atuam. Disso decorre uma mudança de identidade na instituição universitária. Há, portanto, dois largos eixos que orientam a reforma educacional dos anos 1960: a ciência neutra, rigorosa e profissional, torna– se a instância abalizadora do conhecimento sobre a sociedade e a profissionalização torna– se uma categoria epistemológica que funda as relações sociais. Os autores destacam que os movimentos de reforma na década de oitenta, consideradas as nuanças histórico–contextuais de cada país, apresentam características muito semelhantes entre eles. Isto sugere que o movimento reformista na esfera educacional é parte das mudanças da racionalidade capitalista propiciadas pela mundialização do capital. Para tal afirmação citam autores que pesquisaram as reformas educacionais e que chegaram a conclusões próximas como: Apple e Popkewitz, nos EUA; Gimeno Sacristán, na Espanha; Christian Laville, na França; e Geoff Whitty, no País de Gales (Cf. Warde,1998). O movimento reformista educacional dos anos 1980, visto a partir dos EUA e segundo Popkewitz, deve ser compreendido com base em três dinâmicas: A ênfase na ciência rigorosa e neutra, são traços implícitos das reformas da década de 1980; Diante da mundialização do capital, da posição e do papel dos EUA nesse processo, a ciência, além de profissionalizada, torna– se agora mercadoria e, a profissionalização, o epicentro do atual paradigma político, que tem no individualismo seu principal traço e valor; No presente movimento de reformas, orquestrado especialmente nas universidades por seus acadêmicos, a crença na ciência e na profissionalização cede lugar, diante da mundialização do capital, a uma base valorativa assentada na busca da eficiência, da eficácia e do consenso para o alcance da excelência, segundo os valores mercantis. O movimento reformista em geral, especialmente para a educação, não é um movimento que deva ser estudado de modo isolado das mudanças, menos ainda ser pensado como um fato de um único país; trata–se de um movimento mundial, com as especificidades históricas de cada um, mas que mantém traços de identidade em todos eles segundo a racionalidade da transição para a mundialização do capital, sob o poderio dos Estados Unidos da América. Consideram o testemunho de Weber que ao final do século XIX, comparava o professor assistente da universidade americana ao trabalhador da fábrica. Para Weber o professor depende dos implementos que o Estado coloca à sua disposição; portanto, é tão dependente do chefe do instituto quanto o empregado depende de sua direção. Assim no interior da universidade, que deveria ser o lugar privilegiado da desalienação, isto é, em seu contexto institucional, por indução das políticas governamentais, predomina o pragmatismo e, com ele, a utilidade alienante a que se submete grande parte dos professores. Os autores mostram o movimento de reformas das instituições sociais no Brasil, que se inicia na década de 1990. Demostram que o núcleo da ideologia do produtivismo acadêmico, como política de Estado e de cultura institucional, tem como sua mais completa tradução, no âmbito filosófico, o pragmatismo, e, no âmbito econômico, a mercadorização da ciência e da inovação tecnológica, o que o torna, com a pós-graduação, nos moldes atuais, o polo gerador de uma reforma da instituição universitária que tende a colocá–la a reboque do mercado. Para encerrar suas reflexões os autores citam uma fala de Lindsay Watters, editor da Harvard University Press, alegoricamente falando do produtivismo acadêmico e da intensificação e precarização do trabalho do estudioso típico. Lindsay compara o estudioso típico com a figura retratada por Charlie Chaplin em Tempos Modernos no qual trabalha loucamente e insensatamente para produzir. CONSIDERAÇÕES FINAIS O trabalho de leitura e estudo do livro “Trabalho Intensificado nas federais: pós-graduação e produtivismo acadêmico” proposto pela professora da disciplina de Sociedade Trabalho e Educação teve importante papel em nossa formação. Tivemos a oportunidade de desvelar os acontecimentos que ocorrem na vida acadêmica dos professores de instituições federais e que muitas vezes não são transparecidos para nós estudantes de graduação. Constata-se o que foi dito no livro: há uma naturalização dessa exploração, da pressão para o produtivismo acadêmico em que os próprios professores acabam se conformando e acostumando com a situação em que estão. Foi de extrema valia compreender o sistema que envolve o universo da pós-graduação: percebe-se como o meio acadêmico não está imune contra os interesses de mercado, a política e o Estado interferem nesse meio e essa interferência pode ser a razão de diversas desumanidades, doenças e sérias implicações para a vida do professor pesquisador, essas naturalizadas. Repercute também para o professor que não está na pesquisa, como por exemplo o professor substituto que encontra-se em situações precárias e à ele é negado a participação das decisões acadêmicas e precisa cumprir carga demasiada de aulas. A valorização da pesquisa em detrimento dos professores “auleiros”, expressão muito usada no decorrer do livro pelos entrevistados, nos mostra que há uma desvalorização em relação as aulas de graduação. Dessa forma é possível compreendermos os rumos com que o sistema leva o desenvolvimento da instituição: os professores pesquisadores que precisam participar de eventos nacionais e internacionais que precisa se desdobrar em relação ao tempo para conseguir publicar o número demandado de teses e ainda conciliar com a aula na graduação ou pós-graduação, isso quando participam de cargos gestores ou do sindicato. Dessa forma, pudemos perceber as explorações que ocorrem nesse meio, tínhamos uma noção da demanda das pesquisas e da vida de “dedicação exclusiva” com que levava nossos professores da instituição federal, mas com os estudos pudemos aprofundar no assunto e descobrir as formas precárias, a forte pressão que existe, as competições e individualismo que o próprio sistema estimula. Aos olhos da sociedade o professor universitário possui um “status” devido sua qualificação e sua ocupação, porém, seres humanos que são, estão sujeitos aos sofrimentos físicos de cansaço, doenças e mentais como ansiedade e depressão e podem se tornar reféns de um sistema precário do meio acadêmico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SGUISSARDI, Valdemar; SILVA JÚNIOR, João dos Reis. O trabalho intensificado nas federais: pós–graduação e produtivismo acadêmico. 2. ed. Uberlândia: Navegando Publicações, 2018.311p. 3