéfalo. 
Tal teoria estabeleceu o conceito de equilíbrio, ou seja, por meio dela 
compreendeu-se que a patologia é o desequilíbrio de um dos desses fluidos. 
Assim, a mudança de humor era compreendida como o excesso de um 
desses fluidos. O tratamento se baseava na regulação das condições ambientais. 
Além disso, com o objetivo de equilibrar os humores, recomendava-se a sangria. 
As patologias eram apresentadas como atos de outra grandeza ou 
dimensão, como o mundo espiritual e suas divindades. No Império Persa (900-
 
 
3 
600 a.C.), por exemplo, o ato de adoecer era compreendido como uma ação 
demoníaca. 
Esse pensamento se manteve presente e firme durante a Idade Média, 
quando o poder imperativo era da Igreja, que a passou a relacionar a condição 
moral à doença, sendo esta uma manifestação satânica. 
Naquela época, a doença da bile negra era entendida como ato demoníaco 
causado por comportamentos não compatíveis com o conceito moral da época. 
Não por acaso, houve uma crescente modificação conceitual da patologia 
humoral de Hipócrates e, assim, uma divisão de caráter produzida pelo humor, 
em que os sanguíneos passaram a ser relacionados a Deus, ao passo que os 
melancólicos, fleumáticos e coléricos eram compreendidos como degenerados. 
Na Idade Média, o louco era tido como alguém que não podia ser ouvido. 
Seu discurso era a descrição de sua loucura; a fala, seu atestado de insanidade. 
A classificação mais comum no século XII era no sentido de que a loucura 
poderia ser categorizada como: 
 “tolo natural”: aquele que possuía algum problema cognitivo; 
 “non compos mentis”: pessoa que possui crises temporárias intercaladas 
com estados de lucidez. 
Surgem na Europa instituições inclinadas a propiciar cuidado médico a 
doentes. Eram, em sua maioria, filantrópicas, pois geralmente os pacientes não 
possuíam recursos para tratamento. 
Quando o considerado louco era levado para essas instituições, 
comumente recebia tratamento por religiosos. Muitas vezes, pacientes tidos por 
violentos recebiam mecanismos de contenção, entre eles, a cela. 
No século XVII, é observado na França e na Itália um novo procedimento: 
aqueles que não apresentavam ameaça eram deixados soltos. Podiam ficar em 
casa, transitar pelas ruas, rir nas praças e ter uma vida pública. 
Porém, quando passavam a ser considerados uma ameaça por serem 
perigosos e agressivos, eram presos juntamente com delinquentes comuns. Mas 
havia aqueles que eram acolhidos em instituições de caridade. Posteriormente, o 
trato com os loucos passou a incluir a internação em hospitais civis juntamente 
com pacientes terminais que não recebiam tratamento e, consequentemente, 
eram relegados à contenção, principalmente por meio do acorrentamento. 
 
 
4 
No século XVIII, surgem os hospitais específicos para os considerados 
loucos, isto é, centros de tratamento que recebiam especialistas sistematicamente 
treinados e especializados. 
O século posterior é marcado pelo surgimento do especialista em tratar os 
diagnosticados como loucos: o alienista (ou o freniatra). 
A figura do psiquiatra desabrocha quando o paciente passa a ser tratado 
em asilos terapêuticos, em que o foco é o cuidado deste. 
Um pouco da história nos leva a pontuar alguns nomes que são muito 
importantes na compreensão do trato e na busca do conhecimento sobre a 
loucura. É o que faremos a seguir. 
1.1 Phillippe Pinel (1745-1826) 
A história de Phillipe Pinel é muito interessante. Ele nasceu em 20 de abril 
de 1745, na cidade de Saint-André, no sul da França. Filho de médico, também 
estudou medicina e se formou na Faculdade de Toulouse, com 28 anos, em 
dezembro de 1773, segundo Palomba (2005). 
Após a sua formação, foi a Montpellier, onde frequentou a Escola de 
Medicina e os hospitais da cidade durante quatro anos. 
Em 1778 se mudou para Paris. Nesse período passou a ter contato com 
doentes mentais confinados e a escrever sobre o assunto. 
Oito anos depois passou a atender doentes mentais na clínica privada de 
Jacques Belhomme. Em setembro de 1793, foi nomeado médico-chefe do Asilo 
de Bicêtre, destinado a doentes mentais masculinos. 
Lá o trato com os pacientes era precário. Eles ficavam juntos com 
criminosos. Mantidos em condições desumanas, eram acorrentados em 
masmorras úmidas. 
Todas as ações que podiam ser tomadas precisavam da anuência do 
governo francês. Pinel conseguiu autorização para retirar os grilhões dos doentes 
mentais e iniciar um tratamento humanitário. 
Em 1795, Pinel foi nomeado médico-chefe do hospício feminino de 
Sapêtrière e promoveu trabalho semelhante ao que havia feito em Bicêtre, em 
Paris. Foi sob a direção do psiquiatra francês que o hospital se tornou um dos 
mais conhecidos estabelecimentos neuropsiquiátricos do mundo e modelo para 
muitos países. 
 
 
5 
Pinel foi o primeiro a distinguir os vários tipos de psicoses e a descrever as 
alucinações, o absentismo, bem como uma série de outros sintomas. Sua obra 
Classificação Filosófica das Doenças ou Método Aplicado à Medicina, publicada 
em 1798, continha descrições precisas e sistematizadas de várias doenças 
mentais. O Tratado Médico-Filosófico sobre a Alienação Mental ou Mania, de 
1801, discutiu sua abordagem psicologicamente orientada e tornou-se um 
clássico da psiquiatria, como menciona Pereira (2004). 
Segundo a descrição de Pereira (1978), o pensamento implementado por 
Pinel possui uma estrutura que deve ser considerada segundo as condições da 
época. 
A primeira que deve ser pontuada é a condição da medicina. A medicina 
clássica trabalha com dois elementos: a doença (invariante) e o doente (variável). 
Saber fazer a distinção desses elementos era a proposição de um tratamento 
considerado correto. 
Para Pereira (1978), descobrir cada passo do invariante exige a redução 
fenomenológica do variável, de modo que o mal seja definido e apreendido como 
pura essência. Estamos falando de descrição do evento que é a doença. Sendo 
assim, temos uma condição nosológica. O sujeito passa a ser o objeto a ser 
expulso. 
A segunda condição é o aspecto da loucura. Pinel se debruça na ideia de 
distingui-la da doença, pois esta é entendida, agora, como oposição à saúde e 
tambémcomo uma condição político-social. A doença é vista como fato natural e, 
como consequência, a loucura passa a ser um fato positivo. Pinel, então, explica 
de forma nosográfico-filosófica que a loucura é uma condição moral. 
A terceira situação se refere ao método usado por Pinel. Procurando elevar 
a medicina a um status maior, ele fundamenta sua técnica com a análise e a 
observação. 
A implementação analítica de Pinel requereu uma distribuição metódica no 
objeto. Isto é, o sujeito precisaria ser acompanhado sem interferência. Os objetos 
de observação passam a ser a matéria-prima, que – no caso – é o sujeito a ser 
observado. 
Para compreender o perceptível, surge o conceito traço principal. O traço 
principal não é o traço dominante, mas um ponto organizador que, cruzando-se 
com outros, define um conjunto central e, ao seu redor, elementos acessórios 
 
 
6 
podem modular o quadro clínico. É a solução para a discussão entre o visível-
superfície e o visível-classe (volume). 
Na mesma orientação, Pinel coloca a sua concepção de doença. Ela 
abarca o conceito transcendente, que apresenta a condição do ser humano. 
Alinha a condição imanente, que coloca o homem na condição de ter a 
doença manifestada. Surge, assim, a distinção entre o clínico que cuida do corpo 
e o alienista que cuida da loucura. 
Em sua teoria, Pinel deixa claro a observação a ser feita. A doença mental 
transita no sujeito, porém não constituiu o sujeito. Por isso ela recebe o nome de 
tratamento moral. 
1.2 Jean-Étienne Esquirol (1772-1840) 
É importante que saibamos quem são considerados os criadores da 
psicopatologia: Esquirol e Griesinger, com seus trabalhos publicados, 
respectivamente, na França (em 1837) e na Alemanha (em 1845), segundo 
Cheniaux Junior (2002). 
Jean Étienne Dominique Esquirol (1772-1840) estudou e trabalhou com 
Pinel, e foi um continuador de sua obra. O trabalho de Esquirol é marcado pela 
utilização sistemática da observação, o que lhe permitiu grande aprofundamento 
do trabalho clínico, bem como uma delimitação precisa de quadros nosográficos. 
Ele representou um avanço expressivo no plano teórico ao propor uma 
nova sistematização nosográfica, por meio de uma análise fina e de uma 
diferenciação mais detalhada das síndromes psicopatológicas. A escrita que 
ilustra essa mudança é a de 1838, quando publicou o tratado Des maladies 
mentales considerées sous les rapponts medical, hygienique et medico-legal. 
Nesse trabalho, Esquirol organizou uma classificação de forma 
nosográfica, fazendo uma diferenciação entre perturbações orgânicas e 
perturbações de natureza psíquica. 
Pacheco (2004, p. 154) as descreve da seguinte forma: 
 Idiotia: que pode ser congênita ou adquirida, mas constitui uma 
categoria bastante diferenciada das que agrupam os 
problemas propriamente psíquicos. 
 Demência: na forma aguda, passível de cura, e na forma 
crônica, praticamente incurável. 
 Mania: que se refere ao delírio total com exaltação. Seria uma 
alteração generalizada das funções mentais, como a 
inteligência, percepção, volição, atenção. 
 
 
7 
 Monomanias: que agrupa todas as perturbações mentais que 
trazem prejuízos psíquicos apenas parciais, conservando 
perfeitas outras funções intelectuais. O delírio é parcial e pode 
ter uma forma alegre ou uma forma triste. 
Algumas observações são importantes. A primeira é que Esquirol separou 
melancolia da antiga classificação de Pinel. Ele a dividiu em mania e lipemania, 
uma das formas de monomania. 
A segunda é a classificação das monomanias em: intelectuais, afetivas e 
instintivas. A ideia de monomanias do tipo homicida influenciou o campo médico-
legal. 
Quanto ao efeito jurídico, o trabalho de Esquirol foi importantíssimo na 
elaboração da Lei Francesa, de 30 de junho de 1838. Consoante Teixeira 
Brandão, citado por Piccinini (2006), afirma que "essa lei impôs deveres às 
autoridades e traçou regras que devem ser seguidas para a sequestração do 
alienado; e no intuito de impedir as violências ou o abandono deles. Determinou 
que, mesmo persistindo no seio das famílias, ficassem sob a salvaguarda e 
fiscalização da autoridade pública". 
A referida lei foi modelo para muitos países na elaboração de seus 
programas quanto ao tratamento da loucura. Um efeito prático dela extraído foi a 
obrigatoriedade da criação de estabelecimentos públicos para os loucos, que ele 
denominou de asilos. Esse nome foi usado para contrariar o termo hospital, que 
já possuía um sentido negativo. 
De forma terapêutica, o trabalho de Esquirol seguiu o de Pinel no que diz 
respeito ao tratamento moral focado em um processo educativo, que envolvia 
aspectos ambientes e sociais. 
Segundo Pacheco (2003), o pensamento de Esquirol compreende que a 
relação entre médico e paciente desempenha um papel importante na cura. 
Assim, a liberdade do sujeito é vista como condição necessária ao 
aparecimento de sua verdade de louco. 
1.3 Karl Theodor Jaspers (1883-1969) 
Karl Jaspers (1883-1969) nasceu em Oldenburg, Alemanha. Estudou 
direito, mas não concluiu. Cursou medicina em Heidelberg, em 1908. É 
considerado um filósofo pelas suas elaboradas descrições sobre a psicopatologia. 
Em 1913, aos seus 30 anos de idade, foi lançada sua obra magna, 
Allgemeine Psychopathologie (“Psicopatologia Gera”l). 
 
 
8 
De acordo com Rodrigues (2005), a obra de Jaspers pode ser considerada 
como de psicopatologia fenomenológica. Ela apresentou um mapeamento dos 
suportes conceituais e dos métodos vigentes, pelo exame de suas virtudes e 
limitações quando empregados individualmente; pela exploração dos domínios 
específicos de aplicação dos métodos mais “gerais” e, finalmente, pela proposição 
de um modelo de psicopatologia que, na visão do autor, poderia atender a 
aspirações científicas. 
A psicopatologia de Jaspers é compreendida como descritiva, ancorada na 
busca do conhecimento do fenômeno subjetivo. O trabalho do autor era focado 
nos fenômenos realmente vividos pelos pacientes. Como parte de seu método, 
descrevia e delimitava os fenômenos por parâmetros exteriormente observáveis. 
1.4 Michel Foucault (1926-1984) 
Michel Foucault nasceu em Poitiers, na França. Estudou na Escola Normal 
Superior de Paris, onde desenvolveu seu interesse por filosofia. 
Filósofo, historiador das ideias, teórico social, filólogo e crítico literário, 
Foucault lecionou História dos Sistemas do Pensamento, no Collège de France, 
de 1970 até 1984, quando faleceu. 
Foi um crítico feroz do próprio cientificismo e do academicismo dominantes 
no pensamento francês, além de militante político, membro do Grupo de 
Informação sobre as Prisões (GIP). 
Segundo Torre e Amarante (2011), influenciou – pelo menos indiretamente 
– nos movimentos de defesa dos loucos, dos prisioneiros e dos homossexuais. 
Na A História da Loucura na Idade Clássica, sua grande obra, Foucault 
(1978) apresenta a forma diferenciada da loucura pela percepção social, antes do 
século XVII. De acordo com seu pensamento, houve uma produção de formas de 
relação com a loucura, graças ao método de Pinel. 
Tal produção de formas passou a ser chamada de alienação mental e, 
depois, doença mental, causando assim uma mudança na visão de loucura na 
Idade Clássica. 
O pensamento de Foucault é diretamente influenciado por Nietzsche. A 
busca de Foucault era a de analisar a história do próprio sujeito. 
Para Foucault (1978), a psiquiátrica causou o que ele chama de poder 
psiquiátrico, isto é, o poder de atribuir o controle dos comportamentos da 
 
 
9 
sociedade, declarando o que deve ser compreendido como normal e 
estabelecendo os critérios de anormalidades. 
TEMA 2 – A HISTÓRIA DA SAÚDE MENTAL NO BRASIL 
O marco inicial da saúde mental do Brasil sem dúvida é o Hospício Dom 
Pedro II. Inaugurado em 1852, foi o primeiro manicômio brasileiro. Hoje é sede da 
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) 
O hospício foi uma tentativado Brasil de estar de acordo com o que havia 
de mais moderno na Europa. Essa é a razão do manicômio ter a mesma estrutura 
do hospital de Pinel na França. Todavia, seu comando administrativo era de 
religiosos subordinados à Igreja Católica e atendia aos interesses do Estado, ou 
seja, cárcere político. Nesse período também surgiram as colônias agrícolas. 
Já vivíamos um período de medicalização da doença mental. Mas o Brasil 
não tinha suficiência técnica, razão pela qual passou a usar as colônias agrícolas, 
em tese, como um método de tratamento para o considerado louco. Na verdade, 
era uma estratégia para esconder os doentes mentais e retirá-los do convívio 
social. 
Foi criada no Brasil a Liga Brasileira de Higiene Mental (LBHM) em 1920, 
como uma tentativa higienista mental com ações que buscavam realmente tirar do 
ambiente social os que apresentavam doença mental. 
Segundo Saraiva, Santos e Sousa (2011), a LBHM era estabelecida sobre 
o tripé “controlar, tratar e curar”. 
Em 1960, teve início no país um movimento modificador do tratamento 
asilar. Esse período é conhecido pelo surgimento da chamada indústria da 
loucura. Ocorreu uma privatização da assistência pública, mas quem pagava pelo 
atendimento do asilado era o governo, pois apenas as instituições eram privadas. 
Como uma tentativa de superar o período de exclusão e segregacionismo 
na assistência mental, em 1970, inicia-se a reforma da assistência psiquiátrica. 
Em 1978 surge o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), 
formado por trabalhadores integrantes do movimento sanitário, associações de 
familiares, sindicalistas, membros de associações de profissionais e pessoas com 
longo histórico de internações psiquiátricas. É um movimento social pelos direitos 
dos pacientes psiquiátricos. 
 
 
10 
Por sua vez, o Centro de Atenção Psicossocial Professor Luiz da Rocha 
Cerqueira, na cidade de São Paulo, foi inaugurado em 1986. É considerado o 
primeiro Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). 
O Sistema Único de Saúde (SUS) é regulamentado pela Lei n. 8.080, de 
19 de setembro de 1990 e pela Lei n. 8.142, de 28 de dezembro de 1990. 
A rede de atenção à saúde mental brasileira é parte do SUS. A partir de 
sua criação, vislumbrou-se um atendimento ao portador de transtorno mental em 
sistema comunitário. 
Em 1990 é criada uma legislação específica para saúde mental, a 
Declaração de Caracas, aprovada pela Conferência Regional para a 
reestruturação da Assistência Psiquiátrica dentro dos Sistemas Locais de Saúde. 
O Brasil é um signatário da Declaração. 
Nessa década começa a implantação de serviços de atenção diária, 
fundadas nas experiências dos primeiros CAPS, Núcleos de Assistência 
Psicossocial (NAPS) e Hospitais-Dia (HD), bem como as primeiras normas para 
fiscalização e classificação dos hospitais psiquiátricos. 
Em 1992, os NAPS e os CAPS foram criados oficialmente por meio da 
Portaria SAS/MS n. 224, de 29 de janeiro de 1992, que regulamentou o 
funcionamento de todos os serviços de saúde mental em acordo com as diretrizes 
de descentralização e hierarquização das Leis Orgânicas do SUS. 
Quanto à Lei n. 9.867, de 10 de novembro de 1999, ela admite o 
desenvolvimento de programas de apoio psicossocial para os sujeitos com 
transtornos psiquiátricos em acompanhamento nos serviços comunitários. 
Posteriormente, a Portaria GM/MS n. 106, de 11 de fevereiro de 2000 
institui os Serviços Residenciais Terapêuticos, isto é, moradias ou casas 
inseridas, preferencialmente, na comunidade, para cuidar dos portadores de 
transtornos mentais, egressos de internações psiquiátricas de longa permanência, 
que não possuem suporte social ou laços familiares. 
Após 12 anos de tramitação no Congresso Nacional, foi sancionada a Lei 
n. 10.216, de 6 de abril de 2001. A descrição da lei em comento dispõe sobre a 
assistência e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais. Proíbe 
em todo o Brasil a construção de novos hospitais psiquiátricos. Estabelece que os 
tratamentos devem ser realizados, preferencialmente, em serviços comunitários 
de saúde mental, cuja finalidade principal é buscar a reinserção social do doente 
 
 
11 
mental no meio em que está inserido. A internação só será aconselhada quando 
os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes. 
Em 2002, o processo de redução de leitos em hospitais psiquiátricos e de 
desinstitucionalização de pessoas com longo histórico de internação é acelerada 
por uma série de normatizações do Ministério da Saúde, que institui mecanismos 
para a redução de leitos psiquiátricos. 
No mesmo ano é lançada a Portaria GM/MS n. 336, de 19 de fevereiro de 
2002, que estabeleceu as modalidades dos Centros de Atenção Psicossocial 
como CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPS AD (voltada para os transtornos causados 
pelo uso de álcool e outras drogas) e o CAPSi (especializada no tratamento do 
público infanto-juvenil), definindo-os por ordem crescente de porte/complexidade 
e abrangência populacional. 
Em 2004, a Portaria GM/MS n. 52, de 20 de janeiro de 2004 instituiu o 
Programa Anual de Reestruturação da Assistência Psiquiátrica Hospitalar no 
SUS. Ela estabelece que o processo de mudança do modelo assistencial deve ser 
conduzido de modo a garantir uma transição segura, em que a redução dos leitos 
hospitalares possa ser planificada e acompanhada por uma construção 
concomitante de alternativas de atenção no modelo comunitário. 
Por sua vez, a Portaria GM/MS n. 1.876, de 14 de agosto de 2006 erigiu as 
Diretrizes Nacionais para Prevenção do Suicídio, a ser implantadas em todas as 
unidades federadas, respeitadas as competências das três esferas de gestão. 
Na mesma época, foi promulgada a Lei n. 11.343, de 23 de agosto de 2006, 
que criou o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD). 
Tal norma estabelece medidas para prevenção, atenção e reinserção social 
de usuários e dependentes de drogas, define crimes e penas, além de criar 
mecanismos voltados à repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito 
de drogas. 
TEMA 3 – CONCEITUANDO E DEFININDO A PSICOPATOLOGIA 
O termo psicopatologia foi criado por Jeremy Benthan, em 1817. De acordo 
com Cheniaux Junior (2002), é um acróstico de três palavras de origem grega: 
psyché, que significa alma; pathos, que é compreendida como sofrimento ou 
doença, e logos, isto é, estudo ou ciência. 
 
 
12 
Reconhecemos como os pais da psicopatologia o francês Esquirol e o 
alemão Griesinger, por meio dos seus trabalhos publicados, respectivamente, na 
França (em 1837) e na Alemanha (em 1845). 
3.1 A psicopatologia como campo da ciência 
A psicopatologia é uma disciplina científica que estuda a doença mental em 
seus vários aspectos: suas causas, suas alterações estruturais e funcionais, os 
métodos de investigação e suas formas de manifestação (sinais e sintomas). Essa 
disciplina não é pura, pois há uma intersecção com outras ciências. 
A psicopatologia se originou por meio da medicina e da filosofia. Essas 
duas áreas da ciência transitam na relação humana entre o conhecido e o 
desconhecido. Podemos dizer que a medicina trabalha como o conhecido. O 
soma, compreendido como comportamento, apresenta em sua condição de existir 
a situação problemática a qual denominamos doença. 
Dentro dessa perspectiva de homem há uma área do conhecimento médica 
denominada psiquiatria, que tem o condão de cuidar do corpo a partir da mente. 
Esse trânsito leva à medicina a condição imanente do corpo. 
Do outro lado temos a filosofia, que busca compreender o existir humano. 
É conhecida como a ciência da busca do conhecimento, razão pela qual é 
conhecida como a mãe de todas as ciências. 
Por sua vez, a psicologia – oriunda da filosofia – busca conhecer o 
indivíduo. Como ciência, procura demonstrá-lo por meio de seus atos executados, 
conscientes ou não. 
Com o desenvolvimento dessas áreas do saber, surge a psicopatologia,que busca misturar a composição médica com a filosófica, para compreender o 
adoecer humano em razão de doenças mentais. O comportamento, a cognição e 
as experiências subjetivas anormais constituem as formas de manifestação das 
doenças mentais. 
Muito embora influenciada por outros ramos do conhecimento, a 
psicopatologia é uma ciência autônoma. Os fenômenos mentais patológicos são 
muitas vezes qualitativamente diferentes dos normais. Segundo Jaspers, citado 
por Cheniaux Junior (2002, p. 18), “a psicopatologia investiga muitos fatos cujos 
correspondentes ‘normais’ ainda não foram estabelecidos pela psicologia”, e “é 
muitas vezes a visão do anormal que ensina a explicar o normal”. 
 
 
13 
3.2 As influências na psicopatologia 
Olhando a psicopatologia pelo olhar da psicologia, verifica-se a ação direta 
do pensamento desta ao direcionar aquela. Embora quase todas as correntes 
psicológicas tenham uma forma de abordar a psicopatologia, vamos pontuar duas 
importantes: a fenomenologia/existencialismo e a psicanálise. 
Carl Jaspers, citado por Cheniaux Junior (2002, p. 18), deixa claro que “o 
objeto da psicopatologia é o fenômeno psíquico, mas só os patológicos”. A obra 
de Jaspers é entendida com uma obra fenomenológica. Difere quanto ao 
pensamento de Edmund Husserl, mas necessita separar por uma redução 
fenomenológica o sujeito do evento. 
Essa relação de separação permite que seja possível fazer descrição do 
fato, o que permite a compreensão do fenômeno psíquico. No pensamento de 
Jaspers, a psicopatologia compreende a direção do fenômeno para poder tralhar 
nele. 
A outra grande influência vem da psicanálise por meio da orientação 
psicodinâmica. A estrutura do aparelho psíquico em sua complexidade é 
responsável pelo desconhecido. 
Aliás, essa é a grande contribuição da psicanálise: o desconhecido. Os 
termos histeria, psicose e neurose são decisivos na psicanálise, pois são oriundos 
do inconsciente e no controle do id. 
Embora não tenhamos um grande psicanalítico na psicopatologia, 
podemos ver a tradição procedural da psicanálise no processo psicopatológico. 
TEMA 4 – APLICAÇÕES DA PSICOPATOLOGIA 
 Psicopatologia é uma área do saber muito ampla. Quanto mais 
diversificado o campo de estudo, maiores são as possibilidades de alcançar um 
êxito em seu objetivo. 
Baseados na classificação de Dalgalarrondo (2000), veremos a seguir as 
aplicações da psicopatologia: 
 Psiquiatria descritiva: tem interesse fundamentalmente na forma das 
alterações psíquicas, na estrutura dos sintomas e naquilo que caracteriza 
a vivência patológica como sintoma mais ou menos típico; 
 Psiquiatria dinâmica: tem interesse no conteúdo da vivência, nos 
movimentos internos de afetos, desejos e temores do indivíduo, isto é, em 
 
 
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sua experiência particular, pessoal, não necessariamente classificável em 
sintomas previamente descritos; 
 A perspectiva médico-naturalista trabalha com uma noção de homem 
centrada no corpo, no ser biológico como espécie natural e universal; 
 Na perspectiva existencial, o doente é visto principalmente como 
“existência singular”, como ser lançado a um mundo que é apenas natural 
e biológico em sua dimensão elementar, mas — acima de tudo —
fundamentalmente histórico e humano; 
 Na visão comportamental, o homem é visto como um conjunto de 
comportamentos observáveis, verificáveis, que são regulados por 
estímulos específicos e gerais, bem como por certas leis e determinantes 
do aprendizado; 
 A perspectiva cognitivista é centrada na atenção sobre as 
representações cognitivas conscientes de cada indivíduo, que são vistas 
como essenciais ao funcionamento mental, normal e patológico. 
 Na visão psicanalítica, o homem é visto como ser “determinado”, 
dominado, por forças, desejos e conflitos inconscientes. 
 As categorias diagnósticas são consideradas “espécies únicas”, tal qual 
espécies biológicas, cuja identificação precisa constituiria uma das tarefas 
da psicopatologia. As entidades nosológicas ou transtornos mentais 
específicos podem ser compreendidos como entidades completamente 
individualizadas, com contornos e fronteiras bem-demarcados. 
 Uma perspectiva dimensional em psicopatologia, que seria 
hipoteticamente mais adequada à realidade clínica. Haveria, então, 
dimensões como, por exemplo, o espectro esquizofrênico, que incluiria 
desde formas muito graves, tipo demência precoce. 
 A psicopatologia biológica enfatiza os aspectos cerebrais, 
neuroquímicos ou neurofisiológicos das doenças e dos sintomas mentais. 
A base de todo transtorno mental são alterações de mecanismos neurais e 
de determinadas áreas e circuitos cerebrais. 
 A perspectiva sociocultural, por sua vez, visa estudar os transtornos 
mentais como comportamentos desviantes que surgem a partir de certos 
fatores socioculturais, como discriminação, pobreza, migração, estresse 
ocupacional, desmoralização sociofamiliar etc. 
 
 
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 Na visão operacional-pragmática, as definições básicas de transtornos 
mentais e sintomas são formuladas e tomadas de modo arbitrário, em 
função de sua utilidade pragmática, clínica ou orientada à pesquisa. 
 O projeto de psicopatologia fundamental, proposto pelo psicanalista 
francês Pierre Fedida, visa centrar a atenção da pesquisa psicopatológica 
sobre os fundamentos de cada conceito psicopatológico. Além disso, tal 
psicopatologia dá ênfase à noção de doença mental como pathos, que 
significa sofrimento, paixão e passividade. 
TEMA 5 – CONTRIBUIÇÕES DE OUTRAS ÁREAS PARA A PSICOPATOLOGIA 
Já dissemos que, embora autônoma, a psicopatologia não é uma ciência 
pura, pois necessita da ação de outras ciências ou áreas do conhecimento para 
ser mais aplicável e capaz de desvendar as questões a ela colocadas. 
Vamos falar agora sobre algumas áreas cooperadoras da psicopatologia. 
5.1 Neurociências 
Quando nos prontificamos a compreender o cérebro, deparamos com uma 
infinidade de questões que são o objeto de pesquisa da neurociência. Mas o que 
é a neurociência? 
Ela é a área que se ocupa em estudar o sistema nervoso, visando 
desvendar seu funcionamento, sua estrutura, seu desenvolvimento, bem como 
eventuais alterações que ele pode sofrer. O objeto de estudo da neurociência é o 
sistema nervoso. 
Podemos sintetizar o sistema nervoso em sua composição como: o 
encéfalo, a medula espinhal e os nervos periféricos. 
Quando falamos de sistema nervoso nos referimos ao conjunto de 
neurônios, que são aproximadamente 10 bilhões e constituem a estrutura básica 
do córtex, onde estão instalados a percepção, a memória, as emoções e as outras 
funções psíquicas. 
Compreender essa estrutura de forma morfológica e anatômica é relacionar 
esse conjunto de massa que pesa cerca de 2% do corpo, mas o comanda de 
forma ímpar e perfeita. Essa estrutura cefálica possui suas funções, que estão 
sedimentadas em suas porções anatômicas denominadas lobos. 
 
 
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Dalgalarrondo (2000) faz uma análise do cérebro como uma estrutura 
dividida em duas porções: posterior e anterior. 
A porção posterior, incluindo os lobos occipitais, parietais e temporais, 
contém as áreas sensoriais primárias (da visão, da audição, do tato, do olfato, da 
gustação e da propriocepção), as áreas secundárias adjacentes (funcionalmente 
relacionadas às áreas primárias) e uma extensa área terciária de associação, que 
é a associativa da encruzilhada temporoparietoccipital, também conhecida como 
zona responsável pela recepção do mundo. 
A porção anterior do cérebro relaciona-se mais intimamente com as 
atividades do indivíduo. É a porção do cérebro que “age” sobre o mundo. As áreas 
anteriores do cérebro — principalmente os córtices pré-frontal, frontal e os núcleos 
da base (sobretudo, o núcleo caudado) — também participam da identificação de 
problemas a serem solucionados. 
Quando essa compreensão alcança os lobos cerebrais podemos dizer, 
segundo Kandel, que os lobosfrontais são responsáveis pelo planejamento da 
ação e do futuro, assim como pelo controle dos movimentos; os lobos parietais, 
pelas sensações táteis e pela imagem corporal; os lobos occipitais, pela visão; e 
os lobos temporais, pela audição e por muitos aspectos da memória, da 
linguagem, do aprendizado e das emoções. 
5.2 Neuropsicologia 
A neuropsicologia estuda a interação que há entre as ações dos nervos e 
as funções ligadas à área psíquica. Tem como mais atuantes as funções 
cognitivas, que são as habilidades do nosso cérebro: a memória, a linguagem, o 
raciocínio, as habilidades visuoespaciais, o reconhecimento, a capacidade de 
resolução de problemas etc. 
A neuropsicologia estudas as alterações que são afasias (perda de 
linguagem), as agnosias (perda da capacidade de reconhecimento), as amnésias 
(déficits de memória) e as apraxias (perda da capacidade de realizar gestos 
complexos). 
Outra área de atuação da neuropsicologia é a vinculada a dimensões da 
cognição como: as atividades construtivas, habilidades visuoespaciais, 
habilidades musicais, atenção sustentada e seletiva, percepção do tempo e 
organização temporal, funções executivas e funções conceituais. 
 
 
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5.3 Psicologia 
A psicologia é a fonte de consulta psicopatologia. 
Segundo Dalgalarrondo (2000), muitas são as relações entre a psicologia 
e a psicopatologia. Vejamos: 
 A Psicopatologia como “patologia do psicológico”. Aqui a psicopatologia é 
tida como um ramo da psicologia geral. Sendo assim, a psicologia é o 
estudo sistemático da vida psíquica normal, e psicopatologia, uma 
subdivisão que estudaria os fenômenos anormais. 
 A Psicopatologia como “psicologia (especial) do patológico” (da mente 
patológica). Nesse caso, sua base de estudo é a alteração quantitativa do 
normal. 
 A Psicopatologia como semiologia psiquiátrica. Ela se resume ao estudo 
de sinais e sintomas das doenças psiquiátricas. 
 A Psicopatologia como propedêutica psiquiátrica estuda os princípios e os 
métodos do adoecimento mental. 
5.4 Filosofia 
A filosofia exerce fundamental contribuição para o saber psicopatológico. 
Como área basilar da ciência, permite o trânsito do pensamento investigativo em 
psicopatologia. 
Utilizaremos a discussão de Dalgalarrondo (2000) sobre temas discutíveis 
em psicopatologia: a relação mente-cérebro, a questão da causalidade e da 
verdade. 
Na discussão da relação mente-cérebro, é necessário ter a capacidade de 
compreender os termos e os seus sinônimos, como espirito-matéria ou corpo e 
alma. Essa é uma discussão que envolve os conceitos de dualismo ou monismo. 
 No que diz respeito à causalidade, ela é compreendida em relação ao 
fenômeno, motivo pelo qual o método científico deve esclarecer a condição de 
causalidade atribuindo-se alguns conceitos, como: plausibilidade, temporalidade, 
reversibilidade, força da associação, dose-resposta, consistência e 
especificidade. 
Em relação à verdade em psicopatologia, deve-se considerá-la como uma 
propriedade ou um valor que se atribui a teorias, teses e proposições. Segundo 
 
 
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Dalgalarrondo (2000), três conceitos de verdade podem ser evocados: o 
convencionalista, o pragmático e o realista. 
 No conceito convencionalista, a verdade de uma proposição ou de uma 
teoria depende da relação estabelecida com outras proposições. Nesse 
sentido, a verdade é sinônimo de coerência. 
 Na perspectiva pragmática, a verdade se identifica com os resultados que 
uma teoria produz, com o êxito resultante de sua ação. É verdadeiro aquilo 
que se prova eficaz, que “funciona”, que produz resultados práticos 
positivos. 
 A concepção realista baseia-se na tese aristotélica da verdade como a 
correspondência do pensamento à realidade fatual; a proposição deve 
estar de acordo com o fato que afirma. 
Finalizando a ação da filosofia na psicopatologia, apresentaremos duas 
qualidades que são impreteríveis para a psicopatologia: o poder de previsibilidade 
e a qualidade heurística. Previsibilidade é a condição de prever fatos por meio de 
um conjunto de variáveis, ao passo que heurística é a capacidade de gerar outras, 
de enriquecer e esclarecer a percepção da realidade. 
 
 
 
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