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CAPÍTULO 1
A ConjunturA dA tríAde FAmíliA, 
esColA e deFiCiênCiA inteleCtuAl
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 3 Proporcionar a compreensão da relação familiar e escolar e deficiência intelectual. 
 3 Conhecer as nomenclaturas e os aspectos que diferenciam a deficiência intelectual 
de deficiência mental. 
 3 Compreender o conceito de normal e anormal na sociedade.
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 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual
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A ConjunturA dA tríAde FAmíliA, esColA e deFiCiênCiA inteleCtuAl Capítulo 1 
Os estudos sobre 
as deficiências 
iniciaram a partir do 
século XVI como 
uma preocupação da 
medicina em classificar 
os indivíduos que se 
desviavam do padrão 
de normalidade 
definido para época.
ContextuAlizAção
Para tornar efetiva a inclusão escolar e social julgamos necessário 
apresentar aspectos que podem influenciar no desenvolvimento do Deficiente 
Intelectual, como a atenção e acompanhamento da família e escola no 
processo de desenvolvimento da aprendizagem.
Um ambiente escolar que busca a parceria com a família, abre espaço 
para um entendimento de comum linguagem, permitindo que juntos trabalhem 
em prol do desenvolvimento da criança ou jovem com deficiência intelectual. 
Nesse sentido, a escola estará contribuindo para tornar possível uma 
educação pautada nos direitos humanos e na democratização do ensino. 
Segundo Farrel (2008, p. 17), destinar as práticas pedagógicas (...) “em 
estreita colaboração com os pais é uma aspiração de todas as escolas e um 
tema constante na orientação governamental.” Nesse sentido, percebemos 
a necessidade promover novas estratégias de inserção desses sujeitos no 
âmbito da instituição escolar, com apoio da família.
ProCessos de relAção FAmíliA, esColA e 
deFiCiênCiA inteleCtuAl 
O acompanhamento da família no processo escolar da criança pode trazer 
grandes contribuições para seu progresso, a presença dos pais na escola, abre 
caminhos para o diálogo e entendimento de suas necessidades, limitações e 
potencialidades. 
Mas, a história nos mostra que nem sempre foi assim o entendimento da 
relação do deficiente intelectual com escola, comunidade e família.
Traçando um rápido percurso sobre o tempo, vimos que as pessoas com 
deficiência eram abandonadas por seus próprios familiares. Na Idade Média, 
eram consideradas, “obra do demônio”. Somente a partir do século XIX, por 
meio de estudos médicos, perceberam que o deficiente intelectual era capaz 
de aprender.
Os estudos sobre as deficiências iniciaram a partir do século 
XVI como uma preocupação da medicina em classificar os 
indivíduos que se desviavam do padrão de normalidade 
definido para época. É só no século XIX que entram em 
cena também os pedagogos, interessados no estudo da 
deficiência mental e nas possibilidades de educação dos 
indivíduos considerados deficientes. (CARNEIRO, 2008, p. 13).
REGI LOUREIRO
Realce
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 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual
Esse novo olhar para o deficiente fez surgir em 1960 as primeiras 
instituições voltadas ao atendimento de pessoas com deficiências. Mas 
somente a partir da deflagração das Conferências Mundiais essas pessoas 
passaram a ter direitos, culminando nos anos de1990 com o processo de 
Inclusão Escolar.
Percebemos então, que a família e sociedade ao longo da história 
modificaram sua forma de conceber as deficiências, e essa mudança de 
pensamento, ou paradigma trouxeram significativos avanços quanto às 
adaptações nas escolas e meio social. Conforme Art. 227(BRASIL 2006)
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar 
à criança e ao \adolescente, com absoluta prioridade, 
o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, 
ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao 
respeito, à liberdade e à convivência familiar comunitária, 
além de colocá-los a salvo de toda a forma de negligência, 
discriminação, exploração, violência, crueldade opressão.
O processo de aceitação das pessoas com deficiência está amparado por 
lei, e com isso deixa de ser vista apenas como uma questão de benignidade. 
Como vimos, as mudanças não ocorreram de um dia pro outro, foi necessário 
muito apoio de todos os envolvidos, família, escola e sociedade.
Vamos agora discutir sobre o processo da aprendizagem com o deficiente 
intelectual.
A deFiCênCiA inteleCtuAl e A APrendizAgem
A aprendizagem é decorrente de um conjunto de fatores genéticos, sociais, 
emocionais e cognitivos. Esse conjunto de fatores podem ser estimulados a 
favor do aprendizado do deficiente intelectual se receberem o apoio necessário 
da família, escola e sociedade. 
Vygotsky (1997) em seus estudos nos faz compreender que o processo 
mental do sujeito se faz por meio do seu contexto social, segundo o autor,
[...] as funções psicológicas superiores (o pensamento em 
conceitos, a linguagem racional, a memória lógica, a atenção 
voluntária, etc.) se formam durante o período histórico do 
desenvolvimento da humanidade e devem sua origem, não à 
evolução biológica, [...] mas a seu desenvolvimento histórico 
como ser social. VYGOTSKY, (1997, p. 214-215)
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A ConjunturA dA tríAde FAmíliA, esColA e deFiCiênCiA inteleCtuAl Capítulo 1 
O processo de 
educação escolar 
é qualitativamente 
diferente do processo 
de educação em 
sentido amplo.
No processo de desenvolvimento de aprendizagem da pessoa com 
deficiência intelectual os contextos sociais no qual estão inseridos podem 
apresentar grande relevância no desenvolvimento escolar desse sujeito. Para 
(Vygotsky, apud Leontief e Luria, 2007, p. 163) “O processo de educação 
escolar é qualitativamente diferente do processo de educação em sentido 
amplo”. A aprendizagem primordialmente deve começar no seio familiar e a 
escola deve ser a continuação dessa aprendizagem.
Os processos de aprendizagem escolar e social estão intrinsecamente 
ligados a família e escola. A sociedade participa dessa educação quando aceita 
esse sujeito como membro efetivo dela com direitos e deveres, na forma da lei.
Segundo Almeida (2007), as crianças que apresentam deficiência 
intelectual podem progredir em suas ações, se receberem apoio e estímulo 
para suas conquistas. Esses sujeitos poderão ser muito úteis, se neles for 
confiado a responsabilidade de alguns trabalhos e produções em benefício 
a comunidade em que vivem, considerando seus limites e estimulando seus 
potenciais. Segundo Araújo é no convívio com seus pares que a criança 
aprende a 
A grande maioria das crianças com deficiência intelectual 
consegue aprender a fazer muitas coisas úteis para a sua 
família, escola, sociedade e todas elas aprendem algo para 
sua utilidade e bem-estar da comunidade em que vivem. 
Para isso precisam, em regra, de mais tempo e de apoios 
para lograrem sucesso. (ARAÚJO, 2009)
O papel da instituição escolar nesse aspecto deve ser de oferecer 
condições que possibilitem uma aprendizagem para todos os alunos, com 
respeito ao tempo de aprender e de amadurecer de cada um, que tenha como 
princípio a igualdade e o respeito humano acima de qualquer ação.
nomenClAturAs
As nomenclaturas das deficiências vem ao longo dos tempos sendo 
melhor compreendidas e modificadas conforme estudos e pesquisas. Nessa 
esteira, esclarece Sassaki, (2009) que o conceito de deficiência não pode 
ser confundido com o de incapacidade, palavra que é uma tradução, também 
histórica, do termo “handicap”. O conceito de incapacidade denota um estado 
negativo de funcionamento da pessoa, resultante do ambiente humano e físico 
inadequado ou inacessível, e não um tipo de condição. Como exemplo, a 
incapacidade de uma pessoa cega para ler textos que não estejam em braile, 
a incapacidade de uma pessoa com baixa visão para ler textos impressos em 
letras miúdas, a incapacidade de uma pessoa em cadeira de rodas para subir 
REGI LOUREIRO
Realce
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 A Relação Família, Escola e Deficiência IntelectualAcrescenta ainda 
Sassaki (2005) que 
o termo deficiência 
intelectual é 
principalmente 
em virtude 
especificamente 
ao funcionamento 
intelectual e não o da 
mente como um todo.
degraus, a incapacidade de uma pessoa com deficiência mental/intelectual 
para entender explicações conceituais, a incapacidade de uma pessoa surda 
para captar ruídos e falas. Configura-se, assim, a situação de desvantagem 
imposta às pessoas COM deficiência através daqueles fatores ambientais que 
não constituem barreiras para as pessoas SEM deficiência. 
Foram necessárias muitas discussões para que os pesquisadores 
chegassem a uma terminologia que pudesse definir o que atualmente se 
compreende como deficiência intelectual, e uma forma que não preconizasses 
o preconceito, acerca das terminologias. Acrescenta Sassaki, (2009, p. 2),
[...] sobre os vocábulos deficiência mental e deficiência 
intelectual. Ao longo da história, muitos conceitos existiram 
e a pessoa com esta deficiência já foi chamada, nos círculos 
acadêmicos, por vários nomes. Mas, atualmente, quanto ao 
nome da condição, há uma tendência mundial (brasileira 
também) de se usar o termo deficiência intelectual.
O termo deficiência intelectual foi gradativamente surgindo, por meio de 
estudos e discussões, e hoje é um conceito oficializado, aponta Sassaki, 
(2009, p.3), 
A expressão deficiência intelectual foi oficialmente utilizada 
já em 1995, quando a Organização das Nações Unidas 
(juntamente com The NationalInstituteofChild Health 
andHumanDevelopment, The Joseph P. Kennedy, Jr. 
Foundation, e The 1995 SpecialOlympics World Games).” 
Ainda esclarece Sassaki (2009 p.3) “...realizou em Nova 
York o simpósio chamado INTELLECTUAL DISABILITY: 
PROGRAMS, POLICIES, AND PLANNING FOR THE 
FUTURE (Deficiência Intelectual: Programas, Políticas e 
Planejamento para o Futuro). 
Desde a década de 1995, o termo Deficiência Intelectual já é usado, 
começando a fazer parte do cotidiano das classes médica, familiar e escolar. 
Acrescenta ainda Sassaki (2005) que o termo deficiência intelectual é 
principalmente em virtude especificamente ao funcionamento intelectual e não 
o da mente como um todo.
A partir de 2006 o termo utilizado é PcD - Pessoa com 
Deficiência, ou seja, o ser humano vem antes da deficiência é uma 
procura de valorização desses sujeitos.
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A ConjunturA dA tríAde FAmíliA, esColA e deFiCiênCiA inteleCtuAl Capítulo 1 
Mesmo sendo uma convergência mundial, demorou para que o uso da 
nomenclatura deficiência intelectual passasse a ser implementada alguns 
países, e mesmo no Brasil ainda existe uma tendência da utilização do termo 
“deficiência mental” à deficiência intelectual. 
Você estudou sobre os processos que envolvem a relação da família, 
escola e as nomenclaturas sobre pessoas com deficiência intelectual. A seguir, 
convidamos você a refletir sobre o que aprendeu , realizando as atividades de 
estudos.
Na continuidade estudaremos a relação família e escola coligada a sociedade.
Atividades de Estudos: 
1) No decorrer desse capítulo, apresentamos um breve resgate 
sobre o histórico da deficiência intelectual na relação com a 
sociedade e família. A partir de seus estudos descreva como 
os indivíduos com deficiência intelectual eram tratados pelos 
seus familiares.
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2) A criança com deficiência intelectual aprende a partir do 
momento que se cria condições para ele se desenvolver. 
Liste algumas práticas que poderão contribuir para esse 
desenvolvimento.
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 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual
3) Em suas leituras você percebeu que o conceito de incapacidade 
estava ligado diretamente as pessoas com deficiência 
intelectual. E hoje, como é compreendida essa deficiência pela 
sociedade? Descreva suas conclusões.
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relAção FAmíliA, esColA e soCiedAde
A família muda a cada nova geração, desde a Idade Média (século V 
ao século XV). Antigamente as famílias com poder aquisitivo melhor tinham 
condições de pagar professores particulares para que seus filhos recebessem 
a educação formal, dentro de suas próprias residências. Com a disseminação 
da instituição escolar em esferas particulares e públicas, esse tipo de educação 
passou a ser institucionalizada. Com isso as famílias passaram para a agência 
social, “escola” ,a tarefa que antes era feito dentro de seus próprios domicílios.
Até chegarmos aos patamares de uma coletividade em que a pessoa 
com deficiência intelectual pudesse conviver com os demais membros da 
sociedade, muitos estudos e discussões aconteceram. Nesse sentido sustenta 
Marques (1994, p. 97)
[...] Implicitamente para a mudança da condição de 
subalternidade de seus internos em relação à sociedade em 
geral, que teve difundido e fortalecido seu poder de controle 
e discriminação sobre os desviantes, que representavam, 
em última instância, uma ameaça à ordem social 
ideologicamente estabelecida.
A sociedade que antes chamava o deficiente intelectual com 
o termo “desviante” ainda não estava “pronta” para conviver com 
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A ConjunturA dA tríAde FAmíliA, esColA e deFiCiênCiA inteleCtuAl Capítulo 1 
[...] “o direito a 
educação tem suas 
raízes remotas 
nas especulações 
filosóficas e científicas 
dos séculos XVII 
e XVIII, que se 
desenvolveram de tal 
forma que provocaram 
a mais fecunda 
revolução intelectual 
de que se tem notícia.”
esses sujeitos. O medo era de que a ordem social que consideravam 
adequadas pudesse ser ameaçada por essas pessoas. Diante dessas 
circunstâncias, sustenta-se o direito de que todo cidadão seja respeitado, 
pois segundo NISKIER (1997, p. 31),[...] “o direito a educação tem suas 
raízes remotas nas especulações filosóficas e científicas dos séculos 
XVII e XVIII, que se desenvolveram de tal forma que provocaram a mais 
fecunda revolução intelectual de que se tem notícia.”
Nesse contexto, a educação deixa de ser apenas um “bem” da família com 
estrutura econômica adequada, passando a pertencer a todos independente 
a condição econômica, conforme escreve NISKIER (1997, p. 31), “Mais 
precisamente, no século XVIII, um novo modo de agir e de pensar determinou 
outras concepções sobre o mundo e a liberdade, sobre as instituições e a 
igualdade”. 
A partir do momento que o conceito de igualdade começa a refletir na 
estrutura social, a escola como instituição começa a se estabelecer. A sociedade 
e as famílias buscam compreendero deficiente, e romper preconceitos.
O texto a seguir convida você a refletir sobre a influência dos aspectos 
sociais, na formação do sujeito.
Escolhas e repercussão social
Toda sociedade grande e complexa tem, na verdade, as 
duas qualidades: é muito firme e muito elástica. Em seu interior, 
constantemente se abre um espaço para as decisões individuais. 
Apresentam-se oportunidades que podem ser aproveitadas. 
Aparecem encruzilhadas em que as pessoas têm de fazer escolhas, 
e de suas escolhas, conforme sua posição social pode depender seu 
destino pessoal imediato, ou de uma família, ou ainda, em certas 
situações, de nações inteiras, ou de grupos dentro delas.Pode 
depender de suas escolhas que a resolução completa das tensões 
existentes ocorra na geração atual ou somente na seguinte. Delas 
pode depender a determinação de qual das pessoas ou grupos em 
confronto, dentro de um sistema particular de tensões, se tornará 
o executor das transformações para as quais as tensões estão 
impelindo, e de que lado e em que lugar se localizará os centros 
das novas formas de integração rumo às quais se deslocam 
as mais antigas em virtude, sempre, de suas tensões. Mas as 
oportunidades entre as quais a pessoa assim se vê forçada a optar 
não são em si mesmas criadas por essa pessoa. São prescritas 
18
 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual
e limitadas pela estrutura especifica de sua sociedade e pela 
natureza das funções que as pessoas exercem dentro dela. E, se 
for à oportunidade que ela aproveite, seu ato se entremeará com 
os de outras pessoas; desencadeará outras sequências de ações, 
cuja direção e resultado provisório não dependerão desse indivíduo, 
mas da distribuição do poder e da estrutura das tensões em toda essa 
rede humana móvel. ELIAS(1994).
Atividade de Estudos: 
1) Conforme vimos, a escola busca subsídios para tornar 
possível a aprendizagem para a pessoa com deficiência 
intelectual. Nesse contexto, como a escola vem abordando a 
aprendizagem da pessoa com deficiência intelectual? Descreva 
suas observações..
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O que a sociedade 
antes entendia como 
desviante, louco, hoje 
a sociedade o entende 
com um sujeito com 
deficiência intelectual, 
apto mediante 
as possibilidades 
que essa mesma 
sociedade a ponha a 
seu dispor.
Santaela apud Jaspers. (1978, p.59) “O mundo é normal pelo 
que representa em objetividade na união entre os homens, na 
mutualidade em que estes colaboram, desenvolvendo, estimulando 
e exaltando a vida. É anormal se, em vez de aproximar, separa 
e isola os homens; se restringe e atrofia; e se desaparece o 
sentimento de poder, de domínio sobre o espaço, em que o animo 
e a vontade podem distribuir a sua capacidade e utilizar os bens 
advindos dessa posse”
do leProsário Ao mAniCômio - o sujeito 
normAl e AnormAl nA soCiedAde
Para darmos continuidade a aprendizagem do processo de inclusão seja 
social ou escolar para as pessoas que são consideradas com deficiência 
intelectual, abordando como a sociedade ainda dita os conceitos do que 
é normal ou anormal. Se o sujeito não se encontra dentro dos padrões 
considerados normais, já é considerado fora do contexto social.
A maneira do sujeito se comportar nas suas vivências sociais, familiares 
e escolares, portando-se de acordo com o que a sociedade espera dele, 
classifica-se automaticamente como normal. A partir do momento que o 
sujeito contrasta com esse padrão já muda a maneira de compreensão da 
sociedade, da família e principalmente da escola, que espera e quer sempre 
uma homogeneidade em suas salas de aula. 
Mesmo que numa sociedade em que os valores são alterados de acordo 
com o que os membros dessa mesma esfera,que considerada natural nos 
procedimentos de seus membros a convivência com as pessoas que se 
desviam dessas estruturas segundo as regras da normalidade que esses 
mesmos membros impõem. KRAUZ (1989) escreve que ao nos posicionarmos 
nos sentidos cognitivos, ou morais, ou mesmo estéticos sejam nos valores 
como verdade, e até mesmo a significação do correto são relativos aos 
contextos nos quais estão inseridos. O que a sociedade antes entendia como 
desviante, louco, hoje a sociedade o entende com um sujeito com deficiência 
intelectual, apto mediante as possibilidades que essa mesma sociedade a 
ponha a seu dispor.
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 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual
Já que estudamos sobre as diversas nomenclaturas e como a sociedade, 
família e a escola vêm lidando com a pessoa com deficiência inserimos o texto 
abaixo sugere uma reflexão sobre como as instituições estão redefinindo e 
diferenciando deficiência intelectual, deficiência mental e doença mental.
Definição de Deficiência Intelectual da AAIDD American 
Associationon Intellectual and Develop mental Disabillities 
(Associação Americana de Deficiência Intelectual e do 
Desenvolvimento).
Deficiência Intelectual
É definida como limitações importantes que afetam o 
funcionamento intelectual, significativamente abaixo da média, 
acompanhado de limitações significativas no funcionamento 
adaptativo em pelo menos duas das seguintes áreas de 
habilidades: comunicação, autocuidados, competência doméstica, 
habilidades sociais, interpessoais, uso de recursos comunitários, 
auto- suficiência, habilidades acadêmicas, trabalho, lazer, saúde e 
segurança. O inicio deve ocorrer antes dos 18 anos.
Essa definição, adotada para diagnóstico de deficiência 
intelectual, não considera apenas o QI baixo como até a pouco 
era diagnosticado, mas também, uma avaliação abrangente das 
habilidades e dificuldades da pessoa deficiente em se relacionar 
com o meio ambiente, na execução das atividades diárias, nos 
cuidados pessoais, no aprendizado acadêmico e na atuação no 
meio onde vive. 
Exemplificando, as pessoas com deficiência intelectual se 
relacionam com o mundo de forma diferenciada da maioria das 
pessoas. São mais lentas, levam mais tempo para aprender, ou 
seja, precisam de apoio na escola e no trabalho. Essas dificuldades 
variam de intensidade podem ser leves ou mais acentuadas. As 
mais leves são mais difíceis de serem identificadas, porque não 
são evidentes. São observadas pelas famílias e posteriormente 
diagnosticadas na idade escolar. Assim, nas diversas formas que 
se apresentam, vão precisar de mais ou menos apoio. A deficiência 
intelectual não é uma doença, mas, uma incapacidade intelectual, 
em determinadas áreas de acordo com o comprometimento de 
cada pessoa. 
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A ConjunturA dA tríAde FAmíliA, esColA e deFiCiênCiA inteleCtuAl Capítulo 1 
A deficiência mental
Caracteriza-se por registrar um funcionamento intelectual 
geral significativamente abaixo da média, oriundo do período 
de desenvolvimento, concomitantecom limitações associadas 
a duas ou mais áreas da conduta adaptativa ou da capacidade 
do indivíduo em responder adequadamente às demandas da 
sociedade nos seguintes aspectos: Há uma tendência a mudar o 
termo Deficiência Mental por Transtorno Mental. (BRASIL, 2004).
Doença Mental
Não deve ser confundida com deficiência intelectual, a 
diferença é que na doença mental a pessoa perde a noção de si 
mesma e da realidade a sua volta. Pode ser mais branda ou mais 
severa ocasionando muitas vezes dificuldade de raciocínio lógico e 
concentração. Essas pessoas apresentam humor variado e grande 
dificuldade de relacionamento. São as psicoses, as depressões, 
a síndrome do pânico, as esquizofrenias. Esses casos devem ser 
tratados com medicação e com atendimento terapêutico. A doença 
mental não é caracterizada como deficiência, mas como doença. 
Apesar de ser um quadro diferente da deficiência mental, algumas 
pessoas possuem as duas patologias. Por exemplo, é possível 
que uma pessoa tenha deficiência intelectual associada a um 
quadro depressivo, assim como a doença mental mais grave pode 
ocasionar um limite intelectual. 
Fonte: Disponível em: <http://novaprojeto.blog.terra.com.br>. 
Acesso em: 31 jul. 2012.
Agora que você já estudou sobre as diversas nomenclaturas que 
diferenciam a pessoa com deficiência mental e intelectual e da doença mental, 
já é capaz de discernir, as características de cada uma e resolver a seguir as:
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 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual
Atividade de Estudos: 
1) Estudamos os diferentes conceitos sobre a deficiência mental 
e intelectual e a doença mental. De acordo com o que foi 
estudado como você vê compreende essas diferenças?
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A PAdronizAção do sujeito
A padronização do sujeito é definida pela construção social da época em 
que a sociedade está inserida. A sociedade atual vem se ajustando as novas 
formas de enfrentamento pelo respeito e dignidade ao ser humano, mesmo 
que seja de uma forma vagarosa. Compreende-se que mudar a subjetividade 
das esferas familiares, sociais e escolares requer tempo e muitos estudos, 
para que o se deseje seja alcançado.
Como o ser humano é único e padrão para a humanidade não existe, 
o que se procura é uma busca de igualdade, e justiça social para todos e 
também para a pessoa com deficiência. Assim sabemos que você educando 
já tem conhecimento das diversas declarações que de alguma forma estão 
voltadas para a inserção da pessoa com deficiência no âmbito social, escolar e 
voltadas para a dignidade dessas pessoas.
Para contextualizar o que estamos estudando, apresentaremos seguir a 
Declaração de Montreal.
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A ConjunturA dA tríAde FAmíliA, esColA e deFiCiênCiA inteleCtuAl Capítulo 1 
DECLARAÇÃO DE MONTREAL SOBRE 
A DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
Montreal – Canadá OPS/OMS - 06 DE OUTUBRO DE 2004
TRADUÇÃO: Dr. Jorge Márcio Pereira de Andrade, 
Novembro de 2004
[...]DECLARAMOS QUE:
As Pessoas com Deficiência Intelectual, assim como outros 
seres humanos, nascem livres e iguais em dignidade e direitos. 
[...] A deficiência intelectual é entendida de maneira 
diferenciada pelas diversas culturas o que faz com a comunidade 
internacional deva reconhecer seus valores universais de 
dignidade, autodeterminação, igualdade e justiça para todos. 
Os Estados têm a obrigação de proteger, respeitar e garantir 
que todos os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e 
culturais e as liberdades das pessoas com deficiência intelectual 
sejam exercidos de acordo com as leis nacionais, convenções, 
declarações e normas internacionais de Direitos Humanos. Os 
Estados têm a obrigação de proteger as pessoas com deficiências 
intelectuais contra experimentações científicas ou médicas, sem 
um consentimento informado, ou qualquer outra forma de violência, 
[...] maus tratos ou castigo cruel, desumano ou degradante. (como 
as torturas).
[...]. 5-A.[...]. B [...]
6- A. As pessoas com deficiências intelectuais têm os mesmos 
direitos que outras pessoas de tomar decisões sobre suas próprias 
vidas. Mesmo que algumas pessoas possam ter dificuldades de 
fazer escolhas, formular decisões e comunicar suas preferências, 
elas podem tomar decisões acertadas para melhorar seu 
desenvolvimento pessoal, seus relacionamentos e sua participação 
nas suas comunidades. Em acordo consistente com o dever de 
adequar o que está estabelecido no parágrafo 5 B, as pessoas 
com deficiências intelectuais devem ser apoiadas para que 
tomem suas decisões, as comuniquem e estas sejam respeitadas. 
Conseqüentemente, quando os indivíduos têm dificuldades para 
24
 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual
tomar decisões independentes, as políticas públicas e as leis 
devem promover e reconhecer as decisões tomadas pelas pessoas 
com deficiências intelectuais. Os Estados devem providenciar os 
serviços e os apoios necessários para facilitar que as pessoas com 
deficiências intelectuais tomem decisões significativas sobre as 
suas próprias vidas. B.[...] Qualquer interdição deverá ser por um 
período de tempo limitado, sujeito as revisões periódicas e, com 
respeito apenas a estas decisões, pelas quais será determinada 
uma autoridade independente, para determinar a capacidade legal.
Montreal, 06 de outubro de 2004. 
Fonte: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_ 03/
mpv/2163-41.htm>. Acesso em: 2 ago. 2012.
Atividade de Estudos: 
1) Você acabou de ler alguns trechos que são muitos pertinentes 
sobre nossos estudos da deficiência intelectual. Como você 
percebe a aplicabilidade dessa declaração no atual momento 
social e escolar da pessoa com deficiência intelectual?
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A ConjunturA dA tríAde FAmíliA, esColA e deFiCiênCiA inteleCtuAl Capítulo 1 
AlgumAs ConsiderAções
Caro pós graduando, neste capítulo você aprendeu sobre as relações 
familiares escolares, as nomenclaturas, e os parâmetros estabelecidos sobre 
o que é ser normal e anormal. 
Convido-o para o próximo capítulo com certeza, com os subsídios do que 
foi estudado no capítulo II, você estará mais envolvido com o termo deficiência 
intelectual, então você irá aprender mais sobre como o ambiente pode 
influenciar a personalidade, o mito e o papel da família.
Para refletirmos sobre o capítulo estudado temos duas sugestões: um 
filme e um livro.
Filme: Meunome é Rádio
Na Carolina do Sul, o técnico de futebol 
americano Harold Jones (Ed Harris) faz 
amizade com Radio (Cuba Gooding Jr.), 
um estudante de colegial que é deficiente 
mental. O relacionamento dos dois dura 
décadas e Radio se transforma de um garoto 
tímido e atormentado a uma inspiração para 
a comunidade onde vive. 
Livro: A história da loucura.
 Autor: Michel Foucault.
26
 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual
reFerênCiA
ARAÚJO, Emmerson Morvam Conceição de. Informática como instrumento 
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