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Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 1 de 85 AULA 03: CRIME: ELEMENTOS (PARTE II): CULPABILIDADE (IMPUTABILIDADE); ERRO; PUNIBILIDADE E SUA EXTINÇÃO. AÇÃO PENAL. SUMÁRIO PÁGINA Apresentação da aula e sumário 01 I – Culpabilidade 02 II – Punibilidade e sua extinção 23 III – Ação Penal 33 Lista das Questões 55 Questões Comentadas 64 Gabarito 85 Olá, meus caros amigos concurseiros! Devorando os papiros? Na última aula nós iniciamos o estudo do Crime, seu conceito e elementos, estudando os dois primeiros deles: O fato típico e a ilicitude. Hoje, a matéria é hard. Vamos finalizar o estudo dos elementos do Crime (Parte II - Culpabilidade), bem como a Imputabilidade (para a maioria, integrante da Culpabilidade) e a Punibilidade. Veremos, ao fim, a Ação penal. Vamos ao trabalho, meu povo! Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 2 de 85 I – CULPABILIDADE A culpabilidade nada mais é que o juízo de reprovabilidade acerca da conduta do agente, considerando-se suas circunstâncias pessoais. Diferentemente do que ocorre nos dois primeiros elementos (fato típico e ilicitude), onde se analisa o fato, na culpabilidade o objeto de estudo não é o fato, mas o agente. Daí alguns doutrinadores entenderem que a culpabilidade não integra o crime (por não estar relacionada ao fato criminoso, mas ao agente). Entretanto, vamos trabalhá-la como elemento do crime. Quatro teorias existem acerca da culpabilidade: A) Teoria psicológica – Para essa teoria a culpabilidade era analisada sob o prisma da imputabilidade e da vontade (dolo e culpa). Esta teoria entende que o agente seria culpável se era imputável no momento do crime e se havia agido com dolo ou culpa. Vejam que essa teoria só pode ser utilizada por quem adota a teoria naturalística da conduta (pois o dolo e culpa estão na culpabilidade). Para os que adotam a teoria finalista (nosso Código penal), essa teoria acerca da culpabilidade é impossível, pois a teoria finalista aloca o dolo e a culpa na conduta, e, portanto, no fato típico; B) Teoria normativa ou psicológico-normativa – Possui os mesmos elementos da primeira, mas agrega a eles a inexigibilidade de conduta diversa, que é a “possibilidade de agir conforme o Direito”. Para essa teoria, mais evoluída, ainda que o agente fosse imputável e tivesse agido com dolo ou culpa, só seria culpável se no caso concreto lhe pudesse ser exigido um outro comportamento que não o comportamento criminoso; Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 3 de 85 C) Teoria normativa pura – Essa já muda de ares. Já não mais considera o dolo e culpa como elementos da culpabilidade, mas do fato típico (seguindo a teoria finalista da conduta). Para esta teoria, os elementos da culpabilidade são: a) imputabilidade; b) potencial consciência da ilicitude; c) inexigibilidade de conduta diversa. A potencial consciência da ilicitude seria a análise concreta acerca das possibilidades que o agente tinha de conhecer o caráter ilícito de sua conduta. Vamos estudar cada um desses elementos mais à frente; D) Teoria limitada – É A ADOTADA PELO CÓDIGO PENAL. Possui os mesmos elementos da teoria normativa pura, mas difere dela ao tratar as descriminantes putativas. Assim, vamos estudar cada um dos elementos da culpabilidade e, ao final, o tratamento conferido por esta teoria às descriminantes putativas. 1) IMPUTABILIDADE PENAL O Código Penal não define o que seria imputabilidade penal, apenas descreve as hipóteses em que ela não está presente. A imputabilidade penal pode ser conceituada como a capacidade mental de entender o caráter ilícito da conduta e de comportar-se conforme o Direito. Existem três sistemas acerca da imputabilidade: Biológico – Basta a existência de uma doença mental ou determinada idade para que o agente seja inimputável. É adotado no Brasil com relação aos menores de 18 anos. Trata- se de critério meramente biológico: Se agente tem menos de 18 anos, é inimputável; Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 4 de 85 Psicológico – Só se pode aferir a imputabilidade (ou não), na análise do caso concreto; Biopsicológico – Deve haver uma doença mental (critério biológico, legal, objetivo), mas o Juiz deve analisar no caso concreto se o agente era ou não capaz de entender o caráter ilícito da conduta e de se comportar conforme o Direito (critério psicológico). Essa foi a teoria adotada como REGRA pelo nosso Código Penal. Cuidado! A imputabilidade penal deve ser aferida quando do fato. Assim, se A (menor com 17 anos e 11 meses de idade) sequestra B e o sequestro só termina quando A já era maior de 18 anos, este responde pelo crime, pois nos crimes permanentes, entende-se que o tempo do crime é o momento em que cessa a atividade criminosa. Entretanto, imaginemos que Alfredo (com 17 anos) efetua disparos de arma de fogo contra Poliana, que entra em coma e vem a falecer seis meses depois, quando Alfredo já era maior de 18 anos. Nesse caso, Alfredo não responde pelo crime de homicídio, mas por ato infracional, nos termos do ECA, pois o crime se considera praticado quando da conduta, ainda que outro seja o momento do resultado. As causas de inimputabilidade estão previstas nos arts. 26, 27 e 28 do CP: Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art26 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art26 Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 5 de 85 Redução de pena Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Menores de dezoito anos Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Emoção e paixão Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - a emoção ou a paixão; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Embriaguez II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art24http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art27 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art27 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art28 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art28 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art28 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art28 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art28 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art28 Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 6 de 85 acordo com esse entendimento.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Percebam que os critérios biológicos (circunstâncias que presumidamente retiram a capacidade de discernimento) estão grifados em preto, e os critérios psicológicos (análise efetiva da ausência de discernimento quanto à ilicitude do fato e possibilidade de agir conforme o Direito) estão grifados em vermelho. Para facilitar, ainda, o estudo de vocês, grifei em azul as hipóteses de semi-imputabilidade. Vamos explicar as hipóteses de inimputabilidade: A) Menor de 18 anos Esse é um critério meramente biológico e taxativo: Se o agente é menor de 18 anos, responde perante o ECA não se aplicando a ele o CP< nos termos do art. 27 do CP. B) Doença mental e Desenvolvimento mental incompleto ou retardado http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art28 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art28 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art28 Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 7 de 85 No caso dos doentes mentais, deve-se analisar se o agente era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito da conduta ou se era parcialmente incapaz disso. No primeiro caso, será inimputável, ou seja, isento de pena. No segundo caso, será semi-imputável, e será aplicada pena, porém, reduzida de um a dois terços. Além dos doentes mentais, nesse grupo encontram-se ainda os silvícolas (índios), que são imputáveis (caso integrados à sociedade), semi-imputáveis (caso parcialmente integrados à sociedade), ou inimputáveis (caso não tenham se integrado de maneira nenhuma à sociedade, ou muito pouco). Nos dois casos acima, se o agente for inimputável, exclui-se a culpabilidade e ele é isento de pena. Se for semi-imputável, será considerado culpável (não se exclui a culpabilidade), mas sua pena será reduzida de um a dois terços. No caso de o agente ser inimputável, por ser menor de 18 anos, não há processo penal, respondendo perante o ECA. No caso de ser inimputável em razão de doença mental ou desenvolvimento incompleto, será isento de pena (absolvido), mas o Juiz aplicará uma medida de segurança (internação ou tratamento ambulatorial). Isso é o que se chama de sentença absolutória imprópria. No caso de o agente ser semi-imputável, ele não será isento de pena! Será condenado a uma pena, que será reduzida. Entretanto, a lei permite que o Juiz, diante do caso, substitua a pena privativa de liberdade por uma medida de segurança (internação ou tratamento ambulatorial). CUIDADO! O semi-imputável não pode cumprir a pena e depois a medida de segurança (antigo sistema do “duplo binário”). Atualmente, a medida de segurança só poder substitutiva da pena privativa de liberdade (sistema vicariante). Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 8 de 85 C) Embriaguez Segundo o CP, a embriaguez não é uma hipótese de inimputabilidade, salvo se decorrente de caso fortuito ou força maior. Assim, imaginem que Poliana é embriagada por Carlos (que coloca álcool em seus drinks). Sem saber, Poliana ingere as bebidas alcoólicas e comete crime. Nesse caso, Poliana poderá ser inimputável ou semi- imputável, a depender de seu nível de discernimento quando da prática da conduta. Assim: Embriaguez: Voluntária Culposa Acidental (caso fortuito ou força maior) Em qualquer dos dois casos de embriaguez acidental, não será possível aplicação de medida de segurança, pois essa visa ao tratamento do agente considerado doente, e que oferece risco à sociedade. No caso da embriaguez acidental, o agente é são, tendo ingerido álcool por caso fortuito ou força maior. 2) POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE Não excluem a imputabilidade COMPLETA – agente é inimputável PARCIAL – agente é semi-imputável Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 9 de 85 A potencial consciência da ilicitude é a possibilidade de o agente, de acordo com suas características, conhecer o caráter ilícito do fato. Não se trata do parâmetro do homem médio, mas de uma análise da pessoa do agente. Assim, aquele que é formado em Direito, em tese, tem maior potencial consciência da ilicitude que aquele que nunca saiu de uma aldeia de pescadores e tem pouca instrução. É claro que isso varia de pessoa para pessoa e, principalmente, de crime para crime, pois alguns são do conhecimento geral (homicídio, roubo), e outros nem todos conhecem (bigamia, por exemplo). Quando o agente age acreditando que sua conduta não é ilícita, comete erro de proibição (art. 21 do CP). O erro de proibição pode ser: Escusável – Nesse caso, era impossível àquele agente, naquele caso concreto, saber que sua conduta era contrária ao Direito. Nesse caso, exclui-se a culpabilidade e o agente é isento de pena; Inescusável – Nesse caso, o erro do agente quanto à proibição da conduta não é tão perdoável, pois era possível, mediante algum esforço, entender que se tratava de conduta ilícita. Assim, permanece a culpabilidade, respondendo pelo crime, com pena diminuída de um sexto a um terço (conforme o grau de possibilidade de conhecimento da ilicitude). 3) EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA Não basta que o agente seja imputável, que tenha potencial conhecimento da ilicitude do fato, é necessário, ainda, que o agente pudesse agir de outro modo. Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 10 de 85 Desta maneira, imagine a situação de uma mãe que vê seu filho clamar por comida e, diante disso, rouba um cesto de pães. Nesse caso, a mãe era maior de idade, sabia que a conduta era ilícita, mas não se podia exigir que, naquelas circunstâncias, agisse de outro modo. Dessa forma, nesse caso, sua culpabilidade estaria excluída (isso sem comentar o princípio da bagatela, que excluiria a própria tipicidade, por ausência de lesão tutelável); Esse elemento da culpabilidade fundamenta duas causas de exclusão da culpabilidade: Coação moral irresistível – É o ato no qual uma pessoa coage outra apraticar determinado crime, sob a ameaça de lhe fazer algum mal grave. Ex.: Alberto coloca uma arma na cabeça de Poliana e diz que se ela não atirar em Romeu, matará seu filho, que está seqüestrado por seus comparsas. Nesse caso, não se pode exigir de Poliana que deixe de atirar em Romeu, pois está sob ameaça de um mal gravíssimo (morte do filho). Cuidado! O STF entende que se a coação é resistível (o mal não é tão grave assim), o coagido responde juntamente com o coator. Ex.: No mesmo caso anterior, imagine que ao invés de ameaçar matar o filho de Poliana, Alberto ameaçasse dar um tapa em Poliana caso ela não atirasse. Ora, nesse caso, o mal não é tão grave, e Poliana deveria tê-lo suportado ao invés de atirar. Se atirar e matar Romeu, responderá juntamente com Alberto por homicídio. Esse é o entendimento do STF! Obediência hierárquica – É o ato cometido por alguém em cumprimento a uma ordem ilegal proferida por um superior hierárquico. Cuidado! A ordem não pode ser MANIFESTAMENTE ILEGAL. Se aquele que cumpre a ordem sabe que está cometendo uma ordem ilegal, responde pelo crime juntamente com aquele que deu a ordem. Se a ordem Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 11 de 85 não é manifestamente ilegal aquele que apenas a cumpriu estará acobertado pela excludente de culpabilidade da inexigibilidade de conduta diversa. Ex.: Um Delegado experiente determina a dois policiais novatos que entre na casa de Marcelo e realizem sua prisão. Entretanto, o Delegado não possuía um mandado judicial para isso. Nesse caso, os policias não tinha como contrariar a ordem do Delegado, nem saber que ela era ilegal. Cuidado! Nesse caso, só se aplica aos funcionários públicos, não aos particulares! 4) ERRO A) ERRO DE TIPO Sabemos que o crime, em seu conceito analítico, é formado basicamente por três elementos: Fato típico (para alguns, tipicidade), ilicitude e culpabilidade. Quando o agente comete um fato que se amolda perfeitamente à conduta descrita no tipo penal (direta ou indiretamente), temos um fato típico e, como disse, estará presente, portanto, a tipicidade. Pode ocorrer, entretanto, que o agente pratique um fato típico por equívoco! Isso mesmo! O agente pratica um fato considerado típico, mas o faz por ter incidido em erro sobre algum de seus elementos. O erro de tipo é a representação errônea da realidade, na qual o agente acredita não se verificar a presença de um dos elementos essenciais que compõem o tipo penal. Por exemplo: Imaginemos o crime de desacato: Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 12 de 85 Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. Imaginemos que o agente desconhecesse a condição de funcionário público da vítima. Nesse caso, houve erro de tipo, pois o agente incidiu em erro sobre elemento essencial do tipo penal. O erro de tipo pode ocorrer, também, nos crimes omissivos impróprios (comissivos por omissão), pois o agente pode desconhecer sua condição de garantidor (aquele que tem o dever de impedir o resultado). Por exemplo: Imagine que uma mãe presencie o estupro da própria filha, mas nada faça, por não verificar tratar-se de sua filha. Nesse caso, a mãe incidiu em erro de tipo, pois errou na representação da realidade fática acerca de elemento que constituía o tipo penal. PRESTEM ATENÇÃO, GALERA! Quando o erro incidir sobre elemento normativo do tipo, há divergência na Doutrina! Parte entende que continua se tratando de erro de tipo. Outra parte da Doutrina entende que não se trata de erro de tipo, mas de erro de proibição, pois o agente estaria errando acerca da licitude do fato. Exemplo: O art. 154 do CP diz o seguinte: Art. 154 - Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem: Pena - Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 13 de 85 detenção, de três meses a um ano, ou multa. Nesse caso, o elemento “sem justa causa” é elemento normativo do tipo. Se o médico revela um segredo do paciente para um parente, acreditando que este poderá ajudá-lo, e faz isso apenas para o bem do paciente, acreditando haver justa causa, quando na verdade o parente é um tremendo fofoqueiro que só quer difamar o paciente, o médico incorreu em erro de tipo, pois acreditava estar agindo com justa causa, que não havia. Porém, como disse a vocês, parte da doutrina entende que aqui se trata de erro de proibição. Mas a teoria que prevalece é a de que se trata mesmo de erro de tipo. O erro de tipo pode ser: Escusável – Quando o agente não poderia conhecer, de fato, a presença do elemento do tipo. Exemplo: “A” entra numa loja e ao sair, verifica que esqueceu sua bolsa. Ao voltar, A encontra uma bolsa idêntica à sua, e a leva embora. Entretanto, “A” não sabia que essa bolsa era de “B”, que estava olhando revistas distraído, tendo sua bolsa sido levada por outra pessoa no momento em que saiu da loja pela primeira vez. Nesse caso, “A” não tinha como imaginar que alguém, em tão pouco tempo, haveria roubado sua bolsa e que outra pessoa deixaria no mesmo lugar uma bolsa idêntica. Nesse caso, a incorreu em erro de tipo escusável, pois não poderia, com um exercício mental razoável, saber que aquela não era sua bolsa; Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 14 de 85 Inescusável – Ocorre quando o agente incorre em erro sobre elemento essencial do tipo, mas poderia, mediante um esforço mental razoável, não ter agido desta forma. Exemplo: Imaginemos que Marcelo esteja numa repartição pública e acabe por desacatar funcionário público que lá estava. Marcelo não sabia que se tratava de funcionário público, mas mediante esforço mental mínimo poderia ter chegado a esta conclusão, analisando a postura da pessoa com quem falava e o que a pessoa fazia no local. Assim, Marcelo incorreu em erro de tipo inescusável, e responderia por crime culposo, caso houvesse previsão de desacato culposo (não há); Assim, lembrem-se: Pode ser que a banca utilize o termo “Erro sobre elemento constitutivo do tipo penal”. Eu prefiro essa nomenclatura, mas ela não é muito utilizada, principalmente em concursos que não são de nível muito elevado (É mais utilizada em concursos para Juiz, Defensor, Promotor). A.1) ERRO DE TIPO ACIDENTAL Agente comete o fato típico por incidir em erro sobre um dos elementos que compõem o tipo penal ERRO DE TIPO Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 15 de 85 O erro de tipo acidental é aquele que recai sobre circunstâncias diversas dos elementos que constituem a infração penal. Recaem sobre circunstâncias irrelevantes da figura típica, que permanece íntegra. O erro de tipo acidental pode ser: ERRO SOBRE A PESSOA (ERROR IN PERSONA)– Aqui o agente pratica o ato contra pessoa diversa da pessoa visada, por confundi-la com a pessoa que deveria ser o alvo do delito. Neste caso, o erro é irrelevante, pois o agente responde como se tivesse praticado o crime CONTRA A PESSOA VISADA. Essa previsão está no art. 20, §3° do CP; ERRO SOBRE O NEXO CAUSAL (ABERRATIO CAUSAE) – Aqui temos o que se chama de DOLO GERAL OU SUCESSIVO. É o engano no que se refere ao meio de execução do delito. Ocorre quando o agente, acreditando já ter ocorrido o resultado pretendido, pratica outra conduta, mas ao final verifica que esta última foi a que provocou o resultado. Ex.: O agente atira contra a vítima, visando sua morte. Acreditando que a vítima morreu, a atira num rio, visando esconder o corpo. Mais tarde, descobre-se que esta última conduta foi a que causou a morte da vítima, por afogamento, pois ainda estava viva. A Doutrina majoritária entende que o agente responde pelo crime originalmente previsto (homicídio doloso consumado, e não homicídio tentado c/c homicídio culposo), embora, na verdade, tivéssemos um homicídio tentado (a primeira conduta) e um homicídio culposo consumado (a segunda conduta); ERRO NA EXECUÇÃO (ABERRATIO ICTUS) – Aqui o agente atinge pessoa diversa daquela que fora visada, mas não por confundi-la, mas por ERRAR NA HORA DE PRATICAR O DELITO. Imagine que o agente, tentando acertar “A”, erro o tiro e acaba acertando “B”. No erro sobre a pessoa o agente Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 16 de 85 não “erra o alvo”, ele “acerta o alvo”, mas o alvo foi confundido. SÃO COISAS DIFERENTES! Nesse caso, assim como no erro sobre a pessoa, o agente responde pelo crime originalmente pretendido. Esta é a previsão do art. 73 do CP. O erro na execução pode ser: a) Com unidade simples – O agente atinge somente a pessoa diversa daquela visada; b) Com unidade complexa – O agente atinge a vítima não visada, mas atinge também a vítima originalmente pretendida. Nesse caso, responde pelos dois crimes, em CONCURSO FORMAL; ERRO NO CRIME (ABERRATIO DELICTI) – Aqui o agente pretendia cometer um crime, mas acaba cometendo outro. Imagine que alguém atire uma pedra num veículo parado, com o dolo de danificá-lo (art. 163 do CP). Entretanto, o agente erra o alvo e atinge o dono, que estava perto (cometendo lesões corporais, art. 129 do CP). Nesse caso, o agente acaba por cometer CRIME DIVERSO DO PRETENDIDO. Responderá apenas pelo crime praticado efetivamente (lesão corporal culposa). Aplica-se a mesma regra do erro na execução: Se o agente atingir ambos os bens jurídicos (o pretendido e o não pretendido) responderá por AMBOS OS CRIMES, em CONCURSO FORMAL (art. 70 do CP). B) ERRO DE PROIBIÇÃO A culpabilidade (terceiro elemento do conceito analítico de crime) é formada por alguns elementos, dentre eles, a POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE. A POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE é a possibilidade de o agente, de acordo com suas características, conhecer o caráter ilícito do Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 17 de 85 fato. Não se trata do parâmetro do homem médio, MAS DE UMA ANÁLISE DA PESSOA DO AGENTE. Assim, aquele que é formado em Direito, em tese, tem maior potencial consciência da ilicitude que aquele que nunca saiu de uma aldeia de pescadores e tem pouca instrução. É claro que isso varia de pessoa para pessoa e, principalmente, de crime para crime, pois alguns são do conhecimento geral (homicídio, roubo), e outros nem todos conhecem (bigamia, por exemplo). Quando o agente age acreditando que sua conduta não é ilícita, comete ERRO DE PROIBIÇÃO (art. 21 do CP). O erro de proibição pode ser: Escusável – Nesse caso, era impossível àquele agente, naquele caso concreto, saber que sua conduta era contrária ao Direito. Nesse caso, exclui-se a culpabilidade e o agente é isento de pena; Inescusável – Nesse caso, o erro do agente quanto à proibição da conduta não é tão perdoável, pois era possível, mediante algum esforço, entender que se tratava de conduta ilícita. Assim, permanece a culpabilidade, respondendo pelo crime, com pena diminuída de um sexto a um terço (conforme o grau de possibilidade de conhecimento da ilicitude). Assim, imaginem a seguinte hipótese: Um cidadão, lá do interior, encontra um bem (relógio de ouro, por exemplo) e fica com ele para si. Entretanto, mal sabe ele que essa conduta é crime, previsto no CP (apropriação de coisa achada). Vejamos: Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 18 de 85 Parágrafo único - Na mesma pena incorre: (...) Apropriação de coisa achada II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de 15 (quinze) dias. Percebam que até mesmo uma pessoa de razoável intelecto é capaz de não conhecer a ilicitude desta conduta. Assim, o agente, diferentemente do que ocorre no erro de tipo, REPRESENTA PERFEITAMENTE A REALIDADE (Sabe que a coisa não é sua, é uma coisa que foi perdida por alguém), mas ACREDITA QUE A CONDUTA É LÍCITA. Imaginem, no mesmo exemplo, que o camarada que achou o relógio, na verdade, soubesse que não podia ficar com as coisas dos outros, mas acreditasse que o relógio era um relógio que ele tinha perdido horas antes (quando, na verdade, era o relógio de outra pessoa). Nesse caso, o agente sabia que não podia praticar a conduta de “se apropriar de coisa alheia perdida” (Não há, portanto, erro de proibição), mas acreditou que a coisa não era “alheia”, achando que fosse sua (erro de tipo). Ficou clara a diferença? Agente comete o fato não por incidir em erro sobre a realidade, mas POR ACHAR QUE A CONDUTA NÃO É PROIBIDA ERRO DE PROIBIÇÃO Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 19 de 85 C) AS TEORIAS DA CULPABILIADE E O TRATAMENTO DADO AO ERRO DE TIPO E AO ERRO DE PROIBIÇÃO A teoria limitada, que é a adotada pelo CP, difere da teoria normativa pura com relação ao tratamento dado às descriminantes putativas. As descriminantes putativas são tratadas nos arts. 20, § 1° e 21 do CP: § 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo (...) Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. Para a teoria normativa pura, as descriminantes putativas serão sempre erro de proibição. Ou seja, sempre que um agente supor que existe uma situação fática que legitima sua ação, e esta não existir, estará errando com relação à licitude do fato, logo, comete erro de proibição, o que pode afastar a culpabilidade. Já a teoria limitada(adotada pelo CP), divide as descriminantes em dois blocos: De fato – O agente supõe que existe um fato que legitima sua ação. Por exemplo: Agente pega um relógio que está sobre a mesa, acreditando que é seu. Na verdade, o relógio era de outra pessoa. Nesse caso, o agente cometeu um erro de fato, não de Direito, pois sabe que furtar é errado, apenas acreditou Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 20 de 85 se tratar de bem a ele pertencente. Nesse caso, há erro de tipo, logo, não se chega nem a ter fato típico, desde que se trate de erro escusável. Se o erro for inescusável, o agente responde pelo crime na modalidade culposa, se houver. No exemplo, não responderia, pois não há o crime de furto culposo; De Direito – São tratadas como erro de proibição. Aqui, o agente representa fielmente a realidade (não se engana quanto aos fatos), mas acredita que mesmo assim sua ação é legítima. No exemplo acima, imaginem que o agente pega o relógio sabendo que não é seu, mas acredita que furtar não é crime. Assim, nesse caso, o erro não é de fato, mas de direito. Se o erro for escusável (O agente não tinha condições de saber que era ilícito), está excluída a culpabilidade. Se for erro inescusável (o agente tinha como saber que era ilícito), responderá pelo crime, com pena diminuída de um sexto a um terço. Vejam que há implicações práticas, principalmente se o erro for inescusável, pois no erro de tipo inescusável o agente responde por crime culposo, se houver (se não houver, o fato é atípico). Já no erro de proibição inescusável o agente responde pelo crime doloso, só que com pena diminuída (no caso acima, responderia por furto, com pena diminuída). Assim, o fato de ter-se adotado a teoria limitada tem reflexos práticos na configuração da conduta criminosa, não apenas doutrinários. CUIDADO!! Não confundam Descriminantes Putativas com delito putativo. Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 21 de 85 As descriminantes putativas são QUAISQUER SITUAÇÕES NAS QUAIS O AGENTE INCIDA EM ERRO POR ACREDITAR QUE ESTÁ PRESENTE UMA SITUAÇÃO QUE TORNE A SUA CONDUTA LEGÍTIMA (SEJA UMA SITUAÇÃO FÁTICA OU UMA SITUAÇÃO JURÍDICA). As descriminantes putativas podem ser relativas à suposta existência de uma causa de exclusão da tipicidade, da ilicitude ou da culpabilidade. Assim, se o agente furta uma mala de terceira pessoa, acreditando que é sua, age com erro, pois vislumbra uma situação que, se existisse (se a mala fosse sua, como imaginou), tornaria sua ação legítima (Descriminante putativa por erro de tipo). Imagine, agora, que o agente está numa casa de festas e ouça gritos de “fogo”! Supondo haver um incêndio, corre atropelando pessoas, agredindo quem está na frente, para poder se salvar. Na verdade, tudo não passava de um trote. Nesse caso, o agente agrediu pessoas (moderadamente, é claro), para se salvar, supondo haver uma situação que, se existisse (incêndio) justificaria a sua conduta (estado de necessidade). Dessa forma, há uma descriminante putativa por estado de necessidade putativo (causa de exclusão da ilicitude putativa). Por fim, imagine que o Harold Van Dame, holandês, está no Brasil e decide “puxar um baseado”. Harold, entretanto, imagina que isso é permitido no Brasil. No entanto, ele não sabe que no Brasil isto é crime (art. 28 da Lei 11.343/06). Nesse caso, Harold incidiu em erro, pois acreditou estar presente uma situação (legalidade da conduta) que, se existisse, tornaria sua conduta legítima (Logo, há uma descriminante putativa por erro sobre a ilicitude do fato, portanto, ERRO DE PROIBIÇÃO). Essa descriminante putativa exclui a culpabilidade. NO DELITO PUTATIVO acontece EXATAMENTE O OPOSTO. O agente acredita que está cometendo o crime, quando, na verdade, está cometendo um INDIFERENTE PENAL. Imagine a seguinte situação: Um cidadão, sem querer, esbarra no carro de um terceiro, causando dano. Com medo de ser preso, foge. Na verdade, ele acredita que está cometendo crime de DANO CULPOSO, Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 22 de 85 mas não sabe que o CRIME DE DANO CULPOSO NÃO EXISTE. Portanto, há, aqui, DELITO PUTATIVO POR ERRO DE PROIBIÇÃO. Ficou clara a diferença, galera? Não confundam isso na hora da prova, hein! II – PUNIBILIDADE E SUA EXTINÇÃO Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 23 de 85 Quando alguém comete um fato definido como crime, surge para o Estado o poder-dever de punir. Esse direito de punir chama-se ius puniendi. Em regra, todo fato típico, ilícito e praticado por agente culpável, é punível. No entanto, o exercício do ius puniendi encontra limitações de diversas ordens, sendo a principal delas a limitação temporal (prescrição). Desta forma, o Estado deve exercer o ius puniendi da maneira prevista na lei (através do manejo da Ação Penal no processo penal), bem como deve fazê-lo no prazo legal. Para o nosso estudo interessam mais as hipóteses de extinção da punibilidade. Vamos analisá-las então! O art. 107 do CP prevê que: Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - pela morte do agente; II - pela anistia, graça ou indulto; III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; IV - pela prescrição, decadência ou perempção; V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. O primeiro caso é bem simples. Falecendo o agente, extingue-se a punibilidade do crime, pois, como vimos, no Direito Penal vigora o princípio da intranscendência da pena, ou seja, a pena não pode passar http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art107 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art107 Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 24 de 85 da pessoa do criminoso. Assim, com a morte deste, cessa o direito de punir do Estado. A anistia, a graça e o indulto são modalidades muito parecidas de extinção da punibilidade. Entretanto, não se confundem. A anistia exclui o próprio crime, ou seja, o Estado determina que as condutas praticadas pelos agentes não sejam consideradas crimes. A anistia pode ser concedida pelo Poder Legislativo, e pode ser conferida a qualquer momento (inclusive após a sentença penal condenatória transitada em julgado). Já a Graça e o indulto são bem mais semelhantes, pois não excluem o crime em si, mas apenas extinguem a punibilidade em relação àqueles casos específicos, e só podem ser concedidos pelo Presidente da República. A Graça é conferida de maneira individual, e o indulto é conferido coletivamente (a um grupo que se encontre na mesma situação). A anistia só pode ser causa de extinção total da punibilidade (pois, como disse, exclui o próprio crime). Já a Graça e o indulto podem ser parciais. Pode ser extintaa punibilidade, também, pelo fenômeno da abolitio criminis, nos termos do art. 107, III do CP. Como vimos, a abolitio criminis ocorre quando surge lei nova que deixa de considerar o fato como crime. Pode ocorrer, ainda, de o ofendido, nos crimes de ação penal privada, renunciar ao direito de oferecer queixa, ou conceder o perdão ao acusado. Nesses casos, também estará extinta a punibilidade. A renúncia ao direito de queixa ocorre quando, dentro do prazo de seis meses de que dispõe o ofendido para oferecê-la, este renuncia a este direito, de maneira expressa ou tácita. A renúncia tácita ocorre quando o Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 25 de 85 ofendido pratica algum ato incompatível com a intenção de processar o agente (quando, por exemplo, se casa com ele). O perdão, por sua vez, é muito semelhante à renúncia, com a ressalva que o perdão só pode ser concedido quando já ajuizada a ação penal privada, e que o simples oferecimento do perdão, por si só, não gera a extinção da punibilidade, devendo o agente aceitar o perdão. Ocorrendo a renúncia ao direito de queixa, ou o perdão do ofendido, e sendo este último aceito pelo querelado (autor do fato), estará extinta a punibilidade. Em determinados crimes o Estado confere o perdão ao infrator, por entender que a aplicação da pena não é necessária. É o chamado “perdão judicial”. É o que ocorre, por exemplo, no caso de homicídio culposo no qual o infrator tenha perdido alguém querido (Lembram-se do caso Herbert Viana?). Essa hipótese está prevista no art. 121, § 5° do CP: § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977) Então, nesse caso, ocorrendo o perdão judicial, também estará extinta a punibilidade. Além disso, o art. 120 do CP diz que se houver o perdão judicial, esta sentença que concede o perdão judicial não é considerada para fins de reincidência. Nos termos do inciso VI do art. 107, a retratação do agente também é hipótese de extinção da punibilidade, nos casos em que a lei a admite. Acontece isto, por exemplo, nos crimes de calúnia ou difamação, nos quais a lei admite a retratação como causa de extinção da punibilidade, se realizada antes da sentença. Nos termos do art. 143 do CP: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6416.htm#art121§5 Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 26 de 85 Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena. Por fim, temos a clássica e mais comum hipótese de extinção da punibilidade: a prescrição. A prescrição é a perda do poder de exercer um direito em razão da inércia do seu titular. Ou seja, é o famoso “camarão que dorme a onda leva”. A prescrição pode ser dividida basicamente em duas espécies: Prescrição da pretensão punitiva e prescrição da pretensão executória. A primeira pode ocorrer quando ainda não há sentença penal condenatória transitada em julgado, e a segunda pode ocorrer somente depois de já haver sentença penal condenatória transitada em julgado. Vamos estudá-las em tópicos separados. A) Prescrição da pretensão punitiva Aqui o Estado ainda não aplicou (em caráter definitivo) uma sanção penal ao agente que praticou a conduta criminosa. Mas qual é o prazo de prescrição? O prazo prescricional varia de crime para crime, e é definido tendo por base a pena máxima estabelecida, em abstrato, para a conduta criminosa. Nos termos do art. 109 do CP: Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1o do art. 110 deste Código, regula- se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: (Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12234.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12234.htm#art2 Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 27 de 85 I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze; II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não excede a doze; III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a oito; IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro; V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois; VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano. (Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010). Prescrição das penas restritivas de direito Parágrafo único - Aplicam-se às penas restritivas de direito os mesmos prazos previstos para as privativas de liberdade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Assim, no crime de homicídio simples, por exemplo, para o qual a lei estabelece pena máxima de 20 anos (art. 121 do CP), o prazo prescricional é de 20 anos, pois a pena máxima é superior a 12 anos. O crime de furto simples, por exemplo, (art. 155 do CP) prescreve em oito anos, pois a pena máxima prevista é quatro anos. Portanto, não confundam: O prazo de prescrição do crime não é http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12234.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art109 Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 28 de 85 igual à pena máxima a ele estabelecida, mas é calculado através de uma tabela que leva em consideração a pena máxima! Mas Renan, quando começa a correr o prazo prescricional? Simples, meus caros. A resposta para esta pergunta está no art. 111 do CP: Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - do dia em que o crime se consumou; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do registro civil, da data em que o fato se tornou conhecido. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Apenas um comentário em relação a este artigo: A regra, aqui, é que o prazo prescricional comece a fluir no dia em que o crime se consuma. CUIDADO! Lembrem-se que o crime se considera praticado (tempo do crime) quando ocorre a conduta, e não a consumação. Assim: Tempo do crime – Momento da conduta Início do prazo prescricional – Momento da consumação http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art111 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art111 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art111 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art111 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art111 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art111 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art111Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 29 de 85 Prestem atenção para não errarem isso, pois esta é uma pegadinha que pode derrubar vocês no concurso. Como nos crimes tentados não há propriamente consumação (pois não há resultado naturalístico esperado), o prazo prescricional começa a fluir da data em que cessa a atividade criminosa, mesmo critério utilizado para os crimes permanentes. Vejam que no que se refere aos crimes permanentes, o início do prazo prescricional coincide com o tempo do crime. Lembram-se do verbete n° 711 da súmula de jurisprudência do STF? Então, esse verbete diz que se considera praticado o crime quando da cessação da atividade criminosa. Assim, nesses crimes, o tempo do crime e o início do prazo prescricional ocorrem simultaneamente! Na hipótese de pena de multa, como calcular o prazo prescricional? Se a multa for prevista ou aplicada isoladamente, o prazo será de dois anos. Porém, se a multa for aplicada ou prevista cumulativamente com a pena de prisão (privativa de liberdade), o prazo de prescrição será o mesmo estabelecido para a pena privativa de liberdade. Isto é que se extrai do art. 114 do CP: Art. 114 - A prescrição da pena de multa ocorrerá: (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) I - em 2 (dois) anos, quando a multa for a única cominada ou aplicada; (Incluído pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) II - no mesmo prazo estabelecido para prescrição da pena privativa de liberdade, quando a multa for alternativa ou cumulativamente cominada ou cumulativamente aplicada. (Incluído pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) B) Prescrição da pretensão executória http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9268.htm#art114 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9268.htm#art114 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9268.htm#art114 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9268.htm#art114 Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 30 de 85 Como disse a vocês, a prescrição pode ocorrer antes do trânsito em julgado (pretensão da pretensão punitiva) ou depois do trânsito em julgado (quando teremos a prescrição da pretensão executória). Esta última ocorre quando o Estado condena o indivíduo, de maneira irrecorrível, mas não consegue fazer cumprir a decisão. Nos termos do art. 110 do CP: Art. 110 - A prescrição depois de transitar em julgado a sentença condenatória regula-se pela pena aplicada e verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior, os quais se aumentam de um terço, se o condenado é reincidente. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Assim, na hipótese do crime de homicídio, conforme o exemplo dado acima, antes de transitar em julgado a sentença condenatória, o prazo prescricional é regulado pela pena máxima cominada ao crime em abstrato, de acordo com a tabelinha do art. 109 do CP. Após o trânsito em julgado, o parâmetro utilizado pela lei para o cálculo do prazo prescricional deixa de ser a pena máxima prevista e passa a ser a pena efetivamente aplicada. Assim, se no crime de homicídio simples, que tem pena prevista de 06 a 20 anos, se o agente for condenado a apenas 06 (seis) anos de reclusão, o prazo prescricional passa a ser de apenas 12 (doze) anos, nos termos do art. 109, III do CP. O art. 112 do CP estabelece o marco inicial (termo a quo) do prazo prescricional da pretensão executória: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art110 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art110 Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 31 de 85 Art. 112 - No caso do art. 110 deste Código, a prescrição começa a correr: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação, ou a que revoga a suspensão condicional da pena ou o livramento condicional; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da interrupção deva computar-se na pena. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) C) Disposições gerais sobre a prescrição O CP prevê, ainda, hipóteses nas quais a prescrição não corre, tanto no que se refere à prescrição da pretensão punitiva quanto à prescrição da pretensão executória, embora as circunstâncias sejam diferentes para cada uma delas. Nos termos do art. 116 e seu § único, do CP: Art. 112 - No caso do art. 110 deste Código, a prescrição começa a correr: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação, ou a que revoga a suspensão condicional da pena ou o livramento condicional; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art112 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art112 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art112 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art112 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art112 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art112 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art112 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art112 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art112 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art112 Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 32 de 85 II - do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da interrupção deva computar-se na pena. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único - Depois de passada em julgado a sentença condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que o condenado está preso por outro motivo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Assim, nestes casos, o prazo prescricional não se inicia. Pode ocorrer, ainda, de o prazo prescricional se iniciar, mas ser interrompido, em razão da ocorrência de alguns fatos. É o que prevê o art. 117 do CP: Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - pela pronúncia; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) III - pela decisão confirmatória da pronúncia; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis; (Redação dada pela Lei nº 11.596, de 2007). V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena; (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) VI - pela reincidência. (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art112 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art112 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art116 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art116 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art117 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art117 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art117 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art117http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art117 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art117 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art117 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art117 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11596.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9268.htm#art117v http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9268.htm#art117v http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9268.htm#art117v Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 33 de 85 § 1º - Excetuados os casos dos incisos V e VI deste artigo, a interrupção da prescrição produz efeitos relativamente a todos os autores do crime. Nos crimes conexos, que sejam objeto do mesmo processo, estende-se aos demais a interrupção relativa a qualquer deles. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2º - Interrompida a prescrição, salvo a hipótese do inciso V deste artigo, todo o prazo começa a correr, novamente, do dia da interrupção. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) A interrupção é uma causa de paralisação do prazo prescricional, assim como a suspensão. Entretanto, na interrupção o prazo prescricional, cessado o motivo que levou à interrupção, volta a correr desde o início, e não de onde havia parado. Exemplo: Imagine que Poliana esteja sendo acusada pelo crime de homicídio simples (prescrição em 20 anos). O prazo prescricional vem fluindo normalmente até que o Juiz “pronuncia” Poliana (decisão na qual o Juiz diz que o caso deve ser levado à Júri popular). Nesse caso, se o prazo prescricional estava já com 04 anos, por exemplo, ele será interrompido e voltará a ser contado do zero (mais 20 anos), e não apenas os 16 (dezesseis) anos que faltavam. III – DA AÇÃO PENAL Quando alguém pratica um fato criminoso, surge para o Estado o poder-dever de punir o infrator. Esse poder-dever, esse direito, é chamado de ius puniendi. Entretanto, o Estado, para que exerça validamente e legitimamente o seu ius puniendi, deve fazê-lo mediante a utilização de um mecanismo http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art117 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art117 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art117 Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 34 de 85 que possibilite a busca pela verdade material (não meramente a verdade formal), mas que ao mesmo tempo respeite os direitos e garantias fundamentais do indivíduo. Esse mecanismo é chamado de Processo Penal. Mas, professor Renan, onde entra a Ação Penal nisso? A ação penal é, nada mais nada menos, que o ato inicial desse mecanismo todo chamado processo penal. I.a) Condições da Ação Penal Tal qual ocorre no processo civil, no processo penal a ação também deve obedecer a algumas condições. Sem elas a ação penal ajuizada deve ser rejeitada de imediato pelo Juiz. Nesse sentido temos o art. 395, II do CPP: Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008). (...) II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). São condições da ação penal: A) Possibilidade Jurídica do pedido Para que esteja configurada essa condição da ação, basta que a ação penal tenha sido ajuizada com base em conduta que se amolde em fato típico. Assim, não se exige que a conduta tenha sido típica, ilícita e o http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11719.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11719.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11719.htm#art1 Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 35 de 85 agente culpável. Mesmo se o titular da ação penal (MP ou ofendido) verificar que o crime foi praticado em legítima defesa, por exemplo, (exclui a ilicitude) a conduta é típica, estando cumprido o requisito da possibilidade jurídica do pedido. B) Interesse de Agir Se no processo civil o interesse de agir é caracterizado como a necessidade da prestação da tutela jurisdicional, devendo a parte autora comprovar que não há outro meio para a resolução do litígio que não seja a via judicial, no processo penal é um pouco diferente. No processo penal a via judicial é obrigatória, não podendo o Estado exercer o seu ius puniendi fora do processo penal. O processo civil é facultativo, podendo as partes resolver a lide sem a intervenção do Judiciário. O processo penal, por sua vez, é obrigatório, devendo o titular da ação penal provocar o Judiciário para que a lide seja resolvida. Há quem defenda, inclusive, que não necessariamente há lide no processo penal (a lide é o fenômeno que ocorre quando uma parte possui uma pretensão que é resistida pela outra parte), pois ainda que o acusado reconheça que deve ser punido, a punição só pode ocorrer após o processo penal, dado o interesse público envolvido. No processo penal o interesse de agir está mais ligado a questões como a utilização da via adequada. Assim, não pode o membro do MP oferecer queixa em face de alguém que praticou homicídio, pois se trata de crime de ação penal pública. Nesse caso, o MP é parte legítima, pois é o titular da ação penal. No entanto, a via escolhida está errada (deveria ter sido ajuizada ação penal pública). Alguns autores entendem que o interesse de agir no processo penal está relacionado à existência de lastro probatório mínimo (existência de indícios de autoria e prova da materialidade). Esses elementos, no Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 36 de 85 entanto, formam o que outra parte da Doutrina entende como justa causa. Obviamente que os autores que entendem serem estes elementos integrantes do conceito de “interesse de agir”, entendem também que não existe a justa causa como uma condição autônoma da ação penal. O CPP, no entanto, em algumas passagens, prevê a existência da justa causa: Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (...) III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal: I - quando não houver justa causa; Percebam, no entanto, que em nenhum momento o CPP trata a justa causa como uma condição da ação. Mais que isso, no momento em que o art. 395, II do CPP diz que a denúncia ou queixa será rejeitada quando faltar alguma das condições da ação penal, e, logo após, em inciso diverso, diz que também será rejeitada a denúncia ou queixa quando faltar justa causa, está, implicitamente, considerando que a justa causa não é uma condição da ação penal. O tema é bem polêmico, e vocês devem saber que há divergência. Em provas discursivas, vale a pena se alongar sobre isso. Em provas objetivas, vocês devem ter em mente que, pela literalidade do CPP, a justa causa não é condição da ação, sendo assim considerada apenas por parte da Doutrina. Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujowww.estrategiaconcursos.com.br Página 37 de 85 C) Legitimidade ad causam ativa e passiva A legitimidade (e aqui nos aproximamos do processo civil) é o que se pode chamar de pertinência subjetiva para a demanda. Assim, a presença do MP no pólo ativo de uma denúncia pelo crime de homicídio é pertinente, pois a Constituição o coloca como titular exclusivo da Ação Penal, o que é corroborado pelo CPP. Também deve haver legitimidade passiva, ou seja, quem deve figurar no pólo passivo (ser o réu da ação) é quem efetivamente praticou o crime, ou seja, o sujeito ativo do crime. Cuidado! O sujeito ativo do crime (infrator) será, no processo penal, o sujeito passivo do processo! Parte da Doutrina entende que os inimputáveis são partes ilegítimas para figurar no pólo passivo da ação penal. Entretanto, essa posição merece algumas considerações. A inimputabilidade por critério meramente biológico é somente uma, e refere-se à menoridade penal. Ou seja, somente o menor de 18 anos será sempre inimputável, sem que se exija qualquer análise do mérito da demanda. De plano se pode considerar sua ilegitimidade, conforme prevê o art. 27 do CP: Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Assim, se o titular da ação penal ajuíza a ação em face de um menor de 18 anos, falta uma das condições da ação, que é a imputabilidade penal, pois de maneira nenhuma pode o menor de 18 anos responder criminalmente, estando sujeito às normas do ECA. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art27 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art27 Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 38 de 85 Entretanto, se estivermos diante dos demais casos de inimputabilidade, a hipótese não é de ilegitimidade passiva, pois a análise da imputabilidade do agente dependerá da avaliação dos fatores, das circunstâncias do delito, podendo se concluir pela sua inimputabilidade. É o que ocorre com os doentes mentais que ao tempo do crime eram inteiramente incapazes de compreender o caráter ilícito da conduta e se comportar conforme o direito. A prova mais cabal de que nesse caso não há ilegitimidade é que, considerando o Juiz que o agente era inimputável à época do fato, não rejeitará a denúncia ou queixa (o que deveria ser feito, em razão do art. 395, II do CPP), mas absolverá o acusado e aplicará medida de segurança (absolvição imprópria). Assim, o Juiz adentrará ao mérito da causa. Ora, se a ausência de condição da ação obsta a apreciação do mérito, fica claro que nessa hipótese não há ilegitimidade. Quanto à pessoa jurídica, é pacífico o entendimento doutrinário e jurisprudencial no sentido de que a Pessoa Jurídica pode figurar no pólo ativo do processo penal, até porque há previsão expressa nesse sentido: Art. 37. As fundações, associações ou sociedades legalmente constituídas poderão exercer a ação penal, devendo ser representadas por quem os respectivos contratos ou estatutos designarem ou, no silêncio destes, pelos seus diretores ou sócios-gerentes. Quanto à possibilidade de a pessoa jurídica ser sujeito passivo no processo penal, ou seja, quanto à sua legitimidade passiva, a Doutrina se divide, uns entendendo não ser possível, outros pugnando pela possibilidade. Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 39 de 85 O STF e o STJ entendem que a Pessoa Jurídica pode figurar no pólo passivo de ação penal por crime ambiental, conforme previsto no art. 225, § 3° do CP, regulamentado pela Lei 9.605/98. Quanto aos crimes contra a ordem econômica, por não haver regulamentação legal, a jurisprudência não vem admitindo que a pessoa jurídica responda por tais crimes. I.b) Espécies de Ação Penal A ação penal pode ser pública incondicionada, condicionada, ou privada. Nos termos do art. 100 do Código Penal: Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1º - A ação pública é promovida pelo Ministério Público, dependendo, quando a lei o exige, de representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2º - A ação de iniciativa privada é promovida mediante queixa do ofendido ou de quem tenha qualidade para representá-lo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 3º - A ação de iniciativa privada pode intentar-se nos crimes de ação pública, se o Ministério Público não oferece denúncia no prazo legal. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art100 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art100 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art100 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art100 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art100 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art100 Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 40 de 85 A regra é a de que a ação penal seja pública, nos termos do caput do art. 100 do CP, só sendo privada quando a lei expressamente assim disser. Conforme o esquemático, para facilitar a compreensão de vocês: Assim pode se resumir, graficamente, as espécies de ação penal previstas no Código Penal e no Código de Processo Penal - CPP. A Doutrina cita, ainda, a ação penal popular, prevista na Lei 1.079/50, mas essa espécie é polêmica e não possui previsão nem no CP, nem no CPP, motivo pelo qual, não será objeto do nosso estudo. Vamos estudar, agora, cada uma das seis espécies de ação penal: A) Ação penal pública incondicionada É a regra no ordenamento processual penal brasileiro. Sua titularidade pertence ao Ministério Público, de forma privativa, nos termos do art. 129, I da Constituição da República. Além disso, o próprio § 1° AÇÃO PENAL PÚBLICA PRIVADA INCONDICIONADA CONDICIONADA REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA EXCLUSIVA PERSONALÍSSIMA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 41 de 85 do art. 100 do CP estabelece ser do MP a atribuição para o ajuizamento da ação penal pública. Alguns princípios regem a ação penal pública incondicionada: Obrigatoriedade – Havendo indícios de autoria e prova da materialidade do delito, o membro do MP deve oferecer a denúncia, não podendo deixar de fazê-lo, pois não pode dispor da ação penal. Atualmente esta regra está excepcionada pela previsão de transação penal nos Juizados especiais (Lei 9.099/95), que é hipótese na qual o titular da ação penal e o infrator transacionam, de forma a evitar o ajuizamento da demanda. A previsão não é inconstitucional, pois a própria Constituição a prevê, em seu art. 98, I. A Doutrina admite que, estando presentes causas excludentes da ilicitude, de maneira inequívoca, poderá o membro do MP deixar de oferecer denúncia; Indisponibilidade – Uma vez ajuizada a ação penal pública,não pode seu titular dela desistir ou transigir, nos termos do art. 42 do CPP: Art. 42. O Ministério Público não poderá desistir da ação penal. Esta regra também está excepcionada pela previsão de transação penal e suspensão condicional do processo, que são institutos previstos na Lei dos Juizados Especiais (Lei 9.099/95); Oficialidade – A ação penal pública será ajuizada por um órgão oficial, no caso, o MP. Entretanto, pode ocorrer de, transcorrido o prazo legal para que o MP ofereça a denúncia, este não o faça nem promova o arquivamento do IP, ou seja, fique inerte. Nesse caso, a lei prevê que o ofendido poderá promover ação penal privada subsidiária da pública (que estudaremos melhor daqui a pouco). Assim, podemos concluir que a ação penal pública é exclusiva do MP, durante o prazo legal. Findo este prazo, a lei estabelece um prazo de seis Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 42 de 85 meses no qual tanto o MP quanto o ofendido pode ajuizar a ação penal, numa verdadeira hipótese de legitimação concorrente: Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal. Findo este prazo de seis meses no qual o ofendido pode ajuizar a ação penal privada subsidiária da pública, a legitimidade volta a ser do MP, exclusivamente, desde que ainda não esteja extinta a punibilidade; Divisibilidade – Havendo mais de um infrator (autor do crime), pode o MP ajuizar a demanda somente em face um ou alguns deles, reservando para os outros, o ajuizamento em momento posterior, de forma a conseguir mais tempo para reunir elementos de prova. Não nenhum óbice quanto a isso, e esta prática não configura preclusão para o MP, podendo aditar a denúncia posteriormente, a fim de incluir os demais autores do crime ou, ainda, promover outra ação penal em face dos outros autores do crime; O art. 101 do CP traz uma regra inócua, desnecessária, mas que vocês devem saber: Art. 101 - Quando a lei considera como elemento ou circunstâncias do tipo legal fatos que, por si mesmos, constituem crimes, cabe ação pública em relação àquele, desde que, em relação a qualquer destes, se deva proceder por Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 43 de 85 iniciativa do Ministério Público. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Trata-se da ação penal no crime complexo, que é o crime formado pela junção de dois outros tipos penas. Exemplo: Roubo = furto + lesão corporal ou ameaça. Assim, se um dos crimes for de ação penal pública incondicionada, ainda que o outro não o seja, caberá ação penal pública. A regra é completamente inútil, na medida em que o crime complexo é um crime autônomo. Assim sendo, das duas uma: a) Ou a lei nada dirá acerca da ação penal relativa a este crime, e a ação penal será pública incondicionada (e o art. 101 será inútil); b) Ou a lei especificará a ação penal para o crime (e por ser específica, será aplicada, ao invés do art. 101, que é genérico). Assim, este art. 101 do CP não serve para absolutamente nada (só para cair em concurso, rs). B) Ação penal pública condicionada (à representação do ofendido e à requisição do Ministro da Justiça) Trata-se de duas hipóteses pertencentes à mesma categoria de ação penal, a ação penal pública condicionada. Aplica-se a esta espécie de ação penal tudo o que foi dito a respeito da ação penal pública, havendo, no entanto, alguns pontos especiais. Aqui, para que o MP (titular da ação penal) possa exercer legitimamente o seu direito de ajuizar a ação penal pública, deverá estar presente uma condição de procedibilidade, que é a representação do ofendido ou a requisição do Ministro da Justiça, a depender do caso. Frise-se que, em regra, a ação penal é pública e incondicionada. Somente será condicionada se a lei expressamente dispuser neste sentido. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art101 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art101 Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 44 de 85 Para facilitar o estudo de vocês, elaborei os seguintes quadros com as peculiaridades da ação penal pública condicionada, tanto no caso de condicionamento à representação do ofendido quanto no caso de requisição do Ministro da Justiça: AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO Trata-se de condição imprescindível, nos termos do art. 24 do CPP; É representação admite retratação, mas somente até o oferecimento da denúncia (cuidado! Costumam colocar em provas de concurso que a retratação pode ocorrer até o recebimento da denúncia. Isto está errado! É uma pegadinha! No vocabulário internetês, “É uma cilada, Bino!” – risos). Isso está no art. 102 do CP e 25 do CPP; Caso ajuizada a ação penal sem a representação, esta nulidade processual pode ser sanada posteriormente, caso a vítima a apresente em Juízo (desde que realizada dentro do prazo de seis meses que a vítima possui para representar, nos termos do art. 38 do CPP); Não se exige forma específica para a representação, bastando que seja escrita e descreva claramente a intenção de ver o infrator ser processado. A jurisprudência admite que o simples registro de ocorrência em sede policial, desde que conste informação de que a vítima pretende ver o infrator punido, PODE ser considerada como representação; A representação não pode ser dividida quanto aos autores do fato. Ou se representa em face de todos eles, ou não há representação, pois esta não se refere propriamente aos agentes que praticaram o delito, mas ao fato. Quando a vítima representa, está manifestando seu desejo em ver o fato ser objeto de ação penal para que sejam punidos os responsáveis. Entretanto, embora não possa haver Direito Penal – POLÍCIA FEDERAL (Escrivão e Perito) PÓS-EDITAL (2013) Teoria e exercícios comentados Prof. Renan Araujo – Aula 03 Prof.Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br Página 45 de 85 fracionamento da representação, isso não impede que o MP denuncie apenas um ou alguns dos infratores, pois um dos princípios da ação penal pública é a divisibilidade, lembram- se? A legitimidade para oferecer a representação é do ofendido, se maior de 18 anos e capaz (art. 34 do CP). Embora o dispositivo legal estabeleça que se o ofendido tiver mais de 18 e menos de 21 anos tanto ele quanto seu representante legal possam apresentar a representação, este artigo perdeu o sentido com o advento do Novo Código Civil em 2002, que estabeleceu a maioridade civil em 18 anos. Se o ofendido for menor ou incapaz, terá legitimidade o seu representante legal. Porém, se o ofendido não possuir representante legal ou os seus interesses colidirem com o do representante, o Juiz deve nomear curador, por força do art. 33 do CPP (por analogia). Este curador não está obrigado a oferecer a representação, devendo apenas analisar se é salutar ou não para o ofendido (maioria da Doutrina entende isso, mas é controvertido); Se ofendido falecer, aplica-se
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