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de infância na época de Platão. Com Aristóteles, filósofo e biólogo grego, surge a teoria de que a razão nasce com o homem, sendo inata, e as idéias são adquiridas. Fundou, assim, a ciência da lógica, estabele- cendo conceitos, organizando idéias, criando a máxima de Psicopedagogia.indd 35 8/6/2009 10:39:46 36 P s ic o P e d a g o g ia U m conhecim ento em contínuo processo de construção que só o homem tem a capacidade de pensar racionalmente. Ele acreditava que é importante se ter a capacidade de orga- nizar os fatos para compreender. Começam a ser discutidas e estudadas fontes e formas de conhecimento, já com a intenção da criação de uma teoria. Para os filósofos de então se constituía prioridade o estudo de sen- sação, percepção, imaginação, memória, raciocínio, intuição, processos psicológicos estudados por Vygotsky. Conceitos que diferenciam alguns termos, usados na épo- ca, surgem, tais como: distinção entre saber e opinião; aparência e essência. São discutidas as formas de conhecimento verdadeiro, analisando idéias, conceitos e juízos; procedimentos são viabili- zados para se alcançar o conhecimento. Pela indução, dedução e intuição chegam à definição de campos de conhecimento verda- deiros, classificando-os como teórico, prático e técnico. Na Idade Média, surgiram as primeiras escolas em con- ventos, sob a orientação da igreja cristã. Também aparecem as primeiras faculdades com diferentes áreas de saber. Vemos, nes- sa ocasião, Santo Agostinho respondendo às questões por meio da fé; São Tomás de Aquino, influenciado por Aristóteles, apre- goando que existiam dois caminhos que levavam a Deus: a fé e o conhecimento. Com o Renascimento, desenvolve-se a arte e a cultura. O homem torna-se o centro das discussões. Delineiam-se os ob- jetivos pedagógicos, levantando o lema de que o homem deve ser educado para tornar-se humano. A teologia cristã atinge seu apogeu. Fala-se em libertação, em natureza, em um novo método científico. Novamente há um resgate do papel do conhecimen- to, por meio das artes, das letras, da filosofia e da política. Encontramos, aí, uma teoria do conhecimento que esta- belece relação entre o sujeito e o objeto do conhecimento, entre Psicopedagogia.indd 36 8/6/2009 10:39:46 37M a r i a d a s g r a ç a s s o b r a l g r i z pensamento e coisa, entre consciência (interior) e realidade (exterior), fundamentação também defendida, posteriormen- te, por Vygotsky. Surgem os filósofos modernos, como Francis Bacon que dá ênfase ao conhecimento, afirmando que “saber é poder”; Descartes, com a afirmativa que a razão é o único meio de se chegar ao conhecimento e reforçando a questão do inatismo trazida por Aristóteles. Questões importantes são levantadas com relação ao dua- lismo do homem, em corpo e alma. John Locke cria uma teoria do conhecimento, na qual analisa novas formas de conhecimen- to, como elas surgem, a origem de nossas idéias e a relação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. Sua concepção era dife- rente de Platão e Descartes, uma vez que separava a razão da percepção. A orientação de John Locke era voltada para o racio- nalismo e o empirismo. Como narra Gaarder, em O Mundo de Sofia, “Muitos filósofos passaram a defender, então, a opinião de que nossa mente é totalmente vazia de conteúdo, enquanto não vivemos uma experiência sensorial. Esta visão é chamada de empirismo” (1995, p. 281). Adiante, explica: Um empírico deriva todo o seu conhecimento do mundo daquilo que lhe dizem os seus sentidos. A formulação clássi- ca de uma postura empírica vem de Aristóteles, para quem nada há na mente que já não tenha passado pelos sentidos. Esta idéia contém uma severa crítica a Platão, para quem o homem, ao vir ao mundo, trazia consigo idéias inatas do mundo das idéias. Locke repetiu as palavras de Aristóteles, mas o destinatário de suas críticas era Descartes. Psicopedagogia.indd 37 8/6/2009 10:39:47 38 P s ic o P e d a g o g ia U m conhecim ento em contínuo processo de construção Os seguidores de John Locke desenvolvem esta concep- ção empírica da mente, cuja ênfase da origem das idéias se dava em função das sensações, produto de estimulação do ambiente. A partir da Revolução Francesa, surge o Iluminismo, ten- do como premissa dar conhecimento à população para, por meio da luta, conquistar seus direitos e definir seus deveres, po- sição semelhante à de Vygotsky. A principal figura dessa época foi Kant. Para ele, os racionalistas atribuíam uma importância muito grande à razão, e os empíricos eram muito parciais quan- do defendiam a experiência centrada nos sentidos. Os kantianos asseguravam que as idéias eram referentes ao espaço e tempo, bem como aos conceitos de quantidade, qualidade e relação tinham sua origem na mente humana, não podendo ser decom- postas em elementos mais simples. Tanto a filosofia de John Locke quanto a de Kant tinham, como embasamento teórico, os trabalhos de Descartes, que apregoava ser o estudo científico do homem restrito ao corpo físico e que cabia à filosofia o estudo da alma. No fim do século XIX, as teorias de Darwin, Fechner e Schenov se tornam essenciais para o estudo do pensamento psicológico. Darwin expôs a presença de uma continuidade es- sencial, demostrando a evolução do homem a partir de outros animais; Fechner detalhava uma relação entre os vários eventos físicos que podiam ser determinados e suas conseqüentes res- postas psíquicas, expressas pela linguagem; Schenov dizia que havia bases fisiológicas que ligavam o estudo científico natural de animais aos estudos fisiológicos humanos. Nesta teoria, já se vislumbra uma filosofia materialista. Com o Romantismo, expresso pela arte, reforça-se o papel do sentido, da imaginação e dos anseios, exaltando o brincar e o jogar como uma capacidade cognitiva, de onde Psicopedagogia.indd 38 8/6/2009 10:39:47 39M a r i a d a s g r a ç a s s o b r a l g r i z surge a aprendizagem; aqui também já se vislumbra o pensa- mento vygotskiano. Outros filósofos surgiram com uma visão idealista, co- mo o caso de Hegel, que analisa o conhecimento pelo tempo histórico e pela evolução dialética. Já aparece a noção de que a Razão só se concretiza através da interação com as pessoas, numa dinâmica processual. Percebem-se, aí, as raízes do inte- racionismo de Vygotsky Desenvolvendo a tese político-econômica, começa a surgir a teoria de Marx que, por meio do pensamento e da consciên- cia, viabilizava uma forma de modificar o mundo, analisando as condições materiais e as relações de produção. Marx teve seu pensamento influenciado por Hegel, embora tenha se distanciado da noção hegeliana de espírito universal, que seria o idealismo. Marx alegava que os filósofos sempre tentavam interpretar o mundo, mas nunca transformá-lo. É esse seu pensamento que irá produzir uma virada muito significativa na história da filo- sofia. É, portanto, o pensamento marxista estruturado com um objetivo prático e político. Marx era, além de filósofo, historia- dor, sociólogo e economista. Em função desses conhecimentos, Marx acreditava que eram as condições materiais da vida de uma sociedade que determinavam o pensamento e a consciência das pessoas; que essas condições materiais eram decisivas para a evolução da história. Isso o fez conhecido como um filósofo materialista histórico. Para ele, as bases de uma sociedade são as relações materiais, econômicas e sociais, enquanto o modo de pensar, as instituições políticas, as leis, a religião, a moral, a arte, a filosofia e a ciência se constituíam no que ele chama- va de superestrutura. Mas ele reconhecia que entre a base e a superestrutura de uma sociedade existe uma interação, uma ten- são, denominada depois de materialismo