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PRÁTICA DE ESTÁGIO – EXECUÇÃO DO PROJETO DE INTERVENÇÃO AULA 3 Profª Sandra Santos 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, vamos apresentar os desafios da cena contemporânea, buscando compreender o estágio supervisionado no cenário histórico do serviço social e a coerência do projeto de intervenção com o projeto profissional do serviço social. Conversaremos a respeito das dimensões que embasam a prática profissional e da importância e desafios da concretização do projeto interventivo. TEMA 1 – O ESTÁGIO, O PROJETO E A EXECUÇÃO NA CENA CONTEMPORÂNEA Ao revisitarmos a história do serviço social, deparamo-nos com a realidade social de exploração e desigualdade. Esse panorama persiste na cena contemporânea, marcada pela exploração do trabalho, lucros exorbitantes dos detentores dos meios de produção, em um cenário político governado pelo Estado liberal, que define intervenção mínima na questão social. Na atualidade, novos desafios se impõem à sociedade e à prática do assistente social. A globalização torna sem fronteiras a exploração e a desigualdade, desencadeando novas expressões da questão social que se constituem em novos desafios à profissão, Diante dos velhos e novos desafios, o assistente social realiza sua prática buscando intervir para assegurar direitos e transformar a realidade. Durante a realização do estágio, você, aluno, deve ter vivenciado muitos desafios enfrentados pelo assistente social. A intervenção proposta em seu projeto interventivo necessita estar condizente com a proposta da profissão, buscando, antes da intervenção, conhecer a realidade, devendo possuir postura investigativa, de conhecimento histórico e crítico da realidade. O estágio contribui na aquisição da competência do conhecer, propor, acompanhar, intervir e, segundo Iamamoto (2004), transcender o atendimento rotineiro, buscando implementar projetos e avançar na garantia de direitos. Esse aprendizado no campo de estágio permite ao estagiário apreender a realidade, detectando possibilidades de propostas interventivas factíveis de serem implementadas e que possam contribuir com a implementação do projeto profissional da profissão. Segundo Iamamoto (2004), esse aprendizado permite o conhecimento do jogo das relações sociais, o qual é permeado de tensões e conflitos onde atua o assistente social. 3 Sua proposta interventiva seguiu o norte da garantia de direitos em busca da transformação da realidade desigual e exploratória. TEMA 2 – O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO NO PROJETO DE INTERVENÇÃO As ações do assistente social pautam-se no projeto ético-político da profissão, e, segundo Barroco e Terra (2012, p. 12), direcionam a reflexão e a luta no sentido de assegurar os interesses da classe trabalhadora, realizando a crítica ao conservadorismo. O código de ética profissional mostra, segundo as autoras, “sua densidade histórica e atualidade na defesa dos interesses do trabalho e da classe trabalhadora”, entendendo que se fazem necessários novos valores para a construção de uma sociedade “para além do capital”, reconhecendo a liberdade como valor ético central. O projeto de intervenção construído pelo aluno em estágio deve estar condizente com a proposta ético-política da profissão, e o estágio por seu papel formador tem por objetivo conduzir o aluno no caminho da observância do código. O código de ética, segundo Barroco (2009), orienta o assistente social no que tange às opções, escolhas, posicionamentos e julgamentos de valor. E o que isso quer dizer? Quer dizer que, em seu projeto de intervenção, você deverá estar condizente com as orientações do código de ética, e que o seu projeto interventivo, assim como as ações do assistente social em campo de trabalho, deve, segundo a autora, buscar “efetividade na transformação da realidade, na prática social concreta, seja ela na direção de um atendimento realizado, de uma necessidade respondida, de um direito adquirido.” Para Barroco (2009), a articulação ao projeto coletivo diz respeito ao alargamento do espaço profissional, o que pressupõe a aproximação com outras categorias profissionais e com os movimentos sociais organizados. A respeito do trabalho conjunto com outras categorias profissionais, podemos pontuar aqui a importância da interdisciplinaridade e também do projeto societário conjunto-coletivo, o que traduz o fortalecimento no que tange ao enfrentamento e à resistência. É necessário articular e refletir em conjunto, é necessário avançar nas propostas que busquem a garantia de direitos e ao acesso aos bens e serviços, a um atendimento que prime pelo acolhimento, pautado nas reais necessidades da população. 4 TEMA 3 – A EXECUÇÃO DO PROJETO E AS DIMENSÕES TEÓRICO- METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICA Devemos estar atentos para a necessidade de que tanto a construção da proposta do projeto de intervenção quanto sua execução devem estar pautadas nas dimensões teórico-metodológica e ético-política da profissão. E o que isso quer dizer? Quer dizer que, ao construir seu projeto interventivo, você pautou-se nos preceitos teóricos e éticos do serviço social e que, na execução de seu projeto, deverá estar atento à forma como está conduzindo suas ações, a como se organizam essas ações e qual é a sua postura diante da realidade e dos usuários/público-alvo de seu projeto. A base teórico-metodológica a ser seguida refere-se à teoria social crítica, que utiliza como método para a aproximação e análise da realidade concreta o materialismo histórico dialético, que possibilita ao assistente social romper com o imediatismo da prática. Toda a proposta interventiva e agora todas as ações, posturas e comportamentos requeridos na execução do projeto de intervenção devem estar pautados nas bases teórico-metodológica e ético-política do serviço social. Os objetivos e a metodologia utilizada na execução do projeto devem estar em sintonia com o projeto ético-político da profissão, observando os princípios que norteiam o código de ética do assistente social. Atenção e crítica são fundamentais para que esses princípios sejam respeitados. Observe de que forma o público-alvo do projeto participa das atividades. Eles se sentem à vontade ao participar? Encontram oportunidade para serem ouvidos? Suas ações denotam respeito e reconhecimento da cultura e da expertise dessa população? TEMA 4 – A DIMENSÃO TÉCNICO-OPERATIVA E O PROJETO DE INTERVENÇÃO Dissemos que as dimensões teórico-metodológica e ético-política necessitam ser observadas tanto na construção quanto na execução do projeto de intervenção. A construção e a execução do projeto de intervenção constituem-se em ação técnico-operativa, e devemos reafirmar que todo instrumento utilizado 5 carece de instrumentalidade. O que isso quer dizer? Quer dizer que as ações propostas na intervenção possuem uma intencionalidade, trazendo o eixo ético- político e teórico-metodológico. Os instrumentos e as técnicas compõem a prática. Por exemplo, se, em seu projeto de intervenção, propôs-se uma dinâmica de grupo utilizando-se determinado jogo, essa técnica possui uma instrumentalidade e deve ter um objetivo que se quer atingir, pautado no compromisso ético-político da profissão. O jogo, a técnica em si, não deve ser utilizado sem a clareza suficiente do que se quer atingir. O compromisso com o público a que se destina a ação exige cuidado na escolha dos instrumentos e técnica e na postura correta ao utilizá-las. Lembre- se de que o objetivo do projeto de intervenção, para além de habilitar o aluno para o exercício profissional, constitui-se em promover e impactar no acesso da população e na melhoria das condições encontradas no campo de estágio. Isso requer respeito, compromisso e cuidado para não reproduzir na postura do profissional que executa a ação comportamentos e posturasautoritárias, desrespeitosas e que reforcem a lógica da desigualdade e da exploração . É preciso sair do entendimento comum, das necessidades pautadas em “achismos”, buscando identificar histórica e criticamente as expressões da questão social que se manifestam no campo de estágio, foco de seu projeto de intervenção, que utiliza instrumentos e técnicas que garantam sua execução e alcance dos objetivos. TEMA 5 – CONTRIBUIÇÕES DO PROJETO DE INTERVENÇÃO E OS DESAFIOS DO SERVIÇO SOCIAL Durante o estágio supervisionado e na construção da proposta do projeto de intervenção, muitas dúvidas e desafios permeiam o universo do estagiário. Os alunos por vezes indagam quanto à dificuldade de detectar na ação do assistente social os condutos teórico-metodológicos e ético-políticos da profissão. Algumas reflexões se fazem necessárias para o entendimento da realidade da prática do assistente social. Historicamente, a profissão desenvolve-se no cenário do crescimento industrial brasileiro na década de 30, surgindo no seio das ações assistenciais da Igreja, sendo coaptado pelo Estado no acompanhamento da questão social oriunda da produção do sistema capitalista. 6 A renovação e ruptura com o papel de mantenedor da realidade vigente ocorre desde o movimento de reconceituação, mas ainda hoje encontramos entendimentos e práticas pautadas no serviço social conservador. Não podemos nos esquecer de que o assistente social é um trabalhador, inserido na divisão técnica do trabalho, que atua junto ao trabalhador. Ocorre que, sendo trabalhador, o assistente social também é explorado, sofre pressões do mercado de trabalho e não tem seus direitos observados. Essa realidade, por vezes, remete o profissional ao universo da subordinação, e o estágio, como já discutimos, oportuniza a reflexão, a revisão, a investigação tanto para o aluno quanto para os supervisores. Podemos então pontuar a respeito da importância do estágio e do projeto de intervenção. Ambos oportunizam ao aluno a formação de habilidades profissionais mas também contribuem para o fortalecimento da profissão e da atuação do assistente social em campo, realizando uma proposta interventiva com vistas à transformação de uma situação/realidade encontrada. NA PRÁTICA A execução do projeto de intervenção requer dos atores envolvidos (estagiário, supervisor acadêmico e de campo) estreito acompanhamento. Verifique todas as etapas previstas no projeto de intervenção e prepare-se para executar seu projeto interventivo. Ao executá-lo, certifique-se do compromisso com o projeto ético-político da profissão, buscando refletir a respeito do alcance da observância das dimensões da prática do assistente social para o alcance dos objetivos propostos. FINALIZANDO A execução do projeto de intervenção consiste em importante etapa na formação do assistente social e requer planejamento, acompanhamento e avaliação das ações propostas. Executar com sucesso o projeto de intervenção fortalece a profissão, contribui com o campo de estágio e com a proposta transformadora e comprometida da profissão. 7 REFERÊNCIAS BARROCO, M. L. S. Fundamentos éticos do serviço social. In: CFESS. Serviço social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília, 2009. p.165-184. BARROCO, M. L. S.; TERRA, S. Código de ética do/a assistente social comentado. São Paulo: Cortez, 2012. IAMAMOTO, M. V. As dimensões ético-políticas e teórico-metodológicas no serviço social contemporâneo: trajetória e desafios. XVIII Seminário Latinoamericano de Escuelas de Trabajo Social. San José, Costa Rica, 12 de julio de 2004.
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