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de etapas biológicas. Por este motivo, antes de se escolher o material para ser utilizado no desenvolvimento de alguma habilidade infantil, deve-se atentar para a etapa de desenvolvimento cognitivo na qual a criança se encontra, para que não se ofereça a ela desafios além ou aquém de suas capacidades, o que seria um desafio intransponível ou pouco estimulante para ela. Outro fator importante está relacionado com a questão da livre escolha das atividades pela criança, uma vez que o sentido de liberdade em Montessori ganha dimensões mais profundas em relação à aprendizagem. Isto significa dizer que, para Montessori, é a liberdade que conduz a criança na direção de sua autodisciplinarização, que exige dela (a criança) concentração, atenção, ordem e silêncio. O método montessoriano em ação Quando falamos do método montessoriano em ação, não estamos falando somente do uso dos materiais criados por Montessori, mas sim desse uso a partir de conceitos filosóficos mais amplos, como liberdade, autonomia e espiritualidade – todos conceitos relacionados ao desenvolvimento humanístico e holístico da criança, ou seja, ao desenvolvimento da criança enquanto um ser integral. O ambiente social, nesse sentido, deve favorecer atividades individuais e atividades grupais, desenvolvendo no grupo noções de responsabilidade consigo e com o outro. Para tanto, Montessori trabalha a partir do conceito de autonomia, que se baseia na capacidade de convívio grupal de cada um no exercício de convivência que tem como premissa o conhecimento dos deveres e direitos de cada um do grupo. O sistema social assim organizado permite o desenvolvimento das escolhas pessoais e da compreensão das conseqüências individuais e coletivas de cada ação realizada. Deste modo, cada criança exerce influência sobre a outra no sentido de estimular o livre arbítrio. Teorias da Aprendizagem 104 Já o conceito de liberdade postulado por Montessori (apud LIMA, 2005, p. 67) consiste na “liberdade de expressão [que] permite a criança revelar-nos suas qualidades e necessidades, que permaneceriam ocultas ou recalcadas num ambiente infenso à atividade espontânea”. Justamente por isso, Montessori desenvolve um método pedagógico baseado em atividades, para promover o desenvolvimento de uma liberdade espontânea de ação e de pensamento. É neste mesmo sentido que Montessori (apud LIMA, 2005, p. 70) desenvolve seus pensamentos sobre disciplina. Nos diz a autora: Disciplinado, segundo nossa concepção, é o indivíduo que é senhor de si mesmo, e em decorrência pode dispor de si ou seguir uma regra de vida [...] Disciplina que não se circunscreva tão-somente ao meio escolar, mas abarque igualmente o âmbito social. [...] É dever do educador impedir que a criança confunda bondade com imobilidade, maldade com atividade. [...] Nosso objetivo é disciplinar a atividade e não imobilizar a criança ou torná-la passiva. Disciplinando a atividade, as crianças têm necessariamente que se responsabilizar tanto pelos objetos de uso pessoal quanto pelos objetos de uso coletivo. Da mesma forma, o respeito à diversidade também é valorizado pelo método montessoriano, que vê na cooperação e na colaboração aberturas pedagógicas fundamentais de valorização das capacidades individuais de cada criança. Desse modo, Maria Montessori acabou por desenvolver um conjunto de práticas que tiveram como propósito estimular o desenvolvimento da criança enquanto um ser total, auxiliando na construção de uma postura diante da vida que pressupõe capacidade intelectual, tranqüilidade, autoconfiança, liberdade, autonomia, cooperação e respeito. Baseados nos princípios montessorianos de Educação e desenvolvimento da aprendizagem humana, desenvolvam materiais destinados ao ensino de crianças entre 3 e 7 anos de idade. Se desejarem, poderão também ampliar a mesma atividade para outras faixas etárias, mas não esqueçam: os materiais devem ser adequados a etapas de desenvolvimento cognitivo; portanto, pensem o que desejam desenvolver na criança e mãos à obra! Assistir ao filme: Kids, direção de Larry Clark (EUA, 1995) e Esperança e glória: com direção de John Boorman (Inglaterra, 1987). Cèlestin Freinet e o método natural [...] o utensílio, instrumento específico do progresso e da civilização, não tem outra função senão acelerar a experiência através da tentativa experimental, para um mais rápido êxito na adaptação dos atos essenciais da vida. Minicucci História pessoal C èlestin Freinet nasceu em 1896, na vila de Gars-França, Alpes Franceses. Sua infância foi simples, no meio rural, onde teve a oportunidade de conhecer e experimentar a produção artesanal de insumos, bem como a oportunidade de conviver com camponeses e seus valores. Tais condições de vida vieram, mais tarde, a influenciar seu pensamento pedagógico. Seus estudos pedagógicos tiveram início quando cursou o magistério, mas, com a interferência da Primeira Grande Guerra (1914-1918), Freinet é levado a abandonar o magistério e alistar-se no exército. Já de volta, depois de um acidente de guerra, Freinet retoma suas ações pedagógicas numa aldeia no sul da França, onde participa de estudos e pesquisas em busca de práticas e processos didático-pedagógicos diferenciados. Influenciado pelos ideais da Escola Nova, Freinet passa a experimentar na sua própria classe, junto com seus alunos, novas ações pedagógicas de fundamentação prática que deram origem às atividades pedagógicas atualmente conhecidas. Ao observar a inabilidade da educação tradicional para lidar com as questões educacionais, Freinet engaja-se como ativista político, lutando pela melhoria da qualidade do ensino de seu país. Sua luta não foi em vão, uma vez que, mais tarde, suas idéias vieram a auxiliar no processo de transformação do modelo educacional francês. O início de tal processo de transformação se deu a partir das trocas de correspondências implementadas por Freinet entre alunos de escolas diferentes. Por causa da intensa troca de correspondências entre alunos e por ter motivado a criação de uma cooperativa com os camponeses de sua região, Freinet passa a ser visto como um “agitador”, sendo exonerado do cargo de professor. Após ser exonerado, Freinet funda a Escola de Vence, construída a partir de doações. Inaugurada em 1935, não consegue o reconhecimento do Ministério Teorias da Aprendizagem 106 da Educação. Apesar disso, Freinet continua trabalhando na cooperativa dos camponeses. Sua proposta metodológica, baseada no método natural de ensino, implementa também os jornais murais, a imprensa escolar, as fichas autocorretivas, a correspondência escolar, os ateliês de arte, aulas-passeio, o livro da vida e exerce, ainda hoje, fascínio entre os professores de escolas públicas e privadas. Na década de 1950, já doente, Freinet escreve boa parte de sua obra e engaja- se em campanhas como a que se dirigia à diminuição da quantidade de alunos em sala de aula, pedindo aos governantes o número máximo de 25 alunos por turma. Em 1966, Freinet morre na cidade de Vence, na França. O vínculo de Freinet com a Educação Freinet percebe o homem como um sujeito histórico, marcado pelos acontecimentos de seu tempo. Do mesmo modo, considera a Educação um processo dialético, a partir do qual o homem se constrói na relação com seus pares, ou seus iguais. Além disso, Freinet compreende a Educação como prática “colada” à vida, ou seja, que a Educação necessita atuar de maneira a ligar os estudos formais ao trabalho, pois entende que o trabalho é fruto do pensar e do agir humano. Assim, a Educação torna-se ao mesmo tempo essencial para a produção de conhecimentos específicos e para a produção de conhecimentos para a vida. O que diferencia a proposta pedagógica de outras iniciativas similares é seu cunho político, ligado às idéias marxistas