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Luciana Santos ATM 2023/2 1 Pediatria Bronquiolite Viral Aguda Infecção do trato respiratório inferior mais comum em crianças pequenas. Resulta da obstrução inflamatória das pequenas vias aéreas. Ocorre mais nos primeiros 2 anos de idade – incidência maior em lactentes < 6 meses: causa de internação comum nesta idade. Características fisiológicas do aparelho respiratório do lactente são determinantes para o quadro clínico: superfície de troca gasosa ainda não está plenamente desenvolvida, há resistência aérea alta nos primeiros meses, o que gera uma FR mais elevada. Anticorpos advindos da mãe caem bruscamente nos primeiros meses após nascimento – expondo o bebê a diversas doenças. Pulmão está mal adaptado a suportar agressões, desenvolvendo assim infecções mais facilmente. Principal agente etiológico: vírus sincicial respiratório (VSR). EPIDEMIOLOGIA VSR – paramixovírus de RNA. Algumas cepas podem ser mais virulentas que outras. Fonte de infecção geralmente é um membro da família, colega de creche ou de escola, com enfermidade respiratória aparentemente benigna. Homem é a única fonte de infecção. Crianças maiores e adultos > toleram melhor o edema bronquiolar > menos sintomas. Transmissão: contato direto ou próximo a secreções contaminadas (gotículas). Incubação de 2 a 8 dias. Disseminação viral é de 3 a 8 dias – em lactentes mais novos a disseminação pode ficar até 4 semanas. Infecção pelo VSR > não confere imunidade > reinfecções durante a vida. Outros agentes da BVA: influenza, rinovírus, parainfluenza (1 e 3), adenovírus, metapneumovírus, bocavírus humano. Pico de incidência de BVA: 2 e 5 meses. PATOGÊNESE VSR > grande afinidade pelo epitélio bronquiolar (tropismo). Inoculação do VSR ocorre provavelmente pela mucosa nasal. Depois da incubação assintomática de 4 a 5 dias, a criança desenvolve sintomas de infecção respiratória superior. Resposta primária: infiltração tecidual pelos leucócitos polimorfonucleares e macrófagos > liberam mediadores > alteram a permeabilidade endotelial > inflamação, migração celular e edema > obstrução das vias aéreas, limitações no fluxo de ar, atelectasias e desequilíbrio da ventilação-perfusao. DIAGNÓSTICO Achados clínicos: o Idade: afeta crianças < 2 anos. 90% das hospitalizações são em < 12 meses – pico de 3 a 6 meses. o Febre: é mais marcada na fase prodrômica da doença. Ausência de febre não exclui diagnóstico. o Tosse: comum na BVA. Seca, associada a sibilos – uma das primeiras manifestações de comprometimento pulmonar na bronquiolite. o Taquipneia: sinal importante nas infecções de trato respiratório inferior (bronquiolite e pneumonia). o Tiragem: subcostal, intercostal, supraclaviculares – comuns em lactentes. Pode estar associada a tórax hiperinsuflado. o Crepitações: inspiratórias, em todos os campos pulmonares. o Sibilância: expiratória é achado comum no Reino Unido, no EUA – crepitações. Avaliação da gravidade Quadro clínico geralmente inicia com rinorreia, tosse e febre baixa, que evolui para dificuldade respiratória associada a sinais de obstrução brônquica e sibilancia. Autolimitada na maioria dos casos. Achados radiológicos Raio X de tórax: hiperinsuflação torácica difusa, hipertransparência, retificação do diafragma e até broncograma aéreo com um infiltrado de padrão intersticial. Pode haver área de atelectasia secundária a tampões. Mucosos e infiltrados de baixa densidade com espessamento pleural. Luciana Santos ATM 2023/2 2 Achados laboratoriais Não devem ser solicitados considerando a obtenção de informações uteis. Identificação do agente não é feita de rotina. Por questões de facilidade, rapidez e custo a técnica de imunofluorescencia é a mais utilizada (aspiração nasofaríngea). PCR pode ser útil, porem é limitado (custo, laboratório especializado). TRATAMENTO Maioria dos pacientes: evolução benigna sem nenhuma intervenção. Assistidos em casa com terapêutica sintomática (controle da temperatura, status hídrico, nutricional, bem como acompanhar a evolução). Internação é infrequente (1 a 2% dos pacientes) < 1 ano de idade – reservados para sofrimento respiratório com fatores de risco associados. Hospitalizados: oxigenioterapia, manutenção do status hídrico, mínimo manuseio e precoce identificação de complicações. o Não farmacológico Medidas gerais: tratar hipertermia. Febre elevada não é achado comum na fase pulmonar da doença – atentar complicações. Cabeceira do leito elevada. Obstrução nasal e rinorreia > higiene e aspiração. Transmissão pelo VSR> contato direto com grandes partículas de secreção e autoinoculacao pelas mãos. Transmissão por aerossol não é tao importante > lavar bem as mãos, antes e após contato com o doente. Isolamento de contato é requerido. Distância mínima de 2m entre os leitos. Aporte hídrico: risco de falência respiratória – suspenção da adm de líquidos e alimentos VO. FR>60 a 70mrpm = risco de aspiração. Quantidade hídrica deve ser feita via parenteral. Edema pulmonar > restrição no aporte hídrico. Fisioterapia respiratória não é necessária. o Farmacológico O2: aquecido e umidificado. Cânula nasal. Monitorar a saturação pela oximetria de pulso – manter superior a 90%. Quedas temporárias da saturação não indica dano futuro, desde que estável clinicamente. Broncodilatadores (alfa e beta adrenérgicos): beta2agonista (Salbutamol) e alfa-adrenérgico (Adrenalina) tem maiores utilizações – porem em revisão da Cochrane: questionamentos se os efeitos indesejados não são maiores que os benefícios. NÃO são utilizados de rotina. Solução salina hipertônica: via inalatória para melhorar o clearance mucociliar. Evidencias fracas, mas pode ser utilizada. Corticosteroides: sistêmicos > contraindicados. Suporte ventilatório: maiores candidatos são lactentes < 3meses, pacientes com displasia broncopulmonar, desnutrição proteicocalórica, síndrome de Down, cardiopatias congênitas e pacientes que adquiriram BVA hospitalar. Tempo de ventilação mecânica oscila entre 5 e 15 dias. MEDIDAS PREVENTIVAS Imunização passiva: imunoglobulina endovenosa específica (IGEV-VSR) e anticorpo monoclonal humanizado para VSR (Palivizumabe) tem se mostrado efetivos na prevenção do VSR em populações de risco. Luciana Santos ATM 2023/2 3 COMPLICAÇÕES Ocorrem em até 79% das crianças. Complicações respiratórias > infecções > cardiovasculares > eletrolíticas > outras. Estas complicações são mais frequentes em prematuros (87%) e crianças com alterações cardíacas congênitas (93%) ou outras anomalias congênitas (90%). Referência: Tratado de pediatria : Sociedade Brasileira de Pediatria / [organizadores Dennis Alexander Rabelo Burns... [et al.]]. -- 4. ed. -- Barueri, SP : Manole, 2017.
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