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Apostila de Fundamentos de Direito Unidade 2

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1 
 
 
 
 
 
 
 
Fundamentos de Direito 
 
 
 
 
 
Panorama Contemporâneo do Direito, 
Teoria Tridimensional do Direito 
e a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro 
 
 
Unidade II 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 3 
1. ELEMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E DO DIREITO PRIVADO .................................. 4 
2. LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO ............................... 14 
3. TEORIA TRIDIMENSIONAL DO DIREITO .................................................................... 19 
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................... 23 
 
 
 
3 
INTRODUÇÃO 
 
Em continuidade ao conteúdo iniciado pela 1ª Unidade do curso de 
Fundamentos de Direito, a Unidade II abrangerá os conceitos e paradigmas principais 
relacionados ao regime jurídico de Direito Público e suas distinções com o regime do 
Direito Privado. O escopo dará prioridade à jurisprudência nacional, especialmente 
por parte do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ). 
No segundo capítulo, dar-se-á ênfase à Teoria Tridimensional do Direito, 
elaborada pelo jurista Miguel Reale, trazida à tona frente a comentários mais 
modernas elaborados pela doutrina brasileira. 
Por fim, será analisada a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, o 
decreto-lei nº 4.657, de 04 de setembro de 1942, denominada LINDB, anteriormente 
conhecida como Lei de Introdução ao Código Civil (LICC), e seu papel fundamental 
na interpretação e aplicação das leis. 
 
 
 
 
4 
1. ELEMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E DO DIREITO PRIVADO 
 
Inicialmente, deve-se observar que não há uma distinção absoluta ou textual 
sobre regimes jurídicos distintos ou ramos de atuação do Direito (como o Direito Penal 
ou o Direito Civil); mas sim que tais divisões possuem funções de âmbito educacional 
e de atuação prática. 
Não há a absoluta anulação de um regime jurídico tipicamente privado em sede 
de atuação do regime jurídico público, e o contrário também pode ser constatado. 
Ademais, há ainda o espectro cinza que comportava alguma dificuldade em adequar 
a um e outro tipo de Direito. 
Inicialmente, far-se-á necessário analisar as questões envolvendo a dicotomia 
do público e do privado. 
O parâmetro utilizado para perscrutar essa taxonomia consiste na relação 
jurídica de igual ou distinta hierarquia de prerrogativas entre as partes envolvidas. 
Como regra, o Direito Privado estipula normas para agentes em igual grau de 
igualdade, porém não é em absoluto (como no caso do Código de Defesa do 
Consumidor, e o instituto da inversão do ônus da prova na seara processual). 
Na relação de Direito Público, tem-se uma relação entre pessoas em condições 
distintas; de um lado, haverá o Poder Público, seja da Administração Direta ou 
Indireta, de quaisquer dos Poderes, e nessa condição estará consubstanciada no 
interesse público, não podendo dispor livremente das condições propostas pelos 
contratos de direito privado. 
O ente público, no advento da relação jurídica, estará amparado por institutos 
legais próprios e que priorizem os interesses da coletividade, abstendo os valores e 
desejos pessoais do agente público ou autoridade responsável. 
Entre partes privadas, as relações jurídicas estarão amparadas por leis gerais 
e específicas acerca do negócio jurídico proposto, podendo estar impor limitações 
para as partes. 
A contratação de um empregado por parte de um empregador pessoa jurídica 
irá submetê-los ao regime contratual de trabalho proposto pelo Decreto-lei nº 5.452, 
1º de maio de 1943, conhecida como Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. Em 
contrapartida a essa forma de trabalho, os agentes públicos da Administração Pública 
submetem-se a um regime estatutário, com base numa lei específica para esse fim, 
não havendo contrato. 
 
5 
A distinção maior pode ser traçada pela forma de contratação, com base na 
impessoalidade do Poder Público, que necessita de força de trabalho em seus 
quadros, e na racionalidade da escolha, publicando um edital para comunicar a 
sociedade a participarem de um concurso público de provas ou de provas e títulos. 
Ademais, ocorre singular característica acerca das empresas públicas: aquelas 
que prestam serviço público essencial ou sujeito à regime monopolista, ou estratégico 
para a Administração Pública, poderá sujeitar-se às regras constitucionais 
garantidoras de imunidade tributária, como se fossem pessoas jurídicas de direito 
público; até mesmo no caso de demissão sem justa causa, fora decidido que a 
Empresa de Correios e Telégrafos – ECT – não precisará condicionar o expediente 
de rescisão contratual com a instauração de processo administrativo ou abertura de 
proceder para contraditório, necessitando apenas de uma motivação formalizada (STF 
– Emb. Decl. RE nº 589.998 – PI. Tribunal Pleno. Min. Relator: Roberto Barroso. Data 
de julgamento: 10 out. 2018. Publicação em: 05 dez. 2018). 
Nesse sentido, também ocorreu o reconhecimento da imunidade tributária para 
empresa pública monopolista que foi definida pelo Pretório Excelso como possuidora 
de prerrogativa de Fazenda Pública (STF – RE nº 1.009.828 AgR – RJ. 1ª Turma. Min. 
Relator: Roberto Barroso. Data de julgamento: 24 ago. 2018. Publicação em: 06 set. 
2018). 
Posto isso, pode ser vislumbrada uma mescla não categorizada pelo Direito 
Positivo entre tais institutos, especialmente na questão envolvendo o regime 
trabalhista. Ocorre que pode surgir divergência nesse entendimento, porquanto 
considerarmos que para a contratação de empregado público, o candidato sujeita-se 
ao concurso público, e no caso da rescisão trabalhista, está condicionado a um 
expediente formal distinto do processo administrativo disciplinar. 
Frente às prerrogativas das pessoas jurídicas de direito público, o STF 
compreendeu também que personalidade jurídica de direito privado exercendo 
atividade econômica em regime concorrencial, como o caso da Administração dos 
Portos de Paranaguá e Antonina – APPA, não possui a prerrogativa do regime de 
precatórios (STF – RE nº 892.727 – DF. 1ª Turma. Min. Alexandre de Morais. red. p/ 
o ac.: Rosa Weber. Data de julgamento: 05 jun. 2018. Publicação em: 16 nov. 2018). 
Acerca dos negócios jurídicos propriamente, sendo uma das partes a 
Administração Pública Direta ou Indireta de quaisquer dos Poderes, estarão 
disciplinados e condicionados aos certames licitatórios, tendo como norma geral a Lei 
 
6 
de Licitações, Lei nº 8.666/1993, dispondo sobre contratação de bens ou serviços, 
ponderando entre diversas modalidades, algumas atribuídas à alienação de bens não 
mais necessários na atividade administrativa do setor público, por intermédio do leilão. 
Contudo, a alienação envolvendo propriedades imóveis em territórios do Poder 
Público sujeitam-se a outros protocolos complexos, sendo possível perquirir 
judicialmente anulação judicial frente ao descumprimento de formalidades (STJ – 
Resp nº 1.590.022 – MA. 2ª Turma. Min. Relator: Herman Benjamin. Data de 
julgamento: 09 ago. 2016. Publicação em: 08 set. 2016). 
Por fim, resta esclarecer sobre a outrora zona inclassificável entre Direito 
Público e Direito Privado, gestada pelo aprimoramento das relações jurídicas frente à 
necessidade de novas previsões legais e ao atendimento de direitos constitucionais 
previstos, foram tecidos os conceitos referentes aos direitos difusos e aos direitos 
coletivos. 
Ambas as classificações dizem respeito ao interesse geral e comum da 
sociedade, não totalmente de caráter público e muito menos completamente de 
âmbito privado. São contemplados dentro dessas classificações o Direito do 
Consumidor e o Direito Ambiental. 
Observa-se que é uma saída e resoluçãode uma questão conceitual, porque 
pode ser questionado ainda a clareza sobre tais conceitos. 
As relações de consumo dizem respeito a negócios jurídicos de direito privado, 
porém em razão da dimensão educacional dos brasileiros perante as complexas 
fórmulas de composição de juros e a comum prática de contratos de adesão, que já 
vêm pré-concebido, surgiu a necessidade de tutelar o lado fraco da relação jurídica, 
havendo um sistema judicial especificado nesse sentido, sem destituir o caráter 
amparado pela Lei Civil e normas específicas sobre negócios. 
Foram, no entanto, limitadas, a partir da estipulação de um rol de 
responsabilidades a que prestadores ou fornecedores de bens e serviços devam se 
submeter, conforme estatuído pela Lei nº 8.078/1990, dos Arts. 12 ao 25, e o rol do 
Art. 39, onde estão denominadas as práticas abusivas. 
O Direito Ambiental volta-se à tutela da preservação da fauna e flora do território 
nacional, bem de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida, na 
classificação estipulada pela Constituição Federal de 1988 (CF/88), conforme caput 
do Art. 225. 
 
7 
Observa-se que as normas elaboradas nesse sentido são institutos já 
conhecidos, sendo formas de responsabilização no âmbito civil, administrativo e, 
inclusive, de natureza penal, com o fim de coibir práticas destrutivas e estimular 
projetos restaurativos nas atividades econômicas que repercutam sobre a 
manutenção da fauna e flora. 
Podemos encontrar conceituações distinguindo direitos difusos e direitos 
coletivos. Para Rizzatto Nunes, direitos coletivos referem-se àqueles passíveis de 
determinação ou determinados; acerca dos direitos coletivos, são aqueles 
improváveis de determinação dos sujeitos de direitos tutelados.1 
Em entendimento jurisprudencial, encontramos definições distintas, como os 
direitos transindividuais e direitos individuais homogêneos (STF – ADI nº 3.943 
ED – DF. Tribunal Pleno. Min. Relatora: Cármen Lúcia. Data de julgamento: 18 mai. 
2018. Publicação em: 01 ago. 2018). 
Eventualmente, os conceitos, ora tratados como distintos, carregam unidade, 
conforme se observa: 
 
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - CONSTRUÇÃO IRREGULAR 
- ÁREA TOMBADA - CENTRO HISTÓRICO DO MUNICÍPIO DE OURO 
PRETO - INTERVENÇÃO REALIZADA SEM AUTORIZAÇÃO PRÉVIA DO 
IPHAN - DEMOLIÇÃO. 
1- A ação civil pública, nos termos do art. 1º da Lei nº 7.347/85, destina-se à 
proteção e reparação de danos envolvendo direitos difusos e coletivos, como 
o direito ao meio-ambiente, as relações de consumo, os bens e direitos 
de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, a 
preservação da ordem econômica, urbanística, a proteção à honra e à 
dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos, bem como do 
patrimônio público e social. 
2- A alteração das características do imóvel tombado, em razão de seu valor 
cultural, histórico, paisagístico ou artístico, exige prévia autorização do órgão 
competente e sua inobservância ou impossibilidade de adequação demanda 
a demolição ou o desfazimento, conforme arts. 17 e 18 do Decreto-Lei nº 
25/1937. 
(TJ-MG - Apelação nº 1.0461.02.007476-5/001. 4ª Câmara Cível. Des. 
Relator: Renato Dresch. Data de julgamento: 05 out. 2017. Publicação em: 
10 out. 2017) 
 
1 NUNES, Rizzatto. Manual de introdução ao estudo do Direito. 14ª ed. ver. e ampl. – São Paulo: SARAIVA, 2017 
 
8 
 
Nesse sentido, anteriormente foi denominado de maneira única direitos difusos, 
coletivos e individuais homogêneos pelo STJ (AgRg no REsp nº 1.038.389 – MS, 
julgado pela 4ª Turma, Min. Relator: Antônio Carlos Ferreira. Data do julgamento: 24 
nov. 2014. Publicação em: 02 dez. 2014). 
Contempla-se, inclusive, rigor na determinação desses denominações no teor 
de decisões, podendo inclusive resultar em indeferimento pela via inadequada de 
propositura, conforme a ementa a seguir: 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. JULGAMENTO NÃO UNÂNIME. 
SUBMISSÃO AO ARTIGO 942 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. 
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PROTEÇÃO A DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS 
OU INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA PARA 
DEFESA DE DIREITOS DE PARTICULARES. 
1. Diante do resultado não unânime (em 28 de novembro de 2017), o 
julgamento teve prosseguimento conforme o disposto no artigo 942 do Novo 
Código de Processo Civil/2015, realizando-se nova sessão em 18 de abril de 
2018. 
2. A ação civil pública é posta pelo ordenamento nacional como ferramenta 
jurídico-processual voltada à proteção de direitos difusos e coletivos, bem 
como à defesa dos direitos individuais homogêneos. É demanda específica 
destinada ao resguardo de interesses da coletividade, tendo por objetivo 
secundário a responsabilização do infrator por danos causados a 
determinados bens jurídicos. 
3. Caso concreto em que se busca a proteção dos alardeados direitos 
de três senhoras frente ao poder expropriatório do ente público. Como 
se vê, não se trata de discussão alusiva a direitos individuais 
homogêneos, tampouco se almeja a proteção de uma coletividade. 
Inadequação da via eleita para defesa de interesses particulares. 
4. Apelação não provida. 
(TRF3 - Apelação Cível nº 2170921 - 0007247-21.2015.4.03.6100 – SP. 1ª 
Turma. Des. Relator: Hélio Nogueira. Data de julgamento: 18 abr. 2018. 
Publicação em: 17 mai. 2018) (destaque) 
 
É patente, nos Tribunais, a aferição da via judicial e legitimidade ativa 
adequadas para pleitear questões envolvendo essas denominações, inclusive sobre 
a propositura de ação civil pública na defesa de direitos coletivos (TRF-5 Apelação nº 
000753110-2011.4.05.8300. 1ª Turma. Des. Relator: Alexandre Costa de Luna Freire. 
 
9 
Data de julgamento: 09 nov. 2017. Publicação em: 16 nov. 2017; e STJ AgRg no REsp 
nº 1.518.698 – SE. 2ª Turma. Min. Relator: Herman Benja. Data de julgamento: 25 
ago. 2015. Publicação em: 16 nov. 2015). 
Curiosamente, quanto à legitimidade da Defensoria Pública, admite-se sua 
iniciativa para tutela dos direitos difusos dos menos favorecidos ou pessoas em 
situação de vulnerabilidade. É possível, então, questionar a comunhão dos 
significados (TJ-MG – Agrv. Instr. nº 1.0090.17.001890-8/001. 6ª Câmara Cível. Des. 
Relatora: Yeda Athias. Data de julgamento: 30 out. 2018. Publicação em: 09 nov. 
2018; e TJ-RJ Agravo nº 0423197-33.2008.8.19.0001. Secretaria do Tribunal Pleno e 
Órgão Especial. Des. Relatora: Maria Augusta Vaz Monteiro de Figueiredo. Data de 
julgamento: 27 nov. 2017. Publicação em: 27 nov. 2017). 
Portanto, o conceito não é claro quanto ao grupo sujeito à tutela e 
representação judicial, conforme constata-se no teor do julgado proferido pelo Egrégio 
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais: 
 
REEXAME: DE OFÍCIO - MANDADO DE SEGURANÇA - SAÚDE - SUS - 
MINISTÉRIO PÚBLICO: LEGITIMIDADE - PROCEDIMENTO CLÍNICO - 
INTERCORRÊNCIAS DE PACIENTE ONCOLÓGICO - IDOSO - VAGA - 
TRANSFERÊNCIA - REDE HIERARQUIZADA: COMPLEXIDADE DOS 
SERVIÇOS. 
1. É obrigatório o reexame necessário da sentença que concede a segurança. 
2. O Ministério Público detém competência institucional e legal para propor 
qualquer tipo de ação para a proteção dos direitos difusos ou coletivos, 
individuais indisponíveis e individuais homogêneos, tal como o direito à 
saúde. 
3. O Sistema Único de Saúde (SUS) organiza-se em uma rede hierarquizada, 
mediante distribuição de competências segundo o grau de complexidade dos 
serviços. 
4. Havendo demora na dispensação de vaga/leito para paciente idoso 
com sofrimento intenso, atestada a urgência e emergência, cadastrado 
no SUS fácil, há ofensa a seu direito líquido e certo a tratamento de 
saúde. 
(TJ-MG - Apelação nº 1.0000.17.058931-1/001. 7ª Câmara Cível. Des. 
Relator: Oliveira Firmo. Data de julgamento: 19 set. 2017. Publicação em: 21 
set. 2017) 
 
 
10 
A conceituação para direitos difusos coletivos ora considera o direito tutelado, 
orapode ser tratado em face do tutelado, seja considerado individualmente ou 
representado como categoria ou grupo de pessoa, conforme visto no exemplo da 
Defensoria Pública. 
Com essas considerações, o Colendo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de 
Janeiro estipulou em julgado que o direito individual homogêneo é o que se classifica 
com direitos difusos ou coletivos, mas com a faculdade de ser pleiteado judicialmente, 
havendo, no entanto, contato nos efeitos da sentença em razões das ações coletivas, 
nos moldes dos Arts. 103 e 104 do Código de Defesa do Consumidor (TJ-RJ Apelação 
nº 0023072-82.2009.8.19.0038. 9ª Câmara Cível. Des. Relator: Carlos Azeredo de 
Araújo. Data de julgamento: 01 mar. 2016. Publicação em: 01 mar. 2016). 
Cumpre distinguir esse aparente regime jurídico misto entre Direito Público e 
Privado com outras formas regimentais que são mais claras a simbiose entre os dois 
regimes, como o caso das empresas públicas, sujeitas ao regime celetista, em virtude 
da contratação de mão-de-obra, mas não abdicando completamente das demais 
normas de direito público, como a realização de concursos públicos de provas ou de 
provas e títulos. 
Neste aspecto, os dois regimes coadunam-se como engrenagens 
concatenadas, não havendo conflitos e sendo os agentes determinados claramente 
(STJ – Confl. de Competência nº 1.782.692 – PB. 2ª Turma. Min. Relator: Herman 
Benjamin. Data de julgamento: 13 ago. 2019. Publicação em: 05 nov. 2019) 
Outra intromissão entre as formas regimentais, pode-se notar quanto à aferição 
da responsabilidade para reparação de ilícito - âmbito civil. Considerando a 
perspectiva de uma parte ser pessoa jurídica, independente de possuir personalidade 
de direito público ou de direito privado, competirá a ela, como regra, o mecanismo da 
responsabilização objetiva, sujeitando-a aos ônus processuais, haja vista ela possuir 
a administração e técnica sobre o evento discutido que suscitou a querela do dano. 
No amparo da norma constitucional, temos a norma descrita no dispositivo a 
seguir: 
 
Art. 37. (...) 
(...) 
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras 
de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa 
 
11 
qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o 
responsável nos casos de dolo ou culpa. 
 
Com base nela, encontramos o regramento principal para a determinação da 
responsabilidade de natureza objetiva, em relação ao dano causado a terceiros 
(cidadãos ou clientes); na condição da reparação, admite-se a ação regressiva contra 
o agente empregado ou funcionário que houvera causado ou dado causa ao dano, 
para a reparação individualizada perante a própria pessoa jurídica; assim, constrói-se 
a responsabilização do agente, de natureza subjetiva. 
Em ramos específicos dos negócios privados, ocorre similar sujeição no regime 
privado considerando as normas técnicas envolvidas. É o caso de agentes financeiros 
obedecendo normas emanadas pelas autarquias federais fiscalizatórias do ramo, 
como o Banco Central do Brasil (BCB ou BACEN); e agentes securitários disciplinados 
pelas normas emitidas pela Superintendência de Seguros Privados (SUSEP). 
Todavia, temos disposições amplas prescritas pelo Código de Defesa do 
Consumidor, ponderando pela posição hipossuficiente do consumidor ou cliente, 
conforme podemos observar no dispositivo destacado: 
 
Art. 6º São direitos básicos do consumidor: 
(...) 
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações 
desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as 
tornem excessivamente onerosas; 
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, 
individuais, coletivos e difusos; 
(...) 
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão 
do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do 
juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, 
segundo as regras ordinárias de experiências; (destaque) 
 
Essa garantia atribuída ao consumidor, opondo ao prestador ou fornecedor de 
bens ou de serviços não se assemelha a uma típica prerrogativa processual atinente 
a uma entidade de direito público, e sim uma medida excepcional garantista para 
equiparar a situação processual entre dois agentes com condições distintas, haja vista 
ser o consumidor hipossuficiente nesse aspecto. 
 
12 
O consumidor que se ver prejudicado frente a um mal atendimento ou produto 
defeito não possui as ferramentas e meios necessários para comprovar seu ponto, 
sendo esses meios necessariamente pertencentes ao produtor ou fornecedor. 
Em oposição a essa natureza, as prerrogativa típicas do interesse público não 
podem ser delegadas, sendo de exclusivo exercício daquele ente competente para 
exercê-la: 
 
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. SUPOSTA OFENSA AO ART. 
535 DO CPC. INEXISTÊNCIA DE VÍCIO NO ACÓRDÃO RECORRIDO. 
ASSOCIAÇÃO DE MUNICÍPIOS. ILEGITIMIDADE ATIVA PARA TUTELAR, 
EM NOME PRÓPRIO, DIREITOS E INTERESSES DE PESSOAS 
JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM 
RESOLUÇÃO DO MÉRITO. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE 
PROVIDO. 
1. Não havendo no acórdão recorrido omissão, obscuridade ou 
contradição, não fica caracterizada ofensa ao art. 535 do CPC. 
2. Aplicam-se às pessoas jurídicas de direito público sistemática 
própria, observando-se uma série de prerrogativas e sujeições, tanto no que 
se refere ao direito material, quanto ao direito processual. 
3. Nos moldes do art. 12, II, do CPC, a representação judicial dos Municípios, 
ativa e passivamente, deve ser exercida por seu Prefeito ou Procurador. A 
representação do ente municipal não pode ser exercida por associação de 
direito privado, haja vista que se submete às normas de direito público. Assim 
sendo, insuscetível de renúncia ou de delegação a pessoa jurídica de direito 
privado, tutelar interesse de pessoa jurídica de direito público sob forma de 
substituição processual. Precedentes da Primeira Turma: AgRg no AREsp 
104.238/CE, Relator Ministro Francisco Falcão, DJe 07/05/2012; RMS 
34270/MG, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, DJe 28/10/2011. 
4. Recurso especial parcialmente provido, extinguindo o processo sem 
resolução do mérito. 
(STJ – REsp nº 1.446.813 - CE. 2ª Turma. Min. Relator: Mauro Campbell 
Marques. Data de julgamento: 20 nov. 2014. Publicação em: 26 nov. 2014) 
 
Tais expostos estão referendados em outros julgados, frente ao dispositivo 
constitucional do Art. 173, §1º, II, considerando que as empresas públicas que 
exerçam atividade econômica não poderão receber tratamento diferenciado alheio 
àqueles já conferidos às empresas privadas (STJ – REsp nº 1.422.811 – DF. 2ª Turma. 
 
13 
Min. Relator: Og Fernandes. Data de julgamento: 23 set. 2014. Publicação em: 18 
nov. 2014). 
Com o advento da Lei nº 13.303/2016, o Estatuto Jurídico das Empresas 
Públicas e Sociedades de Economia Mista e suas subsidiárias, reforçando o caráter 
público dessas entidades, e pontuando elementos típicos do direito público, como um 
procedimento licitatório especificado. 
Submetem-se a graus de responsabilidades de similitude aos atribuídos às 
sociedades do setor privado, como as normas emitidas pela Comissão de Valores 
Mobiliários (CVM) e pela Lei de Sociedades Anônimas, Lei nº 6.404/1976 (Art. 4º, §§ 
1º e 2º). 
Conforme os Arts. 5º e 6º, as entidades públicas de direito privado estarão 
sujeitas ao regramento da Lei das SAs, com ressalvas do próprio Estatuto (como maior 
controle social e orçamentário exercido pelo Poder Legislativo, via Tribunal de 
Contas). 
Embora a jurisprudência pátria tenha reconhecida a imunidade tributária para 
empresas de direito privado que exerçam atividade estritamente de serviço público, 
como os casos da ECT e da INFRAERO, que estiveram em demanda judicial nesse 
quesito, deve-se pontuar que são casos isolados nãopositivados pela lei. 
Assim, deve-se ter em mente a posição de que não haverá mais casos 
favoráveis sobre a imunidade tributária recíproca, porquanto a superveniência de uma 
lei estatutária não dispondo sobre o caso das empresas públicas e sociedades de 
economia mista que prestem serviço público monopolístico sujeitarem-se à imunidade 
tributária. 
 
 
 
 
 
14 
2. LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO 
 
A tradição do Direito Civil brasileiro foi muito priorizada no decorrer da história 
do Brasil, fazendo orbitar em torno da norma civil regramentos que podem ser 
considerados alheios e talvez até de matriz processual, como dispositivos específicos 
de decadência e prescrição. 
Anteriormente denominada como Lei de Introdução ao Código Civil (LICC), o 
Decreto-lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942, não estabelecia regras básicas para 
a interpretação e aplicação do Código Civil apenas, mas sim normas gerais comuns a 
todo o ordenamento jurídico. 
Na letra de Flávio Tartuce, é-nos lembrado que poderia ser conceituada como 
a lex legum: norma sobre normas ou norma de sobredireito.2 
Após ser atualizada pela Lei nº 12.376/2010, foi corretamente denominada 
como Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), haja vista dispor 
sobre métodos de integração do direito (analogia, costumes e princípios gerais de 
direito), vacatio legis e adequação de normas estrangeiros ao ordenamento jurídico 
brasileiro. 
No todo, são institutos necessários para a própria prática legislativa, não 
ficando restrita ao âmbito privado das relações cíveis. 
Após as mudanças trazidas pela Lei nº 13.655/2018, foram acrescidos novos 
dispositivos concernentes às esferas administrativas e de controladoria, por meio dos 
Arts. 20 ao 30. 
A partir das ferramentas integrativas de lei, axiomas jurídicos para compor a 
prestação judicial e sanar eventual lacuna do direito, podemos delinear as principais 
fontes do Direito. 
Assim são a lei propriamente considerada, a analogia, os costumes e os 
princípios gerais de direito as principais fontes formais. 
Compondo a base do civil law, a lei possui maior estatura como fonte; as 
demais elencadas são fontes formais do direito de aspecto secundário. 
Nessa perspectiva, pode-se conjecturar a simbiose do direito brasileiro com 
aspectos da natureza do direito costumeiro (commow law), porquanto este ter os 
costumes e práticas tradicionais como composição da norma jurídica. 
 
2 TARTUCE, Flávio. Direito civil: lei de introdução e parte geral. 15ª ed. Rio de Janeiro: FORENSE, 2019. p. 1 
 
15 
Em oposição a essa taxonomia de fontes, a doutrina e a jurisprudência são as 
fontes não formais. No entanto, aqui reside outra polêmica e fundamental discussão 
sobre o papel da jurisprudência no ordenamento jurídico brasileiro no Séc. XXI, haja 
vista a necessidade de Poder Judiciário lidar com conflitos que as leis escritas ainda 
não puderam sanar. 
Neste contexto, o papel do STF acaba sendo proeminente e hermeneuta dando 
novas interpretações à norma escrita, tendo como ponto de início a Carta 
Republicana. 
Frente a isto, o Pretório Excelso já houvera mencionado que a Suprema Corte 
e o STJ exerceriam papéis de estabilizadores, uniformizadores e pacificadores de 
interpretação das normas constitucionais e do direito infraconstitucional (ADC nº 43 
MC – DF. Tribunal Pleno. Min. Relator: Marco Aurélio. Data de julgamento: 05 out. 
2016. Publicação em: 07 mar. 2018), o que pode ser constatado na letra da 
Constituição Federal, ficando a cargo do STF a guarda da Constituição (Art. 102, 
caput), além das competências de resolução de conflitos de competência ou de 
norma, para ambas as Cortes mencionadas. 
O papel fundamental da LINDB volta-se para amparo das decisões proferidas 
pelas Cortes Especial e Extraordinária, principalmente quando houver sido discutidas 
a coisa julgada e a aplicação da lei quanto ao tempo (STJ – Edcl. AgInt. AResp nº 
1.326.749 – SP. 1ª Turma. Min. Relator: Gurgel de Faria. Data de julgamento: 23 set. 
2019. Publicação em: 26 set. 2019; e STF – ARE nº 1.019.161 AgR – SP. 2ª Turma. 
Min. Relator: Ricardo Lewandowski. Data de julgamento: 02 mai. 2017. Publicação 
em: 12 mai. 2017). 
A título exemplificativo, já há menção aos novos arquivos adicionados pela Lei 
nº 12.376/2010, no que diz respeito à segurança jurídica acerca de decisão 
administrativa, na letra do Art. 23 (STJ – AgInt REsp nº 1.804.729 – SP. 3ª Turma. 
Min. Relator: Marco Aurélio Bellizze. Data de julgamento: 16 set. 2019. Publicação 
em: 18 set. 2019). 
O primeiro dispositivo traz a definição padronizada do instituto da vacatio legis 
no território brasileiro, sendo considerada quarenta e cinco dias depois que a lei for 
oficialmente publicada. A constância do instituto não desencadeia problemas em si, 
mas eventualmente ocorre problemas na continuidade da medida provisória sendo 
convertida em lei ordinária, sendo de especial atenção a alguns dispositivos 
constantes da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015, o Novo CPC/2015 (STJ – REsp 
 
16 
nº 1.440.858 – RS. 2ª Turma. Min. Relator: Mauro Campbell Marques. Data de 
julgamento: 25 nov. 2014. Publicação em: 02 dez. 2014). 
Entre outros aspectos, é referendado os institutos para elidir o conflito aparente 
de normas, frente a consideração da norma de conteúdo especial sendo prioritária, 
ficando residualmente considerada a norma mais genérica (STJ – REsp nº 1.759.161 
– SP. 2ª Turma. Min. Relator: Herman Benjamin. Data de julgamento: 21 nov. 2019. 
Publicação em: 19 dez. 2019). 
Conclui-se não haver uma novidade com referência a aplicação desses 
dispositivos, consistindo em norma guia para manutenção das demais normas, 
conforme é estatuído pela conceituação doutrinária – norma de normas. 
Uma das inovações trazidas consta no teor do Art. 24, caput, da LINDB, sendo 
grafada como orientações gerais da época, sugerindo haver essa nova modalidade 
de fonte de direito, para revisão de atos, contratos, processos ou normas 
administrativas realizadas pelas esferas administrativa, controladora ou judicial. 
O parágrafo único do dispositivo define orientações gerais como: 
[“interpretações e especificações contidas em atos públicos de caráter geral ou em 
jurisprudência judicial ou administrativa majoritária, e ainda as adotadas por prática 
administrativa reiterada e de amplo conhecimento público”] (BRASIL, 1942). 
O conteúdo tratado pode ser interpretado em consonância com os Arts. 29 e 
30, como prescrições destinadas aos órgãos administrativos de qualquer esfera, entre 
os Poderes, para adequação de suas práticas e interpretações. 
Nesse aspecto, podemos conferir conforme segue: 
 
Art. 29. Em qualquer órgão ou Poder, a edição de atos normativos por 
autoridade administrativa, salvo os de mera organização interna, poderá ser 
precedida de consulta pública para manifestação de interessados, 
preferencialmente por meio eletrônico, a qual será considerada na decisão. 
(...) 
 
Art. 30. As autoridades públicas devem atuar para aumentar a 
segurança jurídica na aplicação das normas, inclusive por meio de 
regulamentos, súmulas administrativas e respostas a consultas. 
Parágrafo único. Os instrumentos previstos no caput deste artigo terão 
caráter vinculante em relação ao órgão ou entidade a que se destinam, 
até ulterior revisão. 
 
 
17 
Presume-se também a possibilidade de edição de súmulas administrativas, de 
caráter vinculante apenas de âmbito interno, para manutenção das atividades de 
prestação de serviços, podendo o aluno ficar atento a publicações judiciais nesse 
sentido. 
No mais, com maior clareza, agora há previsão de participação cidadã na 
elaboração de normas internas desses órgãos. 
Pode-se observar que já surgem algumas críticas e observações acerca dessas 
orientações trazidas pelas mudanças legislativasconstantes na LINDB3. Nesse 
sentido, deve-se constar a necessidade de adequação de entendimentos frente a 
esses novos dispositivos constantes da lei4. 
Por fim, observa-se que, em julgamento do STJ, é-nos ensinado que matéria 
constante do Art. 6º da norma possui status e conteúdo constitucional, não podendo 
se sujeitar aos questionamentos do Recurso Especial5: 
 
EMENTA: (...) 
(...) 
3. A matéria de que trata o art. 6º da Lei de Introdução às Normas 
do Direito Brasileiro (antiga Lei de Introdução ao Código Civil) - 
direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada - tem 
índole nitidamente constitucional, razão pela qual sua apreciação 
desborda dos limites normativos do recurso especial. Precedentes. 
(...) 
Embora possa suscitar dúvida sobre a norma em si ser constitucional ou o 
conteúdo, o que se referenda no julgado é que os princípios acerca do conteúdo do 
Art. 6º, caput, possuem amparo de estatura constitucional: ato jurídico perfeito, direito 
adquirido e coisa julgada. 
 
3 “Por que não aplicar a Lindb nos julgamentos dos Tribunais Administrativos?” Disponível em: 
<https://www.conjur.com.br/2019-set-02/nao-aplicar-lindb-julgamentos-tribunais-administrativos> Acesso 
em: 24 jan. 2020 
4 “O STJ e os desafios na interpretação da nova LINDB” Disponível em: 
<https://www.migalhas.com.br/depeso/303289/o-stj-e-os-desafios-na-interpretacao-da-nova-lindb> Acesso 
em: 24 jan. 2020 
5 STJ – AgInt. AREsp nº 47.435 – GO. 4ª Turma. Min. Relator convocado: Lázaro Guimarães. Data de julgamento: 
10 abr. 2018. Publicação em: 16 abr. 2018. 
 
18 
Esse postulado encontra-se referendada por outros julgados de similar 
conteúdo (STJ - AgRg AREsp nº 427.590 – DF. 3ª Turma. Min. Relator: Paulo de Tarso 
Sanseverino. Data de julgamento: 4 set. 2014. Publicação em: 16 set. 2014). 
Conclui-se, nesse teor, que a tutela constitucional tem conformidade com a 
garantia dos três institutos mencionados, e não em seu conteúdo materialmente 
considerado (STF – AI nº 638.758 AgR – SP. 1ª Turma. Min. Relator: Ricardo 
Lewandowski. Data de julgamento: 27 nov. 2007. Publicação em: 19 dez. 2007). 
Inclusive, conforme visto nas datas de publicação dos conteúdos aqui 
mencionados, torna-se clara a maturidade desse posicionamento jurisprudencial, 
tanto pelo STF como pelo STJ. 
 
 
19 
3. TEORIA TRIDIMENSIONAL DO DIREITO 
 
O ponto de partida para a Teoria Tridimensional do Direito ou Teoria Tripartite 
do Direito, elaborada pelo jurista Miguel Reale (1910-2006), consistia na investigação 
acerca da historicidade que forma um sistema jurídico em si. Buscava, pois, elucidar 
a palavra Direito perante a experiência humana. 
Nessa toada, buscava no campo da Filosofia, o respaldo de outros fenômenos 
e de ciências, como a Antropologia e a Sociologia, meios de elucidar como se deu o 
Direito como uma experiência civilizatória. 
Considera-se que inicialmente o fenômeno jurídico foi vivenciado como um fato 
social e em seguida fora adquirindo substâncias de origem cósmica, como vinculação 
a destinos e forças alheias ao controle e planejamento da cognição humana. 
Até mesmo como se observa no curso da história humana, o homem 
individualmente considerado estava sujeito a uma sorte de regramentos de aspectos 
religiosos, bélicos, íntimos e de toda variedade de origens. Não obstante essa 
identificação em sua coletividade, em virtude de guerras e expansão de domínios, 
essa egrégora de valores e normas sofria simbiose e até segregação com a 
aglutinação de outras sociedades. 
Na esteira de seus postulados, o jurista Miguel Reale constatara três elementos 
nucleares sobre o significado de Direito: 
a) Valor, a intuição primordial; 
b) Norma, concretude ou consubstanciação do valor na ordem social; 
c) Fato, a condicionante da conduta. 
Os três elementos em destaque permitem construir a experiência jurídica, nas 
palavras do douto filósofo6. 
Não obstante esses elementos tríplices, a teoria construída também é chamada 
de Teoria Integral do Direito, bem como visão integral do Direito. 
Por conseguinte, a experiência jurídica pode estar sujeita aos campos 
epistemológicos das seguintes ciências ou metodologias: 
a) Valor, estudado pela Filosofia do Direito; 
b) Norma, objeto da Filosofia do Direito e da Jurisprudência – fonte do direito; 
c) Fato, observado pela História e pela Sociologia – podendo, ainda, ser objeto 
 
6 REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 19ª ed. São Paulo: SARAIVA, 1999. p. 509 
 
20 
da análise da Filosofia do Direito. 
É plausível considerar a seguinte tabela para elucidação de como se dá a 
tridimensionalidade da construção jurídica da experiência, porquanto houve outras 
construções teóricas acerca da integralidade tríplice do Direito: 
 
HARMONIZAÇÃO ENTRE AS TEORIAS TRIDIMENSIONAIS 
Elementos 
constitutivos 
Elemento 
dominante 
Concepções de 
estudo 
 
 
Tridimencionalidade 
genérica 
Fato Eficácia Sociologia jurídica 
Valor Fundamento Moralismo jurídico 
Norma Vigência Normativismo abstrato 
Elemento dominante: Tridimensionalidade específica 
FONTE: REALE, 1999. p. 514 
 
A tridimensionalidade genérica leva em conta a combinação entre as três 
concepções mencionadas (sociologia jurídica, moralismo jurídico e Normativismo 
abstrato). 
Acerca dos elementos dominantes elencados, estes formariam a denominada 
tridimensionalidade específica, e ocorrem em virtude da análise a priori da correlação 
entre os três elementos principais do Direito. Cumpre exemplificar que o objeto de 
análise consiste no elemento nuclear, v.g., a norma, para se ter como fim a 
compreensão da sua vigência. 
Posteriormente, pelo paradigma da teoria tridimensionalidade dinâmica, a 
mudança dos elementos principais abordam os elementos valor, dever ser e fim. 
Nesta abordagem, o fenômeno jurídico nasce porque os homens, sujeitos de direito, 
buscam alcançar alguma finalidade, pela qual perpassam relações jurídicas. 
Miguel Reale traz a seguinte crítica acerca dessa perspectiva teórica: 
 
Consoante nosso entender, nada há que objetar a essa caracterização 
atuante e positiva do valor perante o real, mas ela só nos parece possível 
desde que se admitam dois outros princípios: que os valores não são simples 
‘objetos ideais’; que não há valor ou ‘dever ser’ indiferentes ao plano da 
existência, visto como todo valor em si é condicionante da experiência 
 
21 
histórica e na História se revela, sem que esta esgote suas virtualidades 
estimadas (1999, p. 548). (destaques no original) 
 
Consideradas essas proposições iniciais, observa-se que o Poder exsurge 
desempenhando significância entre os três elementos jurídicos. 
Assim, considera-se premente a observação de que o Poder não pode ser 
considerado isento das relações de valores e princípios, porquanto o Poder perpassar 
e constituir a elaboração da norma. 
O Poder está alheio e além do Direito, como pode ser constatado pelas 
instituições contemporâneas amparadas pelo princípio de separação dos Poderes 
Constituídos. Porém, o Poder está presente na elaboração de propostas legislativas, 
nos debates públicos e no trâmite e demais expedientes que culminam na vigência de 
uma nova lei. 
No entanto, também não se pode considerar que o Poder contamina o Direito 
ou o Direito se sobrepõe às instâncias constituídas. 
No Brasil contemporâneo, todavia, pode-se constatar um grau de confiabilidade 
no Poder Institucional quando da elaboração e aplicação de boas normas ou não. 
Urge tal fenômeno perante problemas envolvendo corrupção no governo, em especial 
o federal, além de problemas na prestação de serviços públicos e intempéries de 
natureza orçamentária. 
Postas essas considerações, o sistema teórico de Reale estipula haver um 
Direito que não se limita unicamente à visão pejorativa de conjunto de leis.O direito, enquanto fenômeno ou experiência social, também se amolda ou 
metaboliza as práticas e tradições da sociedade, podendo amadurecer conforme os 
valores e hábitos historicamente retratados. 
Inclusive, tais transformações, nos dizeres do douto jurista, podem ser 
meramente de cunho hermenêutico, ocorrendo das seguintes formas: 
a) novos valores ou alteração na importância dos valores já vigentes; 
b) ocorrência de novos fatos e negócios, como aprimoramento dos meios 
tecnológicos, tornando necessária mudança em aspectos normativos já consolidados; 
c) contaminação entre normas, acerca da linha interpretativa, quando uma 
muda um entendimento aplicado por outra norma ou consolidado na atuação 
jurisdicional; 
 
22 
No mais, os três itens elencados podem ser considerados isoladamente ou não, 
como gênese para mudanças. 
 Este fenômeno é considerado na atuação premente dos Tribunais, em especial 
o STF, para dar interpretação às normas, limitadas em virtude de determinada 
demanda, para coibir lesões efetivas ou ameaças vindouras a um direito tutelado. 
Olvida-se, todavia, que tal carência deveria ocorrer em sede de atuação legislativa, 
como ponto de partida e não à mercê do ativismo judicial. 
 Como exemplo, teríamos a legitimação das uniões homoafetivas, pondo em 
balança os corolários constitucionais da dignidade da pessoa humana perante a 
constituição do núcleo familiar e o instituto tradicional do casamento, denominado pela 
Carta Magna, como união entre homem e mulher. 
 Em termos práticos, tornou-se uma nova norma de âmbito administrativo, 
sendo orientação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por meio da Resolução nº 
175/2013, que Cartórios e Serviços Notariais não criem óbice para o reconhecimento 
da união em comento. 
 Nesse sentido, observa-se que tal mudança normativa em prol da tutela de 
direitos e garantias ocorreu na seara administrativa e correcional da atividade judicial 
e não de matriz legiferante, como se deveria esperar, em prol da maior segurança 
jurídica. 
 Na seara da jurisprudência, há referências ao conteúdo da teoria tridimensional 
do Direito quando do reconhecimento da finalidade econômica ou social quando da 
aplicação de determinada norma (STJ – REsp nº 445.990 – MG. 2ª Turma. Min. 
Relator: Franciulli Netto. Data de julgamento: 09 nov. 2004. Publicação em: 11 abr. 
2005; e REsp nº 159.123 – ES. 4ª Turma. Min. Relator: Sálvio de Figueiredo Teixeira. 
Data de julgamento: 20 abr. 1999. Publicação em: 21 jun. 1999). 
 Entre outras referências, constam-se conceitos doutrinários, com o reforço do 
argumento de autoridade de Miguel Reale (TRF-3. ApReeNec – Apelação nº 5000403-
12.2017.4.03.6128 – SP. 3ª Turma. Des. Relator: Mairan Gonçalves Maia Junior. Data 
de julgamento: 04 abr. 2019. Publicação em: 09 abr. 2019). 
 
 
 
23 
REFERÊNCIAS 
 
NUNES, Rizzatto. Manual de introdução ao estudo do Direito. 14ª ed. ver. e ampl. – 
São Paulo: SARAIVA, 2017 
REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 19. ed. São Paulo: SARAIVA, 1999. 
REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27. ed. São Paulo: SARAIVA, 2002. 
TARTUCE, Flávio. Direito civil: lei de introdução e parte geral. 15ª ed. Rio de Janeiro: 
FORENSE, 2019.

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