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ECONOMIA BRASILEIRA Professora Me. Ariane Maria Machado de Oliveira Professor Me. Jair Júnior Sanches Sabes Professor Me. Silvio Silvestre Barczsz GRADUAÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Direção Operacional de Ensino Kátia Coelho Direção de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Direção de Operações Chrystiano Mincof Direção de Mercado Hilton Pereira Direção de Polos Próprios James Prestes Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida Direção de Relacionamento Alessandra Baron Head de Produção de Conteúdos Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli Gerência de Produção de Conteúdos Gabriel Araújo Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Supervisão de Projetos Especiais Daniel F. Hey Coordenador de Conteúdo Silvio Silvestre Barczsz Design Educacional Fernando Henrique Mendes Rossana Costa Giani Projeto Gráico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Editoração Daniel Fuverki Hey Revisão Textual Jaquelina Kutsunugi, Keren Pardini, Maria Fernanda Canova Vasconcelos, Nayara Valenciano, Rhaysa Ricci Correa e Susana Inácio Ilustração Humberto Garcia da Silva C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; OLIVEIRA, Ariane Maria Machado de; BARCZSZ, Silvio Silvestre; SABES, Jair Júnior Sanches. Economia brasileira. Ariane Maria Machado de Oliveira, Silvio Silvestre Barczsz, Jair Júnior Sanches Sabes. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018. Reimpresso em 2019. 178 p. “Graduação - EaD”. 1. Agronegócio. 2. Economia brasileira. 3. EaD. I. Título. ISBN 978-85-8084-539-6 CDD - 22 ed. 338.1 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por: Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desaio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e so- lução de problemas com eiciência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilida- de: as escolhas que izermos por nós e pelos nos- sos fará grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar – assume o compromisso de democratizar o conhe- cimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando proissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi- tário Cesumar busca a integração do ensino-pes- quisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consci- ência social e política e, por im, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al- meja ser reconhecida como uma instituição uni- versitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con- solidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrati- va; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relaciona- mento permanente com os egressos, incentivan- do a educação continuada. Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quan- do investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou proissional, nos transformamos e, consequente- mente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capa- zes de alcançar um nível de desenvolvimento compa- tível com os desaios que surgem no mundo contem- porâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialó- gica e encontram-se integrados à proposta pedagó- gica, contribuindo no processo educacional, comple- mentando sua formação proissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inse- ri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproxi- mação entre você e o conteúdo”, desta forma possi- bilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pes- soal e proissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cres- cimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográica. Utilize os diversos recursos peda- gógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possi- bilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e en- quetes, assista às aulas ao vivo e participe das discus- sões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui- lidade e segurança sua trajetória acadêmica. Pró-Reitor de Ensino de EAD Diretoria de Graduação e Pós-graduação Professora Me. Ariane Maria Machado de Oliveira Mestre em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de Maringá - UEM, graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Londrina - UEL. Leciona nas áreas de Economia e Finanças. Professor Me. Silvio Silvestre Barczsz Mestre em Agronegócios pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, pós-graduação Lato Sensu em Economia e Gestão do Agronegócio pela Universidade Estadual de Maringá - UEM e graduação em Ciências Econômicas com concentração em Economia do Agronegócio pela Universidade Estadual de Maringá - UEM. Coordenador do curso Superior de Tecnologia em Agronegócio e do curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental do Núcleo de Educação a Distância do Unicesumar. A U T O R E S Professor Me. Jair Júnior Sanches Sabes Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de São Carlos - UFSCar, pós-graduação (Especialista) em Economia e Gestão do Agronegócio pela Universidade Estadual de Maringá - UEM; graduação em Administração pela Universidade Estadual de Maringá - UEM. SEJA BEM-VINDO(A)! Distinto(a) acadêmico(a)! É com muito orgulho que apresento a você o livro que fará parte da disciplina de Eco- nomia Brasileira. Sou a Professora Me. Ariane Maria Machado de Oliveira e, juntamente com os Professores Me. Silvio Silvestre Barczsz e Me. Jair Júnior Sanches Sabes, elaborei com muito afeto e responsabilidade este material para que você, caro(a) aluno(a), co- nheça mais sobre a relação existente entre o Agronegócio e a Economia Brasileira. Para tal, devemos reletir sobre um debate antigo, mas de grande importância: quem gera o desenvolvimento do país? É o setor agrícola ou é o setor industrial? Estamos acostumados a ouvir alguns dizerem que o Brasil é um país eminentemente agrícola. Outros dizem que é exatamente devido aos atrasos de nossa agricultura que não somos um país desenvolvido. Alguns radicalizam ainda mais ao dizer que o retró- grado setor agrícola brasileiro teria sido o impedimento fundamental ao desenvolvi- mento do país. Quem está com a razão? Apesar de suas particularidades, a agricultura é dependente do que acontece na eco- nomia mundial como um todo. Para entender as mudançaspelas quais passa, deve-se considerar, além da ação do Estado e das políticas públicas, a forma como o desenvol- vimento tecnológico e o capital se recolocam em nível mundial. A própria análise do desenvolvimento da agricultura familiar deve ser entendida nesse contexto. Veremos, portanto, ao longo deste livro, caro(a) acadêmico(a), aspectos relacionados à evolução histórica da agricultura, passando pelos conceitos de agronegócio, cadeias e sistemas agroindustriais, especiicidades do agronegócio no Brasil, a competitividade em sistemas agroindustriais, as transformações na economia brasileira e no meio rural brasileiro durante a segunda metade do século XX, para então abordarmos as megaten- dências mundiais e seus impactos no panorama global do setor agrícola. A dimensão que assumiu o agronegócio brasileiro, a sua importância estratégica para reprodução do capitalismo nacional e garantia da estabilidade social no campo e nos centros urbanos, e a percepção de suas particularidades intrínsecas, são aspectos que determinam um tratamento diferenciado para este setor, prática recorrente na maioria dos países. Portanto, caro(a) acadêmico (a), a Unidade I foi desenvolvida para que você, futuro ges- tor(a) do agronegócio, compreenda a evolução, as particularidades inerentes aos seus produtos, os agentes econômicos envolvidos e as formas de inter-relação entre tais agentes do agronegócio. Na agricultura prevalece o tipo de mercado concorrencial, em que há um número muito grande de produtores e a entrada ou saída de novos concorrentes não altera basica- mente a formação de preços. Por este motivo, os negócios agrícolas têm que perseguir indeinidamente melhores índices de produtividade e redução de custos, ou seja, maior competitividade. APRESENTAÇÃO ECONOMIA BRASILEIRA A Unidade II apresenta uma revisão de literatura sobre gestão e competitividade em nível de sistemas agroindustriais. Aspectos importantes sobre gerenciamento e vanta- gem competitiva são apresentados como ferramentas importantes para o êxito de um sistema de produção agroindustrial. Prezado(a) acadêmico(a), a Unidade II também lhe proporcionará conhecer as principais aplicações da noção de cadeia produtiva agroindustrial (CPA), apresentando, para tanto, como está constituída a cadeia produtiva agroindustrial do amendoim e seus derivados no Brasil. Para inalizar a Unidade, veremos as análises de competitividade conduzidas em nível de sistemas agroindustriais. As transformações ocorridas não apenas no setor agrícola, mas também na economia global devem ser levadas em conta para compreendermos o panorama atual do agro- negócio. A Unidade III vem então apresentar a você, prezado(a) acadêmico(a), uma re- lexão sobre a economia brasileira agroexportadora e as transformações no meio rural brasileiro ao longo do século XX. Algumas características da economia cafeeira serão apresentadas, visto que esta contri- buiu grandemente para o processo de evolução do agronegócio brasileiro. Entender as transformações ocorridas no cenário rural brasileiro, abordando os relexos das trans- formações demográicas entre o campo e a cidade, nos auxiliará na compreensão do contexto atual do agronegócio. Prezado(a) aluno(a), veremos na Unidade IV como ocorre a ruptura do modelo econômi- co brasileiro e como esse passa a se desenvolver. O modelo agroexportador é paulatina- mente afastado e ocorre a industrialização a partir da crise dos anos 30. Explanaremos então como ocorreu a chamada industrialização substituidora de importações. Ao longo desta Unidade, serão abordadas particularidades das políticas econômicas voltadas à industrialização, ao desenvolvimento e à estabilização econômica adotadas na segunda metade do século XX. Analisaremos também o período crítico de altos índi- ces inlacionários, as tentativas de estabilização da moeda e seus relexos na atividade econômica, destacando o setor agrícola. Para inalizarmos o objetivo proposto por este material didático, a Unidade V apresenta algumas megatendências mundiais que impactaram no cenário atual do agronegócio no mundo. Dentre elas, destacam-se a globalização e a importância da inovação e do conhecimento na nova realidade econômica. Portanto, querido(a) aluno(a), indamos o presente livro expondo o posicionamento do Brasil frente ao mercado global por meio de indicadores sobre a evolução da Balança Comercial brasileira, e fazendo uma análise sobre a situação atual da economia brasilei- ra e algumas tendências para o agronegócio. Aproveite seus estudos, se dedique, leia! O material auxiliará você, querido(a) aluno(a), a ultrapassar mais uma etapa em sua vida. Utilize as dicas de leitura, saiba mais, indicação de livros e links, para enriquecer mais seus conhecimentos! Bons Estudos Prof.ª Ariane Maria Machado de Oliveira APRESENTAÇÃO SUMÁRIO 9 UNIDADE I NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL 15 Introdução 16 Evolução Histórica da Agricultura 19 Da Agricultura ao Agronegócio: Deinição, Agentes e Inter-relações 29 Especiidades do Agronegócio 31 O Agronegócio no Brasil 36 Tendências para o Agronegócio 48 Considerações Finais UNIDADE II GESTÃO E COMPETITIVIDADE EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAIS: CONCEITOS E DEFINIÇÕES 55 Introdução 55 Retomando Conceitos de Agronegócio e Commodity System Approach (Csa) 57 Cadeias Produtivas Agroindustriais 62 Gerenciando com Eiciência e Eicácia em Nível de Sistema Agroindustrial 67 Noção de Competitividade 75 Considerações Finais SUMÁRIO UNIDADE III A ECONOMIA BRASILEIRA E O SETOR AGRÍCOLA 81 Introdução 90 Contexto Histórico das Transformações no Meio Rural 93 Os Relexos na Agricultura 98 Considerações Finais UNIDADE IV A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA: POLÍTICAS ECONÔMICAS E SEUS REFLEXOS NO SETOR AGRÍCOLA 103 Introdução 104 O Processo de Substituição de Importações 105 A Crise do PSI e as Reformas Institucionais no PAEG – 1962/67 109 Plano Cruzado 115 Plano Collor 120 Plano Real 127 Volatilidade do Crescimento 135 Considerações Finais SUMÁRIO 11 UNIDADE V A AGRICULTURA BRASILEIRA E AS MEGATENDÊNCIAS MUNDIAIS 141 Introdução 142 A Agricultura Brasileira e as Megatendências Mundiais 150 O Agronegócio no Mundo 167 Perspectivas para o Agronegócio 170 Considerações Finais 173 CONCLUSÃO 175 REFERÊNCIAS U N ID A D E I Professor Me. Silvio Silvestre Barczsz NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL Objetivos de Aprendizagem ■ Conhecer o processo de evolução do agronegócio, bem como suas especiicidades. ■ Entender os diferentes tipos de agentes econômicos envolvidos no agronegócio e suas inter-relações. ■ Conhecer o desenvolvimento e a evolução do agronegócio no Brasil. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ A deinição de agronegócio e sua evolução ■ Os agentes envolvidos no agronegócio ■ As inter-relações entre os diferentes agentes, considerando as cadeias de produção, os Sistemas Agroindustriais e as redes (netchains) ■ As particularidades do agronegócio ■ A importância do agronegócio para a economia brasileira ■ Os principais produtos do agronegócio brasileiro ■ A evolução do agronegócio no Brasil, em termos de produtos, produção e consumo ■ As principais tendências na produção (orgânicos, comércio justo e solidário, ambientalmente corretos etc.) INTRODUÇÃO Nos últimos anos, muito se ouve falar de agronegócio. Jornais, revistas e notici- ários do mundo inteiro comentam o desempenho e a evolução do agronegócio no mundo, nas diferentes regiões econômicas – tais como a União Europeia e o Mercosul, e nos diversos países. Fala-se muito em barreiras protecionistas para produtos do agronegócio, balança comercial, relações de compra e venda entre países, inserção de novos produtos na pauta de discussão das negociações internacionais entre outros temas. Pode ser até mesmo que você tenha seinte- ressado pelo curso de agronegócio por ter lido ou ouvido falar de algum dos temas acima listados. No entanto, nem todos sabem exatamente o que quer dizer agronegócio. Fazer um curso em agronegócio implica necessariamente em compreendê-lo. Mais do que pensar que agronegócio é a tradução do termo em inglês agribusiness, é importante entender o que realmente constitui o chamado agronegócio. Para tanto, é preciso que se compreenda sua evolução, as particularidades inerentes aos seus produtos, os agentes econômicos envolvidos e as formas de inter-rela- ção entres esses agentes. É esse o intuito desta primeira unidade: levá-lo a compreender, de uma maneira geral, o que é agronegócio. A unidade está dividida em quatro seções. A primeira é a introdução, que acabamos de ver. Em seguida, trataremos de iden- tiicar a evolução histórica da agricultura, para entendermos como chegamos ao agronegócio. Depois, na terceira seção, vamos deinir agronegócio e as inter-re- lações entre os diferentes agentes envolvidos, considerando as noções de cadeias de produção, Sistemas Agroindustriais e redes (netchains). Nessa seção também será realizada breve descrição dos diferentes agentes envolvidos no agronegócio. Por im, na quarta seção, serão expostas algumas particularidades, que fazem do agronegócio um setor “especial” e o levam a ser estudado separadamente. Bom estudo! Professor Silvio Silvestre Barczsz Introdução R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . 15 NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . IU N I D A D E16 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA AGRICULTURA A AGRICULTURA NO MUNDO A agricultura no mundo, até meados do século passado, era basicamente depen- dente da evolução que havia alcançado com a Primeira Revolução Agrícola. Esta revolução, que teve origem na Europa dos séculos XVIII e XIX, constituiu-se basicamente: (a) na intensiicação da adoção de sistemas de rotação de culturas com plantas forrageiras (capim e leguminosas), (b) no uso de adubação orgânica (estercos animais), (c) na introdução de novas máquinas e instrumentos mecâ- nicos de tração animal, caracterizando a integração das atividades de pecuária e agricultura (Mazoyer, 1988). A Segunda Revolução Agrícola, por sua vez, iniciou-se com a descoberta dos adubos químicos em ins do século XIX, mas foi intensamente divulgada a partir de meados do século passado. O período pós-guerra, principalmente nos paí- ses capitalistas desenvolvidos, foi marcado pela melhoria das condições sociais e econômicas, e icou conhecido como Anos Dourados. Dentre as mudanças ocorridas nesse período, o aumento da produção em massa de alimentos pode ser destacado como fator importante na determinação do crescimento mundial da população. O crescimento da produção de alimentos, no geral, foi maior que o aumento da população. De fato, nas duas décadas que correspondem ao perí- odo de 1970 a 1990, o total de alimento disponível per capita no mundo, ou seja, Evolução Histórica da Agricultura R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . 17 já levando em conta o considerável aumento populacional da época, aumentou em 11% (Rosset; Collins; Lappé, 2000). Esse aumento da produção agrícola nos países desenvolvidos foi estimulado pelos altos subsídios à produção e à expor- tação dados aos produtores. A evolução da tecnologia no pós-guerra, impulsionada primeiramente pela necessidade bélica, possibilitou uma grande revolução tecnológica. Tal revolução foi expressiva no desenvolvimento do período em questão, permitindo avanços não só na indústria como também na agricultura. Nesse último setor, especii- camente, ela possibilitou o aumento da produtividade por meio de: ■ Uso intensivo de capital com o desenvolvimento da motorização e da mecanização, em muitos casos levando à substituição de mão de obra nas lavouras. ■ Adubação química com macronutrientes, levando a acreditar em um melhor aproveitamento dos solos. ■ Aumento da resistência das culturas às pragas e aos fatores climáticos, com a intensiicação do uso de defensivos, pesticidas e agrotóxicos e com melhoramento genético das sementes (sementes híbridas). Esse novo sistema agrário tende a se impor a outras partes do mundo, sendo assim introduzido nos países em desenvolvimento. O pacote tecnológico conhecido como “Revolução Verde” tratou da introdução sistemática nesses países, dessas novas variedades de culturas de alta produtividade, principalmente a partir da década de 1960. É nesse ponto que começamos a falar do Brasil. AGRICULTURA NO BRASIL No passado, o Brasil assumiu na economia mundial o papel de país agrário exportador, predominando aqui o extrativismo e a monocultura. Exemplos disso são os ciclos do pau-brasil, da cana-de-açúcar e do café (PAULILLO, 2007). O Brasil dependia da economia dos países desenvolvidos, não só porque estes compravam seus produtos agrícolas, mas também porque eram eles os for- necedores de produtos industrializados para o consumo interno. As crises NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . IU N I D A D E18 mundiais afetavam diretamente a economia brasileira. Assim, o modelo primário-exportador utilizado no Brasil até início do século XX começou a ruir, devido principalmente à crise de 1929. A partir de meados da década de 50, o desempenho da agricultura nova- mente entrou em queda. A diminuição do ritmo de crescimento da produção doméstica de alimentos e as consequentes crises de abastecimento; a elevação dos preços agrícolas; a insuiciente geração de divisas para suprir o processo de acumulação de capital; as tensões sociais, tudo isso contribuiu para colocar em xeque a funcionalidade da agricultura e seu desempenho (BUAINAIN, 1999). Diante disso, o Governo reage. O Plano de Metas e o processo de substituição das importações, desencadeados no Governo JK, começam a reletir na econo- mia brasileira e na agricultura nacional. No Brasil, as décadas de 60 e 70 são marcadas pela intensiicação do uso de maquinário e produtos químicos na agricultura. Tais objetivos deveriam ser alcançados via modernização da base técnica, integração intersetorial e fortale- cimento da agroindústria, e expansão da fronteira agrícola. Foi a partir daí que a “Revolução Verde” ocorreu no país. Diante do exposto, percebe-se que a agricultura no Brasil e no mundo pas- sou por grandes transformações nos últimos cem anos. No caso do Brasil, tanto o processo de substituição das importações quanto a modernização da base téc- nica representaram os primeiros passos para a transformação dos complexos rurais e complexos agroindustriais. Entre as décadas de 50 e 70, observou-se a uniicação dos capitais agrícola, comercial, industrial e inanceiro, e o início da agroindustrialização no Brasil (PAULILLO, 2007). A agricultura se insere no contexto industrial, seja por estar ligada à indústria de insumos, seja por forne- cer matéria-prima para a crescente indústria de transformação industrial. Mas o que “agroindustrialização” ou “complexos agroindustriais” tem a ver com agronegócio, tema deste curso? É que vamos entender na próxima seção. Da Agricultura ao Agronegócio: Deinição, Agentes e Inter-relações R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . 19 DA AGRICULTURAAO AGRONEGÓCIO: DEFINIÇÃO, AGENTES E INTER-RELAÇÕES O QUE É AGRONEGÓCIO? As ideias iniciais do que hoje entendemos por agronegócio, embora possam parecer recentes, surgiram há algumas décadas. Em 1957, dois estudiosos nor- te-americanos, John Davis e Ray Goldberg, deiniram agribusiness como: [...] a soma de todas as operações associadas à produção e distribuição de insumos agrícolas, operações realizadas nas unidades agrícolas bem como as ações de estocagem, processamento e distribuição dos produ- tos, e também dos produtos derivados (DAVIS; GOLDBERG, 1957, p. 85 apud ZYLBERSZTAJN, 1995, p. 107). Ou seja, o agronegócio pode ser entendido como o conjunto de atividades téc- nicas e produtivas necessárias para que produtos provenientes da agropecuária cheguem até o consumidor inal. Isso envolve agentes dos diferentes setores – agricultura, indústria e serviços. Considerando o contexto histórico e a deinição de agronegócio, pode-se airmar que a produção rural deixou de ser vista isoladamente, pois: (1) depen- dia de insumos fornecidos por outros (não utilizava mais os insumos produzidos internamente); (2) era mais especializada e tecniicada; e (3) tinha atividades de distribuição, armazenagem e transporte muito complexas para serem realiza- das internamente (ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000). Por isso, passou-se a falar em agroindústria e complexos agroindustriais (junção dos termos “agricultura” e “indústria”). Mas como será que as relações entre os agentes envolvidos no agronegócio ocorrem? É o que vamos ver a seguir. NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . IU N I D A D E20 INTER-RELAÇÕES ENTRE OS AGENTES Você já parou para pensar que em qualquer sistema social, biológico ou econô- mico, ninguém vive sozinho? Num sistema social, precisamos nos relacionar uns com os outros, a não ser que decidamos nos tornar eremitas. O próprio sur- gimento da linguagem se deu pela necessidade de relação e comunicação com outros indivíduos. Ao estudarmos biologia, aprendemos que o leão precisa da zebra para se alimentar; a zebra precisa da vegetação; a vegetação precisa da luz solar e de nutrientes do solo. E, no im das contas, as bactérias e/ou os urubus se alimentam do leão quando este morre. Nesse caso, o que se mostrou foi um breve exemplo de cadeia alimentar: nutrientes + luz solar => vegetação => zebra => leão => bactérias e urubus. Percebem que se trata de uma sequência? Pode-se dizer que cada um desses seres representa um elo da cadeia. Se tirarmos um desses elos, a cadeia não mais funciona. Por exemplo: se a vegetação desaparece, a zebra não tem do que se ali- mentar e, assim, não pode servir de alimento para o leão. Na economia, por sua vez, para que haja uma transação econômica, é preciso que exista pelo menos dois agentes: um interessado em comprar e outro interes- sado em vender algum bem. Essa relação cliente–fornecedor é importante no agronegócio, pois inluencia o desempenho econômico de vários agentes. É por isso que tanto se fala em coordenação entre os agentes. CADEIAS DE PRODUÇÃO Considerando que o agronegócio é representado por uma sequência de operações entre diferentes agentes econômicos – da produção de insumos até o consumi- dor inal, alguns estudiosos pesquisaram a relação entre eles. Nesse texto, são abordadas duas correntes: a dos norte-americanos e a da escola francesa de eco- nomia industrial. No primeiro grupo de estudos, Davis e Goldberg mostraram a existência de interdependência entre os diferentes setores da economia – agricultura, indús- tria e serviços, e passaram a tratá-los de forma inter-relacionada. Para eles, as Da Agricultura ao Agronegócio: Deinição, Agentes e Inter-relações R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . 21 atividades agrícolas faziam parte de uma rede de agentes econômicos, que iam desde a produção de insumos agropecuários até a distribuição dos produtos inais. Airmaram, então, que os estudos deveriam seguir um recorte vertical, como mostrado na Figura 1, a partir de uma matéria-prima da agropecuária. Nesse momento, surge o conceito de Commodity System Approach (CSA). Por essa ideia, pode-se falar em CSA da laranja, do leite, do café etc. (BATALHA; SILVA, 2007). Figura 1: O recorte vertical para análise de CSA Fonte: Batalha e Silva (2007) Estudiosos franceses de economia industrial também abordaram a inter-relação entre os setores da economia, ao deinirem o conceito de cadeia de produção, ou cadeia produtiva, agroindustrial (ilière, em francês) (MORVAN, 1991). Para eles, uma cadeia de produção é uma sequência de operações produtivas, relações comerciais e inanceiras, representada por um luxo de trocas entre fornecedo- res e clientes, até se chegar a um produto inal. Uma cadeia de produção pode ser dividida em três grandes segmentos: (1) comercialização – no qual inclui-se logística e distribuição; (2) industrialização, no qual se inserem as empresas de transformação; e (3) produção de matérias- -primas, no qual está a produção rural. O foco de análise, na análise de ilière, é o produto inal, e não a matéria-prima (BATALHA; SILVA, 2007). Assim, ao invés de se falar em CSA do boi, fala-se em cadeia da carne, cadeia do couro etc. Apesar das muitas discussões teóricas comparando os estudos dos norte-a- mericanos com os dos franceses, para ins de compreensão do agronegócio, é NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . IU N I D A D E22 aceitável que aqui se abandonem as diferenças entre as duas visões. Na verdade, há muitas similaridades nas deinições de CSA e de ilière, como pôde ser visto anteriormente. Em especial, duas semelhanças são relevantes para estudo do agronegócio. A primeira é que ambas tratam da análise econômica a partir da interdependência e inter-relação entre agentes dos diferentes setores da economia, integrando agricultura, indústria e serviços. A outra é que os dois enfoques priorizam uma visão sistêmica. Ou seja, levam em conta que os agen- tes estão inseridos em um ambiente, e que o mesmo está em constante mudança, inluenciando os agentes econômicos (BATALHA; SILVA, 2007). Assim, faz sen- tido airmar que nós, como agentes econômicos, fazemos parte de um sistema. Por convenção, daqui por diante será utilizado o termo “cadeia de produção”. Um complexo agroindustrial, por sua vez, pode ser formado por várias cadeias produtivas com a existência de agentes em comum. Assim, pode-se falar no com- plexo sucroalcooleiro, formado pelas cadeias do açúcar e do álcool. Nesse caso, os elos de produção rural e industrialização podem ser formados por agentes em comum. No caso do complexo de carnes, que inclui as cadeias de produção de carne bovina, suína e de frango, os agentes em comum podem estar na etapa de industrialização, pois frigoríicos podem processar mais de um tipo de animal. Para análise de uma cadeia de produção, deve-se considerar os diferentes “elos” que a compõem. Esses elos nada mais são do que os grupos de agentes econômicos envolvidos em cada uma das etapas. Nesse caso, faz-se uma analo- gia à ideia de corrente composta por elos interligados. As cadeias de produção agroindustrial podem ser classiicadas como alimen- tares ou não alimentares. No primeiro caso, incluem-se aqueles agentes envolvidos na produção de alimentos, tais como leite, café, carnes e sucos. No segundo, des- tacam-se as produções de calçados (cadeia de couros e peles), móveis (cadeia da madeira) e vestuário (cadeia do algodão). De uma maneirageral, pode-se airmar que uma cadeia produtiva é com- posta pelos seguintes elos: ■ Insumos agropecuários: inclui agentes responsáveis pela produção e dis- tribuição de insumos para a produção rural. Incluem-se aqui empresas de fertilizantes, pesticidas, sementes, rações, medicamentos entre outras. ©photos Da Agricultura ao Agronegócio: Deinição, Agentes e Inter-relações R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . 23 ■ Produção rural: são agentes envolvidos com a produção agrícola e pecuária. ■ Indústria de transformação: são as empresas responsáveis pelo proces- samento dos produtos agropecuários. Esse elo pode ser subdividido em mais etapas, caracterizando: 1ª transformação, 2ª transformação e assim por diante. No caso da soja, por exemplo, após a produção rural, pode- se observar a indústria de 1ª transformação, que processa óleo bruto, e a indústria de 2ª transformação, que transforma óleo bruto em óleo rei- nado. A subdivisão desse elo é conveniente quando as etapas do processo nem sempre são realizadas pelo mesmo grupo de agentes. ■ Atacado: neste elo, incluem-se as empresas atacadistas, ou seja, que adqui- rem os produtos das empresas processadora e distribuem em grandes quantidades. Dada a concentração de mercado e o aumento de poder das grandes redes supermercadistas, esse elo tem, em muitos casos, desapa- recido das cadeias de produtos alimentares, pois os supermercados têm adquirido os produtos diretamente da indústria. ■ Varejo: são aqueles responsáveis pela venda dos produtos ao consumi- dor inal. Incluem desde pequenas lojas especializadas até grandes redes supermercadistas. ■ Consumidor inal: trata-se do elo mais relevante da cadeia. De fato, a eicácia e eiciência de uma cadeia de produção está associada ao aten- dimento das necessidades do mercado, ou seja, do consumidor. Assim, muitas análises de cadeias produtivas partem do estudo do mercado con- sumidor de seus produtos. A igura 2 ilustra um esquema típico de cadeia de produção. As setas indicam os lu- xos existentes entre os elos: da esquerda para a direita, observa-se luxo de mercadorias, serviços e informações entre os agentes. Ou seja, é o caminho percorrido pelo produto. No sentido inverso, o que é passado de um elo a outro são informações e dinheiro. NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . IU N I D A D E24 Figura 2: Esquema genérico de uma cadeia de produção Fonte: Adaptado de Batalha e Silva (2007) Para melhor compreender uma cadeia de produção, observe o exemplo abaixo: ■ Para que o jeans que você está usando agora tenha sido comprado por você, uma série de atividades produtivas foram necessárias. Insumos agrí- colas (fertilizantes, inseticidas etc.) foram utilizados por produtores rurais de algodão. O algodão que eles produziram foi colhido, beneiciado por uma algodoeira e vendido para empresas do setor têxtil. Estas foram res- ponsáveis pela iação e tecelagem, fabricando o tecido. Uma fábrica do setor de vestuário, por sua vez, comprou o tecido e confeccionou, dentre outras peças, a sua calça. Essa empresa vendeu mercadorias para empre- sas do setor atacadista, como aquelas de grandes shoppings atacadistas de vestuário. Um desses atacadistas vendeu a calça jeans que você usa agora para uma empresa de varejo. Por im, você foi até essa loja de confecções e comprou a calça. Veja na igura 3 o caminho que acabou de ser traçado. Para ter uma visão divertida de cadeias de produção agroindustriais, veja os episódios “de onde vem o ovo?” e “de onde vem o pão?”, do programa “De onde vem?”, da TV Cultura. Para isso, basta clicar nos links abaixo: Cadeia do ovo: <http://www.youtube.com/watch?v=oTBjZsjq_O0&playnext=1&list=PL- 021B0F940D4E8CA3&feature=results_video>. Cadeia do pão: <http://www.youtube.com/watch?v=eFARyfWCgkM&playnext=1&list=PL- 021B0F940D4E8CA3&feature=results_main>. Fonte: Fundação Padre Anchieta, 2008. Quando se fala em agronegócio, quase sempre se imagina mega empreen- dimentos e operações gigantescas, como observado na igura. Fonte: <http://en.mercopress.com/2009/04/13/the-success-of-brazilian-far- ming-and-argentinas-disarray> No entanto, é errôneo pensar que o agronegócio inclui apenas a produção em alta escala, realizada em grandes fazendas altamente tecniicadas. A agricultura familiar e a pequena produção também fazem parte do agrone- gócio, e têm grande relevância para a economia de muitos países. As produ- ções de leite e de hortaliças, por exemplo, são desenvolvidas principalmen- te por pequenos produtores rurais. A mesma ideia também é válida para os outros elos da cadeia (transformação e distribuição, por exemplo). Da Agricultura ao Agronegócio: Deinição, Agentes e Inter-relações R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . 25 Figura 3: Esquema simpliicado da cadeia de produção do algodão Fonte: Adaptado de Buainain e Batalha (2007) No exemplo acima, é possível identiicar a participação de vários agentes econômi- cos, desde a produção e distribuição de insumos agrícolas até o consumidor inal. A delimitação de uma cadeia de produção vai depender das transações e dos NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . IU N I D A D E26 agentes que se pretende estudar. É por isso que hoje não se leva tanto em consi- deração o fato de se partir de um produto inal ou de uma matéria-prima para deinir uma cadeia. É óbvio que cada cadeia vai ter suas particularidades, apresentando mais ou menos elos, e até mesmo a inclusão de agentes intermediários entre os elos. Isso vai depender não só do produto, mas também das características dos agentes, do mercado, da região e do ambiente no qual os agentes estão inseridos. Assim, estamos nos referindo ao sistema. SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS Pensando no sistema, alguns estudiosos trabalharam com a noção de Sistemas Agroindustriais (SAI ou SAG) (BATALHA; SILVA, 2007; ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000). Nesse caso, a visão é mais ampla. Para análise de Sistemas Agroindustriais, consideram-se não somente os agentes diretamente envolvi- dos na cadeia de produção, mas também outros agentes e fatores que inluenciam o desempenho da cadeia. São eles: ■ Ambiente institucional: caracteriza-se pelas regras formais e informais que ditam e guiam a conduta dos agentes da cadeia. Inclui o sistema legal, as tradições e costumes, as regulamentações, e as políticas macroeconômi- cas e setoriais públicas. A taxa de câmbio, por exemplo, é um fator que faz parte desse ambiente e inluencia o desempenho dos agentes e da cadeia como um todo (o câmbio elevado é favorável às exportações, mas preju- dica as importações de insumos e bens de capital para o setor). ■ Ambiente organizacional: é formado pelas associações, sindicatos e outras entidades de classe, além de políticas setoriais privadas. O Conseleite, no Paraná, por exemplo, faz parte do ambiente institucional do SAI do leite no estado, pois é uma organização que deine preços de referência para venda do leite de produtores rurais para a indústria. Para saber mais sobre o Conseleite acesse: <http://www.conseleitepr.com.br/site/>. Da Agricultura ao Agronegócio: Deinição, Agentes e Inter-relações R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . 27 ■ Ambiente tecnológico: trata-se das características e da evolução tecnoló- gicade uma cadeia. O desenvolvimento da soja transgênica, por exemplo, foi uma mudança tecnológica que inluenciou e tem inluenciado a cadeia da soja no Brasil e no mundo. ■ Indústria e serviços de apoio: são os agentes que não estão inseridos na cadeia produtiva propriamente dita, mas que colaboram para o desem- penho da mesma. Tratam-se das empresas de embalagens, aditivos, máquinas e equipamentos para a indústria, logística, estocagem e trans- porte, marketing entre outros. No caso do leite, por exemplo, a chegada do leite UHT (“de caixinha”) no mercado brasileiro só foi possível devido à existência de fornecedores de equipamentos industriais e de embala- gens para acondicionamento do produto. Caso contrário, a indústria não poderia produzir esse leite, e não teriam ocorrido grandes mudan- ças estruturais nessa cadeia. Deve-se lembrar que o SAI, por ser um sistema, sofre mudanças ao longo do tempo, ou seja, não é estático. A igura 4 ilustra a visão de Sistema Agroindustrial. Observa-se que a cadeia de produção faz parte de um SAI. Figura 4: Representação dos Sistemas Agroindustriais Fonte: ZYLBERSZTAJN e NEVES (2000) NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . IU N I D A D E28 REDES (NETCHAINS) Por im, uma visão mais recente do agronegócio tem levado muitos estudiosos a considerarem a noção de redes de empresas (do inglês, network ou netchain). Por uma rede, entende-se um conjunto de relacionamentos entre diferentes agen- tes, que não necessariamente ocorrem de maneira linear. Retomando a visão de cadeias, as relações – representadas pelas setas na igura 4, seguem uma linha reta. É como se as únicas relações a serem estudadas fossem aquelas apontadas pelas setas. Na abordagem de redes, adota-se a ideia de que, para que um produto che- gue até um consumidor inal, as relações a serem estudadas (relações tanto de cooperação quanto de conlito, comerciais e não comerciais) não são somente aquelas entre os agentes da cadeia. Deve-se considerar a atuação de outros agentes, pois as relações não ocorrem em um único sentido (LAZZARINI; CHADDAD; COOK, 2001). Agentes de diferentes cadeias produtivas, por exemplo, podem se relacionar; agentes de um mesmo elo, também. Assim, a visão passa a ser tridi- mensional. A igura 5 ilustra uma netchain. Os pontos representam os diferentes agentes e as linhas representam as relações. Figura 5: A visão de rede (netchain) Fonte: Lazzarini, Chaddad e Cook (2001) Especiidades do Agronegócio R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . 29 ESPECIFIDADES DO AGRONEGÓCIO Por que o agronegócio merece ser estudado separadamente? O que leva mui- tos estudiosos a focarem seus trabalhos em agronegócio? O que faz dele algo tão especial? O tratamento individual que se dá ao agronegócio deve-se, entre outros moti- vos, ao fato de que ele tem características especíicas, que fazem com que sua gestão não seja igual a de outros setores produtivos (BATALHA; SCARPELLI, 2005). Dentre as principais especiicidades – ou particularidades – do agrone- gócio, podem-se listar: 1. Sazonalidade da produção agropecuária: grande parte dos produtos agropecuários está sujeita a períodos de safras e entressafras, tais como a soja, o milho e o café. Isso inluencia a cadeia como um todo, pois vai deinir o período em que a indústria vai receber a matéria-prima. Isso pode inluenciar as necessidades de capacidade de processamento e de armazenagem, por exemplo, além de inluenciar a disponibilidade e o preço do produto ao consumidor. Todos sabemos das variações do preço do leite ao longo do ano por conta dos períodos de seca, de chuva e da consequente variação na quantidade produzida. No caso do café, por exemplo, agentes da cadeia costumam trabalhar com estoques de café verde, abrindo espaço inclusive para agentes intermediários. 2. Variações da qualidade do produto agropecuário: a qualidade da maté- ria-prima agropecuária é inluenciada pelas condições edafoclimáticas1 e técnico-produtivas do segmento rural. Isso quer dizer que, dependendo do solo e clima em que se planta ou se cria, e dependendo das técnicas empregadas, pode-se obter produtos com características diferentes. Isso, por sua vez, vai inluenciar a qualidade do produto inal. 3. Perecibilidade da matéria-prima: produtos agropecuários, principal- mente alimentares, são perecíveis, ou seja, deterioram em curto espaço de tempo. Isso diiculta a estocagem por longos períodos e o transporte por longos percursos, e obriga a indústria a processar a matéria-prima que chega rapidamente, sob pena de perdê-la. Assim, deve-se existir um bom planejamento para que o sistema funcione eicientemente. 1 Condições edafoclimáticas são aquelas referentes a características de solo e clima. NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . IU N I D A D E30 4. Sazonalidade do consumo: o consumo de produtos agropecuários, prin- cipalmente alimentos, também está sujeito a períodos de pico ou recessão. A demanda por chocolate na Páscoa, por sopas prontas no inverno, por cerveja no verão, entre outros, obriga as respectivas cadeias desses pro- dutos a se programarem, oferecendo produtos no momento certo. Vale lembrar ainda que a sazonalidade do consumo nem sempre coincide com a sazonalidade da produção agropecuária. 5. Perecibilidade do produto inal: mesmo depois de processados, muitos produtos agropecuários continuam perecíveis (derivados lácteos, car- nes, pães etc.). Assim, as empresas devem fazer com que estes produtos cheguem rapidamente ao mercado para serem consumidos. Além disso, dada a diiculdade de estocagem por longos períodos, a produção deve ser adequadamente planejada para que não haja perdas. 6. Qualidade e questões sanitárias: os alimentos estão sujeitos à vigilância sanitária. Se consumidos em condições inaceitáveis (contaminados, por exemplo), podem causar problemas de saúde. Assim, as empresas inse- ridas nos sistemas produtivos de alimentos devem estar atentas a essa questão e operarem de acordo com as exigências legais (estamos falando aqui do ambiente institucional). A comercialização de produtos de ori- gem animal, por exemplo, só pode ocorrer se seu processamento ocorrer sob normas do Sistema de Inspeção (Federal, Estadual ou Municipal). 7. Aspectos ambientais: os sistemas agropecuários têm forte relação com o meio ambiente. Existem, então, exigências legais especíicas à agrope- cuária, que devem ser observadas e seguidas pelos agentes envolvidos nas cadeias. Exemplos de tais exigências são o tratamento de resíduos e a manutenção de áreas de preservação permanentes nas propriedades rurais. 8. Aspectos sociais do consumo: por im, deve-se considerar que o con- sumo de alimentos está ligado a questões culturais e sociais. Os hindus não consomem carne bovina; os muçulmanos não comem carne suína; os consumidores europeus procuram mais produtos orgânicos; o consumo de erva-mate é maior na região Sul; aumentou o consumo de produtos light no mundo, pois as pessoas querem icar “em forma”. Esses exemplos mos- tram que questões sociais e culturais inluenciam as cadeias de produção agroindustriais. Assim, os agentes devem estar atentos a tais especiici- dades e a mudanças nos padrões de consumo para serem competitivos. O Agronegócio no Brasil R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . 31 Dessa forma, é possível perceber que o agronegócio, ainda que complexo, trata-se de um tema atual, relevante e em constante mudança, e merece ser estudado de maneira aprofundada. O AGRONEGÓCIO NO BRASIL Sabe-se que o agronegócio brasileiro tem grande destaque no cenário mundial. Ouve-se que o Brasil tem um rebanho bovino maior que sua população; que a área de cultivo do país é imensa; que o Brasil vai se destacar mundialmente com a produção de biocombustíveis; que o Brasil é o celeiro do mundo. Também é sabido que boa parte das riquezas geradas no país origina-se do agronegócio. O Brasil é reconhecidamente um grande produtor de produ- tos agroindustriais. E é também um grande consumidor desses produtos. Dessa forma, o intuito desse item é caracterizar o agronegócio brasileiro, identiicando seu peso na economia nacional e os principais produtos. Mais do que isso, pensando na noção de cadeia produtiva, deve-se tomar ©photos NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . IU N I D A D E32 conhecimento do peso de cada elo na geração de riquezas, bem como identi- icar a evolução do consumo dos principais produtos do agronegócio no país. Assim, a próxima seção tratará de contextualizar o agronegócio na economia nacional, bem como de identiicar os principais produtos. Será traçada também a evolução da produção. A seção seguinte vai tratar da participação dos dife- rentes elos da cadeia na geração de riquezas do agronegócio. Por im, na última seção, serão abordadas tendências gerais para o agronegócio. PRINCIPAIS PRODUTOS DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO O Brasil vem se destacando mundialmente como um dos maiores produtores e fornecedores de produtos do agronegócio. Deve-se destacar que seu bom desem- penho pode ser atribuído a uma série de fatores: o espírito empreendedor dos agentes; os investimentos em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, a tecnologia, a qualidade dos produtos, o clima favorável e sua grande extensão territorial (MAPA, 2007). Esses fatores auxiliam no alcance de eiciên- cia técnica e alta produtividade no setor. Com relação à área, o Brasil possui área total de 851 milhões de hectares. O Quadro 1 mostra como está distribuído esse total, segundo seu uso e inalidade. As áreas atualmente utilizadas para agri- cultura correspondem a pastagens, culturas anuais e culturas permanentes, totalizando 282 milhões de hectares. As áreas que não podem ser utilizadas para a agricultura no Brasil correspondem a 54% da extensão total do país (Floresta Amazônica, áreas protegidas, lorestas cultivadas, cidades, lagos, estra- das e outros usos), num total de 463 milhões de hectares. Fazendo as contas, chega-se à conclusão que 106 dos 851 milhões de hec- tares ainda estão disponíveis para agricultura no país. Isso quer dizer que, além do crescente aumento de produtividade, o potencial do Brasil para expansão da O Agronegócio no Brasil R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . 33 produção é aumentado pela vasta disponibilidade de terras ainda não utilizadas. Floresta Amazônica 345 Pastagens 220 Áreas protegidas 55 Culturas anuais 47 Culturas permanentes 15 Cidades, lagos, estradas 20 Florestas cultivadas 5 Sub-total 707 Outros usos 38 Áreas não exploradas, ainda disponíveis para a agricultura 106 TOTAL 851 Quadro 1: Disponibilidade de terras, segundo seu uso e inalidade (em milhões de hectares) Fonte: Elaborado a partir de MAPA (2007) Com relação aos recursos hídricos, importante fator para a produção agropecu- ária, o Brasil também se encontra em posição favorável. Segundo a FAO (2008), a disponibilidade interna de água proveniente de fontes renováveis no país é de 5,418 trilhões de m3 por ano. Apenas para se ter uma ideia, na Argentina, esse valor é de 276 bilhões; na Austrália, 492 bilhões; nos Estados Unidos, 2,8 tri- lhões; na China, 2,8 trilhões; na Índia, 1,26 trilhões e na França, 178 bilhões. Em termos monetários, o agronegócio brasileiro também vem apresentando maiores ganhos. No ano de 2012, o Valor Bruto da Produção (VBP) agropecu- ária será de R$ 351,73 bilhões de reais, segundo estimativas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 93,10% maior que em 2003 (MAPA, 2012). Em 2012, a agricultura será responsável por 58,41% do VBP agropecuário, e a pecuária deve representar os outros 41,59%. O VBP gerado pela agricultura passou de R$ 114,59 bilhões, em 2003, para R$ 205,43 bilhões em 2012, o que representa um aumento de 79,3%. Já a pecuária neste mesmo período obteve um crescimento de 116,50% (MAPA, 2012). Nesse contexto, destaca-se a soja, como mostra a tabela 1. O valor da produção NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . IU N I D A D E34 de soja em 2012 é de R$ 45,00 bilhões de reais, que corresponde a cerca de 12,79% do VBP agropecuário total. Em seguida, observa-se a carne bovina, com quase R$ 60,16 bilhões (17,10% do total). Além disso, pode-se airmar que há forte concentração em poucos produtos: os sete itens listados representam 77,10% do VBP gerado na agropecuária em 2012. PRODUTO VBP (R$ BILHÕES) VARIAÇÃO (%) 2003 2012 * 1 Soja 36,89 45,00 21,98% 2 Carne Bovina 30,87 60,16 94,88% 3 Milho 17,29 27,85 61,08% 4 Frango 15,98 40,78 155,19% 5 Cana-de-açúcar 13,49 46,39 243,88% 6 Leite 11,85 28,55 140,93% 7 Café beneiciado 5,77 22,44 288,91% Outros 50,02 80,56 61,06% Total 182,16 351,73 93,09% Tabela 1: Valor Bruto da Produção agropecuária, por produto Fonte: Elaborado a partir de MAPA (2012) * : Projeção. Com relação ao Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio, este foi de R$ 917,65 bilhões em 2011, contra R$ 648,21 bilhões em 1994. Em 2011, o PIB do agronegócio correspondeu a 22,15% do PIB brasileiro (CEPEA, 2012). Assim como o VBP, o PIB do agronegócio também tem apresentado cresci- mento no longo prazo. De 1994 a 2011, o crescimento foi de 41,6%, como pode ser visto no gráico 1. O gráico também deixa claro que a maior parte desse PIB é proveniente da agricultura. No ano de 2011, este segmento foi responsável por mais de 70% do PIB do agronegócio. O Agronegócio no Brasil R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . 35 Gráico 1: O PIB do Agronegócio Brasileiro (Bilhões R$) Fonte: Elaborado a partir de CEPEA (2012) PARTICIPAÇÃO DOS DIFERENTES ELOS NO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO Como já airmado, o agronegócio brasileiro não é representado unicamente pela produção rural. Agentes de outros segmentos também fazem parte do agribusi- ness e devem, portanto, ser considerados. Assim, é importante que se veriique a participação de outros elos da cadeia na geração de riquezas no agronegócio. Para tanto, vamos analisar a participação dos elos de insumos, agropecuária, indústria e distribuição (atacado e varejo) na composição do PIB do agronegócio. Em 2011, o setor de insumos correspondeu a 11,81% desse PIB; a agropecuária, 28,80%; a indústria foi responsável por 28,53%; e o elo de distribuição, 30,87 % (CEPEA, 2012). Isso mostra a importância dos outros elos na composição do agronegócio, principalmente daqueles mais próximos do consumidor inal na cadeia (indústria e distribuição). Pensando na evolução da participação dos diferentes elos na geração de riquezas, é interessante se observar o gráico 2. Pelo gráico, observa-se que a NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .61 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . IU N I D A D E36 distribuição tem sido mais ou menos constante no período observado. Ou seja, nenhum elo aumentou consideravelmente sua participação relativa no PIB do agronegócio. Além disso, o gráico deixa mais claro a importância dos elos de distribuição e industrialização, que correspondem juntos a 59,39% desse PIB. Isso pode ser explicado pela agregação de valor que ocorre ao longo da cadeia, até chegarem ao consumidor inal. Conforme os produtos vão “caminhando” de um elo para outro, mais atividades são realizadas e, portanto, mais valor se agrega ao bem. Assim, o produto acaba sendo vendido por um preço mais alto, e isso gera mais riqueza. Gráico 2: Distribuição do PIB do agronegócio Fonte: Elaborado a partir de CEPEA (2012) TENDÊNCIAS PARA O AGRONEGÓCIO Você acredita que o futuro do agronegócio no Brasil e no mundo está relacio- nado somente ao aumento contínuo da produção? Pense bem... Tendências para o Agronegócio R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . 37 Mudanças climáticas globais têm sido discutidas por líderes políticos do mundo; observa-se a busca por combustíveis menos poluentes; as relações sociais desiguais entre agentes do agronegócio são colocadas em pauta (por ex.: explora- ção de pequenos produtores por grandes empresas processadoras e distribuidoras); a introdução de produtos geneticamente modiicados no mercado (os transgê- nicos) tem causado grandes discussões nas negociações entre países. Isso mostra que o agronegócio deve passar por mudanças nos próximos anos. Assim, o intuito desse item é mostrar algumas das principais tendências do agronegócio, falando de produtos e de processos produtivos. Nesse contexto, inserem-se questões sociais, econômicas e ambientais, como será visto a seguir. Ainda que você não trabalhe ou não tenha tido contato com os assuntos a serem abordados, eles devem ser estudados por aqueles que desejam aproveitar opor- tunidades futuras no agronegócio. E AGORA, PARA ONDE VAI O AGRONEGÓCIO? Nesta seção, busca-se discutir algumas tendências do agronegócio mundial e brasileiro. Os tópicos a serem discutidos são os seguintes: agregação de valor; tecnologia no agronegócio; sustentabilidade; regionalização e certiicações. É importante ressaltar que tais tendências não existem isoladamente. Elas estão inter-relacionadas, e a ação em um determinado aspecto pode trazer resultados em outros sentidos. Por exemplo: a produção de produtos orgânicos, em um primeiro momento, pode estar ligada à busca por agregação de valor. Entretanto, essa prática também traz resultados em termos ambientais e sociais e está ligada à certiicação. Assim, a discussão em tópicos ocorre meramente para estruturar o assunto e facilitar o ensino. Entretanto, na prática, essa separação muitas vezes torna- se impossível. NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . IU N I D A D E38 AGREGAÇÃO DE VALOR AOS PRODUTOS Na economia, diz-se que a demanda por produtos básicos (commodities) não tem alta elasticidade-renda. Ou seja, você não come mais arroz porque seu salá- rio aumentou, a não ser que antes você tivesse renda muito baixa e faltasse arroz em suas refeições. Entretanto, você pode consumir mais quantidade de produ- tos elaborados (pizzas, por exemplo) com um aumento de salário. Num mundo em que a renda per capita cresce a cada ano, a procura por pro- dutos diferenciados tem aumentado. É lógico que ainda há espaço para aumento das vendas de commodities, até porque uma boa parcela da população mundial não tem alimento em quantidade suiciente. Entretanto, nos países de renda mais elevada, tais como os países desenvolvidos, as cadeias produtivas do agronegócio têm buscado agregar valor aos produtos, como forma de aumentar seus ganhos. A diferenciação também pode ser voltada para atender a nichos de mercado, ou seja, grupos especíicos de consumidores, com determinadas características em comum (atletas, “naturebas”, solteiros, executivos etc.). A busca por agregação de valor e diferenciação dos produtos do agronegócio não ocorre somente via processamento de produtos. A agregação de valor pode ocorrer por meio de embalagens, de seleção, do uso de marcas, de práticas de qualidade ou ambientais, de rastreabilidade entre outros. Mais do que isso, a agre- gação de valor pode depender de vários agentes de um dado SAI. Por exemplo: Um produto orgânico é um produto diferenciado, certo? Para que ele possa ser reconhecido como um produto de maior valor agregado e vendido como Tendências para o Agronegócio R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . 39 orgânico, os insumos utilizados na produção rural foram especíicos a esse tipo de produção. As técnicas de manejo e produção na área rural também exigiram atividades especíicas dos agentes envolvidos (aqui, depende--se da boa atua- ção do elo da produção rural); a certiicação, por meio de um selo, é dada por organizações independentes, inseridas no ambiente organizacional do SAI; a distribuição deve ser feita de maneira adequada, em pontos de varejo que sejam capazes de alcançar o público-alvo. A produção de cafés especiais exige o cultivo em áreas apropriadas, que permitam a obtenção de grãos com a qualidade requerida. Além disso, deve- se escolher a variedade do café a ser cultivada, o que depende do fornecedor de mudas. As práticas de plantio, manejo, colheita, seleção, secagem e armazena- gem do café na propriedade rural também devem ser adequadas e especíicas ao produto. As processadoras (torrefadoras) devem possuir sistemas produtivos adequados, desde a seleção dos grãos até o empacotamento. Por im, a distribui- ção também deve estar de acordo com o produto, tais como lojas especializadas. Uma boa coordenação da cadeia exige que os vários agentes envolvidos par- ticipem e se comprometam, para que o valor não se “perca” ao longo da cadeia. Uma das formas de se agregar valor é a produção de produtos de quali- dade mais elevada. Nesse sentido, a produção de cacau ino, de cafés especiais, de vinhos inos, de queijos inos e de carnes premium ou rastreada pode ser um caminho para a diferenciação. No caso dos cafés de alta qualidade (gourmets), por exemplo, esse mercado no Brasil cresce cerca de 20% ao ano, enquanto o crescimento anual do mercado de cafés como um todo é de 5% (NERY, 2007). TECNOLOGIA NO AGRONEGÓCIO O uso de tecnologia no agronegócio tem permitido aos agentes ganhos de produ- tividade, redução de custos, aumento da coordenação e inovações de produtos. Dentro do tema tecnologia, pode-se destacar o uso de ferramentas para gestão e troca de informações, a agricultura de precisão e a biotecnologia. Atualmente, a aplicação de ferramentas de gestão e informação no agrone- gócio é imprescindível para o sucesso das cadeias produtivas. A globalização fez NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . IU N I D A D E40 R ep ro d u ção p ro ib id a. A rt. 184 d o C ó d ig o Pen al e Lei 9.610 d e 19 d e fevereiro d e 1998. com que cadeias fossem formadas por agentes de diferentes partes do mundo, o que torna as relações mais complexas. Assim, a eicácia e eiciência na troca de informações se tornam essenciais. Além disso, as cadeias devem ser geren- ciadas eicientemente, o que leva à necessidade de ferramentas para gestão dasatividades. Nesse sentido, destaca-se desde o uso de simples programas compu- tacionais para gestão de custos na propriedade rural até sistemas integrados de gestão, tais como o ERP (Entreprise Resources Planning). A tecnologia também tem auxiliado no desenvolvimento da agricultura de precisão. Trata-se da busca por maior precisão no manejo e cultivo agropecuário, por meio de um conjunto de ações de gestão dos sistemas de produção, conside- rando a variabilidade espacial das lavouras. Ou seja, ela considera as diferenças de solo, clima e relevo. A análise de solo para correção precisa; o uso de senso- res térmicos nos aviários e o uso de monitoramento por satélite são exemplos da agricultura de precisão. Por im, a biotecnologia tem sido amplamente empregada no agronegócio. Trata-se da tecnologia associada à biologia. Na pecuária, ela pode ser represen- tada pelo melhoramento genético animal, pela clonagem e pela transferência de embriões. Na agricultura, podem-se destacar as espécies resistentes a pragas e doenças e os alimentos com maior valor nutricional com o desenvolvimento de plantas transgênicas (Organismos Geneticamente Modiicados - OGM) (CIB, 2008). 41 CIENTISTAS PESQUISAM CANA-DE-AÇÚCAR GM COM MAIOR TEOR DE SACAROSE A cana-de-açúcar transgênica, modiicada para produzir maior teor de açúcar e etanol, poderá ser cultivada, no Brasil, em um prazo de três a cinco anos. Os cientistas estão realizando testes de campo com varieda- des de cana GM com maiores quantidades de sacarose em relação às plantas conven- cionais. “Nesse ponto, (a cana GM) é mais uma questão de regulamentação que uma questão cientíica”, airma Paulo Arruda, diretor cientíico de uma empresa da área de biotecnologia e responsável pelo desen- volvimento de uma variedade de cana que está em teste. Aguardam aprovação pela CTNBio varie- dades de cana-de-açúcar geneticamente modiicada para terem maior rendimento de sacarose e também com aumento da biomassa, resistência a insetos e tolerân- cia a herbicida e à seca. “A maior parte das novas áreas para a cana no Brasil são pastagens degradadas, onde os níveis pluviométricos são inferiores aos das áreas tradicionalmente produtoras de cana”, disse Arruda, explicando a impor- tância de variedades tolerantes à seca. “Esperamos que a tecnologia permita rendi- mentos de 10% a 15% mais elevados”, disse. O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) também vê os aspectos regulatórios, e não os aspectos técnicos, como os principais obstáculos para o progresso da cana GM no Brasil. “De três a cinco anos seria pos- sível termos variedades disponíveis (se a regulamentação estiver ok)” explica Jaime Finguerut, gerente estratégico de desen- volvimento industrial da CTC. (...) Fonte: Agência Reuters Disponível em: <http://cib.org.br/em-dia-com-a-ciencia/noticias/cientistas-pesquisam-ca- na-de-acucar-gm-com-maior-teor-de-sacarose/>. Acesso em: 04 set. 2012. COMENTÁRIO CRÍTICO Apesar das vantagens dos transgênicos, principalmente para os agentes produtores, a discussão acerca da segurança dos transgênicos é ampla. Ambientalistas, pequenos produtores, consumidores e alguns cientistas airmam que o consumo de OGMs pode trazer riscos para a saúde, além de prejudicar o meio ambiente. Acrescenta-se a isso uma questão socioeconômica: pequenos produtores podem icar dependentes de grandes multinacionais fornecedoras de sementes. São vários os argumentos contra os transgê- nicos, o que indica que o assunto não está encerrado na pauta mundial. Para mais informações sobre os OGMs, leia o guia “Transgênicos: você tem direito de conhe- cer”, acessando o link <http://www.cib.org.br/> . Para uma visão contrária, acesse o site do Greenpeace <www.greenpeace.org/brasil/trans- genicos>. Leia o texto de José Carlos Pereira de Freitas, Sustentabilidade nos Agronegócios, no link: <http://www.portaldoagronegocio.com.br/conteudo.php?id=25744>. NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . IU N I D A D E42 SUSTENTABILIDADE Falar em sustentabilidade no agronegócio signiica pensar em sistemas de pro- dução que sejam sustentáveis no longo prazo. Isso envolve não somente questões ambientais como também questões de ordem social. Assim, a sustentabilidade busca, por exemplo: ■ a diversiicação dos sistemas produtivos, por meio de consórcios, sis- temas integrados e rotações de culturas (veja o quadro com a leitura complementar); ■ a conservação da biodiversidade; ■ o uso de técnicas para proteção do solo, como o plantio direto; ■ o plantio e o manejo de espécies adaptadas às condições edafoclimáti- cas locais; ■ o uso de fontes limpas de energia, tais como biodiesel e biodigestores; ■ o respeito às características socioeconômicas regionais, buscando o pla- nejamento e ocupação do espaço rural e a manutenção digna do homem no campo. Plantio integrado é alternativa para agricultura na Amazônia A opção permite, simultaneamente e no mesmo terreno, atividades em su- cessão e o sistema de plantio direto, que preserva ao máximo a integridade do solo. Para amenizar os custos e permitir a reutilização de áreas degradadas na Amazônia, pesquisadores da Embrapa estão propondo a adoção do sistema integração lavoura-pecuária-silvicultura (ILPS). A opção permite, simultane- amente e no mesmo terreno, atividades em sucessão e o sistema de plantio direto, que preserva ao máximo a integridade do solo. De acordo com o pesquisador Paulo Campos Fernandes, da Embrapa Ama- zônia Oriental, é inviável economicamente a recuperação de solos de pas- tagens usando adubos. O mecanismo mais oportuno é a integração com a agricultura. “Isso acontece porque as atividades pecuárias tornam o solo mais compacto, impossibilita a drenagem e a conseqüente ixação de nu- trientes”, explica. Com o sistema é possível exercer a agricultura clássica do plantio de grãos como milho, soja, sorgo e feijão, ao mesmo tempo em que é desenvolvida a pecuária. Segundo o pesquisador, já existem empresas com êxito na adoção desse sistema. “Essas iniciativas, monitoradas pela Embrapa, são referências de sis- temas que funcionam e dão certo”, ressaltou. Fonte: Portal do Agronegócio, 24 de outubro de 2008. Disponível em: <www.portaldoagronegocio.com.br> ou pela revista do Globo Rural <http://revistagloborural.globo.com/GloboRural/0,6993,EEC1690588-1935,00. html>. Tendências para o Agronegócio R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . 43 No Brasil, alguns exemplos de práticas ambientais sustentáveis podem ser apon- tados. Primeiramente, destaca-se que o Brasil é o campeão em descarte adequado de embalagens de agrotóxicos no mundo (MAPA, 2007). Além disso, a utiliza- ção de resíduos da indústria sucroalcooleira, citrícola, madeireira e de carnes é exemplo de práticas ambientalmente corretas. Como é possível perceber, nesse contexto enquadra-se também a agricultura orgânica. Do ponto de vista da sustentabilidade social, destaca-se a importância de se combater o trabalho escravo e o trabalho infantil nas empresas, principalmente Informe-se sobre o desempenho de várias empresas em aspectos sociais, ambientais e trabalhistas no site da Organização “Observatório Social” – <http://www.observatoriosocial.org.br/portal/>. NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . IU N I D A D E44 no elo da produção rural. Este é inclusive ponto de discussão nas negociações, pois muitos países alegam que os produtos brasileiros são competitivos no mer- cado externo por utilizarem mão de obra escrava. Considerandocadeias produtivas, a sustentabilidade está ligada ao desenvol- vimento de sistemas produtivos que permitam a manutenção dos agentes em condições de equidade. Sabe-se que muitas vezes o elo mais fraco – o produtor rural – é explorado dentro da cadeia, recebendo pouco pelo produto e pagando muito por seus insumos. É a chamada “tesoura de preços”: o produtor, por um lado, ica sujeito aos preços ditados por seus fornecedores de insumos, geralmente grandes empresas multinacionais – Monsanto, Cargill e Bunge, por exemplo. De outro lado, não pode repassar os preços aos seus compradores, pois são também grandes empresas do segmento de transformação ou distribuição, e possuem maior poder de mercado. Além disso, os produtores normalmente têm que cum- prir grandes exigências de seus compradores. Muitos mercados consumidores têm enxergado tal situação como explora- tória, e têm evitado a compra de produtos provenientes de cadeias com essas características. Assim, as novas tendências do agronegócio trazem consigo um aspecto social relevante: um novo espaço para o pequeno agricultor e à agricul- tura familiar nas cadeias produtivas. Nesse aspecto, uma linha de gestão de cadeias é a do comércio justo (do inglês, fairtrade). Trata-se de um conjunto de práticas que preconiza relações entre produtores rurais e demais elos da cadeia em condições de equidade, par- ceria, coniança e interesses compartilhados. O intuito é prover condições mais justas para produtores marginalizados. Assim, busca-se promover o acesso a mercados para esses produtores, principalmente da agricultura familiar e a dis- tribuição dos ganhos ao longo da cadeia. Em termos internacionais, essa linha é relevante por buscar condições mais Para ter uma noção da evolução dos preços pagos aos produtores de vários produtos do comércio justo ao longo dos últimos dez anos, clique no link: <http://www.fairtrade.net/producers.html>. Tendências para o Agronegócio R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . 45 justas entre economias de países pobres e em desenvolvimento (fornecedores de matérias-primas) e países desenvolvidos (processadores e distribuidores de produtos inais). Além disso, ao garantir preços mínimos aos produtores rurais, esse tipo de comércio reduz a instabilidade de preços, tão comum em alguns produtos agrícolas com o café. REGIONALIZAÇÃO Na contramão da globalização, dos megaempreendimentos rurais e da produ- ção em alta escala, observa-se, principalmente em países desenvolvidos, a volta de sistemas tradicionais de produção e do peso da “agricultura local”. Trata-se de uma forma de fugir do modelo de produção de commodities predominante no mundo, com a inserção de pequenos produtores que não têm condições de produção em alta escala e a baixos custos. É impulsionado pela existência de um mercado consumidor (nicho) que se preocupa com questões sociais relativas ao campo e que gosta de saber exatamente a origem e a quali- dade dos produtos que consome. No sistema convencional, quando você compra um frango, você não sabe em que condições ele foi criado, quais os medicamentos que foram utilizados nele, se ele se alimentou de ração de soja transgênica e se os produtores rurais foram economicamente explo- rados pelos grandes frigoríicos e redes varejistas. Na agricultura tradicional, o frango é produzido sob as mesmas condições de anos atrás, de forma artesanal, com apelo para a tradição e a história. Isso agrega valor ao produto. NOÇÕES GERAIS DE AGRONEGÓCIO E AGRONEGÓCIO NO BRASIL R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt. 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e Le i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e fe v e re iro d e 1 9 9 8 . IU N I D A D E46 Aqui também se encontra o apelo social: a regionalização permite a ixação do produtor em determinadas áreas. Além disso, lhe confere condições de pro- duzir seu produto da maneira mais adequada às características culturais e da região, não sendo preciso se adequar aos modelos impostos pelos sistemas con- vencionais. Assim, remete-se à questão da sustentabilidade. Em alguns países, tem-se percebido o surgimento de barreiras mercadoló- gicas decorrentes da regionalização. Empresas varejistas têm destacado o fato de venderem produtos da região ou do país onde estão localizadas, o que desen- volve no consumidor uma tendência a consumir tais produtos em detrimento daqueles vindos de outras regiões. Em alguns casos, a própria postura dos con- sumidores, como os franceses, por exemplo, já se encarrega de criar essa barreira aos produtos externos. Mas o Brasil também pode se aproveitar dessa tendência para o agronegó- cio. Primeiramente, pela introdução desses produtos no mercado interno (vinho do Sul, café de Minas etc.). Além disso, buscando a inserção de produtos com a “marca” do Brasil no mercado externo, como é feito no caso do café (selo “cafés do Brasil”). Por falar em selos, vamos para o último tópico desta unidade: as certiicações. CERTIFICAÇÕES Também como forma de garantir aos consumidores a procedência, a qualidade e as formas de produção dos produtos consumidos, cada vez mais se tem feito uso de certiicações no agronegócio. Tais certiicações são geralmente represen- tadas por selos nos produtos e têm como objetivo garantir alguma característica em especíico. O uso de selos nos produtos também é uma forma de agregação de valor, pois ao garantir alguma especiicação, permite que o produto seja vendido a pre- ços mais altos que um similar sem certiicação. Podemos inserir neste tópico também a rastreabilidade. Dadas as ocorrên- cias de contaminações em vários produtos alimentícios, como a “doença da vaca louca” e a “gripe aviária”, a rastreabilidade tem sido utilizada para garantir ao Tendências para o Agronegócio R e p ro d u çã o p ro ib id a . A rt . 1 8 4 d o C ó d ig o P e n a l e L e i 9 .6 1 0 d e 1 9 d e f e v e re ir o d e 1 9 9 8 . 47 consumidor um produto seguro e saudável, por meio de registro e controle em todas as etapas de produção, “do pasto ao prato”. Os selos servem para garantir ao consumidor algumas das característi- cas já discutidas anteriormente, como a agricultura orgânica e o comércio justo. Relacionada à regionalização, a certiicação de “Denominação de Origem Controlada - DOC” tem sido utilizada para garantir a procedência geográica de um produto. Tal selo é bastante utilizado para vinhos e queijos, principalmente na Europa. Para conseguir uma DOC, o produto deve ter características físicas, de produção e organolépticas que o associe ao meio geográico no qual é pro- duzido. O quadro 3 mostra alguns exemplos de certiicações. CERTIFICAÇÃO PRODUTOS CERTIFICADORA OBJETIVO Ecologicamente corretos Produtos lorestais (madeira, papel e celulose e comés- ticos). FSC – Conselho de Manejo Florestal Garantir que os produ- tos são provenientes de lorestas plantadas ou mata nativa de manejo controlado. Comércio Justo Diversos, tais como algodão, café, açú- car e chá. FLO – Fair Trade Labelling Atestar que o produto garantiu uma remune- ração adequada aos produtores rurais. Orgânicos Diversos produtos agropecuários (hor- taliças, frutas, carnes etc.). No Brasil, Instituto Biodinâmico – IBD Garante o cultivo sem uso de agroquímicos. Rastreabilidade Diversos produtos (carnes, frutas etc.). No Brasil, 56 em- presas autorizadas pelo MAPA Registrar o “caminho” percorrido pelo produ- to, desde a produção rural até chegar à mesa do consumidor. Denominação de origem con- trolada (DOC) Vários produtos, tais como vinhos, queijos e cafés. No Brasil, o Ins- tituto Nacional da Propriedade Industrial - INPI Garantir a procedên- cia geográica de um produto, bem como as características de produção intrínsecas à região.
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