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JOSÉ PAULO TALASSIO CARDI FLEXIBILIZAÇÃO DAS LEIS TRABALHISTAS: O FIM DO DESEMPREGO Monografia apresentada à Unifev - Centro Universitário de Votuporanga - para obtenção do grau de Bacharel em Direito sob a orientação do professor Me. Edgard Pagliarani Sampaio. UNIFEV-CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOTUPORANGA NOVEMBRO/2017 DIREITO DO TRABALHO 1. História e evolução no mundo Para iniciarmos nosso estudo no direito do trabalho, nada melhor do que conhecer sua origem histórica, sendo necessário percorrer por todo seu desenvolvimento no decorrer do tempo. Sendo fundamental entender os velhos e novos conceitos institucionais desse ramo. Analisando fatos do passado teremos uma maior percepção dos problemas enfrentados, e o porque das inúmeras criações de leis em nosso sistema jurídico, inclusive servindo para compreender os problemas atuais. O Direito do Trabalho é muito dinâmico, uma vez que está ligado a questões econômicas. Dessa forma passou por várias mudanças até chegar no dia de hoje. Outrora o trabalho era considerado um castigo, inclusive na própria Bíblia é relatado que Adão teve que trabalhar para conseguir viver em razão de ter comido o fruto proibido (Gênesis, 3). Umas das primeiras formas que se pode denominar de trabalho era a escravidão. Nessa época pela fato de escravo ser considerado um objeto e não existia nenhum direito trabalhista, ou melhor dizendo, não possuiu nenhum direito como cidadão, uma vez que não era considerado como ser humano. Os escravos só tinham obrigação de trabalhar. Platão e Aristóteles tinham o entendimento que o trabalho não era algo digno para o homem, pois estes deveriam apenas se dedicar ao pensamento e a contemplação do ambiente, deixando o serviço pesado para os escravos. Na cidade de Roma e Grécia o trabalho que exigia esforço físico era destinado apenas aos escravos. Com o passar do tempo, a escravidão cedeu lugar para a servidão, sendo a época do feudalismo. Esses servos eram nas palavras de Alice Monteiro de Barros (2016, p. 48), "escravos alforriados ou homens livres que tiveram suas terras invadidas pelo Estado ou por bárbaros, sendo obrigados a recorrer aos senhores feudais em busca de proteção." Em troca dessa proteção eram obrigados a trabalharem nas terras desse senhor em condições desumanas. Os servos tinham direito a muito pouco do que eram produzidos nessas terras, além de serem maltratados, poderiam ser presos em forma de castigo. Após o Feudalismo, surgiu as corporações de ofício. De acordo com Alice Monteiro (2016, p. 49) "[...] quem não pertencesse a uma corporação não poderia exercer as atividades no perímetro urbano." Os donos das corporações eram os mestres, além dele existiam mais duas classes, os aprendizes e os companheiros, sendo esse último uma classe que só passou a existir após o século XIV. Os companheiros eram considerado como um grau intermediário, só podendo se tornar mestre após realizar uma prova. Todo o dinheiro recebido nessas oficinas era do mestre, cabendo a este pagar um valor aos companheiros. Já os aprendizes não tinham direito a receber salário, apenas recebiam conhecimento. Como podemos observar, nessa época já existia um pouco de direito aos envolvidos em atividades laborativas. Prova disso nos ensina Martins (2014, p. 5) que os aprendizes eram contratados a partir de 12 ou 14 anos, além dos mestres serem responsáveis pelos aprendizes. Em busca de um futuro melhor para seus filhos, os pais pagavam aos mestres dessas oficinas determinado valor mensal para que ensinassem seu filho. Com o tempo, se fossem aprovados passavam ao grau de companheiros. Como foi dito anteriormente, para o companheiro se tornar mestre era necessário realizar uma prova, provas esta muito difícil, além de ser exigido um valor para sua realização. Sérgio Pinto Martins (2014, pg. 5) ainda nos ensina que: "[...] quem contraísse matrimônio com filha de mestre, desde que fosse companheiro, ou casasse com viúva do mestre, passava a essa condição. Dos filhos dos mestre não se exigia qualquer exame ou avaliação de sua obra." Apesar de não ser mais considerado um trabalho escravo, as condições que eram submetidos esses trabalhadores era algo considerado descomunal para nossa época, uma vez que eram obrigados a trabalharem por até 18 horas diárias no verão. As horas trabalhadas era de acordo com o sol, ou seja, enquanto possuía luminosidade e era possível o desempenho da atividade, esta era realizada. Somente em 1791 com a Revolução Francesa, com a criação do Decreto D'Allarde, de 17 de março de 1791 é que foi possível a livre realização de qualquer profissão, desde que pagassem taxas e se sujeitassem aos regulamentos de polícia aplicáveis. Nessa época o trabalho passou a ser um direito primordial no ser humano. Com a criação da Constituição Francesa de 1789, foi dado ao Estado o dever de fornecer meios aos desempregados de obterem sua subsistência. Foi também nesse período que Thomas Newcomen criou a máquina a vapor, com isso grande parte dos trabalhadores foram substituído por esse maquinário, causando uma onda de desemprego, dessa forma surgiu o trabalho assalariado. Com todos esses fatores, os trabalhadores começaram a se reunir e reivindicar melhores condições de trabalho e de salário, incluindo jornadas menores de labor, além de combater a exploração de mulheres e crianças que exerciam alguma atividade nessas empresas. Com essas reivindicações surgiram diversas Leis, entre elas podemos citar algumas como por exemplo: Lei de Peel em 1802 na Inglaterra que serviu para disciplinar o trabalho dos aprendizes e limitar o trabalho em 12 horas diárias. Em 1813 na França foi proibido o trabalho de menores de idade em minas. Já em 1839 foi totalmente proibido o trabalho de menores de 9 anos em qualquer tipo de emprego. Em relação a Espanha, tivemos algumas Leis, entre elas podemos citar a de 3-3-1904 que estabeleceu o descanso semanal. A lei de Huelgas criada em 27-04- 1908 previa o direito de associação e de greve. Apesar do enorme quantidade de Leis criadas, o Estado infelizmente apenas disciplinava os relacionados a manutenção de ordem pública, não intervindo em relações privadas, ou seja, não disciplinava o contrato realizado entre empregado e empregador. Com isso, pelo fato de existir muito mão de obra e pouco emprego, os empregadores tinham que se sujeitar a trabalhar as condições impostas pelos patrões, recebendo baixos salários e laborando por 15 horas diárias, além de não terem direito a férias e a descanso semanal. Um fato de enorme importância ocorreu em 1º de maio de 1886 em Chicago nos Estados Unidos, onde um grupo de trabalhadores se reuniram para reivindicar a redução da jornada trabalhista de 13 horas para 8 horas diárias. Entretanto, houve um confronto com a polícia no qual foi jogado uma bomba por alguma pessoa não identificada resultando a morte de 4 manifestantes e 3 policiais. Além das mortes, foram presos 8 lideres trabalhistas, sendo que um cometeu suicídio na prisão, 4 foram enforcados e 3 libertados após 7 anos de prisão. Dessa forma, 1º de maio passou a ser considerado como o dia do trabalho. (MARTINS, 2014 p. 8). O Direito do Trabalho, nasce com a esperança de colocar limites aos abusos cometidos pelos empregadores, e para modificar as condições do trabalho. Com o término da Primeira Guerra Mundial, surgiu o constitucionalismo social, ou seja, preceitos relativos ao Direitos Fundamentais, incluindo entre eles o Direito do Trabalho. Somente em 1917 com a Constituição do México foi possível constatar a primeira menção de um artigo trabalhista em uma Constituição. O art.123 da referida norma, estabelecia jornada de 8 horas diárias, proibição de trabalho de menores de 12 anos, limitação da jornada dos menores de 16 anos a seis horas, jornada máxima noturna de sete horas, descanso semanal, proteção a maternidade, salário- mínimo, direito de greve, indenização de dispensa, seguro social e proteção contra acidente de trabalho. Consequentemente todas as constituições advindas após 1917 tiveram artigos expressos tratando sobre o Direito do Trabalho. Em 1919 surgiu o Tratado de Versalhes, sendo criados assim a Organização Internacional do Trabalho (OIT), sendo responsável por em proteger as relações de empregados e empregadores no âmbito internacional. Após muita evolução nos direitos trabalhistas, podemos citar com um grau maior de importância a Declaração Universal dos Direitos do Homem em 1948, prevendo férias remuneradas periódicas, repouso e lazer. 1.2 No Brasil As constituições brasileiras de início apenas regulavam sobre a forma do Estado e o sistema de governo. Somente com o tempo passaram a tratar de todos os ramos do direito. Prova disso que a Constituição de 1824 apenas tratou de abolir as corporações de ofício, passando a ter uma maior liberdade de exercício das profissões. Já a constituição de 1891 reconheceu a liberdade de associação. Como podemos ver o Direito do Trabalho no Brasil é recente, mais precisamente teve seu marco inicial com a Revolução de 1930. Somente a partir desse período as leis trabalhistas começou a se desenvolver e ganhar seu espaço na sociedade. Apesar de ter existido várias Leis e Tratados esparsos com o intuito de proteger os trabalhadores, foi somente implementado o direito do trabalho na Constituição Federal em 1934. Esse fato só ocorreu após o Brasil ter assinado o compromisso internacional com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), criada pelo Tratado de Versalhes em 1919. Com a criação de diversas leis esparsas que visava a proteção dos trabalhadores, fez-se necessário uma sistematização dessas regras, surgindo assim a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Dessa forma esclarece Arnaldo Süssekind : "A multiplicidade de normas legais no campo do trabalho, sancionadas ou decretadas em distintas fases de nossa evolução jurídica-política, confundido os seus destinatários, intérprete e aplicadores, estava a exigir o ordenamento das respectivas disposições num único texto." (2005, p. 60) Pelo fato que existir inúmeras leis, em 1º de Maior de 1943 a Consolidação das Leis Trabalhistas enfim foi aprovada pelo Decreto-lei n. 5.45. sendo que só passou a vigorar em 10 de novembro do mesmo ano. 1.3 Princípios do Direito do Trabalho Antes de adentrarmos no tema da Flexibilização das Leis Trabalhistas, é importante entendermos quais são os principais princípios que regem o Direito do Trabalho. O termo princípio nos remete a idéia de Paulo Bonavides: (2003, p. 255 - 256) "Princípio do latim pricipiu, significa, numa acepção vulgar, início, começo, origem das coisas. Tal noção deriva da linguagem da geometria, onde designa as verdades primeiras [...]". Para o entendimento de Miguel Reale: Princípios são enunciações normativas de valor genérico, que condicionam e orientam a compreensão do ordenamento jurídico, a aplicação e integração ou mesmo para a elaboração de novas normas.São verdades fundantes de um sistema de conhecimento, como tais admitidas, por serem evidentes ou por terem sido comprovadas, mas também por motivos de ordem prática de caráter operacional, isto é, como pressupostos exigidos pelas necessidades da pesquisa e da práxis. (2003, p.37) Com esses ensinamentos, conseguimos extrair a verdadeira essência do significado da palavra princípio, que seria a base inicial de tudo, ou seja, a partir dessa base que o Direito do Trabalho passou a criar forma. Apesar do Direito do Trabalho ser regido por diversos princípios, estudaremos apenas os considerados mais importantes de acordo com Mauricio Godinho Delgado (2016. p. 200): Princípio da Proteção, Princípio da Imperatividade das Normas Trabalhistas, Princípio da Indisponibilidade dos Direitos Trabalhistas, Princípio da Inalterabilidade Contratual Lesiva, Princípio da Intangibilidade Salarial, Princípio da Primazia da Realidade e Princípio da Continuidade da Relação de Emprego. 1.3.1 Princípio da Proteção O princípio da proteção, como o próprio nome já diz, serve para proteger o empregado em relação ao empregador. Essa proteção é necessária, visto que o empregado é a parte considerada hipossuficiente da relação empregatícia. Plá Rodrigues (1993. p. 42-43), compreende que ao reconhecer a desigualdade das partes na relação de trabalho, o legislador buscou uma compensação jurídica para evitar a desigualdade econômica existente entre as partes. Grande parte da doutrina entende que tal fundamento é considerado como sendo o principal princípio existente no direito do trabalho. Inclusive Américo Plá Rodrigues (1993, p. 42-43), entende que mencionado princípio possui três dimensões distintas: o princípio do in dubio pro operario, o princípio da norma mais favorável e o princípio da condição mais benéfica. a) In dubio pro operário: A expressão In dubio vem do latim que significa "na dúvida" ou seja, qualquer dúvida existente na aplicação de uma lei ou em sua interpretação, deve prevalecer a vantagem para o trabalhador. Colaborando com nossa explicação, Romar (2013, p.47) nos ensina que: " [...] diante de vários sentidos possíveis de uma determinada norma, o juiz ou intérprete deve optar por aquele que seja mais favorável ao trabalhador." Portanto, qualquer dúvida existente deve prevalecer a interpretação mais vantajosa ao empregado, visto que esse é considerado como a parte mais fraca na relação trabalhista. b) Norma mais favorável Diante da lei existente e dos inúmeros tratados e convenções coletivas realizadas propiciam a colisão de mais de uma norma existente para a aplicação do caso concreto. Através dessa conflito de normas surge o princípio da norma mais favorável. Mencionado princípio possui um entendimento simples, que será aplicado quando existirem uma pluralidade de normas jurídicas vigentes sendo aceito a mais favorável ao trabalhado de acordo com o caso concreto. Alguns doutrinadores a exemplo de Mauricio Godinho Delgado (2016) aprofundam ainda mais ao estudo desse princípio, chegando a dividi-lo em três situações em que devem ser aplicados. Sendo a primeira no momento da elaboração da norma pelo legislador, no confronto entre duas normas concorrentes e por fim na interpretação das regras jurídicas existentes. c) Condição mais benéfica Esse princípio protege o contrato de trabalho durante a sua vigência se revestindo de caráter de direito adquirido. O princípio somente abrange a proteção das cláusulas existentes no contrato de trabalho. Com isso, as condições impostas ao empregado diante do contrato, somente poderão ser substituídas por uma mais benéfica, pois entende-se que tal direito já tenha sido adquirido por esse trabalhador no momento da constituição do contrato. 1.3.2 Princípio da Imperatividade das Normas Trabalhistas O presente princípio restringe a autonomia das partes na elaboração do contrato de trabalho, assegurando que as garantias fundamentais do trabalhador sejam respeitadas mesmo existindo algum contrato que as desrespeitem. De acordo com Delgado (2015, p.204), rege no direito do trabalho a imperatividade das normas elencadas na CLT, não podendo as partes envolvidas dispor de uma flexibilização para melhor satisfazer seus objetivos. 1.3.3 Princípio da Indisponibilidade dos Direitos Trabalhistas Este princípio também pode ser denominado de Princípio da Irrenunciabilidade dos DireitosTrabalhistas, se trata de uma projeção do anterior, referente a imperatividade das normas jurídicas. Servindo para vetar qualquer disponibilidade de direitos e garantias que o empregado tenha diante da ordem jurídica e de seu contrato de trabalho. Portanto fica impedido qualquer renúncia ao empregador que venha a causar prejuízo ao trabalhador. Inclusive, a própria lei trás em seus artigos a irrenunciabilidade das normas trabalhistas, sendo exposta em seu art. 9º da CLT, não podendo ser mudado, impedido ou fraudar qualquer preceitos existentes na Consolidação das Leis Trabalhistas. Ademais, cabe explicar utilizando-se do grande conhecimento de Martins (2014) que a renúncia poderá ser feita por parte do empregado quando este estiver em juízo, diante do juiz do trabalho, visto que estará livre da para realizar suas escolhas. O que não é aceito é que a renúncia ocorra no período em que o trabalhador esteja laborando na empresa. 1.3.4 Princípio da Inalterabilidade Contratual Lesiva O mencionado princípio tem sua inspiração no direito civil, mais especificamente na parte de contratos, onde é muito comum nos depararmos com a expressão "pacta sunt servanda" (os pactos devem ser cumpridos). Utilizando-se dessa expressão civilista, surgiu um dos principais princípio do direito do trabalho, onde é vedado qualquer alteração no contrato de trabalho que cause prejuízos ao trabalhador. Portanto, somente pode ser modificado o pacto quando este trazer alterações benéficas ao empregado. Inclusive na própria CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), vem previsto em seus artigos 444 e 468 a inalterabilidade dos contratos de trabalho desde que não prejudique o empregado. 1.3.5 Princípio da Intangibilidade Salarial O salário do trabalhador possui caráter alimentar, visto que em regra é utilizado para suprir suas necessidades básicas. Por isso, o salário do empregador se tornou irredutível, ou seja, não pode sofrer reduções. Entretanto, essa irredutibilidade não é absoluta conforme nos ensina Mauricio Godinho Delgado: [...] a proteção relativa ao valor do salário ainda não o preserva de perdas decorrentes da corrosão monetária; a vedação a mudanças contratuais e normativas provocadoras da redução de salários pode ser flexibilizada mediante negociação coletiva (art. 7º, VI, CF/88); a garantia de integralidade salarial, com controle de descontos em seu montante, é excepcionada pela própria norma jurídica que a instituiu (art. 462, CLT) [...]. (2016, p. 211). Visto que existem situações em que é previsto que o empregador realize descontos diretamente do salário do empregado. Essas situações como dito anteriormente são previstas no artigo 462 da CLT, podendo ser realizado em casos de negociação coletiva, dano decorrente de dolo do empregado, dano decorrente de culpa do empregado (desde que previsto no contrato de trabalho), entre outras permissões legais. 1.3.6 Princípio da Primazia da Realidade Em todo direito, é mais importante sabermos o que realmente acontece, ou seja, os fatos, do que os documentos meramente nos demonstram. Por isso é fundamental a aplicação desse princípio no direito do trabalho. Utilizando-se de uma visão civilista, onde a intenção dos agentes prevalece sobre o pacto formal realizado, nos remetendo ao artigo 112 do Código Civil que diz: "Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem." Podemos citar como exemplo do cotidiano dos trabalhadores que possuem cartão de ponto a empresa que obriga seus funcionários a registrarem horário diverso da entrada e saída. Por isso que o direito do trabalho impõem a supremacia dos fatos existentes em uma relação empregatícia em relação as cláusulas meramente pactuadas em um contrato de trabalho. 1.3.7 Princípio da Razoabilidade Embora não seja um princípio especificamente do direito do trabalho, uma vez que se trata de princípio geral do direito, deve ser utilizado em casos específicos em que um padrão médio é utilizado como parâmetro para coibir fatos exorbitantes. Dessa forma, podemos citar alguns exemplos em que tem sua aplicação efetiva, como no caso de um trabalhador alegar que labora 24hrs dentro da empresa, ou até mesmo o empregado braçal que alegar que seu salário é maior do que do seu superior. Como podemos ver no parágrafo acima, ao analisar certas afirmações cabe o uso da razoabilidade (bom senso) para compreendermos que tais afirmações não são verídicas. 1.3.8 Princípio da Continuidade da Relação de Emprego Pelo fato da relação de emprego ter caráter alimentar, prevalece que o contrato de trabalho deve possuir a maior duração possível, pois é através desse salário que o trabalhador adquire seu sustento e de sua família. No direito do trabalho em relação aos contratos de emprego, prevalece a regra de que esses contratos são indeterminados, salvo se estipularem algum prazo para o seu término. Inclusive, cabe ao empregador provar a data do término do contrato de trabalho, pois a regra é que ele seja indeterminado, entendimento esse sumulado pelo TST em sua súmula 212. 3.9 Princípio da Boa Fé Apesar do princípio da boa fé se encontrar positivado no Código Civil (artigos 113, 164, 187 e 422), tem sua aplicação de forma acessória no momento da elaboração do contrato de trabalho. Por ser utilizada na criação do pacto laboral, esta boa fé deve reinar para ambas as partes (empregado e empregador), visto que se trata de um dever recíproco. É conhecido que existem dois tipos de boa fé, sendo a objetiva (aspecto ético) e a subjetiva (aspectos psicológicos). Ambos os tipos possuem aplicação no direito do trabalho, conforme profere GOLDSCHMIDT: Todavia, tanto a boa-fé subjetiva como a objetiva são exigíveis na formação, na execução e no término do contrato de trabalho, devendo as partes atuar com lealdade recíproca, cumprindo os deveres principais e acessórios do contrato, ainda que não escritos, mas objetivamente exigíveis [...]. (2008, p.118). Essa aplicação de ambos os aspectos só ocorre pois, a boa fé objetiva possui um dever contratual imposto, ainda que não realizado na forma escrita. Já a boa fé subjetiva possui uma conduta ética e moral, não aceitando atos reprováveis. 1.3.10 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana Apesar de não ser um princípio específico da área trabalhista e sendo previsto no artigo 1º, inciso III da Constituição Federal, a dignidade da pessoa humana está completamente ligada na evolução do direito do trabalho, visto que foram necessário muito tempo de esforço buscando direitos para os trabalhadores, como já fora explicado no início desse trabalho. Como podemos analisar, mencionado princípio está completamente ligado a história do direito do trabalho, sempre com a intenção de proporcionar uma melhoria para a classe operária que sempre esteve em desvantagem com o empregador. O ser humano não pode ser tratado como objeto, mas sim detentor de direitos e deveres. Desse modo garantir melhores condições de trabalho, são de extrema importância para se cumprir os princípios constitucionais. Referências BARROS, Alice de Monteiros. Curso de Direito do Trabalho. Atualizada por Jessé Claudio de Alencar. 10. ed. São Paulo: LTr, 2016. BRASIL. Código Civil Brasileiro de 2002. Promulgada em 10 de janeiro de 2002. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acessado em 18 de jun. de 2017. BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 13. ed. São Paulo: Malheiros, 2003. DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho: 15 ed. São Paulo: LTr80, 2016. GOLDSCHMIDT,Rodrigo. Flexibilização dos Direitos Trabalhistas: ações afirmativas da dignidade da pessoa humana como forma de resistência. Florianópolis: UFSC, p. 118, 2008. MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho. 30 ed. São Paulo: Atlas , 2014. REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003. RODRIGUES, Américo Plá. Princípio de direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1993. p. 42-43. ROMAR, Carla Teresa Martins. Direito do trabalho esquematizado. Coordenador: Pedro Lenza. São Paulo: Saraiva, 2013. SÜSSEKIND, Arnaldo Lopes et al. Instituições de direito do trabalho. 22. ed. atualizada por Arnaldo Süssekind e João de Lima Teixeira Filho. São Paulo: LTr, 2005.
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