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CICLO CARDÍACO Ana Paula Hilgemberg - 83 Ciclo cardíaco é a expressão referente aos eventos relacionados ao fluxo e pressão sanguínea que ocorrem desde o início de um batimento cardíaco até o próximo batimento. Em resumo, dividimos o ciclo em dois períodos: o de relaxamento, chamado diástole, quando o coração se distende ao receber o sangue, e o de contração, denominado sístole, quando ele ejeta o sangue. O ciclo cardíaco é iniciado pela geração espontânea de potencial de ação no nodo sinoatrial (NSA), pelas células marcapasso. O impulso elétrico difunde-se pelo miocárdio atrial e, posteriormente, passa para os ventrículos através do feixe atrioventricular, que apresenta velocidade de condução mais baixa, gerando um atraso na transmissão, garantindo que os átrios (as aurículas) contraiam-se antes dos ventrículos, favorecendo a função do coração como bomba. · O coração é composto por quatro câmaras. Pelas câmaras esquerdas, circula sangue rico em oxigênio, proveniente dos pulmões e dirigido às demais partes do corpo. Pelas câmaras direitas, circula sangue pobre em oxigênio, vindo de todo o corpo e direcionado ao pulmão. · No adulto saudável, não existe comunicação entre as câmaras esquerdas e direitas. · As câmaras de recepção do sangue, mais complacentes, são chamadas de átrios, enquanto as câmaras de ejeção, mais musculosas, são chamadas de ventrículos. · Entre os átrios e os ventrículos, existem valvas. Estas valvas permitem a passagem do sangue apenas no sentido do átrio para o ventrículo. São chamadas de valvas atrioventriculares. No lado direito, temos a valva tricúspide, e no lado esquerdo a valva mitral. · Entre os ventrículos e as artérias, ficam as valvas semilunares. Estas valvas permitem apenas a saída do sangue dos ventrículos em direção das artérias. Entre o ventrículo esquerdo e a aorta, fica a valva aórtica. Entre o ventrículo direito e o tronco da artéria pulmonar, fica a valva pulmonar. Sístole - subfases 1. Fase de Contração Isovolumétrica: O ventrículo está cheio de sangue e começa a contrair-se. A pressão ventricular é superior à auricular e as valvas auriculoventriculares fecham-se. No entanto, a pressão ventricular é inferior à aórtica (no caso do ventrículo esquerdo) e à pulmonar (ventrículo direito), contraindo-se assim sem alteração de volume no seu interior. Esta fase é caracterizada por um aumento brusco de pressão. 2. Fase de expulsão rápida: A pressão no interior do ventrículo esquerdo é maior que a aórtica (classicamente valores acima dos 80 mmHg) abrindo-se a valva aórtica de modo a que o sangue saia do ventrículo a grande velocidade e pressão. 3. Fase de expulsão lenta: A aorta é uma artéria muito elástica e tem uma grande capacidade de distensão, esta propriedade permite que o fluxo sanguíneo pelo organismo seja contínuo. À medida que o sangue entra na aorta, está se distende para acomodar o volume, aumentando, assim, a pressão no seu interior. Deste modo, a diferença de pressões entre ventrículo e aorta é cada vez menor, saindo o sangue do ventrículo a cada vez com menor velocidade. 4. Protodiastole: É uma fase virtual que separa a sístole da diástole. Em dado momento, a pressão aórtica iguala a ventricular, não havendo, deste modo, qualquer ejeção de sangue, embora ainda haja pouco fluxo devido à inércia. Imediatamente após, o ventrículo começa a distender-se, dando-se origem à diástole. Diástole - subfases Fase de Relaxamento Isovolumétrico. Quando a pressão ventricular é inferior à pressão aórtica (no caso do ventrículo esquerdo) mas superior à pressão atrial, estando assim ambas valvas fechadas, não havendo variação no volume de sangue dentro do ventrículo. 1. Fase de enchimento rápido: Quando a pressão ventricular por fim se reduz abaixo da pressão atrial, que nesse momento é máxima (ápice da onda v da curva de pressão atrial), as valvas AV se abrem, deixando passar um grande fluxo rapidamente em direção ao ventrículo. 70% do enchimento ventricular ocorre nessa fase. 2. Fase de enchimento lento: Também chamado de diástase. Com o enchimento do ventrículo e o fim da fase ativa do relaxamento do músculo cardíaco, ocorre uma desaceleração importante do fluxo. As valvas AV tendem a se fechar passivamente. No momento da desaceleração do fluxo rápido para o fluxo lento é que ocorre o 3º ruído cardíaco. O fluxo do átrio para o ventrículo é bastante reduzido, chegando a quase parar. 3. Sístole atrial: Ocorre a contração atrial. As valvas AV se abrem, momento em que ocorre a onda A da válvula mitral ao ECO unidimensional e o 4º ruído cardíaco. A sístole atrial pode representar até 20% do volume diastólico final do ventrículo, sendo de grande importância para a manutenção do débito cardíaco nos pacientes que possuam algum tipo de restrição funcional do VE. Valvas Cardíacas Regulação do bombeamento cardíaco 1. Mecanismo de Frank-Starling (intrínseca) Capacidade intrínseca o coração de se adaptar a variação do retorno venoso Quanto maior forem as forças de estiramento do músculo durante a diástole, maiores serão a força de contração e quantidade de sengue bombeado para o corpo · Retorno venoso regulado pela limitação natural do coração Lei de Frank-Starling Quanto maior a distensão da parede ventricular maior sua força contrátil, até um limite fisiológico 2. Pré Carga e Pós Carga · Pré Carga Grau de tensão contra o qual o músculo começa a se contrair (máximo de estresse da parede do ventrículo, quando está cheio de sangue) Pressão Diastólica final do Ventrículo · Pós Carga Carga contra a qual o músculo exerce seu trabalho (dificuldade enfrentada pelo ventrículo durante o processo de ejeção) Quanto maior a pressão arterial, maior é a pós-carga, ou seja, mais difícil é a ejeção. O aumento da pós-carga, tanto no coração direito, como no coração esquerdo, provoca alterações ao nível das válvulas semilunares- as válvulas pulmonar e aórtica, respetivamente. Pressão arterial sistólica 3. Regulação pelo sistema nervoso autonômico (simpático e parassimpático) Em condições naturais os parâmetros da função cardíaca (frequência, contratilidade, etc) e as variações fisiológicas são controladas pela interação dos centros cardioinibitorio e cardioacelerador do bulbo, no tronco encefálico, de onde partem fibras nervosas componentes do SNA. Tais centros encontram-se sob influencia de outras partes do sistema nervoso central, como o hipotálamo e o sistema límbico, relacionado as emoções TECIDOS CARDÍACOS As células musculares cardíacas ocorrem especificamente no miocárdio, a camada intermediária do coração entre o endo e o epicárdio, sendo a mais grossa das três. As contrações cardíacas resultam em um grande consumo energético pelas células musculares e, por isso, o fluxo de sangue para este tecido deve ser constante. A nutrição e o abastecimento de O2 do miocárdio são feitos através de uma porção específica da circulação chamada coronariana. As artérias coronárias saem da raiz aórtica, levando sangue arterial do ventrículo esquerdo para o coração. As veias coronárias drenam o sangue venoso para o átrio direito, onde este se junta ao sangue da circulação sistêmica. A contração do miocárdio é iniciada por um potencial de ação, ou seja, uma corrente elétrica que causa a liberação de cálcio que estava estocado no retículo endoplasmático para o citoplasma das células. Quando a concentração de cálcio aumenta, os miofilamentos deslizam um sobre os outros, contraindo as fibras musculares. O potencial de ação que gera os batimentos cardíacos é produzido pelas células marca-passo, presentes no nodo sinoatrial do coração.