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ESTRUTURAS DE BETÃO I FOLHAS DE APOIO ÀS AULAS Coordenação: José Noronha da Camara Ano Lectivo 2014/2015 Introdução Estas folhas de apoio às aulas têm como objectivo facilitar o seu acompanhamento e correspondem, em geral, à sequência e organização da exposição incluindo, ainda, a resolução de problemas. São apontamentos de síntese que não dispensam a consulta de restantes apontamentos da disciplina e da bibliografia proposta, onde deve ser realçado o recente livro sobre Estruturas de Betão da autoria do Prof. Júlio Appleton. Estes apontamentos resultaram da experiência de ensino e de textos anteriores da disciplina para os quais contribuíram os docentes que têm vindo a leccionar o Betão Estrutural, sob a orientação do Prof. Júlio Appleton, que foi, nesta escola, nos últimos 30 anos e até ao ano lectivo 2010/2011, o responsável por esta área da engenharia de estruturas. Durante o ano lectivo 2003/2004 o Prof. Júlio Appleton com a Engª Carla Marchão, organizaram a 1ª versão destas folhas de apoio às aulas. A estas foram sendo introduzidas várias contribuições, mais directamente, dos Profs. José Camara, António Costa, João Almeida e Sérgio Cruz. Deve-se realçar que o essencial do ensino do betão estrutural é a transmissão do conhecimento sobre as características do comportamento estrutural e fundamentação dos modelos de cálculo, aspectos que se repercutem depois, naturalmente, nas prescrições normativas, com algumas variações. Ao longo destes últimos anos têm sido referidas na disciplina, em geral, as normas europeias (Eurocódigos), já aprovados na versão definitiva (EN). Refira-se que, no entanto, não houve ainda uma aprovação formal, sendo possível utilizar, no âmbito profissional, em alternativa, a regulamentação nacional (REBAP – Regulamento de Estruturas de Betão Armado e Pré-Esforçado) ou a regulamentação europeia (Eurocódigo 2 – Projecto de Estruturas de Betão). Refira-se que, sendo esta disciplina integrada na área da engenharia de estruturas, é fundamental que os alunos tenham uma boa percepção do comportamento das estruturas, em geral, e, de uma forma “quase imediata”, das estruturas isostáticas. As matérias tratadas na Resistência dos Materiais, referentes ao comportamento de peças lineares em tracção, flexão, esforço transverso, torção e em zonas onde a hipótese de Bernoulli não é válida (Princípio de Saint-Venant), por exemplo, junto dos apoios de vigas e/ou de zonas de actuação de cargas concentradas) são uma base fundamental. É também importante relembrar o comportamento elástico-plástico das estruturas, para se poder compreender a influência das características do comportamento não linear dos materiais na resposta das estruturas. Este aspecto é particularmente importante para os elementos de betão estrutural e, consequentemente para o estudo das Estruturas de Betão. Também os Teoremas Limite da Teoria da Plasticidade, Estático e Cinemático, que na versão curricular actual são apresentados na disciplina de Estruturas Metálicas, são fundamentais (principalmente o Estático) para a boa compreensão das metodologias de dimensionamento e verificação da segurança das estruturas e, em particular das Estruturas de Betão. Finalmente refira-se que no ano lectivo 2014/2015 os docentes que acompanharão a disciplina são: José N. da Camara (Coordenador da disciplina) Eduardo Júlio João F. de Almeida António Costa Rui Rodrigues IST, Setembro de 2014 ÍNDICE 1 INTRODUÇÃO AO COMPORTAMENTO DO BETÃO ESTRUTURAL 1 1.1. Elemento de betão sem inclusão de armaduras 1 1.2. Elemento de betão armado 4 1.2.1 Cálculo das tensões numa secção após fendilhação 5 1.2.2 Cálculo do momento de cedência da secção 9 1.3. Diferença do comportamento secção/estrutura 10 2 CONCEITO DE SEGURANÇA NO DIMENSIONAMENTO DE ESTRUTURAS 12 2.1 Objectivos de segurança na engenharia estrutural em geral 12 2.2 Filosofia adoptada na verificação da segurança em relação aos Estados Limites Últimos 14 2.3 Filosofia adoptada na verificação da segurança em relação aos Estados Limites de Utilização 16 3 MATERIAIS 24 3.1 Caracterização dos betões 24 3.1.1 Tensões de rotura do betão 25 3.1.2 Módulo de elasticidade do betão 25 3.1.3 Valor característico da tensão de rotura do betão à compressão fc 25 3.2 Caracterização das armaduras 26 3.2.1 Classificação das armaduras para betão armado 26 4 VERIFICAÇÕES DE SEGURANÇA À ROTURA POR FLEXÃO 28 4.1 Relações tensão-extensão dos materiais para verificação da segurança aos E.L. Últimos 28 4.1.1 Betão 28 4.1.2 AÇO 29 4.2 Análise da secção. Método Geral 30 4.3 Método do diagrama rectangular 31 4.3.1 Cálculo de MRD 31 4.4 Resistência à flexão simples com o aumento de armaduras 39 4.5 Dimensionamento à Flexão Simples – Grandezas Adimensionais 41 4.5.1 Método Geral 41 4.5.1.1 Grandezas adimensionais 42 4.5.2 Método do Diagrama Rectangular Simplificado 43 4.5.2.1 Grandezas adimensionais 43 4.5.3 Utilização de Tabelas 44 4.5.3.1 Determinação da capacidade resistente (Análise) 44 4.5.3.2 Dimensionamento de armaduras 44 4.6 Estimativa do Momento Resistente 46 4.7 Parâmetros que influenciam o valor do Momento Resistente 48 4.8 Dimensionamento de secções com outras formas 49 4.8.1 Largura efectiva de uma secção em T 49 4.8.1.1 Avaliação da largura efectiva 50 4.8.2 Dimensionamento de secções em “T” por tabelas 51 4.8.3 Simplificação de secções para efeitos de dimensionamento à flexão simples 53 5 DISPOSIÇÕES CONSTRUTIVAS GERAIS 57 5.1 Recobrimento das armaduras 58 5.2 Distância livre entre armaduras (s) 58 5.3 Agrupamentos de armaduras 59 5.4 Dobragem de varões 60 5.5 Posicionamento das armaduras 61 5.6 Princípios a ter em atenção na pormenorização das armaduras 61 5.7 Disposições construtivas em vigas – Armaduras longitudinais de flexão 62 5.7.1 Quantidades mínima e máxima de armadura 62 5.7.2 Armadura longitudinal superior nos apoios de extremidade 62 6 INTRODUÇÃO AO COMPORTAMENTO NÃO LINEAR DE ESTRUTURAS DE BETÃO 64 6.1 Análise Elástica seguida de Redistribuição de Esforços 65 6.2 Aplicação directa do cálculo plástico (Teorema estático) 68 6.3 Exemplos de Aplicação Prática da Não Linearidade na Verificação da Segurança das Estruturas 69 7 ESFORÇO TRANSVERSO E TORÇÃO 73 7.1 Comportamento elástico e modelo de comportamento na rotura ao Esforço Transverso 73 7.2 Possíveis modos de rotura e verificações de segurança correspondentes 81 7.3 Influência do esforço transverso nas compressões e tracções da flexão 87 7.3.1 Rotura por arrancamento da armadura longitudinal no apoio de extremidade 88 7.3.2 Armadura longitudinal no vão 89 7.3.3 Apoio de continuidade 90 7.4 Disposições das armaduras transversais 91 7.5 Espaçamento entre estribos e sua pormenorização 91 7.6 Amarração de Armaduras 96 7.6.1 Comprimento de amarração 96 7.6.2 Comprimento de emenda 99 7.7 Armadura de Ligação Banzo-Alma 111 7.8 Armadura de suspensão 113 7.8.1 Carga distribuída aplicada na parte inferior da viga 113 7.8.2 Apoios indirectos 114 7.9 Transmissão de Cargas concentradas próximas dos apoios 121 7.10 Armadura Inclinada 125 7.11 Secções com Largura Variável 126 7.12 Forças de Desvio 126 7.13 Torção 128 7.13.1 Torção de equilíbrio 128 7.13.2 Torção de compatibilidade 1297.13.3 Torção analisada como esforço transverso 130 7.13.4 Dimensionamento das paredes sujeitas a um esforço transverso 133 7.14 Efeito conjunto Torção / Esforço Transverso 137 7.15 Disposições construtivas relativas a armaduras de torção 137 7.15.1 Armadura transversal 137 7.15.2 Armadura longitudinal 138 7.16 Dimensionamento Conjunto da Secção 138 8 DURABILIDADE DE ESTRUTURAS DE BETÃO ARMADO E PRÉ-ESFORÇADO 143 8.1 Introdução 143 8.2 Mecanismos de Deterioração 144 8.2.1 Deterioração por Corrosão das Armaduras 144 8.3 Deterioração do betão 152 8.4 Ambiente de Exposição 156 8.5 Período de Iniciação e Período de Propagação 159 8.6 - Metodologia para a Garantia da Durabilidade 161 8.7 Outros aspectos importantes para a garantia da durabilidade das construções 165 8.8 Manutenção, Inspecções e Eventuais Reforços 167 9 VERIFICAÇÃO DO COMPORTAMENTO EM SERVIÇO (ESTADOS LIMITES DE UTILIZAÇÃO – SLS) 169 9.1 Introdução 169 9.2 Verificação aos Estados Limites de Utilização 169 9.3 Acções 169 9.4 Materiais 170 9.4.1 Propriedades dos materiais para verificação da segurança aos estados limites de utilização 170 9.4.2 Efeitos diferidos no tempo do betão 172 9.4.2.1 Fluência 173 9.4.2.2 Retracção 175 9.5 Estado Limite de Abertura de Fendas 177 9.5.1 Mecanismo da fendilhação E ABERTURA DE FENDAS 177 9.6 Cálculo de tensões com base na secção fendilhada e sua limitação 189 9.6.1 Limitação das tensões em serviço 190 9.7 Armadura mínima 194 9.7.1 Tracção 194 9.7.2 Flexão 196 9.8 Limites admissíveis de fendilhação relativos ao aspecto e à durabilidade 205 9.9 Controlo da fendilhação sem cálculo directo (EC2) 205 9.10 Estado Limite de Deformação 208 9.10.1 Limites de Deformação 208 9.10.2 - Questões na Avaliação e na Limitação da deformação 209 9.10.3 - Avaliação directa da deformação 214 9.10.3.1 - Cálculo da curvatura em estado I 214 9.10.3.2 - Cálculo da curvatura em estado II 215 9.10.4 Cálculo das deformações 216 9.10.4.1 Método Bilinear 217 10 VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA AOS ESTADOS LIMITES ÚLTIMOS DE ELEMENTOS COM ESFORÇO AXIAL NÃO DESPREZÁVEL 225 10.1 Flexão Composta e Desviada 225 10.2 Resistência à flexão composta 225 10.2.1 Diagramas de deformações na rotura 225 10.2.2 Determinação dos esforços resistentes 226 10.3 Flexão Desviada 230 10.3.1 Rotura convencional 231 10.3.2 Determinação dos esforços resistentes 231 10.4 Disposições construtivas de pilares 234 10.4.1 Armadura longitudinal 234 10.4.2 Armadura longitudinal 235 10.4.3 Armadura transversal 235 11 VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA DE PILARES ISOLADOS AOS ESTADOS LIMITE ÚLTIMOS 243 11.1 Comportamento de elementos esbeltos 243 11.2 Esbelteza 243 11.3 Imperfeições geométricas 244 11.3.1 Excentricidade inicial 245 11.4 Importância dos Efeitos de 2ª ordem e tipos de rotura associados 246 11.5 Consideração dos efeitos de 2ª ordem 248 11.5.1 Métodos de análise simplificados 249 11.5.2 Método da curvatura nominal 251 11.5.3 Método da rigidez nominal 257 11.6 Dispensa da verificação da segurança ao estado limite último de encurvadura 258 12 ESTRUTURAS EM PÓRTICO 268 12.1 Classificação das estruturas 268 12.2 Comprimento de encurvadura 269 12.3 Efeitos das imperfeições geométricas em estruturas porticadas ou mistas 271 12.4 Efeitos de segunda ordem em pórticos 271 12.4.1 Verificação da segurança de pórticos contraventados 272 12.4.2 Consideração dos efeitos de 2ª ordem em pórticos não contraventados 273 Bibliografia de referência 281 Estruturas de Betão I 1 1 Introdução ao Comportamento do Betão Estrutural Nesta introdução ao comportamento do betão armado resume-se de uma forma simplificada, mas muito abrangente, as principais características do seu funcionamento em flexão. É importante que, desde logo, se compreenda o essencial das características da resposta do betão estrutural e se as enquadre na base do aprendido anteriormente no curso, em particular, na disciplina de Resistência de Materiais. Iremos começar por discutir o comportamento de uma peça de betão simples e, depois introduzir as armaduras em aço, que vêm dar conteúdo e eficiência a este material compósito que, durante o Seculo XX e até à actualidade, tem sido o responsável pelo desenvolvimento das infra-estruturas que sustentam todo o nosso modo de organização da sociedade. Comecemos por referir algumas notações correntes na engenharia de estruturas, em geral, e no betão estrutural, em particular, que são internacionalmente aceites. Notações: f – resistência do material fc – tensão de rotura do betão à compressão fck – tensão característica de rotura do betão à compressão fct – tensão de rotura do betão à tracção Ec – módulo de elasticidade do betão fy – tensão de cedência do aço fyk– tensão característica de cedência do aço fu – tensão de rotura do aço Es – módulo de elasticidade do aço 1.1. ELEMENTO DE BETÃO SEM INCLUSÃO DE ARMADURAS Considere-se a viga de betão simples ilustrada na figura seguinte, bem como os diagramas de esforços correspondentes a uma carga pontual genérica P aplicada a meio vão. Estruturas de Betão I 2 (+) DEV DMF P/2 (+) (-) 5.00 P/2 P 0.50 0.20 P/2 P/2 PL/4 Como se sabe, o maior momento flector ocorre a meio vão, estando, na hipótese de comportamento elástico, esta secção sujeita ao seguinte diagrama de tensões normais: M 2 G h/2 h/2 y 1 Tensões: = M y Ic ; máx = M Wc em que Wc = I ymáx (módulo de flexão) Para uma secção rectangular, Wc = b h 3 12 2 h = b h 2 6 Para um determinado nível de carga P ocorrerá uma fenda, com início na região mais traccionada da peça, ou seja na parte inferior da secção de meio vão (por ser a secção submetida a um momento flector maior) e, na sequência, a rotura da viga. De facto, a partir do início da formação da fenda deixa de ser possível existir uma distribuição de tensões na secção que equilibre o momento aplicado. Na figura seguinte podem observar-se os diagramas momentos-curvaturas e carga- deslocamento que ilustram o comportamento desta viga, desde o início do carregamento até à rotura, verificando-se que esta é frágil. Estruturas de Betão I 3 M 1/ R EI (rigidez de flexão) P a) Diagrama momento-curvatura b) Diagrama carga-deslocamento Este comportamento resulta da lei de comportamento do material betão: fc fct (2 a 5 MPa) (20 a 80 MPa) 3.5‰ Ec (30GPa) Índice c – “concrete” fc – tensão de rotura do betão à compressão fct – tensão de rotura do betão à tracção Ec – módulo de elasticidade do betão Através da análise da relação constitutiva do betão pode concluir-se que este é um material que possui um bom comportamento e resistência à compressão, com uma resposta “quase linear” para níveis de tensões baixos a médios, e uma baixa resistência à tracção (da ordem de 1/10 a 1/15 da resistência à compressão). Esta última característica é responsável pela rotura do betão simples, como ilustrado no exemplo anterior, e pela formação de fendas no betão armado, como se irá estudar na disciplina. Cálculo do momento de fendilhação Admita-se que: fct = 2.0 MPa E, como, = M Wc = M v Ic e Wc = bh2 6 (para uma secção rectangular) O momento de fendilhação pode ser avaliado pela expressão: Mcr = fctWc = 2 10 3 0.20 0.502 6 = 16.7 kNm A carga P, que está associada ao momentode fendilhação, pode ser estimada, para aquela estrutura e carregamento, através da seguinte relação: Mcr = PL 4 P = 4Mcr L = 4 16.7 5 = 13.4 kN Estruturas de Betão I 4 Conclusão: Uma viga de betão simples não explora, minimamente, a capacidade resistente do material em compressão, pois a máxima tensão que se pode mobilizar é igual, ou da mesma ordem de grandeza, da resistência à tracção. O comportamento fica, assim, associado a uma baixa capacidade de carga, condicionada pelo aparecimento de uma fenda, e, na sequência, uma rotura frágil. Solução: Introduzir um material com boa resistência à tracção nas regiões onde é necessário, ou seja, nas zonas traccionadas das peças. Ao se adoptar aí armaduras de aço explora-se muito melhor a capacidade resistente do elemento de betão, pois passa a haver a possibilidade de equilibrar compressões mais elevadas no betão através das tracções que passam a se poder mobilizar nas armaduras. Além disso, por via da ductilidade associada ao aço, temos também um comportamento dúctil na rotura. Tem-se, assim, o Betão Estrutural (betão + armaduras de aço). Esta análise realizada para um elemento de betão simples submetido à flexão pode, e deve, ser equacionada, pelos alunos, para a situação mais simples da Resistência dos Materiais que é a de um tirante (esforço axial simples). 1.2. ELEMENTO DE BETÃO ARMADO Analisemos, então as principais características do comportamento do betão armado resultante da introdução das armaduras de aço nas peças de betão. O aço é um material dúctil com uma boa resistência à tracção, mas também à compressão (ver figura seguinte). Por outro lado, a sua disposição em varões permite um bom envolvimento pelo betão e, consequentemente, condições para uma boa aderência entre os materiais. 2.5 a 10% Es (200GPa) (200 a 800 MPa) fu fy fy Índice y – “yeld” (cedência) fy + fy - Com a introdução destas armaduras no betão obtém-se um comportamento conjunto com boa ligação e extremamente eficiente em termos da resposta estrutural. De facto, Estruturas de Betão I 5 com o aparecimento de fendas nalgumas secções de betão, as tracções passam, no essencial, para as armaduras, o que permite garantir o equilíbrio da secção para um nível de cargas muito superior. Este aspecto será, desde já, clarificado no parágrafo 1.3. Entretanto, é importante desde já percepcionar as características globais da resposta, que é claramente não linear, de um elemento de betão armado. Nas figuras seguintes podem observar-se diagramas tipo, de momentos-curvaturas médias e carga- deslocamento, respectivamente, para elementos e estruturas de betão armado, desde o início do carregamento até à rotura. Verifica-se que, com o início das fendas (1), há alguma perda de rigidez mas que a capacidade resistente máxima só se atinge para cargas superiores depois de verificada a cedência das armaduras (2) e explorada, depois, a ductilidade (3). A cedência da armadura corresponde a se atingir o momento de cedência da secção, sendo que, a partir daí, o momento na secção só pode aumentar devido a um incremento residual da tensão do aço entre o valor de cedência e o último, ou um ligeiro aumento do braço devido a uma acomodação das compressões mais junto às fibras extremas da secção. Entretanto o elemento de betão armado pode continuar a aumentar a curvatura, com um comportamento característico de um material dúctil. Ao longo desta disciplina analisar-se-ão estas características do comportamento e o seu enquadramento nas disposições regulamentares para assegurar os níveis de segurança e de qualidade de comportamento necessários. (1) (2) (3) b) Diagrama carga-deslocamentoa) Diagrama momento-curvatura PM R/1 I II (1) (2) (3) (1) - fendilhação do betão (2) - cedência das armaduras (3) - rotura 1.2.1 CÁLCULO DAS TENSÕES NUMA SECÇÃO APÓS FENDILHAÇÃO Na sequência, analisa-se, primeiro, um conceito importante no betão estrutural que é o de que as quantidades de aço devem assegurar, pelo menos, a substituição das tracções que se libertam a quando da abertura de uma fenda, e depois, a avaliação de tensões numa secção fendilhada. Também nesta análise é importante que o aluno faça o paralelo com a situação equivalente da tracção simples. Estruturas de Betão I 6 Para se compreender estes aspectos do comportamento comecemos por analisar a resposta à flexão de uma secção de betão armado, tomando-se o exemplo seguinte: 0.20 0.50 d Admita-se: As = 10.0 cm 2 d = 0.45 m (altura útil da armadura) Ec = 30 GPa Es = 200 GPa (i) Avaliação simplificada da quantidade de armadura mínima necessária para substituir o papel das tracções no betão quando se forma uma fenda (Análise em Estado não fendilhado - Estado I – desprezando as armaduras, como é razoável, em geral, em termos práticos) A força de tracção disponibilizada pelas armaduras deve ser superior à força de tracção no betão que se liberta quando se forma a fenda, tal que, de uma forma simplificada (admitindo fct = 2MPa e fy = 400 MPa): fct h/2 b Fct Fc (antes de fendilhar) Fs Fct As, min fy b h 2 1 2 fct As, min 0.2 0.5 4 210 3 1 40010 3 10 4 = 1.25 cm 2 (Refira-se que no exemplo apresentado a armadura admitida é superior a este valor, pois: As = 10cm 2 >> 1.25cm 2 ) Vejamos, agora, a avaliação da distribuição de tensões numa secção fendilhada (denominada por Estado II) de acordo com as hipóteses usualmente admitidas. (ii) Cálculo do estado de tensão nas secções, após a fendilhação do betão Hipóteses consideradas para o denominado Estado II O betão não resiste à tracção As secções mantêm-se planas após a fendilhação Estruturas de Betão I 7 c LN c (-) (+) s s (Fs) (Fc) b x d z Mcr Cálculo da posição da linha neutra Através da determinação do centro de gravidade da secção homogeneizada, x = Ai xi Ai = bx x/2 + As Es/Ec d bx + As Es/Ec x bx + As Es Ec = bx x 2 + As Es Ec d bx2 + As Es Ec x = bx2 2 + As Es Ec d bx2 2 = As Es Ec (d - x) (equação que traduz a igualdade de momentos estáticos) Para a secção em estudo, 0.2x2 2 = 1010-4 x 200 30 (0.45 - x) 0.1x2 + 6.6710-3x - 0.03 = 0 x = 0.143 m z (braço das forças resultantes) = d - x 3 = 0.45 - 0.143 3 = 0.40 m Avaliemos, agora para o momento de fendilhação, anteriormente estimado (parágrafo 1.1) a distribuição de tensões na secção, após fendilhação: Cálculo da tensão no betão (c) Por equilíbrio: Mcr = Fs z = Fc z =16.7 kNm Fc = Mcr z = 16.7 0.40 = 41.8 kN Fc = c x b 2 c = 2Fc bx = 2 41.8 0.20 0.143 = 2923 kN/m2 2.9 MPa Cálculo da tensão nas armaduras (s) Fs = s Ass = Fs As = 41.8 10 10-4 = 41800 kN/m2 = 41.8 MPa Estruturas de Betão I 8 Cálculo das extensões máxima no betão e nas armaduras (c e s) = E c = c Ec = 2923 30106 = 0.09710-3 0.1‰ s = s Es = 41800 200106 = 0.2‰ ou c s = x d - x s = d - x x c= 0.45 - 0.143 0.143 0.09710-3 = 0.2‰ M = 16.7 kNm 0.143 [MPa] -2.9s = 0.2‰ (+) (-) c = 0.1‰ LN 41.8 Verifica-se que, para a quantidade de armadura da secção (10 cm2), bastante superior à mínima estimada (1.25cm2), o nível de tensões nas armaduras (41.8 MPa), depois de se formar a fenda, é muito inferior ao da cedência característica (400MPa), ou seja, há, neste caso uma reserva muito grande até se atingir a cedência. Avaliemos agora, para este exemplo, as curvaturas das secções depois e antes da fendilhação. Cálculo da curvatura em Estado II 1 R = c + s d = 0.110-3 + 0.210-3 0.45 = 6.6710-4 m-1 Curvatura em Estado I, sem considerar as armaduras: M = 16.7 kNm [MPa] (+) (-) c c 2.0 2.0 c = c Ec = 2.0 30103 = 6.6710-5 1 R = 2 6.6710-5 0.5 =2.6710-4 m-1 Estruturas de Betão I 9 Verifica-se, assim, que, para esta secção e com esta armadura, se verifica uma perda de rigidez considerável quando se perde a participação do betão traccionado, de: 1/RII 1/RI 2.5. Refira-se que este valor seria maior ou menor consoante a quantidade de armadura adoptada fosse, respectivamente, inferior ou superior aos 10 cm2 considerados. Estas curvaturas podem ser directamente calculadas dividindo o momento pelas rigidezes homogeneizadas, se for o caso, nos referidos Estados I e II, tal que: Estado I sem considerar as armaduras: 1 Rc = M Ec Ic Estado I com consideração das armaduras: 1 R = M Ec I Estado II: 1 R = M Ec I M R/1 I II Ec I Ec I Ec I Ic, I e I, são, respectivamente, a inércia de secção só de betão, de betão e armaduras homogeneizada no betão em situação não fendilhada (valor de I Ic) e fendilhada (I) sem considerar o betão à tracção. 1.2.2 CÁLCULO DO MOMENTO DE CEDÊNCIA DA SECÇÃO Em estado II (secção fendilhada sem participação de betão à tracção) a linha neutra e a rigidez da secção é única, como avaliada anteriormente. Assim, a um acréscimo do momento flector irá somente corresponder um aumento de curvatura com consequente aumento de tensões, i.e., com o braço entre as resultantes das forças de compressão e tracção a se manter constante. M s1s (+) (-) c1 LN c M1 M2 M1 c2 s2 Estruturas de Betão I 10 A continuação da aplicação do momento M conduz, portanto, ao aumento das tensões nas fibras, proporcionalmente ao momento. No entanto, para níveis superiores de carga, pode o betão entrar numa região de comportamento com alguma não linearidade. M1z1 Fc Fs1 c1 LN M2z2 Fs2 Fc c2 LN M1 M2 A variação do braço é, no entanto, pouco significativa (z1 z2), pelo que a avaliação do momento de cedência se pode fazer tomando para a força F a força correspondente à cedência das armaduras, tal que: My z Fy com Fy = Asfsy Em que z é o braço atrás determinado. Cálculo do momento de cedência da secção s = fy = 400 MPa Fy = 400 10 3 10 10-4 = 400 kN z = 0.40m My = 0.4 400 = 160 kNm Verifica-se que, para esta secção, a diferença entre os momentos de fendilhação e de cedência é significativa, de 16.7 kNm para 160 kNm, o que mostra bem o papel das armaduras. 1.3. DIFERENÇA DO COMPORTAMENTO SECÇÃO/ESTRUTURA As estruturas são compostas por inúmeras secções sendo que só algumas fendilham. Nestas secções há uma perda brusca de rigidez (aumento de deformação significativo), como mostra o gráfico a), corresponde à passagem do Estado I ao II. No entanto, considerando o comportamento médio de um elemento estrutural (como o representado na direita da figura), vai-se verificar uma diminuição mais gradual da rigidez média (gráfico b)). A razão é simples: em termos médios teremos secções efectivamente fendilhadas, mas entre estas haverá outras com o betão traccionado, portanto menos deformáveis. Estruturas de Betão I 11 a) Secção II I b) Elemento M R/1 Mcr I II My (1) (2) (3) Mcr My (1) (2) (3) MM R Este efeito de atenuação da importância da perda de rigidez, a quando da fendilhação, é ainda mais notório, quando se analisa a resposta da estrutura no seu conjunto. De facto, ao nível da deformação global da estrutura, não se chega a notar um aumento pontual da deformação. Verifica-se, isso sim, uma diminuição da rigidez para cargas superiores ás do início do processo de formação de fendas (zona do diagrama carga- deslocamento de (1) para (2)) – ver figura seguinte. Nesta relação, a perda de rigidez por abertura de fendas numa ou noutra secção, dilui-se em termos da resposta global, mas, mesmo assim, com implicações na deformação da viga. P (1) (2) (3) Para níveis de carga superiores a zona da viga passível de ter fendas é aquela em que os esforços sejam superiores aos de início da fendilhação, como se mostra na figura seguinte. DMF Mmáx P Região onde ocorre fendilhação para Pmáx Mcr Refira-se que, como referido anteriormente, à medida que se verifica o incremento de carga as tensões nos materiais aumentam até que se atinge, em princípio na secção mais esforçada, a cedência do aço, ou seja o momento de cedência - (ponto (2) dos Estruturas de Betão I 12 diagramas). Este nível de carga corresponde, “grosso modo”, à capacidade máxima da secção, verificando-se, a partir daí, só um ligeiro aumento até ao momento último, associado a um grande aumento de deformações. É a zona de comportamento associada à exploração da capacidade última da secção à flexão, que se verifica, em geral, com desenvolvimento de uma resposta dúctil. Evidentemente que, em estruturas hiperstáticas, as zonas principais das estruturas não entram, em geral, simultaneamente em cedência. Assim, a partir do seu início numa determinada secção, há lugar, ainda, para incrementos de carga até se mobilizar a capacidade máxima da estrutura. 2 Conceito de Segurança no Dimensionamento de Estruturas O conceito de segurança a exigir às estruturas não é obviamente específico ao betão estrutural, sendo aplicado a estruturas construídas em qualquer material, em particular às estruturas metálicas e/ou mistas (betão/aço). Na sequência, apresenta-se um resumo dos princípios fundamentais das metodologias de verificação da segurança que reputamos essencial, nesta fase da aprendizagem dos alunos, para se compreender o enquadramento das preocupações dos engenheiros na concepção e projecto das Estruturas de Betão. 2.1 OBJECTIVOS DE SEGURANÇA NA ENGENHARIA ESTRUTURAL EM GERAL Há dois objectivos fundamentais a considerar pelos engenheiros de estruturas para assegurar, à sociedade em geral, um nível de segurança adequado às construções. Seguidamente referem-se esses dois objectivos gerais, particularizando-se, para cada um deles, o tipo de verificações em causa. 1) Garantir um bom comportamento das estruturas em situação de serviço, ou seja, na sua utilização corrente Na forma regulamentar este objectivo corresponde a verificar a segurança aos Estados Limite de Utilização: Limitar a deformação (Para as estruturas, em geral, e não só de betão) De acordo com as recomendações mais recentes, e para o caso de pisos de edifícios, a deformação final ou o incremento de deformação após a execução de paredes de alvenaria, deve ser limitada, para as acções com carácter de permanência, respectivamente, a: serviçoadmissível L 250 ou L 500 Estruturas de Betão I 13 Trata-se no primeiro caso de uma questão de aspecto e funcionalidadee no segundo caso para evitar fendas nas alvenarias que não conseguem, a partir de um certo ponto, acompanhar a deformação da sua base de suporte sem fendilharem. Limitar o nível de tensões máximas no betão e no aço Segundo as disposições regulamentares mais recentes o nível máximo das tensões no aço e no betão deve ser limitado, em serviço. Estes limites dependem do tipo e nível das acções, como se verificará no curso. Controlar as aberturas de fendas (Aspecto claramente específico ás estruturas de betão armado): serviçoadmissível (0.2 a 0.4mm) Sendo a existência de fendas uma situação normal no Betão Armado, há que limitar a sua abertura, em geral, para um nível de acções com carácter de permanência. Esta necessidade advém, de razões de aceitabilidade estética e, em ambientes mais agressivos, para não serem veículo de um processo mais rápido de degradação do betão estrutural (questão de durabilidade, como se verá no curso). Garantir um adequado comportamento dinâmico (estruturas em geral) Este aspecto da verificação do comportamento em serviço das estruturas, só será analisado na disciplina de uma forma indirecta, devendo ser aprofundado posteriormente no curso. No fundo trata-se de controlar as frequências próprias de vibração das estruturas, de tal forma a evitar situações de ressonância com a frequência das acções. Exemplo: Nas pontes de peões verificar que a frequência principal de vibração vertical da estrutura não se aproxima da frequência da excitação, neste caso, as cadências dos passos dos utilizadores. 2) Assegurar um nível de segurança adequado em relação a determinadas situações de rotura (rotura local ou global da estrutura) Na forma regulamentar este objectivo corresponde a verificar a segurança aos Estados Limite Últimos Para além de assegurar um comportamento adequado da estrutura nas condições da sua utilização, o engenheiro de estruturas tem de, com um nível de confiança muitíssimo superior, poder garantir que não há possibilidade de qualquer tipo de rotura, seja localizada, por falta de capacidade resistente, como numa peça linear, por: Estruturas de Betão I 14 Tracção ou Compressão Flexão Esforço Transverso Torção Qualquer combinação destas Zonas particulares de apoios e/ou introdução de cargas Seja global, por perda de equilíbrio conjunto da estrutura, como o derrubamento de um muro de suporte. As características de comportamento do betão estrutural, próximo da rotura, e as hipóteses admitidas para avaliação das capacidades resistentes dos elementos estruturais, acima referidas, e das estruturas, no seu conjunto, serão analisadas nos Capítulos seguintes. 2.2 FILOSOFIA ADOPTADA NA VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA EM RELAÇÃO AOS ESTADOS LIMITES ÚLTIMOS Para garantir o objectivo acima enunciado, da não rotura, a regulamentação das estruturas, em geral, tem vindo a introduzir, a partir dos anos 60, uma filosofia de segurança que, tendo em conta a variabilidade das características dos materiais, do valor das acções e da avaliação da resposta estrutural, assegura uma probabilidade de rotura de 1 x 10-5, ou seja, quase nula. Este formato baseia-se, de uma forma simplificada, na avaliação de valores característicos para os materiais e acções, e ainda à adopção de coeficientes parciais de segurança adequadamente definidos. Vejamos, então, com algum pormenor, essa valoração. 1) Definição de valores característicos para: Valores das acções Ssk (95% de probabilidade de não serem excedidos) Resistências dos materiais SRk (95% de probabilidade de serem superiores). 2) Adopção de coeficientes de segurança parciais que: Majorem as cargas, consoante o tipo de acção: Acções permanentes: valor aproximadamente constante durante a vida g = 1.0 ou 1.35 (consoante a acção for ou não favorável) Estruturas de Betão I 15 Acções variáveis: variam durante a vida útil da estrutura (ex: sobrecarga, vento, sismo, variação de temperatura, etc.) q = 0.0 ou 1.5 (consoante a acção for ou não desfavorável) Acções acidentais: muito fraca probabilidade de ocorrência durante a vida útil da estrutura (ex: explosões, choques, incêndios, etc.) a = 1.0 Minorem as resistências dos diferentes tipos de materiais: Armaduras (s = 1.15) Betão (c = 1.5) Exemplo: fyd = fyk s ; fcd = fck c 3) Estabelecimento de combinações de acções, conforme especificado no RSA Exemplo: Ssd = gSg + q (Sq + 0iSqi) (0i 1 – coeficiente de combinação da acção variável i) Sq – acção variável de base Sqi – restantes acções variáveis 4) A avaliação dos efeitos das acções na estrutura é usualmente realizada com base numa análise elástica linear da mesma, mas com as eventuais/necessárias adaptações para ter em conta, nas estruturas hiperstáticas, o efeito do comportamento não linear do betão estrutural (como constatado nos parágrafos anteriores). Com base nos modelos estruturais adoptados há, então, que avaliar os efeitos das acções. Tem-se, por exemplo, para a flexão, os denominados momentos de cálculo ou dimensionamento, que, para o caso de uma única carga variável, corresponde a: Msd = g Mg + qMq 5) A avaliação das capacidades resistentes (forças ou esforços) depende da geometria do elemento, das características dos materiais e do tipo de esforço. Por exemplo para o momento resistente, como vimos anteriormente, teremos, de uma forma simplificada, : MRd = As fyk 1.15 z. No Capítulo seguinte a avaliação deste valor será detalhadamente apresentada. 6) Verificação da condição de segurança geral: SSd SRd Exemplo para os momentos: Msd MRd Estruturas de Betão I 16 No caso do exemplo anterior, e considerando só a sobrecarga (q = 1.5), tem-se (tomando o braço de forças, z, avaliado para o comportamento elástico): M = PL 4 Msd = 1.5 P 5 4 MRd = 10 10 -4 400 1.15 103 0.40 Donde resulta, como valor de carga que pode ser aplicada à estrutura, com um nível de segurança adequado em relação à rotura por flexão (ou seja, verifica a segurança ao Estado Limite Último de Flexão): P 74.2 kN O procedimento de verificação da segurança acima resumido pode ser ilustrado com base nos diagramas de distribuição probabilística dos efeitos das acções e da avaliação das resistências, como indicado na figura seguinte. A partir de valores característicos, superiores e inferiores, respectivamente para as acções e materiais, majoram-se e minoram-se esses valores, com coeficientes parciais de segurança, para só depois estabelecer a condição de segurança. Percebe-se que a margem de segurança disponível que se obtém com este procedimento é muito grande. Repare-se na diferença entre os valores médios expectáveis das acções e das resistências. No entanto, a justificação da garantia da probabilidade de não rotura ser de 1 x 10-5,como acima referida, está fora do âmbito destas folhas, e desta disciplina. Ssm Ssk SRk SRmSsd SRd Acções ou efeitos das acções Resistência 2.3 FILOSOFIA ADOPTADA NA VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA EM RELAÇÃO AOS ESTADOS LIMITES DE UTILIZAÇÃO Para assegurar o comportamento adequado nas condições de serviço, pretende-se avaliar, agora, tão bem quanto possível, a resposta efectiva da estrutura quando em utilização. Com esse objectivo faz sentido tomar valores de acções que se esperam efectivamente actuem a estrutura (e não valores característicos superiores e/ou majorados) e valores médios para o comportamento dos materiais (certamente que não valores característicos inferiores e/ou minorados).Estruturas de Betão I 17 Esta formulação conduz a que a probabilidade de serem excedidos os valores admissíveis seja da ordem de 1 x 10-1. Vejamos então, em termos práticos, com que bases se fazem estas verificações: 1) Definição dos valores da acção que actuam na estrutura adoptando, por um lado, para os pesos próprios dos materiais estruturais e/ou de outros revestimentos utilizados densidades médias e, por outro lado, valores de sobrecargas com probabilidades reais de virem a actuar as estruturas (percentagens mais pequenas do valor característico têm mais probabilidade de ocorrerem). 2) Estabelecimento de combinações de acções, conforme preconizado no RSA: Combinação quase permanente de acções: Estado limite de longa duração ( 50% do tempo de vida da estrutura) Scqp = G + 2iQi Combinação frequente acções: Estado limite de curta duração ( 5% do tempo de vida da estrutura) Sfreq = G + 1 Q + 2iQi Combinação característica: Estado limite de muito curta duração (algumas horas no período de vida da estrutura) Sraro = G + Q + 1iQi 2 < 1 < 1.0) Q – acção variável de base Qi – restantes acções variáveis 3) A avaliação dos efeitos das acções deve ser realizada considerando, em geral, as propriedades médias dos materiais por forma a estimar o comportamento previsível. É importante referir que, para o efeito de cargas exteriores a hipótese de comportamento linear é razoável e usual, para a obtenção de esforços, mas já não é para avaliação das deformações, a menos que, convenientemente, corrigidas. Por outro lado, devido a deformações impostas à estrutura, a grandeza dos esforços depende fortemente da rigidez da estrutura, e, então, a rigidez elástica deve ser diminuída, logo na avaliação de esforços. É, portanto, necessário considerar, de uma forma simplificada, os efeitos da fendilhação (perda de rigidez) e da fluência do betão nas características da resposta e na forma de avaliar os efeitos das acções. Estes assuntos irão os alunos analisar ao longo do curso. 4) Posteriormente há que fazer as verificações de segurança, atrás mencionadas, como a limitação da deformação, o controlo do nível de tensões nos materiais e o controlo das aberturas de fendas. Estas verificações são estabelecidas nos Estruturas de Betão I 18 regulamentos, para certas combinações de acções. Refira-se que um certo limite é dependente da duração de tempo em que possa subsistir. Por exemplo, para o caso da deformação, é importante garantir a sua limitação para a situação quase-permanente, mas não para a eventualidade de, numa ou várias situações na vida da estrutura, se ter uma sobrecarga maior. Assim: combinação quase permanente admissível Por outro lado, uma abertura de fendas máxima de 0.5 mm pode ser considerada aceitável para a combinação característica de acções, pois só acontece muito esporadicamente, mas não para uma situação com carácter de permanência, em que se aponta na regulamentação para um limite de 0.3 mm. Estruturas de Betão I 19 EXERCÍCIO 1 Considere a estrutura de um piso estrutural, que será tomado como referência nos capítulos seguintes, a construir com os materiais indicados e as acções previstas referidas, e que se representa na planta seguinte: 4.00 4.00 4.004.00 10.00 3.00 S2 S1 Materiais: C25/30, A400 Acções: Peso próprio Revestimento=2.0 kN/m 2 Sobrecarga = 3.0 kN/m 2 Coeficientes de majoração: G = Q = 1.5 Coeficientes de combinação: 1 = 0.4 ;2 = 0.2 Secção da viga: 0.300.85 m 2 Espessura da laje: 0.15m a) Determinar, para as secções S1 e S2 da viga, os valores dos esforços, para a verificação da segurança à rotura. b) Calcular, para as mesmas secções, os esforços para as combinações em serviço, rara, frequente e quase-permanente. Estruturas de Betão I 20 RESOLUÇÃO DO EXERCÍCIO No processo de verificação da segurança de uma estrutura é fundamental encontrar um modelo de análise da estrutura, que nunca deve ser confundido, com a própria estrutura. Trata-se, no essencial, de “um modelo da estrutura” que serve de base para a análise, dimensionamento e verificação de segurança, neste caso da viga central em causa. 1. Modelo de cálculo: Modelo para o cálculo da viga 10.00 3.00 S2 S1 g, q Corte transversal à viga rev, q 0.30 0.15 0.70 4.00 Comentários ao modelo de cálculo, escolhido, com algumas simplificações: Consideram-se as vigas sem continuidade na ligação aos pilares; Considera-se que as lajes descarregam apenas nas vigas transversais. 2. Cálculo das acções na viga 2.1. Carga permanente Peso próprio pp = betão Área = [4 0.15 + (0.85 - 0.15) 0.30] 25 = 20.3kN/m Revestimento rev = 2.0 4.0 = 8.0kN/m cp = pp + rev = 20.3 + 8.0 = 28.3kN/m 2.2. Sobrecarga sc = 3.0 4.0 = 12.0kN/m Estruturas de Betão I 21 3. Diagrama de esforços para uma carga unitária (poder-se-ia considerar logo à partida considerar o valor das cargas) S1S2 10.00 3.00 p=1 kN/m RA RB 10.25 4.5 4.55 3.0 DMF [kNm] (+) (-) DEV [kN] (+) (-) (+) 5.45 x (i) Cálculo das reacções de apoio MA = 0 10 RB- 1.0 13 13 2 = 0 RB = 8.45kN F = 0 RA + RB = 13 RA = 13 - 8.45 = 4.55kN (ii) Cálculo do momento flector a ½ vão MB = - 1 3 3 2 = - 4.5kN/m M½vão = 1 102 8 - 4.5 2 = 10.25kNm L/2 L/2 pL /8 2 (iii) Cálculo do momento flector máximo 4.55 + 5.45 4.55 = 10.0 x x = 4.55m Mmáx = 4.55 4.55 2 = 10.35kNm M½vão Mmáx Estruturas de Betão I 22 ALÍNEA A) Secção S1 Secção S2 MS1 G = – 4.5 28.3 = - 127.35 kNm MS2 G = 10.25 28.3 = 290.1 kNm MS1 Q = – 4.5 12.0 = - 54 kNm MS2 Q = 10.25 12.0 = 123.0 kNm VS1 G = –5.45 28.3 = 154.2 kN VS1 Q = –5.45 12.0 = 65.4 kN Valores de cálculo dos esforços MS1 sd = 1.5 ( )MS1G + MS1Q = 1.5 (-127.35 - 54) = -272.0 kNm MS2 sd = 1.5 ( )MS2G + MS2Q = 1.5 (290.1 + 123) = 619.7 kNm VS1 Sd = 1.5 ( )VS1G + VS1Q = 1.5 (-154.2 - 65.4) = -329.4 kN Consideração de alternância de sobrecarga A sobrecarga, sendo uma acção variável, pode actuar em qualquer tramo. Assim, para cada caso, há que verificar a hipótese de carga mais desfavorável. Chama-se, desde já a atenção, para que na consola e sobre o apoio adjacente, os esforços só dependem das cargas na própria consola e, portanto, os valores máximos são os avaliados anteriormente. Por outro lado, se se considerar apenas a actuação da sobrecarga no tramo apoiado, o momento flector obtido a meio vão desse tramo será superior ao calculado considerando a sobrecarga a actuar em toda a viga (calculo anterior). Deste modo, g q MS2 Q = 12 102 8 = 150 kNm ; MS2 G = 10.25 28.3 = 290.1 kNm MS2 sd = 1.5 (290.1 + 150) = 660.2kNm Estruturas de Betão I 23 Refira-se que, sendo a viga isostática, a distribuição de esforços para uma qualquer combinação de acções é única. Ora isto é diferente do que acontece nas estruturas hiperstáticas onde são possíveis distribuições de esforços distintas que equilibram as mesmas acções... e que são compatíveis com o comportamento, efectivamente não linear, dos materiais. Alínea b) Secção S1 Mc rara = MG + MQ = -127.35 - 54 = - 181.4kNm Mcfreq = MG + 1 MQ = -127.35 - 0.4 54 = -149.0kNm Mcqp = MG+ 2 MQ = -127.35 - 0.2 54 = – 138.2kNm Vc rara = VG + VQ = 154.2 + 65.4 = 219.6kN Vcfreq = VG + 1 VQ = 154.2 + 0.4 65.4 = 180.36kN Vcqp = VG + 2 VQ = 154.2 + 0.2 65.4 = 167.3kN Secção S2 Mc rara = MG + MQ = 290.1 + 123.0 = 413.1kNm Mcfreq = MG + 1 MQ = 290.1 + 0.4 123 = 339.3kNm Mcqp = MG + 2 MQ = 290.1 + 0.2 123 = 314.7kNm Verifica-se também que o nível de esforços considerados para a verificação da segurança à rotura são significativamente superiores aos correspondentes das combinações de acções em serviço, e que estes últimos são tão menores, quão a probabilidade de ocorrência seja maior. Estruturas de Betão I 24 3 Materiais 3.1 CARACTERIZAÇÃO DOS BETÕES O betão tem como referido anteriormente, e os alunos certamente saberão nesta fase do curso, um comportamento não linear. Ou seja, tem uma relação tensão-extensão que não segue a lei de Hook, em particular para tensões mais elevadas. Como se verá na sequência, até certos níveis limitados de tensão, é razoável admitir o comportamento como linear. Os betões são, em termos regulamentares, classificados por classes de resistência, como certamente analisaram na disciplina de materiais. As classes de resistência estão definidas de acordo com os valores característicos de tensão de rotura à compressão aos 28 dias de idade, referidos a provetes cúbicos ou provetes cilíndricos, apesar destes últimos serem aqueles que se consideram como referência na avaliação da segurança estrutural. No quadro seguinte apresentam-se, para as várias classes de resistência do betão, os valores característicos e de cálculo das tensões de rotura à compressão (fck e fcd), bem como o valor médio da tensão de rotura à tracção (fctm) e módulo de elasticidade aos 28 dias (Ec, 28). Classe B15 C12/15 B20 C16/20 B25 C20/25 B30 C25/30 B35 C30/37 B40 C35/45 B45 C40/50 B50 C45/55 B55 C50/60 cub. fck cil. [MPa] 15 12 20 16 25 20 30 25 37 30 45 35 50 40 55 45 60 50 fcd [MPa] 8.0 10.7 13.3 16.7 20.0 23.3 26.7 30.0 33.3 fctm [MPa] 1.6 1.9 2.2 2.6 2.9 3.2 3.5 3.8 4.1 Ec,28 [GPa] 27.0 29 30 31 33 34 35 36 37 Estruturas de Betão I 25 3.1.1 TENSÕES DE ROTURA DO BETÃO A partir dos valores característicos das tensões de rotura à compressão ou à tracção, definem-se os valores denominados de dimensionamento ou de cálculo à rotura: fcd = fcil. ck c , fctd = fctk c com c = 1.5 ( )fcil.ck 0.8 fcubosck O valor médio da tensão de rotura do betão à tracção pode ser estimado pela expressão: fctm = 0.30 f 2/3 ck Nota: o valor de fcd é definido a partir da resistência em cilindros, dado que estes provetes são mais representativos da resistência do betão em peças longas. 3.1.2 MÓDULO DE ELASTICIDADE DO BETÃO Na análise de estruturas é usual admitir um comportamento elástico, como atrás já referido, considerando-se, em geral, o módulo de elasticidade secante do betão aos 28 dias de idade. Este módulo de elasticidade, tal como a figura seguinte indica, encontra-se definido para c = 0 e c = 0.4 fck. Refira-se a propósito, que este tipo de hipótese é adoptada, na prática da engenharia, com muita frequência, considerando- se, posteriormente, formas mais ou menos directas de ter em consideração o efectivo comportamento não linear do betão armado, quer em condições de serviço, quer, por maioria de razão, próximo da rotura. fcm c c Ec 0.4 fck 3.1.3 VALOR CARACTERÍSTICO DA TENSÃO DE ROTURA DO BETÃO À COMPRESSÃO FC A partir de um certo número de resultados de ensaios, é possível avaliar o valor característico do betão. Estruturas de Betão I 26 Assim: fck = fcm - Sn , Sn – desvio padrão das resistências das amostras – parâmetro que depende do número de ensaios n 6 10 15 1.87 1.62 1.48 3.2 CARACTERIZAÇÃO DAS ARMADURAS As armaduras a utilizar no betão estrutural podem dividir-se em: armaduras para betão armado armaduras de pré-esforço As primeiras são também denominadas de armaduras passivas, pois só são solicitadas em resposta a acções exteriores. As armaduras de pré-esforço são compostas por aços com capacidade resistente da ordem de 3 a 4 vezes superiores às passivas e são chamadas de activas, pois são traccionadas antes da actuação das solicitações exteriores. Nestes elementos referem-se unicamente as primeiras pois o pré-esforço é introduzido na disciplina de Estruturas de Betão II. 3.2.1 CLASSIFICAÇÃO DAS ARMADURAS PARA BETÃO ARMADO Os aços são classificados tendo em consideração o processo de fabrico, a rugosidade da superfície e a sua capacidade resistente. Assim temos: processo de fabrico aço natural (laminado a quente) (N) aço endurecido a frio (E) aderência alta aderência (superfície rugosa ou nervurada) (R) aderência normal (superfície lisa) (L) resistência (A235), A400, A500 Estruturas de Betão I 27 O aço A235 foi utilizado na construção em Portugal, em geral com varões lisos, mas já não é produzido actualmente. As armaduras designam-se, assim, com a seguinte simbologia base: Designação das armaduras: A500 N R SD fyk aderência processo de fabrico ductilidade especial Os aços de dureza natural A400 NR e A500 NR produzidos em Portugal, apresentam apenas duas famílias de nervuras – ver figura abaixo. Nos aços A400 todas as nervuras de uma família são paralelas ao passo que no A500 as nervuras têm alternadamente inclinações diferentes, pelo menos de um dos lados. A diferenciação, entre aços com ductilidade especial (SD), recomendados em zonas sísmicas, e os correntes, é ilustrada na figura, sendo que, no essencial, os SD tem as mesmas nervuras nas duas faces. Tipo A400NR Tipo A500NR Tipo A400NR SD Tipo A500NR SD Identificação do tipo de aço Os aços endurecidos a frio (E) são produzidos por laminagem com impressão de um perfil nervurado, constituído por três famílias de nervuras dispostas em 3 planos. Estruturas de Betão I 28 4 Verificações de Segurança à Rotura por Flexão Para a avaliação das capacidades resistentes das secções de betão à flexão, no âmbito da filosofia de segurança em relação à rotura, começa-se por mostrar como se caracterizam os comportamentos dos materiais a adoptar naquela avaliação. Posteriormente, e a partir de hipóteses admitidas para a deformação da secção na rotura, mostra-se como se avaliam os esforços resistentes de flexão. 4.1 RELAÇÕES TENSÃO-EXTENSÃO DOS MATERIAIS PARA VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA AOS E.L. ÚLTIMOS 4.1.1 BETÃO A partir da relação tensão-extensão característica do betão, referida anteriormente, é definida uma relação simplificada, com base numa parábola e num rectângulo com um valor máximo de resistência, o qual é obtido do valor característico, pela aplicação do correspondente coeficiente parcial de segurança de 1.5. c c fcd c2 fck cu2 (Diagrama parábola rectângulo) fcd = fck c , c = 1.5 0.8 1.0 para 0 c c2 c = fcd para c2 c cu2 Para as classes de resistência até C50/60, c2[‰] cu2[‰] 2.0 3.5 Para uma definição analítica detalhada destas curvas pode ser consultada bibliografia referida para a disciplina. Na avaliação do valorde fcd, para além do coeficiente parcial de segurança, aparece o coeficiente . Este parâmetro tem em consideração a diminuição da tensão de rotura do betão quando sujeito a tensões elevadas prolongadas. De facto, se o betão for solicitado com constância, durante um certo período de tempo, a uma tensão um pouco inferior à máxima (entre 85% a 100% de fc) acaba por atingir a rotura. De acordo, por exemplo, com o REBAP, a tensão máxima no betão está limitada a 0.85 fcd, ou seja considerando = 0.85. No entanto, o EC-2 propõe, para casos correntes, Estruturas de Betão I 29 1.0 fcd, pois nas condições de carregamento com persistência o betão estará, em geral, solicitado a níveis de tensões bem inferiores às acima referidas, tendo-se considerado demasiado penalizante tomar esse efeito na verificação da segurança à rotura. Na disciplina, e na prática da engenharia em geral no futuro, tenderá a utilizar- se a hipótese proposta no EC2. No entanto, e para já, o mais importante é perceber a razão do sentido físico deste coeficiente. 4.1.2 AÇO Para a verificação da segurança aos E.L. Últimos pode ser considerada uma das duas relações constitutivas indicadas pelo EC-2, e presentes na figura seguinte, i.e., considerando ou não (hipótese muitas vezes admitida como simplificação) algum incremento de resistência a partir da cedência, quantificado pelo coeficiente k. k fyk f yd 1 ukyd ykf E =200 GPas 2 s sud k fyd fyd = fyk s , s = 1.15 ud = 0.9 uk Classe fyk [MPa] fyd [MPa] yd [10 -3 ] A235 A400 A500 235 400 500 205 348 435 1.025 1.74 2.175 O valor da extensão máxima convencional do aço, ud (igual a 90% do valor característico uk), a considerar depende da classe de ductilidade das armaduras. No quadro seguinte são indicados os valores característicos das extensões últimas, para as diferentes classes de ductilidade, que são da ordem dos 25 a 75‰, portanto, muito superiores aos do betão de 3.5 ‰. Classe de ductilidade A B C k 1.05 1.08 1.15 <1.35 uk [%] 2.5 5.0 7.5 Refira-se que o REBAP limita a 10‰ a extensão última convencional de dimensionamento, ud, valor claramente inferior aos acima referidos. No entanto, uma vez que para este valor de extensão, o aço se encontra bem na cedência, as Estruturas de Betão I 30 repercursões em termos da avaliação das capacidades resistentes à flexão, são praticamente nulas, como se verá no sub-capítulo seguinte. Em Portugal os aços são denominados por NR, ER ou NR SD, como referido em 3.2.1, onde é explicada a simbologia e a forma como se pode proceder à sua identificação superficial. Para a construção corrente é normal utilizarem-se ferros NR, sendo em zonas de maior sismicidade, a utilização de aços SD fundamental. Estas classificações actuais dos aços em Portugal, correspondem às características de ductilidade das classes B (NR) e C (NR SD) definidas no EC2 e acima mencionadas. 4.2 ANÁLISE DA SECÇÃO. MÉTODO GERAL Definidas as características dos materiais, a capacidade resistente à flexão simples, mas também à tracção e compressão isoladas e/ou estas em sobreposição com a flexão, resultam do estabelecimento das condições de equilíbrio e do estabelecimento das condições de deformação da secção e das condições limite. No que se segue vai se analisar a situação de flexão simples mas é importante que os alunos estabeleçam, por si, as situações de tracção e compressão simples. A flexão composta será tratada posteriormente no curso. Hipóteses adoptadas na rotura convencional de dimensionamento 1- Apesar da complexidade do estado de deformação do betão armado, próximo da rotura, a Hipótese de Bernoulli é considerada. 2- A situação última limite é atingida, quando se verifica uma das extensões últimas seguintes: - -c = 3.5‰ (Deformação máxima de encurtamento no betão) - s = ud (Deformação máxima de alongamento nas armaduras) 3- A participação do betão à tracção não é considerada: - c = 0 se c> 0 o betão à tracção tem tensão nula LN Fs z MRd Fc x (+) (-) c 3.5‰ s ud Estruturas de Betão I 31 Com base nas relações constitutivas dos materiais e das hipóteses anteriores, estabelecem-se as equações de equilíbrio na secção. Assim, se as expressarmos em função das resultantes das tensões de tracção e compressão, tem-se: Equações de Equilíbrio (sendo Fs e Fc as resultantes das tensões de tracção e compressão, respectivamente.): Equilíbrio axial (Esforço axial nulo): Fs = Fc Equilíbrio de momentos: MRd = Fs z 4.3 MÉTODO DO DIAGRAMA RECTANGULAR Neste método simplifica-se a forma de distribuição das compressões no betão e despreza-se a participação do aço à compressão, o que permite resolver as equações anteriores, de forma simples. 0.8x x fcdfcdc (-) fcd c 3.5‰ c0.7‰ Deste modo, s c Fs z = d - 0.4x x (-) (+) Fc LN d fcd 0.8x 0.4x 4.3.1 CÁLCULO DE MRD Se forem conhecidos a geometria da secção, a quantidade de armadura e as resistências dos materiais, a avaliação da capacidade resistente segue os seguintes passos (trata-se um problema dito de análise pois a secção e armaduras estão totalmente definidas): i) Admitir que s = fyd (s yd), ou seja, que as armaduras estão em cedência ii) Determinar posição da linha neutra Por equilíbrio axial, Fc = Fs fcd Ac (x) = As fyd x = ? Estruturas de Betão I 32 iii) Calcular o momento resistente Por equilíbrio de momentos, MRd = As fyd (d - 0.4x) iv) Verificar hipótese inicialmente admitida: s yd Rotura convencional: c = 3.5‰ ou s = ud A partir da posição da linha neutra anteriormente calculada, se admitirmos que a rotura se dá pelo betão, obtém-se a extensão ao nível da armadura. c = 3.5‰ (+) (-) s x Se s yd a hipótese considerada inicialmente, de admitir o aço em cedência está correcta. Se s < yd Fs < As fyd, trata-se de uma situação não desejável pois nem se estaria a tirar partido da resistência máxima do aço. A posição da Linha Neutra para essa situação limite pode ser avaliada para os aços A400 e A500 por: Posição da LN para c = 3.5 ‰ e s = yd (início da cedência do aço) d x s=yd (+) (-) c = 3.5‰ A400: yd = 1.74 ‰ x 3.5 = d 3.5 + 1.74 x = 0.67 d A500: yd = 2.175 ‰ x 3.5 = d 3.5 + 2.175 x = 0.62 d Deste modo, se x 0.67 d no caso de se utilizar aço A400, ou se x 0.62 d no caso de se utilizar aço A500, pode se concluir, desde logo, que o aço está em cedência. Por outro lado, conhecida a posição da Linha Neutra, é possível confirmar se a rotura convencional se dá pelo betão. Exemplifica-se, seguidamente, para aços das classes B (NR) e C (NR SD). Para um aço de Classe C: Posição da LN para c = 3.5‰ e ud = 0.9 75‰ = 67.5‰ x c = 3.5‰ (-) (+) ud d x 3.5 = d 71 x = 0.05 d Estruturas de Betão I 33 Deste modo, se x < 0.05 d (situação pouco corrente) c< 3.5‰ s = ud (rotura pela armadura) se x > 0.05 d c = 3.5‰ s < ud (rotura pelo betão) Se tratasse de um aço de Classe B ter-se-ia para este limite x = 0.072 d Constata-se, assim, que, para uma grande gama de possíveis posições da Linha Neutra, a rotura convencional dá-se pelo betão e o aço está em cedência. Esta diferenciação (rotura convencional pelo aço ou betão), nem é importante pois de qualquermaneira a capacidade máxima resistente do aço é explorada. No entanto, é importante no dimensionamento das secções de betão armado controlar melhor a posição da Linha Neutra por uma razão essencial: Um elemento de betão armado deve apresentar ductilidade em situação de rotura, i.e., deve poder evidenciar deformações apreciáveis por cedência das armaduras, sem perda de capacidade resistente. Esta característica é fundamental nas estruturas e, para tal, é importante assegurar valores x/d limitados, pois verifica-se, experimentalmente, que aquele é um parâmetro que influencia directamente a ductilidade do elemento. A Ductilidade ou Capacidade de Deformação Plástica das Secções é medida pela relação (1/R)u/(1/R)y, i.e., a relação entre as curvaturas última e de cedência, como ilustrado na figura seguinte. As2 As3 As4< < < c 3.5‰) ou c ud) As1 MRd y( )R/1 (1) As1 (x1;s1;maior ductilidade) As2 (x2;s2) u 1/R( ) ( )R/1 As3 (x3;s3) As4 (x4;s4;menor ductilidade) s=syd (2) (1) (2) Rotura da secção por esmagamento do betão comprimido menos correntemente, por deformação de armaduras (+) (-) x cx = -3.5‰ sAs 1 R 1 R = - cx x Para garantir um nível mínimo de ductilidade disponível deve procurar garantir-se que, pelo menos, x 0.4 a 0.5 d, portanto com x/d claramente na zona de cedência do aço. Estruturas de Betão I 34 É importante referir que no dimensionamento à rotura dos elementos estruturais se deve sempre avaliar as vertentes de resistência e de ductilidade. A situação mais corrente com que o engenheiro se defronta na prática, depois de ter feita a análise estrutural, ter avaliado a distribuição de esforços actuantes, ter definido uma geometria para a secção e escolhido os materiais, é a de querer avaliar a quantidade de armadura a considerar para verificar a segurança (trata-se um problema dito de dimensionamento). Dimensionamento das armaduras: Dados: geometria da secção, fcd, fyd, Msd 0.8x fcd d LN Fc x z Fs Msd As b i) Admitir que s = fyd (s yd), ou seja, que as armaduras estão em cedência ii) Determinar posição da linha neutra Por equilíbrio de momentos, Msd = Fc z = fcd b 0.8 x (d - 0.4x) x = ... Fc = ... iii) Calcular a área de armadura necessária Por equilíbrio axial, Fc = Fs fcd b 0.8x = As fyd As= ? iv) Verificar hipótese inicialmente admitida: s y Estruturas de Betão I 35 Exercício 2 Considere a viga representada na figura seguinte e adopte G = Q = 1.5 q 5.00 0.55 0.30 320 Materiais: C25/30 (fcd = 16.7MPa) A400 (fyd = 348MPa) Calcule a máxima sobrecarga q que pode actuar com segurança sobre a viga. Resolução Método do diagrama rectangular simplificado 0.4x 0.8x 0.85 fcd d LN Fc x z Fs MRd 1. Cálculo do MRd Equações de equilíbrio (flexão simples) F = 0 Fc = Fs (1) M = 0 MRd = Fs z = Fs (d - 0.4x) (2) (Este exercício está resolvido com = 0.85) Fc = 0.8x b 0.85 fcd = 0.8x 0.30 0.85 16.7 10 3 = 3406.8x Fs = As fyd = 9.42 10 -4 348 103 = 327.8kN (As(320) = 9.42cm 2) (1) Fc = Fs x = 327.8 3406.8 = 0.096m z = d – 0.4x = 0.55 – 0.4 0.096 = 0.51m Estruturas de Betão I 36 (2) MRd = Fs z = 327.8 0.51 = 167.2kNm Verificação da hipótese de cedência do aço (s yd) 0.454 s (+) (-) c = 3.5‰ 0.096 0.55 s 0.454 = 3.5‰ 0.096 s = 16.6‰>>yd yd = fyd s = 348 200103 = 1.74‰ x d = 0.096 0.55 = 0.175 Ductilidade da secção (como critério mínimo é desejável que x/d ~ (0.4 a 0.5) ou, equivalentemente, s > ~ 4‰ a 5‰, 3. Cálculo da sobrecarga máxima (Msd MRd) Msd = psd L 2 8 167.7kNm psd 8 167.7 52 = 53.7kN/m psd = 1.5 (g + q) q = 53.7 1.5 - 0.30 0.60 25 = 31.3kN/m Estruturas de Betão I 37 Exercício 3 (mesma base do exercício 1) Considere a mesma estrutura de piso e considere os cálculos já realizados: 4.00 4.00 4.004.00 10.00 3.00 S2 S1 Materiais: C25/30, A400 Acções: Peso próprio Revestimento = 2.0kN/m2 Sobrecarga = 3.0kN/m2 Coeficientes de majoração: G = Q = 1.5 Coeficientes de combinação: 1 = 0.4 ;2 = 0.2 Secção da viga: 0.30 0.85m2 Espessura da laje: 0.15m a) Determine as armaduras necessárias para garantir o Estado Limite Último de flexão da viga (Secções S1 e S2) a.1) utilizando o método do diagrama rectangular simplificado a.2) Fs z a.3) com recurso a tabelas a.4) pormenorize as armaduras de flexão Estruturas de Betão I 38 RESOLUÇÃO DA ALÍNEA A): 1. Modelo de cálculo: 10.00 3.00 S2 S1 g, q 0.85 0.30 2. Envolvente do diagrama de esforços 660.2 (+) DMF [kNm] (-) 272.0 S2 S1 ALÍNEA A.1) Secção S2 (M +sd = 660.2 kNm) 0.30 As Msd Fs z Fc 0.85 fcd 0.8x LN x 0.80 Resolução com = 0.85: Fc = 0.85 fcd 0.8x b = 0.85 16.7 10 3 0.8x 0.3 = 3406.8x Fs = As fyd = As 348 10 3 Equilíbrio de momentos: MAS = Msd 3406.8x (0.8 - 0.4x) = 660.2 x = 0.282m Fc = 3406.8 0.282 = 960.7kN Equilíbrio de forças: Fs = Fc As 348 10 3 = 960.7 As = 960.7 348 103 104 = 27.6 cm2 Verificação da hipótese de cedência do aço Estruturas de Betão I 39 0.282 0.518 s c = 3.5‰ (-) (+) Admitindo que c = 3.5‰ c = 3.5‰ s = 0.282 0.518 s = 6.43‰ > yd = 1.74‰ x d = 0.35 A armadura está em cedência e a secção tem um nível de ductilidade aceitável. Secção S1 (M - sd = 272.0 kNm) Msd 0.8x Fc FsAs 0.30 0.80 x LN 0.85 fcd z Equilíbrio de momentos: MAS = Msd 3406.8x (0.8 - 0.4x) = 272.0 x = 0.105m Fc = 357.7kN Então x/d = 0.13 Bom em termos de ductilidade disponível Equilíbrio de forças Fs = Fc As 348 10 3 = 357.7 As = 357.7 348103 104 = 10.28cm2 Verificação da hipótese de cedência do aço Admitindo que c = 3.5‰ tem-se: s 3.5‰ = 0.695 0.105 s = 23.2‰ >>yd 4.4 RESISTÊNCIA À FLEXÃO SIMPLES COM O AUMENTO DE ARMADURAS Na figura seguinte apresentam-se os diagramas de deformação de uma secção de betão armado, para quatro áreas de armadura distintas (área de armadura crescente). Estruturas de Betão I 40 x1 MRd As s (+) (-) c MRd,1 (As muito pequeno) (As maior) x2 MRd,2 c (-) (+) s (...) x3 MRd,3 s (+) (-) c (...) MRd,4 x4 c (-) (+) s 1 2 3 4 Apresentam-se, em seguida, as relações constitutivas do aço e do betão, com indicação qualitativa da evolução das tensões e extensões dos dois materiais, com a variação da armadura. fcd c syd ud s s fsyd 2‰ 3.5‰ c 43 e2 1 e1 23 4 Conforme se pode observar na figura seguinte, para baixos níveis de armadura, existe proporcionalidade entre a área de armadura e o momento resistente da secção. À medida que a quantidade de armadura aumenta, esta relação deixa de ser linear, ou seja, o aumento da armadura traduz-se em acréscimos menores de momento resistente. Este comportamento deve-se à sucessiva diminuição do braço do binário (z) com o aumento da área de armadura, até que a armadura deixa de poder estar em cedência (caso 4) e, portanto, o aumento de armadura perde toda a eficiência.321 MRd As 4 M1 M2 M3 M4 Estruturas de Betão I 41 4.5 DIMENSIONAMENTO À FLEXÃO SIMPLES – GRANDEZAS ADIMENSIONAIS 4.5.1 MÉTODO GERAL s1 c (-) (+) x Fc M Fs1 LN s2 As1 As2d2 d Fs2 x b c Fc = fcd b x Fs2 = s2 As2 Fs1 = s1 As1 fcd = Ac c dA bx ; x = c y dA c dA – coeficiente que define a relação da resultante das tensões de compressão no betão pela força de uma compressão uniforme com fcd, em toda a zona comprimida. – coeficiente que define a posição da resultante das tensões de compressão no betão, função de x. Equações de Equilíbrio Equilíbrio axial: Fc = Fsfcd bx + s2 As2 = s1 As1 (1) Equilíbrio de momentos: MAs = M M = fcd b x (d - x) + s2 As2 (d - d2) (2) (Equações não lineares) Cálculo por iterações i) Fixar c = 3.5‰ e um valor de x (por exemplo, tal que, x d = 0.5) ii) Calcular as forças axiais F Se |Fc + Fs2| > Fs1 a LN tem de subir para diminuir FC, tendo uma das extensões, c ou s, o valor máximo e, a outra, um valor igual ou inferior ao limite. sud d x c 3.5‰ (-) (+) É necessário diminuir o valor de x até que F = 0 Estruturas de Betão I 42 Se |Fc + Fs2| < Fs1 (a LN tem de baixar para aumentar Fc) x s c 3.5‰ (+) (-) É necessário aumentar o valor de x até que F = 0. ii) Calcular MRd Definida a posição da LN e o diagrama de extensão, calculam-se as tensões e o valor de MRd Nota: Este é um processo de cálculo moroso. Na prática recorre-se a programas de cálculo automático ou a tabelas de cálculo. Para elaborar tabelas é necessário trabalhar com grandezas adimensionais, por forma a que sejam aplicáveis a secções com qualquer geometria. 4.5.1.1 Grandezas adimensionais Equações de Equilíbrio fcd bx = s1 As1 - s2 As2 (1) M = fcd b x (d - x) + s2 As2 (d - d2) (2) Substituindo (1) em (2), M = s1 As1 (d - x) - s2 As2 (d - x) + s2 As2 (d - d2) = s1 As1 (d - x) + s2 As2 (x - d2) (3) Considerando As2 = As1 e s = fyd, a equação (3) toma a forma M = As1fyd d 1 - x d + As1fyd d x d - d2 d Transformando esta equação numa forma adimensional (dividindo todos os termos por b d2fcd), resulta M b d2 fcd = As1 fyd b d fcd 1 - x d + As1 fyd b d fcd x d - d2 d = (1 – k) + k - d2 d Estruturas de Betão I 43 Definem-se, assim, os parâmetros , w e k, de uso corrente na concepção e dimensionamento de estruturas de betão: = M b d2 fcd (Momento flector reduzido); = As1 fyd b d fcd (Percentagem mecânica de armadura) k = x d (Posição da L. Neutra adimensional) 4.5.2 MÉTODO DO DIAGRAMA RECTANGULAR SIMPLIFICADO 4.5.2.1 Grandezas adimensionais b Fc MRd Fs x (+) (-) c s d As LN 0.4x z 0.8x MRd = Fs z = Fs (d - 0.4x) Admitindo que o aço está na cedência, MRd = As fyd (d - 0.4x) Transformando a equação anterior numa forma adimensional, resulta MRd b d2 fcd = As fyd b d fcd 1 - 0.4 x d = As b d fyd fcd 1 - 0.4 x d Rd = (1 - 0.4k) Rd = MRd b d2 fcd (momento flector reduzido); k = x d = As b d fyd fcd (percentagem mecânica de armadura) Fc = Fs0.8 (kd) bfcd=Asfydk = 1.47 As b d fyd fcd = 1.47 ( =0.85)085).85) Visto que Rd = (1 - 0.4k) e substituindo o resultado anterior, obtém-se a seguinte expressão para cálculo do momento flector reduzido em função da percentagem mecânica de armadura: Rd = (1 - 0.588 ) Estruturas de Betão I 44 4.5.3 UTILIZAÇÃO DE TABELAS As tabelas podem ser utilizadas para: i) Determinar o momento resistente de uma secção, dadas as armaduras; ii) Determinar as armaduras, dado o momento solicitante 4.5.3.1 Determinação da capacidade resistente (Análise) Dado As1 e As2 determina-se e Tabelas () MRd = b d 2fcd 4.5.3.2 Dimensionamento de armaduras Dado Msd determina-se = Msd b d2 fcd Tabelas () 1 As1 = 1 bd fcd fyd As2 = As1 Refira-se que as tabelas da disciplina foram desenvolvidas para = 0.85 Notas: (i) No dimensionamento de uma secção, a posição da L.N. deve ser controlada por forma a que se tenha a garantia de um nível de ductilidade adequado. Caso isso não aconteça, será conveniente dispor de armaduras de compressão específicas ou modificar a secção da viga (aumentar a altura é mais eficiente que adaptar a largura, no entanto, na prática do projecto, a altura está muitas vezes mais condicionada). (ii) Numa viga, existe, de qualquer forma, sempre armadura de compressão, por razões construtivas, em geral, com um nível não inferior a = 0.1. Directamente através dos valores adimensionais do momento (), e não considerando o papel da armadura de compressão, é possível ter, para uma dada secção, uma noção do nível de esforço actuante e da potencial ductilidade. Momento elevado k próximo de 0.668 (A400) s próximo de yd 0.30 (secção pouco dúctil) Momento médio k < 0.5 (secção dúctil, dimensionamento adequado) 0.10 a 0.25 Momento pequeno 0.10 (situação aceitável, a secção estará “folgada”) IMPORTANTE: Estes valores devem ser tomados como referência para um dimensionamento adequado e não como imposições regulamentares ou outras. Por Estruturas de Betão I 45 exemplo, é possível ter valores de mais elevados e ter-se, ainda, um nível de ductilidade adequado, com utilização de armadura de compressão. No quadro seguinte, e para a flexão simples, apresentam-se as relações de dimensionamento - relativas à aplicação do REBAP ( = 0.85) e do EC2 ( = 1) com relações constitutivas dos aços de acordo com as Classes A, B e C. 0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35 0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35 0,40 0,45 EC2 - k=1,00 EC2 - Classe A - k=1,05 EC2 - Classe B - k=1,08 EC2 - Classe C - k=1,15 EC2 - Classe C - k=1,35 REBAP Verifica-se que as diferenças nos valores resistentes são pouco significativas, sendo a maior entre o REBAP (linha inferior) e o EC2, tomando a classe de aço C com k = 1.35 (linha superior). As diferenças mais importantes são devidas à consideração do aumento da resistência do aço para além da cedência (coeficiente k). Refira-se que na prática seria sempre desajustado tomar para o aço C um valor superior a k = 1.15 pois, havendo a possibilidade deste variar entre 1.15 e 1.35, ter-se-ia que tomar, sempre, o menor. O facto de se adoptar para o betão o coeficiente 0,85 (em vez do 1), só tem influência relevante para esforços elevados, pois aí começa a ter alguma influência a diminuição do braço das forças, devido ao aumento da zona das compressões. Estruturas de Betão I 46 4.6 ESTIMATIVA DO MOMENTO RESISTENTE d Fc Mz Fs As Para momentos de ordem de grandeza pequena a média verifica-se que, para secções rectangulares, é razoável admitir, de umas forma simplificada: z 0.9 d. M = Fsz Asfyd 0.9 d As = M 0.9 d fyd De facto, pela observação das tabelas de flexão simples (pág. 9), com = 0, verifica- se que: para = 0.15, z (1
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