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Gêneros da Narrativa

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3.2 OS GÉNEROS DA LITERATURA INFANTIL: A NARRATIVA
O trabalho com a literatura infantil na escola deve levar em conta, além dos princípios já expostos, os diferentes géneros 
de textos escritos para crianças, porque o modo como se configuram requer um trabalho diferenciado.
As narrativas apresentam uma variedade de tipos cuja construção específica deve ser do conhecimento do professor, para 
que as propostas de atividades e de avaliações possam estar adequadas à concepção do discurso literário escolhido. 
Pensando nessa competência docente, trataremos a seguir de alguns desses modos de narrar e das formas literárias que 
eles originam.
Para abordar esse assunto, vamos nos servir em parte da classificação apresentada por Vera Aguiar no livro por ela 
coordenado, Era uma vez... na escola: formando educadores parajormar leitores*. Ela divide essas categorias em algumas 
perspectivas: estrutura, personagens, temática e efeito. Aproveitamos dessa classificação o seu formato didático e bem 
organizado e incluímos alguns outros dados que nos parecem necessários.
3.2.1 QUANTO À ESTRUTURA
Em relação à estrutura organizacional dos textos literários, encontramos na obra Era uma vez... na escola urna apresentação 
dos géneros textuais identificados na literatura infanto-juvenil, quais sejam: mito, lenda, fábula, apólogo, conto e novela9. 
A eles acrescentamos a crónica, como texto literário de uso frequente na escola, e as narrativas mistas, que aproveitam 
elementos dos demais géneros.
A literatura oferecida às crianças se apoia nessa tipologia de textos, seja para trabalhar com obras tradicionais, seja 
para fazê-lo com livros recentes.
A estrutura das narrativas propõe leitura diferenciada, porque se apresenta de modos diferentes ao leitor, A 
concepção do texto visa a objetivos próprios, portanto constrói a narrativa segundo padrões mais, ou menos, tradicionais. 
Essas formas diferentes nascem de modos diferentes encontrados pêlos autores para representar o mundo e os homens. 
Assim, a escolha de um conto ou de uma fábula tem a ver com as intenções a serem exemplificadas e aplicadas, as 
formas de construção do texto, as referências explícitas ou implícitas a outros textos do mesmo formato, as personagens 
que se expressam ou agem de maneira prevista ou imprevisível, a retomada parcial da forma tradicional ou sua rejeição.
Podemos exemplificar a relação entre a literatura infantil tradicional e a contemporânea: a retomada do conto tradicional 
Chapeuzinho Vermelho na obra Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque de Hollanda. Ao comparar os dois textos, verificamos 
o quanto houve de alteração na concepção da protagonista Chapeuzinho, transformada por Chico Buarque em menina 
medrosa, que de tudo tem medo. Inclusive de lobos. E como, por artes de transformação da palavra lobo em bolo, que 
implica a renomeação do animal e, portanto, uma outra visão, uma outra perspectiva dele, a menina é capaz de superar o 
medo e pode, por artes de transformações posteriores, eliminar de sua vida o temor de muitos monstros (no texto, 
metamorfoseados em tronsmons), normalizando suas relações com o mundo e consigo mesma.
Para orientar melhor o professor em seu trabalho com essa tipologia, apresentamos a seguir uma rápida descrição dessas 
diferentes estruturas textuais.
Mito
Na literatura para crianças, o mito, entre suas várias definições, está mais intensamente relacionado com a característica 
de uma narrativa atemporal que procura explicar a génese, a origem de seres e coisas, de forma não racional, lógica e 
histórica, mas na "unidade originária da consciência e do mundo, (...) numa fusão inextricável, na substância formadora do 
mundo, entre o visível e o invisível, o natural e o sobrenatural"10. São narrativas primordiais, que explicam, por exemplo, o 
surgimento de algumas tribos ou a origem das estrelas. Quando tratam do surgimento de plantas, acidentes geográficos e 
alimentos, são denominadas contos etiológicos, como, por exemplo, a narrativa sobre o aparecimento do guaraná e das 
Cataratas do Rio Iguaçu, no Paraná.
Lenda
A lenda tem uma base histórica, um fato pertencente a um acontecimento ou pessoa de um tempo histórico determinado, 
que aparece transformado, de maneira idealizada e exagerada, numa narrativa posterior. Muitas vezes, a lenda é de 
criação coletiva do povo. Teve, em consequência, um desenvolvimento oral e aparece com muitas versões próximas, mas 
diferentes. E o caso da lenda do Negrinho do Pastoreio, de histórias de santos ou de heróis de um país. O fator idealização 
é essencial para a transformação da história em lenda. Ela terá sempre o componente histórico para lhe dar subsídio e 
credibilidade.
Fábula
Esse é, provavelmente, o mais conhecido dos textos que circulam na escola. Contribuem para esse conhecimento a 
extensão (texto curto), os personagens (animais falantes na maioria), o tratamento dialógico (personagens dialogam ao 
longo do texto, permitindo pontos de vista diferentes), a moral explícita (às vezes implícita) no início ou no final da 
narrativa, que evita contradições, facilita e condiciona a compreensão do que foi lido.
Massaud Moisés assim define a fábula: "é protagonizada por animais irracionais, cujo comportamento, preservando as 
características próprias, deixa transparecer uma alusão, via de regra satírica ou pedagógica, aos seres humanos."11
As narrativas contemporâneas com personagens animais e que são escritas especialmente para a escola preservam as 
características das narrativas tradicionais, existentes desde antigas civilizações, como a indiana, a grega e a latina.
Apólogo
Essa estrutura textual literária mantém semelhanças com a fábula, porque tem, como ela, personagens não humanos, 
dramatização no diálogo e moral, implícita ou explícita. A diferença marcante é que os personagens são objetos inanimados, 
como plantas, pedras, rios e objetos fabricados, como relógios, agulhas, linha.
Conto
O conto é uma narrativa curta e sintética que contém uma única ação, isto é, trata de apenas um conjunto restrito de 
personagens, em tempo e espaço reduzidos, que vivem poucos acontecimentos. Essa fórmula serviu, e continua servindo, à 
literatura infantil e juvenil, pois está adequada à pouca experiência de leitura, à dificuldade de a criança acompanhar 
enredos mais complexos, com histórias paralelas e muitos personagens. Também pela dificuldade em seguir um tempo 
mais estendido, o conto mantém-se num tempo de ação mais condensado.
Há dentro do nome genérico de conto vários tipos, classificados segundo os assuntos tratados ou por abordagem dos 
fatos. Por isso, é possível englobar sob o título de contos maravilhosos as narrativas com ou sem fadas, que apresentem uma 
visão mágica da realidade (com objetos, animais e acontecimentos fora da realidade e transformáveis). Outro grupo é 
formado pêlos chamados contos do cotidiano (com personagens crianças, com protagonistas solitários ou em grupos, 
vivendo conflitos na rua, na escola, em família). Outros grupos podem ser constituídos pelas denominações contos que 
contenham enigmas, ou contos de aventuras, ou narrativas sobre aprendizagem, ou sobre ecologia, ou sobre problemas sociais (como a 
inclusão, por exemplo).
Enfim, o conto é uma forma literária que atende à capacidade de atenção, à experiência de vida, às expectativas e à 
visão de mundo das crianças, entendidas como leitores em formação.
Crônica
A crónica é outro texto narrativo curto, que trata de assuntos do cotidiano, com senso de observação e tratamento lírico. 
Traz para o leitor uma proposta de identificação, emocionalidade e poesia. É considerada por alguns historiadores e 
críticos literários como um género menor devido, principalmente, ao fato de estar marcada demasiadamente pelo tempo 
presente e, portanto, com envelhecimento previsível. Provoca, no entanto, adesão imediata com o leitor. Daí a preferência 
dada à crónica pela escola, especialmente para a terceira e a quarta sériedo ensino fundamental. Entre seus autores mais 
citados e conhecidos estão Domingos Pellegrini, com Meninos e meninas e Cadeira de balanço, e Carlos Drummond de 
Andrade, com Fala, amendoeira.
Novela
Esse tipo de texto é organizado segundo o princípio da multiplicidade. Apresenta possibilidade de várias ações 
simultâneas, com um grande número de personagens e com um desenvolvimento linear da narrativa (começo, meio e 
fim, nessa ordem), o que permite ao leitor manter melhor contato com a história narrada. Prevalece, ainda, um certo 
caráter de repetição e previsibilidade na sequência dos acontecimentos. A atenção ainda se mantém apesar da extensão 
mais longa do texto, graças ao trabalho em torno de momentos de suspense.
Na atualidade, o exemplo mais conhecido é o da série Harry Potter, de J. K. Rowling, com sete capítulos de uma 
história que se desenrola há anos.
3.2.2 QUANTO À TEMÁTICA
Em Era uma vez... na escola, as narrativas distinguem-se também pela temática, que podemos sintetizar em: cotidiano, 
aventura, sentimentos infantis, relações familiares, questões históricas e sociais, questões ambientais, ficção científica, 
policial e religiosidade. Não há limite para a temática das narrativas infantis, que acolhe todos os assuntos. O que dará a 
característica de literatura para crianças é a maneira como esses assuntos são tratados. A temática não deve sofrer restrições 
de ordem moral, religiosa ou ideológica, pois pode haver limitação à experiência de vida e da realidade através do texto 
literário, bem como a impossibilidade de acesso a textos mais complexos, que trabalham com a contra-ditoriedade e a 
diversidade de perspectivas. O professor, ao selecionar textos literários para a leitura de seus alunos, deve considerar os 
interesses dos leitores por este ou aquele tema, os objetivos que pretende atingir com a leitura proposta e os meios de 
alcançá-los.
Se o livro estiver fora do alcance da leitura das crianças, o professor deve avaliar qual ou quais são as razões da recusa. 
A partir desse conhecimento, cabe a ele realizar o necessário ajuste de critério para melhorar as próximas escolhas. Se a 
dificuldade não for intransponível, cabe ao professor mediar mais intensamente a leitura, auxiliando mais na compreensão 
de seus alunos. Se o tema for complexo, ou o tratamento dele for obscuro ou profundo, sempre será oportunidade para o 
professor debater, esclarecer, encorajar os alunos a perseverarem na leitura e aprenderem a lidar com as dificuldades de 
textos mais complexos.
O que interfere na compreensão de um determinado tema pode estar na idade do leitor, no grau de familiaridade que 
mantém com os escritos, na sintaxe ou no léxico rebuscado do texto, no comodismo do leitor que desiste de tentar 
compreender um texto mais complicado, nos empecilhos momentâneos (físicos ou psíquicos) que impedem o leitor de traba-
lhar com maior intensidade os assuntos tratados no livro em estudo.
Há, também, entre os temas, algum que não seja do interesse pessoal do leitor. Por isso, há a necessidade do prévio 
conhecimento pelo professor sobre o repertório de histórias acumulado pelo leitor, para buscar estabelecer relações e ligações 
com o já conhecido. O professor deve conhecer também a qualidade poética do texto a ser lido, bem como o estágio de 
leitura em que se encontra o aluno que experimenta dificuldades.
Os temas em si não são nem bons nem ruins; são inadequados ou mal redigidos se apresentam problemas de leitura. 
Basta ajustar a escolha do próximo texto ao aluno e substituir o texto mal escrito por aquele que seja propriamente 
literário e poético.
3.2.3 QUANTO AOS PERSONAGENS .
A lista de personagens proposta pelo texto Era uma vez... na escola inclui as seguintes categorias: fadas, animais, objetos, 
crianças, jovens, adultos e extraterrestres. A esses acrescentamos bruxas, símbolos e alegorias, plantas, outros elementos 
da natureza, fenómenos naturais e idosos. As autoras do livro em questão corretamente deixam implícita a ideia de que 
tudo e todos podem integrar uma narrativa infantil. Em razão de o estágio de reflexão e pensamento dos alunos da 
educação infantil e das séries iniciais ser ainda primário, um estágio em que o mundo se constrói e se comporta dentro da 
mais elevada e intensa fantasia, há maior variedade de personagens infantis do que na literatura adulta.
3.2.4 QUANTO AOS EFEITOS . 
:
 . .
As teorias sobre literatura do final do século XX trataram com ênfase do papel do leitor, considerado co-autor do texto 
literário porque, ao atribuir sentidos ao texto que lê, não apenas o torna vivo, mas o ilumina com nova interpretação. E a 
cada nova leitura, mesmo que seja anos mais tarde, agrega novos sentidos, pois a maturidade traz, necessariamente, 
outras perspectivas, alterando a compreensão inicial.
Ao estudar o papel do autor, podemos atribuir-lhe intenções e desejo de expressão que estarão configurados no texto que 
escreve. Quando constrói esse texto, o autor cria um leitor imaginário com quem estabelece diálogo e em quem deseja 
provocar determinados efeitos no momento da leitura.
Vera Aguiar enuncia esses efeitos: suspense, humor, terror e lirismo. Podemos acrescentar conhecimentos, ludismo e 
afetos. Para que essas intenções se transformem em texto, há uma construção consciente na linguagem, com criatividade, 
conhecimento, técnica, estilo e, na literatura em especial, com poeticidade e beleza estética.
O diálogo proposto precisa, portanto, de um elemento de contato (o texto) entre dois sujeitos criadores (autor e 
leitor). Desse modo, o ato de ler ativa essa tríade e a compreensão acontece. Vejamos como podem ser descritos e 
exemplificados os efeitos propostos por Vera Aguiar e os apontados por nós.
• Suspense — É o principal componente de Uni, duni, té, de Angela Lago, narrativa construida a partir dos textos de 
cantigas de roda, em que o delegado Salame Mingüê tem que descobrir quem roubou o sorvete da geladeira. Trata-se 
de expediente narrativo que alonga a ação e as cenas narrativas, "gerando ansiosa expectativa"12, que será solucionada ao 
final do texto.
• Humor — É um dos efeitos mais constantes das narrativas e poemas infantis, porque permite atrair os leitores mirins 
usando a alegria na forma de escrever. Exemplificam esse efeito O bichinho da maçã, de Ziraldo e outras narrativas do 
autor, a obra de Sylvia Orthof e as aventuras da turma do Gordo na obra de João Carlos Marinho.
• Terror — Sempre foi a qualidade textual com grande força de atração para os leitores crianças. O medo, tratado 
com leveza, combinado com soluções criativas, em narrativas de esperteza, consegue alterar o sentimento que angustia 
em possibilidade de transformação num comportamento mais solto e livre. Exemplos desse tratamento são os livros De 
morte, de Angela Lago, e Contos de enganar a morte, de Ricardo Azevedo.
Lirismo — É a qualidade de textos em que imagens, palavras, situações e personagens se apresentam sob forma poética. O 
efeito lírico é percebido em textos que ultrapassam o conteúdo puramente narrativo para atingir um alto grau de beleza e 
emoção estética. Fica sempre no ouvinte ou leitor aquela sensação de encantamento. E um efeito raro nas narrativas com 
fins didáticos, mas pode ser encontrado nos melhores escritores da literatura infantil e juvenil, como nas obras Os 
colegas, de Lygia Bojunga, Uma ideia toda azul, de Marina Colasanti, A pontinha menorzinha do enfeitinho do fim do cabo da 
colherzinha de café, de Elvira Vigna. Conhecimentos — Pode se tornar um efeito desejável em obras que acentuam o caráter 
didático-pedagógico ou, nas de melhor qualidade estética, o caráter "utilitarista às avessas", como definiu Edmir 
Perrotti13. Esse conceito diz respeito às obras que trazem conteúdos em que as crianças vão encontrar maneiras 
inovadoras e criativas de conhecer a realidade fora dos padrões convencionais eredundantes das obras didáticas. São 
narrativas que promovem o contato do leitor com situações problemáticas da realidade e propõem soluções que partem 
das crianças e aliam às reações infantis uma dose de criatividade e de surpresa. São textos de conscientização sobre a 
realidade, sem perda do caráter do pensamento infantil e da beleza da linguagem literária. Entre as narrativas, destacam-se a 
série dos reizinhos e Marcelo, marmelo, martelo, de Ruth Rocha, e grande parte da obra de Ana Maria Machado, como, por 
exemplo, Do outro lado tem segredos, De olho nas penas, Bisa Bia, Bisa Bei, História meio ao contrário e outras. Afetos — São 
efeitos que provocam a adesão imediata dos leitores infantis aos textos lidos. Convém ressaltar que a afetividade (entendida 
aqui como aquilo que afeta o leitor) pode ter ao menos dois encaminhamentos opostos. O primeiro deles objetiva comover 
com a reprodução de situações habitualmente emocionantes (mortes, perdas, sequestros, desencontros) vividas por pessoas 
— geralmente familiares — ou animais e uma enxurrada de palavras no diminutivo, na falsa ideia de que leitor de pouca 
altura tem também cérebro pequeno. Uma outra maneira de trabalhar as situações e as imagens narrativas para sensibilizar 
o leitor procura apresentá-las em condições de profundidade, leveza e poesia. No primeiro caso, temos boa parte da 
literatura destinada à educação infantil e às séries iniciais, que apresenta animaizinhos desprotegidos (entenda-se, crianças), 
com linguagem pobre e sem criatividade. No segundo, temos livros como A pontinha menorzinha do enfeitinho dojim do cabo 
da colherzinha de café, de Elvira Vigna, em que o titulo todo em diminutivos visa descrever a debilidade que se transforma em 
força humanitária, e Flicts ou O menino maluqui-nho, de Ziraldo.
Ludismo — É o efeito buscado por livros e textos cujo objetivo é dar motivo a brincadeiras e jogos. São exemplos os 
livros de imagens como os da série Onde está Wally?, de Martin Handford. Também buscam o efeito lúdico livros para 
pintar ou desenhar, recortar e montar cenários, personagens ou maquetes.
3.3 OS GÉNEROS DA LITERATURA INFANTIL: A POESIA
Para o estudo dos valores estéticos da poesia devem ser considerados os critérios temáticos, os efeitos de humor, lirismo, 
conhecimento e afeti-vidade, com as mesmas características descritas para as narrativas.
Os temas da poesia são tão amplos quanto os das narrativas e devem atender ao mesmo critério de liberdade e abertura 
para o complexo e o contraditório, em especial nas séries mais avançadas.
3.3.1 QUANTO À AUTORIA
A poesia tem, como a narrativa, distinções específicas. Segundo Vera Aguiar 14, a primeira distinção, e fortemente 
acentuada, se dá entre a poesia autoral e a poesia folclórica. Como o próprio nome designa, autoral é o poema com autor 
identificado, seja ele popular, como Patativa do Assaré e os autores de cordel, seja ele urbano e/ou erudito, como José 
Paulo Paes, Elias José, Sérgio Caparelli, Roseana Murray e Manoel de Barros.
Do conjunto da poesia folclórica são muito usadas pela escola as cantigas, as parlendas e as quadrinhas, que 
estabelecem um primeiro contato necessário com as crianças porque, mesmo sem saber ler, estas são familiarizadas 
oralmente com formas poéticas da tradição cultural ocidental e brasileira. São construções simples, com rimas, versos iso-
métricos e boa dose de nonsense. Associados a brincadeiras, esses poemas acostumam os ouvidos infantis a sons e ritmos que, 
além de desenvolver a sensibilidade, auxiliam a formar o gosto por poesia. Podemos citar aqui: Cavalinho de vento, de 
Eliardo França, ou O livro do trava-Hngua, de Cecília Alves Pinto.
3.3 .2 QUANTO AO DISCURSO PREDOMINANTE
O poema é um tipo de texto que se preocupa, acima de tudo, com a linguagem. Isso significa que a escolha das palavras e 
a sua colocação no verso constituem o trabalho principal do poeta. Por isso, a distinção entre os poemas se faz sobretudo 
pelo modo como eles expressam o mundo, a realidade, as pessoas e seus sentimentos. Vera Aguiar distin gue quatro 
maneiras de configuração dos poemas: narrativo, descritivo, expositivo e misto15.
O poema narrativo conta uma história, isto é, tem personagens, ação, linearidade (começo, meio e fim). Distingue-se 
de uma narrativa convencional por ser em versos e privilegiar as imagens e o sentido figurado. Corno exemplo, temos 
poemas folclóricos sobre relacionamentos e situações de humor:
O cravo brigou com a rosa, 
Debaixo de uma sacada. 
O cravo saiu ferido,
 E a rosa, despetalada.
Ou então a variante de uma parlenda:
O macaco joi à feira 
Não teve o que comprar 
Comprou uma cadeira 
Para a comadre sentar 
A comadre se sentou
 A cadeira esborrachou
 Coitada da comadre
 Foi parar no corredor
O poema descritivo, como o próprio adjetivo explica, descreve pessoas, sentimentos, paisagens, como o texto de 
Elias José abaixo transcrito:
Três tias
Três tias
Tuca
Teresa
Toninha
três tias
todo tempo tricotando
tanto tempo
tal tarefa
tricô tanto
Tuca
Teresa
Toninha
três tias tagarelas
tudo tentam
tudo temem
tanto tango
tais tragédias
tais trejeitos
tudo treme
Tuca
Teresa
Toninha
três tias
tão tiranas
 todavia
 três tias 
tão ternas16
No poema expositivo, predominam as ideias e procura-se expor uma explicação sobre o mundo, os sentimentos, o 
pensamento, as pessoas. Contém, por isso, forte dose de dissertação, explanação, explicações. É o exemplo do fragmento 
de poema de Olavo Bilac, escrito numa época em que se concebia o texto literário como motivo para ensinar e expor 
ideias a respeito da realidade do mundo:
A casa
Vê como as aves têm, debaixo d'asa,
O filho implume, no calor do ninho!
Deves amar, criança, a tua casa!
Ama o calor do maternal carinho!
Dentro da casa em que nasceste és tudo... 
Como tudo é jeliz, no fim do dia,
 Quando voltas das aulas e do estudo! 
Volta, quando tu voltas, a alegria!''1
O quarto tipo, o misto, não tem um único discurso predominante: dois ou três tipos aparecem integrados com 
coerência. No exemplo a seguir, o poema de Francisca Júlia reúne a descrição e a narração.
O patinho
O pintainho do pato 
Galante, amarelo e novo, 
Mal saiu da casca do ovo 
Busca as águas do regato.
Todo ele, tão liado e louro, 
Enquanto nas aguas bóia, 
Tem a graça de uma jóia 
Feita em ouro.18
3.3.3 QUANTO AOS EFEITOS
Assim como vimos nas narrativas, os poemas buscam causar efeitos no leitor. Entre eles, segundo Vera Aguiar, 
encontram-se o pedagógico, o humor, o lirismo, o nonsense e o lúdico19. Por serem mais facilmente memorizados (as 
rimas auxiliam bastante nesse quesito), os textos em versos se prestam a objetívos pedagógicos como servir de suporte à 
aprendizagem dos nomes dos meses, da tabuada, das letras do alfabeto. Por sua finalidade pragmática, esses são textos 
pouco poéticos: usam recursos poemáticos, mas dificilmente apresentam condições, nem pretendem fazê-lo, de alcançar 
alta qualidade estética. Há exemplos dessa literatura em livros que procuram servir de apoio à alfabetização, como ABC da 
poesia, de Alcides Buss.
O nonsense e o lúdico são efeitos mais frequentemente encontráveis na poesia infantil. O primeiro refere-se a uma postura 
que não quer ser racional. Intencionalmente, procura-se tratar dos diversos assuntos sem coerência aparente nem coesão: 
é importante brincar com sons, sentidos e com a visualidade. José Paulo Paes usa desse recurso em £ isso ali e em Ri melhor 
quem ri por último. Por isso, nonsense e ludismo se aproximam. O ludismo tem, no entanto, um caráter de maior preocu-
pação com a sequência lógica e a coerência dos versos entre si. O melhor exemplo de efeito lúdico encontramos no livro 
Poemas para brincar, também de José Paulo Paes.
BIBLIOGRAFIA
COSTA, Marta Morais da, Metodologia do ensino da Literatura Infantil. Curitiba: Ibpex, 2007.

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