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_F.@tF-*- wwW'lumenjuris.com.br EDmoREs Joáo de Almeida Joáo Luiz da SiÌva AÌmeida ADRIAN SGARBI CoNsrLro EDrroRrAr ^ll'xr!trlro FÌoitas CámaÍa ^lrìxân.lÌe Molais da Rosa ^n1iltôn BÌìênô.Ìê CarvaÌho coNsÌLHo CoNsuirpo Ávdo Mayrink da Costa Aniôniô CãÌìôs MáÌtins Sôârês Auqusto Zimmermaú Androyâ MeDdes dê Aìmeidâ Sôhérêr NavarÍo Aurélio Wander Bastos Artrr de Brito GueiÌos Souza (iÍrzár Rob€rto Bitencourt Crìsriano CÌìâvês de Farias Cllrlos Ícluâido Adrimo Japiassú lhÌtzi HassaD ChÕukr l illy Nascimentô FiÌhô lÌalcisco dê Assis M. Tâvares coraldo L M. Prado (hrstavo Sénechal de Goífredo .losé dos Santos Carvalho Filho lni.io AntôniÕ Chamon Junior MaüoêÌ Mêssias PêixiúÌÌo MarcelÌus Polastri Limâ Mâlco Auréllo Bezerra de Melo M.rcos Juruena vilÌela SoLrto ìlâuÌo de Bessa Antunes lìcârdo Mâaimo Gomes FeÍÌaz Sórsio Andre Rocha 'l ârsis Nametala Sarlo Jorge Victor Gameiro Drummond Elida Séçruin Flávia Lages de Castro FÌávio Alvês Martins Humberto DalÌa Bernardina de Pinho Joáo Theotonio Mendes de AÌmeida Jr. Lrìiz PauÌo Vieira de CaÌvalho Omar Gama Ben Kauss Sergio Demoro Ham ton Rua Co(eia vasques, 48 CEP: 04038-010 CEP 90010-271 - Potlo ^!ì0rt llrj Classrcos ou TnoRrA Do DrRsrro 2a ediçáo revista e ampliada EDrroRA LUMÊN JuRrs Rio de Janeiro 2009 centÍo - Rua da AssembÌéia, 10 Loja G/H Ruâ Tenente BÌi[o Mollo, 1 233 CljP 20011 000 CentÍo 'l:al. (21) 2531-2199 F?a 2242-1744 BârÍa - Avenida das Amencas 4200 Loja E Bahia Universidade Estácio de Sá canrpus ïbm Jobim CEP 22630-01L llaÍâ da Tijuca Rio de Jdeiro RJ 'l:el. (21) 2432'254A / 3150-'1980 Vila Clementino - São Paulo - SP 'I:etêfd (11) 59OA O24O / 5OAt7l72 Bftúla SCLS quadra, 402 bÌoco B Loja 35 CEP 70235-520 Asa SuÌ - BrasíÌia DF 'l1rl (61)3225 8569 CEP 30180-070 - Barro !r,1,) Belo HÕrizoDte Mq TêÌ. {31) 3309-4937 / 4934 4l,it1 Rua Dr. José Perobtr, :l4l) slr ln)l)/!í){j CEP 41770 235 Cosl.Ír ^rrlSâlvador 'BA 'Tbl (/1) 3341 3(ì4Íi Bio Grando do Sl, Rua RiachuêÌo, 133b ' (ii'r'lr', TeÌ. (51) 3212-8590 Es!ítito Satúo Ruã Constant€ SodÍí, il?z l,1rÌ.!) CEP] 29055-420 - SÍuìl. lnrrrn vitória - Es. 'lel.: (27) 3235-4624 / lt22t, lttntt (TGDE) - 1945. Há tradução em português peta Martins !bntes); ,,A TéoÍia Comunista do Direito" ("The Communist Theory of Lavv,. _ 1955); " Fundamentos da DemocÍacia,' (Foundations of DemocÍacy _ 19b5); "Teoria Pura do Dìreito, (.Reüe _Rechrsleh re (.Íp2) _ 1960. Há traducão em português pela Martins Fontes); ,,?eoria GeÍaj das lVormàs,, (" Allgemeine Theorie der Normên,', ano de 1979. Existe uma exceÌente traduçáo italiana realizada por Mirella Torre e coordenada peÌo Professor Mario Losano). Sob o título ,Jurisdição Constitucronal,,, um coniunto de trabaÌhos de Kelsen sobre este tema também foi pubÌicado peÌa Martins Fontes. AIf Ross (Sobre o Direito e a Justiça) 'A pÌincipaÌ idéia deste trabaÌho é Ìevar no campo do Direilo os pdncípios do empidsmo às suas conclusóes úllimas. Desta icléia emerge a exigência metodológica do estuclo do DiÌeìto seguiÌ os padÌôes tÌadicionais de obsetvação e de veificaçáo que anìmam toda a modeÌna ciência empÍista, e a exigência anaÌítica das noçóes jurídicas fundâmentais serem interpÍetadas obdgatoria- mente como concepçóes da reaÌìdade socÌal, do compor- tamento cÌo homem em sociedade' A. Ross IntÍodução AÌf Ross é o principal expoente do reaÌìsmo jurídico escandinavo' tÍadiçáo que concebe o Direito como um coÌliunto de Íatos ou íenôme- nos isicofísicos e cuja origem encontra, em Novecentos' o nome de Hâgárstrôm e, depois, os de Lundstedt e OLivecrona Como caracterís- tica básica de seus esforços, Ross manteve a pretensáo de formular uma ciencia jurldica' de base emplricâ' O livro SobÍe o Di?ei to e a Justiça, ano 1953' muito conheciclo em sua versão inglesa de 1958, é considerado, junto com os lrwas Tëoria Püra do Drrer'to de Kelsen (cf cap 2) e O Conceito de DiÍeito de Hart (cÍ cap 4)' uma das obras mais importantes de Teoria clo Direito do século )O( Marcada por expressiva preocupaçáo epistemológica sobre os firndamen tos do conhecimento, possibiÌidade do discurso moral e Ììmites do positi vìsmo jurídico, com "SoÕre o Dl?e ito e a Justiça" nosso autor preteÌlde rea iizar a eÌiminaçáo da validacle iuídica como categoda independente' reduzindo-a a uma dimensão da realidade Assim' empreende esforços no sentido de coDtinuar oÍientaçáo já presente em ìiwo que editou em 1946' Para uma Ciència ReaJista do Direito Conforme escreve logo no prefácio do trabalho que será aqui anaìisado, 'A pdncìpat idéia [é] levar no canpo do direito os princípios do empúismo às suas concìusÓes últimas" 1. Sobre o direito e a justÍça (apÍesentação) Em termos essenciais' Alf Ross estrutura o livro "Sobre o Direito e a Justiça" (SDJ) com vistas a consignaÍ basicamente quatro teses' l,ir)l.r(Ìl.iìlÌ1.o, Lr.tl.iÌ l,arÌÌbelÌì de l.orÌÌas cle iÌÌtere.,-.so goral, LÉìts colìÌo iÌb_ (lrvi DOes fuÌÌdaÌlÌeÌ.Ìtais do dlreito e o direito natural, com origiÌÌaÌidacle (Capítulos VIII, X e XI). A primeira tese é reÌativa à idóia de ..direjr.o vrgente"; esta, central para o marco teórico de compreensáo do fenôme_ no normativo que pretende afirmar. Entende Ross que, para saber se uma norma é utiÌizada em determinada ordem jurÍdica, ou seja, se fun_ ciona como diretiva sobre o uso da forqa, se deve analisar, sobretudo, o comportamento dos juízes, estes, verdadeiros destinatários das normas jurídicas (CapÍtulo ÌI). Essa tese, por sua vez, impiica a remodeÌação da tradicionaÌ percepção das drsciplinas jurídicas (Capítulo ì). A segunda tese é reiativa à ciência jurídica, ou seja, ao conhecimento proctuztclo peìos juristas a partir da constataçáo do direito vigente. Segundo Ross, para haver verdadeira ciência jurídica, esta deve ser regida por um método que favoreça a verificaçáo empírica, sem a qual quáÌquer tenta_ tiva de se firmar alguma pÍevrsâo a respeito das ocorrências futuras em determinada ordem jurídica é um sem_sentido. Dessa forma, estabelece inúmeras consideraçóes aÌusivas a ideologia das fontes do Direito (Ca_ pítuÌo IIÌ). A terceira tese consiste em sua adesào a teoria cetica da interpretacáo judiciaÌ. Em SDJ Ross afirma que na decisão dos juízes há sempre inÍluência de "valores subjetivos', e, em especiaÌ, do que enten_ dem ser o "vaÌor da justiça" (Capítulo XII), de modo que se pocte notar também forte postura cética em suas consideraçoes acerca do ,.método lurídico" ("interpretaçáo jurídica") (Capítulo IV). Ìnteressante nessa relaçáo temática é análise que faz da noção de ,,bem_estar socraÌ,,. Aquarta tese de Ross centra se nos chamados ,,conceitos jurÍdicos,, (CapítuÌos V VI, e VII). para Ross, conceitos como o dê ,,proprredade,, são vazios, são meras paÌavras, mas servem para Ìigar ,,fatos jurídicos,, a "conseqüências juddicas,, desempenhando importante função no dis_ curso da doutrina jurídica (Capítulo IX). Devem ser destacados, tam- bém, os capítuÌos referentês às relações entre ciência e política (CapítuÌo XÌV), poÌítica jurídica (CapítuÌo XV) e sua possrbilidade (Capítulos XVI e XVII). Nesta exposição nosso foco de atenção será o modeÌo de ciência de Ross, embora aspectos adjacentes às teses referi_ das sejam também mencionados. 2. KeÌsen e Ross Como analisado neste Ìivro, no Capitulo pertinente, para Kelsen um fato assume paÍticuÌaÍ significado juridico através de uma norma que serve de instrumento de avaliaçáo do fato como ,,fato normatrvo,,. 66 r llLr ,,r ,,r iLr! li('rÌr1 !l,r lrrrIrl,r l)or oul.ro laì(lo, ossiì ÌÌÌcliÌÌÌa ÌÌorÌÌÌa teln signtficado de norma "jurídica" rrar 0roclicÌa erÌÌ que seja produzrda conforme a estrutura dinâmica (esbmtura de competências e deÌegações de competência) de determi- nada ordem juÍídica. Portanto, como as ocorrências empídcas nào sáo subjetrvamente discerníveis' atÏavés das normas jurídicas tem-se o padÍão de avaliaqáo objetivo do significado subjetivo dos fatos: apesar àe . cobtanç" de entrega de dinheiro feita por um "funcionário do Estado" e a exigência da entrega de dinheiroÍeita por um "saÌteadoÏ de estÌadas" apresentarem mesma feição empírica (a cobrança de dinheiro), apenas a exigência do funcionário do Estado é um fato jurÍ- ctico 1ícito a que se deve obediência "juÍídica" Nesse quadÍo, o estado psíquico que um fato possa provocar náo tem importância; o relevante é a sua objetivaçáo obtida a partir de outra norma. É exatamente essa objetivaçáo das próprias normas que faz com que se deva sempre buscar seu fundamento normativo' sendo' a norma fundamental, o ponto íinal da linha recursiva O professor Alf Ross também afirma ser a norma um esquema de inteÍpretação de certos fenômenos sociais: a estrutura do Düeito' em sua teoÍia, também é dinâmica e em escalões Todavia' diferentemente de Kelsen, Ross tem como proposta construir um modeÌo teórico de ciència que seja empírico: um modelo cujas proposiçóes sejam verificá- veis com base na expeÌiencia. como ocoÏÌe com as ciencias naLuÌais Para tanto, diferencia o "direito" do "direito vigente" Sendo que o pÍi- meiro, isto é, o "diÍeito sem adjetivações", consiste em conceito com- preensivo do conjunto de normas compÍeendidas como diretivas; o seg.,r.do, é dizer, o "diÍeito vigente", trata-se de expressáo empregada paia designar as normas efetivamente aplicadas peÌos juízes guando decidem controvérsias 3. Linguagem, normas, ordenamento jurídico No pdmeüo capítulo de SDJ' Ross destaca a relevância da questáo da "natureza" do Direitol 'A questáo da'natureza' do Direito constitÌri um dos pdncipais pÍoblemas permanentes de qualquer íiìosoÍia do d"ireito. Chega a ser estranho que ninguém, é o que parece' lamais tenha ponderado sobre sua razáo e sua importância" 1 1 A. Ross (1953), P. 28 AI]cls rrriris l.itrcle, delÌìoÌÌsl.ra Ììao Ler esqUocj(lo esse poÌìto. l)o ÍiìI.o, rìo livro cle 1967, "Diretlvas e Norrnas", nosso autor curcla das relacocs erÌtÍe linguagem e discurso diretivo con.Ì a transparente finaridacle cle con.ìpreeÌìder o material jurídico como prescriçoes. Assrm, referindo-se à conhecida distinçâo entre ,,Ìíngua,, e ,,palavra,, de Ferdinand SaussuÍe, pontua ser a língua um fenômeno social, ao passo que a paÌavra é um fenômeno individuaÌ. A partir disso, passa a utrlÌzar os termos "Ìinguagem" e "discurso", sendo que por ,,discurso,, diz dêver_ se entender qualquer uso da Ìinguagem, tanto se se trata de uma seqúên_ cia de sons (fonemas) ou como texto, Ìsto é, como uma seqúência de caracteres.2 Nesse particuÌar, recorcla os três tradicionais campos de estu_ do da Ìinguagem: o sintático, o semântico e o pragmático: (1) O campo "sintático" se ocupa da construção das sentenças, pois "govêrna ' sua composjçêo: (2) O campo "semântico', estuda as expressóes Ìingüísticas como portadoras de srgnificadot e (3) O campo "pragmático" se ocupa do discurso considerado como ato humano que se dirige à produção de celtos efeitos.3 Conslderando o fato de ser todo dÌscurso uma reaÌização no mundo, sabe Ross que isso implica haver, sempre, um ato clrscursivo ou, simpÌesmente, um "ato discurso". Entretanto, para que haja um"ato-dtscurso", não basta ao sujeito emitir uma série de sons Íonetica_ iÌÌente reconhecíveis; é preciso que seu ato íonótico possua uma estrll_ tura que esteja de acordo com certas regras de composição da combi_ ÌÌacáo desses sons reconhecíveis. por isso ser o estudo sintático impor_ lante a par do semântico e do pragmático, diz Ross. porque, se o estu_ rio sintático remete às conclìçoes de correçáo dessa formulaçáo, ao seÌnânlico inporta saber o signlficado do enunciado indepenclente_ ÌÌlente do contel-to, e o pragmático, seu efeito operaclo no processo conlLnicativo estabelecido. Daí a afirmaçáo segundo a quaÌ ,,O uso nor ÌìÌal de um diretivo na comunicaçào constste em emitÌ_io com uma Jun Çãa diÍetiva, rsto é, em ciÍcunstâncias tais que extsta maioÌ ou menor probabilidade de que efetivamente inÍluirá na conduta do receptor de acordo com a idéia-aqão do diretivo,'.4 2 A. Ross (1967), p.4; (DN, p. 3). 3 A Ross 11967), pp I I (DN, pp. 6 7).,1 cÍiíos do originat. A. Ross (1967), p. gB (DN p 69). ( i ',,'Ì111 1'rr rl{r'lìr)rlrr rll, l)rrr11l{r Dossaì ÍorÌììa, lirÌÌÌarìclíJ dÌstilÌçào que será mars tarde importante par.r a (lifeÍe[ciação eÌ]tre "Direito" e "ciência do Direito", se ocupa de dois tipos de discurso: o discurso "indicativo" e o discurso "cìiretivo" Por discurso "indicativo", também designado de teórico ou descritivo' se refere a uma idéia de um tema concebido como íeal (podendo seí verdadeira ou faìsa a formulaçáo lingüística a ele relacionada); já por cliscuÌso "diretivo" se refere Ross aos enunciados que expressam uma ''ideia-açao . ou seja, uma condJta a ser leaLizada q Assim, sob essa ampla categorizaçáo, afirma que 'As Ìeis nào sáo promulgadas a fim de comunicar vercìades teódcas, mas sim a fim de dirigú pessoas - tanto juízes quanto cidadáos paÍticulares no sentido de agirem de ceÍta maneüa desejada Um parlamento náo é trm escritó- rio de informações, mas sim um óÍgáo central de direção sociaÌ" 6 Poftanto, paÌa Ross, o Direito é composto de diretivas' de enuncia- dos formulados com vistas a se obter a conformaqáo da conduta social' sejam elas refeïidas em suas singuÌaddades como "norma" ' sejam elas' as diretivas, entenclidas como "conjLlnto", o "ordenamento iurídico" As normas jurídicas podem ser divididas, de acoÌ'lo com o conteúdo imediato, en] dois grupos: normas de conduta e normas de competência. Ao primeiro gÍupo pertencem as normas gue prescrevem ceÍta linha de açáo ( ) O segundo grupo contem as normas que criam a cornpetência (poder, autoridade) - são dire- tivas que ctispoem que as normas que sáo criadas en-I conformida- de com um modelo estabelecido de procedimento seráo conside radas como normas de conduta [A Ross, SDJ' p 57]' (...) um ordenamento jurÍdico nacional é um corpo integrado de regras que determina as condições sob as quais a força física será exercicìa contÍa uma pessoa; o ordenamento jurídico nacional estabelece um apaÍato de autoÍidades púbticas (os tÍibunais e os órgâos executivos) cuja funçáo consiste em ordenar e levar a cabo o exercício da força em casos específicos; ou ainda majs sintetica- mente: um ordenamento jr-rrídico nacionaÌ é o conjunto de regras Ìlara o estabelecimento e íuncionamento do aparato da força do Estado [A. Ross, SDJ, P 58] 5 A. Ross (1967), pp 9-10 (DN pp 7-8) 6 A. Ross 11953), P 31 4. Urna ciência sociaÌ enpírica EvidenteÌtÌente que, se, por uÌlÌ lado, o Direito corresponde a.Ììl conjunto de diretivas produzidas com a finaÌidade de confornìar conì-portamentos; e, por outro lado, se o Direito é produto de agentes habi_Ìitados para formular essas diretÌvas, encontra se, na obra cle Ross, aÌÌesma estrutura dinâmica que também apaÍece em Kelsen, pors asÌìormas juddicas resultam de agentes ,,competentes,, que as edÌtanÌ. Entretanto, não basta a Ross essa consideracáo. Desde ao menos a obra ,'para uma Crència-Reahsta cÌo Direito,,, ano de 1946, Ross oferece sua resistência aos empÍeendrmentos da Teoria do Direito tradicionaÌ, porquanto afirma que constituem apenas aproximaçoes parciais do fenômeno jurídico. por essa razao, propõe conceber o Direito ,,como um fenômeno suscetível de observaçáo no mundo dos fatos, e como uma norma obrigatória no mundo da moral ou dos valores".T Sob essa asseÌçào, nega as aproximaçòes de tlpo meta_ íisico que se fixam à reaÌidade com vaÌores absoÌutos e que tendem anegar a normatividade e a reaÌidade favorecendo um ou outro. Com essas consignaçóes, deúa claro que um importante propósi_ to assumido de seu trabaÌho é o de compreender a vaÌidade das normas e a realidade sociaÌ de manêira assoclacla. Essa a afirmaçáo: ,,O Direi-to é ao mesmo tempo váÌiclo e fático, iciear e reaÌ, físico e metaflsico, porém não como duas coisas coordenadas, senão como uma manlÍesta- ção de vaiidade na realidade que é somente por isso quaÌificada dedireito ".S Todavia, diz Ross, esses conceitos foram expostÀs pelas esco_Ìas tradicionais de maneira que contradiçóes entreesses póÌos foram estabeÌecidas, contradiçóes que é necessário superar. Em etapa posterior, mais precisamente em SDJ, Ross expoe, logono prefácio, suas pretensóes, nos termos seguintes já parclalmente enunciados: 'A principal idéia deste trabalho é levar no campo do Direi_to os princípios do empirismo as suas concrusoes uÌtrmas. b."t, iatéiu emerge a exigência metodológica de o estudo do Direito sêguir ospadróes tradicionais de observação e verificaçâo que animam toda a moderna ciência empirista, e a exigência anaÌítica das nocões luriciicasfundamentais serem interpretadas obrigatoriamente comà concepções da realidade social, do comportamento clo homem em sociedade. por r l r ,r1 !'. rl,,'l!'rr'ì 'l!' lrLr"L , ciìiiir rilzir{J ir tlttc rtrioit,o il lclilia de uÌìla "vaÌidade" a priorj específica rlLrr: coìoca o L)ireiLo aciÌÌla do Ìnundo dos Íatos e reinterpreto a valida (Ìc crÌì [er]Ììos de fatos sociais; rejeito a idéia de um princípio a prìorÍ de irrstrÇa como guia para a legisÌação (política jurÍdica) e ventilo os pro- blenas da política jurÍdica dentro de um espírito relativista' quer dizer' eln relação a valores hipotéticos aceitos por grupos influentes na socie- dade; e, finalmente, Íejeito a idéia segundo a qual o conhecimento jurí- .ljco constitui um conhecimento normativo específico, expresso eÌlr pro- posiçóes de dever-ser, e interpreto o pensamento jurídico foÏmalmente em termos da mesma lógica que clá fundamento a outras ciencras empírÍcas (proposiçóes de ser)" 9 Poí conseguinte, depois de afirmar que uma "diretiva" é um enun- ciado que determina condutas; e depois de pontuaÌ que a linguagem "indicativa" se presta a descrever, Ross coloca como "tarefa da ciência do Direito" descrever o Diïeito efetivamente utiÌizado, de modo que se possa considerar a verdade ou a falsidade de enunciados como 'A dire tiva D é direito vigente de O,I" a partir de cefto padrão de controle empírico. Ìsso, com vistas a torÌ.Ìar possível' com esse conhecimento, íirmar predições a respeito das ocorrências do mundo juridico' Como se verá nos desdobramentos subseqirentes, esse objetivo traçado por Ross implica a eliminaçáo da categoÍia da validade como categorra independente, reduzindo a a uma dj.mensáo específica da realidade, a fatos "psicoíísicos ". 5. A vigência do "jogo de xadrez" Para explicar a noçâo de "direito vigente" ' Ross recorre à anáÌise clo jogo de xadrez e das normas que o regulam l0 Sua tese é que as nor- mas jurídicas, como as regras de um jogo de xadrez, atuam como "esquemas de interpÍetaçáo" para um conjunto de "atos sociais"' toÍ- nando possível a compreensão das "açóes sociais" O que suporta essa possibilidacle compreensiva é o fato de as normas serem "efetivamen- te acataclas" porque "sentidas" como "socialmente obrigatórias"' Objetivando explicar o mencionado "seÌltimento de obrigatorieda- de a respeito das noÍmas", nosso autor iÌustra a situaçáo de três perso- nagens: dois iogadores de xadrez e um observador' Segundo deduz' se 9 A Ross (1953), Pretácia à ediçáÒ inglesa 10 A. Ross (1953) PP 34 36 A. Ross (1946), p. 15. Grjfos do originaÌ. A. Ross (1946), p. 26. 71 o obsorvador náìo coÌÌÌÌece as regras do joUo (l(Ì xiÌ(Lrcz, olo rÌao l.orìÌ coÌÌìo coÌnpreeÌtder os rnoviÌlÌeDtos íeaÌÌzados peÌos jogaclores cot)Ì c) maÌluseio das peças, porque tudo soará como se íosse arbitrário e sertr conexão inteÌigíveÌ. Mas, se o observador conhece as regras do jogo, eÌe poderá assimilar os movimentos dos jogadores como açóes possrvets em reÌaçáo às regras do jogo. portanto, sendo conhecedor das regras do logo e vendo as jogadas, o observador pode dizer que ,compreende, essas jogadas. Diz Ross: "Cumpre notar que o ,,entendimento,, no qual estamos aqui pensando é de um tipo clistinto do causal. Nâo operamos aqui com leis de causalidacle. Os movimentos não entretêm qualquer reÌaçáo mutuamente causal. A conexáo entre eÌes é instaurada por meio das regras e da teoria do xadrez. A conexáo é de signiíicado,,.11 Disso resulta, segundo Ross, que o jogo de xadrez apresenta aspec to passivel de ser notado pelos sentidos e, ademais, explicaclo por Ìeis de caráÌer biológrco-psicológico (os movimentos das peças prodlrzidos pelos jogadores). Todavia, o jogo de xadrez náo pode ser explicado, como "jogo de xadrez", sem se recorrer às ,,regras,, do ,,jogo de xadrez,,. Com vistas a esclarecer o que diz, afirma Ross ser a expressão "regra de xadrez" ambígua. 'Ambígua" porque tarto se refere às idéias expeÍimentadas eÌltorno de determinados padróes de comportamento, coÌrìo se referem ao conteúdo abstrato dessas idéias, ou seja, as regras do jogo xadrez. Em síntese, 'As normas do xadrez sáo, pois, o conteúdo ideal abstrato (de natureza diretiva) que permite, na qualidade de um esquema interpretativo, a compreensáo dos fenônenos do xadrez (as açoes dos movimentos e os padróes de acáo expedmentados) coÌtÌo unÌ todo coerente de significado e motivaçáo, uÌna partida de xaclrez; e con_ juntamente com olÌtros íatores e dentro de certos limites o predÌzer do curso da partida".12 Daí sua conclusáo: ,,Os íenômenos do xadrez e as norn]as do xadrez não são nutuamente iÌìclepenclentes corÌro se uns e outras deiivessem sua própria realidade; sáo aspectos diferentes de uma mesma coisa. Nenhuma acão bioÌógico física considerada em si mesma é um ÌnovinÌento do xaclrez. Só adquire taÌ quaÌidacle ao seï interpretada em reÌação às normas clo xadrez. E, inversamente, nenhlrm conteúdo ideal de natureza ciireliva tem por si mesmo o caïáter de LÌma norma válida de xadrez. Só adquire essa qualidade pelo fato de qlÌe, jun_ taÌnente com outros conteúdos, pode ser efetivamente aplicaclo como 11 A Ross (1953), p. 36. 12 A Ross (1953) p 39 72 rll r 'r' ' r' rl"'Lirrri r r|' lr Ì' l') urìr (Ìrj(lrr()Ììlir lltl.(illJl{)l.illlv()iìoi-í{rtlôlììelÌoscloxaclroz Os Ierrôrllr:los tlo xiÌ(Ìroz rio tollìalÌl ícllôllÌ(lÌlos do xadrez exclusivarnente quan'lo coloca dos cÌìÌ telaçao corÌì as llormas do xadrez e vice-versa" 13 Portanto' as iÌorrÌras observadas, porque sentidas como obrigatórias' sao as regras váhcÌas do jogo. Assim, Ross radica a vaLldade da norma de xacÌrez ÌÌo fato de ela ser eletÌvanente usada como esquema de quaiiíicaçáo; e ela' a r'Ìorma, serve como esqueÌÌìa de qualificação quando é observada' quando é sentida como socìaimente vinculante peÌos jogadores' Col]l efeito, para Ross, pensar as "regras" do jogo de xadrêz é pen sar em "diretrvas" de con.Ìportamento para os jogadores de xadrez Dessa forma, ua situaçáo de ul]ì dos participantes do jogo vir a desobe- deceÍ-lhas, é pÌenamente factivel a ocorrêncla de protestos aclvinclos do acÌversário. Nesse passo, assenta o concerto de "ser vigente": "uma regra de xadrez'é vigente" significanclo que dentro de uma dada co pa;ticipaçáo (que compreerde ftìndamentalmente os dois joqadores de .,maparticÌ.cot-tcreta)essaregrarecebeefetivaadesáo'porqueosjoga- cÌoIeSSenten-ÌasÌ1.ÌÌesmossoCralmenteobdgadospeladiletivacontÌda na regira. O conceito de vigêncra (no xadrez) envolve dois eÌementos Um detesserefereàeÍetividadeleaÌdaregraquepodeselestabeÌecida peÌa observaçáo e)'.terÌla O outro se refere à maneira na quaÌ a regra é sentrda conÌo motivadora, ou seia, socialmente obrigatória" 1a O propósito de Ross ao fúmar estas consideraçóes sobÌe o xadrez é estabeÌecer paraÌelo do jogo de xadrez com os fenômenos juÍidrcos' dado que entencle servir a idéia de "noÏma vigeÌlte do xadrez" como rnocÌeÌã para o conceito de "dÌÍeito vigente" Ou sela' cla mesma foÌma que consrderou os movimentos do jogo de xadrez para aíiançar que a simples consicleraçáo blológi.co-física das aqÓes cÌe "mover as peÇas de xadtez" náo pode revelar qualquer relação causal eÌltre eÌas' Ross afir- ma a atuaÇáo dos indivíduos serem compreensívejs na medida em gue empregamos a idéia de "direito vigente" como esquema 'lê ênt'endi Ìnento das açóes jr.rrídicas Exatamente por isso' consicleía duas possÌbilidades extremas de se identilicar as regras do jogo para, depois, descartá lasEm primeiro lugar' analisa o modelo "condutivista" SeguncÌo esse modelo, para se saber quais são as regÌas regentes dos comportaÌ.nen tos, basta observaÍ a conduta dos envotvidos Para Ross' esse critério é 13 A Ross (1953), P 40. 14 A. Ross (1953), P. 39 falJÌo porqlLe ÉÌ siÌÌÌpÌes reireração dos corÌÌpoÌ r.iÌ r ÌìerÌ Los ÌÌão ó sr r Íicicr r- te para se entender o que constitur regra de xaclrez e o que e mero hábt to ou prática corrente. Mantida a analogia com o jogo de xaclrez, porier se-ia concluir que abrir o jogo com o ,,cavalo,, é contrário às regras do xadrez simpÌesmente peÌa razáo de isso nunca ter sido observacto. Em segundo iugar, analisa o modelo ,,formalista,,. Segundo esse modeÌo, para se saber quais sáo as regras do jogo de xadrez, basta ler seus reguÌamentos. Entende Ross que a faÌibiÌidade desse critério e está no fato de não se saber como essas regras são recebtdas e como sáo recebidas na prática dos jogadores, ou seja, se eÌas realmente regem o jogo jogado. 6. O " direito " vigente Considerados os pontos precedentes, Ross propõe, seguinclo aspossibilidades oferecidas peios esclarecimentos obtidos, a segurnte noção de "DiÍeito Vigente', (DV)r ,,o conlunto abstrato de ideias norma tivas que serve como um esquema interpretativo para os fenômenos do Direito em ação, o que por sua vez significa que essas normas são efe- tivamente acatadas e que o sáo porque são experimentadas e sentrdas como socialmente obrigatórias',.15 Como se pode notar, o núcìeo centraÌ do posicionamento de Ross está no descarte da descrição de mundos distintos e separados que a teoria condutivista e a ideaÌista retratam: porque a teoria condutivista vive no "mundo da reaÌidade', e apenas no ,,munclo da realidade,,; e a teoria formalista vive no ,,mundo das iciéias,' e apenas no ,,mundo clas idéias". Isso srgnifica que a noçáo cle DV é composta, fundamentalmen- te, peÌos seguintes pontos: (1) o ,,direito em açáo,, que, como será visto, é o direito em açáo "dos juízes',; e (2) as normãs produzidas pelas auto_ ridades com competência para produzi_las, pois o Direito possui cará_ ter " institucional". A esse respeito, nota Ross, contudo, que a noçáo de ,,diretto vigen, te" requer lineamento mais detido porque é preciso expÌicar como se processa essa integraçáo. por esse motivo coÌoca duas questóes: 1) Como o corpo individuaÌ de normas identificado como um ordenamen- to jurídico nacional se distingue do ponto de vista de seu conteúdo de outros corpos individuais de normas? 2) Se a vatidade cle um srstema 15 A Ross (1953), pp. 40 41 74 { ll Irrr''rIrl'i ì rrrr rll' l) r| lrl (lo ììor rììirs sigrrilica qLto o sisteÌlÌa' clevido à sua efetividade' pode ser- vir corÌÌo esqlrerÌa rnterpretativo, como aplicar esse critério ao direito? A priÌÌleüa questão será respondìda no item 7; a segunda questáo nositensBe9. 7. Institucion alízaçâo, destinatários das normas e foÏça Essa a pdmeira pergunta: Como o corpo individuaì de normas iden- tificado como um ordenamento juÍÍdico nacional se distingue do ponto de vista de seu conteúdo de outros corpos individuais de noÌmas? Segundo Ross, essa pergunta é respondida ao se informar: (1) quais sáo as "normas que compóem" a ordem jurídica de um país; (2) a "quem" eÌas sáo clúigidas; e (3) qual é o seu "signiíicado" Um ordenamento jurídico nacionaÌ, como as normas do xadÍez' constitui um sistema individual determinado pol "uma coerència interna de significado", e nossa tarefa é indicar no qÌre consiste isso. Enquanto se trata de reçlras de xadrez' o caso é simples A coerência de significado é dada pelo fato de que todas eÌas' direta ou indiretamente, se referem aos movimentos executados pelas pessoas jogando a partidã de xadrez se as regras jurídicas teráo' analoçtamente, de constituiÌ um sistema, teráo que analogamente guarclar referência com açóes deíinidas reaÌizadâs por pessoas ãefinidas. Mas que açóes sáo estas e quem sáo estas pessoas? Esta pergunta só pode ser respondida mediante uma análise das regras comumente tidas como um oïdenâmento jurídico nacional' a quem sáo dirigidas e quai é o seu significado [A Ross' SDJ' p 56] (1) Ouais sáo as noïmas da ordem jurídica de um país? Essa a resposta de Ross: a ordem juridica de um pais é composta por duas classes de normas, as "normas de conduta" e as "nor- mas de competência" 16 Como iá foi referido anteriormente, as normas de condrtta sáo dire- tivas cuja funçáo lingúística é a de estabelecer padrões de comporta- mento. Portanto, as "normas de conduta" sáo as normas "que prescre vem ceÍta linha de açáo" 17 Ouanto às "noÍmas de competência"' afiÍ ú A Ross (1s53), p.57 17 A. Ross (1953), P 57 Ììla Ross, olas "sáo dÍetivas que dispÕen que as rÌormas qÌle sao ct Lir- das em corrformidade com um modo estabelecido de proceclinÌenLo se- ráo consicleradas como normas de conduta. As noÍmas da Constituição concerÌfeÌrtes à ÌegisÌatura, poï exeÌnplo, sáo normas de conduta expres sas indiretamente que prescrevem comportamento de acordo com as normas !Ìlteriores de conduta que sejam criadas por via iegisìativa".18 PortaÌlto, as "normas de conìpetôncia" sáo as normas que esta tuem autoridades públicas que aprovam as normas de conduta e exer cem a forca física de acordo com elas. Nesse sentido, o aspecto de exis- tiÍem normas de competência traduz o caráter institucional do Direito como "nÌáquina jurídica" supra-individuaÌ. Por "maquinaria jurídica" entendo todo o conjunto das insti- tuiçóes através das qr,rais se reallzam todos os atos juridicos e demais açóes que adscrevemos ao Estado. lncÌui o poder Ìegisla- tivo, os tribunais e o aparato adnÌinislrativo, ao quaÌ pertencem os órgâos coativos (especialÌnente a poÌícia e o exército). Conhecer estas regras é conhecer já tudo acerca da existência e conteúdo do Direrto IA. Ross, LN, p. 117 (DN, p. B8)1. Entretanto, diz Ross, as normas de competência, embora cun]- pram a funçáo de atribuirem poderes jurídicos, sáo "diretivas", ou seja, as normas de competência também sã(, redutÍveis a referências insti- tuidoras de comportamento porque "(...) dispóem que as norrÌras que são criadas em conformidade com um modo estabelecido de pÍocedi mento serão consideradas como normas de conduta".19 Ou, como mais tarde foi consignar: "A legislaqão (no sentido ampìo do termo) ó o esta- beÌecimento e promulgaqão de diretivas que íazem aqueles órgáos que sáo competentes para isso segundo as regras existentes. As regras de competência definem quais sáo as condiçóes necessárias para criar uma nova norma legal" 20 (2) A "quem" as normas jurídicas são dirigÌdas? Essa a resposta de Ross: aos tdbunais. Mas "tribunais" em seu sentido mais amplo, ou seia, a designação abrange o conjunto de ;uízes de um deteïminaclo pais. 18 A. Ross (1953), p. 57. 19 A Ross (1953), p. 58. 20 Grifo do oÌigÌÌlaÌ. A. Ross (1967), p. 124 (DN, p.96). 76 (jlrrrrrrlr orr rIr'lìrir!lrr {llr l'rrí'rli) () IJtlilo(11 Negotíable lnstruments AcÚ, seçáo 62, por exem- plo, prescreve aparentemente como uma pessoa que aceitou uma letra de câmbio deverá se comportar' Poïém, este enunciado náo esgota o signifìcado normativo de tal norma; na veÍdade, não chega sequer a se aproximar do que é Íealmente relevante A seção 62 é, ao mesmo tempo, uma dúetiva aos tribunais quanto a como, num caso que se enquadre nessâ regra, deverão exercer sua autoridade. É óbrrio q.tt é somente isto que inteÍessa ao jurista Uma medida ÌegisÌativa que não enceÍre diretivâs para os tribu nais sÓ pode ser considerada como um pronunciamento ideológi- co-moral sem reÌevância juÍídica [4. Ross SDJ, p 57] Todavia, náo é pela Íazáo de as normas jurídicas serem diretivas para os tÍibunais que os indivíduos particulares estâo desconsiderados e deúados à ignorância. O que Ross afirma é que a situação dos cida dáos comuns, como conhecedores das reaçÓes possíveis dos tÍibunais, traz implÍcita a informaçáo do como devem se comportar' Ìnversamente, se a medida contiver uma diretiva para os tribu- nais, náo haverá necessidade de dar aos indiúduospaÍticulares ins- truçóes adicionais relâtivas à sua conduta. Sáo dois aspectos do mesmo problema. A instruçáo (diretiva) ao particular está impÌícitâ no fato de gue ele sabe que reações pode esperar da parte dos tribu nâis em clacÌas condiçóes Se deseiar essas reaçÓes, tal saÌìer o Ìeva- rá a se conduzir da forma que está de acordo [A Ross SDJ, p 57]' Portanto, a conduta devida pelos particulares é deduzida das dire- tivas ctestinadas aos juízes, de forma que os paÍticulares' tendo notícia do direito vigente, podem compreender o conjunto de açoes dos juízes como um todo de significado e motivaçáo, dentro de certos termos' pre- visíveis. Do enunciado "Matar alguém. Pena de 6 a 20 anos"' conhece o juiz qual é a diretiva a ser atendida caso alguém cometâ um assassi- nâto; por seu turno, os particulares, sabendo que os juÍzes aplicam esse preceito de determinada forma, podem inferiÍ a puniçáo caso cometam o delito.21 21 Código Penâl BrasìÌeiro, aÌt 121 (Ali Ross utiliza, como desÌacado, o exempÌo da Lei Uniforme cÌe InstÌumentos negocìáveis' Seçáo 62; p 67 do Ìi!Ío citado) (3) OuaÌ o siglìtírcado clessas lorrtras'1 C)lt, lJor oul.ri*j p;rl;rvr;r:;, qual o objeto do Direlto? Responde Ross: se ÌÌo logo cle xzì(lr{)Z a coerência interna de significado é dacla peÌo fato de as regras (as Ìtormas do jogo) de xadrez se referiren.Ì, seja dÌreta ou indiretamente, aos ÌnovimeÌìtos executados peÌas pessoas que jogam a partida de xadrez; no caso clo Direrto isso se obtém com o fato de as normas juricÌicas se referirem, enì últi- ma anáÌise, ao movimento dos juízes apÌicarem a força, ou sela, utiÌizarem efetrvamente as ÌÌormas jurídicas procluzrclas peÌas autoridades com competência para tanto. Portanto, mediante a expressáo "exercer a autoridade", Ross está pensando precipuaÌÌente na relaçáo existente entre ',direÌto" (as dtre tivas) e o uso da força que as diretivas disciplinam. Ou seja, a reÌaçáo entre dìreito e força (poder) consrste no íato de as normas lurídicas serem diïetivas reÌativas à aplicaçáo da força.2z porque, se as norlÌ]as de comportamento náo possuíssem essa caÍacterística, elas, as normas de comportan.Ìento, não seriam consideradas peÌos judstas como nor- mas juridicas, nÌas sim "pronunciamentos de incÌole moral',. Daí ,,O Estado moderno se caracterizar essencialmente por possuil o nlonopo- lio no exercício da vioiência, nos assuntos internos como meio para manter a ordem jurídica, e nos assuntos e>aternos como instrumento da política de poder".23 Assim, como KeÌsen, Ross erige a sançào como característica clefi_ nidora do que seja uma norma para o Direito. Um ordenamento jurídico nacional é um corpo integrado de regras que determina as condiçóes sob as quais a forca física será exeïcida contra uma pessoa; o ordenamento jurídico nacionaÌ esta_ belece um aparato de autoridades piÌbÌicas (os tribunais e os órgâos executivos) cuja funçáo consiste em ordenar e levar a cabo o exercÍcio da forca em casos específicos; ou ainda mais sintetica_ mente: um ordenamento jurídico nacional é o conjunto de regras para o estabeÌecimento e funcionamento do aparato de forca do Estado IA. Ross, SDJ, p. 581. 22 A. Ross (1953), pp. 77 /8. 23 A Ross 11967), p. 122 íDN, p 94) , L, li,iÌ1,r,1Ì )'r,rl1' l,lrtt r;irtl.or;r:, () l)lt(Ìll.o (ott il titcÌetlr lttriclica) se cliferencla dos outros c()rt)()s lll(llVi(lLìiììs de llolnÌaS (nìolais, IeÌigìosos etC') pol duâs notas: o Drreil.o ó lutì coÌÌjurlÌo de regras alusivas ao exercício da força; e' ainda' o Direito é composto náo apenas por normas de conduta' mas também oo, lror-u" de tompetêncra atributivas desse pocler' Para essa Ìealiza çáo, Ross promove, ao meÌlos, duas reduçÓes: as normas de competèn- cia são lltàorporadas às clúetivas; e as normas didgidas aos cidadãos comuns são reportadas às normas dìrigidas aos juízes O conceito de "diÌeito" ou "ordenamento jr'uídico" pode' em consonâncìa com isso, ser caracteÌizado por dois pontos Em primeiro lugar, o Direito consiste em regras gue concer- nent ao exelcício da força Vista em relaçáo às normas luÍidicas d.erÍvadas ou normas jurícticas em sentido flgurado' a força apare ce como urra sançào islo ê como uma pressao para prod'rzi' o compoïtamento desejado Logo, quando na seqüència disseÍmos que;s normas do Drreito sáo sancionadas pela forqa' e oLrtÍas nor- Ãas por outros meios, isto deveÌá ser entendido como umâ manei- ra conveniente de faÌar, mesmo náo sendo inteiramente correta Em segundo ìugar' o Direlto consiste não so em normas de conduta, mas também em normas de competêncla' as quais esta- betecem um conjunto de autoridades púbÌicas para aprovar noÌ- mas de conduta e exercer a forqa em confoÌmidade com eÌas Devido a isto, o Direito tem o que podemos denominar caráter ins- titucionaÌ Funclona através de uma maquinada jurídica que vtsa à tegislação, ao iuízo e à execuçáo, e se aíigura' portanto' ante os olhos do individuo' como algo objetivo e externo E a expressão de uma comunidade supra individual' uma ordem social' enraizada numa consciência lurídica formaÌ [A Ross SDJ' p 85] 8. Os fatores da realidade psicofísica do direito Essa a segunda pergunta: Se a validade de um sistema de normas significa que o sistema, devido à sua efetivicÌade' pode servú de esglle- má interpietativo, como aplicar esse critérro ao Dtreito? Ou seja' Ross pru"i"u àu-olt"trar "como" as normas tornam-se "direito em açáo" ' pnncipaÌmente para os iuízes' os autênticos destinatáÍios 'las normas' No mencionado livro PaÍa lJma Ciência Realista clo Drreito' nosso autor procura, com a crítica aos "dualismos" presentes na teoria jurídi- ca tradicional, apÍesentar o sério conflito que eÌas provocam O seu obletivo com esta demonstlação é esclarecer a corÌìuÌÌÌ corÌÌpÌeellsao que separa validade e existência fática como algo que se deve abando_ nar e sullstituir por outras bases expÌicativas. O ponto de partida de nosso desenvolvimento na presente obra é a posição de que a principal causa do erro em um número de contradiçóes, apaÍentemente inconciÌiáveis, das modernas concepçóes filosóficas, é um dlraiismo no conceito pré-científico e impÌícito do Direito que em forma mais ou menos consciente tem constituído a base das apontadas teorias. É o duaÌismo reaÌidade e validade no Direito que frutifica em uma série cle antìnomias da teoÍia jurídica [4. Ross, CRD, p. 15ì. Com respeito a esse conflito, traz sua solução: ,'Náo há concep- ções de valldade de nenhuma espécie, senáo meras vivências de vali- dade conceituaÌmente racionaÌizadas, vale dizer, certas vivências revestidas de uma pecuÌiar ilusáo de objetividade. portanto, as manÌ- festaçóes sobre a vaÌidade prática, por exemplo, acerca das valoraçóes ou de obÍigação, carecem de todo significado ou objeto, ainda que devi_ do a sua existência possuam um valor emblemático como símbolos cle certos fenômenos psicofÍsicos ".24 Segundo Ross, as escoÌas que promovem referido conflito partem dos seguintes três pontos: 1) o elemento de realidade; 2) o elemento de validade (normativo); e 3) a interdependência entre esses dois elemen tos.25 Dessa maneira, propóe integrá-los afirmando que eles simbolizam tÍês fatores da "realidade psicofísica" do Direito: "1) uma atitude de con- duta interessada, mas precisamente determinada como um impuiso de temor ou de compulsáo; 2) uma atitude de conduta desinteressada que tem o selo da validade; e 3) uma interaçáo real e indutiva entÍe ambos os fatores, de tal maneirâ que a existència do pdmeiro tende a causar e a dar estabilidade à existência do último, e vice-versa".26 Por "atitude de conduta interessada,', entende Ross ser aquela fundada no impulso de "evitar as condutas que podem resultar em um castigo"; e por "atitude de conduta desinteressada,', a criada por sugestáo sociaÌ. Diz, com assertividade: "Se em primeiro Ìugar imagi_ narmos uma comunidade baseada em um puro sistema de compulsáo 24 25 26 A. Ross (1946) pp. 16 17. A. Ross (1946), p.89. A. Ross (1946), p.90. i:L '.., .,1, '11!'rr'r rli)lrLr"r ' ((l() (llriì1, r;t:ltt t .t t t t I I i t t 1 I t I , olirltittirltlt', lL ltLt L'r cLrr lLilìtlilllìefl aL_ao sobrcrlil l.rlr;Ìl (lo |--.j:il.eJìla), sLÌrgirlaÌÌì Iìesta conunrdade assim rlnaginada costu Ììles colotivos carÌsados por urÌ ilÌteresse enl evitar a compulsao' Porérn, quanto mais firÌÌÌemente se estabelecerem esses costumes' e rlesse mocÌo o exercícro da compulsáo se fizesse relativamente pouco freqr.iente, tanto mais o costume coletivo produziria' eln virtude de seu pocìer de sugestão social, lÌnpulsos espontàneos desinteressados de ação que levariam o selo de validade; vale cljzer que a ordem de coisas estabelecida em virtude da compuÌsáo se transfoÍmaÍia gÌadualmente em forma de estabelecer-se como válìdo oLÌ Ìegítimo Na gran'Ìe maio- ria dos casos, os cldadáos náo obecÌeceriam à lei por temor ao castigo (conduta interessada), senão simplesmente porqr-Ìe "a lei é ã Ìei' e a Ìei tem de ser obedecida", e se teria desenvolvido desta ÌnaÌÌeira urna atI tude geraÌ de cumpdmento e respeito quanto a esta ordeln 'Ìê coisas existente (conduta cÌesinteressad a) " 27 Por outro tacÌo. tambén adÌÌite haver a possibiliciade de que' par tindo-se de um "sistema baseado no respeito à autoridade legítima" ' caracterizada peÌa obediência espontânea e náo pelo temor ao cast i go. esre Iertttclesça. poLlco a pouco aos casos Lxtepcio rais êm orlF ela Ia autoÍicladeÌ não seja suficiente e que o direito náo sela obedeci- do espontaneamente" 23 'ItÌdo considerado, Ross pretende Íetratar o Íesultado 'la dissolrl çáo clo problema das teoÌias traclicionars a partir do seguinte esquenÌe gráfico: Sislenì.ì dê ConÌPu sãr) ÀlltLdê de cofd!tr .ies inter e:rs ada A. Ross (1946), P.93. A Ross (1946), p.93 eslâLre eculâs por a.lsnles LìcmPelenle:t Crençâ na vâlrdad|r (conduta des ntercssada) 27 Segundo Ross, o fenôr'neno assiÌÌt rÌldicado é a exisl.orì(:tir (l{r rìì.ì ordem social. E o ordenamento juríclico é "uma ordem socjaÌ qLLe se caractedza por ter seus cimentos em peculiares atitucles de concluta, tais como as que sáo ao mesmo tempo expressáo de impulsos rnteres_ sados e desinteressados e que tem tido origem (se tem clesenvoÌvido e estabelecido por interaçáo indutiva entre dois motivos) enÌ um sisteÌ.Ìla de compulsão e em uma crença na validade da autoridade,'.29 Nesse mesmo plano de idéias, a diagonal simboliza a efetiva capacidade de o sistema de compulsão fazer-se legítimo como direito de modo cÌireto, sem a passaetem intermediária de nornas formais. Isso ocorre em aÌguns sistemas como o inglês, na medicla erl que a egüidade é utiliza_ da pelos tribunais.30 9. Atos "interessados" e atos " desinteressados " Em termos semelhaÌÌtes, em SDJ Ross também considera o tema dos nìotivos interessados e dos motivos desinteressados com o objeti vo de explic os fatores psicofísicos dos juízes. No referrdo trabaÌho, designa de "n]otivos interessados" aqueles rìotivos fundados Ì.ìa satis_ façáo das necessidades do agente, nascidos a partir de certo mecanis_ mo bioÌógico; e por "motivos desinteÍessados " aqueles que ,,obrigam,' o agente sem referência aos seus interesses, ou mesmo em conflito direto com esses. Nesse sentido, se o ponto de aferjçáo do Dtreito vigente está no comportamento dos juÍzes, pergunta-se Ross se seus motivos, os noti_ vos dos juízes, são "interessados" ou " desinteressados',. Sua afirmação é a de que eles são "desinteressados ", pois os juízes, primeira e prin- cipalmente, sáo motivados pelo puro sentimento do dever, e náo peÌo temor das sançoes legaÌs ou por outros interesses. Assim, as sançòes Ìegais que atingem os juízes em funçáo da forma como executam suas taÍefas representam puniçóes a casos extremos de desvios judiciais e dificilmente têm um papel efetivo na prática. porque, cìiz Ross: ,Jamais será possíveÌ edificar um ordenamento jurídico eÍicaz se não existir dentro da magistratura um sentimento vivo e desinteressaclo de respei_ to e obediência quanto à ideologia jurídica em vigor', 31 r'.r. L', i ,l" lilrrì I r|' lr r" r l lsso rÌao csl.aì ir riiqlÌlÍjceìr, corÌLLlclo, que Ross rgÌlora a atuação dos ciclaclaos nesse coÌìtexto de cumprimento voluntário Na reaiidade' presta aos cidadáos também a caÍacterística de agirem em grande parte cÌesinteressadamente: "O cidadáo comum' também, é animado - nunÌ maior ou menor gÍau ", diz Ross, "por uma atitude dê acato ao Direito, à luz da qual os governantes aparecem como "poderes Ìeglti- mos" ou como "autoddades", ou seja' as exigências do direito como credoras de acato e a força que é exercicìa em nome do direito náo é considerada como mera violência, mas sim justificada na quaÌìdade do que respalda o Direito. Ouando as regras do Direito estão bem estabe- lecidas, essa atitude se toÍna automática, de sorte que nenhum impul- so surge no sentido de contrariar o Direito E presumível que apenas aÌgumas poucas pessoas tiveram alguma vez que reprimiÍ o desejo de cometer um assassinato".32 Relativamente a este último ponto' reconhece Ross qlre esse com- poneÌÌte desinteressado é freqúentemente clescdto como "consciência moral". Mas aqui, chama atençáo' há ambigüidade do termo "moral"' pois essa atitude pode ser apenas "forma1" dirigida às instituiçoes, isto ó, uma manifestaçáo de reconhecimento de sua "validade" como instÍ tuição. Significa dizer, além da conotaçáo de "moral" como "justiça" (gue teÍia assim índole material), poder haveÍ' da parte dos cidadãos' apenas respeito em razão de uma consciência jurídica formaÌ De todo modo, também o diz, há üm limìte pensáveÌ para um ocorrente hiato entre a consciência moral e a consciência formal E, quando este limite é aÌcançado, um cálcu1o sobre as possibilidades do logro ou êxìto no ato Ìevolucionádo pode pôr o Direito vigente em questao Entende. assim, ser o poder compulsivo do Direito uma conse- qüência da validacìe. E, tambóm, ser essa úÌtima uma funçáo da íorça efetivamente exercida.33 Mas, apesar disso, o ordenamento jurídico náo prescinde, apesar cìe vigente em relaçáo aos juízes' de ser igual mente experimentado como "oÍdenamento jurídico" pelos cidadáos' ao menos, até o limite de poder se evitaÍ o extremo da Íevoiuçáo Conclui: "Temor e tespeìto, os dois motivos que caracterizam a expedència do direito, estão reciprocamente relacionados ( ) A força exercida peÌa poÌícia e as autoridacles executivas náo se baseÍa exclusivamente em fatores físicos, tais como de homens à sua disposiçáo, seÌt tÍeino e 32 A Ross (1953), P. 80 3s A. Ross (1953), P 8s 29 30 31 A. Ross (1946), pp. 101 102 A Ross (1946), p. 163. A. Ross (1953), Ìr. 79. armamento, mas também em fatores ideológicos. Conspirassen e:I conjunto todos os cidadãos particulares, e sedam indubitavelmente mais fortes que a polícia. O poder da polícia baseia-se, majoritariamen_ te, nesse Ìespeito em conjunçáo com o sentimento que a própria poìí_ cia tem de estar exercendo a suâ autoridade ',em nome da lei". para generalizar, pode-se dizer que os meios fÍsicos de compulsáo têm sem_ pre que seÍ operados por seres humanos. O controle dos meios de com_ pulsão depende, portânto, do poder ou domínio de que são detentores os seres humanos que operam esses meios. Este domínio, por sua vez, pode estar parcialmente - mas nunca inteiramente - baseado na força. Em última instância, devem existir normas païa o exercÍcio da força que não sáo, eÌas mesmas, respaldadas pela força, mas que sào acatadas em virtude de um respeito isento de temor. Um homem forte mediante a força física por si só pode ìograr o domínio sobre uns pou_ cos outros seres humanos. Em sociedades de qualquer tamanho que pressuponha um âparato organizado do poder operado por outros seres humanos, isso náo é possível. Nenhum Hitler pode ateÍrorizar uma popuÌação sem que, ao menos no âmbito do gÍupo que maneja o apa rato da forqa, haja uma obediência em alguma medida voiuntáriâ. Em última análise, todo poder tem uma base ideológica',.3a 10" A ideologia das "fontes do direito" Para Ross, como foi observado, os critéios condutivistase forma_ Ìistas sáo falhos quando procuram explicar o fenômeno normativo. Porque de nâda serve analisar isolâdamente o comportamento dos ju! zes, como também as noÍmas, caso se pretenda retratar o direito de uma ordem jurídica com fidedignidade, dado que ambos os critérios são parciais no quanto oferecem ao teódco do Direito. Assim, com o assumido objetivo de solucionar a questão, vimos que nosso autor se propôs a integrar ambos com a idéia de ',direÍto vigente,'. Contudo, para cumpÍiÍ o que prometera, foi preciso pôr a descollerto, de modo compÌementar, o que "motiva" os juízes. euanto a eÌes, consignou que a motivaçáo é desinteressada com respeito à apÌicaçáo das normas. Nesse paÍticular, diga-se que é assim porque Ross apregoa estarem os juízes envolvidos pela "ideologìa jurídica", ou seja, a ideologia jurídica em vigor. Mas a que se refere esta "ideologia jurídica em vigor"? 34 A. Ross (1953), pp.82-83. 84 { llnrrilrl ri ,1,, 'lì x,r liI l, | ÌìiÍ,rl() Scgnncic.r Ross, a doutrirÌa lLÌrídica emprega a expressáo "fontes do (liroiLo" JustaÌÌreÌìte para desÌgnar essa ideoÌogia jurídicâ. Isso signifi- ca que as fontes do düeÍto expressam "conjunto de fatores ou elemen- l;os que exercem inÍluência na formulaçáo do juiz da regra na qual eÌe funda sua decisáo";35 e essâ deologia das fontes do diÍeito varia de um sistema jurídico para outro. Por "fontes do direito " entender-se-á o conjunto de fatores ou elementos que exercem influência na formulaçáo do juiz da regra na qual ele funda sua dêcisão; acresça-se que esta influência pode variar - desde aquelas Íortes que conferem âo juiz uma norma jurídica já elaborada que simplesmente tem que âceitar ató aquelas outÍas que lhe oferecem nada mais do que ídéiâs e inspiração para eÌe mesmo (o juiz) formular a regra que necessita lA. Ross, SDJ, p. 1031. A partir dessa afirmaçáo, Ross estabelece uma cÌassificaçáo das íontes oÍganizada a partü do que denomina "grau de objetivaçáo", ou seja, "o grau no qual elas las fontes do direito] apresentam ao juiz uma regra foÍmuÌada, pronta para sua apiicaçáo ou, inversamente, o grau no qual lhe apresentam um material que seÍá transfoÍmado numa regÍâ somente após uma ativa contïìbuiçáo de labor por parte do juiz".36 Com esse critéïio, diz Ross ser esta a classificação que utiliza: (1) "Fontes completamente objetivadas": sáo as formuÌaçÓes de diretivas revestidas de autoddade (legislaçáo no senÌido mais amplo); (2) "Fontes parcialmente objetivadas":o costume e o pÍecedente; e (3) "Fontes náo objetivadas" . a Íazâo ou tradição de cultuía. Segundo Ross, exatamente em Íazã.o dos distintos gÍaus de obje- tivaçáo ÍefeÍidos, cada uma das fontes apresenta peculiaridades no ato de aplicaçáo. Estas peculiaridades, sem dúvida, estão Íelacionadas às diferenças das famílias jurídicas envolvidas (sistemas continentais e Common Law). Nesse sentido, o sistema continêntal se caracteriza pe- la predominância do direito Ìegislado, enquanto nos sistemas do "Di- 35 A. Ross (1953), p. 103. 36 A. Ross (1953), p. 104. reito Comum" a fonÌe "mais presente" é a "parcialmente objetivada" dos precedentes. O decisivo quanto a esses pontos, na especìficidade do quanto está a interessar a esta exposiçáo, é o fato de as decisóes dos juízes, em qualquer dos sistemas que se esteja a considerar, envolverem a crença de que devem utilizar essas "fontes" em suas decisões quando apreciam os casos que Ìhes são apresentados. Em razão dessa base argumentativa, outros pontos, de relevância, podem ser destacados: em primeiro lugar, exatamente pelo fato de situar na vigência a leitu- ra específica da normatividade de certa ordem jurídica que é impor- tante, para Ross, fornecer o ponto unificador dessa vigência, pois, caso contrário, náo haveda um mínimo denominador comum que conectas se as decisóes judiciais; elas seriam apenas afirmaçóes psicológicas dos juízes. Em segundo Ìugar, os cidadáos comuns estâriam legados ao des- conhecimento absoluto caso náo houvesse critérios comuns e relativa- mente constantes aos quais os juízes se reportassem. Em terceiÍo lugar, identificadas as "íontes do dúeito" com o con- junto de fatores que exercem influência no posicionamento dos juízes, Ross coloca as fontes do direito como a ideologia que "anima os trillu- nais", o gue significa que elas constituem "(...) o fundâmento do orde- namento juddico e consistem em diretivas que náo concernem direta- mente ao modo como deverá ser Íesolvida uma disputa ÌegaÌ, mas que indicam a maneira peia quaÌ um juiz deverá proceder a fim de desco brir a düetiva ou diretivas decisivas para a questào em pauta".37 Portanto, a unidade da ordem jurídica de Ross conduz a categoria psicológico empírica das fontes como referências objetivas "sentidas como obrigatórias" pelos juízes, pois elas, originádas que sáo de atos institucionais e outras referências "parcialmente objetivadas" e "náo olljetivadas", sáo decìsivas para que os juízes indiquem a diretiva ati- nente ao debatê judicial. Ouando nos referimos a um ordenamento juÍdico, presume- se que estamos iidândo com um conjunto de normas que são su- pra individuais no sentido de que sáo noÍmas particulares da nação, variáveis de naçáo para naçáo, e náo de um juiz individual para outro, razão pela qual é indiferente referir-se ao "juiz" ou aos 37 A Ross (1953) p. 102. 86 {ilnÌ ,1i1'ri ,l,, lli,,rr,r ,lt) )r,',r1,, "tribuÌrars". Na ÌÌÌedÌda em que o jutz tndividual é motivado por rcléias partrculares, pessoais, estas náo podem ser atribuídas ao direito cla naçáo, ainda que constituam um fator a ser obdgatoÍia- mente considerado por quem esteja interessado em prever uma decisão jurídica concreta [4. Ross, SDJ, p. 60]. 11. Constituiçáo, norma básica e Íeforma Considerando que as fontes do direito constituem a ideologia dos juízes observada quando solucionam os casos concretos, evidente mente gue, sobretudo nos sistemas de direito ÌegisÌado, impoÍta a análise se a constituiçáo escrita é assumida como referência normatì- va, pois é ela a instância última posiÌiva. Nesse sentido, é preciso, agora, localì.zar a compÍeensáo de constituiçáo e de mudança da ordem jurídica na teoïia de Ross. Portanto, nossos olhos novamente precisam estar focados na figura dos juízes e no que se baseiam para fundar suas decisóes. Com atenção ao direito estatuído legislativarÌente, Ross expóe um sistema semelhante ao de Kelsen, excetuando a compreensáo que este firma a respeito dos fundamentos da norma fundamental, pois a base de Ross apenas pode ser o íator psicofísico Íelacionado, como se disse, aos juízes. Para expÌicar isso, paÍÌe Ross da ilustração abaixo com a quaÌ retrata a operacionalidade de uma ordem jurídica, onde: A = autodda- de; e G - norma de compelência. ,43 - constituída por C, - náo sancionada por uma autoÍidade. l42 - constituíd a pot C2- sancionadas por 43. A1 constituída por C1 - sancionadas por 42. Como se pode notar, a norma C3 nâo foi produzida poï nenhuma autoridade; ela, pâÍa Ross, é umâ "ideologia pressuposta". Essa a sua afirmaçáo: 'A pequena tabela apresentada acima mostrou que certa autoridade era suprema e que as normas que constituem essa autori- dade não podiam, portanto, ter sido sancionadas por nenhuma outra autoridade, tendo, sim, que existir como uma ideologia pressuposta. Isto significa que não existe norma supeÍior que determine as condi- çóes para sua sançáo e reforma válidas. De um ponto de vista jurídico, poÍtanto, é impossível emitir qualquer juizo no tocante ao modo como poder ser alteÍada a ideologia constituinte superior pressuposta. E, no entanto, esta muda, seja mediante Íevolução, seja mediante evoluçáo. Mas em ambos os casos o fenômeno da mudança é um fato sociopstco lógico puro que se acha fora do âmbito do procedimento jurídico" 38 Nesse sentido, Ross, utiÌizando de uma de suas bases teóricas, remete esta unidade à ideoÌogia normativa dos juízes. Assim, radica também a constituição no sentimento de obÍigatoriedade desses fun- cionários destacados. Porque, se a constituição é "direito vigente,',ela consiste, segundo Ross, em ser vivida como socialmente obrigatória, ou seia, como parte da ideologia regente das questoes judicÍais, náo podendo, assim, ser Íeconduzida ou descdta como criação juÍídica ati- nente a algum procedimento; "todo sistema de diÍeito legisÌado (no lato sentido) baseia-se necessariamente numa hipótese inicial que constitui a autoridade suprema, mas que náo foi cúada poÍ nenhuma autoridade. Existe apenas como uma ideologia política que forma o pressuposto do sistema. Oualquer emenda via procedimento iuÍídico estabeÌecido só é possíveÌ dentro do sistema, cuja iclentidade é deter- minada pela hipótese inicial. Toda mudança última, isto é, toda transi- çáo de um sistema para outro, é um fenômeno ex.tra sistemático, uma mudança fátrca sociopsicoÌógica na ideologia polÍtica dominante e náo pode seÍ descrito como criaçáo jurídica mediante um procedimento ".39 Portanto, o que está poÍ detrás de toda a prática constitucional (modificaçáo, reforma, rompimento) é o fenômeno psicológico emprri- co de os juízes adotarem as normas presentes em uma determinada constituição como obrigatórias, possibrlitando a esta tornar-se direito vigente.4o 12. "Ciência", "direito vigente", "ciôncia jurídica" Ross compartiiha o entendimento segundo o qual uma ciência, para seï ciência, deve apresentar um conhecimento controlável em suas asserçóes acerca dos acontecimentos prováveis futuÍos. Todavia, as assercóes (ou descriçóes) referidas poÍ Ross distam das propugnadas por Kelsen, visto que náo apenas seu olhar está vol- tado para o dirêÍto vigente (e o de Kelsen para o direito váÌido de uma ordem jurídica globalmente eficaz), mas também pelo clado de êmpre- gar a técnica do "contÍoÌe empÍrico", e, náo, o de ,,coerência" de KeÌsen, decorrente da apreciação do que é válido (como o da matemá- 38 39 40 A. Ross (1953), p. 107. A. Ross (1953), p. 110 A. Ross (1953), pp. 106 111. (:1,,:r,rr'1,rr Il" li!'rrrr Ilr) I)rrIrÌrJ l.!(iir o (lc' srLas opcriìqoes). Esses os termos de nosso autor: "Constitui rrrrr princípio cla moclerna ciônÇia empíÍica que uma pïoposiçào acerca c1a realidade (contrastando com uma proposição analÍtica, lógico-mate- rurática) necessariamente implica que, seguindo específico procedi- ÌÌìento, sob determinadas condiçóes, certas experiências resultarão Por exemplo, a proposição "isto é giz" implica que' se observarmos o objeto sob um microscópio, certas quaÌidades estruturais se faráo visí- veis; se eu verter o ácido sobre ele, o resultado será certas reaçòes quí- micasi se o friccionarmos contra um quadro negro, surgirá uma linha, e assim por diante. Esse procedimento é chamado de procedimento de verificaçáo e diz-se que a soma das implicaçÓes verificáveis constitui o "conteúdo real" da proposiçáo. Se uma asserçáo qualquer - por exem- plo, a asserçáo de que o mundo é governado por um demônio invisível náo envolver qualquer implicação veriíicável' diz-se tratar-se de uma proposiçáo destituÍda de significado Iógico; é desterrada do domínio da ciência como asserçáo metaÍísica".41 Ross sabe que até o pÍesente momento as teorias tradicionais não têm Íeito uso do expediente empírico. De fato, elas ou bem recorrem a uma pïetensa idéia de justiça com vistas a dizer o que é o direito (dou- tÍinas do direÍto natuïal), ou bem recoïrem a pressuposiçóes reÌativas apenas ao pensamento (como KeÌsen). Com isso afirma que desses pontos de partida náo é possível constÍuir umâ ciência iurídica que meÍeça o nome de "ciência". Por outras palavras' se não houver a pos- sibilidade de se proceder à veÍificaçáo do quanto se afiÍma como "direi- to", trataï-se-á, apenas, de um "sem sentido" Uma autêntica ciência faz afirmações verlíicáveis empidcamente, diz Ross Portanto, Ross, em termos de teoda do conhecimento, em reÌação ao jusnaturalismo e ao positivismo juÍídico de índole kelseniana, formu la uma "teïceiÍa via", um conhecimento que proporciona uma leitura integrada do mr-rndo da reaìidade com o mundo das idéias, inserindo aportes da sociologia e da psicologia; uma teoria do direito empírico- Íática, sem renúncias, cujo resultado é um produto híbrido Dessa maneira, consiqnando que o único discurso dotado de sig- nificado científico é aquele em que se pode reconduzir a um controle empÍrico, Ross assenta, sob o plano "meÏodológico", compreensào "monista". Conseqüência disso é que tudo o que não se enquadrar nessâ caractedstica, malgrado os esforços porventuÍa feitos, é "isento 41 A. Ross (1953), p. 64. B9 * (le sicÍrìrficiÌdo" para a ciêÌìcia, ou seja, aceita, sob o pÌaro "episl,eÌ]]o- Ìógico", a iufluêncìa notória do positivismo lógico a2 A interpretaçáo da ciência do Direito exposta neste livro Íepousa no postulado de que o princÍpio da vedficaçáo deve se aplicar também a este campo do conhecimento, ou seja, que a ciência do Direito tem gue ser reconhecida como urna ciència sociaÌ empírica. Isso significa que náo devemos interpretar as pro- posiçóes acerca do direito vigente como proposicoes gue aludem a uma validade inobservável ou "força obrigatória" derivada de prrncipìos ou posruÌados a ptiori, mas sim Lomo propostcoes que se refererem a fatos sociais. E mistêr eviclencrar quais sao os pro cedimentos que permiten verificá-las, ou quars são as inplicaÇóes verificáveis deias [A. Ross, SDJ, p.65]. ConsÌderando a aírrmacão acima consignada, tem-se que o "obje- to" a ser veÍificado com vÌstas a se controlar as descriçóes da ciência rle Ross é se o Direito é "Düeito vigente". Portanto, é necessário expor corno ele pode ser "verificado", pois, como é um dado fático, é passível de corr[: nracáo ou dp conlulaçao emprrica. Colltudo, deve-se perguntar, preliminarnìente, a que cÌasse de normas Ross se refere quando diz que se deve proceder sua veriÍicaçáo como diÍeito vigente, pois, como assinalado, há tanto normas "de con duta" quanto normas "de competência". De fato, para Ross, há procedimentos de vedficaçáo distintos para esses dois grupos normativos, como rremos desenvoÌver em breve. Entretanto, coÌno as normas de competência sáo reduzíveis as normas de conduia (pois, repita-se à exaustáo, na teoria de Ross as normas cle competêÌlcia são normas de conduta indiretamente forrruladas), a ma'Ììeira de vedficar as primeiras serve, em termos gerais e salvo ques toes acessorias. para essas trJtimas. Assim, corÌ]o uma norma "vigente" é aqueÌa (1) sentida como obri- gatória (nos termos já expostos) e (2) apiicada pelos tÍibunais, resta 42 O positivjsÌno lógico (ou neoposjtjvismo), embora não coÌlsritÌÌê proprÌaÌrÌeÌrre unìa "escoÌa' traÌa-se de uma, por assrnl LÌizer "aLit.ucÌe fjlíJsólica ceÌltrada basicaDente em dois polìros: 1)aproìlnaçáo da íilosofLa e ciência lRoss verte Ìsso em aproxiÌnação do .ÌireÌto e da ciêncìa); e 2) a Ìigação ao empirismo pugÌìando srÌbmatendo toclo conteúdo do saher à expenêncÌa. Fora disso, êíjrmam os neoposiLivistiìs apenas ÌraveÌ mehafisi ca e eruDciados "sem sentrdo . il,,', )r,1, li,,Ìr',L!'lìrì ll r;irlror orÌÌ qLre consiste essa "aplicacáo" e o que se deve entender por "rorrDa aplicada pelos tribunais" Porque' a partir do nomento em que se trveÌ essas informaçÓes, será possível drzer se a descrição feita pelo junsta é verdadeira ou falsa, pois basta confrontar os dados com a des- crlção apresentada. 12.1. Norma "aplicada" Com respeito ao primeiro ponto, quando se diz que uma norma lurídica é vrgente porque é aplicada pelos tÍibunais (com a convicção de que ela, a norma, é obrigatória), Ross se preocupa em esclarecer o qr-re signlfica o uso no tempo presente da construçáo "é aplìcada"' Diz Ross: "Se alguém indaga qual é o direito vigente hoje em reÌa- çáo a uma determinada matéria, o que indubitavelmente deseja saber é como seráo decididos os conflitos presentes se submetidos aos tribu- nais. Neste caso, obviamente, náo interessa saber quais Ìegras ate agora os tribunais tèm seguido ao elaborar suas decisoes, a menos que haja razáo para crer que continuaráo atuando do mesno modo ln versamente, uma regra pode ser considerada dtreito vtgentea despei- to de não ter sÍclo até agoía aplicada pelos tribuÌìais, por exen.Iplo caso se trate de uma lei recentemente promuÌgada E considerada vlgeÌìte se sob algum fundamento, aÌém da prática prévta dos trlbunais, houver Íazào pata supor que a regra será aplicada eÌn qualquer decisáo jurídl- ca futura".43 Dessa fornta, os enunciados sobre o Dlreito vigente, para Ross, apenas se referem à atualidade, não ao passado E, como Ììáo se pode ter certeza a respeito de se essa prática contìnuará em vinte anos, as prediçóes concerÌÌem ao que os tribunais decidirão enÌ uma filtura deci- sáo hipotética em tempo próxlmo Entretanto' para isso, Ross coloca ceítas condiçóes: "se se instaurar uma açáo em relaçáo à quaÌ a regra jurídica particulaÍ apïesenta relevância' e se nesse ínterim náo houver nenhuma modÍíicaqão no estado de direito (quer dizer, nas circrinstân- cias que condicionam Ì-Ìossa asserqão cìe qr-re a regra é direito vigente)' tal Íegra será aplicada pelos tdbunais" aa Ou seja' duas são as condi- çóes colocadas por Ross: (1) que a norma que se afirma como direito vigente "tenha importância"; e (2) que durante o transcurso do tempo 43 A Ross (1953), p. 65. 44 A. Ross (1953), P. 66 t da decÌsao até o ÌÌÌoÌüento eÌÌl que se íorrnuÌa a preclçao ,.rÌiÌo lìiìliì r]eÌrhunÌa modiftcação nas circunstâncias que coÌldicionaranÌ o dÌreit.o afirmado". 12.2. Norma "apÌicada peÌos tribunais" No que tange ao segundo ponto, deve-se aclaÍar o que se cleve entender por "Ìlorma apÌtcada pelos tribunais',. Com respeito a isso, "norma apÌicada pelos tribunais,'Ìlão signifi_ ca "demanda acoÌhida" em determinado sentido, mas sim uso de norma que influi na decisáo, ou melhor, significa que a norÌlra em ques- táo atuou como um dos fatores clecisivos determinantes da decisáo alcançada pelo tribunaÌ. Essa a afirmação de Ross: ,,Se tomarmos a seçáo 62 ldo Uniform Negotiable 1nsürumeÌrts Actl, seu ,ser aplicada, náo pode se referir a uma sentença de uÌn determinado teoÌ, por exem_ pÌo, que se Õrdene ao sacado pagar a letra, já que é possÍveÌ que em conformidade com outÍas regÍas juridicas possa ele opor uma contes tação sustentável. Poderia ocorÍer, por exempÌo, que se tratasse de um menor ou que o detentor do documento tivesse cometido algum ato que tenha prejudicado seus direitos. A secáo 62 obviamente pertence a um todo coerente de significado associado a várias outras regras jurídicas. Conseqüentemente, sua "aplicacáo" na prática jurídica só pode signi- ficar que nas decisóes nas quais se supõe existirem os fatos condicio_ nantes de tal regra, esta forma paÍte essencìaÌ do raciocinar que funda a sentença e que, portanto, a regra em questáo constitui um dos fato- res decisivos que determinam a concÌusão a que chega o tribunaÌ".4b ConcÌusivamente, Ross alcanÇa a síntese: "A- seção 62 do Unìíorm NegotialJle Instruments Act constituí diïeito vigente na atuali dade num certo Estado é uma predição no sentido de que, se ante os tribunais deste Estado se instaura uma ação na quaÌ se afirma a exis_ tência dos fatos condicionantes de taÌ seçáo 62, e se no ínterim náo houve modificaçóes nas circunstâncias que constituem o fundamento Á, a diretiva do juiz, contlda naquela regra, será parte essenciaÌ do raciocinar em que se funda a sentença".46 4s A. Ross (1953), p. 67. 46 Grifos clo original. A. Ross (1953) p 67. r:..:,,. 12.1ì. Vor iÍi<;:r(;:ro (io proposiÇoes jurídicas atiÌÌentes iìs ÌroÍÌÌ-Ìas de conÌpetência Enì gì.re pese o fato de as Ì]ormas de competência serem reduzi veis às Dormas de condlÌta, as noÇÓes de "apÌicaçáo" e de "aplicaqáo peÌos trrbunais" estáo reÌacionadas, segr,Ìndo Ross, propriamente, à verrficação do uso das noÍmas de conduta. Exatamente por isso' para que se as possa utilizar no que toca às normas de compctència, é necessário que se atenda a certas condìçóes Essa a afirmação de Ross: "Normas de competência sáo norrnas de conduta indiretamente íormuladas. Conseqüentemente ' sua verifi cação, em princípio, pode ser expÌicada nas mesmas Ìinhas que indica mos para as normas de conduta do parágrafo anterroÌ Assim, à guisa cìe exenplo, o Çonteúdo real do enunciado que afirma que as regras corÌstitucioÌ.Ìais referentes ao poder legislativo sáo direito vigente é uma previsáo de que as normas de conduta criadas pela legislação em conformidacÌe conÌ ã Constitujção seráo aplicadas pelos tribunais Esta interpretaçáo, contudo, só é possível sob ceÍtas condiçóes"'17 Dessa forma, Ross diz que ao menos uma, de duas possibilidades, deve ser constatada: ou (a) as norÌÌÌas de conpetência devem ter o eíei- to de anulabilidade; ou (b) as normas de competência devenr gerar algum tipo de responsabilidade. (a) Com respeito ao primeiro ponto, o significado empreendido por Ross é o de os tribunais deverem aplicar somente regÍas de con clutas cdadas conÍorme as condiçóes assentadas nas normas de competência (atribuição de poder jurÍdico e procedimentos); (b) Ouanto ao segundo ponto, a questão está centrada na reper cussáo pelo descumprimento da norma de competència. Segundo Ross, esse é o caso do procedimento especiaÌ do impeachment.4s Conclui, assim, nosso autor: "Se, entretanto, uma noÍma de compe têncÌa náo tem uÌr ou outro desses efeitos, sua interpretação como norma de conduta indiretamente formuLada dirigida aos tribunais náo é possivei Tal pode ser o caso de umas poucas ÍegÍas constitucionais, por exempLo' 47 A Ross (19s3). p 76 4g Â. Ross (1953), pp. 7tj 77 I a rogra da Constituiçáo dinamarquesa, a quaÌ exige que toda lel seja li(la lrês vezes no ParÌaÌtento. Isso acarÍeta a conseqüència de que tais regras não podem ser coÌÌsideradas como direito vigente no seltido que defiÌìj mos aqui, porque de modo aÌgun podem elas ser interpretadas conÌo detentoras de direlivas aos tÌibunais para o exercício da forca".49 12.4. Diretlvas (normas), proposÍções (asserções) verificáveis e grau de certeza Conforme a constÍuqão de Ross, eÌementar é a especificidade de não se poder confundir a "diretiva", por exemplo, presente na "Lei UDrfornle de Instrumentos Negociais, Seção 62", com a "proposição" 'A diretiva D ó direito vigente" de Ot. A base da distinçáo mencionada está no fato de as "diÍetivas" consistirem em enuciados cujo intento é o de "conformar condutas", ou seja, "ditar comportameÌltos"; já as "proposlçóes" são enunciados que "descreverl" LrÌÌì certo estado de coisas (no caso, o direito vicÍente da ordem jurídica de O-f. Isso significa que náo se pode dizer das direti- vas serem elas verdadeiras ou falsas, mas váÌidas ou inválidas, úteis ou inúteis, vigentes ou náo-vigentes etc. Por outro lado, com respeito às proposiçóes, elas, como descriçoes que são, podem ser consideÍadas verdadeúas ou faÌsas; basta, para isso, explicitar o critério empregado de verificação para se poder pro- ceder a essa análise A partir desse ponto, as diferenças estáo relacionadas na mesma proporçáo diferenciativa, considerando serem as "diretivas" o direito apenas "válido" da ordem juÍídica O.Í e as "asserções", isto e, o que se diz a respeito do náo apenas "válido", mas "vigente" da ordem jurídica O.f. Ou seja, o descrito é menos amplo do que o leque do editado pelas autoridades ÌegisÌativas de O,I porque apenas algumas das normas pro- duzidas pelas autoridades "leqislativas" será efetivamente utilizada pelos juízes. Portanto, ao menos três pontos podem ser âfirmados: (1) A afirmaçáo 'A diÍetiva D ó o diïeito vigente de O.I', consiste em descdçáo dos fatos sociais constatáveis de O_f; (2) Se as diretivas de O, (as normas Nde O-I) sáo diretivas atinen- tes ao emprego da força fisica, entáo descrever o direito vigente é descrever o que os órgáos aplicadores das sanções decidem; 49 A Ross (1953), p. 77 94 ill rr'rr"'Ì rI li'rrÌr'rrlr l)1 1rl1' (lì) A vigêlcra da norna ÌV de Ot decorre, assim' de os oÌgàos apÌrcadores das notmas de O'I consideÍarem obdgatória a norÌrÌa produzida pelos "legisladores" (elemento psicológìco) e de eÍetrvamente as aplicarem nas situaçÓes ocoÍrentes (ele- mento da conduta) Nesse senticlo,das compreensÓes diferenciadas do que seja uma "diretiva" e do que seja uma "proposição", demais dos prontos (1)' (2) e (3) clestacados, pode se resumir a ciência de Ross da seguinte maneira: (a) As asserçóes sobre o cÌireito de Ot constituem as proposiçóes verificáveis trabaÌhadas peia ciência do Direito de Ross; (b) Proposiçóes do tipo 'A diretiva D é direito vigente de 0/" podem ser verificadas em sua falsidade ou verdade; (c) O instrumental para se veÍificar a verdade ou a faÌsidade da proposição 'A diretiva D é düeito vigente de O'I" é a verifica- çáo se os tribunais estáo efetivamente aplicando a diretiva D; (d) óomo as proposiçoes do tipo 'A diÍetiva D é diÍeito vigente de O/" se referem ao que os tribunais aplicam' elas servem como predições a respej.to das futuÏas decisÕes judiciais' pois as chan- ces de o comportamento apiicativo se repetir são grandes; (e) Como as normas cÌe competência, para Ross' sao diretivas indiretamenÍe formuladas' elas também sáo passíveis de verificação De todo moclo, a pesar dessas consideraçÕes de Ross' bem sabe ele que a asserçáo 'A diretiva D é direito vigente de Ot" náo implica certeza absoluta acerca das ocotrências futuÍas' uma vez que é passí vel de oscilaçóes decorrentes de fatores específicos L2.4.1. Incerïeza Relativa ao EÌemento PÍobatório O primeiro fator mencionado por Ross, nesse paÍticular' é o da influência probatória Conforme Ross, o modo com que a prova e apre ciada no caso a respeito da ocorrência dos fatos relevantes influi consi- deravelmente na afiÍmaçáo do direito do caso A verdade Á não pressupóe que estejamos em posicáo de predizer com razoável certeza o resultado de uma futura açáo jurÍ- dica concreta, mesmo se estiveÍmos de posse dos fatos rêÌevaÌltes Em pÍimeiro lugar, o resultado dependerá da prova produzida e da t avalÌaqao de que será obleto. Como, por exerÌÌplo, as tesl.elÌìÌlrìlìilb, se coÌ.nportarão no tribunal e que impressáo terá o juiz de sua con fiabihdade. A avaliacáo da prova é em táo grancle medida coÌrdi cionada subjetivamente que esta razão por si só eÌimina toda pos sibilidade de calcuÌar antecipadamente com certeza o resultado dos casos nos quais há fatos controvertidos IA. Ross, SDJ, p. 6gì. 12 .4.2 . Incerteza ReÌacionada à Atividade Interpretativa O segundo fator diz respeito às várias possíveis interpretaçóes de uma mesma disposiçáo jurídica. Mesmo que a ciência jurídica possa enunciar proposiçóes a respeito de qual seja a interpretaçào corrente, Ross assinala a incerteza mesmo deste empreendimento. A interpretação das regras jurídicas oferece pontos vitals de incerteza, os quais serão examinados no Capítulo IV IA. Ross, SDJ, p.68ì. No capítulo mencionado por Ross, ele define ilterpÍetaçào como uma operação intelectual cuja finalidade é a de determinar o sisnifica- do de LÌma diretiva indicando, sob que circunstâncias, eÌa tem de ser aplicada e como deve conduziÍ-se o juiz. Após expÌicar algumas técni cas e questões relativas à linguageÌl], Ross Ìista problemas sintáticos, Ìógicos e semânticos atinentes à ativiclade interpretativa. Pontualmente, diga-se que os "problemas sÌntáticos', de Ross es_ táo relacionados precipuamente à ordem das palavras na oracão e a maneira como estas se encontram conectadas entre si.s0 Os "problemas lógicos" são referidos por Ross como aqueles que se oiginam nas reÌaçoes mantidas pela expressáo objeto da interpre_ taçáo com outras de seu círculo de coDfiguração contextuaÌ. Aqui, Ross se reíeÍe aos probÌemas de "inconsistência,' (quando normas imputam efeitos jurídicos incompatíveis às mesmas situações fáticas), proble_ mas de "redundância" (quando normas distintas estabelece r tÌìesmo efeito jurídico para as mesmas circunstâncÍas fáticasy sr Os "probÌemas de pressuposiçáo incorreta ou deíeituosa fática ou jurídica" são aqueles decorrentes de pressupostos equivocados, seja a respeito de uma situação de fato, seja quanto a uma situaçáo judclica. sO A Ro;s (19s3), pp 151-157 51 A Ross (1953), pp. 157 162. 9ri IIrrrr'"r'rl" li'orr I r|' l) rÍ'LlLr Ar;r;rrrr, tliz lìoss scr "ÍáLlc:ì" qì.talldo LtÌlÌa norlna quahfica substâÌlcÌa irÌ(]rcrLa cÌe veÌÌerlosa; e "juidica" quando uma norma faz pressuposi- Çoes rDcorretas ou falhas sobre o conteúdo do diÍeito vigente ou a res- pelto de situaçoes jurídicas específicas Por exemplo: que a maioridade civil no Brasil é alcançada com 26 anos de idade 52 Como terceiro e último fator, nosso autor se refere a fatores que náo são ideológico juúdicos, mas que influem no momento de se decidú Finalmente, as idéias do juiz acerca do que é o direito vigen- te náo constituem o único fatoÍ que o motivam Este úÌtimo ponto é particularmente interessante' já que o grau em que o juiz é motivado por outros fatoÍes, além ílos fatores rdeológicos-jurídicos, é decisivo para o valoï prático da ciência do Direito; o conhecimento desta ideologia (e sua inteÌpretaçào) nos capacita, portanto, a calcuÌar antecipadamente com considerável ceÍÍeza o fundamento juríclico de certas decisóes futuras' funda- mento que apaÍecerá nos argumeÌrtos [A Ross SDJ' p 68]' Em síntese, a ciência de Ross é empírica poÍque seu instrumental auxilia na leitura dos íenômenos sociais relacionados ao uso das nor- mas válidas, ou seja, é reveÌadora do "direito vigente" Contudo' suas previsóes náo evitam a incerteza ineÍente à possibilidade de posiciona- mento, de tempo em tempo, dos órgáos de aplicaçáo, isto é' dos luÌzes; isso, por Íazóes "de prova", "de interpretaçáo" e em razáo de Íatores "icleológicos não-jurídicos" Poftanto, o cientista de Ross não é um enunciaclor de prevlsóes lógicas realizadas a partir de pontos de parti- da certos em termos absolutos, o cientista de Ross, atento aos fatos sociais relacionados aos comportamentos' é' por assim dizer' um "cien- tista sociaÌ" de "probabilidades " 13. Um conhecimento integrado (ciência do Drreito e socioÌogia jurídica) Está na distinçáo entre "normas jurídicas" e "direito em açáo" a tradicÍonal demaÍcaçáo de dois ramos cÌo Direito: a ciência jurídica e a socrologìa jurídica. 52 A Ross (1953), PP 162'164 ; !lrrt.r(it.aÌÌto, con]o a Larefa da ciência do Diretto, segundo Ross, é a (le t.riÌtar dos campos "normativo" e "prático", a comum distÌnçào entre socroÌogia do Direito como ramo do Direito que se ocupa do ,,direito em aÇáÕ" (ou em prática) e a ciência do Direito como ramo que se ocupa das "normas jurídicas" deixam de ser vistas, a partir de entào, como saberês independentes para seÍem compreendidas como abordagens de "aspectos diferentes de uma mesma reaÌidade".53 A ciência do Di- rerto Ì'Ìáo mais se ocupa de estruturas jurídicas apreciaclas ,,em abstra_ to", pois, agora, o que importa como "direito,'encontra-se nas estÍutu_ ras jurÍdicas determinadas, ou seja, "vigentes"; sendo este, para Ross, o foco de atenção que deve acercaÍ-se o teódco.s4 Como foi analisado, a tarefa da ciência jurídica, segundo Ross, é descrever o direito vigente. Para tanto, eÌa necessita, evidentemen_ te, de conhecimentos sobre as normas produzidas e da apreensáo de certos fatos. Disso resuÌta, por conseguinte, que a demarcaçáo tradi cional apresenta faihas aos oÌhos de Ross e merece ser Íeformulacla. Diz Ross: "a ciência do Direito jamais poderá ser separada da socio_ logia do Direito. Embora a ciência do Direito esteja interessada na ideoÌogia, é sempre uma abstração da realidade social. Mesrno que o jurista náo esteja interessado no nexo que Ìiga a doutïina à vida real, esse nexo existe. Reside no conceito de ,,direito vigente" que, como foi mostrado, constitui parte essenciaÌ de tocìas as proposiçóes dou- trinárias, pois esse conceito, em consonancia com nossa análise pro- visionaÌ, se refere à efetividade das normas enquanto constituintes de um fato sociaÌ".55 Nesses termos, conforme suas consideraçóes a diferença entre a ciência jurÍdica e a sociologia jurídica é basicamente cle abordagem de interesse. Diz Ross, com ênfase: "(...) a ftonteira entre a ciência do Di_ reito e a sociologia do Direito
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