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1578005_Unidade 01 IED PV(1) (3)

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PUC Minas Virtual • Introdução ao Estudo do Direito • 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Obs: A leitura deste texto deve ser realizada a título de complementação para a bibliografia in-
dicada 
 
 INTRODUÇÃO 
O propósito desta disciplina pode ser sintetizado como uma introdução crítica ao Direito. 
Segundo a lição de Miaille (1994, p. 15), tal objetivo é, em primeiro lugar, pedagógico, pois trata 
de convidar aquele que inicia o estudo do Direito a uma reflexão sobre aquilo que vai fazer. Ob-
servem que uma reflexão sobre o Direito não coincide com uma apresentação das regras de 
Direito. 
Dando continuidade ao ensinamento de Miaille, se introduzir é conduzir de um lugar pa-
ra outro, fazer penetrar num lugar novo, este movimento não pode ser neutro (1994, pp. 16 e 
ss.). O autor exemplifica a assertiva com uma visita a uma casa desconhecida, sob a orientação 
de um guia. Em tal visita há sempre portas que permanecem fechadas: trata-se de uma ordem 
de visita que não corresponde à lógica do edifício, pois a introdução exemplificada foi condicio-
nada por imperativos práticos e não necessariamente pela ambição de dar um verdadeiro co-
nhecimento do edifício. Logo, não há introdução ao Direito em si, lógica jurídica em si mesma, 
irrefutável. Há introduções possíveis, cada uma com a sua racionalidade, algumas vezes com o 
seu interesse e, em qualquer caso, com as suas conseqüências. Esse alerta, que deve matizar 
todo o nosso processo de ensino e aprendizagem, se torna ainda mais relevante quando se 
trata de introduzir alguém em uma ciência social aplicada como o Direito. 
O autor prossegue dizendo que a introdução ao Direito tem todas as aparências de uma 
simples familiarização com a terminologia jurídica: tudo se passa como se, a partir de definições 
dadas a priori, se entregassem ao estudante os materiais que ele ia ter para manejar, difundin-
do-se a idéia de que, no fundo, a introdução é uma coisa simples. Mas se nenhuma introdução 
é neutra, se todo o itinerário comporta a sua lógica e as suas conseqüências, esta impressão 
de um acesso imediato ao Direito corre todos os riscos de ser uma falsa impressão. Vale a pe-
na parar um pouco no limiar desse mundo novo, uma vez que está em jogo a própria qualidade 
de todo o conhecimento que daí tiraremos (1994, p. 18). 
Introdução ao Estudo do Direito 
 
Unidade 1: A universalidade do fenômeno jurídico; o Direito co-
mo objeto de conhecimento: perfil histórico 
 
Professor: Adalberto Antônio Batista Arcelo 
 PUC Minas Virtual • Introdução ao Estudo do Direito • 2 
Uma introdução crítica ao Direito deve, portanto, desvendar o caminho que pretende 
percorrer. Introduzir o Direito segundo um método científico demanda, antes da definição de 
Direito, uma indagação sobre o pensamento científico (1994, p. 20). E o pensamento jurídico-
científico é crítico por excelência, ou seja, o pensamento jurídico-científico deve promover a 
possibilidade de fazer aparecer o “invisível”. O pensamento crítico, nesse sentido, é mais do 
que o pensamento abstrato, porque é dialético. Quer dizer que o pensamento crítico-dialético 
parte da experiência de que o mundo é complexo (1994, p. 21). Nesse contexto, a realidade se 
apresenta como um processo não definitivo, pronto e acabado. 
Miaille distingue o pensamento dialético do pensamento positivista (1994, p. 22). O pri-
meiro compreende a existência contraditória do real, ao passo que o segundo se limita a des-
crever o que é visível, proporcionando um conhecimento unilateral, porque limitado à superfície 
da observação. Miaille continua dizendo que o pensamento crítico-dialético, por sua vez, encara 
o objeto de conhecimento (ou a realidade) na totalidade da sua existência, podendo fazer “apa-
recer” o que a realidade presente oculta, mas que é igualmente importante. 
A teoria crítica nas ciências sociais, segundo Miaille, reflete sobre as condições de sua 
existência e sobre a sua situação no seio da vida social, funcionando não só por si mesma, mas 
definindo as suas relações com o contexto em que surge (1994, p. 23). Nessa perspectiva a 
teoria crítica, além de descobrir os diferentes aspectos escondidos de uma realidade em movi-
mento, abre as portas para a dimensão da emancipação, refletindo sobre as condições e os 
efeitos da sua existência na vida social. Eis porque consideramos relevante a precisão do pen-
samento crítico-dialético antes de buscarmos a definição do Direito: a teoria crítica busca reen-
contrar a sua ligação com a prática, com o mundo social existente. Para Miaille, “este tipo de 
análise desbloqueia o estudo do Direito do seu isolamento, projeta-o no mundo real onde ele 
encontra o seu lugar e a sua razão de ser, e, ligando-o a todos os outros fenômenos da socie-
dade, torna-o solidário da mesma história social” (Ibidem). 
Transparece que uma introdução crítica é a iniciação a um esforço de reflexão com to-
dos os seus riscos e todas as suas aberturas. Tais riscos se potencializam quando nos damos 
conta da ambivalência do termo Direito (1994, p. 25). Ele significa simultaneamente o conjunto 
das regras que regem o comportamento dos homens em sociedade e o conhecimento que se 
pode ter dessas regras. Enquanto um conjunto de técnicas para reduzir os conflitos sociais, o 
Direito emerge, segundo o autor, como uma arte. O conhecimento que se pode ter dessa arte, 
contudo, refletirá as incertezas dessa técnica de pacificação social. Ainda assim poderíamos 
considerar o Direito uma ciência? Para Miaille a resposta é afirmativa, mas o Direito deve ser 
concebido como uma ciência aproximativa, ousaríamos dizer particular. 
A afirmação do Direito como uma arte implicitamente dominada pela ciência oculta a re-
lação entre o conhecer metodicamente o Direito e sua produção, ou seja, a relação de depen-
dência da ciência jurídica frente à produção do Direito. Essa relação de dependência é desta-
cada por Miaille em diversos aspectos, todos eles de alguma maneira funcionando para manter 
a ciência jurídica cativa das instituições, dos meios e das técnicas do mundo dos práticos (1994, 
 PUC Minas Virtual • Introdução ao Estudo do Direito • 3 
pp. 28 e ss.). A ciência do Direito deve se desvencilhar desses grilhões. Para tanto, deve-se dar 
vazão às necessidades do pensamento teórico-crítico-dialético. 
DIREITO: ORIGEM, SIGNIFICADOS E FUNÇÕES 
Segundo Ferraz Jr. (2001, p. 31), o Direito aparece para vulgo como um complicado 
mundo de contradições e coerências. Em seu nome se vêem respaldadas as crenças em uma 
sociedade ordenada, bem como emergem a revolução e a desordem. O Direito, nesse sentido, 
expressa e produz a aceitação da situação existente, embora represente também a sustentação 
moral da indignação e da rebelião. 
Uma definição rigorosa do Direito nesse contexto é muito difícil, senão impossível. Basta 
pensar num processo judicial como representativo de um grande número de símbolos e ideais 
reciprocamente incompatíveis, o que causa, apesar do pano de fundo de segurança e estabili-
dade social, uma grande sensação de desconforto para aqueles que se encontram juridicamen-
te envolvidos em uma demanda. 
Devido a toda essa ambigüidade, Ferraz Jr. busca uma tentativa de definição aproxima-
tiva do fenômeno jurídico (2001, p. 32). Para tanto, o autor retoma, através de Sebastião Cruz, 
a origem da palavra Direito em nossa cultura: as palavras jus e derectum. Ao que o autor inda-
ga sobre a convergência semântica entre as citadas palavras. 
Analisando simbolicamente as mais relevantes representações do Direito ocidental (as 
representações grega e romana), Ferraz Jr. destaca algumas diferenças: a deusa grega da jus-
tiça (Diké) segurava a balança, com dois pratos, mas sem o fiel no meio, na mão esquerda. Na 
mão direita a deusa segurava uma espada. Ela estava de pé e tinha os olhos bem abertos, de-
clarando solenemente existir o justo quando os pratos estavamem equilíbrio. Era daí que os 
gregos identificavam o justo com o Direito, significando o que era visto como igual (2001, p. 32). 
O símbolo romano, por sua vez, correspondia à deusa Iustitia. Esta segurava a balança – que 
tinha os dois pratos com o fiel bem no meio - com as duas mãos. Ela ficava de pé e tinha os 
olhos vendados, dizendo o Direito (jus) quando o fiel estava completamente vertical (2001, pp. 
32 e 33). 
Segundo Ferraz Jr., os dois sentidos mais intelectuais para os antigos eram a visão, que 
indicava a especulação, o saber puro, e a audição, que simbolizava o valorativo, as coisas prá-
ticas, a prudência, o apelo à ordem. Assim, a deusa grega conotava uma concepção mais abs-
trata, especulativa e generalizadora. A deusa romana remetia a uma concepção do Direito vol-
tada a um saber-agir, uma prudência, um equilíbrio entre a abstração e o concreto. O autor ain-
da destaca o fato de que a espada da deusa grega representava a vinculação entre conhecer o 
Direito e a força para executá-lo. 
A expressão derectum, que passou a ser a concepção hegemônica nas sociedades oci-
dentais, trouxe um sentido moral e principalmente religioso, por sua proximidade com a deifica-
 PUC Minas Virtual • Introdução ao Estudo do Direito • 4 
ção da justiça. Tal expressão se consagra ainda na Alta Idade Média, indicando o ordenamento 
jurídico ou uma norma jurídica em geral (2001, p. 33). A palavra Direito, em português, segundo 
Ferraz Jr., trouxe tanto o sentido do jus quanto o de derectum. Hoje se utiliza o termo para sig-
nificar o ordenamento vigente – p. ex.: o Direito brasileiro –, a possibilidade concedida pelo or-
denamento de agir e fazer valer uma situação – p. ex.: o meu direito -, bem como o uso moral 
da expressão – p. ex.: eu tinha direito à defesa, mas a lei não mo concedeu (2001, p. 34). 
Para Ferraz Jr., essas observações demonstram que a compreensão do Direito é acima 
de tudo problemática. Para o enfrentamento desses problemas, devemos buscar uma compre-
ensão universal do Direito. 
Compreender o Direito como um fenômeno universal, segundo Ferraz Jr., demanda a 
busca pela essência do fenômeno jurídico, o que conferiria segurança ao estudo e à ação rela-
cionados ao Direito. 
O autor continua dizendo que na tradição cultural ocidental, a concepção da língua em 
seu relacionamento com a realidade se apresenta como um relevante elemento para a busca 
de uma compreensão universalizante do Direito (2001, p. 34). Ferraz Jr. constata que tradicio-
nalmente a concepção de língua adotada pelos juristas correspondeu à teoria essencialista, em 
que a língua era considerada um instrumento que designa a realidade. Nesse contexto os con-
ceitos lingüísticos refletiriam uma presumida essência das coisas, e as palavras seriam veículos 
desses conceitos. Para a concepção essencialista deveria haver, em princípio, uma só defini-
ção válida para uma palavra. Mas Ferraz Jr. pondera que tal realismo verbal sofre muitas obje-
ções, uma vez que facilmente percebemos a plurivalência das palavras nas sociedades con-
temporâneas. O autor, contudo, considera que os teóricos do Direito geralmente têm uma visão 
conservadora da teoria da língua (2001, p. 35), sustentando a possibilidade de definições reais, 
ou seja, a idéia de que a definição de um termo deve refletir, por palavras, a coisa referida. 
Nesse panorama, observa Ferraz Jr. que “grande parte das definições (reais) do Direito, isto é, 
do fenômeno jurídico em sua “essência”, ou são demasiado genéricas e abstratas e, embora 
aparentemente universais, imprestáveis para traçar-lhe os limites (p. ex.: o Direito é a intenção 
firme e constante de dar a cada um o que é seu, não lesar os outros, realizar a justiça), ou são 
muito circunstanciadas, o que faz com que percam sua pretendida universalidade (p. ex.: o Di-
reito é o conjunto de regras dotadas de coatividade e emanadas do poder constituído)” (2001, 
pp. 35 e 36). 
A concepção convencionalista da língua, por sua vez, é aquela em que a língua é vista 
como um sistema de signos, cuja relação com a realidade é estabelecida arbitrariamente pelos 
homens. Ferraz Jr. destaca que, nessa perspectiva, o que deve ser levado em conta é o uso 
(social ou técnico) dos conceitos, que variam de acordo com o tempo e o espaço. O autor res-
salta que a caracterização de um conceito desloca-se da pretensão de se buscar a essência de 
alguma coisa para a investigação sobre os critérios vigentes no uso comum para usar uma pa-
lavra. Nesse sentido, definir um conceito não é a mesma coisa que descrever a realidade, pois 
 PUC Minas Virtual • Introdução ao Estudo do Direito • 5 
a descrição da realidade depende de como definimos o conceito e não o contrário: “a descrição 
da realidade varia conforme os usos conceituais” (2001, p. 36). 
Ferraz Jr. prossegue dizendo que o convencionalismo, ao investigar os usos lingüísticos, 
se presta basicamente a definições lexicais, ou seja, definições que se consideram verdadeiras 
se correspondentes ao uso comum da palavra em questão. Contudo, o autor salienta que nem 
sempre uma palavra se presta a uma definição desse tipo, ou porque seu uso comum é muito 
impreciso, ou porque é imprestável para uma investigação mais técnica. Daí a emergência da 
forma estipulativa de definição, onde se propõe um novo uso para as palavras, fixando-lhes 
arbitrariamente os conceitos (2001, pp. 36 e 37). 
A redefinição, por sua vez, se dá quando a estipulação, em vez de inovar totalmente, 
escolhe um dos usos comuns de dada palavra, aperfeiçoando-o. Segundo Ferraz Jr., estipula-
ções e redefinições não podem ser julgadas pelo critério da verdade, mas por sua funcionalida-
de, o que depende dos objetivos de quem define (2001, p. 37). 
Importa ainda mencionar que uma concepção convencionalista da língua exige que se 
considerem os diferentes ângulos de uma análise lingüística. Esta é composta por três níveis de 
análise: 1) análise sintática: quando se busca definir o uso do termo tendo em vista a relação 
formal dele com outros vocábulos; 2) análise semântica: quando se busca definir o uso do ter-
mo tendo em vista a relação entre ele e o objeto que comunica; 3) análise pragmática: quando 
se busca definir o uso do termo tendo em vista a relação do termo por quem e para quem o 
usa. 
Ferraz Jr. pondera que o termo Direito, em seu uso comum, é sintaticamente impreciso. 
Do ponto de vista semântico, o termo se mostra, da mesma maneira, denotativa e conotativa-
mente impreciso. Pragmaticamente, o uso do termo Direito se mostra carregado de emotivida-
de. 
Por todas essas características do uso da palavra Direito, Ferraz Jr. considera que, do 
ponto de vista da concepção convencionalista da língua, no contexto de uma introdução ao Di-
reito, o mais acertado seria a opção por uma redefinição do Direito, embora tendo a clareza de 
que qualquer definição dada ao Direito será sempre persuasiva (2001, p. 38). 
Notamos uma grande proximidade entre as ponderações de Ferraz Jr. e as de Miaille 
nesse momento de nossas reflexões. Para aquele, deve-se redefinir o significado do termo Di-
reito, buscando-se manter intacto seu valor emotivo; para este, a introdução crítica ao Direito 
revela distintas realidades, cada uma dotada de racionalidades, interesses e conseqüências 
próprias. 
Por tudo isso, consideramos que a universalidade do fenômeno jurídico se apresenta, 
hoje, caracterizada pela complexidade, pela contingência e pelo risco. Quer dizer que qualquer 
tentativa de definir o Direito atualmente esbarra em preliminares relativas a diferentes contextos 
culturais (morais, políticos, ideológicos, filosóficos). Essa constatação traz como conseqüência 
a tese de que o fenômeno jurídico é um fenômeno transdisciplinar por excelência. 
 PUC Minas Virtual • Introdução ao Estudo do Direito • 6 
Reale (2000, p.1) considera que discorrer sobre o Direito pressupõe uma noção elemen-
tar e provisória da realidade.A noção consagrada pelo uso, segundo o autor, indica que o Direi-
to remete às idéias de lei e ordem, ou seja, o Direito é vulgarmente considerado “um conjunto 
de regras obrigatórias que garante a convivência social graças ao estabelecimento de limites à 
ação de cada um de seus membros”. A raiz intuitiva do conceito de Direito evoca as idéias de 
direção, ligação e obrigatoriedade de um comportamento, que passa a ser considerado lícito. 
Nesse contexto, a palavra lei refere-se a ligação, relação, e se completa com o sentido de jus, 
que se refere a ordenação, coordenação (2000, p. 2). 
O Direito apresenta-se, assim, como um fato ou fenômeno social. Não existindo senão 
na sociedade e não podendo ser concebido fora dela. Mas Reale ressalta que só em um está-
gio bem maduro da civilização as regras jurídicas adquiriram estrutura e valor próprios, inde-
pendente das normas religiosas ou costumeiras. A partir de então o Direito, como merecedor de 
estudos autônomos, acarreta a emergência da Ciência do Direito (2000, pp. 2 e 3). 
O autor, a exemplo dos outros mestres citados, aponta a dificuldade de distinção entre 
experiência jurídica e suas estruturas lógico-normativas. Contudo, as múltiplas formas e cam-
pos de interesse do Direito, como fato social e histórico, não seriam suficientes para suprimir a 
autonomia da experiência jurídica. 
Reale sustenta uma visão unitária e panorâmica dos diversos campos em que se des-
dobra a conduta humana segundo regras jurídicas (2000, p. 3). Nesse contexto encontramos a 
busca por uma visão sistêmica do Direito, que se propõe conceber o Direito como um todo, an-
tes de examiná-lo em suas partes especiais. 
O autor divide o Direito, primeiramente, em duas grandes classes: o Direito Privado e o 
Direito Público (2000, p. 4). Segundo Reale, as relações que se referem ao Estado e traduzem 
o predomínio do interesse coletivo são chamadas relações de Direito Público. As relações de 
Direito Privado, por sua vez, seriam as concernentes aos particulares, p. ex. entre quem compra 
e quem vende determinado bem. Estas relações não interessariam de maneira direta ao Esta-
do. 
Essas classes, segundo Reale, se subdividem em vários outros ramos. No campo do Di-
reito Público poderíamos exemplificar com o Direito Constitucional e o Direito Administrativo; no 
campo do Direito Privado com o Direito Civil e o Direito Comercial. O Direito seria um conjunto 
de estudos discriminados, abrangendo um tronco com vários ramos, em que cada ramo seria 
considerado uma disciplina (2000, p. 4). Mas Reale constata que, apesar da multiplicidade das 
disciplinas jurídicas, é necessário apreciá-las no seu conjunto unitário, para que não se pense 
que cada uma delas existe independentemente das outras (2000, p. 6). 
 PUC Minas Virtual • Introdução ao Estudo do Direito • 7 
O PROBLEMA DOS DIFERENTES ENFOQUES TEÓRICOS: ZETÉTI CO E DOGMÁ-
TICO 
Segundo Ferraz Jr., redefinir o Direito é um problema de natureza teórica, mas também 
prática (2001, p. 39), posto que a proposta de um conceito envolve seu conhecimento, tendo 
este repercussão na própria vida jurídica. Isso porque o objeto de estudo do jurista é um resul-
tado que só existe e se realiza numa prática interpretativa. 
No contexto de uma concepção convencionalista da língua, o jurista tem suas definições 
guiadas por critérios de utilidade teórica e de conveniência para a comunicação. Há, de acordo 
com o autor, uma combinação entre o sentido informativo – linguagem utilizada para descrever 
certo estado das coisas – e o diretivo – linguagem utilizada para dirigir o comportamento de 
alguém (2001, p. 39). 
Para aprofundar um pouco mais a reflexão sobre a função informativa e diretiva da teo-
ria do Direito, Ferraz Jr. se reporta ao autor alemão Viehweg, que distingue os enfoques teóri-
cos do Direito em zetético e dogmático. Ferraz Jr. prossegue sustentando que toda investiga-
ção científica está sempre às voltas com perguntas e respostas (2001, p. 40). Tem-se, a partir 
dessa constatação, duas possibilidades de proceder à investigação de um problema: 1) quando 
se acentua o aspecto pergunta, os conceitos básicos, as premissas, os princípios ficam abertos 
à dúvida. Os elementos que serviriam para delimitar o horizonte dos problemas a serem tema-
tizados ampliam esse horizonte, problematizando-o; 2) quando se acentua o aspecto resposta, 
determinados elementos são, de antemão, subtraídos à dúvida, assumidos como insubstituí-
veis, absolutos. O enfoque zetético representa a ênfase ao aspecto pergunta, e o dogmático 
enfatiza o aspecto resposta. 
Ferraz Jr. considera que, embora entre ambos não haja uma linha divisória radical, pois 
toda investigação, apesar da ênfase, traz os dois aspectos, há uma diferença importante entre 
esses enfoques. As questões zetéticas têm uma função especulativa explícita e são infinitas. As 
questões dogmáticas têm uma função diretiva explícita e são finitas. O enfoque zetético temati-
za um problema qualquer como um ser (que é algo?), visando saber o que é uma coisa. O en-
foque dogmático tematiza um problema como um dever-ser (como deve ser algo?), preocupan-
do-se em possibilitar uma decisão e orientar a ação (2001, p. 41). O enfoque zetético se revela 
como um saber especulativo, sem compromissos imediatos com a ação; predomina, nesta a-
bordagem, a função informativa da linguagem. O dogmático se volta para a orientação da ação; 
nesta abordagem a função informativa combina-se com a diretiva, sendo esta tida como mais 
importante. 
O autor esclarece que o questionamento aberto, que faz dos problemas zetéticos ques-
tões infinitas, não significa que não haja pontos de partida estabelecidos de investigação. A 
abordagem zetética parte da premissa de que o fenômeno jurídico é um fenômeno social. A 
abordagem dogmática, por sua vez, está adstrita ao fenômeno jurídico, mas este sofre uma 
 PUC Minas Virtual • Introdução ao Estudo do Direito • 8 
drástica redução, posto que não mais será considerado um fenômeno social complexo, mas 
simplesmente o ordenamento jurídico vigente (2001, pp. 42 e 43). 
Ferraz Jr. salienta que o fenômeno jurídico, com toda a sua complexidade, admite tanto 
o enfoque zetético quanto o dogmático em sua investigação. Das várias ciências que tomam o 
fenômeno jurídico por objeto, enfatizam-se diferentes enfoques teóricos. 
O campo das investigações zetéticas do fenômeno jurídico, segundo o autor, é bastante 
amplo. Consideram-se zetéticas as investigações que têm como objeto o Direito no âmbito da 
Sociologia, da Antropologia, da Psicologia, da História, da Filosofia, da Ciência Política etc. Es-
sas disciplinas gerais admitem, no âmbito de suas preocupações, um espaço para o fenômeno 
jurídico, gerando a Sociologia Jurídica, a Filosofia do Direito, a Psicologia Forense, a História do 
Direito etc. (2001, p. 44). O autor destaca que, para o estudante, o caráter zetético de todas 
essas disciplinas mostra-se relevante para que o estudo do fenômeno jurídico seja feito sem 
compromissos com os dogmas socialmente vinculantes (2001, p. 46). Na introdução ao Direito 
busca-se conhecer o Direito (como é o Direito?), antes de uma tomada de decisão que oriente a 
ação do estudante (como deve ser entendido o Direito?). 
Ferraz Jr. conclui que a zetética jurídica corresponde às disciplinas que, tendo por objeto 
não apenas o Direito, podem tomá-lo como um de seus objetos precípuos. O jurista ocupar-se-
ia complementarmente dessas disciplinas, tidas como auxiliares da ciência jurídica em sentido 
estrito (2001, p. 47). 
Consideram-se disciplinas dogmáticas, no estudo do Direito, a Ciência do Direito Civil, 
Comercial, Constitucional, Processual, Penal, Tributário, Administrativo, Internacional, Econô-
mico, do Trabalho etc. (2001, pp. 47 e 48). Disciplinas dogmáticas, como já destacado, são a-
quelas que consideram certas premissas, resultantes de uma decisão, como vinculantes para o 
estudo.Tais disciplinas, tratando de questões finitas, se regem pelo princípio da inegabilidade 
dos pontos de partida, ou seja, partem de pontos incontornáveis, como o princípio da legalida-
de, balizador do Direito moderno. Essa característica explica que os juristas, em termos de es-
tudo estrito do Direito, procurem sempre compreendê-lo e torná-lo aplicável dentro dos marcos 
da ordem vigente. Essa ordem, que os juristas acatam, vem à tona como um dado insuprimível, 
uma limitação para a investigação jurídica. Ferraz Jr. considera que, se o jurista se vale também 
da pesquisa zetética, em sua perspectiva deve preponderar o aspecto dogmático. 
O enfoque dogmático, preponderante na Ciência do Direito contemporânea, é justificado 
pelo autor através da dupla abstração que permeia a análise dogmática do Direito: Se não exis-
te sociedade sem dogmas, sem pontos fixos de referência, toda comunidade elabora suas nor-
mas que, por sua vez, exigem regras de interpretação para suprimir sua ambigüidade e vague-
za. Assim o objeto do conhecimento jurídico-dogmático é essa dupla abstração, que corre o 
permanente risco de distanciamento da própria realidade social (2001, p. 49). 
Ferraz Jr. pondera que a Ciência do Direito, regida pelo princípio básico da dogmática 
jurídica, ou seja, pelo princípio da inegabilidade dos pontos de partida, não deve ser considera-
 PUC Minas Virtual • Introdução ao Estudo do Direito • 9 
da uma prisão para o espírito, mas um aumento da liberdade no trato com a experiência norma-
tiva (2001, p. 49). O jurista, ao se obrigar aos dogmas, parte deles, mas dando-lhes um sentido. 
A função da dogmática jurídica, nessa perspectiva, é a interpretação que, por sua vez, tem a 
função de permanentemente recriar o Direito através de um âmbito de disponibilidade significa-
tiva. O jurista, através da dogmática jurídica, retoma a incerteza primitiva (aparentemente su-
primida pela mesma dogmática jurídica), ampliando-a, mas de modo controlado, até um deter-
minado grau de suportabilidade social, de modo que torne decidíveis os eventuais conflitos. O 
controle da ampliação da incerteza pela dogmática jurídica representa, segundo o autor, duas 
exigências: a vinculação a normas e a pressão para decidir os conflitos (2001, p. 50). Ampliar 
incertezas, nesse quadro, remete à produção de dúvidas com vista à orientação da ação do 
homem em sociedade, nos quadros da ordem estabelecida. Segundo Ferraz Jr., “as incertezas 
estão referidas às incertezas construídas pela técnica dogmática, que as torna controláveis: não 
é qualquer interpretação que vale, mas apenas aquelas que resultam de uma argumentação 
conforme aos padrões dogmáticos” (2001, p. 50). 
 
ORIGENS HISTÓRICAS DA CIÊNCIA DOGMÁTICA DO DIREITO 
Ferraz Jr. noticia que nas culturas pré-modernas (p. ex. Grécia e Roma) há um melhor 
delineamento social devido à emergência do comércio e da política (2001, p. 53). Nesse contex-
to o Direito passa a representar o poder de estabelecimento do equilíbrio social. O Direito como 
ordem passa a ligar-se ao homem enquanto ser livre ou cidadão (2001, p.54). O autor prosse-
gue dizendo que o Direito, a partir de então, passa a se manifestar por meio de fórmulas pres-
critivas de validade permanente, que reconhecem certas possibilidades de escolha e participa-
ção na vida da cidade. O Direito, como ordem, perde seu caráter maniqueísta. O tratamento 
dado ao comportamento desviante encaminha-se para procedimentos decisórios regulados, 
surgindo as formas de jurisdição: juízes, partes, advogados etc. (2001, p. 54). 
Os juristas – um grupo especializado, com um papel social peculiar – emergem dessa 
progressiva procedimentalização do Direito. Segundo Ferraz Jr., começa uma separação entre 
o exercício político, econômico, religioso do poder e o exercício do poder argumentativo rela-
cionado ao Direito: é o nascimento e o desenvolvimento da arte de conhecer, elaborar e traba-
lhar o Direito. 
Contudo, a distinção entre Direito-objeto e Direito-ciência exige que o fenômeno jurídico 
alcance uma abstração maior, passando a ser concebido como um regulativo social (2001, pp. 
54 e 55). 
Ferraz Jr. aponta que uma análise histórica da dogmática jurídica tem a finalidade de i-
dentificar tanto o papel por ela desempenhado na vida social, quanto o modo pelo qual o pen-
samento dogmático gradativamente desenvolveu-se em nossa cultura (2001, p. 55). O autor 
destaca a necessidade de se buscar conhecer as teorizações jurídicas que, com o tempo, pas-
 PUC Minas Virtual • Introdução ao Estudo do Direito • 10 
saram a constituir o que atualmente chamamos de dogmática jurídica ou Ciência Dogmática do 
Direito. 
Resgatando as origens do pensamento jurídico continental europeu, o autor visita o con-
texto da Antiguidade Clássica romana, em que o Direito, uma forma cultural sagrada, represen-
tava o exercício de uma atividade ética, a prudência, virtude moral do equilíbrio e da pondera-
ção nos atos de julgar. Daí a designação Jurisprudência (2001, p. 56). O modo de teorizar o 
Direito característico dos romanos representou a forma de pensar jurisprudencial. Quer dizer 
que o saber jurídico romano era caracterizado pela fronesis (discernimento), uma virtude, espé-
cie de sabedoria e capacidade de julgar desenvolvida pelo homem prudente. Para que a frone-
sis se exercesse era necessário o desenvolvimento de uma arte no trato e no confronto de opi-
niões, proposições e idéias. Segundo Ferraz Jr., essa arte correspondia aproximadamente ao 
que Aristóteles chamava de dialética – a arte das contradições, que tinha por utilidade o exercí-
cio escolar da palavra, oferecendo um método eficiente de argumentação (2001, p. 57). 
Ferraz Jr. considera que o uso da técnica dialética no desenvolvimento do pensamento 
prudencial conduziu os romanos a um saber considerado de natureza prática (2001, p. 58). O 
Direito, alcançando um nível de abstração maior, torna-se um regulativo capaz de acolher inda-
gações a respeito de divergentes pretensões jurídicas. O Direito assume, então, a forma de um 
programa decisório, em que eram formuladas as condições para uma decisão correta: uma or-
dem reguladora dotada de validade para todos, em nome da qual se discute e se argumenta 
(2001, p. 59). A dogmática jurídica, nesse contexto, emerge como uma mediação entre a ordem 
jurídica e as decisões concretas. A interpretação do Direito, alvo máximo da dogmática jurídica 
em desenvolvimento, destacava-se do caso concreto, constituindo uma discussão com critérios 
próprios (2001, p. 60). 
O autor aponta, também, uma função política no papel mediador da dogmática jurídica, 
desempenhada pela autoridade. O jurista romano, mais do que por seu saber, era respeitado 
pela sua gravidade. Ferraz Jr. considera que a jurisprudência romana era uma confirmação, um 
fundamento do certo e do justo, ou seja, um dos instrumentos mais efetivos de preservação de 
sua comunidade, através da religião, da autoridade e da tradição (2001, p. 61). 
O advento do Cristianismo, segundo Ferraz Jr., teria sido o mais relevante marco na 
transição da cultura antiga (romana) para a cultura medieval, trazendo a distinção entre a esfera 
da política e da religião (2001, p. 61). A distinção entre o político – qualificativo do homem para 
os antigos, característica própria da vida pública – e o social – qualificativo do homem para a 
cultura medieval, em que a dignidade humana conotava um ser criado a imagem e semelhança 
de Deus – teria representado uma nova concepção de Direito, dotado de sacralidade transcen-
dente (diversamente da sacralidade imanente, caracterizadora do Direito romano). O autor a-
ponta a emergência de um novo saber prudencial, destinado a conhecer e interpretar a lei e a 
ordem de forma peculiar (2001, p. 62). Se para os romanos o Direito era um saber das coisas 
divinas e humanas, para a Idade Média os saberes eram distintos, ainda que houvesse uma 
relação de subordinação.PUC Minas Virtual • Introdução ao Estudo do Direito • 11 
A dogmaticidade, característica da ciência do Direito propriamente dita, nasce em Bolo-
nha, no século XI, com os textos escolares do ensino na Universidade (2001, p. 62). Esses tex-
tos, aceitos como a base indiscutível do Direito, foram submetidos a uma técnica de análise 
proveniente das disciplinas clássicas como a Gramática, a Retórica e a Dialética. O jurista devia 
harmonizar e sistematizar os textos, eliminando suas contradições e ambigüidades, através de 
instrumentos retóricos. 
Ferraz Jr. aponta que a teoria jurídica como ciência dogmática do Direito – ensino domi-
nado por livros que gozavam de autoridade, fontes eclesiásticas e fontes contemporâneas con-
sideradas secundárias – não suprimiu o pensamento prudencial da teoria do Direito. Apenas o 
caráter deste pensamento sofreu alterações: de casos problemáticos eles se transformaram em 
sistemas harmônicos. Em vez de se utilizar recursos como a eqüidade e a apreciação dos inte-
resses em jogo, o jurista passou a buscar princípios e regras capazes de reconstruir harmoni-
camente o corpo de textos que tinha ao alcance (2001, p. 63): a prudência se fez dogmática. 
O autor considera que a teoria do Direito medieval instaura um saber que vai servir ao 
domínio político dos príncipes, como instrumento de seu poder (2001, p. 64). A teoria do Direito, 
assim, volta a ser mais orientação para a ação e para a decisão do que manifestação de autori-
dade. Segundo Ferraz Jr., é a partir daí que se abre o caminho para uma progressiva tecniza-
ção da teoria jurídica, em termos de um instrumento político (2001, p. 64). 
A função sociopolítica do pensamento dogmático medieval, segundo Ferraz Jr., é perce-
bida na idéia do Estado racional, que vai dominar a política dos séculos seguintes. Para o autor, 
os juristas medievais auxiliam a construção do Estado Moderno ao darem fundamentação jurí-
dica às pretensões de soberania dos príncipes (2001, p. 64). A noção de soberania propicia 
uma forma de conceber o Direito a partir de um princípio centralizador, em que o respeito à lei 
deve ser algo primário nas relações de governo: os objetivos do poder são o bem comum, sen-
do este equiparado à obediência às leis que o poder prescreve (2001, p. 65). 
Ferraz Jr. considera que a partir do Renascimento o Direito vai perder progressivamente 
seu caráter sagrado. Essa dessacralização significará a correspondente tecnização do saber 
jurídico e a equivalente perda de seu caráter ético (2001, p. 65). 
A era do Direito Racional – que emerge entre 1600 e 1800 – se caracteriza pela influên-
cia dos sistemas racionais na teoria jurídica. Segundo Ferraz Jr., o humanismo renascentista 
purifica e refina o método da interpretação dos textos e, com isso, abre as portas para a entrada 
da ciência moderna na teoria jurídica (2001, p. 66). As necessidades práticas de uma sociedade 
mais complexa exigiriam soluções técnicas que estão na base do desenvolvimento das doutri-
nas jurídicas. A exigência de uma organização racional da ordem social emerge como conse-
qüência do problema moderno de como dominar tecnicamente a natureza ameaçadora. A ra-
cionalização e formalização do Direito ligam o pensamento jurídico ao pensamento sistemático. 
O pensamento sistemático representa um método em estreita conexão com o problema 
da certeza, participando do processo de autonomia da moderna teoria do conhecimento (2001, 
 PUC Minas Virtual • Introdução ao Estudo do Direito • 12 
p. 66). O sistema é considerado um mecanismo, partes ligadas e independentes umas das ou-
tras, como um organismo: um princípio comum que liga partes com partes numa totalidade, 
como ordenação (2001, p. 67). O conceito de sistema teria sido a maior contribuição à teoria 
jurídica moderna, que adota o caráter lógico-demonstrativo de um sistema fechado, cuja estru-
tura dominou e até hoje domina o universo jurídico. 
Segundo Ferraz Jr., a teoria do Direito moderno, “se de um lado quebra o elo entre a ju-
risprudência e o procedimento dogmático fundado na autoridade dos textos romanos, de outro 
não rompe com o caráter dogmático que, ao contrário, tenta aperfeiçoar ao dar-lhe uma quali-
dade de sistema que se constrói a partir de premissas, cuja validade repousa em sua generali-
dade racional” (2001, p. 68). 
A teoria jurídica transforma o conjunto de regras que compõem o Direito em regras téc-
nicas, controláveis na comparação das situações vigentes com as situações idealmente dese-
jadas. O estatuto teórico do Direito passa a representar a capacidade de reprodução artificial de 
processos naturais. O critério da teoria jurídica moderna é o critério técnico da funcionalidade 
(2001, pp. 69 e 70). 
O sentido técnico da sistemática moderna preocupa-se com a feitura de obras e o domí-
nio virtuoso de tarefas objetivadas. A teoria do Direito moderno, nesse contexto, constrói uma 
relação entre a teoria e a prática segundo o modelo da mecânica clássica: a reconstrução ra-
cional do Direito é uma espécie de física geral da socialização (2001, p. 71). Mas Ferraz Jr. a-
ponta que esse relacionamento entre a teoria e a prática acaba por fracassar à medida que, à 
teoria, falta a dimensão prática que ela só tem indiretamente. O Direito reconstruído racional-
mente não reproduz a experiência concreta do Direito na sociedade. Cria-se uma distância en-
tre a teoria e a prática (2001, p. 71). 
Ferraz Jr. destaca que essa tentativa de conceder à teoria jurídica dogmática o estatuto 
de uma ciência em sentido estrito abre uma perspectiva para sua recolocação. Enfrenta-se o 
problema de se determinar se o saber jurídico constitui ou não uma teoria científica (2001, p. 
71). 
Segundo Ferraz Jr., a fixação do Direito na forma escrita, ao mesmo tempo em que au-
menta a segurança e a precisão de seu entendimento, aguça também a consciência dos limites 
(2001, p. 72). Aumenta a disponibilidade das fontes do Direito, o que dinamiza a emergência 
das hierarquias. Estas, no início, ainda afirmam a relevância do costume, do Direito não escrito 
sobre o escrito. Essa situação se inverte com o aparecimento do Estado absolutista e com o 
desenvolvimento progressivo da concentração do poder de legislar. Nesse contexto, a percep-
ção da necessidade de regras interpretativas cresce. O autor aponta que essas transformações 
iriam culminar em duas novas condicionantes. Com a noção de soberania nacional e o princípio 
da separação dos poderes, tem-se a condicionante de natureza política; com o privilégio da lei 
como fonte do Direito e a concepção do Direito como sistema de normas postas, tem-se a con-
dicionante de natureza técnico-jurídica (2001, p. 73). 
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Com a teoria clássica da divisão dos poderes assiste-se a uma progressiva separação 
entre Política e Direito. Assim, podemos falar, em termos teóricos, da neutralização política do 
Judiciário como uma das razões para o aparecimento de uma nova forma de saber jurídico: a 
ciência do Direito do século XIX (2001, p. 73). Ferraz Jr. considera que a neutralização política 
do Judiciário acarretará o monopólio da produção jurídica pelo Legislativo, justificando-se aí o 
lugar privilegiado ocupado pela lei como fonte do Direito, o que chama a atenção para a possi-
bilidade de o Direito mudar toda vez que mudar a legislação. O autor aponta uma grande inova-
ção nesse momento, pois em todos os tempos o Direito sempre fora percebido como algo está-
vel face às mudanças do mundo (2001, p. 74). Para os romanos essa estabilidade se materiali-
zava na tradição; para os medievais na revelação divina; para os primeiros modernos na razão. 
Contudo, para a consciência social do século XIX, a mutabilidade do Direito passa a ser a usu-
al: a institucionalização da mutabilidade do Direito corresponderá ao fenômeno da positivação 
do Direito. 
Ferraz Jr. indica que a expressão positivação, em seu sentidofilosófico, indica que o Di-
reito é um conjunto de normas que valem por força de serem postas pela autoridade constituída 
e só por força de outra posição podem ser revogadas. Positivação passa a ser termo correlato 
de decisão (2001, p. 74). No sentido sociológico, positivação representa o fenômeno da cres-
cente importância da lei como fonte do Direito. O autor aponta que a redução do jurídico ao le-
gal foi crescendo durante o século XIX, até culminar no legalismo, que não foi apenas uma exi-
gência política, mas também econômica, pois com a racionalidade industrial burguesa clamava-
se respostas mais prontas do Direito. Assim, o Direito reduzido ao legal fazia crescer a disponi-
bilidade temporal sobre ele, e a validade jurídica foi sendo percebida como algo maleável e, ao 
fim, manipulável, podendo ser tecnicamente limitada e controlada (2001, pp. 74 e 75). 
Segundo Ferraz Jr., a percepção da mutabilidade teve conseqüências importantes para 
o saber jurídico. A afirmação da historicidade do Direito (como objeto e como ciência) foi uma 
clara resposta à perplexidade gerada pela positivação. Assim, se o Direito muda, ele muda his-
toricamente, o que não invalida a qualidade científica de seu conhecimento (2001, p. 76). A Es-
cola Histórica do Direito propunha que não era a lei – norma racionalmente formulada e positi-
vada pelo legislador – o objeto primeiro de ocupação do jurista, mas a convicção comum do 
povo – o espírito do povo – a fonte originária do Direito, que dá o sentido histórico ao Direito em 
constante transformação. A substituição da razão pelo fenômeno histórico se explica pela exi-
gência da dogmática jurídica de fundamentar a mutabilidade do Direito (2001, p. 78). A tarefa 
do jurista, nesse contexto, se torna tipicamente dogmática, pois circunscreve-se à teorização e 
sistematização da experiência jurídica, em termos de uma unificação construtiva dos juízos 
normativos e do esclarecimento de seus fundamentos. O ápice desse processo, já evidente em 
fins do século XIX, é o positivismo legal, com uma autolimitação do pensamento jurídico ao es-
tudo da lei positiva e ao estabelecimento da tese da estatalidade do Direito. Para Ferraz Jr., 
Esse desenvolvimento acarreta a configuração de um modo típico de pensar (dogmaticamente) 
o Direito (2001, p. 79). 
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Esse pensamento apresenta uma concepção de sistema característica, apesar da diver-
sidade de suas formas (2001, p. 79). Trata-se, primeiramente, de um sistema fechado, onde se 
exige a completude, ou seja, a ausência de lacunas. Nessa totalidade, que tende a fechar-se 
em si mesma, as lacunas (aparentes) devem sofrer uma correção através de um ato interpreta-
tivo. Esse sistema jurídico, segundo Ferraz Jr., é necessariamente a manifestação de uma uni-
dade imanente, perfeita e acabada, que a análise sistemática, realizada pela dogmática jurídica, 
explicita (2001, p. 79). A segunda característica dessa concepção é a idéia do sistema como 
um instrumento metódico do pensamento dogmático no Direito (2001, p. 80). Aqui as regras 
jurídicas são referidas a um princípio ou a um pequeno número de princípios e daí deduzidas 
através de um raciocínio jurídico que se caracteriza pelo estabelecimento tanto de uma premis-
sa maior, a qual conteria a diretiva geral genérica, quanto da premissa menor, que expressaria 
o caso concreto, sendo a conclusão a manifestação do juízo concreto ou decisão (2001, p. 80). 
 
A BUSCA DE CONVERGÊNCIAS PARA UMA DEFINIÇÃO DO DIRE ITO 
Dimoulis, reiterando o que já foi por nós e pelos autores supra citados afirmado, diz que 
não é possível dar uma definição do Direito válida para toda a humanidade e para todos os 
tempos (2003, p. 35). Qualquer definição de Direito deve, então, especificar a qual período e a 
qual ordenamento jurídico se refere, levando-se em consideração a relatividade histórica do 
fenômeno jurídico. 
Partindo de tais considerações, Dimoulis delimita a busca por uma definição do Direito 
adotando um recorte bem específico: o Direito de nossa era, comumente tido como Direito Mo-
derno, que começa a finais do século XVIII com a criação das primeiras Codificações e Consti-
tuições (2003, p. 36). 
O autor prossegue dizendo que há um elemento de definição do Direito que é tido como 
uma unanimidade entre os teóricos: o Direito é composto de normas que regulamentam o com-
portamento das pessoas na sociedade. O Direito é um conjunto de regras que indicam aquilo 
que devemos (ou não) fazer, estabelecendo um dever ser, mandamentos que devem ser segui-
dos pelos destinatários das normas jurídicas. Trata-se da característica do Direito como dever 
ser social (2003, p. 37). 
A constatação de que o Direito é um dever ser de natureza particular é outro elemento 
de convergência para se definir o Direito Moderno. O Direito se apresenta como um dever ser 
particularmente forte, posto que sua aplicação é imposta mediante a ameaça de penalidades 
que implicam, se for necessário, a utilização da violência física. O Direito é um dever ser cuja 
aplicação é garantida pela ameaça de sanções aplicáveis pelas autoridades estatais. Trata-se 
da relação intrínseca entre Direito e coerção (2003, p. 37). 
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O Direito Moderno se caracteriza também pela sua distinção da moral e dos mandamen-
tos religiosos. O Direito depende da imposição de uma autoridade política que detém o poder 
de formular mandamentos sobre os comportamentos em sociedade. Dimoulis completa dizendo 
que na atualidade o Direito respeita a autonomia do indivíduo e lhe concede amplos espaços de 
liberdade (2003, p. 38). O Direito certamente limita a conduta humana através das prescrições 
de dever ser, mas sem se interessar pelo cumprimento dos deveres morais. Segundo Dimoulis, 
“desde que os limites sejam respeitados, qualquer ação, mesmo sendo reprovável ou sem sen-
tido, é juridicamente permitida” (2003, p. 38). 
Outra característica incontornável para a definição do Direito Moderno é que ele é criado 
e aplicado pelo Estado. Trata-se da característica do monismo jurídico. 
 
DIVERGÊNCIAS IDEOLÓGICAS NAS DEFINIÇÕES 
Dimoulis observa que, apesar das convergências que possibilitam a definição do Direito 
Moderno, existem grandes divergências que não podem ser explicadas pela relatividade históri-
ca das experiências jurídicas (2003, p. 39). Essas controvérsias decorrem da carga emotiva que 
possui o termo Direito, que está vinculado às nossas idéias sobre o justo e o correto, cada um o 
utilizando conforme aquilo que considera adequado. Trata-se de uma questão de opção ideoló-
gica. 
Muitas definições tentam defender e justificar o Direito, sendo consideradas apologéti-
cas. Segundo Dimoulis, a tradição apologética, fundamentada na identificação entre Direito e 
justiça e na consideração do jurista como sacerdote, é ainda hoje exercida quando se sustenta 
que o Direito possibilita a liberdade de todos, exprimindo a melhor forma de organização social 
e ordenando as atividades humanas em conformidade com a idéia do justo, realizando o bem 
comum (2003, pp. 40 e 41). 
Dimoulis prossegue dizendo que a maior parte dos alunos e dos profissionais do Direito 
segue essa linha, afirmando que o Direito exprime a justiça, objetiva o bem comum, o bem-estar 
das pessoas ou a liberdade. Contudo, tais definições cometem um erro metodológico ao con-
fundir aquilo que o Direito é com os conteúdos que ele deveria ter segundo os desejos de quem 
o define (2003, p. 42). 
Dimoulis indica que também não faltam pensadores que consideram o Direito moderno 
um instrumento de dominação, que legitima a exploração econômica e a exclusão social. Nesse 
contexto, considera-se a aplicação do Direito uma forma seletiva em detrimento dos grupos 
socialmente vulneráveis, que contribui para a preservação dos privilégios dos poderosos, re-
produzindo a desigualdadesocial (2003, p. 42). Para o autor esse ponto de vista representa 
uma abordagem crítica, emitindo um juízo de valor negativo sobre o Direito e rejeitando a vincu-
lação entre este e a justiça. 
 PUC Minas Virtual • Introdução ao Estudo do Direito • 16 
Segundo Dimoulis, a maioria dos autores que realizam uma abordagem crítica do Direito 
recebe influências da teoria marxista e se distancia da dogmática jurídica, adotando uma abor-
dagem interdisciplinar, sensível à sociologia, à psicanálise, às correntes da filosofia política que 
criticam o poder e à visão das minorias políticas (2003, p. 43). O autor acusa nessa abordagem 
um erro metodológico: “Antes de criticar e rejeitar o Direito como manipulador, incoerente, par-
cial e opressor, é necessário conhecer o que realmente é o ordenamento jurídico” (2003, p. 43). 
A abordagem neutra, que segundo Dimoulis se apresenta como a melhor forma de defi-
nição do Direito, busca evitar as intromissões de valores e ideologias pessoais (2003, p. 44). 
Mas podemos indagar se é possível uma definição totalmente objetiva de um fenômeno contro-
verso e emotivamente denso, como o fenômeno jurídico. 
 
DEFINIÇÃO NORMATIVA 
Como destacado, dependendo da postura do autor, tem-se uma definição apologética, 
crítica ou neutra do Direito. Mas Dimoulis aponta outros critérios de definição (2003, pp. 44 e 
45), tais como: 
-A origem do Direito: pode ser oriundo do Estado ou das práticas sociais. 
-A forma do Direito: pode ser escrito (forma institucionalizada) ou costumeiro (forma decorrente 
de práticas populares). 
-O conteúdo do Direito: pode ser estável no tempo ou sofrer mudanças; pode expressar neces-
sariamente os deveres morais dos membros da sociedade ou depender da vontade política 
dominante, que pode criar normas indiferentes à moral; pode favorecer a manutenção da hi-
erarquia social e política ou objetivar a igualdade. Segundo Dimoulis, na prática os autores 
adotam variadas combinações dessas opções. 
-A garantia de aplicação de seus mandamentos: pode consistir na ameaça de exercício de 
constrangimento e até violência física em caso de descumprimento (coerção), ou no reco-
nhecimento e na aceitação por parte da população que cumpre espontaneamente os man-
damentos jurídicos (consenso). 
Dimoulis considera que, para se definir o Direito, deve-se adotar a postura neutra (2003, 
p. 46). Por tal ângulo, a origem do Direito moderno é estatal. Sua forma é quase sempre escrita. 
Seu conteúdo é mutável no tempo, decorrendo sempre da vontade política dominante em de-
terminado momento, e garante fundamentalmente a hierarquia social, apesar da existência de 
muitas normas igualitárias. Sua aplicação é garantida por uma combinação de ameaça de puni-
ção e de consenso. 
Partindo dessas considerações, o autor define o Direito das sociedades modernas como 
um conjunto de normas que objetiva regulamentar o comportamento social (2003, p. 46). Nesse 
contexto, as normas jurídicas apresentam as seguintes características: 
 PUC Minas Virtual • Introdução ao Estudo do Direito • 17 
a) são criadas, aplicadas, modificadas e extintas por autoridades que possuem competência 
para tanto. Essa competência, por sua vez, seria conferida por outras normas jurídicas, pro-
venientes da vontade política dominante que exprime o Estado; 
b) são escritas e veiculadas em publicações oficiais a cargo do Estado; 
c) objetivam a manutenção da estrutura social, mesmo se muitas vezes promovem interesses 
dos mais fracos; 
d) são geralmente respeitadas na prática, possuindo um grau satisfatório de eficácia social; 
e) sua eficácia social é garantida pela ameaça de coação, ou seja, por meio da possível imposi-
ção de sanções; 
f) são reconhecidas como vinculantes pela maioria da população, que acredita na legitimidade 
do Direito estatal. 
 
DOGMÁTICA JURÍDICA E TECNOLOGIA 
Ferraz Jr. chama a atenção para a tendência de o jurista conceber seu saber na forma 
preponderante de uma ciência dogmática (2001, p. 83). Tal constatação converge com a pro-
posta de definição normativa a partir de uma abordagem neutra. 
Ferraz Jr., ao considerar o saber jurídico mais amplo que o estrito saber dogmático, não 
deixa de reconhecer que a prevalência do Direito-ciência expressa uma construção teórica so-
bre os ordenamentos jurídicos vigentes e suas exigências práticas. A idéia de que o Direito-
objeto deste conhecimento representa um fenômeno de disciplina social, sob a forma repressi-
va e punitiva, reproduziria, segundo o autor, uma concepção de sociedade típica do século XIX 
(2001, p. 83). Tal concepção reproduziria a distinção entre sociedade civil e Estado, bem como 
a separação entre interesses econômicos e interesses políticos, entre o homem na condição de 
burguês e o homem na condição de cidadão, conforme a sociedade industrial burguesa do Es-
tado Liberal. Nesse contexto o Estado assume a função de garantidor da ordem pública e o 
Direito – estabelecido ou reconhecido pelo Estado – constitui um elenco de normas, proibições, 
obrigações e instituições que o jurista deve sistematizar e interpretar (2001, p. 83). 
Contudo, o autor aponta que as transformações e o aumento da complexidade da socie-
dade industrial alteram em parte essa situação (2001, p. 84). O Estado atual supera a função 
garantidora e repressiva, emergindo como produtor de serviços, como regulamentador da eco-
nomia e como produtor de mercadorias, formando um complexo instrumento jurídico com com-
plexas conseqüências para a vida em sociedade. A própria sociedade se apresenta mais com-
plexa, emergindo uma série de fenômenos novos, como organismos internacionais, empresas 
globais e sistemas de comunicação antes inconcebíveis. 
Ferraz Jr. aponta que, nesse contexto, o Direito se modifica, tornando-se um mecanismo 
que, antes de disciplinar e determinar sanções em caso de indisciplina, dá maior ênfase a nor-
 PUC Minas Virtual • Introdução ao Estudo do Direito • 18 
mas de organização, de condicionamentos que antecipam os comportamentos desejados, sem 
atribuir o caráter de punição às conseqüências estabelecidas ao descumprimento. Observa-se 
assim uma alteração do estatuto teórico do saber jurídico que, de saber eminentemente ético 
(prudência romana), foi atingindo as formas próximas de um saber tecnológico (2001, p. 84). 
A ciência dogmática do Direito, enquanto sistematização e interpretação do ordenamen-
to jurídico, apresenta-se antes como complexos argumentativos, e não um sistema de proposi-
ções descritivas. A ciência dogmática do Direito, nesse contexto, constitui “um corpo de fórmu-
las persuasivas que influem no comportamento dos destinatários, mas sem vinculá-los, salvo 
pelo apelo à razoabilidade e à justiça, tendo em vista a decidibilidade de possíveis conflitos 
(2001, pp. 84 e 85). Segundo Ferraz Jr., as proposições doutrinárias da ciência dogmática do 
Direito passam a tomar as formas de orientações, recomendações ou exortações. A ciência 
dogmática do Direito, exercendo funções típicas de uma tecnologia, funciona como um agente 
pedagógico que institucionaliza a tradição jurídica, e como um agente social que cria uma reali-
dade consensual a respeito do Direito. Ferraz Jr. considera que um pensamento tecnológico é, 
sobretudo, um pensamento fechado à problematização de seus pressupostos a fim de cumprir 
sua função: criar condições para a ação. No caso da ciência dogmática do Direito, criar condi-
ções para a decidibilidade de conflitos juridicamente definidos (2001, p. 85). 
Ferraz Jr. pondera que a progressiva assimilação da ciência do Direito pelo pensamento 
dogmático reflete a assimilação do enfoque científico do Direito pelo enfoque tecnológico. O 
autor completa sua reflexão dizendo que a tecnologia jurídica atual força a vida social, ocultan-
do-a, ao manipulá-la, ao contrário da ciência prática da Antiguidade, que se prostrava, com hu-
mildade, diante da natureza das coisas (2001,p. 86). O saber dogmático contemporâneo, como 
tecnologia, é um saber em que a influência da visão econômica das coisas é bastante visível. A 
idéia do cálculo em termos de relação custo/benefício torna-se permanentemente presente. 
Assim os conflitos têm de ser resolvidos juridicamente com o menor índice possível de pertur-
bação social (2001, p. 86). Segundo Ferraz Jr., o cálculo jurídico leva em consideração os limi-
tes dogmáticos em face das exigências sociais, procurando, do melhor modo possível, criar 
condições para que os conflitos possam ser juridicamente decidíveis. 
 
 
 PUC Minas Virtual • Introdução ao Estudo do Direito • 19 
BIBLIOGRAFIA 
 
DIMOULIS, Dimitri. Manual de introdução ao estudo do direito. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003. 
FERRAZ JR., Tercio Sampaio. Introdução ao estudo do direto: técnica, decisão, dominação. – 3. ed. – São Paulo: 
Atlas, 2001. 
MIAILLE, Michel. Introdução crítica ao direito. – 2. ed. – Lisboa: Estampa, 1994. 
REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. – 25. ed. – São Paulo: Saraiva, 2000.

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