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Epidemiologia das arboviroses no Brasil

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Epidemiologia	das	Principais	Arboviroses	no	Brasil	
(Texto	produzido	para	o	curso	Combate	ao	Aedes	na	perspectiva	da	integração	da	
Atenção	Básica	e	Vigilância	em	Saúde	para	profissionais	de	nível	médio	e	
fundamental)	
	
Os	arbovirus	(ARtropod	Borne	VIRUS)	tem	sido	motivo	de	grande	preocupação	
em	saúde	pública	em	todo	o	mundo.	Esse	conjunto	é	composto	por	centenas	de	vírus	
que	 compartilham	 a	 característica	 de	 serem	 transmitidos	 por	 artrópodes,	 em	 sua	
maioria	mosquitos	hematófagos	(DONALISIO,2017).	
	 Os	 vírus	 mais	 importantes	 para	 a	 saúde	 humana	 são	 os	 transmitidos	 por	
culicídeos,	 principalmente	 dos	 gêneros	 Culex	 e	 Aedes,	 embora	 existam	 arbovírus	
transmitidos	 por	 outros	 artrópodes,	 como	 flebotomíneos	 e	 também	 carrapatos.	 A	
maior	 parte	 dos	 arbovírus	 pertence	 aos	 gêneros	 Alphavirus	 (família	 Togaviridae)	 e	
Flavivirus	(família	Flaviviridae),	outros	membros	de	importância	para	a	saúde	humana	
são	das	famílias	Bunyaviridae,	Reoviridaee	e	Rhabdoviridae	(DONALISIO,2017).	
Os	 Arbovírus,	 em	 geral,	 circulam	 entre	 os	 animais	 silvestres,	 com	 alguma	
especificidade	por	hospedeiros	mantendo-se	em	ciclos	enzoóticos	em	poucas	espécies	
de	 vertebrados	 e	 invertebrados.	 O	 homem	 ou	 animais	 domésticos	 geralmente	 são	
hospedeiros	 acidentais.	 É	 o	 que	 ocorre	 na	 circulação	 da	 febre	 amarela,	 que	 se	
apresenta	no	Brasil	em	surtos	silvestres	associados	com	epizootias.	
Outro	exemplo	de	ciclo	enzoótico	envolve	o	vírus	Mayaro	(MAYV),	transmitido	
principalmente	por	mosquitos	silvestres	do	gênero	Haemagogus	e	cujos	hospedeiros	
vertebrados	 são	mamíferos.	No	 homem,	 causa	 febre,	 cefaleia,	 exantema	e	 artralgia;	
porém,	 não	 se	 observa	 transmissão	 sustentada.	 Há	 evidências	 da	 capacidade	 de	
adaptação	 do	 MAYV	 a	 ciclos	 alternativos	 envolvendo	 aves	 e	 o	 homem	
(DONALISIO,2017).	
	 No	atual	 contexto	epidemiológico	brasileiro,	os	 arbovírus	de	maior	 circulação	
são	 DENV,	 CHIKV	 e	 ZIKV,	 além	 do	 vírus	 da	 febre	 amarela.	 Há	 outros	 arbovírus	 com	
potencial	de	introdução	e	disseminação	no	País.	
	
Dengue	
As	primeiras	notificações	de	epidemias	de	dengue	ocorreram	em	1779	e	1780	na	
Ásia,	 África	 e	 América	 do	 Norte.	 As	 epidemias	 de	 dengue	 tiveram	 início	 no	 sudeste	
Asiático	durante	e	após	a	Segunda	Guerra	Mundial,	nas	décadas	de	1940	e	1950,	e	se	
expandiram	para	 o	 resto	 do	mundo	 nas	 décadas	 posteriores.	Os	 primeiros	 casos	 de	
Febre	 Hemorrágica	 do	 Dengue	 (FHD)	 apareceram	 na	 década	 de	 1950,	 durante	 as	
epidemias	nas	Filipinas	e	na	Tailândia.	A	partir	dos	anos	70,	o	dengue	tornou-se	uma	
das	 principais	 causas	 de	 internação	 e	morte	 de	 crianças	 em	 alguns	 países	 da	 região	
(MACIEL,2008).	
Transmitido	 pelo	 mosquito	Aedes	 aegypti,	 o	 vírus	 da	 dengue	 causa	 doença	
febril	aguda.	Na	maioria	dos	casos,	os	sintomas	são	leves	e	autolimitados,	no	entanto	
alguns	casos	podem	evoluir	para	doença	grave.	A	dengue	é	a	doença	viral	que	mais	
se	espalha	no	mundo.	Estima-se	que	2,5	bilhões	de	pessoas	no	mundo	vivam	em	área	
de	 risco	 de	 transmissão	 do	 vírus,	 o	 que	 causa	 entre	 50	milhões	 e	 100	milhões	 de	
infecções	e	20	mil	mortes	anualmente	(MINISTERIO	DA	SAÚDE,2017).	
O	gráfico	1	mostra	o	crescimento	da	dengue	a	partir	da	metade	do	século	XX,	
mostrando	que	o	número	de	casos	e	de	países	com	transmissão	praticamente	dobra	
a	cada	década.		
Gráfico	1-	Situação	da	dengue	no	mundo	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
WHO,	 2009.	 Dengue:	 guidelines	 for	 diagnosis,	 treatment,	 prevention	 and	
control.	
	
	
A	dengue	possui	quatro	sorotipos	(DENV	1,	2,	3	e	4),	todos	com	circulação	no	
Brasil.	 A	 infecção	por	 um	 sorotipo	 gera	 imunidade	permanente	para	 este	 sorotipo,	
no	 entanto,	 uma	 segunda	 infecção	 por	 outro	 sorotipo,	 é	 fator	 de	 risco	 para	 o	
desenvolvimento	da	forma	grave	da	doença.	
A	infecção	por	dengue	pode	ser	assintomática	(sem	sintomas),	leve	ou	causar	
doença	grave,	levando	à	morte.	Normalmente,	a	primeira	manifestação	da	dengue	é	
a	 febre	 alta	 (39°	 a	 40°C),	 de	 início	 abrupto,	 que	 geralmente	 dura	 de	 2	 a	 7	 dias,	
acompanhada	de	dor	de	cabeça,	dores	no	corpo	e	articulações,	além	de	prostração,	
fraqueza,	dor	atrás	dos	olhos,	erupção	e	coceira	na	pele.	Perda	de	peso,	náuseas	e	
vômitos	são	comuns.	Na	fase	febril	inicial	da	doença,	pode	ser	difícil	diferenciá-la.	A	
forma	grave	da	doença	inclui	dor	abdominal	intensa	e	contínua,	vômitos	persistentes	
e	 sangramento	 de	 mucosas,	 entre	 outros	 sintomas.	 Ao	 apresentar	 os	 sintomas,	 é	
importante	procurar	um	serviço	de	saúde	para	diagnóstico	e	tratamento	adequados	
(MINISTERIO	DA	SAÚDE,2017).		
	
São	sinais	de	alarme	de	dengue	
	
• Dor	abdominal	intensa	e	contínua,	ou	dor	à	palpação	do	abdome;	
• Vômitos	persistentes;	
• Acumulação	de	líquidos	(ascites,	derrame	pleural,	derrame	pericárdico);	
• Sangramento	de	mucosa	ou	outra	hemorragia;	
• Aumento	progressivo	do	hematócrito;	
• Queda	abrupta	das	plaquetas.		
A	dengue	é	transmitida	pela	picada	do	mosquito	Aedes	aegypti.	Após	picar	uma	
pessoa	infectada	com	um	dos	quatro	 sorotipos	do	vírus,	a	 fêmea	pode	 transmitir	o	
vírus	para	outras	pessoas.	Há	registro	de	transmissão	vertical	(gestante	-	bebê)	e	por	
transfusão	sanguínea.	A	dengue	não	é	transmissível	de	pessoa	a	pessoa.	
O	período	de	incubação	no	homem	varia	de	4	a	10	dias,	sendo	em	média	de	5	a	6	
dias.	Após	este	período,	surgem	os	sintomas	da	doença.	
Não	existe	tratamento	específico	para	dengue.	Quando	surgirem	os	sintomas,	é	
importante	 procurar	 um	 serviço	 de	 saúde	 mais	 próximo,	 fazer	 repouso	 e	 ingerir	
bastante	líquido.	Também	é	importante	não	tomar	medicamentos	por	conta	própria.	
A	 forma	 de	 prevenção	mais	 eficaz	 contra	 a	 dengue	 é	 acabar	 com	 o	mosquito,	
mantendo	 o	 domicílio	 sempre	 limpo	 e	 eliminando	 os	 possíveis	 criadouros.	 Roupas	
que	minimizem	a	exposição	da	pele	durante	o	dia	 -	quando	os	mosquitos	 são	mais	
ativos	 -	 proporcionam	 alguma	 proteção	 às	 picadas	 e	 podem	 ser	 uma	 das	medidas	
adotadas,	 principalmente	 durante	 surtos.	 Repelentes	 e	 inseticidas	 também	 podem	
ser	 usados,	 seguindo	 as	 instruções	 do	 rótulo.	 Mosquiteiros	 proporcionam	 boa	
proteção	pra	aqueles	que	dormem	durante	o	dia,	como	bebês,	pessoas	acamadas	e	
trabalhadores	noturnos.	
	
Febre	do	Chikungunya	
A	 febre	 de	 chikungunya	 é	 uma	 arbovirose	 causada	 pelo	 vírus	 Chikungunya	
(CHIKV),	da	família	Togaviridae	e	do	gênero	Alphavirus.	A	viremia	persiste	por	até	dez	
dias	após	o	 surgimento	das	manifestações	clínicas.	A	 transmissão	ocorre	pela	picada	
de	fêmeas	dos	mosquitos	Ae.	Aegypti	e	Ae.	albopictus	infectadas	pelo	CHIKV.	Casos	de	
transmissão	vertical	podem	ocorrer	quase	que,	exclusivamente,	durante	o	período	de	
intraparto	em	gestantes	 virêmicas	e,	muitas	 vezes,	provoca	 infecção	neonatal	 grave.	
Pode	ocorrer	transmissão	por	via	transfusional,	todavia	é	rara	se	os	protocolos	forem	
observados	(MINISTERIO	DA	SAÚDE,2017).		
Os	sinais	e	os	sintomas	são	clinicamente	parecidos	com	os	da	dengue	–	febre	
de	início	agudo,	dores	articulares	e	musculares,	cefaleia,	náusea,	fadiga	e	exantema.	A	
principal	manifestação	clínica	que	as	difere	são	as	fortes	dores	nas	articulações.	Após	a	
fase	 inicial,	 a	 doença	 pode	 evoluir	 em	 duas	 etapas	 subsequentes:	 fase	 subaguda	 e	
crônica.	 O	 chikungunya	 tem	 caráter	 epidêmico	 com	 elevada	 taxa	 de	 morbidade	
associada	 à	 artralgia	 persistente,	 tendo	 como	 consequência	 a	 redução	 da	
produtividade	e	da	qualidade	de	vida.		
O	nome	Chikungunya	deriva	de	uma	palavra	em	Makonde,	língua	falada	por	um	
grupo	que	vive	no	sudeste	da	Tanzânia	e	norte	de	Moçambique	que	significa	“aqueles	
que	 se	 dobram”,	 descrevendo	 a	 aparência	 encurvada	 de	 pessoas	 que	 sofrem	 com	a	
artralgia	característica.		
O	CHIKV	foi	 isolado	 inicialmente	na	Tanzânia	por	volta	de	1952.	Desde	então,	
hárelatos	de	surtos	em	vários	países	do	mundo.	Iniciou	expansão	pandêmica	a	partir	
de	 2004.	 O	 vírus	 sofreu	 mutação	 genética	 e	 conseguiu	 adaptação	 ao	 vetor	 A.	
albopictus	 	 e	 outros	 processo	 adaptaitvos	 que	 aumentou	 a	 habilidade	 de	 o	 CHIKV	
infectar	o	A.	Albopictus	e	disseminar-se	no	vetor,	que	é	espécie	abundante	nas	ilhas	do	
Oceano	Índico	e	em	outras	regiões	da	Ásia.	Essa	adaptação	favoreceu	a	expansão	da	
virose	 em	 áreas	 urbanas	 e	 periurbanas	 naquele	 continente,	 aumentando	 o	 risco	 de	
epidemias	 em	 outras	 regiões	 tropicais,	 subtropicais	 e	 mesmo	 temperadas,	 como	
Europa.	 A	 transmissão	 autóctone	 de	 uma	 linhagem	 asiática	 de	 CHIKV	 sem	 essas	
mutações	 foi	 registrada	no	Caribe	 a	partir	 do	 final	 de	2013,	 quando	 teve	 início	uma	
grande	 epidemia	 de	 Chikungunya	 em	 diversas	 ilhas	 do	 Caribe.	 Em	 comunidades	
afetadas	 recentemente,	 a	 característica	marcante	 são	epidemias	 com	elevadas	 taxas	
de	ataque,	que	variam	de	38%	a	63%	(DONALISO,2017).		
No	Brasil,	detectou-se	transmissão	autóctone	em	setembro	de	2014	no	Amapá,	
disseminando-se	por	outros	estados	brasileiros,	com	ocorrência	de	epidemias	no	Brasil	
de	alta	magnitude,	no	nordeste	do	país	e	na	região	sudeste,	especialmente	no	Rio	de	
Janeiro.	
	
Febre	por	Virus	Zika	
O	 ZIKV,	 identificado	 pela	 primeira	 vez	 em	Uganda	 em	 1947,	 teve	 o	 primeiro	
surto	documentado	apenas	em	2007	na	Micronésia	e,	desde	então,	ampliou-se	a	área	
de	transmissão	em	ilhas	do	Oceano	Pacífico,	com	destaque	para	uma	grande	epidemia	
na	Polinésia	em	outubro	de	2013.	A	partir	de	abril	de	2015,	foi	confirmada	transmissão	
autóctone	de	ZIKV	na	Bahia	e,	em	seguida,	em	outros	estados	do	nordeste,	Rio	Grande	
do	Norte	e	Pernambuco	Ocorreu	epidemias	também	no	Rio	de	Janeiro,	São	Paulo	e	em	
outros	estados,	com	pacientes	apresentando	quadro	clínico	de	exantema	associado	ou	
não	com	febre	(DONALISIO,2017).	
Nos	meses	 seguintes,	 a	 transmissão	 de	 ZIKV	 foi	 confirmada	 em	 vários	 países	
das	 Américas,	 nos	 quais	 a	 transmissão	 provavelmente	 esteve	 associada	 ao	 vetor	A.	
aegypti.	 A	 transmissão	 humana	 está	 relacionada	 às	 mudanças	 genéticas	 entre	
linhagens	virais	que	permitiram	melhor	adaptação	ao	vetor.	
A	 OMS	 decretou	 em	 1º	 de	 fevereiro	 de	 2016	 a	 infecção	 por	 ZIKA	 uma	
emergência	 em	 saúde	 pública	 em	 virtude	 das	 alterações	 neurológicas	 reportadas	
(síndrome	de	Guillain-Barré)	e	de	um	surto	de	microcefalia,	 reportados	no	Brasil	 em	
2015.	
A	 infecção	 pelo	 vírus	 Zika	 assim	 como	 acontece	 na	 dengue	 pode	 ser	
assintomática	ou	apresentar	quadro	 clínico	variável,	desde	manifestações	 leves	até	
complicações	 neurológicas	 e	 manifestações	 congênitas.	 Os	 sintomas	 mais	 comuns	
incluem	febre	baixa	ou	erupção	cutânea	(exantema),	que	aparecem	alguns	dias	após	
a	picada	do	mosquito	infectado.	Embora	muitas	pessoas	com	o	vírus	não	apresentem	
sintomas,	 outras	 podem	 sofrer	 também	 de	 conjuntivite,	 dores	 musculares	 e	
articulares	 e	 cansaço.	Os	 sintomas	 costumam	durar	de	dois	 a	 sete	dias.	Não	existe	
diferença	nos	sintomas	registrados	por	gestantes	infectadas	e	mulheres	não	grávidas	
(MINISTERIO	DA	SAÚDE,2017).	
O	 Zika	 pode	 trazer	 manifestações	 neurológicas	 como	 a	 microcefalia,	 a	
síndrome	congênita	do	vírus	zika	e	a	Síndrome	de	Guillain-Barré.	
A	 microcefalia	 é	 uma	 condição	 em	 que	 a	 cabeça	 do	 bebê	 é	 menor	 que	 a	
cabeça	de	crianças	com	a	mesma	idade	e	mesmo	sexo.	Ela	acontece	tanto	quando	há	
problemas	 no	 útero,	 o	 que	 faz	 com	 que	 o	 cérebro	 do	 bebê	 pare	 de	 crescer	
adequadamente,	o	que	também	pode	ocorrer	após	o	nascimento.	
Crianças	nascidas	com	microcefalia	muitas	vezes	apresentam	dificuldades	de	
desenvolvimento	 à	medida	que	 crescem.	A	microcefalia	 também	pode	 ser	 causada	
por	outros	fatores	ambientais	e	genéticos,	como	a	Síndrome	de	Down,	exposição	da	
mãe	 a	 drogas,	 álcool	 ou	outras	 toxinas	 durante	 a	 gestação,	 e	 infecção	por	 rubéola	
durante	a	gravidez	(Síndrome	da	Rubéola	Congênita),	entre	outras.	
A	 infecção	 pelo	 vírus	 Zika	 durante	 a	 gestação	 pode	 causar	 abortos	
espontâneos	e	natimortos.	As	anormalidade	congênitas	associadas	à	exposição	dos	
fetos	 a	 esse	 vírus	 durante	 a	 gestação	 é	 conhecido	 como	 “Síndrome	 Congênita	 do	
Vírus	Zika”.	
Nem	 todas	 as	 crianças	 com	 síndrome	 congênita	 do	 vírus	 Zika	 apresentam	
microcefalia.	 Por	 outro	 lado,	 a	 ausência	 de	 sinais	 da	 síndrome,	 principalmente	
quando	avaliada	ainda	no	útero,	não	significa	necessariamente	que	o	feto	ou	recém-
nascido	não	tenha	anormalidades.	
A	 Síndrome	 de	 Guillain-Barré	 é	 uma	 condição	 rara	 na	 qual	 o	 sistema	
imunológico	de	uma	pessoa	ataca	os	seus	nervos.	Pessoas	de	todas	as	idades	podem	
ser	 afetadas,	 mas	 a	 doença	 é	 mais	 comum	 em	 homens	 adultos.	 A	 maioria	 das	
pessoas	se	recupera	completamente,	inclusive	nos	casos	mais	graves	da	Síndrome	de	
Guillain-Barré.	Em	20%	a	30%	das	pessoas	com	essa	condição,	os	músculos	peitorais	
são	afetados,	o	que	dificulta	a	respiração.		
Com	base	em	uma	revisão	sistemática	recentemente	publicada	de	pesquisas	
atuais,	 a	 OMS	 reafirmou	 seu	 posicionamento	 de	 que	 a	 infecção	 pelo	 vírus	 zika	
durante	 a	 gravidez	 é	 uma	 causa	 de	 anormalidades	 cerebrais	 congênitas,	 incluindo	
microcefalia,	e	reafirmou	sua	posição	sobre	a	reafirmou	sua	posição	sobre	a	relação	
entre	o	zika	e	a	síndrome	de	Guillain-Barré,	afirmando	que	a	infecção	pelo	vírus	é	um	
gatilho	para	essa	condição. 
A	 principal	 forma	 de	 transmissão	 do	 vírus	 Zika	 é	 pela	 picada	 do	 mosquito	
infectado,	principalmente	o	Aedes	aegypti,	em	regiões	tropicais.	Os	mosquitos	Aedes	
picam,	 normalmente,	 durante	 o	 dia,	 sobretudo	 ao	 princípio	 da	manhã	 e	 ao	 fim	da	
tarde/princípio	 da	 noite.	 Existem	 outras	 formas	 de	 transmissão	 documentadas:	
sexual,	transfusão	sanguínea	e	vertical	(da	gestante	para	o	feto).	
A	 busca	 por	 serviços	 de	 saúde	 é	 na	 maior	 parte	 das	 vezes	 pelo	 exantema	
pruriginoso.	Os	casos	de	síndrome	congênita	são	graves,	assim	como	a	presença	de	
manifestações	neurológicas.	Não	existe	tratamento	específico	para	 febre	por	Zika	e	
não	há	vacina	disponível	contra	o	Vírus	Zika.	
As	 medidas	 de	 prevenção	 e	 controle	 são	 semelhantes	 às	 da	 dengue	 e	
chikungunya.	
Deve-se	reduzir	o	número	de	mosquitos	por	meio	da	eliminação	de	criadouros	
sempre	 que	 possível,	 ou	 manter	 os	 reservatórios	 e	 qualquer	 local	 que	 possa	
acumular	água,	totalmente	cobertos	com	telas/capas	impedindo	o	acesso	das	fêmeas	
grávidas.	De	forma	complementar,	deve	ser	realizada	a	proteção	individual	com	uso	
de	repelentes	pela	população.	
Pode-se	 utilizar	 também	 roupas	 que	 minimizem	 a	 exposição	 da	 pele,	
proporcionando	 alguma	 proteção	 contra	 as	 picadas	 dos	 mosquitos	 principalmente	
durante	o	dia,	período	que	são	mais	ativos.	
As	 ações	 realizadas	 pelos	 programas	 locais	 de	 controle	 das	 doenças	
transmitidas	 pelo	 Aedes	 são	 fundamentais	 para	 a	 prevenção.	 Estas	 ações,	 além	de	
reduzirem	o	número	de	mosquitos	na	comunidade,	 interferem	na	probabilidade	de	
um	ser	humano	que	está	com	o	vírus	circulante	em	seu	sangue	(viremia)		servir	como	
fonte	 de	 alimentação	 sanguínea	 e	 de	 infecção	 para	Aedes		 aegypti	 e	 A.	 albopictus,	
levando	à	transmissão	para	outra	pessoa	e	propagando,	assim,	a	circulação	viral	na	
comunidade.	Deve-se	ressaltar	a	 importância	da	atuação	ativa	de	toda	a	população	
para	 se	 evitar	 possíveis	 criadouros	 em	 suas	 residências,	 escolas	 e	 ambientes	 de	
trabalho,	somando	esforços	com	as	atividades	de	rotinas	dos	programas	municipais	e	
estaduais.	
	
	
	
	
	
Febre	amarela	
A	Febre	amarela	é	uma	doença	 infecciosa	 febril	aguda,	 imunoprevenível,	cujo	
agente	etiológico	é	transmitido	por	vetores	artrópodes.	O	vírus	da	febre	amarela	é	um	
arbovírus	do	gênero	Flavivirus,	da	família	Flaviviridae.O	vírus	é	transmitido	pela	picada	
dos	 mosquitos	 transmissores	 infectados	 e	 não	 há	 transmissão	 direta	 de	 pessoa	 a	
pessoa.	A	vacina	é	a	principal	ferramenta	de	prevenção	e	controle	da	doença.	
O	 vírus	 da	 FA	 apresenta	 dois	 ciclos	 epidemiológicos	 de	 transmissão	distintos,	
silvestre	e	urbano,	conforme	a	figura	1	abaixo.	Não	existe	diferença	da	doença	nos	dois	
ciclos	 de	 transmissão	 (urbano	 e	 silvestre).	 No	 ciclo	 silvestre	 da	 febre	 amarela,	 os	
primatas	 não	 humanos	 (macacos)	 são	 os	 principais	 hospedeiros	 e	 amplificadores	 do	
vírus,	 e	 os	 vetores	 são	 mosquitos	 com	 hábitos	 estritamente	 silvestres,	 sendo	 os	
gêneros	Haemagogus	e	Sabethes	os	mais	importantes	na	América	Latina.	Nesse	ciclo,	o	
homem	participa	como	um	hospedeiro	acidental	ao	adentrar	áreas	de	mata.	No	ciclo	
urbano,	 o	 homem	 é	 o	 único	 hospedeiro	 com	 importância	 epidemiológica	 e	 a	
transmissão	ocorre	a	partir	de	vetores	urbanos	(Aedes	aegypti)	infectados.	
	
Figura	1.	Ciclos	epidemiológicos	da	Febre	Amarela	
		 O	período	de	incubação	no	homem	varia	de	3	a	6	dias,	podendo	se	estender	até	
15	dias.	A	 viremia	humana	dura	no	máximo	sete	dias	e	 vai	de	24-48	horas	antes	do	
aparecimento	dos	 sintomas	até	3	a	5	dias	após	o	 início	da	doença,	e	é	durante	esse	
período	 que	 o	 homem	 pode	 infectar	 os	 mosquitos	 transmissores.	 Nos	 casos	 que	
evoluem	para	a	cura,	a	infecção	confere	imunidade	duradoura.	
O	 quadro	 clínico	 típico	 caracteriza-se	 por	 manifestações	 de	 insuficiência	
hepática	 e	 renal,	 tendo	 em	 geral	 apresentação	 bifásica,	 com	 um	 período	 inicial	
prodrômico	(infecção)	e	um	toxêmico.	O	período	prodrômico	dura	cerca	de	três	dias,	
tem	 início	 súbito	 e	 sintomas	 inespecíficos	 como	 febre,	 calafrios,	 cefaleia	 (dor	 de	
cabeça),	 lombalgia,	mialgias	generalizadas,	prostração,	náuseas	e	vômitos.	Após	esse	
período	 geralmente	 ocorre	 declínio	 da	 temperatura	 e	 diminuição	 dos	 sintomas,	
provocando	uma	sensação	de	melhora	no	paciente,	que	poucas	horas,	no	máximo	um	
a	 dois	 dias.	 Após	 esta	 sensação	 de	 melhora	 inicia-se	 o	 período	 toxêmico,	 quando	
reaparece	 a	 febre,	 a	 diarreia	 e	 os	 vômitos	 com	 aspecto	 de	 borra	 de	 café.	 Instala-se	
quadro	 de	 insuficiência	 hepática	 e	 renal	 caracterizado	 por	 icterícia,	 oligúria	 (pouca	
urina),	 anúria	 (ausência	 de	 urina)	 e	 albuminuria	 (presença	 de	 albumina	 na	 urina),	
acompanhado	 de	manifestações	 hemorrágicas	 como	 gengivorragia	 (sangramento	 na	
gengiva),	 epistaxe	 (sangramento	 pelo	 nariz),	 otorragia	 (sangramento	 pelo	 ouvido),	
hematêmese	(vômitos	com	sangue),	melena	(sangue	nas	 fezes),	hematúria	 (presença	
de	sangue	na	urina),	sangramentos	em	locais	de	punção	venosa	e	prostração	intensa,	
além	de	comprometimento	neurológico	(MS,2017).	
	O	ciclo	silvestre	é	endêmico	nas	regiões	tropicais	da	África	e	das	Américas.	Em	
geral,	apresenta-se	sob	a	forma	de	surtos	com	intervalos	de	tempo	que	podem	variar	
de	 3	 a	 7	 anos,	 alternados	 por	 períodos	 com	menor	 número	 de	 casos.	 Em	 geral,	 na	
população	humana,	o	aparecimento	de	casos	tem	sido	após	a	ocorrência	de	epizootias	
de	primatas	não	humanos	(PNH).	
A	maneira	mais	eficaz	de	prevenção	contra	a	febre	amarela	é	através	da	vacina.	
A	partir	de	2017	o	Brasil	 adotou	a	 recomendação	da	Organização	Mundial	da	Saúde	
(OMS)	indicando	dose	única	(apenas	uma	dose	durante	toda	a	vida)	da	vacina	contra	a	
febre	 amarela.	 Em	 2018	 a	 vacinação	 passou	 a	 ser	 indicada	 para	 todo	 o	 território	
nacional.	
Situação	epidemiológica	da	febre	amarela	
Desde	 1942	 não	 há	 registro	 no	 Brasil	 de	 febre	 amarela	 urbana,	 isto	 é	
transmitida	 pelo	 A	 aegipti.	 Os	 casos	 confirmados	 após	 1942	 são	 de	 febre	 amarela	
silvestre,	 transmitida	 por	 mosquitos	 Haemagogus.	 Até	 1999	 os	 focos	 endêmicos	
correram	 nos	 estados	 da	 região	 Norte,	 Centro-Oeste	 e	 área	 pré-amazônica	 do	
Maranhão,	além	de	registros	de	casos	esporádicos	em	Minas	Gerais	(MS,2017).	
Nos	 últimos	 anos	 ocorreu	 uma	 expansão	 da	 circulação	 do	 vírus	 da	 febre	
amarela	para	as	regiões	leste	e	sul	do	país,	ocasionando	surtos	de	epizootias	em	PNH	
(Primatas	não	humanos)	e	de	casos	de	febre	amarela	em	humanos.	Entre	os	anos	de	
2000	e	2008	ocorreu	uma	expansão	da	circulação	viral	para	as	 regiões	 leste	e	sul	do	
Brasil.	No	período	de	monitoramento	2014	e	2015,	a	reemergência	do	vírus	da	FA	foi	
registrada	 além	 dos	 limites	 da	 área	 considerada	 endêmica	 (região	 amazônica),	
manifestando-se	 por	 epizootias	 em	 PNH	 confirmadas	 por	 critério	 laboratorial	 (TO;	
julho/2014).	Novos	registros	de	epizootias	e	casos	humanos	isolados	nos	estados	de	
Goiás,	Minas	Gerais	 e	 São	 Paulo	 demonstraram	o	 avanço	da	 área	 de	 circulação	do	
vírus,	novamente	percorrendo	os	caminhos	de	dispersão	nos	sentidos	sul	e	leste	do	
país,	aproximando-se	de	grandes	regiões	metropolitanas	densamente	povoadas,	com	
populações	não	vacinadas	e	infestadas	por	Aedes	aegypti.	É	importante	ressaltar	que	
toda	 esta	 expansão	 da	 circulação	 do	 vírus	 está	 associada	 à	 ocorrência	 do	 ciclo	
silvestre	da	doença,	não	havendo	nenhum	indício	da	sua	urbanização	(MS,2017).	
No	 período	 2016/2017,	 foi	 registrado	 um	 dos	 eventos	 mais	 expressivos	 da	
história	 da	 FA	 no	 Brasil.	 A	 dispersão	 do	 vírus	 alcançou	 a	 costa	 leste	 brasileira,	 na	
região	do	bioma	Mata	Atlântica,	que	abriga	uma	ampla	diversidade	de	primatas	não	
humanos	 e	 de	 potenciais	 vetores	 silvestres	 e	 onde	 o	 vírus	 não	 era	 registrado	 há	
décadas.	 De	 acordo	 com	 o	Boletim	 Epidemiológico	 n°28/2017,	 no	 período	 de	
julho/2016	a	junho/2017,	foram	confirmados	777	casos	humanos	e	261	óbitos,	além	
de	1412	epizootias	confirmadas	em	PNH,	figura	2	(MS,2018).	
	
	
	
	
Figura	2.	Municípios	com	registro	de	casos	humanos	(a.)	e	epizootias	de	primatas	não	humanos	(b),	
de	acordo	com	a	classificação,	e;	áreas	afetadas	e	de	vacinação,	Brasil,	2016/2017.	
	
No	período	de	julho	de	2017	até	abril	de	2018,	foram	notificadas	ao	Ministério	
da	Saúde	6.967	epizootias	em	PNH,	das	quais	1.672	 foram	descartadas,	2.290	 foram	
indeterminadas	 (s/	 coleta	 de	 amostras),	 2.273	 permanecem	 em	 investigação	 e	 732	
foram	 confirmadas	 por	 FA	 (por	 laboratório).	 Foram	 registradas	 epizootias	 de	 PNH	
confirmadas	no	Tocantins;	no	Mato	Grosso;	no	Espírito	Santo;	no	Rio	de	 Janeiro,	em	
Minas	 Gerais	 e	 em	 São	 Paulo,	 com	 o	 maior	 número	 de	 epizootias	 confirmadas	 na	
região	Sudeste.		
	
Referências	Bibliográficas:	
DONALISIO,MR	 et	 al.	 Arboviroses	 emergentes	 no	 Brasil.	 Rev	 Saúde	 Pública,	 2017;	
51:30.	
LIMA-CAMARA,	TN.	Arboviroses	emergentes	e	novos	desafios	para	a	saúde	pública	no	
Brasil.	Rev.	Saúde	Pública,		São	Paulo,		v.	50,	36,	2016.		
MACIEL,IJ	 et	 al.	 Epidemiologia	 e	 desafios	 no	 controle	 da	 dengue.	 Rev.	 de	 Patologia	
Tropical,	Vol.	37(2):	111-130.	Maio-jun-2008.	
BRASIL.	Ministério	da	Saúde.	Secretaria	de	Vigilância	em	Saúde.	Guia	de	Vigilância	em	
Saúde,	2017,	Volume	2.	
BRASIL.	 Ministério	 da	 Saúde.	 Secretaria	 de	 Vigilância	 em	 Saúde.	 Informe	 nº	 24	 -	
2017/2018	Monitoramento	do	Período	Sazonal	da	Febre	Amarela	Brasil	–	2017/2018	-	
02	de	maio	de	2018.	
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