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Módulo 3 – Inoculante em outras culturas 66 Módulo 3: Inoculante em outras culturas Bem-vindo ao Módulo 3 – Inoculante em outras culturas. É importante que você preste atenção ao conteúdo que preparamos, pois ele lhe ajudará na realização de suas atividades ao lidar com a inoculação em outras culturas. Neste terceiro módulo do curso falaremos sobre o processo de inoculação e como essa tecnologia funciona para o agricultor. Veja o que aprenderá em cada aula. Módulo 3 – Inoculante em outras culturas 67 Aula 1 - O uso do inoculante em outras culturas • Como o inoculante é utilizado em outras culturas • A interação do inoculante com outros nutrientes do solo Aula 2 - Fixadores de nitrogênio com espécies vegetais • A interação de fixadores de nitrogênio com espécies vegetais • Resultados do uso do inoculante nas lavouras Pronto(a) para começar este módulo? Módulo 3 – Inoculante em outras culturas 68 Aula 1: O uso do inoculante em outras culturas Como o inoculante é utilizado em outras culturas Como já visto nos módulos anteriores, o inoculante é um produto que contém grande quantidade de bactérias que fazem muito bem às lavouras, intensificando o processo natural da fixação biológica de nitrogênio (FBN), no qual as bactérias que vivem no solo se associam às plantas, captam o nitrogênio do ar transformando-o em alimento para a planta. De olho nos valores Os inoculantes também são conhecidos como biofertilizantes e quando utilizados nas lavouras são importantes auxiliares do agricultor aumentando a produtividade e a fertilidade dos solos, contribuindo para a redução do uso de fertilizantes nitrogenados e consequentemente a redução dos custos de produção. Você sabia que anualmente no Brasil são comercializadas aproximadamente 40 milhões de doses de inoculantes, em que 34 milhões de doses são para a cultura da soja, 2 milhões para gramíneas, entre elas o milho e o trigo, e o restante para outras culturas em geral? (EMBRAPA, 2019) Módulo 3 – Inoculante em outras culturas 69 Fonte: Gráfico adaptado do site https://maissoja.com.br/beneficios-do-uso-de-inoculantes-bacterianos-e-os-im- pactos-sobre-o-consumo-de-fertilizantes-nitrogenados-no-brasil/ De acordo com a Embrapa (2019), as culturas consideradas mais importantes para o Brasil, tanto pela extensão da área que ocupam como pelo alto consumo de fertilizantes, são culturas que podem ser beneficiadas pela fixação biológica de nitrogênio, como: milho, cana-de-açúcar, arroz, trigo, soja, feijoeiro comum, feijão-caupi. Juntas, essas culturas ocupam 61,3 milhões hectares e consomem 1.890 milhão de toneladas de fertilizantes nitrogenados. O gráfico abaixo, elaborado por Ferreira et al. (2017), apresenta um panorama da utilização de adubação nitrogenada no Brasil: A) Área plantada com grãos e consumo total de fertilizantes nitrogenados do ano de 2000 até o ano de 2014. B) Consumo de fertilizantes nitrogenados, em milhões de toneladas, pelas principais culturas no ano de 2014. Módulo 3 – Inoculante em outras culturas 70 Nas plantas não leguminosas, o gênero Azospirillum é o mais usado para a promoção da associação das bactérias com as gramíneas para a fixação biológica do nitrogênio. Neste caso, essa associação faz com que ocorra a produção de hormônios, os quais estimulam o crescimento radicular da planta. Uma vez que a planta tem seu sistema radicular mais desenvolvido, faz com que ocorra uma melhor absorção de água e nutrientes, tornando a planta mais tolerante a diferentes estresses abióticos (MELO, 2014). As bactérias do gênero Azospirillum são conhecidas como bactérias promotoras de crescimento de plantas (BPCP) e são bactérias de vida livre no solo. Elas são benéficas às plantas e possuem a capacidade de colonizar as raízes e outros tecidos internos do vegetal, sem causar sintomas de doenças. Também é uma relação simbiótica, em que as bactérias se beneficiam por colonizar um ambiente protegido contra vários estresses bióticos e abióticos e em contrapartida podem promover o crescimento da planta hospedeira por meio de diversos mecanismos. Esses mecanismos podem ser a fixação biológica de nitrogênio ou a produção de hormônios de plantas (auxina, giberelina e citocinina), o que estimula a ramificação da raiz, aumentando a biomassa da parte aérea e da raiz melhorando a absorção de minerais e resultando em maior resistência da planta (SCUDELETTI, 2016). Veja alguns exemplos de resultados importantes sobre o potencial do uso dos inoculantes nas culturas mais produzidas no Brasil. Cultura da soja Na cultura da soja, o uso de inoculantes substitui totalmente o uso de fertilizantes nitrogenados. Calcula-se que a FBN gere uma economia anual de US$ 13 bilhões pela substituição do uso de fertilizantes nitrogenados (REVISTA ATTALEA AGRONEGÓCIO, 2019). É importante ressaltar que em plantas não leguminosas a fixação do nitrogênio ocorre por bactérias diazotróficas em raízes, colmos e folhas de cereais, como trigo, milho, arroz, forrageiras, cana-de-açúcar, entre outras (COSTA, 2014). Módulo 3 – Inoculante em outras culturas 71 Cultura do feijão Na cultura do feijão, com a qual se tem procurado popularizar o uso dos inoculantes com rizóbios adaptados às nossas variedades e condições ambientais, é possível reduzir em mais de 50% a quantidade de fertilizantes, dobrar o seu rendimento proporcionando uma economia estimada em US$ 240 milhões por ano (COOPAVEL, 2019). Culturas de milho e trigo No milho e no trigo, culturas não leguminosas, com a utilização de inoculantes contendo as bactérias Azospirillum, podem reduzir em até 30% a aplicação de fertilizantes, trazendo uma economia de US$ 2 bilhões a cada safra (GLOBO RURAL, 2019). Culturas da lentilha e ervilha Nas culturas da lentilha e ervilha, a Embrapa Cerrados selecionou e lançou estirpes de rizóbio adaptadas às condições de cerrado, capazes de substituir 100% o adubo nitrogenado (MENDES et al., 2010). Cana-de-açúcar Em cana-de-açúcar a estimativa de economia pelo uso do inoculante com a substituição de 50% da dose recomendada de fertilizante, representaria economia de 150.000 toneladas de nitrogênio por ano, ou ainda R$ 735 milhões, tornando os derivados da cultura (etanol e açúcar) ainda mais competitivos no mercado internacional, além de contribuir para a preservação do meio ambiente (SCUDELETTI, 2016). Módulo 3 – Inoculante em outras culturas 72 Plantios florestais Em plantios florestais, consórcios com espécies fixadoras e nitrogênio são considerados fonte alternativa de nitrogênio para a cultura de principal valor econômico, como podemos citar o caso do eucalipto, porque aumenta a produção de biomassa e sequestro de carbono, melhora a fertilidade do solo e ciclagem de nutriente e ainda protege a espécie contra doenças e pragas (COELHO, 2006). Sistemas integrados de produção Nos sistemas integrados de produção, como os silvopastoris e agroflorestais, as forrageiras e plantas de cobertura como leucenas, cornichão, ervilhaca, alfafa e mucuna e diversas outras culturas também são beneficiadas pela tecnologia da fixação biológica do nitrogênio (LISBOA, 2019). De maneira geral, podemos concluir que, para que haja certa eficiência na redução do uso de fertilizantes, não somente para o cultivo de leguminosas, mas de todas as espécies de interesse agrícola, existe a necessidade da intensificação das pesquisas de forma a serem disponibilizados inoculantes certos para cada tipo de cultura e práticas que favoreçam a fixação biológica de nitrogênio. O resultado desse processo, além de proporcionar a diminuição do consumo de fertilizantes nitrogenados, vai incentivar uma agricultura com elevados níveis de produtividade, baixos custos e baixos impactos ambientais (EMBRAPA, 2019). Módulo 3 – Inoculante em outras culturas 73 A inoculação com as bactérias fixadoras de nitrogênio pode trazer outros benefícios para as plantas, além da nutrição nitrogenada? Ainteração do inoculante com outros nutrientes do solo A resposta é sim, porque, além da fixação biológica do nitrogênio, a maioria dessas bactérias também é conhecida pela capacidade de produzir hormônios de crescimento das plantas. A produção dessas substâncias pode estimular o aumento da densidade de pelos radiculares, o aumento das raízes secundárias e da superfície radicular. Consequentemente, esse incremento radicular resulta na melhor absorção de água e nutrientes, aumentando a capacidade de a planta produzir e suportar estresses ambientais (MENDES et al., 2010). Há uma imensa diversidade de espécies de bactérias no solo que são capazes de viver livremente ou em associação com plantas, responsáveis por uma série de interferências, como a decomposição de matéria orgânica e a ciclagem de nutrientes, que podem afetar positivamente a qualidade do solo, contribuindo para uma produção agrícola sustentável. Observa-se que as culturas do milho e trigo, quando inoculadas com estirpes selecionadas de Azospirillum, além do aumento da produtividade, também proporcionam maior absorção de macronutrientes e micronutrientes pelas plantas inoculadas, além do aumento na eficiência do uso dos nutrientes disponíveis do solo (SCUDELETTI, 2016). Módulo 3 – Inoculante em outras culturas 74 A absorção dos nutrientes pela planta é influenciada por diversos fatores, entre os quais as condições climáticas (precipitações pluviométricas e temperatura), as diferenças genéticas entre as cultivares, os tratos culturais e a disponibilidade dos nutrientes no solo. O nitrogênio é o nutriente exigido em maior quantidade pela soja e é fornecido na sua maior parte pela FBN. A matéria orgânica do solo oferece os elementos essenciais às plantas, sendo eles os macronutrientes e os micronutrientes. Veja alguns exemplos de macronutrientes e micronutrientes na tabela a seguir. Macronutrientes Nitrogênio Fósforo Potássio Cálcio Magnésio Enxofre Micronutrientes Cobre Boro Ferro Manganês Molibdênio Zinco Destes, o nitrogênio é o mais limitante e problemático para sua absorção dentro do sistema produtivo. Neste sentido, conforme visto anteriormente, o uso de adubos nitrogenados foi o principal fator para o aumento da produtividade dos cereais na história. Em contrapartida, o aumento do uso desse insumo representa grande ônus energético, ecológico, financeiro e de sustentabilidade (FRANCO et al., 2003). Módulo 3 – Inoculante em outras culturas 75 Para a revista Biosoja (2019), alguns fatores podem interferir na disponibilidade do nitrogênio e esses fatores estão relacionados às atividades dos micro-organismos e à dinâmica deste nutriente nos solos. Abaixo estão relacionados os principais fatores que contribuem para maior ou menor disponibilidade do nitrogênio no solo: Fator 1 Os solos com teor de matéria orgânica possuem reserva de nitrogênio orgânico e têm disponibilidade de nitrogênio às plantas. Fator 2 As regiões com precipitação pluviométrica têm probabilidade de perdas de nitrogênio por lixiviação e disponibilidade de nitrogênio às plantas. Fator 3 As estiagens prolongadas a mineralização e a disponibilidade do nitrogênio orgânico, além de o crescimento das raízes a capacidade de absorção do nitrogênio do solo. Módulo 3 – Inoculante em outras culturas 76 O solo é um sistema bastante complexo onde ocorrem fenômenos de natureza física, química e biológica que afetam a disponibilidade dos nutrientes às plantas. A solução do solo representa a fase na qual os nutrientes estão prontamente disponíveis às plantas, ou seja, é o local onde ocorre a absorção dos nutrientes pelas raízes. Posteriormente, os nutrientes são repostos pela fase sólida do solo representada pelos componentes minerais ou inorgânicos e orgânicos (RAIJ, 1991). A disponibilidade dos nutrientes às plantas pode ser afetada por diversos fatores, entre os quais podemos destacar (REVISTA BIOSOJA, 2019): O pH do solo É um dos principais fatores do solo que afetam a disponibilidade dos nutrientes às plantas; a maior disponibilidade ocorre na faixa de pH entre 6,0 e 6,5. Matéria orgânica A matéria orgânica abrange todos os componentes orgânicos do solo e em vários estágios de decomposição ocorrendo em íntima associação com os constituintes minerais; a mineralização da matéria orgânica é a principal fonte de nitrogênio, fósforo, enxofre e boro para as plantas, disponibilizados por micro-organismos. A densidade do solo Está intimamente relacionada com a estrutura e com a textura. De maneira geral, quanto maior a densidade, mais compacto é o solo, menos definida é a sua estrutura e muito menor o volume do espaço poroso; a compactação do solo ocasiona o aumento na sua densidade, reduzindo o transporte dos nutrientes no solo. Módulo 3 – Inoculante em outras culturas 77 A textura Nos solos argilosos, ocorre maior fixação do fósforo provocando redução de sua disponibilidade para as plantas e consequentemente a do zinco; nos solos arenosos, ocorre maior lixiviação dos nutrientes aniônicos (nitrato, sulfato, molibdato e boro) e do potássio, reduzindo a sua disponibilidade para as plantas. A umidade do solo A mineralização da matéria orgânica do solo é realizada por micro- organismos e é influenciada pelas condições climáticas do ambiente; a falta de umidade retarda a mineralização, reduzindo a disponibilidade de nitrogênio, fósforo, enxofre e boro às plantas. Além disso, a água é o veículo natural para o movimento dos nutrientes no solo. As interações entre os nutrientes As interações são de natureza muito complexa e seus efeitos refletem na composição mineral das plantas. Mas como funciona essa interação dos nutrientes essenciais às plantas? Módulo 3 – Inoculante em outras culturas 78 Veja como funciona a interação dos nutrientes essenciais às plantas. Nitrogênio (N) e enxofre (S) São nutrientes fundamentais para a síntese de aminoácidos e proteínas, a falta de um desses nutrientes ocasiona desequilíbrio nutricional, resultando na redução da qualidade dos produtos agrícolas e da produtividade (PRADO, 2008). Nitrogênio (N) e potássio (K) Ajudam no processo de fixação biológica do nitrogênio, realizado pelas bactérias em simbiose com as plantas fornecendo quase todo o nitrogênio de que a planta necessita. A elevação na produtividade da soja pode ser limitada pelos baixos teores de K nos solos (BIOSOJA, 2019). Nitrogênio (N) e fósforo (P) O suprimento limitado de fósforo tem impacto negativo na fixação biológica de nitrogênio. Tanto na redução do N2 atmosférico quanto na assimilação do amônio (N-NH4) nas plantas são processos consumidores de energia. Portanto, a falta de fósforo reduz a atividade específica da nitrogenase responsável pela fixação biológica do N2 atmosférico (BIOSOJA, 2019). Potássio (K), cálcio (Ca) e magnésio (Mg) O aumento no teor de potássio acarreta diminuição dos teores de cálcio e magnésio nas plantas. Em situações extremas, pode causar redução na produtividade das culturas. É amplamente conhecido o antagonismo entre Ca e Mg na solução do solo, ou seja, o excesso de um nutriente prejudica a absorção do outro (PRADO, 2008). Módulo 3 – Inoculante em outras culturas 79 Enxofre (S) e molibdênio (Mo) Em sistemas de manejo com aporte insuficiente de molibdênio, pode ocorrer redução na fixação biológica do nitrogênio, comprometendo a produtividade da cultura (BIOSOJA, 2019). Outros fatores nutricionais ou ambientais devem ser considerados para potencializar os benefícios do uso de inoculantes nas diversas culturas. Mercante et al. (2011) destacam que quanto aos fatores nutricionais devem ser levadas em consideração as exigências das culturas pelos macro e micronutrientes, como exemplo o fósforo que é altamente requerido para a fixação biológica de nitrogênio, a qual poderá ser afetada drasticamente pela sua deficiência. Da mesma forma, a deficiênciade cálcio pode afetar o desenvolvimento da planta, o estabelecimento da bactéria e a interação planta-rizóbio. Quanto aos fatores ambientais, a elevada temperatura dos solos e o estresse hídrico são considerados extremamente significativos, pois afetam a sobrevivência das bactérias fixadoras de nitrogênio e a interação entre os macros e micronutrientes dos solos (MERCANTE et al., 2011). Módulo 3 – Inoculante em outras culturas 80 Aula 2: Fixadores de nitrogênio com espécies vegetais A interação dos fixadores de nitrogênio com espécies vegetais A fixação biológica de nitrogênio pelas plantas leguminosas pode suprir a adubação mineral dependendo da espécie e sistema de cultivo. Em culturas de espécies não leguminosas ou com sistema de baixa eficiência de fixação biológica do nitrogênio, pode ser realizado o cultivo consorciado com culturas eficientes em fixação biológica (CABALLERO, 2019). Sabe-se da importância que as leguminosas têm, graças à capacidade que a maioria das espécies possui de abastecer todas as suas necessidades de nitrogênio por meio da simbiose com bactérias do gênero Rhizobium. Esta característica não é privativa das espécies herbáceas, como o feijão ou a soja, pois, em grande parte, as florestas nativas tropicais são constituídas de leguminosas e árvores altas (30 a 40 m) com alto potencial de fixação do nitrogênio (SILVA; DÕBEREINER,1982). A interação de espécies fixadoras de nitrogênio com outras espécies apresenta resultados significativos, como pode ser observado com o plantio da leguminosa arbórea Acacia mangium em consórcio com florestas de Módulo 3 – Inoculante em outras culturas 81 eucalipto. A produtividade de madeira obtida com o consórcio foi similar à produtividade obtida com o monocultivo, em que o eucalipto recebeu adubação nitrogenada. A economia com fertilizantes foi significativa, destacando o custo menor de implantação, um aumento na produção de biomassa e diversidade de vida no solo. Outros benefícios obtidos com o uso de arbóreas leguminosas em consórcio com espécies florestais são os benefícios ecológicos, como o aumento do carbono, da fertilidade e da diversidade de micro-organismos do solo. Fica claro que sob condições de consórcio há uma maior diversidade de bactérias e fungos, que acelera a ciclagem de nutrientes do sistema, retroalimentando a floresta, que, por sua vez, cresce de forma mais eficiente (PORTAL DO AGRONEGÓCIO, 2017). Ao ser realizado o plantio consorciado de espécies florestais, as espécies envolvidas podem ser submetidas a interações ecológicas. Essas interações podem acontecer da seguinte forma: • Pela competição: que ocorre quando dois ou mais indivíduos ou populações interagem de modo que pelo menos um exerça um efeito negativo sobre o outro, por exemplo, a redução do crescimento ou mortalidade. • Pela redução competitiva: que ocorre em função de um uso mais eficiente dos recursos do ambiente, como luz, água ou nutrientes. Módulo 3 – Inoculante em outras culturas 82 • Pela facilitação: que ocorre quando uma espécie interage com a outra provocando efeito positivo na produtividade, por exemplo, quando uma espécie que fixa nitrogênio aumenta o crescimento da outra espécie que não é fixadora de nitrogênio, em virtude do aumento da disponibilidade do nutriente no sistema. Como exemplo prático da interação dos fixadores de nitrogênio com outras espécies vegetais, podem ser analisadas as exigências do feijoeiro em relação ao nitrogênio, em que estas podem ser supridas pelo processo de fixação biológica, ou seja, por meio da simbiose estabelecida com bactérias fixadoras de nitrogênio e o feijoeiro. No entanto, alguns fatores podem limitar ou diminuir a taxa de fixação, como: • a competição das bactérias fixadoras de nitrogênio com as bactérias nativas pouco eficientes e estabelecidas no solo; e • baixa adaptação às condições ambientais, como temperatura e acidez e o ciclo curto do feijoeiro (RUFINI et al., 2011). Módulo 3 – Inoculante em outras culturas 83 Esses dias o Marco, técnico do SENAR, enviou uma mensagem de áudio com informações importantes sobre a interação dos fixadores de nitrogênio com espécies vegetais. Veja o que ele disse. Dica do Técnico Olá, Natália! Espero que estejam todos bem por aí. Tenho uma informação sobre a interação dos fixadores de nitrogênio relacionada ao sistema florestal que é importante você compartilhar com todos. A introdução de espécies leguminosas em povoamentos de eucaliptos nos solos de baixa fertilidade pode aumentar a capacidade de uso dos nutrientes, uma vez que esses nutrientes são incorporados à biomassa e devolvidos ao solo via serapilheira, contribuindo com a manutenção ou restauração da fertilidade do solo e da produtividade florestal em longo prazo. Em plantios mistos de eucalipto com leguminosas arbóreas fixadoras de nitrogênio, observa-se o maior incremento na produtividade, porém é necessário analisar as interações dos plantios mistos por um período maior de tempo de forma a se verificar os possíveis efeitos da fixação biológica de nitrogênio atmosférico pela leguminosa na produtividade do eucalipto. Mesmo não havendo uma definição sobre qual é o melhor arranjo de espécies a ser utilizado, os plantios realizados com duas ou mais espécies florestais podem promover a diversificação dos produtos obtidos em uma mesma área pelo silvicultor. A interação das leguminosas arbóreas fixadoras de nitrogênio com outras espécies utilizadas em sistemas agroflorestais pode trazer vários atributos ecológicos, como, por exemplo: • o aumento da biodiversidade por meio da regeneração natural; • a rápida cobertura do solo, permitindo um melhor reabastecimento dos mananciais hídricos, uma elevada produção de biomassa vegetal e sua possível incorporação como matéria orgânica do solo; e Módulo 3 – Inoculante em outras culturas 84 • o aumento da serrapilheira capaz de suprir as outras plantas com o nitrogênio proveniente de uma fonte não poluidora. Neste sentido, a interação dessas espécies com outras espécies vegetais pode contribuir imensamente não só na melhoria das condições ambientais e do solo, como também no aumento da produtividade da cultura principal. Compartilhe essa informação e lembre-se de que em caso de dúvidas não hesite em entrar em contato comigo. Um abraço e até breve. Resultados do uso do inoculante nas lavouras As diversas pesquisas realizadas na cultura da soja confirmam que a adição de fertilizante nitrogenado não aumenta significativamente a sua produção e que a fixação biológica do nitrogênio é mais eficiente, rentável e contribui com o meio ambiente. A eficácia da adição de rizóbios às sementes de soja substitui totalmente a necessidade do uso de adubos nitrogenados nas lavouras e essa substituição contribui para a promoção de uma agricultura de baixa emissão de carbono para a atmosfera e permite a redução do custo de produção e melhora a fertilidade do solo (AGROLINK, 2014). Em se tratando da cultura do feijão, a fixação biológica do nitrogênio via utilização de inoculante é uma alternativa para a redução do uso dos adubos nitrogenados. Estudos mostram que a utilização de inoculantes eficientes do gênero Rhizobium pode melhorar a produtividade, uma vez que o rendimento de grãos foi significativamente superior, comprovando ser uma alternativa de fonte nitrogenada para a cultura do feijoeiro, dispensando a adubação de cobertura (PARIZOTTO; MARCHIORO, 2015). Módulo 3 – Inoculante em outras culturas 85 Os resultados obtidos com a inoculação do gênero Azospirillum, na cultura do milho, via sementes, via sulco de semeadura ou via aplicação foliar, comprovam o aumento da eficiência do fertilizante nitrogenado, permitindo a redução da quantidade de adubos nitrogenados utilizados na adubação de cobertura. Mão na Terra A inoculação com Azospirillum prepara a planta para o melhor aproveitamento dos nutrientes, neste sentido, o aumentoda eficiência de uso do fertilizante nitrogenado promovido pelo estímulo ao sistema de raízes é uma ferramenta a mais para a produção com maior sustentabilidade econômica e ambiental. Levando em consideração a quantidade de hectares de pastagens degradadas existentes hoje no Brasil, o processo de recuperação dessas pastagens usando a combinação de fertilizante nitrogenado e a inoculação com o gênero Azospirillum pode trazer excelentes resultados, com baixo custo para o agricultor, maior produção de biomassa e melhoria na qualidade proteica na alimentação do gado. O processo de inoculação de braquiária com Azospirillum também traz benefícios ambientais, Módulo 3 – Inoculante em outras culturas 86 favorecendo o sequestro de carbono da atmosfera pela maior produção de biomassa de forragem. O carbono absorvido pela planta é convertido em biomassa, portanto, para gerar mais biomassa, a planta retira mais carbono da atmosfera. A inoculação elimina a necessidade de uma segunda aplicação de nitrogênio contribuindo para a mitigação de gases de efeito estufa (HUNGRIA; NOGUEIRA, 2017). Cuidado ambiental Os resultados obtidos com a utilização dos inoculantes nas diversas culturas contribuem para viabilizar uma agricultura mais sustentável e com responsabilidade ambiental, sendo uma tecnologia que se encaixa perfeitamente com as metas do governo brasileiro no Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (HUNGRIA; NOGUEIRA, 2017). Chegamos ao final do Módulo 3. Lembre-se de acessar o AVA e realizar a atividade de aprendizagem obrigatória para seguir para o Módulo 4. Boa sorte! Módulo 3 – Inoculante em outras culturas 87 Atividade de aprendizagem As atividades aqui na apostila servem apenas para você ler e respondê-las com mais tranquilidade. Entretanto, você deverá acessar o AVA e resolver lá as questões. Você terá duas tentativas para realizar cada questão e só desbloqueará o próximo módulo depois que: 1. acertar as questões; ou 2. usar todas as suas tentativas. Questão 1 Sobre o potencial do uso dos inoculantes e os resultados com as culturas mais produzidas no Brasil, é correto dizer que: a) Na cultura do feijão, o uso dos inoculantes ainda não está bem popularizado portanto quase 100% dos produtores ainda utilizam fertilizantes nitrogenados para aumentar a produção. b) Para as culturas não leguminosas, como do milho e trigo, ainda não existem no mercado inoculantes que possam contribuir com a redução do uso de fertilizantes nitrogenados. c) Em cana de açúcar a economia gerada pelo uso do inoculante ainda é insignificante, o que torna os derivados da cultura como etanol e açúcar pouco competitivos no mercado internacional. Módulo 3 – Inoculante em outras culturas 88 d) Na cultura da soja, o uso de inoculantes para melhorar a fixação biológica do nitrogênio substitui totalmente o uso de fertilizantes nitrogenados gerando uma economia anual de US$ 13 bilhões. Questão 2 Para a revista Biosoja (2019), alguns fatores podem interferir na disponibilidade do nitrogênio e eles estão relacionado as atividades dos microrganismos e a dinâmica deste nutriente no solo. Sobre os fatores que contribuem para a maior ou menor disponibilidade do nitrogênio no solo podemos afirmar que: a) Os solos com maior teor de matéria orgânica possuem menor reserva de nitrogênio orgânico e disponibilizam em menor quantidade o nitrogênio às plantas. b) As regiões com maior precipitação pluviométrica tem menor perda de nitrogênio por lixiviação e maior disponibilidade de nitrogênio às plantas. c) A falta de chuva diminui a mineralização e a disponibilidade do nitrogênio orgânico, proporcionando a diminuição do crescimento das raízes e consequentemente a capacidade de absorção do nitrogênio do solo. d) Os fenômenos de natureza física, química e biológica que ocorrem nos solos não afetam a disponibilidade dos nutrientes essenciais às plantas como o nitrogênio.
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