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2017 Medidas e avaliação eM educação Física Profa. Beatriz Dittrich Schimitt Profa. Giandra Anceski Bataglion Copyright © UNIASSELVI 2017 Elaboração: Profa. Beatriz Dittrich Schimitt Profa. Giandra Anceski Bataglion Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 613.707 S335m Schimitt; Beatriz Dittrich Medidas e avaliação em educação física / Beatriz Dittrich Schimitt; Bataglion, Giandra Anceski: UNIASSELVI, 2017. 201 p. : il. ISBN 978-85-515-0069-9 1.Educação Física – Estudo e Ensino. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. III apresentação Prezado acadêmico! Este livro de estudos foi desenvolvido pelas professoras Beatriz Dittrich Schmitt e Giandra Anceski Bataglion. A professora Beatriz possui graduação no curso de Licenciatura em Educação Física, obtida pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestrado na área da Educação Física, pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro e atualmente cursa doutorado em Ciências do Movimento Humano pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A professora Giandra possui graduação no curso de Licenciatura em Educação Física e mestrado em Educação Física, ambos pela Universidade Federal de Santa Catarina. Didaticamente, este caderno será organizado em três unidades que atendem à ementa da disciplina, que preconiza que sejam apresentados conceitos básicos sobre fundamentos antropométricos e morfológicos para avaliação visando à melhoria do condicionamento físico, do rendimento e da qualidade de vida. Ao término dos estudos, espera-se que o acadêmico compreenda a importância das medidas e avaliações para a Educação Física, reconheça quais são as principais técnicas, instrumentos e testes físicos que são frequentemente utilizados pelos profissionais da área e estejam aptos a aplicá-las em sua atuação profissional. Para tanto, na Unidade 1, você aprenderá aspectos históricos e conceitos essenciais relacionados às medidas e avaliações, bem como sua aplicação prática. Na Unidade 2, o enfoque serão as técnicas e instrumentos utilizados no âmbito das medidas e avaliações na Educação Física, sobretudo, acerca das medidas antropométricas e medidas de composição corporal. Por fim, a Unidade 3 contempla assuntos relacionados aos testes de aptidão física relacionadas à saúde e ao desempenho atlético. Para tanto, serão abordados componentes como a força, a resistência, a velocidade, a potência, a flexibilidade, a agilidade, o equilíbrio e a coordenação. Bons estudos! Profa. Beatriz Dittrich Schimitt Profa. Giandra Anceski Bataglion IV UNI Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! V VI VII suMário UNIDADE 1 - CINEANTROPOMETRIA ........................................................................................... 1 TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO ÀS MEDIDAS E AVALIAÇÕES ...................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA............................................................................................. 3 3 DEFINIÇÕES: ANTROPOMETRIA E CINEANTROPOMETRIA ............................................. 5 4 APLICAÇÕES PRÁTICAS .................................................................................................................. 7 4.1 APLICAÇÕES PRÁTICAS ANTIGAS .......................................................................................... 7 4.2 APLICAÇÕES PRÁTICAS MODERNAS ..................................................................................... 8 5 OBJETIVOS DAS MEDIDAS E AVALIAÇÕES NA EDUCAÇÃO FÍSICA .............................. 12 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 15 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 17 TÓPICO 2 – CONCEITOS BÁSICOS: TESTAR, MEDIR E AVALIAR ......................................... 21 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 21 2 CONCEITOS BÁSICOS: TESTAR, MEDIR E AVALIAR ............................................................. 21 2.1 TESTAR ............................................................................................................................................. 22 2.2 MEDIR ............................................................................................................................................... 22 2.3 AVALIAR ........................................................................................................................................... 23 3 TIPOS DE TESTES ............................................................................................................................... 25 4 TIPOS DE MEDIDAS .......................................................................................................................... 26 5 TIPOS DE AVALIAÇÃO...................................................................................................................... 27 5.1 VALORES DE REFERÊNCIA PARA AVALIAÇÃO .................................................................... 28 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 31 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 33 TÓPICO 3 – SELEÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO ............................................. 37 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 37 2 QUALIDADE DO TESTE.................................................................................................................... 38 2.1 PRINCIPAIS TIPOS DE VALIDADE ............................................................................................. 40 2.1.1 Validade face ou lógica .......................................................................................................... 42 2.1.2 Validade de conteúdo .............................................................................................................42 2.1.3 Validade de constructo ........................................................................................................... 43 2.1.4 Validade concorrente .............................................................................................................. 43 2.1.5 Validade preditiva .................................................................................................................. 43 2.1.6 Recursos estatísticos ............................................................................................................... 43 2.2 PRINCIPAIS TIPOS DE REPRODUTIBILIDADE: CONSISTÊNCIA DAS MEDIDAS ......... 44 2.2.1 Teste-reteste ............................................................................................................................. 44 2.2.2 Instrumentos paralelos .......................................................................................................... 44 2.2.3 Divisão do instrumento ......................................................................................................... 45 2.3 Erros de medida ............................................................................................................................... 45 3 ASPECTOS PRÁTICOS ....................................................................................................................... 48 4 ASPECTOS PEDAGÓGICOS ............................................................................................................ 49 5 UTILIZAÇÃO DOS RESULTADOS ................................................................................................. 50 VIII 6 OUTROS ASPECTOS RELEVANTES .............................................................................................. 50 7 VISÃO GERAL ...................................................................................................................................... 51 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 53 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 54 UNIDADE 2 - TÉCNICAS E INSTRUMENTOS ............................................................................... 63 TÓPICO 1 – ALTURAS E MASSA CORPORAL ............................................................................... 65 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 65 2 ALTURAS ............................................................................................................................................... 67 2.1 INSTRUMENTO .............................................................................................................................. 69 2.2 ESTATURA........................................................................................................................................ 69 2.3 ALTURA TRONCO-CEFÁLICA ............................................................................................ 71 3 MASSA CORPORAL ........................................................................................................................... 72 3.1 INSTRUMENTO .............................................................................................................................. 72 3.2 TÉCNICAS DE MENSURAÇÃO ................................................................................................... 73 3.3 PROCEDIMENTO ........................................................................................................................... 74 4 ÍNDICE DE MASSA CORPORAL .................................................................................................... 74 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 76 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 77 TÓPICO 2 – DIÂMETROS, COMPRIMENTOS, PERÍMETROS E DOBRAS CUTÂNEAS ................................................................................................. 79 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 79 2 DIÂMETROS ......................................................................................................................................... 80 2.1 INSTRUMENTO .............................................................................................................................. 81 2.2 BIACROMIAL .................................................................................................................................. 83 2.3 BICRISTA-ILÍACA ........................................................................................................................... 84 2.4 BIEPICONDILAR DO FÊMUR ...................................................................................................... 85 2.5 BIMALEOLAR ................................................................................................................................. 85 2.6 BIEPICONDILAR DO ÚMERO ..................................................................................................... 86 2.7 BIESTILOIDE .................................................................................................................................... 87 3 COMPRIMENTOS ............................................................................................................................... 88 3.1 INSTRUMENTOS ............................................................................................................................ 89 3.2 MEMBROS INFERIORES ............................................................................................................... 90 3.3 COXA ................................................................................................................................................. 91 3.4 PERNA .............................................................................................................................................. 92 3.5 MEMBROS SUPERIORES ............................................................................................................... 92 3.6 BRAÇO .............................................................................................................................................. 93 3.7 ANTEBRAÇO ................................................................................................................................... 94 4 PERÍMETROS ....................................................................................................................................... 95 4.1 INSTRUMENTOS ............................................................................................................................ 97 4.2 COXA ................................................................................................................................................. 97 4.3 PERNA .............................................................................................................................................. 98 4.4 BRAÇO .............................................................................................................................................. 99 4.5 ANTEBRAÇO ................................................................................................................................... 100 4.6 CINTURA .......................................................................................................................................... 101 4.7 QUADRIL..........................................................................................................................................102 5 DOBRAS CUTÂNEAS ......................................................................................................................... 103 5.1 INSTRUMENTOS ............................................................................................................................ 105 5.2 DOBRA TRICIPITAL ....................................................................................................................... 105 5.3 DOBRA SUBESCAPULAR ............................................................................................................. 106 5.4 DOBRA SUPRAILÍACA ................................................................................................................. 107 IX 5.5 DOBRA ABDOMINAL ................................................................................................................... 108 5.6 AXILAR MÉDIA .............................................................................................................................. 109 5.7 COXA MÉDIA .................................................................................................................................. 110 5.8 PANTURRILHA MEDIAL ............................................................................................................. 111 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 112 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 114 TÓPICO 3 – COMPOSIÇÃO CORPORAL ......................................................................................... 117 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 117 2 MODELOS DE ANÁLISE ................................................................................................................... 118 3 FRACIONAMENTO DO PESO CORPORAL ................................................................................. 119 4 TÉCNICAS DE MEDIDA DA COMPOSIÇÃO CORPORAL ...................................................... 121 4.1 TÉCNICAS INDIRETAS ................................................................................................................. 122 4.2 TÉCNICAS DUPLAMENTE INDIRETAS .................................................................................... 124 4.3 APLICAÇÃO DE MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS ................................................................ 125 4.3.1 Análise do perímetro da cintura ........................................................................................... 125 4.3.2 Razão cintura/quadril............................................................................................................. 126 4.3.3 Índice de conicidade ............................................................................................................... 127 5 EQUAÇÕES PREDITIVAS ................................................................................................................. 127 5.1 DENSIDADE CORPORAL ............................................................................................................. 128 5.2 GORDURA RELATIVA ................................................................................................................... 129 5.3 GORDURA ABSOLUTA ................................................................................................................. 130 5.4 MASSA MAGRA ............................................................................................................................. 130 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 131 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 133 UNIDADE 3 - TESTES FÍSICOS........................................................................................................... 141 TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO À APTIDÃO FÍSICA.......................................................................... 143 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 143 2 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DOS TESTES FÍSICOS ................................................. 146 3 A IMPORTÂNCIA E OS OBJETIVOS DA AVALIAÇÃO DA APTIDÃO FÍSICA .................. 149 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 151 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 153 TÓPICO 2 – DEFINIÇÃO DAS CAPACIDADES MOTORAS RELACIONA DAS AOS COMPONENTES DA APTIDÃO FÍSICA .......................................................................................... 157 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 157 2 CONCEITOS BÁSICOS ...................................................................................................................... 159 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 164 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 165 TÓPICO 3 – DESCRIÇÃO DOS TESTES FÍSICOS .......................................................................... 169 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 169 2 DESCRIÇÃO DE TESTES FÍSICOS ................................................................................................. 171 2.1 TESTES DE RESISTÊNCIA CARDIORRESPIRATÓRIA ........................................................... 171 2.2 TESTES DE FORÇA/RESISTÊNCIA ............................................................................................. 173 2.3 TESTES DE FLEXIBILIDADE ........................................................................................................ 177 2.4 TESTES DE VELOCIDADE ............................................................................................................ 182 2.5 TESTES DE POTÊNCIA .................................................................................................................. 185 2.6 TESTES DE AGILIDADE ................................................................................................................ 187 2.7 TESTES DE EQUILÍBRIO ............................................................................................................... 188 X 3 RESULTADOS DOS TESTES FÍSICOS ........................................................................................... 190 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 193 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 195 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 199 1 UNIDADE 1 CINEANTROPOMETRIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM A partir do estudo dessa unidade, você será capaz de: • conhecer aspectos históricos sobre as medidas e avaliações; • conceituar o que é antropometria e cineantropometria; • reconhecer a importância do planejamento; • compreender as principais fases do planejamento; • conhecer os objetivos das medidas e avaliações na educação física; • definir o que é testar, medir e avaliar;• diferenciar e conceituar os diferentes tipos de avaliação (diagnóstica, for- mativa, somativa); • estudar os valores de referência para avaliação (baseado por norma ou por critério); • aprender como selecionar os instrumentos de avaliação; • reconhecer a qualidade do teste (validade, reprodutibilidade e objetivida- de), aspectos práticos (viabilidade e a economia), aspectos pedagógicos (facilidade de entendimento e motivação) e a utilização dos resultados (es- pecificidade e prescrição); • estudar os tipos de validade: validade face ou de lógica, validade de con- teúdo, validade de constructo, validade concorrente e validade preditiva; • estudar a consistência das medidas: teste-reteste, instrumentos paralelos, divisão do instrumento. • estudar os diferentes tipos de erros de medida. PLANO DE ESTUDOS Essa unidade está dividida em três tópicos. No final de cada um deles você encontrará atividades que reforçarão o seu aprendizado. TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO ÀS MEDIDAS E AVALIAÇÕES TÓPICO 2 – CONCEITOS BÁSICOS: TESTAR, MEDIR E AVALIAR TÓPICO 3 – SELEÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 INTRODUÇÃO ÀS MEDIDAS E AVALIAÇÕES 1 INTRODUÇÃO Na área da Educação Física, os professores podem atuar em diferentes campos, sendo alguns deles na educação física escolar, no treinamento esportivo, nas academias e nos clubes com as mais variadas modalidades esportivas (DANTAS, 2009; OLIVEIRA, 2011). Além dessas modalidades, ainda há a possibilidade de atuação como personal trainer, com arbitragem e com pesquisas científicas. Independentemente do contexto em que o profissional opte por trabalhar, há especificidades que são comuns a todos. Em todos esses contextos de atuação, os profissionais da área devem se valer de estratégias para averiguar se a proposta de trabalho está atingindo os objetivos a que se propõem. Neste sentido, para auxiliar os profissionais em sua atuação profissional, surgem as técnicas de medidas e avaliações. Essas técnicas de medir e avaliar são historicamente antigas e, cada vez mais, têm sofrido aperfeiçoamento teórico. Esse aprofundamento teórico deu origem a dois termos distintos relacionados às medidas e avaliações: a antropometria e a cineantropometria. Essa prática tão antiga continua sendo frequentemente utilizada pelos profissionais. Ao longo do Tópico 1 será apresentada uma breve contextualização histórica sobre as medidas e avaliações, em seguida, a definição de dois termos essenciais para o estudo das medidas e avaliações: antropometria e cineantropometria. E, além disso, serão enfatizadas as diversas possibilidades de atuação prática em medidas e avaliações, tanto nas sociedades antigas como nas sociedades modernas, e também serão identificados os objetivos relacionados às medidas e avaliações de forma generalizada. 2 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA Aspectos relacionados às medidas e avaliações são historicamente antigos, ainda que com o passar dos anos as formas e os critérios de avaliação tenham se modernizado. Os registros históricos indicam que é antiga a preocupação do homem em mensurar seu corpo (FRANÇA; VÍVOLO, 1998). Essa necessidade surgiu desde os primórdios da humanidade, quando o ser humano lutava por sua sobrevivência. UNIDADE 1 | CINEANTOPOMETRIA 4 Para Velho et al. (1993), na Pré-história os homens primitivos apresentavam características corporais que os auxiliavam na sobrevivência, sobretudo baseadas no ataque e na defesa. Apesar disso, não há evidências que indiquem a existência de métodos de treinamento ou indícios de que o homem percebia “proporções” ou características corporais que lhe garantiam a sobrevivência. Na Antiguidade, na Grécia, a educação da juventude se relacionava com a preparação física e, assim, a robustez e o endurecimento do corpo eram o propósito de preparação para guerras e conquistas (MARTINS; WALTORTT, 2009). Para os autores Martins e Waltortt (2009), já é possível perceber que nesse período havia uma preocupação com as formas e as proporções corporais a fim de possibilitar vencer guerras e conquistas. Os egípcios, por exemplo, forneceram dados antropométricos curiosos, relacionados à proporção entre a parte e todo o corpo. Na antiguidade clássica há referências que ressaltavam qual era o tipo ideal para o atleta olímpico. E, com o passar dos anos, novos estudos foram desenvolvidos e deixaram em evidência a importância da antropométrica para a atividade humana (FRANÇA; VÍVOLO, 1998). Para Martins e Waltortt (2009), inicialmente, os seres humanos elaboram formas de atribuir medidas aos segmentos corporais a fim de estabelecer padrões de proporcionalidade necessários às manifestações da arte em esculturas, desenhos e pinturas. As medidas dos segmentos corporais passaram a ser vistas como um meio importante e necessário ao entendimento das diferentes características do homem, em suas diversas apresentações raciais. Foi-se percebendo que o homem realmente se diferencia entre si, enquanto indivíduo e enquanto agrupamento humano (raças, etnias, culturas), a partir da instituição da necessidade científica de mensurar e estudar os segmentos corporais (MARTINS; WALTORTT, 2009). As antigas civilizações da Índia, Grécia e Egito foram as pioneiras no uso das dimensões corporais como primeiro padrão de medida, quando então se tentava estabelecer o perfil das proporções do corpo humano (PETROSKI, 1995 apud MARTINS; WALTORTT, 2009). De acordo com Michels (2000), nos livros sagrados do Velho Testamento, no Talmude Babilônico e no Midrashin já havia referências à forma, proporções e estaturas do corpo humano. Existem alguns registros históricos que sugerem alguns períodos iniciais que impulsionaram as medidas e avaliações. QUADRO 1 – MARCOS HISTÓRICOS RELACIONADOS ÀS MEDIDAS E AVALIAÇÕES Tipo de medida Período Medidas antropométricas 1860 a 1890 Medidas de força 1880 a 1910 Medidas cardiovasculares 1900 a 1925 TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO ÀS MEDIDAS E AVALIAÇÕES 5 FONTE: As autoras Como foi visto, a preocupação dos homens mensurarem o corpo é antiga. Contudo, pode-se dizer que a antropometria e a cineantropometria foram sistematizadas há pouco tempo. E desde as utilizações iniciais de formas e proporcionalidades do corpo humano, ocorreram inúmeros avanços não só nas técnicas utilizadas para mensurar, mas também nos instrumentos criados para efetuar as mensurações do corpo humano. 3 DEFINIÇÕES: ANTROPOMETRIA E CINEANTROPOMETRIA Nesse cenário, nos deparamos com duas terminologias distintas. Há a antropometria e há a cineantropometria. A palavra “antropometria” possui origem grega. Assim, anthropo identifica “homem” e metry significa “medida”. A antropometria consiste na avaliação das dimensões físicas e da composição global do corpo humano. Velho et al. (1993) complementam que a antropometria serve para determinação objetiva dos aspectos referentes ao desenvolvimento do corpo humano, assim como para determinar as relações existentes entre físico e performance. Há outras definições da palavra, que serão apresentadas a seguir para melhor compreensão do que é antropometria. Para Michels (2000), a antropometria pode ser definida como a parte da antropologia que estuda as proporções e medidas do corpo humano. E para Martins e Waltortt (2009), a antropometria destina-se à medição dos segmentos corporais (MARTINS; WALTORTT, 2009). E a palavra “cineantropometria”, também de origem grega, deriva de kines, que significa “movimento”, anthropo, que significa homem, e metry, que significa “medida”. Esse termo possui maior amplitude conceitual e, por isso, sugere o uso da medida no estudo do tamanho, da forma, da proporcionalidade, da composição, da maturação e da função geral do corpo humano. A cineantropometria nos auxilia a entender o movimento humano no contexto de crescimento, de atividade física, exercício físico, desempenho e nutrição. Medidas de habilidade motora 1900 a 1920 Medidas sociais 1920 Medidas de habilidade esportiva específica1920 Período da avaliação 1920 Período do conhecimento 1940 Conceito de aptidão física 1940 UNIDADE 1 | CINEANTOPOMETRIA 6 Salienta-se que a antropometria é fundamental, mas a cineantropometria é mais abrangente e atual (MARTINS; WALTORTT, 2009). Assim, apresenta-se no Quadro 3 a importância dessas duas áreas de estudos. No referido quadro, as palavras grifadas em negrito representam a contribuição da antropometria para a cineantropometria. QUADRO 2 – A IMPORTÂNCIA DA ANTROPOMETRIA E DA CINEANTROPOMETRIA Identificação Especificação Aplicação Relevância Cineantropometria Para o estudo do homem: Para ajudar o entendimento: Com aplicações para: Mensuração do movimento humano Tamanho * Forma * Proporção * Composição * Maturação Função Crescimento Exercício Performance Estado nutricional Educação Medicina Governo Trabalho Esportes LEGENDA: * – representam a contribuição da antropometria para a cineantropometria. FONTE: Roos e Marfell-Jones (1991) apud Martins e Waltortt (2009) Os estudos dos aspectos físicos e morfológicos dos seres humanos são conteúdos de interesse da Educação Física, das ciências do esporte, da antropologia física, da biologia humana, da gerontologia, da ergonometria (MARTINS; WALTORTT, 2009). Então, pode-se dizer que todas essas áreas contribuíram para o aperfeiçoamento da antropometria e cineantropometria. UNI UNI A antropometria detém importância nos estudos do homem, e a partir dela é que se pode diversificar e complementar os estudos através da história. Os estudos da composição corporal são possíveis a partir de técnicas de medidas advindas da antropometria (MARTINS; WALTORTT, 2009). Atualmente, a cineantropometria é uma disciplina que compõe a grade curricular de muitos cursos de Educação Física no Brasil. Essa disciplina surgiu com o intuito de substituir as disciplinas denominadas de “antropometria” e “biometria”. TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO ÀS MEDIDAS E AVALIAÇÕES 7 4 APLICAÇÕES PRÁTICAS Em razão de as medidas e avaliações serem um recurso utilizado desde as sociedades mais antigas, é possível compreender que com o passar dos anos ocorreram diversos aperfeiçoamentos no que concerne às técnicas de medidas e suas aplicações práticas até as sociedades modernas. Por essa razão, serão apresentados alguns exemplos que ilustram aplicações práticas das medidas e avaliações tanto nas sociedades antigas como nas sociedades modernas. 4.1 APLICAÇÕES PRÁTICAS ANTIGAS Nas sociedades antigas, os dados antropométricos foram muito utilizados. Como já foi mencionado anteriormente, as proporções humanas eram utilizadas nas obras de arte (esculturas, desenhos e pinturas). Além disso, também eram utilizadas para a confecção de ferramentas e outros utensílios que auxiliassem na realização das atividades dos trabalhadores. Outro exemplo que revela o uso das medidas e avaliações foi durante a escravidão. Os compradores de escravos poderiam avaliar a estatura, o peso, entre outras características para definir qual escravo seria comprado. Essa mesma lógica poderia ser aplicada aos gladiadores, que, muitas vezes, eram comprados como escravos. Contudo, a forma de utilização mais importante relacionada às medidas e avaliações é a utilização do corpo humano como referência de medidas. Frequentemente, as sociedades antigas mediam distâncias utilizando os dedos polegares, ou a palma da mão ou as plantas dos pés. Essas unidades de medida eram denominadas de polegadas, de palmos e de pés, respectivamente. Faz-se necessário explicar que a medida denominada polegada se refere ao comprimento do dedo médio. A medida denominada palmos se refere à distância da extremidade do polegar até a extremidade do dedo mínimo com a palma da mão aberta. E a medida denominada pés se refere ao comprimento da palma do pé. Para a realização dessas três medidas mencionadas (polegadas, palmos e pés) não era necessário instrumento específico, bastava o indivíduo fazer uso de seus segmentos corporais. Um exemplo: a unidade de medida polegadas foi frequentemente utilizada pelos egípcios, entre os séculos XXXV e XXII a.C. Estimava-se que a estatura de um ser humano “ideal” deveria corresponder a 19 vezes a medida da polegada. Já para os gregos, estimava-se que a estatura de um ser humano “ideal” deveria corresponder a oito vezes a altura da cabeça do indivíduo. Essas estimativas foram elaboradas a partir de métodos de observação. UNIDADE 1 | CINEANTOPOMETRIA 8 Outro exemplo da utilização da unidade de medida com base em segmentos corporais foi para efetuar as medidas de um terreno. Para estabelecer as medidas de largura e de comprimento de um terreno era possível contabilizar a quantidade de pés necessários para percorrer as extremas do terreno. Assim, um terreno poderia medir 405 pés de largura por 300 pés de comprimento. Essas medidas eram muito utilizadas e, de certa forma, é possível utilizá- las ainda na atualidade, apesar de não ser uma prática comum no Brasil. É sabido que as unidades de medida evoluíram ao longo dos anos e, por conseguinte, instrumentos de medida foram criados para auxiliar nas medições. Na atualidade, os brasileiros utilizam unidades de medidas baseadas em centímetros (cm), metros (m) e quilômetros (km). As medidas em centímetros, metros e quilômetros podem facilmente ser transformadas em polegadas, palmos e pés, por meio do uso de um sistema equivalente. Apresentam-se na Figura 1 as unidades de medidas polegada, palmo e pé com os valores atribuídos em centímetros. FIGURA 1 – SISTEMA DE UNIDADE DE MEDIDAS: POLEGADA, PALMO E PÉ EM CENTÍMETROS Unidade de medida Centímetros (cm) 1 polegada 1,54 1 palmo 22,86 1 pé 30,48 Nos dias atuais, o tamanho da tela de uma televisão, por exemplo, continua sendo medido com base nas polegadas. Assim, há aparelhos televisores com tamanhos diversificados, sendo: 14, 32, 49 ou 85 polegadas. 4.2 APLICAÇÕES PRÁTICAS MODERNAS Nas sociedades modernas, os dados antropométricos continuam sendo muito utilizados. Às vezes, pode lhe parecer que os termos antropometria ou cineantropometria designam um conteúdo novo, com o qual você talvez não se tenha deparado antes. Contudo, vale ressaltar que possivelmente o termo lhe seja uma novidade, mas certamente você conhece muitos contextos que fazem uso frequente do conhecimento da antropometria ou cineantropometria. UNI Alguns países continuam utilizando as unidades de medida polegadas e pés. As polegadas ainda são utilizadas pelas nações anglófonas. E os pés são medidas utilizadas pelo Reino Unido e Estados Unidos da América. FONTE: As autoras TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO ÀS MEDIDAS E AVALIAÇÕES 9 Na sequência, veremos alguns exemplos onde são aplicadas as medidas e avaliações. Na Figura 2 apresenta-se o panorama geral dos exemplos que serão abordados neste subtópico. FIGURA 2 – PANORAMA GERAL DAS APLICAÇÕES PRÁTICAS MODERNAS DAS MEDIDAS E AVALIAÇÕES FONTE: As autoras → Indústria automobilística: As empresas que planejam o design interno dos automóveis fazem uso das medidas. Muitos dos automóveis são idealizados por uma empresa e posteriormente são fabricados em lojas localizadas em diferentes países. Ou seja, os automóveis são vendidos em países distintos e, assim, os compradores dos automóveis possuem diversas nacionalidades e características corporais diferentes. Por exemplo, atualmente os carros possuem ajustes de elevação de bancos, de volantes, dos cintos de segurança; além de inclinação dos espelhos e retrovisores. Todos esses aspectos foram pensados em proporcionar que os motoristas e passageiros estejam confortáveis e seguros no momento da condução do veículo. → Indústria da beleza: A indústria da beleza também se utiliza das medidas com a finalidade de lançar e definir padrões. Para ilustrar, recorre-se ao caso dos tradicionais concursos de beleza, que medem altura, peso, circunferência de quadrile de cintura das candidatas a Miss Universo ou Miss Brasil. Outra vertente dos concursos de beleza, essa tendo sua prática mais atual, são os concursos de beleza Plus Size, que privilegiam corpos de candidatas que não atendem à “ditadura” da beleza, são, portanto, corpos com características corporais contrárias à magreza. Os estereótipos das candidatas nos dois contextos de concursos de beleza são diferentes. No primeiro, de forma geral são contempladas candidatas preferencialmente com pernas longas, cintura fina e reduzido peso corporal e percentual de gordura. Já no segundo, são candidatas que apresentam cintura não tão fina e peso corporal e percentual de gordura aumentado. Atenta-se ao fato de que ao longo dos anos os padrões de beleza se modificam com as alterações da sociedade. Na Grécia antiga, devido aos ideais heroicos da época e ao culto aos deuses, os padrões de beleza cultuavam o corpo belo, forte e esbelto (inspirado nos atletas olímpicos). Já na Idade Média era considerada bela e saudável UNIDADE 1 | CINEANTOPOMETRIA 10 a mulher que possuía quadris largos, em sinal de que apresentaria facilidade durante o parto de seus filhos. → Indústria da moda: Frequentemente, as indústrias de roupas fazem uso dessas medidas antropométricas da população. Afinal, na confecção de roupas e calçados é necessário reconhecer os tamanhos (peso, altura, comprimentos dos segmentos corporais) dos possíveis consumidores desses produtos, de modo que lhes sirvam ao corpo. Por exemplo, a média de estatura da população chinesa é diferente da média brasileira e, por isso, quando as roupas dos brasileiros são importadas da China, é comum haver alterações no tamanho. Assim, se o indivíduo utiliza roupas de tamanho “Médio” fabricadas no Brasil, é possível que utilize tamanho “Grande” das roupas fabricadas na China. Mas é importante mencionar que no próprio Brasil pode haver diferenças no tamanho das roupas, a depender dos valores de referência adotados pela empresa fabricante. Isso ocorre porque, geralmente, os valores de referência utilizados são a média da população geral. É possível exemplificar esse fato ilustrando que a média da população chinesa apresenta manequins menores do que a população americana ou alemã. Isso explica porque, quando algumas pessoas viajam do Brasil para os Estados Unidos da América, percebem que há diferenças nos tamanhos das roupas e dos calçados. Para exemplificar essa questão dos valores de referências, na Figura 3 são apresentados dados sobre o estado nutricional relacionado ao perfil antropométrico da população brasileira de mulheres idosas em cada região do país. FIGURA 3 – PERFIL DO ESTADO NUTRICIONAL DE MULHERES IDOSAS BRASILEIRAS EM CADA REGIÃO DO PAÍS Regiões Número Estado Nutricional (%)** Magreza Adequado Sobrepeso I Sobrepeso II e III Norte 266 9,6 43,9 33,4 13,1 Nordeste 654 11,9 50,7 26,5 10,9 Urbano 373 8,4 48,7 28,5 14,4 Rural 281 17,6 54 23,1 5,3 Sudeste 550 6,5 37,3 34,3 21,9 Urbano 292 5,7 35,2 35,8 23,3 Rural 258 11,2 50,8 24,5 13,5 Sul 488 6,1 35,5 35,1 23,3 Urbano 273 6,4 34,4 36,0 23,2 Rural 215 5,3 38,7 32,3 23,7 Centro-Oeste 291 11,6 42,6 34,4 11,4 Urbano 169 9,3 41,7 37 12,0 Rural 122 18,6 45,6 26,4 9,4 Brasil 2.249 8,4 41,4 32,0 18,2 Urbano 1.373 6,8 38,9 34,0 20,3 TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO ÀS MEDIDAS E AVALIAÇÕES 11 FONTE: Tavares; Anjos (1999) As profissões de alfaiate e costureira mostram com reverência a aplicação prática das medidas. Para confeccionar uma roupa para um indivíduo é preciso mensurar seus segmentos corporais. No caso da confecção de ternos, é necessário mensurar o comprimento e o diâmetro dos membros superiores, bem como aferir a circunferência da cintura, o comprimento e o diâmetro dos membros inferiores. → Produção de móveis: A mesma lógica se repete na indústria dos móveis. Em móveis comprados em lojas populares que não confeccionam a mobília sob medida, é comum constatar que pessoas com estatura elevada sofrem prejuízos posturais com a altura das pias de cozinha, que tendem a ser baixas. Assim, para realizar tarefas básicas para limpeza da residência, esses indivíduos se sujeitam à má postura para se ajustarem à altura da pia. Ou ainda, no caso de indivíduos com nanismo, eles precisam adaptar a residência para atender às suas necessidades diárias com base na estatura. Neste caso, os móveis prontos, muitas vezes, adotam valores de referência que não lhes atenderão. → Equipamentos eletrônicos: As aplicações práticas das medidas em equipamentos eletrônicos também são evidentes. As empresas que planejam o design externo dos telefones celulares e tablets os fabricam com opções de tamanho e teclados diferentes. Com isso, além de atender aos interesses estéticos dos compradores desses produtos, permitam que tenham opções de tamanhos menores ou maiores, que melhor se ajustem ao tamanho de suas mãos e dedos. → Ciências da saúde: É notável a aplicação prática das medidas e das avaliações na área de conhecimento das ciências da saúde. Em especial, na medicina e na educação física. Rotineiramente, os médicos utilizam as medidas e as avaliações para acompanhar o crescimento da barriga das gestantes, para acompanhar o desenvolvimento do bebê desde a barriga da mãe até os primeiros anos de vida. Já a educação física, foco de interesse principal para nós, ao longo dos anos tem se apropriado das medidas e avaliações de modo que sua aplicação se tornou fundamental não só no contexto escolar, mas também no esporte de participação e esporte de alto rendimento, portanto, é fundamental aos profissionais da área reunir informações sobre medidas e avaliações. Rural 876 13,7 50,0 25,3 11,0 * IMC - Kg/m² ** Magreza (todas as formas - IMC < 18,5); adequado (18,5 < IMC < 25,0); sobrepeso I (25,0 < IMC < 30,0); sobrepeso II e III (IMC > 30,0) UNIDADE 1 | CINEANTOPOMETRIA 12 Nota-se que a aplicação prática das medidas e das avaliações na educação física é abrangente. Assim, na educação física escolar utilizam-se as medidas e as avaliações para acompanhar os processos de crescimento e desenvolvimento dos alunos. Tanto nas escolas como nos clubes é possível utilizar as medidas e as avaliações para identificar possíveis talentos em determinadas modalidades esportivas, como o atletismo e a natação, pois há um ideal de corpo atlético de forma geral. Já no atletismo almejam-se atletas com pernas longas para corredores e, na natação, atletas de estatura alta e envergadura elevada são requisitos desejáveis para a otimização do desempenho na água. Já para os atletas de rugby, as exigências são diversificadas, pois procuram-se atletas velozes e outros atletas fortes de modo a cumprir as diferentes funções da modalidade. Destaca-se que essa lógica não se repete nas modalidades esportivas adaptadas para pessoas com deficiências. Nas academias, muitos aparelhos possuem regulagens que podem ser ajustadas conforme a altura, a envergadura, o comprimento de membros superiores e inferiores dos alunos matriculados. Esses ajustes são feitos para garantir maior conforto e segurança durante a execução do exercício físico realizado nos aparelhos. Em alguns esportes, como no caso das lutas, é possível utilizar características antropométricas (peso) para inserir os lutadores nas categorias da modalidade (exemplos de algumas categorias: mosca, galo, pena, leve, médio, meio pesado, pesado, entre outras). Além desses, há equipamentos esportivos que podem melhorar a performance do atleta. Isso é observado nas modalidades esportivas convencionais e nas modalidades de esportes adaptados para pessoas com deficiência. Para ilustrar exemplos de equipamentos esportivos que podem melhorar o desempenho esportivo, citam-se os ajustes possíveis às bicicletas (como a altura do banco), o tamanho da vara utilizada nos saltos do atletismo (salto com vara), a evolução das roupas utilizadas na natação. Além dessas, ressaltam-se as chuteiras e tênis, que tendem a efetuar ajustes conforme o tipode pisada do indivíduo (pisada pronada, supinada ou normal), e o tamanho e o peso da bola que, em algumas modalidades, se diferenciam para homens e mulheres. No que se refere às diferenciações entre homens e mulheres no esporte, destaca-se que há outros, como o tamanho da quadra, o tamanho do gol e a altura da rede. 5 OBJETIVOS DAS MEDIDAS E AVALIAÇÕES NA EDUCAÇÃO FÍSICA O planejamento é uma exigência que, no dia a dia, se impõe em todas as atividades humanas. Consiste na previsão inteligente e bem calculada de todas as etapas do trabalho, de modo a tornar as medidas e avaliações seguras, econômicas e eficientes (CARVALHO, 1984; NÉRECI, 1989; NÉRECI, 1993). TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO ÀS MEDIDAS E AVALIAÇÕES 13 Existem algumas questões gerais que podem ser inseridas no planejamento, a saber: → O que deve ser verificado e avaliado? → Para que serão utilizadas essas informações? → Quais meios de avaliação estão à disposição? → Quais são os meios mais econômicos? → Será necessário auxílio externo? → Como será feita a análise dos resultados? Todas essas questões são válidas para reforçar a importância de um bom planejamento. Além disso, os objetivos também se relacionam diretamente com o planejamento. Entre eles destaca-se o interesse em conduzir os alunos para os objetivos desejados e planejar as atividades conforme as características dos alunos (NÉRECI, 1993). Há duas fases iniciais importantes para a realização do planejamento, a saber: conhecer o público-alvo e estabelecer os objetivos (Figura 4). FIGURA 4 – FASES INICIAIS IMPORTANTES PARA A REALIZAÇÃO DO PLANEJAMENTO FONTE: As autoras Para a elaboração do planejamento, primeiramente deve-se conhecer o público-alvo com quem se trabalhará. É sabido que a educação física é uma ampla área de atuação e, assim, os alunos podem estar inseridos na escola, nas academias, nos clubes, nos locais de trabalho (ginástica laboral), nos ginásios, nas colônias de férias, nos hotéis, entre outros. O atendimento poderá ser individualizado ou coletivo. Essas informações serão necessárias para o planejamento do plano de trabalho na educação física. Para estabelecer os objetivos das medidas e avaliação na educação física, deve-se considerar os seguintes elementos: → Acompanhar o processo de crescimento e desenvolvimento dos alunos. → Avaliar o estado dos indivíduos ao iniciar um programa de exercícios. → Detectar limitações físicas, fraquezas ou deficiências. → Auxiliar o indivíduo na escolha de uma atividade física que, além de motivá-lo, possa desenvolver aptidões. FASES DO PLANEJAMENTO CONHECER O PÚBLICO-ALVO ESTABELECER OBJETIVOS UNIDADE 1 | CINEANTOPOMETRIA 14 Além disso, os objetivos das medidas e avaliação permitem ao profissional unir os estudantes em grupos de instrução ou de treinamentos de acordo com suas habilidades, a fim de localizar e nivelar a turma. Também servem para estimular e motivar os alunos que podem receber a avaliação de seu desempenho. E, ainda, justificar as ações realizadas durante o programa de treinamento. Os objetivos das medidas e da avaliação também são importantes para evitar lesões do aluno/atleta, ao escolher corretamente qual será a atividade a ser executada, bem como ajustar corretamente os aparelhos utilizados, evitando prejuízos à saúde do indivíduo. Um exemplo fácil de perceber é ajustar a altura do banco da bicicleta de modo que se vise evitar a lesão no joelho. → Acompanhar o progresso do indivíduo. → Desenvolver programas de promoção da saúde na escola. → Selecionar talentos para integrar equipes de competição. → Estabelecer e reajustar programa de treinamento. → Desenvolver pesquisas na área da educação física. UNI Ter clareza dos objetivos é extremamente importante durante todo o processo de medidas e avaliações. Se os profissionais têm claro quais são seus objetivos, torna-se possível elaborar estratégias para alcançá-los de fato. 15 Nesse tópico você viu que: • O interesse dos seres humanos por medidas antropométricas é antigo, mas ao longo dos anos se modernizou. • O termo “antropometria” (origem grega) quer dizer: anthropo identifica “homem” e metry significa “medida”. • O termo “cineantropometria” (origem grega) quer dizer: kines significa “movimento”, anthropo significa homem e metry significa “medida”. • Inicialmente, as medidas antropométricas eram utilizadas em esculturas, desenhos e pinturas, de modo a representar as características dos seres humanos. • A partir dos dados antropométricos foi possível constatar que as características de um indivíduo variam quando comparadas com ele mesmo ou com indivíduos de outros sexos, raças, etnias e culturas. • Percebeu-se que há inúmeras possibilidades de aplicações práticas relacionadas às medidas e avaliações. • Atualmente, os dados antropométricos são muito utilizados pelas sociedades modernas, por exemplo, a indústria da moda na produção de roupas e calçados. • Geralmente, os valores de referência utilizados pela indústria da moda são a média da população geral. Acrescenta-se que cada população (etnia, nacionalidade etc) possui suas próprias medidas. • Assimilar a aplicação prática das medidas e das avaliações. • A educação física utiliza as medidas e avaliações nos seus variados contextos (esporte na escola, esporte de participação e esporte de alto rendimento) e nas atividades físicas em geral. • Os profissionais devem se valer de planejamento a fim de tornar as medidas e avaliações seguras, econômicas e eficientes. • As duas fases iniciais importantes para a realização do planejamento são: conhecer o público-alvo e estabelecer os objetivos desejados. • Conhecer o público-alvo com quem se trabalhará implica identificar o contexto em que se atua (escola, academia etc.) e reconhecer as características peculiares dos alunos. RESUMO DO TÓPICO 1 16 ● Os objetivos das medidas e avaliação são: acompanhar o processo de crescimento e desenvolvimento dos alunos; avaliar o estado do indivíduo ao iniciar um programa de exercícios; detectar limitações físicas; auxiliar o indivíduo na escolha de uma atividade física que, além de motivá-lo, possa desenvolver aptidões; acompanhar o progresso do indivíduo; desenvolver programas de promoção da saúde na escola; selecionar talentos para integrar equipes de competição; estabelecer e reajustar programa de treinamento; desenvolver pesquisas na educação física. 17 1 A educação física é uma área com ampla possibilidade de atuação profissional. Isso quer dizer que há inúmeros campos de atuação que podem ser ocupados. Neste sentido, cite três campos: ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________. 2 Considerando o papel das técnicas de medidas e avaliações no campo profissional da educação física, explique com suas palavras qual é a importância das técnicas de medidas e avaliações para os profissionais. ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 3 Leia atentamente as frases a seguir e marque V para aquelas que forem Verdadeiras e F para as Falsas. ( ) As técnicas de medidas e avaliação iniciaram somente durante a Primeira Guerra Mundial, a fim de fornecer melhorias e ajustes nos equipamentos dos soldados. Assim, todas as técnicas de medidas e avaliação são recentes. ( ) Ao longo de muitos anos, as técnicas de medidas e avaliação foram aperfeiçoadas. ( ) Há dois conceitos fortementeatrelados às medidas e avaliações, que são: antropometria e cineantropometria. ( ) As técnicas de medidas e avaliações auxiliam os profissionais da educação física a verificar se o plano de trabalho está atingindo os resultados esperados pelos alunos. Na sequência, assinale a alternativa correta: a) ( ) F – V – V – V. b) ( ) V – V – F – F. c) ( ) V – F – V – F. d) ( ) F – V – F – V. e) ( ) F – F – F – V. 4 No que se refere à história das medidas e avaliações, reconhece-se que são historicamente antigas, apesar de terem se modernizado ao longo dos anos. Leia atentamente as assertivas a seguir e assinale a alternativa correta. AUTOATIVIDADE 18 a) ( ) Os registros históricos não revelam a preocupação do homem em mensurar seu corpo. b) ( ) Os gregos forneceram dados antropométricos curiosos sobre a proporcionalidade entre o corpo todo e suas partes. c) ( ) Há registros que revelam que as medidas e avaliações eram usadas para caracterizar qual era o tipo ideal para o atleta olímpico. d) ( ) Atualmente, ainda não se tem certezas sobre a importância da antropometria para a atividade humana. e) ( ) As medidas e avaliações foram utilizadas pelas sociedades antigas, apesar de não serem mais utilizadas pelas sociedades modernas. 5 O planejamento é uma prática presente em todas as atividades humanas. A definição de objetivos se insere no planejamento do plano de trabalho. No que concerne ao planejamento e aos objetivos, assinale a alternativa correta: a) ( ) Cabe aos objetivos do planejamento detectar limitações físicas e selecionar talentos para integrar equipes de competição. b) ( ) O planejamento não almeja conduzir os alunos para os objetivos desejados e planejar as atividades conforme as características dos alunos. c) ( ) As fases iniciais importantes para o planejamento são: conhecer o público- alvo e conhecer os materiais disponíveis. d) ( ) Avaliar o estado dos indivíduos ao iniciar um programa de exercícios e acompanhar o processo de crescimento e desenvolvimento dos alunos deixaram de ser objetivos das medidas e avaliações na Educação Física. e) ( ) O planejamento é insuficiente para tornar as medidas e avaliações seguras, econômicas e eficientes. 6 Tendo em vista as diversas aplicações práticas das medidas e avaliações, cite pelo menos um exemplo onde as medidas e avaliações são utilizadas nas sociedades modernas, e explique-as. ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 7 A educação física se apropria das medidas e avaliações de modo que sua aplicação se tornou fundamental nas escolas, nos clubes e nas academias. No que tange às aplicações práticas das medidas e das avaliações na área de conhecimento da educação física, assinale a alternativa representa uma aplicação prática incabível para os professores e profissionais da educação física. a) ( ) Acompanhar o crescimento da barriga de gestantes durante as aulas de educação física. b) ( ) Acompanhar os processos de crescimento e desenvolvimento dos alunos durante as aulas de educação física. 19 c) ( ) Diagnosticar possíveis talentos esportivos a partir do desempenho e características que alguns alunos expressam nas aulas de educação física. d) ( ) Regular a altura do banco de um aparelho disponível na academia para obter maior conforto e segurança durante a execução do exercício físico sistematizado. e) ( ) Desenvolver e aperfeiçoar equipamentos esportivos que otimizem a performance do atleta. 20 21 TÓPICO 2 CONCEITOS BÁSICOS: TESTAR, MEDIR E AVALIAR UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A educação física é uma área do conhecimento que se preocupa em avaliar os indivíduos de modo a auxiliá-los na prática de atividades físicas. Durante um programa de intervenções ocorrerão modificações no corpo do aluno e caberá aos professores acompanhar esse processo por meio de medidas e avaliações. Portanto, os profissionais precisam tomar inúmeras decisões sobre a prescrição e orientação da prática de exercícios físicos, contudo, decidir o que e como avaliar exige conhecimentos e habilidades específicas cada vez mais complexas (GUEDES; GUEDES, 2006). Torna-se necessário, inicialmente, esclarecer alguns conceitos elementares relacionados às medidas e às avaliações. Assim, ao longo deste tópico serão explicados os significados dos termos: testar, medir e avaliar. E, ainda, apresenta-se a diferença entre esses conceitos, que, muitas vezes, são erroneamente entendidos como sinônimos. Todas essas são terminologias importantes para a compreensão dos conteúdos de medidas e avaliações na área da educação física. Além de testar, medir e avaliar, também cabe aos professores de educação física classificar os escores obtidos pelos alunos durante o processo de avaliação. Esse sistema de classificação é útil para verificar se o avaliado atinge os resultados esperados “normais”. A ideia de normalidade é ambígua e se relaciona com parâmetros de avaliação por norma ou critérios. Normalidade pode significar se o indivíduo obtém os resultados considerados desejados ou ideais (ou se está abaixo desse nível) e pode significar que “normal” são os resultados apresentados pela maioria da população. De qualquer forma, o profissional deverá considerar qual tipo de avaliação (norma ou critérios) utilizará durante o programa de intervenções que coordena. 2 CONCEITOS BÁSICOS: TESTAR, MEDIR E AVALIAR Após o entendimento em torno das possibilidades que emergem com as medidas e as avaliações, é válido adentrar em conceitos essenciais. É imprescindível estudar os termos: testar, medir e avaliar. UNIDADE 1 | CINEANTOPOMETRIA 22 FIGURA 5 - CONCEITOS ESSENCIAIS PARA OS ESTUDOS DAS MEDIDAS E AVALIAÇÕES FONTE: Adaptado de Guedes e Guedes (2006) Na sequência, vamos entender o significado de cada um desses termos. 2.1 TESTAR Significa verificar o desempenho do indivíduo mediante situações previamente organizadas e padronizadas. Essas situações padronizadas são denominadas de testes (GUEDES; GUEDES, 2006). O teste é um instrumento, procedimento ou técnica usada para se obter uma informação (medidas). É por meio dos testes que são determinados os valores numéricos das medidas. Os testes podem ocorrer por meio de escrita, observação ou performance. Alguns exemplos de testes são: teste de estatura, prova para verificar o conhecimento, teste de Cooper, testes de sentar e alcançar, entre outros de não menor importância. 2.2 MEDIR Significa descrever fenômenos do ponto de vista quantitativo (GUEDES; GUEDES, 2006). Assim, é o processo utilizado para coletar informações obtidas por um teste tomando-se por referência um sistema convencional de unidades. As medidas são o resultado obtido através da coleta realizada por um instrumento, procedimento ou técnica atribuindo-se a ela um valor numérico, e devem ser precisas e objetivas. Alguns exemplos de medidas são: a medida em centímetros da estatura do indivíduo, a nota da prova usada para medir o conhecimento ou o percurso realizado pelo aluno no teste de Cooper. TÓPICO 2 | CONCEITOS BÁSICOS: TESTAR, MEDIR E AVALIAR 23 2.3 AVALIAR Significa interpretar dados quantitativos e qualitativos a fim de obter parecer ou julgamento de valores com bases em referenciais previamente definidos (GUEDES; GUEDES, 2006). Acrescenta-se que a avaliação determina a importância ou o valor da informação coletada. Refere-se a um processo pelo qual se pode interpretar os valores de um grupo ou do próprio sujeito (GUEDES; GUEDES, 2006). A avaliação é o ponto de partida para saber o que deve ser trabalhado e, além disso, julga quanto foi eficiente o sistema de trabalho usado, classifica os testados, reflete o progresso, indica se os objetivos são ou não atingidos, indicase o sistema de ensino está sendo satisfatório. Por essa razão, diz-se que a avaliação deve refletir as metas e os objetivos do profissional e geralmente faz comparação com algum padrão (GUEDES; GUEDES, 2006). Destaca-se que a avaliação é um processo essencial na prática docente, pois fornece elementos fundamentais para o desenvolvimento de uma ação pedagógica qualificada, que permite uma reflexão contínua de suas ações, no que se refere à escolha de competências, objetivos, conteúdos e procedimentos (DARIDO; SOUZA JÚNIOR, 2007). Para exemplificar de maneira visual a aplicação desses exemplos, apresenta- se o Quadro 3. Foi criada uma situação hipotética de testes de flexibilidade aplicados a dois indivíduos (sexo masculino) diferentes que se matricularam em uma mesma academia. Assim, cuidadosamente instruídos, os professores de educação física que atuam na academia realizaram o pré-teste no primeiro dia que os alunos compareceram e, após dois meses, executaram o pós-teste. Em seguida, fez-se uma avaliação observacional comparativa entre as medidas obtidas no pré- teste e no pós-teste. IMPORTANT E Esses três termos (testar, medir e avaliar) se diferem, embora às vezes, sejam erroneamente tratados como sinônimos. Fique atento para não confundi-los! ATENCAO A principal diferença entre medida e avaliação é que a medida abrange o aspecto quantitativo e a avaliação abrange o aspecto qualitativo. UNIDADE 1 | CINEANTOPOMETRIA 24 QUADRO 3 – APLICAÇÃO PRÁTICA DOS CONCEITOS: TESTAR, MEDIR E AVALIAR Avaliados Medida Avaliação Pré-teste Pós-teste Indivíduo A 21 cm 24 cm Pré-teste < Pós-teste Indivíduo B 15 cm 13 cm Pré-teste > Pós-teste Indivíduo C 17 cm 19 cm Pré-teste < Pós-teste Indivíduo D 19 cm 18 cm Pré-teste > Pós-teste Legenda: cm – centímetros FONTE: Elaborado pelas autoras Com base no Quadro 3, acima representado, é possível identificar qual desses indivíduos possui o melhor e o pior escore obtido no teste de flexibilidade no pré-teste e no pós-teste. Assim, agora, vamos exercitar a habilidade de observação dos resultados a fim de executar uma avaliação observacional comparativa entre os indivíduos A, B, C e D. → Pré-teste – Melhor escore obtido no teste de flexibilidade: Indivíduo A = 21 centímetros. → Pré-teste – Pior escore obtido no teste de flexibilidade: Indivíduo B = 15 centímetros. → Pós-teste – Melhor escore obtido no teste de flexibilidade: Indivíduo A = 24 centímetros. → Pós-teste – Pior escore obtido no teste de flexibilidade: Indivíduo B = 13 centímetros. Outra comparação possível de realizar é avaliar os escores do mesmo indivíduo obtidos na situação de pré-teste e de pós-teste. Assim, será possível identificar qual dos indivíduos conseguiu expressivas melhoras no teste de flexibilidade durante os dois meses de academia. E, ainda, qual dos indivíduos apresentou piora no resultado do teste de flexibilidade durante os dois meses de academia. → Indivíduo A: 21 centímetros (pré-teste) → 24 centímetros (pós-teste) → Melhorou 3 centímetros. → Indivíduo B: 15 centímetros (pré-teste) → 13 centímetros (pós-teste) → Piorou 2 centímetros. → Indivíduo C: 17 centímetros (pré-teste) → 19 centímetros (pós-teste) → Melhorou 2 centímetros. → Indivíduo D: 19 centímetros (pré-teste) → 18 centímetros (pós-teste) → Piorou 1 centímetro. Aquele que apresentou mais melhoras expressivas no teste de flexibilidade durante os dois meses de academia foi o Indivíduo A. Aquele que apresentou acentuada piora no resultado do teste de flexibilidade durante os dois meses de academia foi o Indivíduo B. TÓPICO 2 | CONCEITOS BÁSICOS: TESTAR, MEDIR E AVALIAR 25 3 TIPOS DE TESTES Entre os tipos de testes diferentes, enquadram-se os testes de campo e os testes de laboratório, conforme se apresenta na Figura 6. FIGURA 6 – TIPOS DE TESTES FONTE: Elaborado pelas autoras De maneira geral, os testes de laboratório utilizam não só equipamentos especializados, mas também avaliadores especializados. Geralmente, são testes com custo mais elevado e avaliam menor quantidade de indivíduos por vez. Em contrapartida, os testes de campo se caracterizam pela fácil aplicação, bem como os equipamentos e avaliadores não carecem de elevado grau de especialização. Logo, tornam-se testes com custo reduzido. Frequentemente, os testes de campo podem ser aplicados simultaneamente em grupos de indivíduos. A depender dos objetivos, dos equipamentos, dos atributos e das variáveis a serem testados, dos locais e do valor financeiro disponível para aplicação dos testes, os profissionais poderão optar pelo uso de testes de campo ou testes de laboratório. Para melhor compreensão, apresenta-se na Figura 7 um exemplo de um teste sendo realizado no contexto laboratorial. IMPORTANT E Ao longo do livro Medidas e avaliação em educação física, além da realização da avaliação observacional, os acadêmicos receberão os recursos necessários para classificarem os resultados obtidos nos testes em: bom, excelente, médio, regular, fraco. A depender do teste aplicado e dos valores de referência existentes para o teste em questão. UNIDADE 1 | CINEANTOPOMETRIA 26 FIGURA 7 – EXEMPLO DE UM TESTE DE LABORATÓRIO Fonte: Guedes e Guedes (2006, p. 372). 4 TIPOS DE MEDIDAS Há diferentes tipos de medidas em educação física, que podem ser divididas em dois grandes grupos. No primeiro grupo enquadram-se as medidas antropométricas: massa, estatura, perímetros corporais, diâmetros ósseos e dobras cutâneas. No segundo, enquadram-se as medidas de composição corporal: utilização da espessura de dobras cutâneas, somatória de dobras cutâneas e equações preditivas de gordura corporal. Apresenta-se na Figura 8 o panorama geral sobre os tipos de medidas. IMPORTANT E Tanto os testes de campo como os testes de laboratório possuem suas vantagens e desvantagens. TÓPICO 2 | CONCEITOS BÁSICOS: TESTAR, MEDIR E AVALIAR 27 FIGURA 8 – PANORAMA GERAL DOS TIPOS DE MEDIDAS FONTE: As autoras É válido esclarecer que os tipos de medidas serão abordados com maior aprofundamento no decorrer do Caderno de Estudos da disciplina de Medidas e Avaliações na Educação Física. 5 TIPOS DE AVALIAÇÃO Na educação física, avaliar a condição física do indivíduo é fundamental. Por exemplo, pode ser útil para avaliar a evolução das capacidades físicas após um programa de intervenção. Nessa perspectiva, há três diferentes tipos de avaliação, conforme apresentado no Quadro 4. Cada um desses tipos de avaliação possui suas particularidades. E caberá ao professor escolher qual tipo de avaliação utilizará. É válido ressaltar que, caso seja do interesse do professor, é possível utilizar os tipos de avaliação de forma combinada, sem ter que escolher entre uma avaliação ou outra. QUADRO 4 – TIPOS DE AVALIAÇÃO: DIAGNÓSTICA, FORMATIVA E SOMATIVA Tipo de Avaliação Descrição Diagnóstica É a análise dos pontos fortes e fracos do indivíduo ou grupo de indivíduos, em relação a uma determinada característica (geralmente utilizada para avaliar as condições iniciais do indivíduo). Formativa É o tipo de avaliação feito continuamente ao longo do processo de ensino-aprendizagem (avalia o progresso). A partir da avaliação formativa é possível redirecionar as estratégias e as ações. UNIDADE 1 | CINEANTOPOMETRIA 28 Somativa É a soma de todas as avaliações realizadas no fim de cada unidade do planejamento, com o objetivo de obter um quadro geral da evolução do indivíduo. FONTE: Adaptado de Rojas e Barros (2003) 5.1 VALORES DE REFERÊNCIA PARA AVALIAÇÃO Na rotina dos profissionais da educação física, os processos de avaliação estão presentes. Com frequência, os profissionais enfrentam inúmeros dilemas que se fazem presentes diariamente, sobretudo nos programas de avaliação. Por isso, precisam tomar decisões de modo a verificar se o aluno avaliado apresenta os ‘resultados’ considerados “normais”. Contudo, determinar o que é “normal” ou não é uma tarefa difícil. A palavra “normal”pode possuir dois significados, distintos: → O termo “normal” pode significar a associação dos resultados obtidos com escores de corte considerados desejados ou ideais. Acrescenta-se que os escores de corte devem ser previamente estabelecidos e devem ser considerados como meta a ser alcançada. Neste sentido, o termo oposto de “normal” é rotulado como “subnormal”. → E o termo “normal” também pode ser equivalente ao que comumente ocorre. Assim, para se definir o que é “normal” se utilizam parâmetros baseados no que ocorre na maioria dos indivíduos de determinado grupo. Neste caso, o termo oposto de “normal” é rotulado como “anormal”. De qualquer forma, o processo de avaliação consiste em comparar o resultado da medida obtida com um valor de referência previamente estabelecido. Esses valores podem ser obtidos por meio de avaliação por norma ou avaliação por critério. A Figura 9 apresenta a explicação acerca de avaliação de acordo com norma ou critério. FIGURA 9 – REFERÊNCIAS DE AVALIAÇÃO DE ACORDO COM NORMA OU CRITÉRIO FONTE: Adaptado de Rojas e Barros (2003) Avaliação por norma Avaliação por critério Referência de avaliação que expressa o comportamento (distribuição) normal da variável sob análise na população. Geralmente é um valor arbitrário que representa um padrão mínimo de desempenho. TÓPICO 2 | CONCEITOS BÁSICOS: TESTAR, MEDIR E AVALIAR 29 Em outras palavras, pode-se dizer que na avaliação referenciada por norma, os escores são interpretados mediante comparações com certa norma, modelo recomendado quando se deseja comparar os resultados obtidos pelos indivíduos avaliados com grupos normativos (essas normas podem ser regionais, nacionais ou internacionais). Um exemplo clássico da avaliação por norma é comparar medidas de massa e estatura corporal de uma criança com base nos valores constantes nas curvas de crescimento Assim, é possível indicar qual é a situação da criança em relação ao crescimento esperado para sua idade e sexo (classificar se a criança atinge valores de referência “normal” ou “subnormal”). Enquanto na avaliação referenciada por critério, os escores apresentados pelos avaliados são julgados comparativamente em níveis de corte explicitamente definidos (GUEDES; GUEDES, 2006). Além disso, pode-se extrair um julgamento baseado no “sucesso” ou “fracasso” no desempenho do indivíduo. Esse pressuposto se baseia na comparação da medida observada em relação a um valor que representa um limite mínimo de desempenho. Por exemplo, comparar o desempenho de um atleta de salto em altura como índice para participar em um campeonato. Se o atleta saltar maior ou igual ao critério do índice, então está apto a ir para o campeonato. IMPORTANT E A avaliação por norma se relaciona com o conceito de normalidade oriundo da associação entre os resultados obtidos e os escores de corte considerados desejados ou ideais (classifica os indivíduos em “normal” e “subnormal”). A avaliação por critério se relaciona com o conceito de normalidade oriundo daquilo que ocorre na maioria dos indivíduos (classifica os indivíduos em “normal” e “anormal”). FONTE: Guedes e Guedes (2006) ATENCAO O professor deve planejar previamente qual o tipo de avaliação deseja utilizar em seu programa de intervenções. Geralmente, as avaliações com referência a normas são utilizadas para estimar a posição dos indivíduos avaliados em relação a outros sujeitos de idênticas características. E as avaliações com referência a critérios geralmente são utilizadas para verificar se os indivíduos avaliados alcançam níveis específicos de competência sem consideração que outros tenham atingido o mesmo nível de proficiência (GUEDES; GUEDES, 2006). UNIDADE 1 | CINEANTOPOMETRIA 30 Apresentam-se no Quadro 5 as peculiaridades da avaliação referenciada por norma e por critério. QUADRO 5 – CARACTERÍSTICAS DA AVALIAÇÃO REFERENCIADA POR NORMA E POR CRITÉRIO Avaliação por Norma Avaliação por Critério Objetivo Situar os avaliados em relação a grupos específicos. Verificar a posição dos avaliados em relação aos níveis específicos de proficiência. Análise das informações Comparação dos escores com os apresentados por outros avaliados. Comparação de escores com características ou comportamentos previamente definidos. Sistemas de referência Tabelas estatísticas (percentis, média, desvio-padrão) idealizadas com base em escores apresentados por sujeitos pertencentes a grupos específicos. Pontos de corte que traduzem características ou comportamentos específicos. Desvantagens Posição favorável em relação a um grupo não garante níveis adequados de um atributo e necessidade de averiguar a origem das tabelas normativas. Pontos de corte que traduzem características ou comportamentos específicos. Falta de motivação e perda de interesse. FONTE: Adaptado de Guedes e Guedes (2006) UNI A tomada de decisão a ser feita pelos professores depende da perspectiva de referência. 31 RESUMO DO TÓPICO 2 Nesse tópico você viu que: • Há três termos frequentemente utilizados pelos professores de Educação Física, que são: testar, medir e avaliar. É imprescindível compreender cada um deles individualmente. • Os termos testar, medir e avaliar não são sinônimos e constantemente são confundidos. • Testar significa verificar o desempenho do indivíduo mediante “testes” organizados previamente. Esses testes fornecem valores numéricos das medidas aos profissionais. • Medir significa descrever os valores numéricos (quantitativos) obtidos por meio dos “testes”. Esses valores (medidas) devem ser precisos e objetivos. • Avaliar significa interpretar os dados quantitativos e/ou qualitativos obtidos por meio dos “testes” baseados em sistemas de referenciais previamente definidos. • Há testes de campo e testes de laboratório, cada um com suas especificidades. • Há três diferentes tipos de avaliação, sendo: avaliação diagnóstica, formativa e somativa. • A avaliação diagnóstica avalia condições iniciais do indivíduo. • A avaliação formativa avalia o progresso do indivíduo. • Cabe ao profissional optar por qual ou quais tipos de avaliação desejará utilizar. • A avaliação somativa é o conjunto de todas as avaliações realizadas ao fim de cada unidade do planejamento. • A ideia de normalidade pode possuir significados diferentes. Pode se relacionar com os pontos de corte (classifica o avaliado em “normal” ou “subnormal”) ou se relacionar com valores que ocorrem na maioria dos avaliados (classifica o avaliado em “normal” ou “anormal”). • As avaliações podem ser referenciadas por normas ou por critérios e cada uma possui suas características próprias. É importante os professores de educação física conhecê-las e, assim, escolher qual tipo de avaliação desejarão utilizar em seus programas de intervenção. 32 • A avaliação por norma é referência de avaliação que expressa o comportamento (distribuição) normal da variável sob a análise na população. • Avaliação por critério geralmente é um valor arbitrário que representa um padrão mínimo de desempenho. 33 1 Há três termos essenciais para a compreensão das medidas e para as avaliações. Cite quais são esses três termos. Na sequência, explique cada um deles. _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 2 A compreensão de conceitos é importante para entender de forma clara as diferenças entre testar, medir e avaliar. Apesar de essas palavras possuírem significados diferentes, muitas vezes são utilizadas como sinônimos umas das outras. A partir dos conceitos de testar, medir e avaliar, correlacione as informações da Coluna 1 com aquelas da Coluna 2. AUTOATIVIDADE Coluna 1 Coluna 2 (a) Testar ( ) Descrever
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